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DISPENSACIONALISMO
Por
Abel Saraiva
Monografia apresentada em cumprimento
Às exigências da disciplina
TES326 Escatologia
MEIBAD
Fanhões
2015
ÍNDICE
INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 1
I. PRINCIPAIS DOUTRINAS .................................................................................................. 1
II. ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS ................................................... 3
CONCLUSÃO........................................................................................................................... 5
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 6
1
INTRODUÇÃO
Millard Erickson define o dispensacionalismo como um “sistema teológico e hermenêutico”1
,
visto que as suas doutrinas estão fortemente relacionadas com o seu modo de interpretação.
Todo o dispensacionalista é pré-milenista, mas nem todo o pré-milenista é dispensacionalista.
O nome deste sistema surge da palavra dispensação. Etimologicamente, Charles Ryrie informa-
-nos que o termo vem do latim e significa “pesar ou dispensar”, relacionando três ideias: 1) “a
ação de distribuir”; 2) “a ação de administrar, ordenar ou supervisionar; o sistema pelo qual as
coisas são administradas” e 3) “a ação de dispensar com algum requisito.”2
Assim, “o
dispensacionalismo contempla o mundo como uma casa administrada por Deus. Nesta casa
cósmica, Deus está a distribuir a administração dos Seus assuntos conforme a Sua própria
vontade e em várias etapas da revelação no processo do tempo.”3
O dispensacionalismo divide
o tempo em longos períodos sendo que, a 2ª Vinda de Cristo e a Tribulação, fazem parte do
século presente e o Milénio dá início ao século vindouro.4
Como sistema interpretativo, começou a ser desenvolvido por John Nelson Darby (1800-1882),
ao surgir como resposta à teologia liberal que se estava a levantar na Igreja de Inglaterra. Darby
acabou por romper a sua ligação à Igreja de Inglaterra, envolvendo-se com o Movimento dos
Irmãos (de Plymouth). Contudo, só no início do século XX é que o sistema foi plenamente
estabelecido por C. I. Scofield (1843-1921) e fortemente difundido pela Bíblia de Referência
de Scofield em 1909.5
Cerca dos anos cinquenta do século XX em diante, é possível ver várias divisões do sistema, e
que hoje são conhecidas como: clássico, dispensacionalismo progressivo e
ultradispensacionalismo.6
Abordaremos o sistema nos seus aspetos gerais, exceto indicação.
I. PRINCIPAIS DOUTRINAS
Iremos centrar o nosso estudo nas principais doutrinas relacionadas com a Escatologia. Assim
começaremos por analisar o método de interpretação literal das Escrituras. Na época do
despontar deste sistema, surgiu a alta crítica, levando a interpretação da Bíblia para o racional
1
ERICKSON, Millard, p. 133.
2
RYRIE, Charles, p. 15 – Tradução livre.
3
Idem, p. 18. – Tradução livre.
4
OLSON, Lawrence, pp. 25, 27. Podemos acrescentar que o número de dispensações (as divisões dentro dos
séculos) é variável, mas tanto os seus defensores como os críticos, reconhecem que isso não é fundamental ao
sistema.
5
SANTOS, João, p. 1.
6
Descartaremos o ultradispensacionalismo do nosso estudo, visto ser um método radical deste sistema que tem
recebido inúmeras críticas, inclusive dos outros métodos dispensacionalistas.
2
– se um evento fosse naturalmente impossível de acontecer, não poderia, de facto, ter
acontecido.7
Por esta razão, o dispensacionalista busca uma interpretação o mais literal possível.
