1. O
Paula Giolito
6 • REVISTA O GLOBO• 15 DE JANEIRO DE 2012
a conta...
Dois cafés e
por Mauro Ventura
O ...com Guilherme Fiuza
jornalista e escritor Guilherme
Fiuza vive uma dupla estreia.
Em sua primeira incursão pela
TV, é colaborador — com
REVISTA O GLOBO: Como jornalista e escritor, você lida Como você conheceu a Narcisa?
Denise Bandeira e Nelson Motta — de com histórias reais. Como foi fazer ficção? Numa festa. Saí do elevador, dei de cara com ela,
Euclydes Marinho em “O brado GUILHERME FIUZA: Um exemplo: tínhamos que achei-a muito bonita e conversamos um tempão.
retumbante”, que começa terça-feira escolher se a mulher do presidente ia traí-lo ou Eu sabia da pessoa que criou o bordão “Ai que
não. Como jornalista, eu iria apurar se ela traiu ou loucura!” e ela conhecia o filme “Meu nome não é
na Globo. Além disso, pode ser visto às
não. Mas, na ficção, é você que decide. Teve uma Johnny”, mas na hora não nos demos conta. Me
segundas no reality show “Mulheres peguei muito ligado a ela, que é bem diferente do
divisão na equipe, o que rendeu boas risadas. Eu e
ricas”, na Band. Fiuza namora uma das Denise (Bandeira) éramos mais conservadores, personagem. Paga um preço por ser autêntica. É
participantes, Narcisa Tamborindeguy. A achávamos que ela não pularia a cerca dessa de muita doçura e personalidade, íntegra, su-
maneira. Euclydes (Marinho) e Nelson (Motta), persensível, livre, exuberante, tem uma autoironia
relação causou muita estranheza, mas
mais ousados. Euclydes brincou que nós éramos a que muitos não percebem. É inteligentérrima do
eles já estão juntos há um ano e quatro jeito dela, tem uma forma suprema de inteligência:
liga das mulheres honradas. No fim, fizemos uma
meses. A minissérie global fala de um mescla. A primeira-dama trai, mas um pouco por o humor. Todo dia tem uma tirada diferente.
advogado, Paulo Ventura, que acaba na vingança, já que o presidente é mulherengo. Nosso Como é aparecer em “Mulheres ricas”?
presidência por acaso — Fiuza criou o protagonista traz a complexidade do mundo real, Sempre fui muito discreto, jamais escrevi um texto
bordão do tio oportunista do presidente: foge ao senso comum. A opinião pública ou se em primeira pessoa. Então, preferia não estar ali,
encanta com a autoridade, tratando-a como mito, não tem nada a ver comigo. Mas o programa é
“Eu e meu sobrinho somos praticamente ou tem o clichê de que político é tudo safado. sobre a vida da Narcisa, e estou de maneira muito
a mesma pessoa.” Neto do jurista Sobral estreita nela. Não podia me esconder. Ou saía da
Pinto, colunista do Globo e da revista Seus textos são muito contundentes e sarcásticos.
relação ou encarava. Se eu não aparecesse, estaria
Como os leitores reagem?
“Época”, onde também mantém um blog, dizendo a Narcisa que tenho vergonha dela.
Fui apresentado a uma mulher, que disse: “Ué, mas
autor de quatro livros de não-ficção — o o cara que escreveu ‘Meu nome não é Johnny’ é O que você acha do programa?
best-seller “Meu nome não é Johnny”, aquele nervosão?” (Risos.) O articulista é bem “Mulheres ricas” é totalmente constrangedor, hor-
“Bussunda — A vida do casseta”, diferente do escritor. Nas colunas, mostro como o roroso, de mau gosto, sem pé nem cabeça. Jamais
poder está engessado pelo fisiologismo, como a assistiria. Devia ser o contrário do “Big Brother
“3.000 dias no bunker” e “Amazônia, 20° máquina está vivendo para alimentar a si mesma. Brasil”, ou seja, a pior delas doaria R$ 1 milhão. A
andar” —, Fiuza recebeu convites para Já me chamaram de pena de aluguel, disseram que Narcisa é o que vale a pena. Sabia que seria
fazer duas biografias, mas ainda não era vendido ao ACM, criaram um falso dossiê problemático, mas não me arrependo porque a
assinou contrato. “São personagens Guilherme Fiuza. O PT tem uma claque muito amo. Apesar de aparecer num universo repro-
forte, mas também tenho um fã-clube enorme. Não vável, acho que as pessoas vão ver que quem está
fortes da cultura”, antecipa ele, que está barro nenhum comentário no blog, e vários caras ali é o jornalista sério, que não podia fugir dessa
em conversas para um programa sobre da patrulha contra mim passaram a me respeitar: situação. Cuidei mais do meu sentimento do que
Bussunda, que faria 50 anos em 2012. “Fiuza é reacionário, mas é democrata.” da minha imagem. Sou sincero no meu amor.
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