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Moleque de ideias
por Juliana Brotto,17 anos de idade , junho 2012
Outro dia est á vamos, eu e Leila, vendo registros antigos da Moleque.
Foi assim que, procurando no arquivo de 2003, encontramos os cadernos
onde ela anotava, no come ç o das sess õ es, as ideias da minha turma, al é m
de fazer observa çõ es sobre n ó s. Li tudo e, engra ç ado, lembrei de v á rios dos
dias ali descritos, com seus detalhes e particularidades. Na manh ã seguinte
peguei para ver uma pasta com tudo o que eu fiz naquela é poca, e reparei
que eu tinha ainda bem frescos na cabe ç a os mom entos da produ çã o de
todos os desenhos, pesquisas, v í deos e fotos. Seria capaz de contar a
hist ó ria de cada uma daquelas folhas, ressaltando, inclusive, meus
pensamentos e sensa çõ es ao imprimi - las.
Conversamos sobre o modo como a Moleque permaneceu t ã o vi va na
minha mem ó ria at é hoje, e conclu í mos que o motivo disso deve ser o fato de
que tudo que estava ali, guardado naquela pasta do mesmo jeito h á uns dez
anos, tinha sido criado por mim porque eu quis faz ê - lo. Eram projetos meus,
vontades que eu ia extern alizando com os recursos que nos eram
apresentados e que tiveram o papel de me mostrar que a maioria das ideias
que temos s ã o poss í veis. Foi na Moleque que, com nove anos de idade e
com desejo de pesquisar, eu e meu amigo Lucas pudemos ler durante meses
so bre os tubar õ es e depois, com as informa çõ es coletadas, fazer um
livretinho, com texto de conclus ã o e tudo. Foi l á tamb é m que consegui fazer
o boneco do homem - aranha voar para um filme, foi l á que eu procurei na
internet a letra de uma m ú sica de que at é h oje n ã o esque ç o.
E foi assim que eu entendi que é mais f á cil e significativo realizar as
coisas quando elas nos representam, quando elas nos s ã o queridas. É por
isso que eu reconhe ç o bem a euforia da Maria Luiza e da Let í cia, por
exemplo, quando souberam que podiam criar uma carteirinha para elas, com
seu nome, uma imagem que escolhessem, cor e capinha de pl á stico. Pode
parecer algo pequeno mas, para algu é m de 6 anos, criar para si uma
carteirinha pode ser o á pice do dia. E é por isso que eu esperava, ans iosa, a
 

ter ç a feira para ir para a Moleque. E é por isso que eu vejo, hoje, as crian ç as
do mesmo jeito que eu ficava, quando vamos busc á - las na sala e elas abrem
aquele sorriso enorme de quem esperou a semana inteira.
Ent ã o observando sob esse meu novo prisma, um pouquinho mais
velha e agora trabalhando aqui, eu fico feliz de ver que esses meninos est ã o
tendo a oportunidade que eu tive de passar pela Moleque, encontrando
tantas possibilidades de criar e de colocar em pr á tica suas ideias, e a
chance de c onviver e interagir com as pessoas livremente, aprendendo a
lidar com o outro, relacionando - se com os amigos de turma e conosco, indo
na dire çã o da conversa e do entendimento. As crian ç as n ã o precisam de
adultos que resolvam seus problemas e lhe deem as re spostas prontas, elas
precisam ter a dose suficiente de confian ç a para passarem por seus
impasses e obst á culos por vontade pr ó pria, simplesmente porque se
depararam com eles e porque querem solucion á - los. Todos os dias alguma
crian ç a nos pergunta como faze r o login no computador ou como escrever
determinado nome na barra do Google. Essa mesma crian ç a j á executou
esses procedimentos antes e sabe como faz ê - lo. O que lhe falta é saber que
sabe, que ela pode tentar sozinha e que, se n ã o conseguir, n ó s todos que
estamos com ela na sala, adultos e colegas, podemos ajud á - la. O bom é ir
buscando, pensando e acreditando. Est á a í uma coisa que eu acho que
herdei dos meus anos na Moleque e que assimilo um pouco todo dia, agora
que voltei a frequent á - la: a autonomia e a compreens ã o de que minhas
escolhas s ã o, de fato, minhas, de que eu tenho liberdade para acreditar
nelas e capacidade para lev á - las adiante. O importante é o respeito e o
cuidado, com a gente e com o alheio. Conhecer limites, principalmente para
as crian ç a s, é crucial no exerc í cio de liberdade delas.
A í à s vezes algu é m me pergunta o que é a Moleque de Ideias.
Respondo agora, a todo mundo de uma vez. A Moleque de Ideias é um lugar
pra ser. Pra ser a gente, s ó , sem preocupa çã o com o que esperam de n ó s ou
co m o que talvez tenham dito que n ó s dever í amos querer. N ó s fazemos o
que nos deixa satisfeitos no final e o que nos parece bom. E é melhor ainda
quando realizamos nossas ideias junto com outras pessoas que se
interessam de verdade por elas.
Deve ser por i sso que outro dia a Luana disse que queria morar na
Moleque. Eu tamb é m queria.
