1. O documento discute a crise do Islã e as referências históricas feitas por Osama Bin Laden em seus discursos.
2. Faz uma breve descrição da queda do Império Otomano após a Primeira Guerra Mundial e a abolição do Califado em 1924.
3. Explica que esses eventos históricos ainda ecoam fortemente na identidade dos muçulmanos e são usados como justificativa para o terrorismo islâmico.
O documento apresenta 10 mulheres guerreiras da história que lutaram diretamente em batalhas, incluindo Judite da Etiópia, Triêu Thi Trinh do Vietnã, e Budica da Grã-Bretanha que liderou uma rebelião contra os romanos. Outras mulheres listadas são as irmãs Trung do Vietnã, Artemísia I da Cária, Fu Hao da China, Ah-hotep I do Egito, e Joana D'Arc e Zenóbia que lideraram exércitos contra invasores.
O documento descreve a ascensão do Império Cazar entre os séculos VII e X, quando governou uma vasta região entre o Cáucaso e o Volga. Os Cazares desempenharam um papel importante ao deter a expansão árabe na Europa Oriental no início do Califado Islâmico. Embora vivessem principalmente em tendas, os Cazares estavam se transformando em uma nação sedentária com cidades e agricultura. Sua conversão ao Judaísmo no século VIII surpreendeu seus contemporâneos.
1) O documento fornece informações sobre Os Lusíadas, incluindo suas fontes literárias, estrutura e partes.
2) A obra é dividida em dez cantos, com estâncias de oito versos de decassílabos.
3) Camões se inspirou em epopeias como a Odisseia de Homero e a Eneida de Virgílio para narrar a viagem de Vasco da Gama.
Este documento fornece um resumo dos principais reis de Portugal organizados por dinastia, incluindo seus nomes, cognomes, datas de nascimento e morte e fatos marcantes de seus reinados. Cobre os reis das dinastias Afonsina, Avis, Filipina e Bragança.
I. O documento discute a crise do Islão após a Primeira Guerra Mundial, quando o Império Otomano foi desmembrado e os muçulmanos perderam o califado. II. O autor explica como os muçulmanos veem a história como central para sua identidade religiosa, diferentemente dos ocidentais. III. Também discute como as nações do Oriente Médio são em grande parte criações artificiais dos impérios europeus, enquanto os muçulmanos se veem como uma única comunidade religiosa.
1) O texto descreve a ascensão do Império Árabe sob os califas no século VII, conquistando o Império Romano e a Pérsia.
2) Explica como o califa Abd al-Malik estabeleceu a "civilização islâmica" ao substituir as estruturas administrativas por uma burocracia em árabe.
3) Aborda brevemente as Cruzadas e o Império Otomano.
Charles ferguson ball a vida e os tempos do apóstolo pauloAristoteles Rocha
Este documento descreve a vida e o contexto de Paulo em Tarso, sua cidade natal. Tarso era uma importante cidade na província da Cilícia, conhecida por sua cultura e comércio. Paulo recebeu uma educação em retórica e filosofia nas escolas de Tarso, que eram famosas em todo o Império Romano. Tarso era um importante centro de comércio devido à sua localização estratégica nas rotas entre a Ásia e a Europa.
Charles ferguson-ball-a-vida-e-os-tempos-do-apostolo-pauloSilvio Santana
Este documento descreve a vida e o contexto de Paulo em Tarso, sua cidade natal. Tarso era uma importante cidade na província da Cilícia, conhecida por sua cultura e comércio. O documento detalha as escolas, ginásios e teatros da cidade, que influenciaram a educação de Paulo. Também menciona a estratégica localização de Tarso e sua importância como porta de entrada para o Ocidente.
O documento apresenta 10 mulheres guerreiras da história que lutaram diretamente em batalhas, incluindo Judite da Etiópia, Triêu Thi Trinh do Vietnã, e Budica da Grã-Bretanha que liderou uma rebelião contra os romanos. Outras mulheres listadas são as irmãs Trung do Vietnã, Artemísia I da Cária, Fu Hao da China, Ah-hotep I do Egito, e Joana D'Arc e Zenóbia que lideraram exércitos contra invasores.
