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Prof. Airton Moreira Jr. (Irto)
Surgimento da filosofia:
pré-socráticos
Faz parte da existência humana refletir sobre dilemas e angústias como: “de
onde vim?”; “para onde vou depois da morte?”; “qual é o sentido da vida?”; “o
que diferencia o bem e o mal?”; “qual a origem do universo e da vida na
Terra?”; e muitos outros. Independente da época histórica, do nível de
escolaridade, da nacionalidade e qualquer outra diferença, os seres humanos
recorrentemente se envolvem nesses questionamentos. Essa é a busca da
verdade, um dos principais assuntos que levou ao surgimento da filosofia na
Grécia Antiga. Mas mesmo antes de existirem filósofos, os seres humanos se
fazem tais perguntas. Como eles as respondiam?
Mitologia
Conjunto de mitos e crenças de um povo ou sociedade. A cosmologia mitológica é a
explicação da origem do universo através dos mitos.
Mito: explicação mágico-religiosa dos fenômenos da realidade.
Na mitologia e no pensamento religioso, o sobrenatural explica o natural. Seres
divinos e suas histórias interferem nos acontecimentos mundanos.
Os mitos foram a primeira forma de compreensão da realidade da história; auxiliam
as sociedades humanas a atribuir sentido e significado aos fenômenos da realidade
natural ou social.
Ex: mitologia grega; mitologia nórdica; mitologia indígena; mitologia egípcia.
Em geral estão associados a uma visão cíclica (não-linear) sobre o tempo histórico:
fenômenos se repetem pois as histórias mitológicas se repetem.
Os rituais são a principal forma de interação com a realidade em uma sociedade cuja
principal forma de conhecimento é a mitologia.
Passagem da mitologia para a
filosofia
A filosofia nasce especificamente na Grécia Antiga, não por acaso, mas por um
conjunto de fatores históricos presentes nesse contexto: cidade-Estado, escrita,
comércio e moeda, expansão geográfica e mitologia antropomórfica grega.
Todas essas características estimularam a argumentação, a difusão de ideias, o
raciocínio lógico e formal, a reflexão crítica (e auto-crítica) e o abandono da
inquestionabilidade dos mitos.
É possível enxergar a relação entre mitologia e filosofia tanto por um ponto de vista
de continuidade entre uma e outra forma de conhecimento como de ruptura entre
ambas.
Passagem da mitologia para a
filosofia
Para os partidários da tese da continuidade, tanto os temas recorrentemente
abordados por seriam os mesmos quanto algumas das características do
mundo natural exaltadas pelos primeiros filósofos remetem a elementos
valorizados pela mitologia grega (como a água e o ar).
Para os que insistem que a filosofia surgiu de uma incisiva ruptura para com
a mitologia, o uso da racionalidade e da observação do mundo objetivo
produz conhecimentos completamente distintos da crença no sobrenatural.
A filosofia pré-socrática
Os primeiros filósofos gregos também são conhecidos por
Pré-socráticos, pois apesar da sua diversidade de
pensamento, possuem alguns pontos em comum presentes
nas suas ideias.
O principal tema dos filósofos pré-socráticos é a explicação
dos fenômenos da physys (realidade física), e não dos
problemas humanos, sociais ou políticos. Surge uma
cosmologia filosófica.
Para os filósofos pré-socráticos, nada veio do nada. Ou seja,
é possível descobrir a arché (elemento original) que
explicaria a origem dos fenômenos.
A principal ferramenta da filosofia pré-socrática é o logos,
sinônimo de palavra (escrita ou falada). É a conexão entre o
pensamento racional e a estrutura do mundo.
Principais filósofos pré-socráticos
Tales (aprox. 624 - aprox. 546 a.C.)
Anaximandro (610 - 547 a.C.)
Anaxímenes (588 - 524 a.C)
Pitágoras (aprox. 570 - aprox. 495 a.C.)
Xenófanes (570 - aprox. 475 a.C.)
Heráclito (aprox. 535 - aprox. 475 a.C.)
Parmênides (aprox. 530 - aprox. 460 a.C.)
Zenão (aprox. 490 - aprox. 430 a.C.)