Apesar dessa literalidade, a sua hermenêutica não descarta as figuras de linguagem, símbolos
ou tipos.8
Para Ramm o uso favorável deste método deve-se ao facto de que “a maior parte da
Bíblia tem sentido satisfatório se interpretada literalmente” e “esse método é o único freio sadio
e seguro para a imaginação do homem.”9
Ryrie salienta ainda a evidência interna da Bíblia, que
por exemplo, o cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento, foram
cumpridas todas literalmente em Cristo, no Novo Testamento.10
Outra importante doutrina é a clara distinção entre Israel e Igreja. O estudo da igreja “é a pedra
de toque do dispensacionalismo.”11
Uma das grandes destrinças entre os dois grupos, é a
inclusão de judeus e gentios na igreja, algo que é exclusivo a esta.12
Também, o Novo
Testamento apresenta uma clara diferenciação entre os dois grupos. Por isso, os gentios passam
a ser diferenciados de Israel (nação), com o estabelecimento da igreja no Pentecostes (At 3.12;
4.8, 10; 5.21, 1Co 10.32, etc.).13
Outra diferença é a existência de uma nova aliança profetizada
no Antigo Testamento (Is 24.5; 61.8; Jr 31.36, 40; 32.40; 50.5). Ela foi estabelecida com o
Israel físico, sendo o seu cumprimento escatológico, isto é, para o milénio, dando um caráter
fortemente judaico a este.14
Vemos aqui o grande propósito do milénio – cumprir as profecias
terrenas de Israel. Ainda, “o termo Israel não é usado nenhuma vez nas Escrituras para nenhum
outro grupo que não os descendentes físicos de Abraão,”15
logo, deve-se interpretar o termo de
modo literal e não espiritualiza-lo. Contudo, a igreja pode usufruir pela fé, das bênçãos
espirituais feitas a Abraão, não implicando submissão ou cumprimento à aliança.16
A ideia é
que Israel usufruirá das bênçãos na terra e a igreja no céu. Por último, este sistema afirma que
não existe previsão da igreja no Antigo Testamento17
, visto que o apóstolo Paulo a trata como
7
ERICKSON, Millard, p. 140.
8
RYRIE, Charles, p. 51.
9
ap. PENTECOST, Dwight, p. 38.
10
RYRIE, Charles, p. 52.
11
Idem, p. 77 – Tradução livre.
12
Idem, p. 77.
13
Idem, p. 79; ERICKSON, Millard, p. 142.
14
PENTECOST, Dwight, pp. 142-3, 152. Ainda, visto que a nova aliança tem promessas terrenas, a igreja nunca
pode ser o seu cumprimento pois “jamais recebe a promessa de herdar uma terra, bênçãos materiais na terra e
descanso da opressão (…).”
15
Idem, p. 152.
16
Idem, p. 152.
17
ERICKSON, Millard, p. 145; PENTECOST, Dwight, p. 217.
3
um mistério (Ef 3.3-69; Rm 16.25, 26; Cl 1.26);18
e, o início da igreja está inteiramente ligado
com a ressurreição de Jesus e a sua ascensão (Ef 1.20-23; 4.7-16). Também o batismo com o
Espírito Santo marca o início da igreja no Pentecostes, e é por ele que os crentes são
incorporados no corpo de Cristo (2Co 12.13). Por isso, entendem que o início da igreja não terá
ocorrido antes.19
Para os dispensacionalistas progressistas, esta separação não é tão rígida, mas
a igreja é um continuar da obra de Deus. Contudo, salientam um tratamento especial de Deus
para com Israel e o cumprimento literal das profecias para este. Isto acontece porque tentam
unificar o plano de Deus de modo gradual e progressivo.20
Finalmente, no que diz respeito à tribulação, o dispensacionalismo assume uma posição pré-
tribulacionista. Aqui, a profecia das 70 semanas (de anos) de Daniel é de particular importância,
visto ser um tempo específico para o povo judeu (Dn 9.24), e não para a igreja (que estava
oculta neste tempo, como referido anteriormente). Já se completaram as 69 semanas, restando
uma por cumprir – a semana da grande tribulação. Erickson lembra que a igreja “é um
‘parênteses’ que se encaixa, especialmente, entre a sexagésima nona semana e a septuagésima
semana de Daniel.”21
Pentecost remata a argumentação de que a igreja será arrebatada antes do
início da grande tribulação, do seguinte modo: “já que a igreja não faz parte das primeiras 69
semanas, que estão relacionadas apenas ao plano de Deus para com Israel, ela não pode fazer
parte da septuagésima semana, que está, mais uma vez, relacionada ao plano de Deus para
Israel, depois que o mistério do plano de Deus para a igreja for concluído.”22
II. ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS
Em primeiro lugar, os dispensacionalistas respondem à necessidade das diferenças bíblicas.
