SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 18
Baixar para ler offline
I Seminário de Pós-Graduandos em Ciências Sociais do estado do Rio de Janeiro
http://sepocs.blogspot.com/ sepocsrio@gmail.com
I Seminário de Pós-Graduandos em Ciências Sociais do estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 28 de novembro a 2 de dezembro de 2011.
CENPES-Petrobras: capacitação tecnológica e redes de conhecimento em uma empresa
da periferia econômica mundial
Victor Mourão1
Resumo Breve
O texto é uma discussão sobre o processo de capacitação tecnológica offshore na Petrobras.
Argumenta-se que condições e estratégicas específicas, adotadas pela empresa, abriram a
possibilidade para que uma empresa da periferia do capitalismo pudesse se capacitar e se
posicionar na fronteira tecnológica em sua área de atuação, não só importando tecnologia mas
desenvolvendo-a em cooperação com parceiros, empresas e instituições científicas. Um
processo contínuo e incremental de construção de capacidades técnicas no interior da empresa
é ressaltado, além da sua disposição de constituir redes de conhecimento com firmas
fornecedoras e instituições de pesquisa.
Palavras-chave: Petrobras; Inovação; Desenvolvimento; Redes de Conhecimento;
Tecnologia.
1
Doutorando em Sociologia (IESP-UERJ). Bolsista Capes. Email: vmourao at iesp.uerj.br
2
Introdução
Os desenvolvimentos e transformações vivenciados pelas economias nacionais, comumente
referidos como processo de globalização, têm sido interpretados pelos analistas e
pesquisadores de maneiras diversas. A crescente importância da competitividade para uma
inserção adequada de uma economia nacional no âmbito econômico internacional é um
aspecto frequentemente ressaltado. Esse plano é ainda mais fundamental para as economias
nacionais inseridas tardiamente neste sistema econômico, ou mesmo ainda de modo
periférico. Para além da presença de mão-de-obra barata e da existência de matéria-prima no
território, o aspecto fundamental que se ressalta nestas análises é a questão da inovação, ou da
capacidade das economias e de seus diferentes setores de lograrem um processo de
capacitação técnica e tecnológica e de invenção de novos produtos e processos produtivos que
permita que avancem na direção de uma maior agregação de valor aos seus produtos e
serviços.
Neste texto, tento apreender, através da literatura existente, os processos relativos à
capacitação tecnológica que envolveram (e envolvem) a Petrobras, tida como exemplo de
empresa do capitalismo tardio e periférico. Claro está que não há uma tentativa de se criar um
modelo, via o exemplo da Petrobras, para o planejamento de empresas de países em
desenvolvimento – mas o estudo de sua trajetória pode revelar as possibilidades e limitações
que estas empresas podem encontrar.
A posição da Petrobras no imaginário nacional é central. Uma abordagem de sua história,
tendo momentos marcados por grandes movimentos sociais em torno da definição político-
estratégica da empresa (i.e. movimento Petróleo é Nosso na década de 1950; a década de 1990
e as denunciadas tentativas de privatização da empresa), é fundamental para se entender as
opões estratégicas e a importância das atividades colocadas pela empresa para o país, seja no
âmbito de sua cadeia produtiva, seja no âmbito das capacitações tecnológicas e da rede de
conhecimento que a perpassa. Vários trabalhos sobre a empresa já foram realizados, tendo em
vista seja seu momento original fortemente enraizado em movimentos sociais nacionalistas
(Cohn, 1968), seja sua capacidade de atuação (e de seus executivos) para realizar uma
estratégia autônoma ao longo de sua história (Alveal, 1993). Há ainda uma ampla pesquisa
3
sobre a história da Petrobras focada em entrevistas com pessoas-chave na constituição da
empresa, realizadas pelo CPDOC/FGV (Dias e Quaglino, 1993), além de uma literatura que
se poderia considerar engajada (Vidal e Vasconcellos, 2001). Porém, no que tange aos nossos
interesses específicos relativos à capacitação técnica e tecnológica da Petrobras, a literatura é
menos farta. Ainda assim, estes estudos já nos permitem ter uma visão ampla de alguns
processos importantes que se passaram dentro da empresa, colocando pontos importantes a
serem debatidos, como os momentos de inflexão na trajetória tecnológica da empresa e as
redes de conhecimento e aprendizagem tecidas pela empresa ao se capacitar.
O texto tem 4 seções, além desta introdução. Uma primeira seção explicita as trajetórias de
investimento e tecnológica da empresa, com especial atenção ao período anterior aos choques
do Petróleo na década de 1970. Uma segunda seção trata basicamente dos Programas de
Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (PROCAP), um programa de capacitação
tecnológica offshore que representa uma ruptura fundamental da trajetória tecnológica na
história da Petrobras. Na seção seguinte, apresentam-se pesquisas que tratam de algumas
dimensões relativas a esses processos de capacitação tecnológica empreendida pelos
PROCAPs, relativos à constituição de redes de conhecimentos, ampliação da capacidade de
absorção e de inovação tecnológicas, além da constituição de relações com firmas
fornecedoras para o offshore. Por último, uma seção conclusiva retoma os pontos principais
levantados ao longo do texto, além de apresentar alguns dos desafios e possibilidades
colocados pela descoberta do Pré-Sal.
Criação da Petrobras: Desafios Técnicos e Tecnológicos
A Petrobras foi criada na década de 1950 em meio a um forte movimento nacionalista. Porém,
criar uma empresa petroleira não depende apenas de vontade social. O processo de
estabelecimento da empresa tinha basicamente dois grandes desafios a serem enfrentados: um
propriamente relacionado ao estabelecimento das atividades que envolvem a cadeia de
produção do petróleo (que vai desde a exploração de poços e a extração do petróleo, até o
downstream com o refino e a produção de derivados, sem nos esquecermos da logística de
4
transporte e de venda); e outro ligado à constituição de um parque industrial de fornecedores
de instrumentos e máquinas para suas atividades. Necessitava-se criar experiência produtiva
na indústria, constituir um tecido industrial de fornecedores, para lograr implantar as suas
atividades produtivas2
. Como questão transversal, havia o problema fundamental de
constituição de recursos humanos capazes de prover tais atividades e serviços. O CENAP
(Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisa de Petróleo), órgão criado em 1955 em colaboração
com a antiga Universidade do Brasil, ia nesta direção, de capacitar recursos humanos para
levar adiante as atividades produtivas da empresa, além de constituir uma base de pesquisa
que pudesse auxiliar a empresa em suas soluções tecnológicas e científicas (Furtado,
1997:12). Em 1966, essa base foi utilizada para a criação do CENPES (Centro de Pesquisas e
Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), que em 1973 se estabeleceria na Ilha
do Fundão. Porém, a interação com os departamentos operacionais ainda era baixa, e estes
continuavam comprando tecnologia importada. Neste momento a maior parte das atividades
de pesquisa realizadas no Centro se voltava para o downstream. A expansão se dava no
âmbito da pesquisa química, do refino e da petroquímica (Furtado, 1997:12). Havia, assim,
um lag, uma falta de interatividade, no interior da empresa, entre os órgãos de pesquisa e de
operação.
Em um momento anterior aos choques do petróleo na década de 1970, a trajetória de
investimento da empresa como um todo por vezes se aproximou de uma busca mais intensa
por fontes próprias de petróleo bruto, por vezes foi fortemente na direção da constituição de
um parque de refino nacional que pudesse beneficiar a matéria-prima importada. Estes dois
pólos de orientação, embora não excludentes, alternar-se-iam na trajetória de investimentos da
empresa, ora com uma busca mais intensa por óleo bruto nacional, ora com um investimento
industrialista mais forte. Durante o período 1970-1977, há um inequívoco esforço na direção
downstream (refino e petroquímica), relegando a segundo plano boa parte da seção de
exploração e produção de petróleo pela empresa (cf. quadro de investimentos da empresa em
Alveal, 1993:96). Era o período áureo do processo de substituição de importações, voltado
2
A Petrobras desempenhou importante papel na dinamização do capital privado, atuando tanto na
constituição do órgão estatal voltado para a indústria de bens de capital (Comissão da Indústria Pesada) quanto
na criação da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base (ABDIB) (Alveal, 1993:76).
5
para a industrialização da economia nacional, ainda que seus limites já estivessem no
horizonte de alguns economistas e pensadores da época (Tavares, 1978).
Esse processo de investimento no segmento downstream sofreu um revés com a subida do
preço do petróleo, e, especialmente após o choque de 1979, há uma concentração recorde de
investimento na área de exploração e produção (que chega a representar mais de 90% dos
investimentos anuais da empresa na década de 1980). É esta guinada para o upstream que
permitirá que os departamentos operacionais e de pesquisa se entrosem, a partir do final dos
anos 1970 (Furtado, 1997:13).
Neste momento, nada há de excepcional nos movimentos da empresa brasileira. Há uma
convergência na estratégia das grandes empresas petroleiras internacionais na direção da
busca por petróleo de difícil acesso (Shah, 2007), devido ao esgotamento parcial de parte das
reservas de acesso imediato (i.e. Texas) e ao controle nacional (e, portanto, fora do alcance
das grandes empresas internacionais) de grande parte das reservas remanescentes. Em caso de
conflito político e guerras, o acesso ocidental ao bem energético estratégico poderia ser
prejudicado.
A indústria offshore do petróleo tem seu início na década de 1950, no Golfo México, se
expandindo posteriormente para o Mar do Norte (Furtado, 1997), em condições bem adversas
de temperatura e correntes oceânicas (Shah, 2007). Seu desenvolvimento tecnológico vai,
basicamente, na direção de sistemas de produção que sejam adequados à exploração
comercial de jazidas localizadas em águas profundas. O Mar do Norte foi o local onde se
desenvolveram os primeiros sistemas de produção flutuante (SPF), compostos de árvores de
natal molhadas (ANM), template, risers e barco. Foi esse o sistema predominantemente
utilizado pela Petrobras na exploração da Bacia de Campos. Vários conceitos de sistemas de
produção alternativos emergiram ao longo da década de 1980, como as tension-leg (TLP) e as
plataformas de torre complacente (Furtado, 1997:8-9). Concebido inicialmente para ser um
sistema provisório de produção, o SPF se tornou a escolha dominante pela impossibilidade
técno-econômica de realização da produção em plataformas fixas, predominantes até então.
Assim, o movimento realizado pela Petrobras, orientado para a exploração offshore entre as
décadas de 1970 e 1980, não teve nada de extraordinário, e atendia a uma estratégia
6
fortemente influenciada por um contexto de alto preço do petróleo e de fragilidade na balança
de pagamentos nacional. O contra-choque do petróleo, que em 1986 sofreu uma baixa inédita
no seu preço, ofereceu uma situação onde a posição da empresa foi distinta. Enquanto as
empresas petrolíferas abandonaram seus projetos de desenvolvimento tecnológico offshore e
de busca por petróleo em águas profundas, a empresa criou o que hoje é visto como o
principal programa tecnológico de sua história, o PROCAP, programa de capacitação
tecnológica para exploração e produção em águas profundas, exatamente orientado para esta
área abandonada pelas outras empresas.
Esse momento representou uma janela de oportunidades para a empresa, pois a guinada
upstream, junto com a experiência adquirida em capacitação através de um projeto
desenvolvido durante a operação de sistemas de produção na Bacia de Campos nas décadas de
1970 e 1980 e a descoberta de novos reservatórios gigantes nesta mesma região abriram a
possibilidade real, talvez pela primeira vez na história da companhia, de se atingir a auto-
suficiência produtiva em petróleo. Os desafios tecnológicos, no entanto, eram enormes, já que
sistemas de produção em águas mais profundas que 400 metros não existiam na época, nem
mesmo internacionalmente. Se até este momento a empresa adquiria externamente as
tecnologias para depois dominá-las, a perspectiva de criação de uma tecnologia não
disponível internacionalmente representava um desafio que, enfrentado com sucesso, poderia
levá-la à fronteira tecnológica offshore mundial (Furtado, 1997:15).
PROCAP: Aprendizagem na Periferia
O PROCAP é basicamente uma solução de continuidade tecnológica, de alongamento dos
limites de tecnologias já conhecidas e utilizadas, as redesenhando e aperfeiçoando. Foi
desenvolvido entre 1986 e 1992 e foi altamente exitoso, ganhando o OTC (Offshore
Technology Conference) Distinguished Achievement Award em 1992. Neste programa
desenvolveu-se uma série de tecnologias ligadas a este desafio de exploração de petróleo em
águas profundas: sondas, que depois viraram barcos-sonda, estes depois tornando-se pequenas
plataformas de petróleo; tecnologias de perfuração, que permitem que se alcance
profundidades crescentemente maiores; plataformas flutuantes, pois antes as plataformas de
7
extração em mar eram fixas; árvore de natal “molhada” (parte principal do sistema de
extração de petróleo, replanejada para subsea); riser (dutos para condução do petróleo
submarino até a plataforma), feitos agora de poliéster3
. O PROCAP permitiu um acúmulo de
capacidades técnicas no interior da empresa em aliança com seus parceiros de cooperação
