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Até surgirem os primeiros trabalhos de epistemologias como os de Imre Lakatos, Thomas Kuhn e Karl Popper
na segunda metade do século XX, a Ciência era compreendida como neutra e imparcial. De modo que,
acreditava-se que ela possuía como objetivo ou propósito apenas o bem-estar social e o controle do homem
sobre a natureza. O conhecimento científico era desenvolvido e baseado no método empírico-indutivista e
assim, as leis e teorias eram produzidas para descrever a natureza. Com a problematização do “método
científico” e a busca por explicar como se desenvolvia a Ciência, põe-se em xeque também a questão da
neutralidade científica.
Segundo a revista Tecnologia e Sociedade em seu artigo “A imparcialidade da ciência e suas possibilidad es
para educação CTS”, Epistemólogos como Thomas Kuhn, Larry Laudan, Helen Longino, Ernan McMullin,
entre outros, debruçaram-se sobre o estudo dos valores envolvidos na atividade científica e defenderam ou
atacaram o aspecto objetivo da Ciência. Enquanto a Ciência era pensada como neutra, aceitava-se o fato das
teorias apresentarem alguns valores como coerência empírica, precisão e simplicidade. Porém, valores
externos, de natureza social, ideológica ou estética eram mal vistos pela comunidade científica (CORDEIRO;
PEDUZZI, 2014). Os cientistas eram entendidos como sujeitos capazes de fazer Ciência independentemente
de suas crenças e interesses, culminando em um saber neutro e objetivo.
Principalmente a partir de 1960 surgem críticas que problematizou a construção da Ciência por sujeitos que
se encontram em contextos históricos e ideológicos e, portanto, que carregam em seu fazer as respectivas
filiações. Segundo Delizoicov e Auler (2011, p. 248) “A atemporalidade das teorias científicas, que
representaria uma das dimensões da suposta neutralidade, é abalada quando se analisa a sua historicidade. Os
casos das teorias científicas que foram superadas, ao longo do tempo e que, portanto, têm uma limitação
temporal, põe em evidência que o pressuposto da atemporalidade dos critérios adotados pelo sujeito, quais
sejam os da lógica e da matemática, no tratamento de dados empíricos, e que balizaria a produção científica,
mostrou ser inconsistente”. Dessa forma, para alguns autores citados anteriormente, a Ciência não se constrói
apenas com disputas teóricas que envolvem certos tipos de valores, mas também implica interesses variados.
Lacey (2008) afirma que nos últimos anos, a ideia de uma Ciência livre de valores tem sido criticada por diversas
correntes,desde religiososfundamentalistasafeministase militantesde movimentossociais.A partirdessascríticas,
as teorias científicas são entendidas como “construções sociais” e, em uma corrente mais extremista, não existe
diferençaentre Ciênciae ideologia (LACEY,2008). Para discutira neutralidadecientíficae entenderopensamentode
Lacey é fundamental fazerumadistinçãoentre imparcialidade e neutralidade.SegundoBarbosade Oliveira(2003,p.
166) O conceitode neutralidadedaciência,numsentidoamplo,deve seranalisadoemalgunscomponentes,umdos
quais é a imparcialidade. Outro dos componentes da neutralidade no sentido amplo é a neutralidade no sentido
estrito,que porsuavezé formadapelaneutralidade aplicadae aneutralidadecognitiva.De acordocomLacey(2008),
a neutralidadedaCiênciaé uma das tesesexistentesque compõemaperspectivade que a Ciênciaé livre de valores.
As demais teses são chamadas pelo autor de imparcialidade e autonomia, essa última descrita acima em termos da
neutralidade cognitiva e aplicada e que se refere a condução da prática científica. A neutralidade está associada às
consequências do conhecimento científico e quando defendida, assume-se que uma teoria pode ser aplicada
independentemente de quaisquerjuízosde valor,ou seja,não atende a nenhumvalorparticular.Aodefenderatese
da imparcialidade da Ciência, Hugh Lacey se afasta do relativismo, fortemente criticado por filósofos como Mário
Bunge (1991), principalmente por sua incoerência e auto-destruição. Por outro lado, Lacey mantém uma postura
crítica ao afirmarque a Ciêncianão apresentao que foi chamado por BARBOSA DE OLIVEIRA (2003) de neutralidade
aplicada e a neutralidade cognitiva. Um exemplo da falta de neutralidade científica é, para o autor, a chamada
“revoluçãoverde”cujoobjetivoprincipal eraaumentara produçãoagrícola a partir de modificaçãode sementes,uso
de fertilizantese amecanizaçãodaagricultura(LEWONTIN,1991apudLACEY2008). Se porumladoPágina|31 houve,
de fato, aumento de produtividade, de outro promoveu o desemprego, a poluição e degradação do ambiente e a
migração do campo para cidade. Para Lacey (2008), a Ciência agiu em função de alguns valores específicos em
detrimento de outros, como é o caso do combate à fome. Voltando ao pensamento de Lacey, a imparcialidade,no
entanto,estárelacionadaàs razões pelasquaisse aceitaou não uma determinadateoria.Eo filósofoadefine como
Concepçãode que as teoriassão corretamente aceitasapenasemvirtude de manifestaremos valorescognitivosem
altograu, segundoosmaisrigorosospadrõesde avaliaçãoe com respeitoaumasérie apropriadade dadosempíricos
[...] aimparcialidadeimplicaque serviradeterminadosvaloresouserconsistentecomaspressuposiçõesdoesquema
de algum valor particular é irrelevante para a legítima aceitação de uma teoria. (LACEY, 2008, p. 179)