Empédocles (aprox. 490 - aprox. 430 a.C.)
Demócrito (aprox. 460 - aprox. 370 a.C.)
Exercício 1
O legado da Grécia à filosofia ocidental é a filosofia ocidental.
(Bernard Williams. In: Finley M.I. O legado da Grécia, 1998.)
A afirmação baseia-se no fato de que
A) os filósofos gregos foram lidos pelos romanos, depois negados pela tradição românica
medieval e, posteriormente, recuperados por iluministas como Voltaire e Diderot.
B) a filosofia moderna ocidental, apesar de ter deixado o pensamento filosófico grego para
trás, recupera como princípio básico o legado mítico dos helenos.
C) os sofistas, como Sócrates e Platão, responsáveis pela produção de obras no campo da
mitologia, consolidaram os princípios da filosofia ocidental moderna.
D) os gregos foram os criadores de quase todos os campos importantes do conhecimento
filosófico, como a metafísica, a lógica, a ética e a filosofia política.
E) a metafísica de Platão tem estruturado, até hoje, as bases conceituais e filosóficas do
pensamento científico e tecnológico contemporâneo ocidental.
Exercício 2
TEXTO I
“Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e
existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata,
transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a
partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água,
quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo
possível, transformase em pedras”. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro:
PUC-Rio, 2006 (adaptado).
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no
princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face
desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se
origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como
julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de
aranha”. GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991
(adaptado).
Exercício 2
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do
universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo,
e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
Contexto de Sócrates
Seu pensamento marca uma reviravolta na história humana. Até então, a
filosofia grega procurava explicar o mundo baseada na observação das forças
da natureza. Com Sócrates, estimulado pela pólis de Atenas e seus debate
democrático de ideias, vivendo o ócio criativo e dedicando-se ao livre-pensar,
com Sócrates o ser humano voltou-se para si mesmo, inaugurando o
humanismo. Como diria mais tarde o pensador romano Cícero, coube ao
grego "trazer a filosofia do céu para a terra" e concentrá-la no homem e em
sua alma.
Características
Sócrates não deixou nenhum escrito, porém seus discípulos encarregaram-se
de transmitir à posteridade suas ideias e propostas epistemológicas e
filosóficas. Sócrates valia-se do método socrático em seus diálogos e debates,
que o fizeram trazer grandes reflexões para os seus interpelados e discípulos. O
método socrático consiste em:
- Questionamento: através da ironia, Sócrates interpelava seus interlocutores
não com afirmações mas sim com perguntas.
- Negação / Refutação: ao deixar claro as contradições dos conceitos e ideias
expressadas pelo seu interlocutor através de perguntas, o interlocutor acabava
por reconhecer a própria ignorância, sendo forçado a abandonar suas crenças
irracionais anteriores a reflexão e ao diálogo corrente.
- Maiêutica: parturição de ideias. Sócrates comparava sua tarefa a de uma
parteira, profissão de sua mãe, dizendo que ele mesmo não tinha que dar à luz
sabedoria, mas apenas ajudar os outros a parir suas ideias.
Características Sócrates é pioneiro no racionalismo. Para essa
corrente filosófica, o ser humano é racional por
natureza, isto é, possui a racionalidade de maneira
inata a utiliza na busca do conhecimento.
Do mesmo modo, o racionalismo implica no
universalismo. Para os universalistas, a sabedoria
leva ao conhecimento verdadeiro dos conceitos
absolutos e universais.
“Só sei que nada sei.” - dita diante de uma oráculo e
representando a humildade e a postura auto-crítica,
promovendo o reconhecimento da própria ignorância
como caminho para a plena busca da sabedoria.
“Uma vida sem conhecimento não vale a pena ser vivida”
- afirmação de Sócrates após ser condenado ao exílio,
acusado de desvirtuar a juventude.
Oposição entre Sócrates e os Sofistas
Na empreitada de colocar a filosofia a serviço da
formação do ser humano, Sócrates não estava sozinho.
Pensadores sofistas, os educadores profissionais da
época, igualmente se voltavam para o homem, mas com
um objetivo mais imediato: formar as elites dirigentes.