Existem várias diferenças básicas ao interpretar a Bíblia, como judaísmo e cristianismo (ainda
que tenham elementos comuns, são diferentes) ou mesmo, Antigo e Novo Testamentos, de
modo mais geral. A estrutura dispensacionalista dá-nos resposta a essas diferenças, não como
“fases na revelação do pacto da graça, mas são diferenças marcadas pela administração de Deus
ao dirigir os assuntos do mundo.”23
Também é de salientar a necessidade de uma filosofia da
história, pois eles “procuram apresentar a verdadeira filosofia da história contida nas
Escrituras.”24
Para isso, destacam o progresso da revelação, o princípio unificador do
18
OLSON, Lawrence, p. 132.
19
RYRIE, Charles, p. 79; PENTECOST, Dwight, pp. 219-20.
20
ERICKSON, Millard, pp. 147-150.
21
Idem, p. 145.
22
PENTECOST, Dwight, p. 220.
23
RYRIE, Charles, p. 9 – Tradução livre.
24
Idem, p. 10 – Tradução livre.
4
testemunho bíblico e a consumação final da história. Por último, promove uma hermenêutica
consistente através do método literal de interpretar a Bíblia Sagrada. Desta forma, este sistema
“(…) busca ser bíblico de forma genuína e completa (…) e demonstram um conhecimento
profundo do conteúdo da Bíblia.”25
Por outro lado, no dispensacionalismo também há argumentos/ aspetos desfavoráveis. Um dos
pontos mais débeis deste sistema é a sua inconsistência na revelação progressiva. Conforme
Erickson salienta, “após a inserção de algumas dispensações, o plano de Deus exige uma
inversão de seus tratos com Israel.”26
Portanto, pressupõe que muitas das sombras que o Antigo
Testamento apresenta não foram reveladas na figura de Cristo, conforme Hebreus nos relata,
dando término ao Antigo Testamento. “(…) É essencial reconhecer que o que é feito conhecido
no Antigo Testamento era típico do que é exposto no Novo e, portanto, os termos usados no
anterior são estritamente aplicados no último.”27
A. W. Pink salienta este princípio do tipo e
antítipo como um dos argumentos a favor da unidade das Escrituras28
, que os
dispensacionalistas progressivos tentaram alcançar, mas sem total clareza e coerência.
Em segundo lugar, a separação rígida entre Israel e a Igreja parece ficar em causa com
inúmeros textos. João Santos afirma mesmo que esta é a principal doutrina deste sistema e, que
se conseguirmos mostrar que eles não se contrapõe, mas que estão relacionados, “todo o sistema
cairá de uma só vez.”29
Textos como Romanos 9-11 e Gálatas 3 são descartados pelos
dispensacionalistas, pois dão-nos a ideia de que Paulo equipara legitimamente a igreja com
Israel, no que diz respeito a herdar as bênçãos feitas ao povo judeu.30
Pink afirma ainda que
“não apenas as profecias concernentes ao Messias foram cumpridas, mas a promessa quanto à
semente de Abraão estava a ser levada a cabo com sucesso.”31
Contudo, parece que Deus terá
um tempo futuro em que agirá favoravelmente para que judeus se convertam em grande escala,
através da inclusão destes na igreja e não com um plano à parte, como o retomar do
relacionamento do Antigo Testamento.32
25
ERICKSON, Millard, p. 151.
26
Idem, p. 151.
27
PINK, A. W, p. 10.
28
Idem, p. 11.
29
SANTOS, João, p. 19. Outros críticos apoiam este argumento FERREIRA, Franklin, & MYATT, Alan, p.
1153.
30
ERICKSON, Millard, p. 152. Outros texto como Ef. 2.11-21; Gl 4.1-7; 6.16; Ap 21.12, 14; Hb 11.39-40 cf.
12.22-24; Mt 21.43; Jo 10.16 são usados pelos críticos para contra-argumentar a posição dispensacionalista.
31
PINK, A. W, p. 26. Não implica a totalidade de conversão de cada homem, mas a nação como um todo.
