Design autogestionário é aquele praticado por coletivos que adotam os princípios de autogestão, tais como a horizontalidade, a tomada de decisão coletiva, a divisão do trabalho em grupos não-hierárquicos e a rotatividade de tarefas. A característica principal do design autogestionário é que ele não é necessariamente feito por designers profissionais, o que não significa que as ideias desenvolvidas sejam ruins. As ideias são criadas coletivamente e ninguém se sente autor dela individualmente, por isso, não se atribui a designers profissionais. Designers podem participar da autogestão desde que adotem uma abordagem de design participativo.
2. O que é autogestão hoje
•Capacidade de um
indivíduo ou de um
coletivo de gerir suas
atividades de maneira
sustentável sem a
necessidade de um gestor
ou chefe
•Participação nos lucros e
em decisões estratégicas
3. O que poderia ser autogestão
•Uma maneira de organizar
a produção da sociedade à
partir dos desejos que as
pessoas sentem no seu
cotidiano
•Como os desejos são
diversos, é preciso que
hajam diversos pequenos
coletivos autônomos
capazes de realizá-los
5. Autogestão solidária brasileira
•Rodízio de tarefas: todo
mundo faz tudo
•Divisão em grupos de
trabalho (GTs) sem
hierarquia entre si
•Tomadas de decisões
cruciais só em assembléia
•Discussões longas mas
com encaminhamentos
8. A criatividade das identidades visuais esconde a
heterogestão centralizada da produção de alimentos.
9. Design é uma competência estratégica para convencer as
pessoas da necessidade da heterogestão.
10. Design heterogestionário
•Feito por designers
•Designers trabalhando como gestores ou como
conselheiros de gestores
•Designers utilizando seu conhecimento de
especialista para dizer aos outros o que fazer
•Designers como gênios criativos ou como
gestores capazes de reconhecer a criatividade
dos outros
11. É possível um design
autogestionário? Sim, ele já
existe, mas não se parece em
nada com o design
heterogestionário.
12. Design autogestionário
•Feito por usigners (usuários-designers), ou
designers amadores
•Usigners trabalham para projetar aquilo que sua
comunidade precisa com o que têm à mão
•As ideias são criadas coletivamente e ninguém se
sente autor individualmente
•Compartilha-se aprendizagens constantemente
15. Foco na descrição do produto, escolha de produto local,
uso de dialeto, não usa selos próprios (Classic, Premium)
16. Características visuais do design
autogestionário
•Enfatiza a origem do produto como diferencial
•Distingue-se das grandes corporações pelo:
•Alto contraste entre cores
•Formas complexas sobre fundos simples
•Descrição do produto em destaque
•Referências a produtos caseiros e coloniais
27. Embora existam muitos
problemas de primeira e segunda
ordem, coletivos autogestionários
enfrentam muitos problemas de
terceira ordem (interações).
28. O cirandas.NET foi uma tentativa de fazer uma rede social
autogestionária, mas está parado por falta de recursos.
29. A grande maioria dos empreendimentos solidários hoje
depende de serviços digitais gratuitos para se autogerir.
30. Problemas de interação
•Plataformas privadas para coisas públicas
•Vigilância sem accountability
•Mecanismos de bloqueio e incompatibilidade
•Interfaces que facilitam interações efêmeras e
dificultam interações de longo prazo
31. Problemas de interação
•O crescimento orgânico (gratuito) é sempre mais
devagar do que o crescimento pago (anúncios)
•Os coletivos precisam cada vez mais investir na
produção de dados de qualidade para chamar a
atenção de potenciais usuários
•Reprodução de valores antitéticos com a
autogestão: culto ao indivíduo, ostentação,
comodificação, hierarquia, etc…
32. O design autogestionário precisa
estar consciente sobre os vieses do
colonialismo digital e do
capitalismo de plataforma.