Isso significava transmitir aos jovens não o valor e o
método da investigação, mas um saber enciclopédico,
além de desenvolver sua eloqüência, que era a
principal habilidade esperada de um cidadão na política.
O principal filósofo sofista da época foi Protágoras (490
a.C. - 415 a.C.). Sua principal citação: "O homem é a
medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto
são, das coisas que não são, enquanto não são."
Oposição entre Sócrates e os
Sofistas
Os filósofos sofistas, portanto, se opunham ao universalismo
de Sócrates e fundamentaram as bases do relativismo
enquanto corrente filosófica. Para os relativistas, a verdade
universal e absoluta não existe. Os valores, as leis, a cultura,
todas essas coisas são relativos a pontos de vistas de cada
indivíduo e não possuem um valor intrínseco.
A filosofia, na visão dos sofistas, mas sim formar um
conhecimento enciclopédico capaz de contribuir para que os
cidadãos defendessem de maneira vitoriosa seus pontos de
vistas e argumentações em praça pública e no cotidiano,
sendo portanto mestres na arte de ensinar (em troca de
pagamento) recursos como retórica e oratória, prática
repudiada por Sócrates.
Exercício 3
O sofista é um diálogo de Platão do qual participam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no
início do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é
um sofista.
Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa longa exposição
ou empregar o método interrogativo?
Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um
interlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
(Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos.
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus.
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do saber humano.
Exercício 4
O século de Péricles (V a.C) constitui o período áureo da cultura grega,
quando a democrática Atenas desenvolve intensa vida cultural e
artística. No âmbito da especulação filosófica, os sofistas vivem nessa
época, e alguns deles são interlocutores de Sócrates.
Os sofistas tinham como primazia
A) o enfoque sobre o pensamento mítico e sua verdade.
B) a especulação sobre a natureza.
C) a reflexão sobre a religião.
D) o valor da teoria em detrimento da prática.
E) a persuasão e o exercício da função política que dependiam do bom
uso da palavra.
Exercício 5
Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e
embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum:
os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de
que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se
censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir
sua orientação.
BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na
A) contemplação da tradição mítica.
B) sustentação do método dialético.
C) relativização do saber verdadeiro.
D) valorização da argumentação retórica.
E) investigação dos fundamentos da natureza.
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  • 1. Prof. Airton Moreira Jr. (Irto)
  • 2. Surgimento da filosofia: pré-socráticos Faz parte da existência humana refletir sobre dilemas e angústias como: “de onde vim?”; “para onde vou depois da morte?”; “qual é o sentido da vida?”; “o que diferencia o bem e o mal?”; “qual a origem do universo e da vida na Terra?”; e muitos outros. Independente da época histórica, do nível de escolaridade, da nacionalidade e qualquer outra diferença, os seres humanos recorrentemente se envolvem nesses questionamentos. Essa é a busca da verdade, um dos principais assuntos que levou ao surgimento da filosofia na Grécia Antiga. Mas mesmo antes de existirem filósofos, os seres humanos se fazem tais perguntas. Como eles as respondiam?
  • 3. Mitologia Conjunto de mitos e crenças de um povo ou sociedade. A cosmologia mitológica é a explicação da origem do universo através dos mitos. Mito: explicação mágico-religiosa dos fenômenos da realidade. Na mitologia e no pensamento religioso, o sobrenatural explica o natural. Seres divinos e suas histórias interferem nos acontecimentos mundanos. Os mitos foram a primeira forma de compreensão da realidade da história; auxiliam as sociedades humanas a atribuir sentido e significado aos fenômenos da realidade natural ou social. Ex: mitologia grega; mitologia nórdica; mitologia indígena; mitologia egípcia. Em geral estão associados a uma visão cíclica (não-linear) sobre o tempo histórico: fenômenos se repetem pois as histórias mitológicas se repetem. Os rituais são a principal forma de interação com a realidade em uma sociedade cuja principal forma de conhecimento é a mitologia.
