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Herbart
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organizador-da-pedagogia-como-ciencia
Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Outubro | 2008
Pensadores da Educação
Herbart, o organizador da
pedagogia como ciência
O filósofo alemão do século 19 inaugurou a análise
sistemática da educação e mostrou a importância da
psicologia na teorização do ensino
NOVA ESCOLA
Com o filósofo alemão Johann Friedrich
Herbart (1776-1841), a pedagogia foi
formulada pela primeira vez como uma
ciência, sobriamente organizada, abrangente e
sistemática, com fins claros e meios definidos.
A estrutura teórica construída por Herbart se
baseia numa filosofia do funcionamento da
mente, o que a torna duplamente pioneira:
não só por seu caráter científico mas também
por adotar a psicologia aplicada como eixo
central da educação. Desde então, e até os
dias de hoje, o pensamento pedagógico se
vincula fortemente às teorias de
aprendizagem e à psicologia do desenvolvimento - um exemplo é a obra do
suíço Jean Piaget (1896-1980).
Para Herbart, a mente funciona com base em representações - que podem
ser imagens, idéias ou qualquer outro tipo de manifestação psíquica isolada.
O filósofo negava a existência de faculdades inatas. A dinâmica da mente
estaria nas relações entre essas representações, que nem sempre são
conscientes. Elas podem se combinar e produzir resultados manifestos ou
entrar em conflito entre si e permanecer, em forma latente, numa espécie de
domínio do inconsciente. A descrição desse processo viria, muitos anos
depois, a influenciar a teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939).
Uma das contribuições mais duradouras de Herbart para a educação é o
princípio de que a doutrina pedagógica, para ser realmente científica, precisa
comprovar-se experimentalmente - uma idéia do filósofo Immanuel Kant
(1724-1804) que ele desenvolveu. Surgiram daí as escolas de aplicação, que
conhecemos até hoje. Elas respondem à necessidade de alimentar a teoria
com a prática e vice-versa, num processo de atualização e aperfeiçoamento
constantes. "Herbart fez um trabalho de grande influência porque
aprofundou suas concepções até as últimas conseqüências", diz Maria Nazaré
Amaral, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Moral como objetivo
Na teoria herbartiana, memória, sentimentos e desejos são apenas
modificações das representações mentais. Agir sobre elas, portanto, significa
influenciar em todas as esferas da vida de uma pessoa. Desse modo, Herbart
criou uma teoria da educação que pretende interferir diretamente nos
processos mentais do estudante como meio de orientar sua formação.
Embora profundamente intelectualista, a pedagogia herbartiana tem como
objetivo maior nem tanto o acúmulo de informações, mas a formação moral
do estudante. Por considerar a criança um ser moldado intelectualmente e
psiquicamente por forças externas, Herbart dá ênfase primordial ao conceito
de instrução. Ela é o instrumento pelo qual se alcançam os objetivos da
educação. "Para Herbart, só o ignorante comete erros", diz a pedagoga Maria
Nazaré.
A instrução é o elemento central dos três procedimentos que, para Herbart,
constituem a ação pedagógica. O primeiro é o que chamou de governo, ou
seja, a manutenção da ordem pelo controle do comportamento da criança,
uma atribuição inicialmente dos pais e depois dos professores. Trata-se de
um conjunto de regras imposto de fora, com o objetivo de manter a criança
ocupada. O segundo procedimento é a instrução educativa propriamente
dita e seu motor é o interesse, que deve ser múltiplo, variado e
harmonicamente repartido. O terceiro é a disciplina, que tem a função de
preservar a vontade no caminho da virtude. Nessa etapa se fortalece a
autodeterminação como pré-requisito da formação do caráter. Ao contrário
do governo, consiste em um processo interno do aluno.
Classe britânica do século 19, auge do
herbartianismo: disciplina e métodos
rígidos.
Muitas das contribuições de Herbart para a psicologia e a pedagogia
continuam valiosas, mas seu pensamento e a prática que dele se originou no
século 19 se tornaram ultrapassados, sobretudo com o aparecimento do
movimento da escola ativa. Seu principal representante, o norte-americano
John Dewey (1859-1952), fez duras críticas à doutrina herbartiana. A
pedagogia contemporânea tornou o o aluno sujeito do ensino e substituiu o
individualismo do século 18 por uma visão mais complexa dos fatores
envolvidos no trabalho de ensinar. "Hoje, admite-se no plano teórico que a
mente humana é originalmente ativa, enquanto na prática, no Brasil, ainda se
costuma despejar conhecimento sobre o aluno, como queria Herbart", critica
Maria Nazaré.
