1. O jornal
das lutas
comunitárias
e da cultura
popular
Ano 5 - Número 43
Abril de 2010
Enchente e mais tragédias, de novo
fotos de Marcelo Ávila
Agora que a grande mídia começa diminuir espaço nas suas páginas sobre a tragédia dos
cerca de sete mil desabrigados e mais de 255 mortos soterrados por lama, pedra e lixo no Rio
de Janeiro, o Jornal Abaixo-Assinado não quer deixar cair no esquecimento e vai fundo na
discussão do problema das chuvas na cidade. Em artigo na página 3, Almir Paulo recorre a um
texto “As enchentes” escrito por Lima Barreto no Correio da Noite, em 19 de janeiro de 1915,
para mostrar que o problema é antigo e de conhecimento dos governos e questiona o prefeito
Eduardo Paes sobre os investimentos na Geo-Rio. O deputado Chico Alencar salienta, em
artigo na página 4, que as chuvas no Rio, inevitáveis, poderiam produzir menos óbitos e
desabamentos. Então, a responsabilidade é também dos governantes, que, como hábito, cuidam
mais de obras ‘grandiosas’, cosméticas ou rodoviárias do que de saneamento, habitação segura,
dragagem de rios, e coleta contínua e seletiva de lixo. O fotógrafo Marcelo Ávila registrou em
fotos os estragos causados pela chuva na comunidade Santa Maria, na Taquara, e na Praça
Seca. Evidenciando a necessidade de uma política habitacional para nossa região.
As autoridades precisam assumir sua culpa em vez de buscar desculpas. A responsabilidade
é humana e política e não vale culpar os mortos.
Choramos como cidadãos a perda de vidas valorosas e desejamos que a dor dos que
perderam seus entes queridos sirva para mudar os rumos da política dos podres poderes em
nosso Estado e em nossa cidade Leia mais nas páginas 3, 4 e 5.
Descobrindo talentos Patrimônio Histórico da Baixada de
Jovens da região lançam livros Jacarepaguá abandonado pelos governos
Página 7 Página 6
2. 2
Cartas dos leitores
EXPEDIENTE O direito fundamental ao meio ambiente
Ano 5 - Número 43 - Abril de 2010
*Luciana Araujo natureza, ou seja, a flora, mas sim a
jornalabaixoassinado@yahoo.com.br todos os elementos que constituí a
Tel.: (21) 7119-6044
“Todos têm direito ao meio biosfera, ou esfera da vida, e que dão
Caixa Postal 70514 – Taquara – RJ origem aos ecossistemas, no qual inclui-
CEP 22.740-971 ambiente ecologicamente
se o homem.
Publicação mensal da equilibrado, bem de uso comum do
O meio ambiente, então, é um direito
RPC Editora Gráfica Ltda povo e essencial à sadia qualidade
CNPJ 08.855.227/0001-20 de todos, porém um meio ambiente
de vida, impondo-se ao Poder ecologicamente equilibrado, ao mesmo
Conselho Editorial Público e à coletividade o dever de
Almir Paulo, Ivan Lima, Manoel Meirelles, tempo em que é um bem de uso comum
Val Costa, Jayme Rocha, Sílvia Regina, defendê-lo e preserva-lo para as – ou seja, pertence ao povo, e não ao
Paulo Silva, Luciana Araujo, presentes e futuras gerações”. particular, nem ao Estado capaz de garantir a todo os homens,
Sônia dos Santos, Cláudio Mattos,
Pedro Ivo e Maraci Soares exclusivamente. O dever de gestor desse indistintamente, os direitos que todos os
Este é o artigo 225 da nossa patrimônio cabe, assim, tanto ao poder seres humanos possuem de igualdade,
Colaboraram nessa edição público quando a coletividade, para liberdade, fraternidade e dignidade.
Ione Santana, Jerônimo da Silva, Jane
Constituição Federal de vital importância
Nascimento, Maurício Lafayete, Elena para a compreensão e aplicação de todo garantir seu uso sustentável na atualidade, A proteção ao meio ambiente não
Barros e Tatiana Santiago as leis brasileiras que tratam da temática e para que as gerações futuras tenham deve ser exigida somente do Poder
Diagramação e Arte-final
da proteção ao meio ambiente. também a possibilidade de usufruir desse Público, todos nós somos co-
Jane Fonseca A partir da Constituição de 1988 a mesmo ambiente natural, garantindo o uso responsáveis pela proteção ambiental,
proteção ambiental foi incluída como prolongado dos recursos da Terra. ou seja, devemos proteger e denunciar
Mala-direta: Governo Federal; Câmara algo fundamental, indispensável a Sendo os direitos humanos aqueles a degradação ambiental.