  • 4. Passagem da mitologia para a filosofia A filosofia nasce especificamente na Grécia Antiga, não por acaso, mas por um conjunto de fatores históricos presentes nesse contexto: cidade-Estado, escrita, comércio e moeda, expansão geográfica e mitologia antropomórfica grega. Todas essas características estimularam a argumentação, a difusão de ideias, o raciocínio lógico e formal, a reflexão crítica (e auto-crítica) e o abandono da inquestionabilidade dos mitos. É possível enxergar a relação entre mitologia e filosofia tanto por um ponto de vista de continuidade entre uma e outra forma de conhecimento como de ruptura entre ambas.
  • 5. Passagem da mitologia para a filosofia Para os partidários da tese da continuidade, tanto os temas recorrentemente abordados por seriam os mesmos quanto algumas das características do mundo natural exaltadas pelos primeiros filósofos remetem a elementos valorizados pela mitologia grega (como a água e o ar). Para os que insistem que a filosofia surgiu de uma incisiva ruptura para com a mitologia, o uso da racionalidade e da observação do mundo objetivo produz conhecimentos completamente distintos da crença no sobrenatural.
  • 6. A filosofia pré-socrática Os primeiros filósofos gregos também são conhecidos por Pré-socráticos, pois apesar da sua diversidade de pensamento, possuem alguns pontos em comum presentes nas suas ideias. O principal tema dos filósofos pré-socráticos é a explicação dos fenômenos da physys (realidade física), e não dos problemas humanos, sociais ou políticos. Surge uma cosmologia filosófica. Para os filósofos pré-socráticos, nada veio do nada. Ou seja, é possível descobrir a arché (elemento original) que explicaria a origem dos fenômenos. A principal ferramenta da filosofia pré-socrática é o logos, sinônimo de palavra (escrita ou falada). É a conexão entre o pensamento racional e a estrutura do mundo.
  • 7. Principais filósofos pré-socráticos Tales (aprox. 624 - aprox. 546 a.C.) Anaximandro (610 - 547 a.C.) Anaxímenes (588 - 524 a.C) Pitágoras (aprox. 570 - aprox. 495 a.C.) Xenófanes (570 - aprox. 475 a.C.) Heráclito (aprox. 535 - aprox. 475 a.C.) Parmênides (aprox. 530 - aprox. 460 a.C.) Zenão (aprox. 490 - aprox. 430 a.C.) Empédocles (aprox. 490 - aprox. 430 a.C.) Demócrito (aprox. 460 - aprox. 370 a.C.)
  • 8. Exercício 1 O legado da Grécia à filosofia ocidental é a filosofia ocidental. (Bernard Williams. In: Finley M.I. O legado da Grécia, 1998.) A afirmação baseia-se no fato de que A) os filósofos gregos foram lidos pelos romanos, depois negados pela tradição românica medieval e, posteriormente, recuperados por iluministas como Voltaire e Diderot. B) a filosofia moderna ocidental, apesar de ter deixado o pensamento filosófico grego para trás, recupera como princípio básico o legado mítico dos helenos. C) os sofistas, como Sócrates e Platão, responsáveis pela produção de obras no campo da mitologia, consolidaram os princípios da filosofia ocidental moderna. D) os gregos foram os criadores de quase todos os campos importantes do conhecimento filosófico, como a metafísica, a lógica, a ética e a filosofia política. E) a metafísica de Platão tem estruturado, até hoje, as bases conceituais e filosóficas do pensamento científico e tecnológico contemporâneo ocidental.
  • 9. Exercício 2 TEXTO I “Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transformase em pedras”. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado). TEXTO II Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”. GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
  • 10. Exercício 2 Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que a) eram baseadas nas ciências da natureza. b) refutavam as teorias de filósofos da religião. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. d) postulavam um princípio originário para o mundo. e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
  • 11. Contexto de Sócrates Seu pensamento marca uma reviravolta na história humana. Até então, a filosofia grega procurava explicar o mundo baseada na observação das forças da natureza. Com Sócrates, estimulado pela pólis de Atenas e seus debate democrático de ideias, vivendo o ócio criativo e dedicando-se ao livre-pensar, com Sócrates o ser humano voltou-se para si mesmo, inaugurando o humanismo. Como diria mais tarde o pensador romano Cícero, coube ao grego "trazer a filosofia do céu para a terra" e concentrá-la no homem e em sua alma.