Um padrão escolar para o Século 19
A obra pedagógica de Herbart teve
enorme influência em todo o mundo
ocidental (e também no Japão) na
segunda metade do século 19. Por se
basear no princípio de que a mente
humana apenas apreende novos
conhecimentos e só participa do
aprendizado passivamente, o
herbartianismo resultou num ensino que
hoje qualificamos de tradicional. "As
escolas herbartianas transmitiam um
ensino totalmente receptivo, sem diálogo
entre professor e aluno e com aulas que
obedeciam a esquemas rígidos e preestabelecidos", diz a educadora Maria
Nazaré. Herbart previa cinco etapas para o ato de ensinar. A primeira,
preparação, é o processo de relacionar o novo conteúdo a conhecimentos ou
lembranças que o aluno já possua, para que ele adquira interesse na matéria.
Em seguida vem a apresentação ou demonstração do conteúdo. A terceira
fase é a associação, na qual a assimilação do assunto se completa por meio
de comparações minuciosas com conteúdos prévios. A generalização, quarto
passo do processo, parte do conteúdo recém-aprendido para a formulação
de regras globais; é especialmente importante para desenvolver a mente
além da percepção imediata. A quinta etapa é a da aplicação, que tem como
objetivo mostrar utilidade para o que se aprendeu.
Biografia
Johann Friedrich Herbart nasceu em Oldenburg, na Alemanha, em 1776, e
conheceu alguns dos mais importantes intelectuais de seu tempo. Aos 18
anos, já era aluno do filósofo Johann Fichte (1762-1814) na Universidade de
Iena. Logo em seguida, trabalhou durante quatro anos como professor
particular em Interlaken, na Suíça, período em que ficou amigo do educador
Goethe retratado como patinador e entre
admiradoras: cultura para o bem comum.
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Tornou-se professor na Universidade
de Göttingen em 1802. Seis anos depois, assumiu a cátedra deixada vaga por
Immanuel Kant em Königsberg, onde lecionou até 1833, quando reassumiu o
posto de professor de filosofia em Göttingen. Em Königsberg, fundou um
seminário pedagógico com uma escola de aplicação e um internato. Os
estudos mais importantes de Herbart foram no campo da filosofia da mente,
à qual subordinou suas obras pedagógicas (entre elas, Pedagogia Geral e
Esboço de um Curso de Pedagogia). A influência de sua teoria se estendeu a
uma legião de pensadores, dando origem a várias interpretações, até entrar
em declínio no início do século 20.
Gênios em profusão na Alemanha
Herbart viveu numa época em que a
Alemanha produziu, década após década,
alguns dos mais importantes intelectuais
da história da humanidade. Alguns deles
redefiniram seus campos de atuação,
como Johann Wolfgang von Goethe
(1749-1832) na literatura e Kant na
filosofia. Curiosamente, o país naquele
período era constituído por dezenas de
minúsculos principados, virtualmente
independentes, mas subservientes aos
grandes centros de poder, como Paris e
Londres. No entanto, uma cultura sólida
se desenvolvia nas universidades alemãs.
A influência protestante e a tendência
dos governantes alemães de se cercarem
de funcionários cultos também ajudaram
a criar um contexto em que os
intelectuais costumavam ser chamados a contribuir para o bem comum,
mesmo que o sistema político estivesse longe de ser democrático. Nas
universidades, os professores de filosofia tinham de ocupar também cátedras
de pedagogia. Várias gerações de intelectuais - agrupados sob as correntes
idealista, romântica e realista - deixaram, assim, contribuições fundamentais
para a educação.
Para pensar
John Dewey criticou a teoria herbartiana dizendo que ela previa um "mestre todo-
poderoso", encarregado de manipular os processos mentais do aluno por meio da
instrução. Para Dewey e a maioria dos pedagogos do século 20, o pensamento
de Herbart subestima e até ignora a ação do próprio aluno e sua capacidade de
auto-educar-se. Mas não se pode negar que Herbart foi um dos pensadores que
mais se interessaram pela psicologia do educando e o modo como ela influi em
seu aprendizado. Você considera satisfatório seu conhecimento dos processos
psíquicos das crianças em geral e de seus alunos em particular? Se acha que
sim, de que modo pode utilizá-lo para aprimorar suas aulas?
Quer saber mais?
