O presente trabalho traz um levantamento sobre os fenômenos da convergência e da remediação no boletim eletrônico do site de notícias Nexo. O boletim eletrônico a_nexo é encaminhado diariamente via e-mail para seus assinantes.
A publicação apresenta matérias de autoria do próprio site Nexo, mas inclui uma quantidade relevante de matérias oriundas de outros portais de notícias. Grande parte destes portais pertencentes a jornais da mídia de massa, com atenção especial para a Folha de São Paulo e o Estadão
1. PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO DIGITAL
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA – PUC MINAS
ALUNO: RENATA PIRES DE MENDONÇA DANTAS
CONVERGÊNCIA E REMEDIAÇÃO NO CIBERJORNALISMO
Um estudo de caso sobre o boletim eletrônico a_nexo.
RESUMO:
O presente trabalho traz um levantamento
sobre os fenômenos da convergência e da
remediação no boletim eletrônico do site
de notícias Nexo. O boletim eletrônico
a_nexo é encaminhado diariamente via e-
mail para seus assinantes.
A publicação apresenta matérias de autoria
do próprio site Nexo, mas inclui uma
quantidade relevante de matérias oriundas
de outros portais de notícias. Grande parte
destes portais pertencentes a jornais da
mídia de massa, com atenção especial para
a Folha de São Paulo e o Estadão.
Este estudo pretende demonstrar como a
mídia de massa tem se enquadrado no
ciberjornalismo e como as antigas e as
novas mídias se interagem para a
sobrevivência de ambas.
PALAVRAS-CHAVE:
Ciberjornalismo; Convergência;
Remediação; Jornalismo Digital.
INTRODUÇÃO:
O avanço das novas tecnologias e a
adaptação da sociedade à cibercultura
modificou as formas de produção de
notícias e consequentemente a maneira de
distribuição e consumo por parte do
público.
De acordo com Bastos (2012) o
aparecimento da internet e a subsequente
emergência do ciberjornalismo
proporcionou ao jornalismo a exploração
de novos territórios e diferentes
linguagens.
Para o autor, ciberjornalistas diferem de
seus colegas de profissão porque utilizam
em seus trabalhos as características
particulares da internet, como a
multimídia, interatividade e o hipertexto.
A questão que se levantou com a mudança
no comportamento dos consumidores de
notícia foi a sobrevivência ou não dos
antigos meios de comunicação com uma
crescente parcela do mercado sendo
conquistada pelos novos meios.
2. Por questão de sobrevivência, os antigos
meios de comunicação se viram na
urgência de uma reestruturação. Essa
mudança foi necessária para que a grande
imprensa de massa pudesse atender a
demanda de um público adepto às novas
tecnologias da informação.
Alguns veículos demoraram um tempo
para perceber esta realidade, alguns não
resistiram e outros experimentam
atualmente novas formas de comunicação.
Para Primo (2010) e Jenkins (2008) as
novas tecnologias não irão acabar com as
antigas, mas sim farão uma interação.
Os autores acreditam que uma mídia
necessita da outra para a sobrevivência de
ambas.
Para Jenkins (2008) os velhos meios de
comunicação não estão sendo substituídos,
suas funções e status estão sendo
transformados pela produção de novas
tecnologias.
Já Primo (2010) defende a ideia da
necessidade que antigas e novas
tecnologias têm de se interagirem. “Não
apenas as novas mídias são devedoras dos
meios que os antecederam, mas estes
também transformam-se em virtude da
popularização daqueles.” (PRIMO, 2010:
p.23)
O autor afirmou que a interação entre
antigos e novos meios não é uma
exclusividade do momento atual.
Para ele, uma inter-relação entre os meios
de comunicação já havia sido identificada
por McLunhan, quando cita que o
conteúdo da televisão é devedor do cinema
e do teatro. “É como se os meios andassem
aos pares”. (PRIMO, 2010: p.22)
A interação entre o velho e o novo,
especialmente no campo do
ciberjornalismo, que é o objeto deste
estudo, pode ser explicada pelos
fenômenos da convergência e da
remediação.
Bolter (2001) explicou que remediação é
um processo de homenagem e rivalidade
entre tecnologias de comunicação, tendo
em vista que o novo meio incorpora
características de seus antecessores e
contribui para a atualização deles.
Já Jenkins (2008) afirma que na cultura da
convergência velhas e novas mídias
colidem, mídia corporativa e mídia
alternativa se cruzam, o poder do produtor
da mídia e o poder do consumidor
interagem de maneiras imprevisíveis.
Estes dois fenômenos são claramente
encontrados nas publicações do boletim
eletrônico a_nexo.
Notícias produzidas pelo site de notícias
Nexo, responsável pela publicação do
boletim, dividem espaço diariamente com
reportagens de grandes portais de notícias
pertencentes a antigos veículos de
comunicação que se remodelaram para este
3. novo momento, com especial destaque
para a Folha de São Paulo e o Estadão.