Juliana Brotto

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  • 1. Moleque de ideias por Juliana Brotto,17 anos de idade , junho 2012 Outro dia est á vamos, eu e Leila, vendo registros antigos da Moleque. Foi assim que, procurando no arquivo de 2003, encontramos os cadernos onde ela anotava, no come ç o das sess õ es, as ideias da minha turma, al é m de fazer observa çõ es sobre n ó s. Li tudo e, engra ç ado, lembrei de v á rios dos dias ali descritos, com seus detalhes e particularidades. Na manh ã seguinte peguei para ver uma pasta com tudo o que eu fiz naquela é poca, e reparei que eu tinha ainda bem frescos na cabe ç a os mom entos da produ çã o de todos os desenhos, pesquisas, v í deos e fotos. Seria capaz de contar a hist ó ria de cada uma daquelas folhas, ressaltando, inclusive, meus pensamentos e sensa çõ es ao imprimi - las. Conversamos sobre o modo como a Moleque permaneceu t ã o vi va na minha mem ó ria at é hoje, e conclu í mos que o motivo disso deve ser o fato de que tudo que estava ali, guardado naquela pasta do mesmo jeito h á uns dez anos, tinha sido criado por mim porque eu quis faz ê - lo. Eram projetos meus, vontades que eu ia extern alizando com os recursos que nos eram apresentados e que tiveram o papel de me mostrar que a maioria das ideias que temos s ã o poss í veis. Foi na Moleque que, com nove anos de idade e com desejo de pesquisar, eu e meu amigo Lucas pudemos ler durante meses so bre os tubar õ es e depois, com as informa çõ es coletadas, fazer um livretinho, com texto de conclus ã o e tudo. Foi l á tamb é m que consegui fazer o boneco do homem - aranha voar para um filme, foi l á que eu procurei na internet a letra de uma m ú sica de que at é h oje n ã o esque ç o. E foi assim que eu entendi que é mais f á cil e significativo realizar as coisas quando elas nos representam, quando elas nos s ã o queridas. É por isso que eu reconhe ç o bem a euforia da Maria Luiza e da Let í cia, por exemplo, quando souberam que podiam criar uma carteirinha para elas, com seu nome, uma imagem que escolhessem, cor e capinha de pl á stico. Pode parecer algo pequeno mas, para algu é m de 6 anos, criar para si uma carteirinha pode ser o á pice do dia. E é por isso que eu esperava, ans iosa, a
  • 2.   ter ç a feira para ir para a Moleque. E é por isso que eu vejo, hoje, as crian ç as do mesmo jeito que eu ficava, quando vamos busc á - las na sala e elas abrem aquele sorriso enorme de quem esperou a semana inteira. Ent ã o observando sob esse meu novo prisma, um pouquinho mais velha e agora trabalhando aqui, eu fico feliz de ver que esses meninos est ã o tendo a oportunidade que eu tive de passar pela Moleque, encontrando tantas possibilidades de criar e de colocar em pr á tica suas ideias, e a chance de c onviver e interagir com as pessoas livremente, aprendendo a lidar com o outro, relacionando - se com os amigos de turma e conosco, indo na dire çã o da conversa e do entendimento. As crian ç as n ã o precisam de adultos que resolvam seus problemas e lhe deem as re spostas prontas, elas precisam ter a dose suficiente de confian ç a para passarem por seus impasses e obst á culos por vontade pr ó pria, simplesmente porque se depararam com eles e porque querem solucion á - los. Todos os dias alguma crian ç a nos pergunta como faze r o login no computador ou como escrever determinado nome na barra do Google. Essa mesma crian ç a j á executou esses procedimentos antes e sabe como faz ê - lo. O que lhe falta é saber que sabe, que ela pode tentar sozinha e que, se n ã o conseguir, n ó s todos que estamos com ela na sala, adultos e colegas, podemos ajud á - la. O bom é ir buscando, pensando e acreditando. Est á a í uma coisa que eu acho que herdei dos meus anos na Moleque e que assimilo um pouco todo dia, agora que voltei a frequent á - la: a autonomia e a compreens ã o de que minhas escolhas s ã o, de fato, minhas, de que eu tenho liberdade para acreditar nelas e capacidade para lev á - las adiante. O importante é o respeito e o cuidado, com a gente e com o alheio. Conhecer limites, principalmente para as crian ç a s, é crucial no exerc í cio de liberdade delas. A í à s vezes algu é m me pergunta o que é a Moleque de Ideias. Respondo agora, a todo mundo de uma vez. A Moleque de Ideias é um lugar pra ser. Pra ser a gente, s ó , sem preocupa çã o com o que esperam de n ó s ou co m o que talvez tenham dito que n ó s dever í amos querer. N ó s fazemos o que nos deixa satisfeitos no final e o que nos parece bom. E é melhor ainda quando realizamos nossas ideias junto com outras pessoas que se interessam de verdade por elas. Deve ser por i sso que outro dia a Luana disse que queria morar na Moleque. Eu tamb é m queria. Juliana Brotto