32
ERICKSON, Millard, p. 152.
5
Finalmente, a tipologia deste sistema requer ainda um grande aperfeiçoamento. Na verdade,
muitas vezes o que eles alegam ser um tipo de, acaba por cair na alegorização dos textos
bíblicos, espiritualizando o que não deviam.33
CONCLUSÃO
Após o estudo do dispensacionalismo, várias questões são suscitadas e que levantam inúmeras
incoerências neste sistema. Eis algumas delas:
Se um judeu se converter a Jesus, que bênçãos futuras usufruirá? Celestial com a Igreja ou
terrena com a nação de Israel? Se terrena, que significado tem o sacrífico de Jesus Cristo? Se
celestial, então faz sentido tal distinção tão rígida? Deus tem dois povos eleitos em vez de um,
como a maioria dos textos bíblicos aludem?
Se Israel fracassou e por isso está temporariamente à margem, como explicar o início da igreja
por judeus e não por gentios?
Se só as profecias messiânicas é que foram cumpridas literalmente, e as profecias terrenas serão
cumpridas no milénio, como fica a profecia acerca da formação do estado da nação israelita
inesperadamente (Is 66.8)? A história moderna não nos indica isso em 14 Maio de 1948?
Como afirmam que a interpretação literal da Bíblia é o único meio para travar a criatividade
imaginativa do homem, não espiritualizando as Escrituras, e são os seus defensores que mais
“asas” dão à imaginação, espiritualizando e alegorizando os textos bíblicos?
Mesmo com muitas destas incoerências, concluímos que o dispensacionalismo tem a sua
utilidade na vida da igreja, ajudando a estudar a Bíblia de forma sistemática, e proporcionar um
melhor entendimento geral da mesma. Contudo, é um sistema “complexo e detalhado nas suas
explicações dos símbolos e profecias sobre os tempos do fim.”34
Isso leva muitos crentes a
acreditarem na vinda de Jesus mais pelos “sinais” e não pela simples afirmação bíblica de que
Ele certamente voltará. Essa expectação de conciliar eventos mundiais e profecias bíblicas,
levou muitos a especularem datas para a Vinda de Jesus. Outra influência nos crentes é a ideia
que se pode apressar a vinda de Cristo através da evangelização. Tal ideia deve-se à
interpretação de 2Pe 3.11-12.35
Assim, há demasiadas incoerências para que o possamos adotar.
33
Ex.: alegorizam todo o contexto de Ester; o encontro entre Isaque e Rebeca, assim como Cantares de Salomão,
representam a relação entre Cristo e a Igreja; espiritualização de todos os detalhes do tabernáculo; etc.
34
FERREIRA, Franklin, & MYATT, Alan, p. 1152.
35
Idem, p. 1155.
6
BIBLIOGRAFIA
ERICKSON, Millard J. (2010). Escatologia: a polémica em torno do milénio (2ª rev. amp.
ed.). (G. Chown, & M. P. MEDEIROS, Trads.) São Paulo: Vida Nova.
FERREIRA, Franklin, & MYATT, Alan (2007). Teologia sistemática: uma análise histórica,
bíblica e apologética para o contexto atual (1ª ed.). São Paulo: Vida Nova.
OLSON, N. Lawrence (2002). O Plano Divino Através dos Séculos: As dispensações que Deus
estabeleceu para Israel, à Igreja e para o mundo (25ª ed.). Rio de Janeiro: CPAD.
PENTECOST, J. Dwight (2006). Manual de Escatologia: Uma análise dos eventos futuros (1ª
ed.). (C. O. Pinto, Trad.) São Paulo: Editora Vida.
PINK, A. W. (21 de 12 de 2011). Uma Refutação Bíblica ao Dispensacionalismo. (Vanderson
M. da Silva, Trad..) Obtido de Monergismo.com:
http://www.monergismo.com/textos/livros/Refutacao-Dispensacionalismo_Pink.pdf
RYRIE, Charles C. (1974). Dispensacionalismo, Hoy. (E. L. Carballosa, Trad.) Barcelona:
Publicaciones Portavoz Evangélico.