  • 12. Características Sócrates não deixou nenhum escrito, porém seus discípulos encarregaram-se de transmitir à posteridade suas ideias e propostas epistemológicas e filosóficas. Sócrates valia-se do método socrático em seus diálogos e debates, que o fizeram trazer grandes reflexões para os seus interpelados e discípulos. O método socrático consiste em: - Questionamento: através da ironia, Sócrates interpelava seus interlocutores não com afirmações mas sim com perguntas. - Negação / Refutação: ao deixar claro as contradições dos conceitos e ideias expressadas pelo seu interlocutor através de perguntas, o interlocutor acabava por reconhecer a própria ignorância, sendo forçado a abandonar suas crenças irracionais anteriores a reflexão e ao diálogo corrente. - Maiêutica: parturição de ideias. Sócrates comparava sua tarefa a de uma parteira, profissão de sua mãe, dizendo que ele mesmo não tinha que dar à luz sabedoria, mas apenas ajudar os outros a parir suas ideias.
  • 13. Características Sócrates é pioneiro no racionalismo. Para essa corrente filosófica, o ser humano é racional por natureza, isto é, possui a racionalidade de maneira inata a utiliza na busca do conhecimento. Do mesmo modo, o racionalismo implica no universalismo. Para os universalistas, a sabedoria leva ao conhecimento verdadeiro dos conceitos absolutos e universais. “Só sei que nada sei.” - dita diante de uma oráculo e representando a humildade e a postura auto-crítica, promovendo o reconhecimento da própria ignorância como caminho para a plena busca da sabedoria. “Uma vida sem conhecimento não vale a pena ser vivida” - afirmação de Sócrates após ser condenado ao exílio, acusado de desvirtuar a juventude.
  • 14. Oposição entre Sócrates e os Sofistas Na empreitada de colocar a filosofia a serviço da formação do ser humano, Sócrates não estava sozinho. Pensadores sofistas, os educadores profissionais da época, igualmente se voltavam para o homem, mas com um objetivo mais imediato: formar as elites dirigentes. Isso significava transmitir aos jovens não o valor e o método da investigação, mas um saber enciclopédico, além de desenvolver sua eloqüência, que era a principal habilidade esperada de um cidadão na política. O principal filósofo sofista da época foi Protágoras (490 a.C. - 415 a.C.). Sua principal citação: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."
  • 15. Oposição entre Sócrates e os Sofistas Os filósofos sofistas, portanto, se opunham ao universalismo de Sócrates e fundamentaram as bases do relativismo enquanto corrente filosófica. Para os relativistas, a verdade universal e absoluta não existe. Os valores, as leis, a cultura, todas essas coisas são relativos a pontos de vistas de cada indivíduo e não possuem um valor intrínseco. A filosofia, na visão dos sofistas, mas sim formar um conhecimento enciclopédico capaz de contribuir para que os cidadãos defendessem de maneira vitoriosa seus pontos de vistas e argumentações em praça pública e no cotidiano, sendo portanto mestres na arte de ensinar (em troca de pagamento) recursos como retórica e oratória, prática repudiada por Sócrates.
  • 16. Exercício 3 O sofista é um diálogo de Platão do qual participam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é um sofista. Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o método interrogativo? Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo. (Platão. O sofista, 1970. Adaptado.) É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos. b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores. c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos. d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus. e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do saber humano.
  • 17. Exercício 4 O século de Péricles (V a.C) constitui o período áureo da cultura grega, quando a democrática Atenas desenvolve intensa vida cultural e artística. No âmbito da especulação filosófica, os sofistas vivem nessa época, e alguns deles são interlocutores de Sócrates. Os sofistas tinham como primazia A) o enfoque sobre o pensamento mítico e sua verdade. B) a especulação sobre a natureza. C) a reflexão sobre a religião. D) o valor da teoria em detrimento da prática. E) a persuasão e o exercício da função política que dependiam do bom uso da palavra.
  • 18. Exercício 5 Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação. BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977. O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na A) contemplação da tradição mítica. B) sustentação do método dialético. C) relativização do saber verdadeiro. D) valorização da argumentação retórica. E) investigação dos fundamentos da natureza.