1) O documento descreve o contexto histórico do pós-Segunda Guerra Mundial na Europa e a implementação do Plano Marshall pelos Estados Unidos para ajudar na reconstrução econômica dos países europeus.
2) O Plano Marshall foi importante para tirar a Europa da crise pós-guerra e permitiu três décadas de crescimento e prosperidade nos países que aderiram, ao contrário dos países sob domínio soviético.
3) Embora Salazar tenha inicialmente recusado o Plano Marshall, isso colocou Portugal em desv
Plano Marshall e prosperidade na Europa pós-Guerra
1. REFLEXÃO CRÍTICA: A ERA DA
PROSPERIDADE
Universidade do Algarve - Escola Superior de
Educação e Comunicação (ESEC)
Curso Superior de Educação Social
Ano letivo de 2014/2015
3.º Ano – 1º Semestre
Unidade Curricular: Desenvolvimento e Participação
Docente: António Fragoso
Discente: Cláudia Brito
Número: 47027
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Todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto
das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer
à espécie humana
Edgar Morin
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A Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre os anos 1939 e 1945, considerada o conflito
armado de maior dimensão na história da Humanidade até aos nossos dias, apresentou
consequências desastrosas não só a nível humano mas também económico e social.
Na Europa pós-guerra, o cenário é trágico e desesperante. As cidades destruídas, as vias
de comunicação cortadas, os campos abandonados, a escassez de combustíveis e de
alimentos, foram razões que levaram as economias à decadência e deixaram as
populações completamente desmoralizadas.
Durante esse período, duas superpotências, os Estados Unidos da América e a União
Soviética, com ideais políticos, militares, económicos e sociais divergentes, disputavam
a hegemonia política, económica e militar no mundo, após a 2ª Guerra Mundial (Guerra
Fria).
A expressão Guerra Fria, deve de ser entendida, como um conflito, entre os E.U.A e a
URSS, apenas no campo ideológico, pois nunca se registou um conflito militar direto
entre os dois países. Curiosamente, soube-se a determinada altura, que as duas
superpotências, detinham armamento nuclear, que utilizado em confronto direto resultaria
na destruição dos dois países e, provavelmente, num desastre global.
Assim, temos, duas ideologias divergentes: por um lado, a dos Estados Unidos da
América a defender a expansão do sistema capitalista, baseado na economia de mercado,
a propriedade privada e a democracia, e por outro lado, a da União Soviética, a defender
um sistema Socialista, baseado na economia planificada, partido único (partido
comunista), o fim da propriedade privada, a igualdade social e a “ausência” de
democracia.
Perante o clima de desânimo do pós-guerra, muitos europeus consideraram o comunismo
soviético uma alternativa para alterar as condições dos trabalhadores e tirá-los da crise, o
que justificou o crescimento do partido comunista em países como a França e a Itália.
Bastante perspicaz, Winston Churchill (primeiro-ministro britânico), percebendo a
influência da União Soviética (Cortina de Ferro), pressiona os EUA para que encontrem
uma estratégia para impedir que o Comunismo Soviético se expanda pela Europa. Em
Março de 1946, proferiu em Fulton, Missouri (Estados Unidos) um discurso em que
alertava para o facto da União Soviética ser inimiga dos valores ocidentais (democracia
e liberdade) e para a possibilidade do seu domínio europeu. Um ano mais tarde, sob
influência do primeiro-ministro britânico, Harry Truman, presidente dos E.U.A, anunciou
no Congresso Nacional a sua intenção de ajudar financeiramente os países devastados
pela guerra, para afastá-los do comunismo soviético e mante-los na esfera capitalista.
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Assim, em 1947, com os objetivos de evitar que a Europa Ocidental sucumbisse ao
domínio da União Soviética (comunismo) e de expandir os seus mercados, os Estados
Unidos da América, executam um plano de ajuda económica (Plano Marshall), concebido
a partir da doutrina de Truman, que visa a recuperação dos países europeus afetados pela
2ª guerra mundial. Dois anos mais tarde, em 1949, surge o COMECON (Council for
Mutual Economic Assistance), plano, criado pela URSS, que visava a unificação e o
desenvolvimento económico dos países do Leste Europeu.
Além dos planos económicos, foram ainda formados dois blocos militares pelas duas
superpotências rivais: OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, pelos E.U.A,
em 1949, que tinha bases militares nos países membros (principalmente na Europa
Ocidental) e o Pacto de Varsóvia, em 1955, pela URSS, que defendia militarmente os
países socialistas.
Como nos mostrou o vídeo, a reação de pessoas, e mesmo de países, em relação ao Plano
Marshall, numa fase inicial, foi de desconfiança, pois temiam ser colonizados pelos
E.U.A (Imperialismo Americano). Mas, dadas as condições adversas em que se
encontravam os países devastados pela guerra, com o passar do tempo, a ajuda americana,
que chegava por mar e terra, sob a forma de géneros alimentícios (comboio da amizade,
em Itália, por exemplo), maquinaria, empréstimos, doações, etc., foi, inevitável e,
progressivamente, aceite por toda a Europa Ocidental. Mesmo na Itália e na França, onde
o partido Comunista obteve um crescimento considerável, a ajuda americana acabou por
ser acolhida.
No total, calcula-se que os E.U.A tenham injetado cerca de treze biliões de dólares para
ajudar ao crescimento e desenvolvimento de dezasseis países europeus, sendo que as
maiores fatias couberam à França, à Inglaterra, à Itália e à Alemanha. Será importante
salientar que esta ajuda se estendeu à União Soviética e aos países da Europa Oriental,
mas nenhum dos países sob domínio soviético o aceitou, porque Stalin a considerava uma
ameaça.