História da Educação e da Pedagogia, Lorenzo Luzuriaga, 312 págs., Cia. Ed. Nacional, tel. (11) 2799-7999, 44,90
reais
História Geral da Pedagogia, Francisco Larroyo, 501 págs., Ed. Mestre Jou (edição esgotada)

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  • 1. Herbart Endereço da página: https://novaescola.org.br/conteudo/1775/herbart-o- organizador-da-pedagogia-como-ciencia Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Outubro | 2008 Pensadores da Educação Herbart, o organizador da pedagogia como ciência O filósofo alemão do século 19 inaugurou a análise sistemática da educação e mostrou a importância da psicologia na teorização do ensino NOVA ESCOLA Com o filósofo alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841), a pedagogia foi formulada pela primeira vez como uma ciência, sobriamente organizada, abrangente e sistemática, com fins claros e meios definidos. A estrutura teórica construída por Herbart se baseia numa filosofia do funcionamento da mente, o que a torna duplamente pioneira: não só por seu caráter científico mas também por adotar a psicologia aplicada como eixo central da educação. Desde então, e até os dias de hoje, o pensamento pedagógico se vincula fortemente às teorias de aprendizagem e à psicologia do desenvolvimento - um exemplo é a obra do suíço Jean Piaget (1896-1980).
  • 2. Para Herbart, a mente funciona com base em representações - que podem ser imagens, idéias ou qualquer outro tipo de manifestação psíquica isolada. O filósofo negava a existência de faculdades inatas. A dinâmica da mente estaria nas relações entre essas representações, que nem sempre são conscientes. Elas podem se combinar e produzir resultados manifestos ou entrar em conflito entre si e permanecer, em forma latente, numa espécie de domínio do inconsciente. A descrição desse processo viria, muitos anos depois, a influenciar a teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939). Uma das contribuições mais duradouras de Herbart para a educação é o princípio de que a doutrina pedagógica, para ser realmente científica, precisa comprovar-se experimentalmente - uma idéia do filósofo Immanuel Kant (1724-1804) que ele desenvolveu. Surgiram daí as escolas de aplicação, que conhecemos até hoje. Elas respondem à necessidade de alimentar a teoria com a prática e vice-versa, num processo de atualização e aperfeiçoamento constantes. "Herbart fez um trabalho de grande influência porque aprofundou suas concepções até as últimas conseqüências", diz Maria Nazaré Amaral, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Moral como objetivo Na teoria herbartiana, memória, sentimentos e desejos são apenas modificações das representações mentais. Agir sobre elas, portanto, significa influenciar em todas as esferas da vida de uma pessoa. Desse modo, Herbart criou uma teoria da educação que pretende interferir diretamente nos processos mentais do estudante como meio de orientar sua formação. Embora profundamente intelectualista, a pedagogia herbartiana tem como objetivo maior nem tanto o acúmulo de informações, mas a formação moral do estudante. Por considerar a criança um ser moldado intelectualmente e psiquicamente por forças externas, Herbart dá ênfase primordial ao conceito de instrução. Ela é o instrumento pelo qual se alcançam os objetivos da educação. "Para Herbart, só o ignorante comete erros", diz a pedagoga Maria Nazaré. A instrução é o elemento central dos três procedimentos que, para Herbart, constituem a ação pedagógica. O primeiro é o que chamou de governo, ou seja, a manutenção da ordem pelo controle do comportamento da criança, uma atribuição inicialmente dos pais e depois dos professores. Trata-se de um conjunto de regras imposto de fora, com o objetivo de manter a criança ocupada. O segundo procedimento é a instrução educativa propriamente dita e seu motor é o interesse, que deve ser múltiplo, variado e harmonicamente repartido. O terceiro é a disciplina, que tem a função de preservar a vontade no caminho da virtude. Nessa etapa se fortalece a autodeterminação como pré-requisito da formação do caráter. Ao contrário do governo, consiste em um processo interno do aluno.