científica, permitindo uma ampliação da capacidade endógena de pesquisa, desenvolvimento
e inovação colaborativa4
. Porém, como mostrado rapidamente na seção anterior, a experiência
tecnológica offshore da empresa não começa com o PROCAP, tendo seu início cerca de duas
décadas antes, a partir das descobertas do Campo de Guaricema (SE), em 1968, e do Campo
de Garoupa, na Bacia de Campos, em 1974. Esse processo anterior de adaptação e utilização
de tecnologia importada foi fundamental para os processos que se desenrolaram
posteriormente (Ortiz Neto e Costa, 2007:102).
Assim, apesar do sucesso do programa e de se haver chegado à fronteira tecnológica offshore,
o processo de desenvolvimento tecnológico foi baseado em inovações incrementais sobre
conhecimento já adquirido.
“Entre 1977 e 1983, foram concebidos e postos em operação 14 SPA (Sistemas
de produção Antecipada). O domínio que a empresa adquiriu sobre essa
tecnologia, que exigiu o desgargalamento de certos problemas, como os de
conexão, processamento e escoamento da produção, permitiu transformar os
SPA em sistemas de produção permanentes, ou seja, em SPF” (Furtado,
1997:15).
Em 1986, ano que marca o início do PROCAP, já havia onze SPF operando na Bacia de
Campos, produzindo 145 mil barris de petróleo diários (Furtado, 1997). Essa capacidade
técnica prévia foi a base para a evolução que se daria com a realização do Programa a partir
da segunda metade da década de 1980, e localizava-se não apenas nos centros de pesquisa,
mas no próprio departamento operacional da empresa. Em 1983, vários dos engenheiros de
3
Entre vários dos aliados do CENPES em suas pesquisas, cito, a partir do texto, alguns: Coppe (Instituto Alberto
Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ); Cepetro (Centro de Estudos em Petróleo da
Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp); Poli-USP; Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo;
fornecedores, como Cordoaria São Leopoldo (riser de poliéster); americana SGI (supercomputadores);
estaleiros nacionais e internacionais.
4
André Furtado e Adriana Freitas (2004) mostram que até mesmo projetos tecnológicos da Petrobras que não
tiveram sucesso comercial produziram, ainda assim, impactos econômicos indiretos e aumento da eficiência da
empresa, calculado pelos autores como sendo sete vezes maior do que os custos envolvidos nos projetos.
8
produção que implantaram os sistemas de produção na Bacia de Campos ao longo da década
anterior foram incorporados ao CENPES (Furtado, 1997:14). E não só:
“Na realidade, a consolidação de uma capacidade de concepção de sistemas de
produção offshore, não emanou propriamente do Cenpes. Ela surgiu diretamente
nos departamentos operacionais. Em função da implantação de unidades de
produção antecipada, desde o final da década de 70, formaram-se grupos de
engenheiros capazes de conceber esses sistemas do Depro (Departamento de
produção) e no Gespa (Grupo Especial de Sistema de Produção Antecipada), que
reunia técnicos de vários departamentos [...]. A concepção e operação desses
sistemas produtivos requeriam uma dose importante de criatividade por parte das
equipes brasileiras e foram o embrião dos conceitos posteriormente
desenvolvidos pelo Cenpes.” (Furtado, 1997:14).
Assim, ao optar por uma solução tecnológica baseada em um sistema de produção já
dominado, a estratégia de desenvolvimento tecnológico teve um caráter coerente e
incrementalista. A trajetória tecnológica offshore não estava consolidada, e as escolhas que a
Petrobras fez para o PROCAP foram as que permitiram que uma empresa situada em um país
periférico assumisse liderança tecnológica por meio de inovações incrementais, enquanto
outras empresas descontinuaram o processo de inovação tecnológica offshore ou ainda
optaram por sistemas que não se consolidaram. Os SPF desenvolvidos pela Petrobras
mostraram-se os mais capazes de produção em águas profundas e permitiram que a Petrobras
detivesse, desde o começo da década 1990, os recordes de profundidade em lâmina d’água de
produção offshore, de maneira quase ininterrupta.
André Furtado pergunta-se por que razão teria a empresa optado pelo desenvolvimento
interno da tecnologia, já que existiam concepções adequadas nas pranchetas de empresas de
engenharia e centros de pesquisa europeus e americanos. “A razão reside no domínio que ela
adquirira sobre a tecnologia dos SPF a partir da operação e concepção de sistemas de
produção antecipada. Outra razão talvez seria o custo elevado e a própria incerteza associados
a esses novos desenvolvimentos” (Furtado, 1997:15). Mas acho que a principal razão é o tom
nacionalista que sempre acompanhou a empresa, de sua vocação estratégica, voltada para o
desenvolvimento nacional. A manutenção dos investimentos em exploração e produção em
condições offshore explica-se tanto pela questão fiscal frágil brasileira quanto pelo projeto
nacionalista de busca pela autossuficiência neste recurso energético estratégico. A explicação
passa por dois sentidos, não-excludentes mas, ao contrário, de reforço mútuo: nacionalismo e
crise fiscal do estado. A perspectiva de se “economizar em divisas”, aparece muito nas
9
contabilidades relativas aos PROCAP e à exploração da Bacia de Campos, e tem uma razão
de ser relacionada à enorme dívida externa decorrente dos acontecimentos dos anos 1970 que
levaram a América Latina como um todo à crise fiscal.
O caso da Petrobras demonstra que uma empresa localizada na periferia do sistema capitalista
pode posicionar-se na fronteira tecnológica, ainda que a estratégia inovativa seja centrada em
inovações incrementais (Furtado, 1997:1). Ao contrário do que usualmente ocorre, a
emergência e o desenvolvimento de uma rede de conhecimento em nosso país não se deu com
a simples importação e adaptação de saberes constituídos em países estrangeiros
desenvolvidos. Esta janela de oportunidade se apresentou na mudança da trajetória
tecnológica de exploração de petróleo pela empresa no Brasil de maneira que ela pode se
colocar, através de uma série de projetos de desenvolvimento de tecnologia para a área, em
um nódulo central (hub) da rede de capacitações tecno-econômicas. Para entender um pouco
melhor tal questão, devemos voltar-nos para a apreensão do fenômeno inovativo como uma
questão de interação entre os atores do sistema de inovação ligado à tecnologia offshore
(Cassiolato, Lastres et al., 1999).
Redes de Conhecimento, Aprendizagem e Capacitação Tecnológica
Para tentar apreender alguns destes pontos colocados pela importância da interação entre os
atores do sistema de inovação para o processo inovativo, podemos nos voltar para a
constituição de redes tecno-científicas empreendidas pela Petrobras. Os estudos de Eva
Dantas e Martin Bell debruçam-se exatamente sobre tal objeto, e são particularmente
interessantes por várias razões. Colocando-se no interior do debate sobre sistemas de
inovação, os autores se concentram em um dos “building blocks” desta abordagem sistêmica e
interativa da inovação: o das redes de conhecimento (Dantas e Bell, 2009:829). O seu foco é a
área de offshore e a construção de redes de conhecimento e de capacitações técnicas em seu
entorno. Um estudo bastante amplo, que realizou mais de 100 entrevistas semi-estruturadas,
se configura como uma base empírica ampla para as informações e análises colocadas. Seu
propósito visa estabelecer não só o retrato da rede contemporaneamente, mas como ela
10
emergiu e se desenvolveu ao longo dos anos. Para tal, desenvolve uma tipologia de redes de
conhecimento de acordo com certas propriedades, tais como o grau de intencionalidade
implicado no desenvolvimento da rede; o nível das atividades de acumulação tecnológica com
a qual a rede está engajada; os conteúdos e as direções dos fluxos de conhecimento; as fontes
de conhecimento; e a divisão de trabalho na produção de conhecimento entre o ator-nó central
e os outros atores. A partir destas propriedades, compõe-se a tipologia em 4 momentos (não
necessariamente sucessivos nem mutuamente-excludentes):
o passive learning networks: atividades são basicamente as de aquisição e assimilação
de bens, serviços, know-how operacional, com uma assimetria de produção de
conhecimento;
o active learning networks: atividades são voltadas para aprendizado e absorção dos
conhecimentos em design e em ciência e tecnologia implicados nas tecnologias, com
fluxos predominantemente unidirecionais de conhecimento e participação crescente na
produção de conhecimento por meio de arranjos basicamente assimétricos;
o innovation networks: atividades são voltadas para inovação e absorção de
conhecimento em C&T de novos conceitos, com fluxos predominantemente
bidirecionais de conhecimento em design e em C&T, com produção simétrica de
conhecimento especializado;
o strategic innovation networks: atividades de acúmulo de conhecimento tecnológico
junto a atividades de transferência de tecnologia para parceiros; há uma combinação
de fluxos bidirecionais com unidirecionais (reversos ou não) nos fluxos de
conhecimento em design e em C&T e de produção simétrica e assimétrica de
conhecimento especializado5
.
Os resultados da pesquisa mostram que, nas redes de conhecimentos relativas à produção
offshore de petróleo, a empresa passou de uma situação de passive learning a uma situação de
strategic innovation networks. Os autores definem alguns períodos, marcando os momentos
5
Uma crítica possível a essa tipologia é a de que ela mantém uma dualização entre inovação e aprendizagem
que deve ser evitada. Assim, a idéia de que se passa de uma rede ativa de aprendizagem para uma rede
inovativa esquece que, desde a primeira, já há inovações e, na segunda, não se interrompe a aprendizagem.
Acho que uma possível solução seja a de retomar algumas características colocadas por Callon (1991) e tratar a
tipologia de redes de acordo com as convergências e os números de atores envolvidos.
11
de transição: (1) do final dos anos 1960 até 1984: da rede de aprendizado passiva para uma
ativa; (2) de 1985 a 1991: consolidando uma rede de aprendizado ativa e a emergência de uma
rede inovativa; (3) 1992-1996: consolidando a rede inovativa e se movimentando em direção
a uma rede inovativa estratégica; (4) 1997 até o começo dos anos 2000: consolidando uma
rede inovativa estratégica. A empresa e particularmente o CENPES se tornaram uma espécie
de hub da rede de capacitação tecno-científica da área de offshore, passando a ser procurado
por diversas empresas para levar adiante seus projetos de inovação tecnológica. Assim,
levando em conta este estudo e indo adiante com algumas teses de Alice Amsdem (2001), a
passagem de uma situação de buyer para uma de technology maker é o resultado do esforço e
do processo de acumulação de capacitações no interior da empresa até que se possa inovar e
ainda possuir uma visão estratégica do que sejam os seus desafios tecnológicos. Além disso, a
predominância de fluxos bilaterais de conhecimento indica que, não sendo apenas uma maker,
a empresa também é uma buyer de tecnologia, porém de maneira cooperativa e mais
igualitária com seus parceiros de desenvolvimento tecno-científico. Daí a importância de uma
concepção qualitativa no desenvolvimento de redes de conhecimento, que se afaste dos
predominantes diagnósticos quantitativos da insuficiência de gastos em P&D e em C&T nos
países em desenvolvimento, pois o valor gasto pode não ser proporcional ao aprendizado
realizado – e, tendencialmente, quanto menos se sabe, mais se gasta, como indicado no estudo
de Furtado e Freitas (2004).
Além disso, os autores, em um trabalho recente (Dantas e Bell, 2011), estabeleceram uma
relação entre as capacidades internalizadas na empresa com o desenvolvimento das redes de
conhecimento nas quais ela se insere. Há uma interação entre as redes e as capacidades: a
mudança qualitativa das redes de conhecimento está relacionada a “entry tickets”
capacitacionais. Leva-se, assim, a uma questão fundamental no sentido de se entender
processos de inovação das firmas: esta capacitação interna não é apenas necessária para a
absorção de tecnologia, mas para a própria progressão tecnológica da empresa no sentido de
participar de redes de conhecimento mais intensivas tecnologicamente.
Na própria terminologia dos autores, e seguindo as quatro etapas temporais estabelecidas para
as redes de conhecimento da Petrobras, teríamos no primeiro período, da década de 1960 até
1984, o predomínio de “assimilation capabilities”; no segundo período, de 1985-1991,
12
“adaptive capabilities”; no terceiro período, de 1992-1996, “generative capabilities”; e no
quarto período, de 1997 até meados da primeira década deste novo milênio, “strategic
capabilities”. Há uma co-evolução entre redes de conhecimento e capacidades, e estas
permitem e constrangem a participação da empresa naquelas. Ou seja, a elevação das
capacidades em um dado momento serve como tíquete de entrada para novas redes de
conhecimento; de maneira inversa e de reforço mútuo, a participação nestas permite que se
consolidem aquelas capacidades, permite a emergência de novas habilidades.
É uma visão que se poderia denominar gradualista: são pequenos esforços contínuos e
renitentes que, após um processo longo de acumulação e entronização de capacidades no
interior da firma, permite que esta tenha um desempenho inovativo que se aproxima da
fronteira tecnológica. Não há como dar “saltos” nos níveis de capacitação e de conhecimento:
“In the mid 1980s, Petrobras had achieved Adaptive Capabilities in
[instrumented pigs, dispositivo que percorre os dutos de petróleo para detectar
irregularidades], based on an RD&E group studying and absorbing inspection
techniques and methodologies. But the company had no experience in