Federal (bancada do Rio); Governo do
Estado; Assembléia Legislativa; Prefeitura; sobrevivência da espécie humana, direitos essenciais e fundamentais a Reconhecer o meio ambiente como
Câmara Municipal; Tribunal de Justiça; contemplando, desta forma, o direito ao garantir a dignidade da pessoa humana, um direito fundamental é o primeiro
partidos políticos; Acija; Acibarra; Acir;
sindicatos; cooperativas; associações de meio ambiente ecologicamente tanto em caráter individual quanto passo para a sua efetivação e a garantia
moradores; FamRio; Famerj; Faferj; Faf-Rio; equilibrado como um direito humano coletivo, que devem ser reconhecido e de um ambiente saudável para nós e
Ong’s; Ibase; Fase; Viva Rio;
rádios comunitárias fundamental. respeitados por todos, o direito a um meio para as futuras gerações, como disposto
A Constituição ao proteger o meio ambiente essencial a sadia qualidade de no artigo 225 da Constituição Federal.
As matérias assinadas são de ambiente, não protege apenas a vida é um Direito Humano Fundamental, *Geógrafa
responsabilidade dos autores
Distribuição gratuita
Desabafo contra Viação Santa Maria de uma professora em quem um aluno colocou uma bomba
Saiba onde encontrar o Cansei do monopólio da empresa de transporte Santa (não sei se caseira ou bombinha) e machucou sua barriga.
Jornal Abaixo-Assinado Maria em setores de Jacarepaguá (AP4), como na Estrada Cadê a divulgação e atitudes?
Caro leitor, agora mensalmente você dos Bandeirantes. Há dias em que espero o ônibus por até *Geny Guimarães, professora, por e-mail.
poderá obter o exemplar do Jornal 40 minutos. Depois eles seguem em direção à Vargem Grande
Abaixo-Assinado de Jacarepaguá, lotados. Os ônibus da linha 747 estão obsoletos. Já assisti JAAJ na escola
gratuitamente, nos seguintes endereços: um motorista colando a caixa situada abaixo do volante com Distribui no dia 9 de março o Jornal Abaixo-Assinado de
Taquara
fita isolante. Outro dia um dos bons profissionais que há na Jacarepaguá nas três turmas do 3º ano em que sou professor
• Centro Comercial Barão da Taquara empresa me contou que houve redução do número de carros de História. Leitura atenta e interessada e debates foi o que
(Prédio da Caixa) da linha 747, de mais de 30 passaram a cerca de 17. mais observei, um SUCESSO escolar. Na próxima edição
• Centro Comercial Unicenter Taquara *Sílvia Regina, moradora de Vargem Grande, por e-mail gostaria de ter uns duzentos exemplares para distribuição e
• Padaria Nobreza divulgação do JAAJ nas minhas seis turmas. Como faço para
• Clube Português A violência nas escolas obter os jornais em abril?
Freguesia A violência nas escolas está cada dia pior. E o que mais *Iremar Adelmo, professor, morador do Pechincha, por e-mail.