33. Colonialismo Digital
•Países subdesenvolvidos
dependem de
infraestrutura estrangeira
para realizar as mais
básicas operações
•Infraestruturas extraem
dados nas colônias que
são usados para gerar
informações valiosas nas
metrópoles
34. Capitalismo de Plataforma
•Plataformas da GAFAM se
sustentam pela extração,
refinamento e uso de
dados dos trabalhadores
(“o novo petróleo”)
•A gestão heterogestionária
é tão estranha ao
trabalhador que ele não se
vê como trabalhador, mas
somente como usuário
35. Além disso, é preciso estar
consciente das alternativas.
36. Software Livre
•Software que oferece a
liberdade de utilizar para
quaisquer fins, modificar o
código fonte para atender
demandas específicas e
distribuir cópias para
quem precisa
•Pode ser instalado e
configurado em
computadores nacionais
37. Cooperativismo de Plataforma
•Se o capitalismo pode, o o
cooperativismo também
pode criar plataformas de
compartilhamento de bens
e venda de serviços
•A diferença é que são
geridas pelos próprios
trabalhadores e baseadas
em software livre
38. Como aplicar as ideias do
software livre e do
cooperativismo de plataforma
no design autogestionário?
39. No Instituto Faber-Ludens (2007-2012) desenvolvemos uma
visão crítica sobre design de interação a partir do software
livre.
40. Como ainda não existia a profissão de design de interação
no Brasil, nós tínhamos que disseminar conhecimento
livremente em nosso website.
41. Além do website, nós tínhamos uma ecologia de mídias
abertas à participação externa.
42. Nós não tínhamos programadores na equipe, então
dependíamos de software livre para fazer essas mídias.
43. Influenciados pela filosofia do software livre,
percebemos que a relação do design com a tecnologia
estava limitada a pintar caixas pretas.
44. Enquanto refletíamos sobre isso, surgia o movimento de
Open Design associado aos Fab Labs nos EUA e Europa.
45. Nós comemos o Open
Design
E transformamos em
Design Livre
Antropofagia
46. Design Livre: abrir a caixa preta para que outras pessoas
participem e continuem o processo de design.
47. Plataforma Corais
•Criada pelo Instituto Faber-Ludens em 2011 com
o objetivo de infraestruturar projetos livres
•Desenvolvida com o software livre Drupal 6.0 e
com vários outros que foram sendo plugados
•Transparência radical: todo o conteúdo dos
projetos é acessível pela web sem login
•Licença Creative Commons obrigatória para todos
os conteúdos
48. Cada projeto na Plataforma Corais tinha à sua disposição
diversas ferramentas colaborativas.
49. A Corais não formaliza laços fracos através de adicionar
amigos, mas sim laços fortes através da participação
efetiva em projetos colaborativos compartilhados.
50. A Corais consolidou a estratégia de Inovação Aberta do
Instituto Faber-Ludens (Pelanda, 2019).
51. A Plataforma Corais é um projeto biomimético inspirado
nas relações ecológicas dos recifes de corais.
52. Estruturas de um projeto morto (UXCards, 2010) serviram
para vários outros projetos (Copel+ Cards, 2018).
53. Escrevemos com auxílio da Plataforma Corais o livro Design
Livre em uma semana usando o método Book Sprint.
54. O livro foi publicado em 2012, baixado 7000 vezes e
traduzido ao Espanhol (www.designlivre.org).
55. Um dos conceitos principais do livro é o plano livre, que
transforma fins em novos começos.
56. "…não há fim para o plano livre.
O plano é continuar sempre, sem
objetivos definidos. Ao invés de
fins, o resultado de um plano livre
são vários começos, vários outros
planos que surgem a partir deste.”
(Faber-Ludens, 2012)
57. A estratégia de Inovação Aberta não deu certo. Porém, os
coletivos autogestionários ligados ao movimento de Cultura
Digital brasileiro ocuparam a Plataforma Corais desde 2012.
58. Esses coletivos haviam se formado em torno dos Pontos de
Cultura (programa Cultura Viva), usando software livre,
licenciando seus conteúdos com Creative Commons e
valorizando manifestações da cultura popular.