developing equipment to incorporate such inspection techniques (i.e., no
prior Generative Capabilities). Petrobras nevertheless made two attempts to
collaborate with domestic supply companies to develop instrumented pigs
(i.e., to engage in Innovation Networks). Both of these were unsuccessful
largely because it had not built internally the capabilities for developing new
equipment and was not able to properly formulate the technical problems to be
tackled in the collaborations” (Dantas e Bell, 2011:10).
Há também a conformação de outros tipos de redes, que não obstante envolvem um forte
esforço inovativo e tecnológico. Em sua tese de doutorado, Alexis Dantas (1999) se volta para
o estudo das parcerias entre a Petrobras e seus fornecedores de bens e serviços críticos ao
processo produtivo do petróleo offshore. Pelas especificidades das tecnologias envolvidas,
trata-se de sistemas industriais complexos, que implicam em uma dinâmica de requisitos de
performance de complexidade crescente, além do fortalecimento dos vínculos técnico-
produtivos entre os agentes envolvidos, especialmente no que se refere à ligação entre
produtor-usuário, entre o fornecedor para-offshore e a Petrobras (Dantas, 1999:143).
O empreendimento inovativo na área de fornecimento de equipamentos para a área offshore
requer uma variedade de conhecimentos e habilidades, impondo requisitos de coordenação
organizacional ao sistema: eficiência inovativa e tecnológica. Dentro deste contexto, a
interdependência entre os agentes é central, assim como a necessidade de estabelecimento de
13
relações de longo prazo entre eles. A tarefa de coordenação desta rede de firmas é
fundamentalmente desempenhada pela Petrobras, como firma principal, pela sua capacidade
financeira e por sua habilidade de identificar gargalos técnicos ao operar as tecnologias
(Dantas, 1999:144). Duas maneiras são utilizadas pela Petrobras para realizá-los: a
formalização de contratos formais (Termos de Cooperação) e a Política de Compras da
empresa.
Estes termos de cooperação técnica permitem uma interação maior entre os agentes
envolvidos no processo inovativo, prevendo em seus contratos o acesso de técnicos da
Petrobras ao desenvolvimento realizado pela firma fornecedora, a definição inicial das
especificações e os testes dos protótipos e produtos finais com a participação de pesquisadores
do Cenpes, além do financiamento dos protótipos pela Petrobras (Dantas, 1999:148). Eles
promovem o aprendizado pela interação (Learning by interacting).
A partir desses estudos, podemos perceber de maneira um pouco mais clara o que significa
realizar esforços de capacitação tecnológica e de aprendizado em um país em
desenvolvimento. A construção de capacidades técnicas e de aprendizado depende de um
processo de maturação longo que, no caso da Petrobras e dos agentes correlatos, foi
possibilitado por uma série de fatores diversos, indo desde a posição de sua empresa-mãe no
imaginário brasileiro desenvolvimentista, até a gestão administrativa eficiente e do esforço
substancial de criação de recursos humanos e de desenvolvimento de redes de cooperação e
de parcerias de colaboração tecnico-científicas com universidades e empresas, tanto no
âmbito regional e nacional, quanto no internacional.
Desafios do Pré-Sal
E, mesmo com o passado notável de capacitação tecnológica offshore, os próximos momentos
parecem ainda mais esperançosos para o setor no Brasil. A descoberta recente do Pré-sal
coloca incentivos e desafios da mesma ordem em sua exploração e produção comercial.
Segundo dados do diretor financeiro da empresa, a previsão é de que a Petrobras quase
triplique a produção equivalente de óleo até 2020, chegando a 6 milhões de barris por dia
14
(apenas 6% dessa produção se daria fora do território nacional) (Ellsworth, 2011). A
plataforma P-56 alcançou 72,9% de conteúdo nacional, um marco inédito para a história
industrial para-petrolífera nacional (Poder Naval, 2011). No que tange aos investimentos
relativos ao pólo Pré-sal na Bacia de Santos, espera-se, para o período de 2011-2015, um
investimento de U$73 bilhões, um aumento de 63% em relação à previsão anterior (Lima,
2011). A instalação de vários centros de pesquisa de fornecedores internacionais da empresa
no Rio de Janeiro (i.e. Schlumberger, Baker Hughes, FMC Technologies, além de indicações
no mesmo sentido vindos da Usiminas; o destino parece ser, invariavelmente, a Ilha do
Fundão, onde se localiza o complexo central do CENPES) pode ser vista de forma auspiciosa,
e tem relação imediata com a ampliação da produção e da correlata necessidade de serviços e
equipamentos. Este movimento poderá ser o primeiro passo de formação de um ambiente
semelhante ao existente em outras conformações geográficas inovativas (cujo grande símbolo
é o Vale do Silício) e que, possivelmente, não se restringirá ao desenvolvimento de tecnologia
ligada à exploração e produção do Pré-Sal, tendo importantes spin-offs no processo.
Em uma entrevista recente, Carlos Tadeu Fraga, gerente executivo do CENPES, dá algumas
informações sobre a dimensão das atividades do centro e em seu entorno.
“Hoje nós temos 50 redes, que funcionam de maneira bastante alinhada
com os nossos desafios tecnológicos. Nós identificamos 50 temas de
interesse tecnológico da Petrobras e as universidades brasileiras que têm
maior capacitação em cada um desses temas. No conjunto das redes, nós
temos cerca de 80 universidades e institutos de pesquisas brasileiros
participando. É um movimento de abrangência nacional, muitas
universidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, obviamente, mas muitas
universidades da região Nordeste, da região Sul, da região Norte, do
Centro-Oeste. A área construída de laboratórios novos ou de laboratórios
reformados dessas universidades corresponde a quatro vezes a área do
Cenpes, é como se tivéssemos multiplicado por quatro a nossa capacidade
experimental, com as construções dessas redes e da infraestrutura
associada” (Portal Revista Fator, 2011).
Essa grande infraestrutura científica tem um enorme potencial inovativo, se levarmos em
conta as possibilidades de interação por ela colocadas, aproximando o CENPES de vários
grupos de pesquisas universitários de todas as regiões brasileiras. Uma hélice tripla nacional
pode ser desde já antevista, ainda que os mecanismos práticos da elaboração e difusão de
inovações não possam ser imediatamente percebidos. Tudo isto envolve somas gigantescas de
recursos financeiros para investimento, recursos materiais em máquinas e equipamentos e em
15
recursos humanos de capacidade técnica altamente especializada que coloquem tal Centro
(junto à empresa como um todo) no núcleo das esperanças de desenvolvimento do país,
especialmente após a descoberta do Pré-Sal.
“Tudo isso [os grandes investimentos em tecnologia e recursos humanos
devido ao Pré-Sal] traz um novo vetor de desenvolvimento econômico e
social para o país. O pré-sal tem atrativos do ponto de vista tecnológico,
questões atraentes para que a Petrobras possa trabalhar e aprimorar os
métodos e processos que hoje nós já aplicamos nos poços que já estão em
produção nos sistemas de teste de longa duração e mais do que a
Petrobras, o pré-sal é para o país uma grande plataforma de
desenvolvimento. A Petrobras vai estar como já tem feito, trabalhando em
articulação com nossos principais fornecedores de bens, fornecedores de
serviços, com as universidades, com institutos de pesquisas para melhor
aproveitar essa oportunidade” (Portal Revista Fator, 2011).
Na recente Offshore Technology Conference (OTC), a palestra de Carlos Tadeu Fraga,
gerente executivo do CENPES, destacou que mais de ¼ das atividades mundiais em águas
profundas é realizado pela Petrobras atualmente. A tendência, com o Pré-Sal, é que se
ampliem, e em larga escala. Os níveis de investimento nessa área são muito maiores que de
seus concorrentes. As regras relativas à política de compras da Petrobras, com conteúdo
localmente produzido, parecem estar surtindo efeito (Landim, 2011). E, como podemos
vislumbrar a partir do momento atual, tudo indica que o futuro da exploração de petróleo no
Brasil, tendo em vista a alta internacional de seu preço, vá na direção do Pré-Sal e da
resolução dos problemas tecno-econômicos associados a tal desafio. Haveria assim um
cenário indicativo de continuidade na trajetória iniciada há mais décadas atrás, cuja
cumulatividade técnica e de conhecimentos já se mostrou.
Porém, uma série de decisões políticas deve ser tomada para que haja aproveitamento do
potencial de desenvolvimento aberto pela descoberta do Pré-Sal. O debate sobre o marco
regulatório do Petróleo no Brasil, ainda em andamento, é fundamental. Uma discussão sobre
este ponto aqui ultrapassaria os limites deste texto. Mas deve-se evitar a persistência de um
câmbio valorizado em tempos de quantitative easing, de alta desregulação financeira e de
uma balança de comércio crescentemente focada em commodities. Além disso, é fundamental
que haja orientação das verbas provenientes dos royalties para a capacitação tecnológica e
científica da sociedade brasileira, além de sustentar uma política social, educacional e de
saúde adequadas para um país desenvolvido. A janela de oportunidades está aberta para o
16
Brasil – a própria presidenta reconheceu em seu discurso de posse a possibilidade de tornar
desenvolvido o nosso país. É preciso um projeto político e social que possa levar adiante as
ações que tornem tal sonho realidade.
17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVEAL, C. Os Desbravadores: A Petrobrás e a construção do Brasil Industrial. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 1993.
AMSDEM, A. H. The Rise of "The Rest": Challenges to the West from Late-Industrializing Economies.
New York: Oxford University Press, 2001.
CALLON, M. Techno-Economic Networks and Irreversibility. In: LAW, J. (Ed.). A Sociology of
Monsters: Essays on Power, Technology and Domination. London: Routledge, 1991. p.132-165.
CASSIOLATO, J. E. et al. Globalização e Inovação Localizada. In: CASSIOLATO, J. E. e LASTRES, H. M.
M. (Ed.). Globalização e Inovação Localizada: Experiências de Sistemas Locais no Mercosul. Brasília:
IBICT/MCT, 1999.
COHN, G. Petróleo e Nacionalismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.
DANTAS, A. T. Capacitação Tecnológica de Fornecedores em Redes de Firmas: O Caso da Indústria
do Petróleo Offshore no Brasil. 1999. (Doutorado). Instituto de Economia, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
DANTAS, E.; BELL, M. Latecomer firms and the emergence and development of knowledge networks:
The case of Petrobras. Research Policy 38, p. 829-844, 2009.
DANTAS, E.; BELL, M. The Co-Evolution of Firm Centered Knowledge Networks and Capabilities in
Late Industrializing Countries: The Case of Petrobras in the Offshore Oil Innovation System in Brazil.
World Development, 2011. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0305750X11000210 >.
DIAS, J. L. D. M.; QUAGLINO, M. A. A Questão do Petróleo no Brasil: Uma História da Petrobrás. Rio
de Janeiro: CPDOC/SERINST (Fundação Getúlio Vargas - Petróleo Brasilero S.A.). 1993. Disponível
em: < http://hdl.handle.net/10438/6731 >.
ELLSWORTH, B. Petrobras pode quase triplicar produção em dez anos. Rede Brasil Atual 2011.
Disponível em: < http://www.redebrasilatual.com.br/temas/economia/2011/06/petrobras-pode-
quase-triplicar-producao-em-10-anos >.
18
FURTADO, A. T. A Trajetória Tecnológica da Petrobrás na Produção Offshore. Textos Para Discussão
no. 18. Campinas: Departamento de Política Científica e Tecnológica (UNICAMP) 1997. Disponível
em: < http://geo25.ige.unicamp.br/site/publicacoes/dpct/Texto-18.doc >.
FURTADO, A. T.; FREITAS, A. G. Nacionalismo e Aprendizagem no Programa de Águas Profundas da
Petrobras. Revista Brasileira de Inovação, vol. 3, no. 1, 2004. Disponível em: <
http://www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/rbi/article/view/266 >.
LANDIM, R. Mares de Almirante. Folha de São Paulo, 13 de maio de 2011. Disponível em: <
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1305201129.htm;
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-volta-da-era-do-petroleo >.
LIMA, K. Petrobrás eleva em 63,3% investimentos no pré-sal. Estado de São Paulo, 30 de abril de
2011. Disponível em: <
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110430/not_imp712934,0.php; e
http://diariodopresal.wordpress.com/2011/04/30/petrobras-amplia-em-633-os-investimentos-no-
pre-sal/ >.
ORTIZ NETO, J. B.; COSTA, A. J. D. A Petrobrás e a exploração de Petróleo Offshore no Brasil: um
approach evolucionário. Revista Brasileira de Economia, v.61, no. 1, p. 95-109, 2007.
PODER NAVAL. Petrobras batiza plataforma P-56. Poder Naval, 2011. Disponível em: <
http://www.naval.com.br/blog/2011/06/02/petrobras-batiza-plataforma-p-56/; e
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-plataforma-petrolifera-nacional >. Acesso em: 2 de
junho de 2011.
PORTAL REVISTA FATOR. Petrobras na OTC 2010, por Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente
executivo do Cenpes. Portal Revista Fator 2011. Disponível em: <
http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=115508 >.
SHAH, S. A História do Petróleo. Porto Alegre: L&PM, 2007.
TAVARES, M. D. C. Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil. In: (Ed.). Da
Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro: Ensaios Sobre Economia Brasileira (7a
edição). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. p.27-124.
VIDAL, J. W. B.; VASCONCELLOS, G. F. Petrobrás: Um Clarão Na História. Brasília: Editora Sol Brasil,
2001.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a CENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdf

ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...
ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...
ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...Leonam Guimarães
 
Inovação na área de sensores a fibra óptica
Inovação na área de sensores a fibra ópticaInovação na área de sensores a fibra óptica
Inovação na área de sensores a fibra ópticaGlaudson Bastos, M.Sc
 
Capital intelectual na organização
Capital intelectual na organizaçãoCapital intelectual na organização
Capital intelectual na organizaçãoClaudio Santos
 
2.2.crisostomo inovacao no semiarido
2.2.crisostomo inovacao no semiarido2.2.crisostomo inovacao no semiarido
2.2.crisostomo inovacao no semiaridosmtpinov
 
Ip sistema nacional de inovação jan2013
Ip sistema nacional de inovação jan2013Ip sistema nacional de inovação jan2013
Ip sistema nacional de inovação jan2013emersonhenriques
 
Evolção histórica dos tecnologos
Evolção histórica dos tecnologosEvolção histórica dos tecnologos
Evolção histórica dos tecnologosAdrianPetroser
 
INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL
INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL
INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL Cláudio Carneiro
 
Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...
Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...
Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...HELENO FAVACHO
 
Programa de Capacitação Petróleo e Gás
Programa de Capacitação Petróleo e GásPrograma de Capacitação Petróleo e Gás
Programa de Capacitação Petróleo e GásStart4up
 
Debates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice Lahorgue
Debates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice LahorgueDebates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice Lahorgue
Debates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice LahorgueFundação de Economia e Estatística
 
Road map
Road mapRoad map
Road mapauspin
 
Inovacao e desenvolvimento iva moura #c&t
Inovacao e desenvolvimento iva moura #c&tInovacao e desenvolvimento iva moura #c&t
Inovacao e desenvolvimento iva moura #c&tHilton M
 

Semelhante a CENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdf (20)

ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...
ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...
ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E EFEITOS DE ARRASTE DOS GRANDES PROGRAMAS DE DE...
 
Inovação na área de sensores a fibra óptica
Inovação na área de sensores a fibra ópticaInovação na área de sensores a fibra óptica
Inovação na área de sensores a fibra óptica
 
Capital intelectual na organização
Capital intelectual na organizaçãoCapital intelectual na organização
Capital intelectual na organização
 
CIP News 3
CIP News 3CIP News 3
CIP News 3
 
2.2.crisostomo inovacao no semiarido
2.2.crisostomo inovacao no semiarido2.2.crisostomo inovacao no semiarido
2.2.crisostomo inovacao no semiarido
 
Ip sistema nacional de inovação jan2013
Ip sistema nacional de inovação jan2013Ip sistema nacional de inovação jan2013
Ip sistema nacional de inovação jan2013
 
Cartilha Dos Tecnologos
Cartilha Dos TecnologosCartilha Dos Tecnologos
Cartilha Dos Tecnologos
 
Evolção histórica dos tecnologos
Evolção histórica dos tecnologosEvolção histórica dos tecnologos
Evolção histórica dos tecnologos
 
Inovacao
InovacaoInovacao
Inovacao
 
INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL
INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL
INDUSTRIAL E POLÍTICA EM PORTUGAL
 
Web quest indústria
Web quest indústriaWeb quest indústria
Web quest indústria
 
Web quest indústria
Web quest indústria Web quest indústria
Web quest indústria
 
apostila empreendedorismo.pdf
apostila empreendedorismo.pdfapostila empreendedorismo.pdf
apostila empreendedorismo.pdf
 
Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...
Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...
Caso empresa metal américa s a emissão de debêntures e processo de incorporaç...
 