• Centro Com. Unicenter Freguesia
me assusta é justamente o fato de que a maioria dos casos
• Passarela da Freguesia
Pechincha não são publicados, não chegam aos jornais e a sociedade Resposta do JAAJ: Professor Iremar, ficamos felizes
• Academia Personal Studio – Estr. não fica sabendo. Todos os dias vários e vários professores com o trabalho que o senhor realizou com o nosso jornal,
Tindiba, nº 185 estão sendo atacados, principalmente por alunos do 6º ao 9º significa que nossa proposta editorial está no caminho
Praça Seca ano (ensino fundamental) com idade entre 12 e 17 ou 18 certo. Será um enorme prazer entregar-lhe os 200
• Condomínio Residencial Florianópolis anos. Resultado: professores traumatizados e afastados, só exemplares mensalmente, para que o senhor possa
- portaria na R. Florianópolis, nº 1.521. isso. desenvolver o debate e a reflexão junto com seus alunos
• Academia Rio Swin – Rua Cândido
Li em O Dia on line de 05/04/2010: “Alunos espancam
Benício, nº 2.339
diretora – Educadora tentou separar briga entre estudantes
Informações e Assinaturas pelo telefone de colégio municipal em Vila Isabel e foi atacada. Ameaçada Cartas Informe nome completo, telefone e
(21) 7119-6125 de morte pelo grupo, que também depredou escola, endereço. O jornal se reserva o direito de, sem
jornalabaixoassinado@yahoo.com.br profissional pediu afastamento. Professores temem voltar à alterar o conteúdo, resumir ou editar as cartas.
Caixa Postal 70514 – Taquara/RJ – jornalabaixoassinado@yahoo.com.br
unidade”. Cx. postal 70514 – Taquara – 22.740-971
Cep 22.740-971 Ninguém toma atitudes. Eu soube por alto um outro caso
3. 3
Opinião
Editorial
O petróleo é nosso!
O
Jornal Abaixo-Assinado dos royalties e todos os Estados e
soma-se as diversas forças municípios dividirão os 60% res-
políticas e ao povo do Estado tantes, seguindo os critérios de par-
do Rio de Janeiro contra a aprova- tilha dos fundos de Participação dos
ção pela Câmara dos Deputados de Estados e Municípios.
uma emenda a um projeto de lei que Esses novos critérios de partilha Rio:
regulamenta a exploração do petró- de royalties dos campos pré-sal e dos
leo da camada pré-sal, de autoria dos já existentes trará uma perda para o Caos nosso a cada chuva.
deputados Ibsen Pinheiro (PMDB- Estado do Rio de Janeiro em mais E os principais culpados são os governos
RS), Humberto Souto (PPS-RS) e de R$ 4,6 bilhões de arrecadação.
Marcelo Castro (PMDB-PI). Um duro golpe contra o povo carioca AS ENCHENTES
A emenda Ibsen, como ficou co- e fluminense. “As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro,
nhecida, muda as regras da divisão Acreditamos que o debate sério inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial
dos royalties pagos pelas empresas sobre a divisão do pré-sal (a camada interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações
petrolíferas como está a cerca de causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de
compensação pe- 300 quilometros imóveis.
“...o certo é que a
los impactos de- da costa e a 7.000 De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do
mográficos, am- divisão dos royalties metros de profun- dever de evitar tais acidentes urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão perfeita,
bientais e de infra- preserve o equilíbrio da didade no oceano, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema.
estrutura causa- federação, recompense só começarão a O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode estar
dos pela explora- gerar renda den- à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida integral.
ção do petróleo.
os Estados mais tro de dez anos) Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha!
Pelas regras atu- afetados pela extração aconteça sem o- Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema
ais, a maior parte do petróleo e, sobretudo, portunismo elei- não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros
dos royalties vai garanta o toral porque o cer- municipais, procrastinando a solução da questão.”
para a União, para to é que a divisão
os Estados e mu- desenvolvimento de dos royalties pre- Caro leitor, sabe quem escreveu o texto 387.346 pessoas em 448 áreas
nicípios onde há todo o país...” serve o equilíbrio acima? Sabe em que jornal e em que ano? vistoriadas pelo órgão.
produção de petró- da federação, re- Este texto “As enchentes” foi Enquanto isso, a prefeitura do
leo. Os demais Estados recebem compense os Estados mais afetados escrito por Lima Barreto no Correio senhor Paes prevê gastar R$ 120
apenas uma pequena parcela do pela extração do petróleo e, so- da Noite, em 19 de janeiro de 1915. milhões com publicidade. A Cidade da
dinheiro. bretudo, garanta o desenvolvimento O texto do escritor Lima Barreto Música já consumiu uns R$ 500
Com o argumento de que é pre- de todo o país, em especial sirva para parece atual ao abordar as chuvas do milhões, e ainda pode consumir uns R$
ciso dar tratamento igualitário aos melhoria da educação, saúde, ge- início do século passado. São quase 100 100 milhões. E inexistem como
Estados, a emenda Ibsen mantém a ração de emprego e o cuidado am- anos que sofremos com a falta de prioridades da Prefeitura (e do Governo
fatia de 40% da União na divisão biental. planejamento do poder público. Estadual também) obras de prevenção
O problema é que nossas cidades de acidentes geológicos.