Jenkins (2008) afirma que a convergência
envolve uma transformação tanto na forma
de produzir quanto na forma de consumir
os meios de comunicação. “O que estamos
vendo hoje é o hardware divergindo,
enquanto o conteúdo converge”.
(JENKINS, 2008: p.42)
DISCUSSÃO: Um estudo de caso sobre
o boletim eletrônico a_nexo.
A forma de consumo de notícias e
consequentemente a sua produção e
distribuição sofreram relevantes mudanças
nos últimos anos com a facilidade de
acesso da população às novas tecnologias
da informação e à internet.
Kawanoto (2003) explicou que o
jornalismo digital é o uso de tecnologias
digitais para pesquisar, produzir e
distribuir (ou tornar acessível) notícias e
informações a uma audiência
crescentemente versada em computadores.
Os grandes veículos jornalísticos tiveram
de se adaptar a este novo momento por
questão de sobrevivência no mercado.
Para Bastos (2012) “entre outras
potencialidades, o hipertexto, o multimídia,
a interatividade, a ubiquidade e a
instantaneidade levaram os média
noticiosos a reconfigurar-se de modo a
responder às exigências do novo meio, às
tendências do momento e ao crescimento e
sofisticação das audiências online.”
(BASTOS, 2012: p. 01)
Alguns autores defendem a ideia de que as
novas mídias não substituirão as antigas
mídias, desde que estas se adaptem ao
novo momento, como já aconteceu em
outros tempos da história.
Jenkins (2008) afirmou que o conteúdo de
um meio pode mudar e seu status social
pode subir ou cair, mas se o meio tiver se
estabelecido ao satisfazer alguma demanda
humana essencial, ele continua a funcionar
dentro de um sistema maior de opções de
comunicação. “Palavras impressas não
eliminaram as palavras faladas. O cinema
não eliminou o teatro. A televisão não
eliminou o rádio. Cada antigo meio foi
forçado a conviver com os meios
emergentes.” (JENKINS, 2008: p. 39).
O autor explicou que as novas tecnologias
midiáticas permitiram que o mesmo
conteúdo fluísse por vários canais
diferentes.
Este sistema maior de opções de
comunicação foi absorvido por alguns
veículos noticiosos pelo que conhecemos
como convergência.
A Convergência, de acordo com Jenkins
(2008), “se refere ao fluxo de conteúdos
através de múltiplos suportes midiáticos e
ao comportamento migratório dos públicos
dos meios de comunicação, que vão a
quase qualquer parte em busca de
4. experiências de entretenimento que
desejam”. (JENKINS, 2008: p. 27)
O autor defende que a convergência é uma
transformação cultural. Para ele, os
consumidores são incentivados a procurar
novas informações e a fazer conexões em
meio a conteúdos diversos.
É exatamente este o trabalho realizado pelo
boletim eletrônico a_nexo, a conexão entre
conteúdos diversos.
Durante 10 edições analisadas nos dias 14,
17, 18, 21, 22, 23, 24, 25, 28 e 30 de
novembro de 2016, o a_nexo publicou 115
matérias sobre diversos temas. Politica,
economia, mundo, artes e saúde foram
algumas das editorias tratadas.
Das 115 matérias publicadas, 59 eram
provenientes de outros veículos de
comunicação, como mostramos na figura
nº1.
Destes veículos, 19 notícias foram
remanescentes do portal da Folha de São
Paulo e 11 do site do Estadão. Além destes
dois grandes veículos, o boletim também
apresentou, com certa frequência, matérias
oriundas do jornal O Globo. Jornais
internacionais também figuraram as
páginas do boletim, como o The Guardian
e o New York Times.
Para Jenkins (2008), se o paradigma da
revolução digital presumia que as novas
mídias substituiriam as antigas, o
emergente paradigma da convergência
presume que novas e antigas mídias irão se
interagir de formas cada vez mais
complexas.
Figura 1- Gráfico: quantidade de notícias x veículo.
O autor afirmou ainda que “líderes da
indústria midiática estão retomando a
convergência como uma forma de
encontrar sentido, num momento de
confusas transformações”. (JENKINS,
2008: p.31)
Para Pavlik (2001) não mais as notícias
estão constrangidas pelas limitações
técnicas dos médias tradicionais, seja
imprensa, televisão ou rádio. Em vez disso
todas as modalidades da comunicação
humana estão disponíveis para contar as
estórias da maneira mais interessante,
Notícias
Nexo - 56
Folha de São
Paulo - 19
Estadão- 11
O Globo - 8
The
Guardiam - 5
El País - 3
New York
Times - 2
Valor - 2
BBC - 2
Wired - 2
I M S - 1
G1 - 1
5. interativa, on-demand e personalizada
possível.