Poucos anos após a implementação do Plano Marshall, o crescimento económico dos
países europeus que recebiam ajuda americana, com a exceção da Alemanha, já tinham
alcançado níveis superiores aos registados no período pré-guerra. Nas décadas seguintes,
esta ajuda americana, que serviu como uma alavanca para as economias, permitiu que as
populações e países gozassem, nos trinta anos seguintes, de grande crescimento e
prosperidade económica – “30 Gloriosos Anos”.
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Mas, o Plano Marshall, não foi, a meu ver, como alguns defendem, um “ato” de
solidariedade, ele encerrou em si interesses económicos bem delineados. Certamente, os
E.U.A, perceberam que com a reconstrução económica da Europa, com a reestruturação
rápida das indústrias, as altas taxas de emprego, o nível de consumo das populações dos
países afetados pela guerra dispararia. Um grande crescimento económico estava
previsto, pelos E.U.A, através da exportação dos seus produtos e capitais para outros
mercados. Logicamente, também terão entendido que, da mesma forma que o
alargamento dos mercados traria prosperidade à América, o não escoamento dos seus
produtos os arrastaria para uma crise.
Ainda no que se refere à exportação de bens, os E.U.A, começaram a poder escoar os seus
produtos para a maior parte dos países europeus ocidentais, (alimentos, combustíveis,
produtos industrializados e outros), logo a partir da implementação do plano, uma vez
que estes ganharam poder de compra com os créditos oriundos do Plano Marshall).
Agora que percebemos as vantagens do Plano Marshall para os EUA, outras questões
tornam-se pertinentes: Qual a importância do Plano Marshall para a Europa? Que impacto
teve, a nível de crescimento e desenvolvimento, a não-aceitação do Plano Marshall para
os países da URSS? E, para Portugal?
O Plano Marshall foi importantíssimo para a Europa porque permitiu que esta saísse da
profunda crise em que se encontrava no pós 2º Guerra Mundial. Se compararmos os níveis
de crescimento e desenvolvimento dos países não aderentes ao Plano Marshall com os
aderentes, percebemos claramente a importância do mesmo para o crescimento e
desenvolvimento dos países que o integraram. A falta de democracia, o atraso económico,
e a crise das repúblicas soviéticas, que anteciparam a crise do socialismo, e vieram nos
finais de oitenta (1989) provocar a queda do Muro de Berlim, são factos que nos permitem
tirar essas conclusões.
No que se refere a Portugal, sabe-se que, numa fase inicial, Salazar recusou o Plano
Marshall, contra os interesses nacionais, por o considerar um plano económico com fins
hegemónicos e por temer a perda das colónias portuguesas. Podemos também supor que
a recusa de Salazar à ajuda americana teve a ver com o facto de Portugal ter sofrido apenas
os efeitos indiretos da Guerra. Apesar desta recusa inicial, em 1948 aceitou ser membro
da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), e, um ano
mais tarde (1949), da Nato (Organização do Tratado do Atlântico Norte), após ter
recebido ajuda financeira sobretudo no plano militar.
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Certo é que o facto de Salazar ter recusado o Plano Marshall, colocou Portugal em
desvantagem quando comparado com os países aderentes. Por outras palavras, a
abundância e prosperidade – 30 anos dourados – vivenciada pelas populações no período
pós-guerra dos países aderentes (ainda que variável de país para país), nunca existiram
em Portugal.
Obviamente que isto não significa que Portugal, e/ou a população portuguesa, se privou
só de uma vida de abundancia material - casas, carros, eletrodomésticos, turismo, bons
ordenados, etc.- ao estilo de vida americano, mas de obter outros proveitos advindos do
desenvolvimento proporcionados pela ajuda americana. Um bom exemplo disso, são por
exemplo, as baixas taxas de desemprego. Na Grã-Bretanha a taxa de desemprego era de
apenas 1% e a Alemanha carecia de trabalhadores. Da mesma forma que altas taxas de
desemprego têm repercussões na vida individual e coletiva das sociedades: a nível
individual, traduz-se em afetações ao bem-estar psicológico e físico do individuo, ao
suicídio, à desagregação social, que se se refletem na sociedade sob a forma de violência,
desigualdade social, aumento da criminalidade, etc.; as baixas taxas de desemprego
eliminam ou minimizam estes efeitos.
Se, tal como referido anteriormente, a ajuda americana permitiu que a Europa saísse da
crise em que encontrava no pós guerra, por outro lado, ela permitiu também criar a ilusão
de que a abundância seria eterna. Na década de 70 (crise petrolífera), assiste-se a um volte
face, com o aumento do preço do petróleo, que deixa europeus e americanos numa
posição de dependência face aos árabes, culminando aí os 30 anos gloriosos.
Se recuarmos no tempo, percebemos que a partir do século XIX, mas sobretudo com a
queda da Bolsa de NY (1929) e a subsequente Grande Depressão, o Liberalismo Clássico
caí em descrédito, abrindo portas para que teorias de intervenção do Estado na Economia
(Keynes) sejam implementadas. Contudo, a partir da crise petrolífera de 1973, seguida
pela onda inflacionária que surpreendeu os Estados Providência e pelo fim do padrão
dólar-ouro, o liberalismo, surge ferozmente, com uma nova roupagem “neoliberalismo”,
não cessando de criar, até aos nossos dias, grandes desigualdades sociais.
Para terminar esta reflexão critica, recorro ao filósofo Edgar Morin, que nos alerta, para
o facto de, a partir da década de 70, 80 e 90, os motores do progresso serem cada vez mais
ambivalentes. Quer isto dizer que, se por um lado, a ciência traz o progresso nos
conhecimentos (progresso humano), ela traz também as armas de destruição massiva.