não estão preparadas para enfrentar Nossa cidade continua esburacada
Solidariedade ao mestre Miguel Baldez essa situação. Por quê será? Vejamos e mal iluminada, qualquer chuvinha as
O Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá presta sua solidariedade o que acontece com nossa cidade ruas ficam alagadas, os bueiros
ao professor Miguel Baldez, que após 42 anos de trabalho, foi demitido da maravilhosa. entupimentos. Rios e canais
Universidade Cândido Mendes por defender ensino superior de qualidade e O relatório do Tribunal de Contas transbordam porque falta dragagem e
garantias trabalhistas.
aponta falhas e deficiências na limpeza limpeza. Constantes apagões, depois da
Nossa solidariedade ao mestre Miguel Baldez tem por objetivo
de rios e canais da cidade do Rio por privatização da Light. A água nas
homenagear a trajetória de luta de Baldez já que boa parte dos seus 80 anos
de idade foram dedicados à luta em defesa dos oprimidos sempre ao lado parte da Prefeitura. As verbas para torneiras tem faltado como há muito
dos movimentos sociais e por uma sociedade mais justa e igualitária. contenção de catástrofes foram tempo não se via, apesar da
diminuídas. No Plano Plurianual da propaganda governamental com a
Prefeitura, os recursos previstos de 2010 “nova” Cedae.
Você escreve e nós publicamos a 2013 para a Geo-Rio totalizam R$ 37 Agora vem o Lula, o Sérgio Cabral,
Moradores de Jacarepaguá, Praça Seca, Vila Valqueire, Camorim, milhões. De 32 áreas de risco contidas o Eduardo Paes e o Jorge Roberto da
Cidade de Deus, Rio das Pedras, Barra, Recreio e das Vargens. no Plano Municipal de Redução de Silveira, diante do caos acontecendo,
Queremos sua participação no nosso jornal. Você pode escrever e Riscos de 2005 até agora nenhuma delas darem declarações que culpam a
nós publicamos na íntegra suas reivindicações, suas denúncias e recebeu as obras necessárias. De 2007 chuva ou os mortos. Creio que todos
sua visão sobre os problemas da sua comunidade e da região. Enfim,
entre no debate e na luta para construir um bairro melhor. Solte o seu a 2009 a verba empenhada pela Geo- nós queremos o compromisso com
verbo e grito em nossas páginas. Rio foi de R$ 46 milhões – 28% do que políticas públicas que nos respeitem
mostrava a necessidade de intervenções como cidadãos e seres humanos diante
jornalabaixoassinado@yahoo.com.br com obras de contenção no valor total da dor.
Caixa Postal 70514 – Taquara/RJ – Cep 22.740-971 de R$ 159,8 milhões, para beneficiar *Coordenador Editorial do JAAJ
4. 4
Enchentes
Vargens sofreu com as chuvas
A tragédia Na opinião do arquiteto Canagé Vilhena, morador das Vargens, “enfim
Chico aconteceu o que se esperava: Vargem Grande e Vargem Pequena formam agora
poderia ser a Veneza Carioca. Os canais assoreados, há muitos anos, impedem o fluxo
Alencar menor normal das águas pluviais. Estes bairros estão sob a água, agora às 3horas da
madrugada do dia 6 de março de 2010.Segundo a prefeitura a cidade só ficará
pronta para enfrentar as enchentes a partir do ano que vem. Até lá vamos
há manutenção em galerias pluviais e conviver com a conversa oficial de sempre. Até lá vamos continuar vendo a
fluviais, porque não há educação prefeitura e governo do estado recebendo verbas emergenciais para manter
Nosso Rio de Janeiro transborda. ambiental cidadã para todos, porque tudo como sempre esteve. Mais uma vez São Pedro será responsabilizado.”