Esta é uma característica marcante do
a_nexo, as principais notícias do dia são
contadas pelo veículo que de forma mais
interessante as apresentou.
“Utilizando estas potencialidades, os
ciberjornalistas podem construir narrativas
utilizando as modalidades e formas de
comunicação que mais se adequarem a
cada estória em particular.” ( PAVLIK,
2001)
A convergência representa uma
oportunidade de expansão aos
conglomerados das mídias, já que o
conteúdo bem sucedido num setor pode se
espalhar por outros suportes, de acordo
com Jenkins (2008).
CONCLUSÃO:
A facilidade de acesso à internet e às novas
tecnologias de informação modificou a
estrutura organizacional de produção e
distribuição de notícias.
Porém, ao contrário do que alguns
previam, as novas mídias não acabaram
com os antigos meios de comunicação.
O que se observa atualmente é uma
crescente convergência entre as formas
comunicacionais utilizadas pelas antigas e
novas mídias.
Neste trabalho, analisamos o boletim
eletrônico do portal Nexo, o a_nexo, e
concluímos que na publicação são
utilizadas a remediação e a convergência
entre o portal alternativo de notícias Nexo
e grandes portais de massa, como o jornal
Folha de São Paulo e Estadão.
O ciberjornalismo praticado pelo a_nexo é
uma espécie de mapa de navegação de
notícias conforme definição de Hall
(2001), que afirmou que o este tipo de
jornalismo digital não se limita a
disponibilizar notícias e comentários na
internet, mas orienta os consumidores na
imensidão de informações online
provenientes de diversas fontes, de
agências governamentais a grupos
empresariais, fornecendo mapas de
navegação. (HALL, 2001: p.4).
A conclusão que chegamos vai ao encontro
do que já afirmava Jenkins (2008).
“Mesmo blogs e sites de jornalismo
participativo dependem de sites noticiosos
de corporações de mídias tradicionais. O
que se vê, portanto, é uma maior
interdependência, mas não um jogo de
soma Zero, onde apenas um lado pode
ganhar. (JENKINS, 2008: p.30)
Não obstante todos os benefícios
elencados, o presente estudo levanta um
questionamento em relação à qualidade do
jornalismo digital em relação ao jornalismo
impresso. De acordo com Bastos (2012),
“quando passa a trabalhar numa redação
digital, o jornalista tende a ser enquadrado
num conjunto de rotinas de produção, mais
6. de caráter técnico do que propriamente
jornalístico, que o afastam da possibilidade
de recolher informação pelos seus próprios
meios, de selecioná-la, de redigi-la, de
colocá-la em contexto, de preparar os seus
textos ou montar as suas peças.”
(BASTOS, 2012: p. 02)
O autor acredita que “o imperativo da
instantaneidade somado às multitarefas
dificilmente propicia as condições
necessárias a uma disciplina de verificação
eficaz, minando-se desta forma a
credibilidade das notícias.” (BASTOS,
2012: p.03)
Para completar, Bastos questiona a
probabilidade de nascerem questões éticas
e deontológicas relevantes da rotina diária
de empacotamento noticioso e das
colagens multimídia.
Será mesmo inferior a qualidade
jornalística das publicações digitais em
comparação com as antigas coberturas da
imprensa de massa?
Referências
BASTOS, Helder . A diluição do
jornalismo no ciberjornalismo. In :
Estudos em Jornalismo e mídia, 2012.
Disponível em :
https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornali
smo/article/view/1984-
6924.2012v9n2p284 2012
BASTOS, Helder . Ciberjornalismo e
Narrativa Hipermedia. In :Biblioteca
online de Ciências da Comunicação.
Universidade do Porto, Portugal.
Disponível em :
http://www.bocc.ubi.pt/pag/bastos-helder-
ciberjornalismo-e-narrativa-
hipermedia.pdf. Acessado em :
02/12/2016.
HALL, Jim. (2001). Online Journalism:
A Critical Primer. London: Pluto Press.
JENKINS, Henry . Cultura da
Convergência. Aleph, Nova York, 2008.
KAWAMOTO, Kevin (Ed.). (2003).
Digital Journalism: Emerging Media
and Changing Horizons of Journalism.
Lanham. MD: Rowman & Littlefield.
PAVLIK, John. (2001). Journalism and
New Media. New York: Columbia
University Press.
PRIMO, Alex . Crítica da cultura da
convergência: participação ou
cooptação. In: Elizabeth Bastos Duarte,
Maria Lília Dias de Castro. (Org.).
Convergências Midiáticas: produção
ficcional - RBS TV. Convergências
Midiáticas: produção ficcional - RBS TV.
Porto Alegre: Sulina, 2010, p. 21-32.