SANTOS, João A. (s.d.). O Dispensacionalismo e suas implicações doutrinárias. Obtido de
Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil:
http://ipcb.org.br/site/images/pdfs/publicacoes/Dispensacionalismo.pdf

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  • 1. DISPENSACIONALISMO Por Abel Saraiva Monografia apresentada em cumprimento Às exigências da disciplina TES326 Escatologia MEIBAD Fanhões 2015
  • 2. ÍNDICE INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 1 I. PRINCIPAIS DOUTRINAS .................................................................................................. 1 II. ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS ................................................... 3 CONCLUSÃO........................................................................................................................... 5 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 6
  • 3. 1 INTRODUÇÃO Millard Erickson define o dispensacionalismo como um “sistema teológico e hermenêutico”1 , visto que as suas doutrinas estão fortemente relacionadas com o seu modo de interpretação. Todo o dispensacionalista é pré-milenista, mas nem todo o pré-milenista é dispensacionalista. O nome deste sistema surge da palavra dispensação. Etimologicamente, Charles Ryrie informa- -nos que o termo vem do latim e significa “pesar ou dispensar”, relacionando três ideias: 1) “a ação de distribuir”; 2) “a ação de administrar, ordenar ou supervisionar; o sistema pelo qual as coisas são administradas” e 3) “a ação de dispensar com algum requisito.”2 Assim, “o dispensacionalismo contempla o mundo como uma casa administrada por Deus. Nesta casa cósmica, Deus está a distribuir a administração dos Seus assuntos conforme a Sua própria vontade e em várias etapas da revelação no processo do tempo.”3 O dispensacionalismo divide o tempo em longos períodos sendo que, a 2ª Vinda de Cristo e a Tribulação, fazem parte do século presente e o Milénio dá início ao século vindouro.4 Como sistema interpretativo, começou a ser desenvolvido por John Nelson Darby (1800-1882), ao surgir como resposta à teologia liberal que se estava a levantar na Igreja de Inglaterra. Darby acabou por romper a sua ligação à Igreja de Inglaterra, envolvendo-se com o Movimento dos Irmãos (de Plymouth). Contudo, só no início do século XX é que o sistema foi plenamente estabelecido por C. I. Scofield (1843-1921) e fortemente difundido pela Bíblia de Referência de Scofield em 1909.5 Cerca dos anos cinquenta do século XX em diante, é possível ver várias divisões do sistema, e que hoje são conhecidas como: clássico, dispensacionalismo progressivo e ultradispensacionalismo.6 Abordaremos o sistema nos seus aspetos gerais, exceto indicação. I. PRINCIPAIS DOUTRINAS Iremos centrar o nosso estudo nas principais doutrinas relacionadas com a Escatologia. Assim começaremos por analisar o método de interpretação literal das Escrituras. Na época do despontar deste sistema, surgiu a alta crítica, levando a interpretação da Bíblia para o racional 1 ERICKSON, Millard, p. 133. 2 RYRIE, Charles, p. 15 – Tradução livre. 3 Idem, p. 18. – Tradução livre. 4 OLSON, Lawrence, pp. 25, 27. Podemos acrescentar que o número de dispensações (as divisões dentro dos séculos) é variável, mas tanto os seus defensores como os críticos, reconhecem que isso não é fundamental ao sistema. 5 SANTOS, João, p. 1. 6 Descartaremos o ultradispensacionalismo do nosso estudo, visto ser um método radical deste sistema que tem recebido inúmeras críticas, inclusive dos outros métodos dispensacionalistas.