  • 3. Classe britânica do século 19, auge do herbartianismo: disciplina e métodos rígidos. Muitas das contribuições de Herbart para a psicologia e a pedagogia continuam valiosas, mas seu pensamento e a prática que dele se originou no século 19 se tornaram ultrapassados, sobretudo com o aparecimento do movimento da escola ativa. Seu principal representante, o norte-americano John Dewey (1859-1952), fez duras críticas à doutrina herbartiana. A pedagogia contemporânea tornou o o aluno sujeito do ensino e substituiu o individualismo do século 18 por uma visão mais complexa dos fatores envolvidos no trabalho de ensinar. "Hoje, admite-se no plano teórico que a mente humana é originalmente ativa, enquanto na prática, no Brasil, ainda se costuma despejar conhecimento sobre o aluno, como queria Herbart", critica Maria Nazaré. Um padrão escolar para o Século 19 A obra pedagógica de Herbart teve enorme influência em todo o mundo ocidental (e também no Japão) na segunda metade do século 19. Por se basear no princípio de que a mente humana apenas apreende novos conhecimentos e só participa do aprendizado passivamente, o herbartianismo resultou num ensino que hoje qualificamos de tradicional. "As escolas herbartianas transmitiam um ensino totalmente receptivo, sem diálogo entre professor e aluno e com aulas que obedeciam a esquemas rígidos e preestabelecidos", diz a educadora Maria Nazaré. Herbart previa cinco etapas para o ato de ensinar. A primeira, preparação, é o processo de relacionar o novo conteúdo a conhecimentos ou lembranças que o aluno já possua, para que ele adquira interesse na matéria. Em seguida vem a apresentação ou demonstração do conteúdo. A terceira fase é a associação, na qual a assimilação do assunto se completa por meio de comparações minuciosas com conteúdos prévios. A generalização, quarto passo do processo, parte do conteúdo recém-aprendido para a formulação de regras globais; é especialmente importante para desenvolver a mente além da percepção imediata. A quinta etapa é a da aplicação, que tem como objetivo mostrar utilidade para o que se aprendeu. Biografia Johann Friedrich Herbart nasceu em Oldenburg, na Alemanha, em 1776, e conheceu alguns dos mais importantes intelectuais de seu tempo. Aos 18 anos, já era aluno do filósofo Johann Fichte (1762-1814) na Universidade de Iena. Logo em seguida, trabalhou durante quatro anos como professor particular em Interlaken, na Suíça, período em que ficou amigo do educador
  • 4. Goethe retratado como patinador e entre admiradoras: cultura para o bem comum. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Tornou-se professor na Universidade de Göttingen em 1802. Seis anos depois, assumiu a cátedra deixada vaga por Immanuel Kant em Königsberg, onde lecionou até 1833, quando reassumiu o posto de professor de filosofia em Göttingen. Em Königsberg, fundou um seminário pedagógico com uma escola de aplicação e um internato. Os estudos mais importantes de Herbart foram no campo da filosofia da mente, à qual subordinou suas obras pedagógicas (entre elas, Pedagogia Geral e Esboço de um Curso de Pedagogia). A influência de sua teoria se estendeu a uma legião de pensadores, dando origem a várias interpretações, até entrar em declínio no início do século 20. Gênios em profusão na Alemanha Herbart viveu numa época em que a Alemanha produziu, década após década, alguns dos mais importantes intelectuais da história da humanidade. Alguns deles redefiniram seus campos de atuação, como Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) na literatura e Kant na filosofia. Curiosamente, o país naquele período era constituído por dezenas de minúsculos principados, virtualmente independentes, mas subservientes aos grandes centros de poder, como Paris e Londres. No entanto, uma cultura sólida se desenvolvia nas universidades alemãs. A influência protestante e a tendência dos governantes alemães de se cercarem de funcionários cultos também ajudaram a criar um contexto em que os intelectuais costumavam ser chamados a contribuir para o bem comum, mesmo que o sistema político estivesse longe de ser democrático. Nas universidades, os professores de filosofia tinham de ocupar também cátedras de pedagogia. Várias gerações de intelectuais - agrupados sob as correntes idealista, romântica e realista - deixaram, assim, contribuições fundamentais para a educação. Para pensar John Dewey criticou a teoria herbartiana dizendo que ela previa um "mestre todo- poderoso", encarregado de manipular os processos mentais do aluno por meio da instrução. Para Dewey e a maioria dos pedagogos do século 20, o pensamento de Herbart subestima e até ignora a ação do próprio aluno e sua capacidade de auto-educar-se. Mas não se pode negar que Herbart foi um dos pensadores que mais se interessaram pela psicologia do educando e o modo como ela influi em
  • 5. seu aprendizado. Você considera satisfatório seu conhecimento dos processos psíquicos das crianças em geral e de seus alunos em particular? Se acha que sim, de que modo pode utilizá-lo para aprimorar suas aulas? Quer saber mais? História da Educação e da Pedagogia, Lorenzo Luzuriaga, 312 págs., Cia. Ed. Nacional, tel. (11) 2799-7999, 44,90 reais História Geral da Pedagogia, Francisco Larroyo, 501 págs., Ed. Mestre Jou (edição esgotada)