Programa de Capacitação Petróleo e Gás
Programa de Capacitação Petróleo e GásPrograma de Capacitação Petróleo e Gás
Programa de Capacitação Petróleo e Gás
 
Caso da autolatina
Caso da autolatinaCaso da autolatina
Caso da autolatina
 
Debates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice Lahorgue
Debates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice LahorgueDebates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice Lahorgue
Debates FEE - Desenvolvimento local e o Rio Grande do Sul - Maria Alice Lahorgue
 
enanpad1999-act-02.pdf
enanpad1999-act-02.pdfenanpad1999-act-02.pdf
enanpad1999-act-02.pdf
 
Road map
Road mapRoad map
Road map
 
Inovacao e desenvolvimento iva moura #c&t
Inovacao e desenvolvimento iva moura #c&tInovacao e desenvolvimento iva moura #c&t
Inovacao e desenvolvimento iva moura #c&t
 

Mais de JosLuizLunaXavier

Programmez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdf
Programmez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdfProgrammez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdf
Programmez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdfJosLuizLunaXavier
 
Pour la Science - Juin 2016.pdf
Pour la Science - Juin 2016.pdfPour la Science - Juin 2016.pdf
Pour la Science - Juin 2016.pdfJosLuizLunaXavier
 
Autocad 3D guide de référence.pdf
Autocad 3D guide de référence.pdfAutocad 3D guide de référence.pdf
Autocad 3D guide de référence.pdfJosLuizLunaXavier
 
Entreprise & carrieres 29 novembre 2021
Entreprise & carrieres   29 novembre 2021Entreprise & carrieres   29 novembre 2021
Entreprise & carrieres 29 novembre 2021JosLuizLunaXavier
 

Mais de JosLuizLunaXavier (9)

Pour_la_Science_2022_02.pdf
Pour_la_Science_2022_02.pdfPour_la_Science_2022_02.pdf
Pour_la_Science_2022_02.pdf
 
Pour la Science 2021 04.pdf
Pour la Science 2021 04.pdfPour la Science 2021 04.pdf
Pour la Science 2021 04.pdf
 
Programmez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdf
Programmez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdfProgrammez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdf
Programmez! - Hors-Serie - Automne 2021.pdf
 
Pour_la_Science_2019_02.pdf
Pour_la_Science_2019_02.pdfPour_la_Science_2019_02.pdf
Pour_la_Science_2019_02.pdf
 
Pour_la_Science_2018_05.pdf
Pour_la_Science_2018_05.pdfPour_la_Science_2018_05.pdf
Pour_la_Science_2018_05.pdf
 
Pour la Science - Juin 2016.pdf
Pour la Science - Juin 2016.pdfPour la Science - Juin 2016.pdf
Pour la Science - Juin 2016.pdf
 
Autocad 3D guide de référence.pdf
Autocad 3D guide de référence.pdfAutocad 3D guide de référence.pdf
Autocad 3D guide de référence.pdf
 
Entreprise & carrieres 29 novembre 2021
Entreprise & carrieres   29 novembre 2021Entreprise & carrieres   29 novembre 2021
Entreprise & carrieres 29 novembre 2021
 
E commerce - decembre 2021
E commerce - decembre 2021E commerce - decembre 2021
E commerce - decembre 2021
 

Último

COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamentalAntônia marta Silvestre da Silva
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médiorosenilrucks
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 

Último (20)

COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 

CENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdf

  • 1. I Seminário de Pós-Graduandos em Ciências Sociais do estado do Rio de Janeiro http://sepocs.blogspot.com/ sepocsrio@gmail.com I Seminário de Pós-Graduandos em Ciências Sociais do estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 28 de novembro a 2 de dezembro de 2011. CENPES-Petrobras: capacitação tecnológica e redes de conhecimento em uma empresa da periferia econômica mundial Victor Mourão1 Resumo Breve O texto é uma discussão sobre o processo de capacitação tecnológica offshore na Petrobras. Argumenta-se que condições e estratégicas específicas, adotadas pela empresa, abriram a possibilidade para que uma empresa da periferia do capitalismo pudesse se capacitar e se posicionar na fronteira tecnológica em sua área de atuação, não só importando tecnologia mas desenvolvendo-a em cooperação com parceiros, empresas e instituições científicas. Um processo contínuo e incremental de construção de capacidades técnicas no interior da empresa é ressaltado, além da sua disposição de constituir redes de conhecimento com firmas fornecedoras e instituições de pesquisa. Palavras-chave: Petrobras; Inovação; Desenvolvimento; Redes de Conhecimento; Tecnologia. 1 Doutorando em Sociologia (IESP-UERJ). Bolsista Capes. Email: vmourao at iesp.uerj.br
  • 2. 2 Introdução Os desenvolvimentos e transformações vivenciados pelas economias nacionais, comumente referidos como processo de globalização, têm sido interpretados pelos analistas e pesquisadores de maneiras diversas. A crescente importância da competitividade para uma inserção adequada de uma economia nacional no âmbito econômico internacional é um aspecto frequentemente ressaltado. Esse plano é ainda mais fundamental para as economias nacionais inseridas tardiamente neste sistema econômico, ou mesmo ainda de modo periférico. Para além da presença de mão-de-obra barata e da existência de matéria-prima no território, o aspecto fundamental que se ressalta nestas análises é a questão da inovação, ou da capacidade das economias e de seus diferentes setores de lograrem um processo de capacitação técnica e tecnológica e de invenção de novos produtos e processos produtivos que permita que avancem na direção de uma maior agregação de valor aos seus produtos e serviços. Neste texto, tento apreender, através da literatura existente, os processos relativos à capacitação tecnológica que envolveram (e envolvem) a Petrobras, tida como exemplo de empresa do capitalismo tardio e periférico. Claro está que não há uma tentativa de se criar um modelo, via o exemplo da Petrobras, para o planejamento de empresas de países em desenvolvimento – mas o estudo de sua trajetória pode revelar as possibilidades e limitações que estas empresas podem encontrar. A posição da Petrobras no imaginário nacional é central. Uma abordagem de sua história, tendo momentos marcados por grandes movimentos sociais em torno da definição político- estratégica da empresa (i.e. movimento Petróleo é Nosso na década de 1950; a década de 1990 e as denunciadas tentativas de privatização da empresa), é fundamental para se entender as opões estratégicas e a importância das atividades colocadas pela empresa para o país, seja no âmbito de sua cadeia produtiva, seja no âmbito das capacitações tecnológicas e da rede de conhecimento que a perpassa. Vários trabalhos sobre a empresa já foram realizados, tendo em vista seja seu momento original fortemente enraizado em movimentos sociais nacionalistas (Cohn, 1968), seja sua capacidade de atuação (e de seus executivos) para realizar uma estratégia autônoma ao longo de sua história (Alveal, 1993). Há ainda uma ampla pesquisa
  • 3. 3 sobre a história da Petrobras focada em entrevistas com pessoas-chave na constituição da empresa, realizadas pelo CPDOC/FGV (Dias e Quaglino, 1993), além de uma literatura que se poderia considerar engajada (Vidal e Vasconcellos, 2001). Porém, no que tange aos nossos interesses específicos relativos à capacitação técnica e tecnológica da Petrobras, a literatura é menos farta. Ainda assim, estes estudos já nos permitem ter uma visão ampla de alguns processos importantes que se passaram dentro da empresa, colocando pontos importantes a serem debatidos, como os momentos de inflexão na trajetória tecnológica da empresa e as redes de conhecimento e aprendizagem tecidas pela empresa ao se capacitar. O texto tem 4 seções, além desta introdução. Uma primeira seção explicita as trajetórias de investimento e tecnológica da empresa, com especial atenção ao período anterior aos choques do Petróleo na década de 1970. Uma segunda seção trata basicamente dos Programas de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (PROCAP), um programa de capacitação tecnológica offshore que representa uma ruptura fundamental da trajetória tecnológica na história da Petrobras. Na seção seguinte, apresentam-se pesquisas que tratam de algumas dimensões relativas a esses processos de capacitação tecnológica empreendida pelos PROCAPs, relativos à constituição de redes de conhecimentos, ampliação da capacidade de absorção e de inovação tecnológicas, além da constituição de relações com firmas fornecedoras para o offshore. Por último, uma seção conclusiva retoma os pontos principais levantados ao longo do texto, além de apresentar alguns dos desafios e possibilidades colocados pela descoberta do Pré-Sal. Criação da Petrobras: Desafios Técnicos e Tecnológicos A Petrobras foi criada na década de 1950 em meio a um forte movimento nacionalista. Porém, criar uma empresa petroleira não depende apenas de vontade social. O processo de estabelecimento da empresa tinha basicamente dois grandes desafios a serem enfrentados: um propriamente relacionado ao estabelecimento das atividades que envolvem a cadeia de produção do petróleo (que vai desde a exploração de poços e a extração do petróleo, até o downstream com o refino e a produção de derivados, sem nos esquecermos da logística de
  • 4. 4 transporte e de venda); e outro ligado à constituição de um parque industrial de fornecedores de instrumentos e máquinas para suas atividades. Necessitava-se criar experiência produtiva na indústria, constituir um tecido industrial de fornecedores, para lograr implantar as suas atividades produtivas2 . Como questão transversal, havia o problema fundamental de constituição de recursos humanos capazes de prover tais atividades e serviços. O CENAP (Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisa de Petróleo), órgão criado em 1955 em colaboração com a antiga Universidade do Brasil, ia nesta direção, de capacitar recursos humanos para levar adiante as atividades produtivas da empresa, além de constituir uma base de pesquisa que pudesse auxiliar a empresa em suas soluções tecnológicas e científicas (Furtado, 1997:12). Em 1966, essa base foi utilizada para a criação do CENPES (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), que em 1973 se estabeleceria na Ilha do Fundão. Porém, a interação com os departamentos operacionais ainda era baixa, e estes continuavam comprando tecnologia importada. Neste momento a maior parte das atividades de pesquisa realizadas no Centro se voltava para o downstream. A expansão se dava no âmbito da pesquisa química, do refino e da petroquímica (Furtado, 1997:12). Havia, assim, um lag, uma falta de interatividade, no interior da empresa, entre os órgãos de pesquisa e de operação. Em um momento anterior aos choques do petróleo na década de 1970, a trajetória de investimento da empresa como um todo por vezes se aproximou de uma busca mais intensa por fontes próprias de petróleo bruto, por vezes foi fortemente na direção da constituição de um parque de refino nacional que pudesse beneficiar a matéria-prima importada. Estes dois pólos de orientação, embora não excludentes, alternar-se-iam na trajetória de investimentos da empresa, ora com uma busca mais intensa por óleo bruto nacional, ora com um investimento industrialista mais forte. Durante o período 1970-1977, há um inequívoco esforço na direção downstream (refino e petroquímica), relegando a segundo plano boa parte da seção de exploração e produção de petróleo pela empresa (cf. quadro de investimentos da empresa em Alveal, 1993:96). Era o período áureo do processo de substituição de importações, voltado 2 A Petrobras desempenhou importante papel na dinamização do capital privado, atuando tanto na constituição do órgão estatal voltado para a indústria de bens de capital (Comissão da Indústria Pesada) quanto na criação da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base (ABDIB) (Alveal, 1993:76).
  • 5. 5 para a industrialização da economia nacional, ainda que seus limites já estivessem no horizonte de alguns economistas e pensadores da época (Tavares, 1978). Esse processo de investimento no segmento downstream sofreu um revés com a subida do preço do petróleo, e, especialmente após o choque de 1979, há uma concentração recorde de investimento na área de exploração e produção (que chega a representar mais de 90% dos investimentos anuais da empresa na década de 1980). É esta guinada para o upstream que permitirá que os departamentos operacionais e de pesquisa se entrosem, a partir do final dos anos 1970 (Furtado, 1997:13). Neste momento, nada há de excepcional nos movimentos da empresa brasileira. Há uma convergência na estratégia das grandes empresas petroleiras internacionais na direção da busca por petróleo de difícil acesso (Shah, 2007), devido ao esgotamento parcial de parte das reservas de acesso imediato (i.e. Texas) e ao controle nacional (e, portanto, fora do alcance das grandes empresas internacionais) de grande parte das reservas remanescentes. Em caso de conflito político e guerras, o acesso ocidental ao bem energético estratégico poderia ser prejudicado. A indústria offshore do petróleo tem seu início na década de 1950, no Golfo México, se expandindo posteriormente para o Mar do Norte (Furtado, 1997), em condições bem adversas de temperatura e correntes oceânicas (Shah, 2007). Seu desenvolvimento tecnológico vai, basicamente, na direção de sistemas de produção que sejam adequados à exploração comercial de jazidas localizadas em águas profundas. O Mar do Norte foi o local onde se desenvolveram os primeiros sistemas de produção flutuante (SPF), compostos de árvores de natal molhadas (ANM), template, risers e barco. Foi esse o sistema predominantemente utilizado pela Petrobras na exploração da Bacia de Campos. Vários conceitos de sistemas de produção alternativos emergiram ao longo da década de 1980, como as tension-leg (TLP) e as plataformas de torre complacente (Furtado, 1997:8-9). Concebido inicialmente para ser um sistema provisório de produção, o SPF se tornou a escolha dominante pela impossibilidade técno-econômica de realização da produção em plataformas fixas, predominantes até então. Assim, o movimento realizado pela Petrobras, orientado para a exploração offshore entre as décadas de 1970 e 1980, não teve nada de extraordinário, e atendia a uma estratégia
  • 6. 6 fortemente influenciada por um contexto de alto preço do petróleo e de fragilidade na balança de pagamentos nacional. O contra-choque do petróleo, que em 1986 sofreu uma baixa inédita no seu preço, ofereceu uma situação onde a posição da empresa foi distinta. Enquanto as empresas petrolíferas abandonaram seus projetos de desenvolvimento tecnológico offshore e de busca por petróleo em águas profundas, a empresa criou o que hoje é visto como o principal programa tecnológico de sua história, o PROCAP, programa de capacitação tecnológica para exploração e produção em águas profundas, exatamente orientado para esta área abandonada pelas outras empresas. Esse momento representou uma janela de oportunidades para a empresa, pois a guinada upstream, junto com a experiência adquirida em capacitação através de um projeto desenvolvido durante a operação de sistemas de produção na Bacia de Campos nas décadas de 1970 e 1980 e a descoberta de novos reservatórios gigantes nesta mesma região abriram a possibilidade real, talvez pela primeira vez na história da companhia, de se atingir a auto- suficiência produtiva em petróleo. Os desafios tecnológicos, no entanto, eram enormes, já que sistemas de produção em águas mais profundas que 400 metros não existiam na época, nem mesmo internacionalmente. Se até este momento a empresa adquiria externamente as tecnologias para depois dominá-las, a perspectiva de criação de uma tecnologia não disponível internacionalmente representava um desafio que, enfrentado com sucesso, poderia levá-la à fronteira tecnológica offshore mundial (Furtado, 1997:15). PROCAP: Aprendizagem na Periferia O PROCAP é basicamente uma solução de continuidade tecnológica, de alongamento dos limites de tecnologias já conhecidas e utilizadas, as redesenhando e aperfeiçoando. Foi desenvolvido entre 1986 e 1992 e foi altamente exitoso, ganhando o OTC (Offshore Technology Conference) Distinguished Achievement Award em 1992. Neste programa desenvolveu-se uma série de tecnologias ligadas a este desafio de exploração de petróleo em águas profundas: sondas, que depois viraram barcos-sonda, estes depois tornando-se pequenas plataformas de petróleo; tecnologias de perfuração, que permitem que se alcance profundidades crescentemente maiores; plataformas flutuantes, pois antes as plataformas de