  • 4. 2 – se um evento fosse naturalmente impossível de acontecer, não poderia, de facto, ter acontecido.7 Por esta razão, o dispensacionalista busca uma interpretação o mais literal possível. Apesar dessa literalidade, a sua hermenêutica não descarta as figuras de linguagem, símbolos ou tipos.8 Para Ramm o uso favorável deste método deve-se ao facto de que “a maior parte da Bíblia tem sentido satisfatório se interpretada literalmente” e “esse método é o único freio sadio e seguro para a imaginação do homem.”9 Ryrie salienta ainda a evidência interna da Bíblia, que por exemplo, o cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento, foram cumpridas todas literalmente em Cristo, no Novo Testamento.10 Outra importante doutrina é a clara distinção entre Israel e Igreja. O estudo da igreja “é a pedra de toque do dispensacionalismo.”11 Uma das grandes destrinças entre os dois grupos, é a inclusão de judeus e gentios na igreja, algo que é exclusivo a esta.12 Também, o Novo Testamento apresenta uma clara diferenciação entre os dois grupos. Por isso, os gentios passam a ser diferenciados de Israel (nação), com o estabelecimento da igreja no Pentecostes (At 3.12; 4.8, 10; 5.21, 1Co 10.32, etc.).13 Outra diferença é a existência de uma nova aliança profetizada no Antigo Testamento (Is 24.5; 61.8; Jr 31.36, 40; 32.40; 50.5). Ela foi estabelecida com o Israel físico, sendo o seu cumprimento escatológico, isto é, para o milénio, dando um caráter fortemente judaico a este.14 Vemos aqui o grande propósito do milénio – cumprir as profecias terrenas de Israel. Ainda, “o termo Israel não é usado nenhuma vez nas Escrituras para nenhum outro grupo que não os descendentes físicos de Abraão,”15 logo, deve-se interpretar o termo de modo literal e não espiritualiza-lo. Contudo, a igreja pode usufruir pela fé, das bênçãos espirituais feitas a Abraão, não implicando submissão ou cumprimento à aliança.16 A ideia é que Israel usufruirá das bênçãos na terra e a igreja no céu. Por último, este sistema afirma que não existe previsão da igreja no Antigo Testamento17 , visto que o apóstolo Paulo a trata como 7 ERICKSON, Millard, p. 140. 8 RYRIE, Charles, p. 51. 9 ap. PENTECOST, Dwight, p. 38. 10 RYRIE, Charles, p. 52. 11 Idem, p. 77 – Tradução livre. 12 Idem, p. 77. 13 Idem, p. 79; ERICKSON, Millard, p. 142. 14 PENTECOST, Dwight, pp. 142-3, 152. Ainda, visto que a nova aliança tem promessas terrenas, a igreja nunca pode ser o seu cumprimento pois “jamais recebe a promessa de herdar uma terra, bênçãos materiais na terra e descanso da opressão (…).” 15 Idem, p. 152. 16 Idem, p. 152. 17 ERICKSON, Millard, p. 145; PENTECOST, Dwight, p. 217.
  • 5. 3 um mistério (Ef 3.3-69; Rm 16.25, 26; Cl 1.26);18 e, o início da igreja está inteiramente ligado com a ressurreição de Jesus e a sua ascensão (Ef 1.20-23; 4.7-16). Também o batismo com o Espírito Santo marca o início da igreja no Pentecostes, e é por ele que os crentes são incorporados no corpo de Cristo (2Co 12.13). Por isso, entendem que o início da igreja não terá ocorrido antes.19 Para os dispensacionalistas progressistas, esta separação não é tão rígida, mas a igreja é um continuar da obra de Deus. Contudo, salientam um tratamento especial de Deus para com Israel e o cumprimento literal das profecias para este. Isto acontece porque tentam unificar o plano de Deus de modo gradual e progressivo.20 Finalmente, no que diz respeito à tribulação, o dispensacionalismo assume uma posição pré- tribulacionista. Aqui, a profecia das 70 semanas (de anos) de Daniel é de particular importância, visto ser um tempo específico para o povo judeu (Dn 9.24), e não para a igreja (que estava oculta neste tempo, como referido anteriormente). Já se completaram as 69 semanas, restando uma por cumprir – a semana da grande tribulação. Erickson lembra que a igreja “é um ‘parênteses’ que se encaixa, especialmente, entre a sexagésima nona semana e a septuagésima semana de Daniel.”21 Pentecost remata a argumentação de que a igreja será arrebatada antes do início da grande tribulação, do seguinte modo: “já que a igreja não faz parte das primeiras 69 semanas, que estão relacionadas apenas ao plano de Deus para com Israel, ela não pode fazer parte da septuagésima semana, que está, mais uma vez, relacionada ao plano de Deus para Israel, depois que o mistério do plano de Deus para a igreja for concluído.”22 II. ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS Em primeiro lugar, os dispensacionalistas respondem à necessidade das diferenças bíblicas. Existem várias diferenças básicas ao interpretar a Bíblia, como judaísmo e cristianismo (ainda que tenham elementos comuns, são diferentes) ou mesmo, Antigo e Novo Testamentos, de modo mais geral. A estrutura dispensacionalista dá-nos resposta a essas diferenças, não como “fases na revelação do pacto da graça, mas são diferenças marcadas pela administração de Deus ao dirigir os assuntos do mundo.”23 Também é de salientar a necessidade de uma filosofia da história, pois eles “procuram apresentar a verdadeira filosofia da história contida nas Escrituras.”24 Para isso, destacam o progresso da revelação, o princípio unificador do 18 OLSON, Lawrence, p. 132. 19 RYRIE, Charles, p. 79; PENTECOST, Dwight, pp. 219-20. 20 ERICKSON, Millard, pp. 147-150. 21 Idem, p. 145. 22 PENTECOST, Dwight, p. 220. 23 RYRIE, Charles, p. 9 – Tradução livre. 24 Idem, p. 10 – Tradução livre.