59. Esse movimento passava por um momento difícil em 2012
devido aos cortes no programa Cultura Viva e a virada do
Ministério da Cultura para a cobrança de direitos autorais
(ECAD) e apoio aos “grandes" artistas.
60. Necessidades dos coletivos de
produção cultural
•Ferramentas colaborativas baseadas em software
livre
•Plataforma nacional com enraizamento na cultura
brasileira
•Design de interação favorável à autogestão
•Licenciamento de conteúdos em Creative
Commons
•Transparência de dados
61. Na Corais, cada coletivo podia criar diversos projetos
colaborativos e escolher que ferramentas compartilhar.
62. Após instalar uma ferramenta de bate-papo em 2012, um
dos usuários mais ativos da plataforma perguntou se era
possível fazer mudanças no módulo de planilhas.
63. Os coletivos que Pedro Jatobá fazia parte já eram
autogeridos e queriam experimentar organizar um circuito
de Economia Solidária com ferramentas digitais.
64. Juntos, nós criamos uma especificação para uma nova
ferramenta de moeda social no projeto Metadesign.
74. Problemas da Plataforma Corais
•A versão 6 do Drupal (Software Livre) está muito
desatualizada
•Não funciona bem em dispositivos móveis
•A velocidade de carregamento é lenta
•Competição difícil com Slack, Asana, Google
Drive, Basecamp
•Faltam recursos e voluntários
75. Serviço digital Rios oferecido desde 2017 pela Cooperativa
EITA para complementar a Plataforma Corais.
76. Problemas de ambas as
plataformas
•A esperança na autogestão está em baixa neste
momento. As pessoas acham que é melhor deixar
que alguém resolva seus problemas
•As redes sociais sugam projetos colaborativos e
matam eles no seu ninho, fazendo as pessoas
perderem ainda mais a esperança
•As pessoas estão acomodadas com softwares
proprietários pirateados ou plataformas gratuitas
extrativistas de dados
77. Os problemas de terceira
ordem apontam para
problemas de quarta ordem.
79. Design pode ser uma abordagem
para PROSPECTAR novas
relações em sistemas sociotécnicos.
Segundo o futuro Programa de Pós-Graduação em Design
Prospectivo da UTFPR…
80. Um sistema sociotécnico é formado por diversas coisas em relação.
Exemplo: o sistema de mobilidade urbana.
96. Referências principais
JATOBÁ, Pedro Henrique Gomes. Desenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem e gestão
colaborativa: casos de cultura solidária na economia criativa. 2014. http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/21715
DE SYLVIO, Helena Cantão. Design, Economia Solidária e Tecnologia Social: Introdução a Processos de Design
Emancipatório. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso - Curso de Bacharelado em Design, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2018.
ELEUTÉRIO, Rafaella P. and Van Amstel, Frederick M.C. Matters of Care in Designing a Feminist Coalition.
(2020). In: Proceedings of the 16th Participatory Design Conference. Manizales, Colombia. DOI: https://doi.org/
10.1145/3384772.3385157
HULYK, Luciane de Carvalho Hulyk. Design Participativo e Economia Solidária: o papel da designer em um
projeto editorial participativo. 2021. 75 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em Design Gráfico) -
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2021
SERPA, B. O. ; VAN AMSTEL, Frederick M.C. ; MAZZAROTTO, M. ; CARVALHO, R. A. P. ; GONZATTO, Rodrigo
Fresse ; SILVA, S. B. E. . Design como prática de liberdade: a rede Design & Opressão como um espaço de
reflexão crítica. In: Cristiano C. Cruz; John B. Kleba; Celso A. S. Alvear. (Org.). Engenharia e outras práticas
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GONZATTO, R.F., VAN AMSTEL, F.,and JATOBÁ, P.H.(2021) Redesigning money as a tool for self-management in
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ANGELON, Rafaela and Van Amstel, Frederick M.C. (2021) Monster aesthetics as an expression of decolonizing
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