As forças da natureza geram não há sequer ação preventiva quanto
destruição e morte. O dilúvio deste a temporais anunciados. Seria leviano
abril atinge níveis pluviométricos e demagógico dizer que a ação pública
impressionantes. Mas não podemos evitaria todo e qualquer desastre, mas
ficar na dolorosa constatação da que ela minimizaria danos e
tragédia. O ser humano criou, há preservaria vidas, não há dúvidas!
tempos, tecnologias e mecanismos Em nome da dor das famílias
que impedem que fiquemos tão enlutadas, dor concreta, lágrimas reais,
expostos à pesada ação da natureza. muito mais pungente que abstrata
Natureza que, por sinal, dando sinais, “lamentação pelo Rio”, é preciso agir,
reage de forma cada vez mais violenta mudar posturas, iniciar políticas de
às insanas alterações que temos longo prazo, sem o olhar imediatista
provocado no planeta. do voto fácil. E cada um de nós
As chuvas no Rio, inevitáveis, também tem a obrigação de fazer a
poderiam produzir menos óbitos e sua parte, na atitude diária e na
desabamentos. Então, a solidariedade emergencial, com mais
responsabilidade é também dos consciência do que é viver em
governantes, que, como hábito, coletividade.
cuidam mais de obras ‘grandiosas’, Em nome do pranto sentido de
cosméticas ou rodoviárias do que de tantas famílias, que acontece aqui e Mansão em Vargem Grande, situada ao final da Rua Capitão Pedro Afonso. Vizinhos
saneamento, habitação segura, neste momento, é preciso encaminhar relataram que moradores sairam com ajuda do Corpo de Bombeiros.
dragagem de rios, e coleta contínua e soluções imediatas, envolvendo a
seletiva de lixo. Mas cada cidadão
também tem sua responsabilidade,
população como partícipe, e não ficar
projetando só os Jogos Olímpicos de Doação e apoio as
desde o aparentemente prosaico
hábito de jogar papel higiênico em
vasos sanitários ao lixo lançado a
2016 ou vinculado aos interesses das
grandes empreiteiras e vítimas das enchentes
incorporadoras, financiadoras de
esmo, nas ruas e praças. campanhas eleitorais. Estas só Jornal Abaixo Assinado e Personal Studio
Não é por acaso, muito menos por enxergam as cidades como lugar de
um desígnio cruel de Deus, que as negócios e o solo urbano como
se juntam para ajudar as vítimas das enchentes
vítimas das enchentes sejam sempre mercadoria. O jogo da vida, da na Baixada de Jacarepaguá.
os pobres, com raríssimas exceções! sobrevivência, está sendo jogado
São as principais vítimas porque não As chuvas que atingiram a amenizar essa situação, o JAAJ e a
agora, e a população carioca e
há política habitacional, porque não há Região Metropolitana do Rio de Personal Studio irão recolher
fluminense está perdendo. Nessa
oferta de alternativas aos que moram Janeiro no início de abril deixaram alimentos não perecíveis, produtos
tragédia, na verdade, todos
em áreas de risco, porque não há milhares de desabrigados e de higiene pessoal e roupas para
perdemos.
limpeza urbana adequada em nossas desalojados. Na Baixada de doar às vítimas das enchentes. A sua
*Professor de História e Deputado
comunidades faveladas, porque não Jacarepaguá, a situação também participação é essencial!
Federal pelo PSOL-RJ
não foi diferente. Recreio dos
Bandeirantes, Vargem Grande, Local para doações:
Praça Seca e a comunidade de
Estr. do Tindiba, 185 sala 104
Santa Maria foram as áreas mais
Pechincha - das 17h às 21h.
atingidas pelas chuvas. Muitas
Telefone (21) 3327-4007
dessas pessoas perderam tudo e só
Prof. Jéferson.
(21) 7119-6125 / (21) 7119-6163 E-mail: jornalabaixoassinado@yahoo.com.br possuem a roupa do corpo. Visando
5. 5
Enchentes
Novamente, uma tragédia anunciada
Há anos a população da Baixada de Jacarepaguá sofre com as chuvas. Sai
governo, entra governo, nada muda. É só promessa. Um ano no governo,
Eduardo Paes nada fez. O governador Sérgio Cabral, em fim de mandato,
nada fez na região. Os rios continuam sem serem dragados, os moradores
vivem em áreas de risco e nenhuma casa foi construída na região. Não tem
jeito: a culpa é dos governantes!