  • 6. 4 testemunho bíblico e a consumação final da história. Por último, promove uma hermenêutica consistente através do método literal de interpretar a Bíblia Sagrada. Desta forma, este sistema “(…) busca ser bíblico de forma genuína e completa (…) e demonstram um conhecimento profundo do conteúdo da Bíblia.”25 Por outro lado, no dispensacionalismo também há argumentos/ aspetos desfavoráveis. Um dos pontos mais débeis deste sistema é a sua inconsistência na revelação progressiva. Conforme Erickson salienta, “após a inserção de algumas dispensações, o plano de Deus exige uma inversão de seus tratos com Israel.”26 Portanto, pressupõe que muitas das sombras que o Antigo Testamento apresenta não foram reveladas na figura de Cristo, conforme Hebreus nos relata, dando término ao Antigo Testamento. “(…) É essencial reconhecer que o que é feito conhecido no Antigo Testamento era típico do que é exposto no Novo e, portanto, os termos usados no anterior são estritamente aplicados no último.”27 A. W. Pink salienta este princípio do tipo e antítipo como um dos argumentos a favor da unidade das Escrituras28 , que os dispensacionalistas progressivos tentaram alcançar, mas sem total clareza e coerência. Em segundo lugar, a separação rígida entre Israel e a Igreja parece ficar em causa com inúmeros textos. João Santos afirma mesmo que esta é a principal doutrina deste sistema e, que se conseguirmos mostrar que eles não se contrapõe, mas que estão relacionados, “todo o sistema cairá de uma só vez.”29 Textos como Romanos 9-11 e Gálatas 3 são descartados pelos dispensacionalistas, pois dão-nos a ideia de que Paulo equipara legitimamente a igreja com Israel, no que diz respeito a herdar as bênçãos feitas ao povo judeu.30 Pink afirma ainda que “não apenas as profecias concernentes ao Messias foram cumpridas, mas a promessa quanto à semente de Abraão estava a ser levada a cabo com sucesso.”31 Contudo, parece que Deus terá um tempo futuro em que agirá favoravelmente para que judeus se convertam em grande escala, através da inclusão destes na igreja e não com um plano à parte, como o retomar do relacionamento do Antigo Testamento.32 25 ERICKSON, Millard, p. 151. 26 Idem, p. 151. 27 PINK, A. W, p. 10. 28 Idem, p. 11. 29 SANTOS, João, p. 19. Outros críticos apoiam este argumento FERREIRA, Franklin, & MYATT, Alan, p. 1153. 30 ERICKSON, Millard, p. 152. Outros texto como Ef. 2.11-21; Gl 4.1-7; 6.16; Ap 21.12, 14; Hb 11.39-40 cf. 12.22-24; Mt 21.43; Jo 10.16 são usados pelos críticos para contra-argumentar a posição dispensacionalista. 31 PINK, A. W, p. 26. Não implica a totalidade de conversão de cada homem, mas a nação como um todo. 32 ERICKSON, Millard, p. 152.