  • 7. 7 extração em mar eram fixas; árvore de natal “molhada” (parte principal do sistema de extração de petróleo, replanejada para subsea); riser (dutos para condução do petróleo submarino até a plataforma), feitos agora de poliéster3 . O PROCAP permitiu um acúmulo de capacidades técnicas no interior da empresa em aliança com seus parceiros de cooperação científica, permitindo uma ampliação da capacidade endógena de pesquisa, desenvolvimento e inovação colaborativa4 . Porém, como mostrado rapidamente na seção anterior, a experiência tecnológica offshore da empresa não começa com o PROCAP, tendo seu início cerca de duas décadas antes, a partir das descobertas do Campo de Guaricema (SE), em 1968, e do Campo de Garoupa, na Bacia de Campos, em 1974. Esse processo anterior de adaptação e utilização de tecnologia importada foi fundamental para os processos que se desenrolaram posteriormente (Ortiz Neto e Costa, 2007:102). Assim, apesar do sucesso do programa e de se haver chegado à fronteira tecnológica offshore, o processo de desenvolvimento tecnológico foi baseado em inovações incrementais sobre conhecimento já adquirido. “Entre 1977 e 1983, foram concebidos e postos em operação 14 SPA (Sistemas de produção Antecipada). O domínio que a empresa adquiriu sobre essa tecnologia, que exigiu o desgargalamento de certos problemas, como os de conexão, processamento e escoamento da produção, permitiu transformar os SPA em sistemas de produção permanentes, ou seja, em SPF” (Furtado, 1997:15). Em 1986, ano que marca o início do PROCAP, já havia onze SPF operando na Bacia de Campos, produzindo 145 mil barris de petróleo diários (Furtado, 1997). Essa capacidade técnica prévia foi a base para a evolução que se daria com a realização do Programa a partir da segunda metade da década de 1980, e localizava-se não apenas nos centros de pesquisa, mas no próprio departamento operacional da empresa. Em 1983, vários dos engenheiros de 3 Entre vários dos aliados do CENPES em suas pesquisas, cito, a partir do texto, alguns: Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ); Cepetro (Centro de Estudos em Petróleo da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp); Poli-USP; Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo; fornecedores, como Cordoaria São Leopoldo (riser de poliéster); americana SGI (supercomputadores); estaleiros nacionais e internacionais. 4 André Furtado e Adriana Freitas (2004) mostram que até mesmo projetos tecnológicos da Petrobras que não tiveram sucesso comercial produziram, ainda assim, impactos econômicos indiretos e aumento da eficiência da empresa, calculado pelos autores como sendo sete vezes maior do que os custos envolvidos nos projetos.
  • 8. 8 produção que implantaram os sistemas de produção na Bacia de Campos ao longo da década anterior foram incorporados ao CENPES (Furtado, 1997:14). E não só: “Na realidade, a consolidação de uma capacidade de concepção de sistemas de produção offshore, não emanou propriamente do Cenpes. Ela surgiu diretamente nos departamentos operacionais. Em função da implantação de unidades de produção antecipada, desde o final da década de 70, formaram-se grupos de engenheiros capazes de conceber esses sistemas do Depro (Departamento de produção) e no Gespa (Grupo Especial de Sistema de Produção Antecipada), que reunia técnicos de vários departamentos [...]. A concepção e operação desses sistemas produtivos requeriam uma dose importante de criatividade por parte das equipes brasileiras e foram o embrião dos conceitos posteriormente desenvolvidos pelo Cenpes.” (Furtado, 1997:14). Assim, ao optar por uma solução tecnológica baseada em um sistema de produção já dominado, a estratégia de desenvolvimento tecnológico teve um caráter coerente e incrementalista. A trajetória tecnológica offshore não estava consolidada, e as escolhas que a Petrobras fez para o PROCAP foram as que permitiram que uma empresa situada em um país periférico assumisse liderança tecnológica por meio de inovações incrementais, enquanto outras empresas descontinuaram o processo de inovação tecnológica offshore ou ainda optaram por sistemas que não se consolidaram. Os SPF desenvolvidos pela Petrobras mostraram-se os mais capazes de produção em águas profundas e permitiram que a Petrobras detivesse, desde o começo da década 1990, os recordes de profundidade em lâmina d’água de produção offshore, de maneira quase ininterrupta. André Furtado pergunta-se por que razão teria a empresa optado pelo desenvolvimento interno da tecnologia, já que existiam concepções adequadas nas pranchetas de empresas de engenharia e centros de pesquisa europeus e americanos. “A razão reside no domínio que ela adquirira sobre a tecnologia dos SPF a partir da operação e concepção de sistemas de produção antecipada. Outra razão talvez seria o custo elevado e a própria incerteza associados a esses novos desenvolvimentos” (Furtado, 1997:15). Mas acho que a principal razão é o tom nacionalista que sempre acompanhou a empresa, de sua vocação estratégica, voltada para o desenvolvimento nacional. A manutenção dos investimentos em exploração e produção em condições offshore explica-se tanto pela questão fiscal frágil brasileira quanto pelo projeto nacionalista de busca pela autossuficiência neste recurso energético estratégico. A explicação passa por dois sentidos, não-excludentes mas, ao contrário, de reforço mútuo: nacionalismo e crise fiscal do estado. A perspectiva de se “economizar em divisas”, aparece muito nas
  • 9. 9 contabilidades relativas aos PROCAP e à exploração da Bacia de Campos, e tem uma razão de ser relacionada à enorme dívida externa decorrente dos acontecimentos dos anos 1970 que levaram a América Latina como um todo à crise fiscal. O caso da Petrobras demonstra que uma empresa localizada na periferia do sistema capitalista pode posicionar-se na fronteira tecnológica, ainda que a estratégia inovativa seja centrada em inovações incrementais (Furtado, 1997:1). Ao contrário do que usualmente ocorre, a emergência e o desenvolvimento de uma rede de conhecimento em nosso país não se deu com a simples importação e adaptação de saberes constituídos em países estrangeiros desenvolvidos. Esta janela de oportunidade se apresentou na mudança da trajetória tecnológica de exploração de petróleo pela empresa no Brasil de maneira que ela pode se colocar, através de uma série de projetos de desenvolvimento de tecnologia para a área, em um nódulo central (hub) da rede de capacitações tecno-econômicas. Para entender um pouco melhor tal questão, devemos voltar-nos para a apreensão do fenômeno inovativo como uma questão de interação entre os atores do sistema de inovação ligado à tecnologia offshore (Cassiolato, Lastres et al., 1999). Redes de Conhecimento, Aprendizagem e Capacitação Tecnológica Para tentar apreender alguns destes pontos colocados pela importância da interação entre os atores do sistema de inovação para o processo inovativo, podemos nos voltar para a constituição de redes tecno-científicas empreendidas pela Petrobras. Os estudos de Eva Dantas e Martin Bell debruçam-se exatamente sobre tal objeto, e são particularmente interessantes por várias razões. Colocando-se no interior do debate sobre sistemas de inovação, os autores se concentram em um dos “building blocks” desta abordagem sistêmica e interativa da inovação: o das redes de conhecimento (Dantas e Bell, 2009:829). O seu foco é a área de offshore e a construção de redes de conhecimento e de capacitações técnicas em seu entorno. Um estudo bastante amplo, que realizou mais de 100 entrevistas semi-estruturadas, se configura como uma base empírica ampla para as informações e análises colocadas. Seu propósito visa estabelecer não só o retrato da rede contemporaneamente, mas como ela
  • 10. 10 emergiu e se desenvolveu ao longo dos anos. Para tal, desenvolve uma tipologia de redes de conhecimento de acordo com certas propriedades, tais como o grau de intencionalidade implicado no desenvolvimento da rede; o nível das atividades de acumulação tecnológica com a qual a rede está engajada; os conteúdos e as direções dos fluxos de conhecimento; as fontes de conhecimento; e a divisão de trabalho na produção de conhecimento entre o ator-nó central e os outros atores. A partir destas propriedades, compõe-se a tipologia em 4 momentos (não necessariamente sucessivos nem mutuamente-excludentes): o passive learning networks: atividades são basicamente as de aquisição e assimilação de bens, serviços, know-how operacional, com uma assimetria de produção de conhecimento; o active learning networks: atividades são voltadas para aprendizado e absorção dos conhecimentos em design e em ciência e tecnologia implicados nas tecnologias, com fluxos predominantemente unidirecionais de conhecimento e participação crescente na produção de conhecimento por meio de arranjos basicamente assimétricos; o innovation networks: atividades são voltadas para inovação e absorção de conhecimento em C&T de novos conceitos, com fluxos predominantemente bidirecionais de conhecimento em design e em C&T, com produção simétrica de conhecimento especializado; o strategic innovation networks: atividades de acúmulo de conhecimento tecnológico junto a atividades de transferência de tecnologia para parceiros; há uma combinação de fluxos bidirecionais com unidirecionais (reversos ou não) nos fluxos de conhecimento em design e em C&T e de produção simétrica e assimétrica de conhecimento especializado5 . Os resultados da pesquisa mostram que, nas redes de conhecimentos relativas à produção offshore de petróleo, a empresa passou de uma situação de passive learning a uma situação de strategic innovation networks. Os autores definem alguns períodos, marcando os momentos 5 Uma crítica possível a essa tipologia é a de que ela mantém uma dualização entre inovação e aprendizagem que deve ser evitada. Assim, a idéia de que se passa de uma rede ativa de aprendizagem para uma rede inovativa esquece que, desde a primeira, já há inovações e, na segunda, não se interrompe a aprendizagem. Acho que uma possível solução seja a de retomar algumas características colocadas por Callon (1991) e tratar a tipologia de redes de acordo com as convergências e os números de atores envolvidos.
  • 11. 11 de transição: (1) do final dos anos 1960 até 1984: da rede de aprendizado passiva para uma ativa; (2) de 1985 a 1991: consolidando uma rede de aprendizado ativa e a emergência de uma rede inovativa; (3) 1992-1996: consolidando a rede inovativa e se movimentando em direção a uma rede inovativa estratégica; (4) 1997 até o começo dos anos 2000: consolidando uma rede inovativa estratégica. A empresa e particularmente o CENPES se tornaram uma espécie de hub da rede de capacitação tecno-científica da área de offshore, passando a ser procurado por diversas empresas para levar adiante seus projetos de inovação tecnológica. Assim, levando em conta este estudo e indo adiante com algumas teses de Alice Amsdem (2001), a passagem de uma situação de buyer para uma de technology maker é o resultado do esforço e do processo de acumulação de capacitações no interior da empresa até que se possa inovar e ainda possuir uma visão estratégica do que sejam os seus desafios tecnológicos. Além disso, a predominância de fluxos bilaterais de conhecimento indica que, não sendo apenas uma maker, a empresa também é uma buyer de tecnologia, porém de maneira cooperativa e mais igualitária com seus parceiros de desenvolvimento tecno-científico. Daí a importância de uma concepção qualitativa no desenvolvimento de redes de conhecimento, que se afaste dos predominantes diagnósticos quantitativos da insuficiência de gastos em P&D e em C&T nos países em desenvolvimento, pois o valor gasto pode não ser proporcional ao aprendizado realizado – e, tendencialmente, quanto menos se sabe, mais se gasta, como indicado no estudo de Furtado e Freitas (2004). Além disso, os autores, em um trabalho recente (Dantas e Bell, 2011), estabeleceram uma relação entre as capacidades internalizadas na empresa com o desenvolvimento das redes de conhecimento nas quais ela se insere. Há uma interação entre as redes e as capacidades: a mudança qualitativa das redes de conhecimento está relacionada a “entry tickets” capacitacionais. Leva-se, assim, a uma questão fundamental no sentido de se entender processos de inovação das firmas: esta capacitação interna não é apenas necessária para a absorção de tecnologia, mas para a própria progressão tecnológica da empresa no sentido de participar de redes de conhecimento mais intensivas tecnologicamente. Na própria terminologia dos autores, e seguindo as quatro etapas temporais estabelecidas para as redes de conhecimento da Petrobras, teríamos no primeiro período, da década de 1960 até 1984, o predomínio de “assimilation capabilities”; no segundo período, de 1985-1991,