Marcelo Ávila, fotógrafo e morador do Pechincha, registrou em primeira
mão para o Jornal Abaixo-Assinado o drama das comunidades da Praça Seca
e da Taquara, em especial dos moradores da Comunidade de Santa Maria.
Poesia
O poema da professora Elena Barros,
moradora da Taquara, traduz nossa
indignação com as 255 mortes nas
enchentes do início de abril.
Imagens que falam
Imagens que falam na moldura fria
e colorida das fotos da vida real.
Imagens que gritam o caos e o abandono,
o desespero total.
O descuido, a irresponsabilidade,
a não-comunhão.
Imagens aflitas, perdidas, destroçadas,
imagens distorcidas,
imagens mutiladas de vidas, muitas vidas,
carregadas em enxurradas
meio à multidão.
Quero olhar pela lente do belo
e ver o Rio de verde e amarelo –
cidade, estado, nação.
Imagens que esperam em desassossego
o socorro burocrático do descaso
e da desatenção...
6. 6
Yakaré upá guá
O abandono do Patrimônio Histórico da Baixada de Jacarepaguá
*Val Costa Benício da Silva Moreira. pelo Instituto de Pensões e Assistência
Patrimônio Histórico pode ser Localizado na Rua Cândido aos Servidores do Estado – IPASE –
definido como um bem material, Benício número 2.610, essa que construiu um conjunto habitacional
natural ou imóvel concebido por residência serviu de moradia para na propriedade no ano de 1956. Ao
sociedades do passado e que o popular médio até o ano de sua adquiri-lo, o Instituto cedeu o casarão
possuiu importância artística, morte, em 1897. Em 8 de março para o Sr. José Floriano de Souza
cultural, religiosa, documental ou de 1954, foi inaugurado no mesmo Portas, que foi o primeiro administrador
estética. O Instituto do Patrimônio prédio o Educandário Nossa dessas terras na era IPASE, atuando
Histórico e Artístico Nacional – Senhora da Vitória, pelo professor como guarda florestal da fazenda. Hoje,
IPHAN- é o responsável pela João Fernandes da Cruz. Após a esse importante vestígio histórico
gestão, proteção e preservação do morte do seu fundador, em 2000, necessita, além de um tombamento
Vista panorâmica da Baixada de Jacarepaguá
patrimônio histórico e artístico o terreno começou a ser ocupado urgente dos órgãos competentes,
brasileiro. Além desse órgão, o estado tombado pelo Inepac em 3 de por um loteamento e o prédio foi reformas que possam mantê-lo de pé.
do Rio de Janeiro conta também com setembro de 1965, através do processo gradativamente destruído. A preservação e a conservação do
o Instituto Estadual do Patrimônio 03/300.396/65. Pode-se citar ainda o casarão da patrimônio histórico, cultural e
Cultural – Inepac- que se dedica à Em 1565, Estácio de Sá, doou à Fazenda Mato Alto, localizado no bairro ambiental é dever de toda a sociedade.
preservação do patrimônio cultural cidade uma sesmaria de da Praça Seca. Essas terras foram Conscientizar as atuais e futuras
estadual, elaborando estudos, aproximadamente 130 Km2. Essa vendidas pelo neto do Barão da gerações da importância desses
fiscalizando obras, emitindo pareceres vasta extensão de terras englobava Taquara, Zezé, no final da década de vestígios do passado possibilita formar
técnicos, pesquisando, catalogando e Barra da Tijuca, São Conrado, Gávea, 1930, ao jornalista do extinto periódico uma identidade local, fundamental para
efetuando tombamentos. Leblon, Copacabana, Flamengo, “A Noite”, Geraldo Rocha Este. Em construir uma cidadania participativa.