  • 7. 5 Finalmente, a tipologia deste sistema requer ainda um grande aperfeiçoamento. Na verdade, muitas vezes o que eles alegam ser um tipo de, acaba por cair na alegorização dos textos bíblicos, espiritualizando o que não deviam.33 CONCLUSÃO Após o estudo do dispensacionalismo, várias questões são suscitadas e que levantam inúmeras incoerências neste sistema. Eis algumas delas: Se um judeu se converter a Jesus, que bênçãos futuras usufruirá? Celestial com a Igreja ou terrena com a nação de Israel? Se terrena, que significado tem o sacrífico de Jesus Cristo? Se celestial, então faz sentido tal distinção tão rígida? Deus tem dois povos eleitos em vez de um, como a maioria dos textos bíblicos aludem? Se Israel fracassou e por isso está temporariamente à margem, como explicar o início da igreja por judeus e não por gentios? Se só as profecias messiânicas é que foram cumpridas literalmente, e as profecias terrenas serão cumpridas no milénio, como fica a profecia acerca da formação do estado da nação israelita inesperadamente (Is 66.8)? A história moderna não nos indica isso em 14 Maio de 1948? Como afirmam que a interpretação literal da Bíblia é o único meio para travar a criatividade imaginativa do homem, não espiritualizando as Escrituras, e são os seus defensores que mais “asas” dão à imaginação, espiritualizando e alegorizando os textos bíblicos? Mesmo com muitas destas incoerências, concluímos que o dispensacionalismo tem a sua utilidade na vida da igreja, ajudando a estudar a Bíblia de forma sistemática, e proporcionar um melhor entendimento geral da mesma. Contudo, é um sistema “complexo e detalhado nas suas explicações dos símbolos e profecias sobre os tempos do fim.”34 Isso leva muitos crentes a acreditarem na vinda de Jesus mais pelos “sinais” e não pela simples afirmação bíblica de que Ele certamente voltará. Essa expectação de conciliar eventos mundiais e profecias bíblicas, levou muitos a especularem datas para a Vinda de Jesus. Outra influência nos crentes é a ideia que se pode apressar a vinda de Cristo através da evangelização. Tal ideia deve-se à interpretação de 2Pe 3.11-12.35 Assim, há demasiadas incoerências para que o possamos adotar. 33 Ex.: alegorizam todo o contexto de Ester; o encontro entre Isaque e Rebeca, assim como Cantares de Salomão, representam a relação entre Cristo e a Igreja; espiritualização de todos os detalhes do tabernáculo; etc. 34 FERREIRA, Franklin, & MYATT, Alan, p. 1152. 35 Idem, p. 1155.
  • 8. 6 BIBLIOGRAFIA ERICKSON, Millard J. (2010). Escatologia: a polémica em torno do milénio (2ª rev. amp. ed.). (G. Chown, & M. P. MEDEIROS, Trads.) São Paulo: Vida Nova. FERREIRA, Franklin, & MYATT, Alan (2007). Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual (1ª ed.). São Paulo: Vida Nova. OLSON, N. Lawrence (2002). O Plano Divino Através dos Séculos: As dispensações que Deus estabeleceu para Israel, à Igreja e para o mundo (25ª ed.). Rio de Janeiro: CPAD. PENTECOST, J. Dwight (2006). Manual de Escatologia: Uma análise dos eventos futuros (1ª ed.). (C. O. Pinto, Trad.) São Paulo: Editora Vida. PINK, A. W. (21 de 12 de 2011). Uma Refutação Bíblica ao Dispensacionalismo. (Vanderson M. da Silva, Trad..) Obtido de Monergismo.com: http://www.monergismo.com/textos/livros/Refutacao-Dispensacionalismo_Pink.pdf RYRIE, Charles C. (1974). Dispensacionalismo, Hoy. (E. L. Carballosa, Trad.) Barcelona: Publicaciones Portavoz Evangélico. SANTOS, João A. (s.d.). O Dispensacionalismo e suas implicações doutrinárias. Obtido de Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil: http://ipcb.org.br/site/images/pdfs/publicacoes/Dispensacionalismo.pdf