O documento descreve a vida da irmã Angela Cassulo, uma das primeiras missionárias salesianas a partir para a Patagônia na Argentina em 1880. Ela viveu uma vida humilde e dedicada ao serviço de Deus, trabalhando principalmente na cozinha. Sua simplicidade, generosidade e fé inspiram as irmãs salesianas atualmente a viverem os valores do Evangelho e a se comprometerem com a missão de evangelizar os jovens.

1. PrimeiraExpediçãoMissionária
Roma, 14 de junho de 2017.
Queridas Irmãs,
é sempre uma grande alegria encontrar-nos todos os meses,
nesta especial celebração do 140º aniversário da primeira
Expedição Missionária.
Imagino que cada uma esteja preparando-se com alegria para
empreender um novo horizonte apostólico, entrando na barca da nossa GRANDE EXPEDIÇÃO
MISSIONÁRIA.
Como já foi dito outras vezes, todas estamos envolvidas neste significativo evento.
Metaforicamente ousaria dizer: nenhuma pode dar-se o direito de olhar de longe o navio que parte e
permanecer como antes. Desde que o Savoie partiu de Gênova, o Instituto das FMA assumiu
radicalmente e para sempre a sua fisionomia missionária. Isto é muito bonito e nos faz sermos
FMA em saída missionária, no lugar onde estamos. Porém com o coração e a mente abertos ao
horizonte do mundo.
Neste sentido, perguntemo-nos: o que sinto dentro de mim quando ouço falar da primeira
Expedição Missionária? O que experimento no meu coração quando confronto a minha vida com a
vida das primeiras seis FMA missionárias ad gentes? Quanto se alarga o meu olhar quando olho o
mundo, a realidade com o olhar missionário de Madre Mazzarello e de Dom Bosco? Algo muda
dentro de mim?
No mês de março, dedicamos a mensagem do dia 14 a duas missionárias da primeira hora: Ir.
Teresa Gedda e Ir. Angela Cassulo. Na memória do centenário da morte delas (1917 – 2017),
quisemos dar a vocês uma rápida indicação de cada qual. Entretanto, desejamos retomar uma vez
mais a história de vida destas Irmãs, para que sejam mais conhecidas e para que nos ajudem a
mantermo-nos fiéis à nossa consagração.
Hoje, vou me deter sobre a vida de Ir. Angela Cassulo. Segundo o seu perfil biográfico, publicado
em um pequeno, mas precioso livrinho (Cenni Biografici delle FMA defunte nel biennio 1917 –
1918. Torino, 1959), Ir. Angela entrou em Mornese no terceiro ano de vida do Instituto. Fez a
primeira profissão em 28 de agosto de 1875, nas mãos de Dom Bosco, na mesma celebração em que
Madre Mazzarello fez os votos perpétuos. Durante toda a vida, a cozinha foi o seu altar e o lugar
de crescimento na santidade: em Mornese, em Borgo S. Martino, depois em outras casas na
América. Jamais pensou em fazer o pedido missionário, mas quando surgiu oportunidade tornou-se
disponível... caso pudesse ser útil! Após a partida, nunca mais retornou à sua terra natal.
É importante tomar consciência de que não é aquilo que fazemos que nos torna melhores, mais
santas, mas como o fazemos, qual espírito nos move interiormente e nos faz ser missionárias de
alegria e de esperança, também em uma cozinha, como fez e viveu Ir. Cassulo.
Junto com Ir. Angela Vallese e outras duas FMA, Ir. Angela Cassulo entrou na Patagonia no
início de 1880. Carmen de Patagones e Viedma foram a sua terra de missão até o fim. Ali ela gastou
a vida na cozinha, enfrentando com generosidade e humildade cansaços, sofrimentos, dores físicas,
além da falta de meios, dos pesados trabalhos agrícolas e das diversas atividades às quais as
missionárias deveriam dedicar-se para ter o necessário para atender o hospital de Viedma. Ir.
Angela era toda bondade para com as irmãs e o povo do lugar. Nada para si mesma! Capaz de