Detentora de um dos maiores Catete, Gamboa e Saúde, indo até a dezembro de 1943, foram compradas *Professor e Pesquisador
acervos históricos da cidade, a Baixada nascente do Rio Comprido. Em 1753,
de Jacarepaguá possui vários vestígios a Câmara Municipal marcou o
que remontam ao período do Brasil perímetro da sesmaria com 21 pedras Líder conta à história
colonial e que se encontram lavradas, todas com a inscrição CMA, da Fazenda Mato Alto
abandonados pelo poder público. de Câmara. Ao longo dos séculos, esses
Dentre os quais, destaca-se o Marco 5 marcos foram gradativamente sendo
Entrevista com Presbítero Alves, na foto
(cinco) das Sesmarias da Tijuca, destruídos ou aterrados. O único que ao lado com dona Letícia, é morador e
localizado na Estrada do Joá nº 690 e restou foi o marco localizado em um líder comunitário da Fazenda Mato Alto
terreno na Estrada do Joá. Sem
D. Letícia e Sr. Alves
qualquer tipo de identificação, esse JAAJ: Fale um pouco sobre a história da Fazenda
importante vestígio da história da Mato Alto e do aparecimento da comunidade
cidade necessita muito mais que um nessas terras.
tombamento, que é um ato de cunho Sr. Alves: Quando o IPASE adquiriu estas terras , colocou aqui pessoas
jurídico, mas principalmente de ações para tomar conta. Assentou no Casarão a família do Sr. Floriano, que
efetivas para preservá-lo. passou, esse senhor, a ser o primeiro administrador da Fazenda Mato
Outro bem tombado, desta vez pelo Alto. Outros administradores sucederam-lhe e outras famílias foram
IPHAN, que desapareceu da nossa assentadas.
Terreno abandonado na Estrada do Joá paisagem, foi o prédio construído, em
onde está o Marco V 1885, pelo médico-sanitarista Cândido JAAJ: Quais as iniciativas que a Associação de Moradores teve para
preservar o “Casarão”?
Pesquisadores lançam blog sobre Sr. Alves: A comunidade foi contemplada com o programa Favela Bairro.
a Baixada de Jacarepaguá Quando a equipe da Prefeitura veio inspecionar a comunidade para
implantação do programa, eu levei essa equipe para ver o Casarão, e
Os professores Val Costa e Luciana Araujo lançaram, no final do ano
pedi-lhes que estudassem a possibilidade do tombamento do mesmo e o
passado, um blog para divulgar as suas pesquisas sobre a Baixada de
Jacarepaguá. Nele, os pesquisadores expõem os seus artigos e avisam sobre aproveitassem para usá-lo como posto médico. A resposta foi que ficaria
as palestras e eventos que participam. O objetivo é desenvolver um espaço muito caro, e não valeria a pena.
virtual dinâmico, onde moradores, pesquisadores ou apaixonados pela região
possam contribuir com fotos e textos. Se você tem uma foto antiga, imagem JAAJ: Qual a importância da preservação do patrimônio histórico
ou documento sobre a Baixada de Jacarepaguá, mande para o blog que os para as gerações do presente e do passado?
pesquisadores terão prazer em postá-la. Sr. Alves: A preservação do patrimônio histórico é importante no sentido
O endereço do blog: http://barra-jpa.blogspot.com/ de dar conhecimento às gerações do presente e do futuro, como foi, o
E-mail para contato: barra-jpa@hotmail.com que foi, para que foi e porque foi que aconteceu cada construção.
7. 7
Descobrindo talentos
Moradores da região lançam livros
Entrevista com Marco Aurélio
Esse mês o Jornal Abaixo-Assinado de Jacarepaguá (JAAJ) apresenta duas entrevistas com
jovens escritores da Baixada de Jacarepaguá. A primeira foi realizada com Ulisses Junior. Ele é JAAJ: Como surgiu a idéia de
locutor e professor de Inglês e Português. Seu livro, “Visões de um Aprendiz”, aborda questões escrever um livro?
sobre filosofia e fé. O segundo autor tem apenas 13 anos. É o adolescente Marco Aurélio, aluno do Marco: A idéia de escrever “O
professor Val Costa, que está lançando a aventura fantástica “O Diário de um Explorador” Ambos os Diário de um Explorador”
livros são edições independentes e mostram um pouco da riqueza cultural da nossa região. surgiu a partir da terceira
leitura do livro de Val Costa,
professor de História da minha Jovens escritores,
Entrevista com Ulisses Júnior privado, pois as condições de meu pai escola, Garriga de Menezes. Marco Aurélio e
Matheus Palermo
serralheiro e minha mãe dona de casa eram Antes da decisão de escrever
JAAJ: Como surgiu a ideia de muito limitadas. Sendo assim, desde muito cedo meu livro, tentei editar vários outros, até que,
escrever o livro? busquei alternativas para suprir o que me finalmente, nasceu “O Diário de um
Ulisses: A ideia de escrever o faltava em relação à educação e acesso a Explorador”. Minha avó e minha mãe,
“Visões de um Aprendiz” surgiu conteúdos maiores, como o estudo de uma principalmente, contribuíram bastante para a
da necessidade que eu tinha (e língua, por exemplo no meu caso, o inglês. construção do livro de forma contínua, sempre
ainda tenho) de compartilhar Muitas vezes eu tinha que ser uma espécie de me apoiando nas horas complicadas da edição.
