Este documento discute a promoção da saúde e resiliência nas escolas. Os educadores de infância percebem positivamente os mecanismos de proteção, mas têm opiniões mais neutras sobre os mecanismos de risco. Os resultados sugerem a necessidade de esclarecer os educadores sobre a importância de minimizar fatores de risco e potenciar fatores protetores para o desenvolvimento resiliente das crianças.
1. PROMOÇÃO DA SAÚDE E RESILIÊNCIA NA ESCOLA Glicéria Gil¹, José Alves Diniz² ¹gliceria@iol.pt, Jardim de Infância nº 4 de Portimão ²jadiniz@fmh.utl.pt, Faculdade de Motricidade Humana INTRODUÇÃO Nos últimos tempos, a promoção da saúde e resiliência nas escolas tem merecido por parte dos investigadores uma atenção especial (Benard, 1993; Henderson, N., Milstein, M.1996 ; Masten & Sesma, 1999; Waxman, Gray & Pádron, 2002). Na maior parte dos estudos existe uma preocupação acentuada com o insucesso educativo de muitas crianças e jovens e, particularmente, com o modo como o insucesso poderá estar associado a dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento (Dias, 2001). Uma das apostas dos sistemas educativos é a implementação nas escolas, de programas que ajudem a minimizar e/ou ultrapassar as dificuldades que as crianças e jovens apresentam. Em Portugal, desde a década de 90, que as escolas beneficiam de programas de Educação para a Saúde (EpS), programas esses que visam a implementação nos seus currículos de projectos vocacionados para a promoção da saúde e a prevenção da doença. No ensino em geral, e na educação pré-escolar em particular, verifica-se a tendência para uma abordagem holística da promoção da saúde, que passa pela potenciação de factores protectores e a minimização de factores de risco, factores estes que contribuem significativamente para o desenvolvimento saudável e resiliente das crianças, em especial as crianças em risco (Henderson & Milstein, 1996). OBJECTIVO Este estudo inseriu-se no âmbito de um projecto de investigação mais alargado realizado em 2002-03 (mestrado em Saúde Escolar) que visou analisar as percepções e intervenções dos educadores de infância na área da promoção da saúde e resiliência. São apresentados alguns dados relativos à percepção dos educadores acerca do conceito de EpS e resiliência na vertente da potenciação de mecanismos de protecção e minimização de mecanismos de risco. MÉTODO PARTICIPANTES 274 educadores da região do Algarve e Alentejo 34% dos educadores trabalham em Jardins de Infância integrados na RNEPS ¹ . 66% dos inquiridos referem que a EpS ² está integrada no PE ³ de escola. 71% dos educadores integram nas suas salas crianças em situação de risco educativo. INSTRUMENTO Questionário EIPSR - Escala de Identificação da Promoção da Saúde e Resiliência Fiabilidade α de Cronbach .72 O questionário é constituído por 4 partes (formação em EpS; contexto de exercício profissional; intervenção em EpS; percepção da EpS e resiliência). ANÁLISE DE DADOS Análise descritiva; Análise de conteúdo das questões abertas; Análise de classificação ( Cluster Analysis ) ; Análise de correspondências múltiplas ¹ .Rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde ² Educação para a Saúde ³ Projecto Educativo de Escola Flying Paula Rego RESULTADOS Gráfico 1: Percepção do Conceito de EpS e Resiliência A percepção de EpS e resiliência dos educadores de infância situa-se entre um nível de neutralidade e concordância com os mecanismos de protecção e risco, ou seja, 58% dos inquiridos acreditam que na vida das crianças determinados mecanismos podem funcionar como protecção ou risco, enquanto 37% dos educadores demonstram alguma neutralidade, o que pressupõe uma atitude ainda não definida, quer a favor quer contra esses mecanismos. Gráfico 2 : Percepção dos mecanismos de protecção Verifica-se uma tendência por parte dos inquiridos para considerar esta sub-dimensão do conceito de promoção de saúde e resiliência como favorável, ou seja, 96% dos inquiridos concordam que determinados mecanismos protegem o desenvolvimento das crianças em situação de risco. Gráfico 3 : Percepção dos mecanismos de risco 67% dos inquiridos tem uma percepção concordante com os mecanismos de risco. Contudo, 23% dos educadores situam-se numa encruzilhada no que respeita às suas certezas e incertezas face aos processos que põem em risco o desenvolvimento das crianças que se encontram em situação de vulnerabilidade, ou seja, a sua posição não se encontra definida, nem é clara sobre estes aspectos. CONCLUSÕES A vida das crianças é composta de múltiplos riscos. Os mecanismos subjacentes a esses riscos tem como função proteger ou acentuar a situação de risco em que a criança vive. Os educadores de infância inquiridos têm uma percepção favorável no que respeita à activação dos mecanismos de protecção. Porém, no que respeita aos mecanismos de risco verifica-se uma tendência para a concordância versus neutralidade. Neste sentido urge desencadear acções clarificadoras sobre a importância da minimização de mecanismos de risco e potenciação de mecanismos protectores para o desenvolvimento da resiliência e consequente sucesso educativo das crianças. Estes resultados podem ser úteis para os profissionais desta área, assim como para os responsáveis pela formação inicial e contínua dos educadores de infância. REFERÊNCIAS Benard, B. (1993). Fostering resilience in kids. Educational Leadership , 51, p.44-48. Dias, N. (2001). Observatório dos apoios educativos. Ministério da Educação. Henderson, N., Milstein, M. (1996). Resiliency in Schools - Making it happen for Students and Educators . California: Corwin Press, Inc. Masten, A. S., Sesma, A. (1999). Risk and Resilience among children homeless in Minneapolis. Cura Reporter , volume XXIX, nº 1.p.1-6. Waxman, H. C., Gray, J. P., Padrón, Y. (2002). Resiliency Among Students At Risk of Academic Failure. Yearbook of the National Society for the Study of Education ,101,vol.2, p.29-48.