2. PrimeiraExpediçãoMissionária
sacrifícios imensuráveis e de uma sabedoria muito concreta, dizia com simplicidade que o Espírito
Santo era “o seu Diretor espiritual”.
Durante toda a vida não procurou outra coisa senão a vontade de Deus, e esta foi a sua
característica peculiar. Diante das maiores dificuldades, repetida sempre e somente o seu
costumeiro: “Todo como Dios quiere!” (tudo como Deus quer). Da vida de Jesus o que mais a
atraía era a infância e a paixão dolorosa. Envelheceu precocemente por causa das fadigas e das
dificuldades, entretanto permaneceu jovial, conservando a sua cândida simplicidade e o fervor de
espírito. Nos quatro longos e dolorosos meses de doença, que precederam o fim, soube manter-se
serena, tranquila, alegre e brincalhona. Costumava repetir: “a melhor coisa é fazer bem a vontade
divina, e estar tranquilos nas mãos de Deus!”.
No dia 28 de março de 1917, após receber a Comunhão, serenamente fechou os olhos. O Inspetor
Salesiano, P. Luigi Pedemonte, quebrando o silêncio daquele momento ao traçar um último sinal de
bênção, exclamou: “Eis que um anjo deixou a terra agora: anjo de nome e de fato!”.
Queridas Irmãs, neste 14 de junho, convido-as a rezarem por duas intenções. A primeira, por todas
as Irmãs e as pessoas que conhecemos cujo nome é Angela. Peçamos para todas o dom do
Espírito Santo para que sejam no seu quotidiano “anjos de nome, anjos de fato!”. Também as
convido a escreverem e deixar sobre o altar durante todo o dia o nome de todas as Irmãs que
vocês conhecem e que trabalharam ou ainda trabalham na cozinha. São muitas as Irmãs que na
história do Instituto gastaram e ainda gastam a vida pelos/as jovens na humildade e no silêncio de
uma cozinha. São muitas as Irmãs que deram e ainda dão mais sabor à vida dos outros, apesar do
anonimato, dos sacrifícios, dos cansaços... em uma cozinha! São muitas as Irmãs que vivendo o seu
serviço-missão, sempre em uma cozinha, fizeram suas as palavras de Jesus: “para que todos tenham
vida e vida em abundância!”. É bonito reconhecer o trabalho das cozinheiras, porque elas nos dão
vida e nos mantêm em vida! Também o Âmbito das Missões quer dizer um “obrigada especial” a
estas irmãs e vai fazê-lo rezando por cada uma delas.
Irmãs, agradeço pela comunhão da oração e porque o coração de vocês se prepara com entusiasmo e
generosidade à nossa GRANDE EXPEDIÇÃO MISSIONÁRIA.
Deixo para a reflexão de vocês e a partilha em comunidade, este bonito testemunho enviado pela
Inspetoria “São Francisco Xavier” – ABB, onde Ir. Angela Cassulo viveu grande parte da sua vida
num significativo compromisso missionário ad gentes.
Com carinho, um grande abraço.
Conselheira para as Missões
alaide@cgfma.org
Irmã Angela Cassulo pertence ao grupo das pioneiras que o nascente Instituto das FMA enviou a
estas terras da América do Sul, no dia 14 de novembro de 1877.
Viveu a experiência original mornesina e desta fonte carismática das origens bebeu, junto com
Madre Mazzarello e as primeiras irmãs, aquele Amor a Jesus e ao Reino de Deus, que fez com que
deixasse a cidadezinha de Mornese, atravessando o imenso oceano, e chegasse à tão sonhada terra

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da América: Villa Colón, e em 1880, Carmen de Patagones, centro da missão entre os indígenas da
Patagônia Argentina, e mais tarde, Viedma no Río Negro. Nada a deteve, eram “os tempos
verdadeiramente heroicos” da missão na Patagônia árida e despovoada. Ela deixa realmente tudo,
a família, a nação, a língua, os costumes. Aberta aos projetos missionários de Dom Bosco, desafia
a impopularidade, perigos e riscos de todo tipo. A sua vida, como a dos primeiros apóstolos e
discípulos, nos fala de tudo quanto Deus realizou por meio dela.
Em diversas cartas de Madre Mazzarello, Ir. Angela é mencionada com carinho materno, com
aquele carinho com que Maín sabia chegar ao coração das suas filhas, conhecendo-as uma por
uma (Cartas 6, 7, 22, 25, 27, 33, 37, 47, 55). Madre Mazzarello se dirige a Ir. Angela com o mesmo
estilo de Jesus. A Madre usa sinais e gestos que falam da vida de todos os dias, convidando-a a
encontrar Jesus na contemplação da simples e familiar vida da comunidade missionária: “E Irmã
Angela Cassulo, continua sempre cozinheira? De tanto estar perto do fogo, a esta hora já estará
acesa do amor de Deus, não é mesmo?” (C 22,11).
A herança que nos deixa Irmã Angela é a simplicidade de vida dos pequenos do Evangelho, que na
simplicidade e no ordinário da vida, encontram a oportunidade de descobrir a presença de Deus
na história presente, e isto faz com que sejam capazes de viver a contemplação do quotidiano.
Muitas vezes, involuntariamente, na história das nossas Inspetorias, esta herança carismática foi
distorcida e desfocada. Talvez tenhamos exaltado mais aquelas irmãs que tiveram a possibilidade
de estudar e de preparar-se do que aquelas que deram a vida em uma simples cozinha, na dispensa,
na lavanderia, na portaria... Talvez sem querer, hierarquizamos expressões daquela única missão,
exaltando os dons intelectuais em detrimento daqueles manuais, valorizamos mais aquelas que se
dedicam ao trabalho escolar em vez de valorizar igualmente as que se dedicam a atividades e
obras periféricas.
Hoje, Irmã Angela nos recorda a essencialidade da vida consagrada salesiana, centrada no amor
a Jesus e ao seu Reino, sem medir sacrifícios e doação, porque nós nos consagramos para dar-Lhe
tudo... também a vida, se necessário!
Hoje, Irmã Angela deseja despertar o fascínio da vida religiosa que Deus suscitou no nosso
coração, para que a nossa vida seja plena, abundante, digna e feliz. Ela nos questiona com a sua
vida apaixonada, próxima do povo, dos mais pobres, que nos pobres abraça todas as pessoas, com
o estilo de Jesus que os escolheu porque têm um lugar especial no coração de Deus.
Hoje, Irmã Angela nos convida a deixar a nossa zona de conforto e de prestígio, as nossas
seguranças, porque os jovens mais necessitados e abandonados nos desafiam a mudar os nossos
projetos e os nossos itinerários... O contato com os jovens mais pobres nos move, nos sacode! A
nossa consagração salesiana, sem mística e distante dos jovens mais pobres, se transforma em uma
vida religiosa “de sofá”.
Hoje, Irmã Angela nos mostra uma vez mais o caminho da santidade salesiana que chegou a estas
terras da Patagônia, na qual cresceram frutos de santidade juvenil: Laura Vicuña e Zeferino
Namuncurá, filhos de culturas originais da América, que souberam valorizar o testemunho dos seus
educadores e a proposta do Evangelho, doando a vida por Jesus e pelo seu povo.
[possa a vida de Irmã Angela Cassulo] nos questionar e contagiar, e fazer-nos seguir as suas
pegadas de santidade, recriando a sua coragem evangélica e a sua audácia missionária.
M. L. R. fma
Bahía Blanca