  • 12. 12 “adaptive capabilities”; no terceiro período, de 1992-1996, “generative capabilities”; e no quarto período, de 1997 até meados da primeira década deste novo milênio, “strategic capabilities”. Há uma co-evolução entre redes de conhecimento e capacidades, e estas permitem e constrangem a participação da empresa naquelas. Ou seja, a elevação das capacidades em um dado momento serve como tíquete de entrada para novas redes de conhecimento; de maneira inversa e de reforço mútuo, a participação nestas permite que se consolidem aquelas capacidades, permite a emergência de novas habilidades. É uma visão que se poderia denominar gradualista: são pequenos esforços contínuos e renitentes que, após um processo longo de acumulação e entronização de capacidades no interior da firma, permite que esta tenha um desempenho inovativo que se aproxima da fronteira tecnológica. Não há como dar “saltos” nos níveis de capacitação e de conhecimento: “In the mid 1980s, Petrobras had achieved Adaptive Capabilities in [instrumented pigs, dispositivo que percorre os dutos de petróleo para detectar irregularidades], based on an RD&E group studying and absorbing inspection techniques and methodologies. But the company had no experience in developing equipment to incorporate such inspection techniques (i.e., no prior Generative Capabilities). Petrobras nevertheless made two attempts to collaborate with domestic supply companies to develop instrumented pigs (i.e., to engage in Innovation Networks). Both of these were unsuccessful largely because it had not built internally the capabilities for developing new equipment and was not able to properly formulate the technical problems to be tackled in the collaborations” (Dantas e Bell, 2011:10). Há também a conformação de outros tipos de redes, que não obstante envolvem um forte esforço inovativo e tecnológico. Em sua tese de doutorado, Alexis Dantas (1999) se volta para o estudo das parcerias entre a Petrobras e seus fornecedores de bens e serviços críticos ao processo produtivo do petróleo offshore. Pelas especificidades das tecnologias envolvidas, trata-se de sistemas industriais complexos, que implicam em uma dinâmica de requisitos de performance de complexidade crescente, além do fortalecimento dos vínculos técnico- produtivos entre os agentes envolvidos, especialmente no que se refere à ligação entre produtor-usuário, entre o fornecedor para-offshore e a Petrobras (Dantas, 1999:143). O empreendimento inovativo na área de fornecimento de equipamentos para a área offshore requer uma variedade de conhecimentos e habilidades, impondo requisitos de coordenação organizacional ao sistema: eficiência inovativa e tecnológica. Dentro deste contexto, a interdependência entre os agentes é central, assim como a necessidade de estabelecimento de
  • 13. 13 relações de longo prazo entre eles. A tarefa de coordenação desta rede de firmas é fundamentalmente desempenhada pela Petrobras, como firma principal, pela sua capacidade financeira e por sua habilidade de identificar gargalos técnicos ao operar as tecnologias (Dantas, 1999:144). Duas maneiras são utilizadas pela Petrobras para realizá-los: a formalização de contratos formais (Termos de Cooperação) e a Política de Compras da empresa. Estes termos de cooperação técnica permitem uma interação maior entre os agentes envolvidos no processo inovativo, prevendo em seus contratos o acesso de técnicos da Petrobras ao desenvolvimento realizado pela firma fornecedora, a definição inicial das especificações e os testes dos protótipos e produtos finais com a participação de pesquisadores do Cenpes, além do financiamento dos protótipos pela Petrobras (Dantas, 1999:148). Eles promovem o aprendizado pela interação (Learning by interacting). A partir desses estudos, podemos perceber de maneira um pouco mais clara o que significa realizar esforços de capacitação tecnológica e de aprendizado em um país em desenvolvimento. A construção de capacidades técnicas e de aprendizado depende de um processo de maturação longo que, no caso da Petrobras e dos agentes correlatos, foi possibilitado por uma série de fatores diversos, indo desde a posição de sua empresa-mãe no imaginário brasileiro desenvolvimentista, até a gestão administrativa eficiente e do esforço substancial de criação de recursos humanos e de desenvolvimento de redes de cooperação e de parcerias de colaboração tecnico-científicas com universidades e empresas, tanto no âmbito regional e nacional, quanto no internacional. Desafios do Pré-Sal E, mesmo com o passado notável de capacitação tecnológica offshore, os próximos momentos parecem ainda mais esperançosos para o setor no Brasil. A descoberta recente do Pré-sal coloca incentivos e desafios da mesma ordem em sua exploração e produção comercial. Segundo dados do diretor financeiro da empresa, a previsão é de que a Petrobras quase triplique a produção equivalente de óleo até 2020, chegando a 6 milhões de barris por dia
  • 14. 14 (apenas 6% dessa produção se daria fora do território nacional) (Ellsworth, 2011). A plataforma P-56 alcançou 72,9% de conteúdo nacional, um marco inédito para a história industrial para-petrolífera nacional (Poder Naval, 2011). No que tange aos investimentos relativos ao pólo Pré-sal na Bacia de Santos, espera-se, para o período de 2011-2015, um investimento de U$73 bilhões, um aumento de 63% em relação à previsão anterior (Lima, 2011). A instalação de vários centros de pesquisa de fornecedores internacionais da empresa no Rio de Janeiro (i.e. Schlumberger, Baker Hughes, FMC Technologies, além de indicações no mesmo sentido vindos da Usiminas; o destino parece ser, invariavelmente, a Ilha do Fundão, onde se localiza o complexo central do CENPES) pode ser vista de forma auspiciosa, e tem relação imediata com a ampliação da produção e da correlata necessidade de serviços e equipamentos. Este movimento poderá ser o primeiro passo de formação de um ambiente semelhante ao existente em outras conformações geográficas inovativas (cujo grande símbolo é o Vale do Silício) e que, possivelmente, não se restringirá ao desenvolvimento de tecnologia ligada à exploração e produção do Pré-Sal, tendo importantes spin-offs no processo. Em uma entrevista recente, Carlos Tadeu Fraga, gerente executivo do CENPES, dá algumas informações sobre a dimensão das atividades do centro e em seu entorno. “Hoje nós temos 50 redes, que funcionam de maneira bastante alinhada com os nossos desafios tecnológicos. Nós identificamos 50 temas de interesse tecnológico da Petrobras e as universidades brasileiras que têm maior capacitação em cada um desses temas. No conjunto das redes, nós temos cerca de 80 universidades e institutos de pesquisas brasileiros participando. É um movimento de abrangência nacional, muitas universidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, obviamente, mas muitas universidades da região Nordeste, da região Sul, da região Norte, do Centro-Oeste. A área construída de laboratórios novos ou de laboratórios reformados dessas universidades corresponde a quatro vezes a área do Cenpes, é como se tivéssemos multiplicado por quatro a nossa capacidade experimental, com as construções dessas redes e da infraestrutura associada” (Portal Revista Fator, 2011). Essa grande infraestrutura científica tem um enorme potencial inovativo, se levarmos em conta as possibilidades de interação por ela colocadas, aproximando o CENPES de vários grupos de pesquisas universitários de todas as regiões brasileiras. Uma hélice tripla nacional pode ser desde já antevista, ainda que os mecanismos práticos da elaboração e difusão de inovações não possam ser imediatamente percebidos. Tudo isto envolve somas gigantescas de recursos financeiros para investimento, recursos materiais em máquinas e equipamentos e em
  • 15. 15 recursos humanos de capacidade técnica altamente especializada que coloquem tal Centro (junto à empresa como um todo) no núcleo das esperanças de desenvolvimento do país, especialmente após a descoberta do Pré-Sal. “Tudo isso [os grandes investimentos em tecnologia e recursos humanos devido ao Pré-Sal] traz um novo vetor de desenvolvimento econômico e social para o país. O pré-sal tem atrativos do ponto de vista tecnológico, questões atraentes para que a Petrobras possa trabalhar e aprimorar os métodos e processos que hoje nós já aplicamos nos poços que já estão em produção nos sistemas de teste de longa duração e mais do que a Petrobras, o pré-sal é para o país uma grande plataforma de desenvolvimento. A Petrobras vai estar como já tem feito, trabalhando em articulação com nossos principais fornecedores de bens, fornecedores de serviços, com as universidades, com institutos de pesquisas para melhor aproveitar essa oportunidade” (Portal Revista Fator, 2011). Na recente Offshore Technology Conference (OTC), a palestra de Carlos Tadeu Fraga, gerente executivo do CENPES, destacou que mais de ¼ das atividades mundiais em águas profundas é realizado pela Petrobras atualmente. A tendência, com o Pré-Sal, é que se ampliem, e em larga escala. Os níveis de investimento nessa área são muito maiores que de seus concorrentes. As regras relativas à política de compras da Petrobras, com conteúdo localmente produzido, parecem estar surtindo efeito (Landim, 2011). E, como podemos vislumbrar a partir do momento atual, tudo indica que o futuro da exploração de petróleo no Brasil, tendo em vista a alta internacional de seu preço, vá na direção do Pré-Sal e da resolução dos problemas tecno-econômicos associados a tal desafio. Haveria assim um cenário indicativo de continuidade na trajetória iniciada há mais décadas atrás, cuja cumulatividade técnica e de conhecimentos já se mostrou. Porém, uma série de decisões políticas deve ser tomada para que haja aproveitamento do potencial de desenvolvimento aberto pela descoberta do Pré-Sal. O debate sobre o marco regulatório do Petróleo no Brasil, ainda em andamento, é fundamental. Uma discussão sobre este ponto aqui ultrapassaria os limites deste texto. Mas deve-se evitar a persistência de um câmbio valorizado em tempos de quantitative easing, de alta desregulação financeira e de uma balança de comércio crescentemente focada em commodities. Além disso, é fundamental que haja orientação das verbas provenientes dos royalties para a capacitação tecnológica e científica da sociedade brasileira, além de sustentar uma política social, educacional e de saúde adequadas para um país desenvolvido. A janela de oportunidades está aberta para o
  • 16. 16 Brasil – a própria presidenta reconheceu em seu discurso de posse a possibilidade de tornar desenvolvido o nosso país. É preciso um projeto político e social que possa levar adiante as ações que tornem tal sonho realidade.
  • 17. 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVEAL, C. Os Desbravadores: A Petrobrás e a construção do Brasil Industrial. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1993. AMSDEM, A. H. The Rise of "The Rest": Challenges to the West from Late-Industrializing Economies. New York: Oxford University Press, 2001. CALLON, M. Techno-Economic Networks and Irreversibility. In: LAW, J. (Ed.). A Sociology of Monsters: Essays on Power, Technology and Domination. London: Routledge, 1991. p.132-165. CASSIOLATO, J. E. et al. Globalização e Inovação Localizada. In: CASSIOLATO, J. E. e LASTRES, H. M. M. (Ed.). Globalização e Inovação Localizada: Experiências de Sistemas Locais no Mercosul. Brasília: IBICT/MCT, 1999. COHN, G. Petróleo e Nacionalismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968. DANTAS, A. T. Capacitação Tecnológica de Fornecedores em Redes de Firmas: O Caso da Indústria do Petróleo Offshore no Brasil. 1999. (Doutorado). Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. DANTAS, E.; BELL, M. Latecomer firms and the emergence and development of knowledge networks: The case of Petrobras. Research Policy 38, p. 829-844, 2009. DANTAS, E.; BELL, M. The Co-Evolution of Firm Centered Knowledge Networks and Capabilities in Late Industrializing Countries: The Case of Petrobras in the Offshore Oil Innovation System in Brazil. World Development, 2011. Disponível em: < http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0305750X11000210 >. DIAS, J. L. D. M.; QUAGLINO, M. A. A Questão do Petróleo no Brasil: Uma História da Petrobrás. Rio de Janeiro: CPDOC/SERINST (Fundação Getúlio Vargas - Petróleo Brasilero S.A.). 1993. Disponível em: < http://hdl.handle.net/10438/6731 >. ELLSWORTH, B. Petrobras pode quase triplicar produção em dez anos. Rede Brasil Atual 2011. Disponível em: < http://www.redebrasilatual.com.br/temas/economia/2011/06/petrobras-pode- quase-triplicar-producao-em-10-anos >.
  • 18. 18 FURTADO, A. T. A Trajetória Tecnológica da Petrobrás na Produção Offshore. Textos Para Discussão no. 18. Campinas: Departamento de Política Científica e Tecnológica (UNICAMP) 1997. Disponível em: < http://geo25.ige.unicamp.br/site/publicacoes/dpct/Texto-18.doc >. FURTADO, A. T.; FREITAS, A. G. Nacionalismo e Aprendizagem no Programa de Águas Profundas da Petrobras. Revista Brasileira de Inovação, vol. 3, no. 1, 2004. Disponível em: < http://www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/rbi/article/view/266 >. LANDIM, R. Mares de Almirante. Folha de São Paulo, 13 de maio de 2011. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1305201129.htm; http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-volta-da-era-do-petroleo >. LIMA, K. Petrobrás eleva em 63,3% investimentos no pré-sal. Estado de São Paulo, 30 de abril de 2011. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110430/not_imp712934,0.php; e http://diariodopresal.wordpress.com/2011/04/30/petrobras-amplia-em-633-os-investimentos-no- pre-sal/ >. ORTIZ NETO, J. B.; COSTA, A. J. D. A Petrobrás e a exploração de Petróleo Offshore no Brasil: um approach evolucionário. Revista Brasileira de Economia, v.61, no. 1, p. 95-109, 2007. PODER NAVAL. Petrobras batiza plataforma P-56. Poder Naval, 2011. Disponível em: < http://www.naval.com.br/blog/2011/06/02/petrobras-batiza-plataforma-p-56/; e http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-plataforma-petrolifera-nacional >. Acesso em: 2 de junho de 2011. PORTAL REVISTA FATOR. Petrobras na OTC 2010, por Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente executivo do Cenpes. Portal Revista Fator 2011. Disponível em: < http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=115508 >. SHAH, S. A História do Petróleo. Porto Alegre: L&PM, 2007. TAVARES, M. D. C. Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil. In: (Ed.). Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro: Ensaios Sobre Economia Brasileira (7a edição). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. p.27-124. VIDAL, J. W. B.; VASCONCELLOS, G. F. Petrobrás: Um Clarão Na História. Brasília: Editora Sol Brasil, 2001.