com as pessoas, conhecidas minhas ou não, um autodidata para conseguir aprender e
pouco daquilo que penso a respeito dos apreender determinados conteúdos, JAAJ: Por que optar por uma história de
relacionamentos intrapessoais e interpessoais, ou determinadas matérias na escola pública onde aventura fictícia?
seja, as relações que criamos com a gente mesmo eu estudava, pois na minha época não havia Marco: Decidi optar por esse gênero ao ver
e as que temos uns com os outros. distribuição de material didático, como livros alguns filmes de aventura fictícia nos cinemas.
ou cadernos de apoio e, como muitas vezes meus Estava jogando na Internet quando comecei a
JAAJ: Por que optar por escrever sobre pais não podiam comprar os livros solicitados, ler sobre algumas “historinhas” de ficção no site
espiritualidade e fé? devido ao alto preço, eu tinha de me virar com do game e me impressionei pela criatividade de
Ulisses: A opção por escolher falar sobre o que pudesse. Passei então a frequentar uma seus criadores, decidi escolher esse gênero ao ler
espiritualidade e sobre fé nasce justamente daquilo biblioteca pública que existia próximo a minha essas histórias no próprio site do jogo.
que enxergo como base para uma vida mais casa. Foi lá que, pouco a pouco, comecei a ter
saudável: a crença em algo superior a nós. Não contato com o mundo da leitura, dos livros, dos JAAJ: Como a escola e a família contribuíram
falo sobre religião, falo sobre fé, de diferentes tipos autores e, gradativamente, despertei o gosto para estimular o seu gosto por livros?
de fé e especialmente a nossa relação com elas. por alguns assuntos. Essas visitas à biblioteca Marco: Sempre me interessei por livros de
me ajudaram muito, pois, sem saber, eu diferentes gêneros. Como disse anteriormente,
JAAJ: Como a escola e a família contribuíram trabalhava vários aspectos e despertava em ao ler pela terceira vez o livro do professor Val,
para estimular o seu gosto por livros? mim mesmo alguns hábitos que, mais tarde, só decidi escrever o meu. A escola estimula o meu
Ulisses: Escola e família: duas instituições contribuíram com a minha formação, como, por gosto por livros, me apresentando várias obras
importantíssimas para a formação de qualquer exemplo, o acesso à cultura universal, através da literatura brasileira. A minha família sempre
cidadão de bem.Venho de uma família pobre, dos livros de história e geografia, de literatura me presenteia com livros, principalmente quando
onde o estímulo para o estudo era muito e até mesmo de psicologia. vamos a eventos como a Bienal.
Exposição sua inspiração para seu trabalho. Ambientalista,
formou-se em História Natural, em Ciências
Biológicas e fez Pós-Graduação na área
Natureza & Arte ambiental. Há trinta anos trabalha
profissionalmente na área do meio ambiente.
“Natureza & Arte” é o nome da Exposição Paralelamente à carreira científica, freqüentou
de Arte da artista plástica Jane Bastos que está diversos ateliês onde aprendeu diferentes
aberta à visitação na Sala de Exposição do Espaço técnicas em estilos figurativos e abstracionados
Cultural da Estácio de Sá – Campus Jacarepaguá, e fez vários cursos livres de História da Arte.
na Estrada do Capenha, nº 1.535, Freguesia. A exposição “Natureza & Arte” foi
A artista Jane Bastos, nascida no Rio de inaugurada dia 25 de março a vai até o dia 28
Janeiro, desde a infância gostava de desenhar de abril de 2010, das 10 às 21h, de segunda a
e pintar a natureza. Sempre buscou na natureza sexta-feira.