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  • 1. Até surgirem os primeiros trabalhos de epistemologias como os de Imre Lakatos, Thomas Kuhn e Karl Popper na segunda metade do século XX, a Ciência era compreendida como neutra e imparcial. De modo que, acreditava-se que ela possuía como objetivo ou propósito apenas o bem-estar social e o controle do homem sobre a natureza. O conhecimento científico era desenvolvido e baseado no método empírico-indutivista e assim, as leis e teorias eram produzidas para descrever a natureza. Com a problematização do “método científico” e a busca por explicar como se desenvolvia a Ciência, põe-se em xeque também a questão da neutralidade científica. Segundo a revista Tecnologia e Sociedade em seu artigo “A imparcialidade da ciência e suas possibilidad es para educação CTS”, Epistemólogos como Thomas Kuhn, Larry Laudan, Helen Longino, Ernan McMullin, entre outros, debruçaram-se sobre o estudo dos valores envolvidos na atividade científica e defenderam ou atacaram o aspecto objetivo da Ciência. Enquanto a Ciência era pensada como neutra, aceitava-se o fato das teorias apresentarem alguns valores como coerência empírica, precisão e simplicidade. Porém, valores externos, de natureza social, ideológica ou estética eram mal vistos pela comunidade científica (CORDEIRO; PEDUZZI, 2014). Os cientistas eram entendidos como sujeitos capazes de fazer Ciência independentemente de suas crenças e interesses, culminando em um saber neutro e objetivo. Principalmente a partir de 1960 surgem críticas que problematizou a construção da Ciência por sujeitos que se encontram em contextos históricos e ideológicos e, portanto, que carregam em seu fazer as respectivas filiações. Segundo Delizoicov e Auler (2011, p. 248) “A atemporalidade das teorias científicas, que representaria uma das dimensões da suposta neutralidade, é abalada quando se analisa a sua historicidade. Os casos das teorias científicas que foram superadas, ao longo do tempo e que, portanto, têm uma limitação temporal, põe em evidência que o pressuposto da atemporalidade dos critérios adotados pelo sujeito, quais sejam os da lógica e da matemática, no tratamento de dados empíricos, e que balizaria a produção científica, mostrou ser inconsistente”. Dessa forma, para alguns autores citados anteriormente, a Ciência não se constrói apenas com disputas teóricas que envolvem certos tipos de valores, mas também implica interesses variados. Lacey (2008) afirma que nos últimos anos, a ideia de uma Ciência livre de valores tem sido criticada por diversas correntes,desde religiososfundamentalistasafeministase militantesde movimentossociais.A partirdessascríticas, as teorias científicas são entendidas como “construções sociais” e, em uma corrente mais extremista, não existe diferençaentre Ciênciae ideologia (LACEY,2008). Para discutira neutralidadecientíficae entenderopensamentode Lacey é fundamental fazerumadistinçãoentre imparcialidade e neutralidade.SegundoBarbosade Oliveira(2003,p. 166) O conceitode neutralidadedaciência,numsentidoamplo,deve seranalisadoemalgunscomponentes,umdos quais é a imparcialidade. Outro dos componentes da neutralidade no sentido amplo é a neutralidade no sentido estrito,que porsuavezé formadapelaneutralidade aplicadae aneutralidadecognitiva.De acordocomLacey(2008), a neutralidadedaCiênciaé uma das tesesexistentesque compõemaperspectivade que a Ciênciaé livre de valores. As demais teses são chamadas pelo autor de imparcialidade e autonomia, essa última descrita acima em termos da neutralidade cognitiva e aplicada e que se refere a condução da prática científica. A neutralidade está associada às consequências do conhecimento científico e quando defendida, assume-se que uma teoria pode ser aplicada independentemente de quaisquerjuízosde valor,ou seja,não atende a nenhumvalorparticular.Aodefenderatese da imparcialidade da Ciência, Hugh Lacey se afasta do relativismo, fortemente criticado por filósofos como Mário Bunge (1991), principalmente por sua incoerência e auto-destruição. Por outro lado, Lacey mantém uma postura crítica ao afirmarque a Ciêncianão apresentao que foi chamado por BARBOSA DE OLIVEIRA (2003) de neutralidade aplicada e a neutralidade cognitiva. Um exemplo da falta de neutralidade científica é, para o autor, a chamada “revoluçãoverde”cujoobjetivoprincipal eraaumentara produçãoagrícola a partir de modificaçãode sementes,uso de fertilizantese amecanizaçãodaagricultura(LEWONTIN,1991apudLACEY2008). Se porumladoPágina|31 houve, de fato, aumento de produtividade, de outro promoveu o desemprego, a poluição e degradação do ambiente e a migração do campo para cidade. Para Lacey (2008), a Ciência agiu em função de alguns valores específicos em detrimento de outros, como é o caso do combate à fome. Voltando ao pensamento de Lacey, a imparcialidade,no
  • 2. entanto,estárelacionadaàs razões pelasquaisse aceitaou não uma determinadateoria.Eo filósofoadefine como Concepçãode que as teoriassão corretamente aceitasapenasemvirtude de manifestaremos valorescognitivosem altograu, segundoosmaisrigorosospadrõesde avaliaçãoe com respeitoaumasérie apropriadade dadosempíricos [...] aimparcialidadeimplicaque serviradeterminadosvaloresouserconsistentecomaspressuposiçõesdoesquema de algum valor particular é irrelevante para a legítima aceitação de uma teoria. (LACEY, 2008, p. 179)