O documento descreve a ascensão do Império Cazar entre os séculos VII e X, quando governou uma vasta região entre o Cáucaso e o Volga. Os Cazares desempenharam um papel importante ao deter a expansão árabe na Europa Oriental no início do Califado Islâmico. Embora vivessem principalmente em tendas, os Cazares estavam se transformando em uma nação sedentária com cidades e agricultura. Sua conversão ao Judaísmo no século VIII surpreendeu seus contemporâneos.
1) O documento fornece informações sobre Os Lusíadas, incluindo suas fontes literárias, estrutura e partes.
2) A obra é dividida em dez cantos, com estâncias de oito versos de decassílabos.
3) Camões se inspirou em epopeias como a Odisseia de Homero e a Eneida de Virgílio para narrar a viagem de Vasco da Gama.
Este documento fornece um resumo dos principais reis de Portugal organizados por dinastia, incluindo seus nomes, cognomes, datas de nascimento e morte e fatos marcantes de seus reinados. Cobre os reis das dinastias Afonsina, Avis, Filipina e Bragança.
I. O documento discute a crise do Islão após a Primeira Guerra Mundial, quando o Império Otomano foi desmembrado e os muçulmanos perderam o califado. II. O autor explica como os muçulmanos veem a história como central para sua identidade religiosa, diferentemente dos ocidentais. III. Também discute como as nações do Oriente Médio são em grande parte criações artificiais dos impérios europeus, enquanto os muçulmanos se veem como uma única comunidade religiosa.
1) O texto descreve a ascensão do Império Árabe sob os califas no século VII, conquistando o Império Romano e a Pérsia.
2) Explica como o califa Abd al-Malik estabeleceu a "civilização islâmica" ao substituir as estruturas administrativas por uma burocracia em árabe.
3) Aborda brevemente as Cruzadas e o Império Otomano.
Charles ferguson ball a vida e os tempos do apóstolo pauloAristoteles Rocha
Este documento descreve a vida e o contexto de Paulo em Tarso, sua cidade natal. Tarso era uma importante cidade na província da Cilícia, conhecida por sua cultura e comércio. Paulo recebeu uma educação em retórica e filosofia nas escolas de Tarso, que eram famosas em todo o Império Romano. Tarso era um importante centro de comércio devido à sua localização estratégica nas rotas entre a Ásia e a Europa.
Charles ferguson-ball-a-vida-e-os-tempos-do-apostolo-pauloSilvio Santana
Este documento descreve a vida e o contexto de Paulo em Tarso, sua cidade natal. Tarso era uma importante cidade na província da Cilícia, conhecida por sua cultura e comércio. O documento detalha as escolas, ginásios e teatros da cidade, que influenciaram a educação de Paulo. Também menciona a estratégica localização de Tarso e sua importância como porta de entrada para o Ocidente.
As comemorações dos 500 anos do Brasil deveriam dar um lugar especial ao negro, pois o desenvolvimento da colônia só foi possível graças ao braço escravo. Foi o
escravo africano que, durante mais de três séculos de escravização, resistiu de todas as formas possíveis à opressão, e manteve valores e tradições que fazem definitivamente parte de nossa cultura. Mas ao mesmo tempo que se construía o Brasil, o tráfico esvaziava e destruía nações africanas.
Este é meu primeiro grande texto a respeito de uma grande civilização do passado. De fato, este é o tema de minha preferência e acredito que minha contribuição, por mais débil que seja, é muito válida, pois elucida a muitos sobre acontecimentos quase desconhecidos da História do Mundo. Digo quase desconhecidos porque não são comumente tratado pela História tradicional, ou seja, a História fundamentada na escola Francesa.
Este tem como fim abordar o processo que deu início as cruzadas, bem como, mostrar o que era, e como se deu toda sua trajetória, conhecido como um evento sangrento.
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi resultado de uma disputa pelo trono francês entre a família inglesa Plantageneta e a francesa Valois após a extinção da linhagem masculina direta dos Capetos. Interesses econômicos, como o comércio inglês na região da Bélgica, também motivaram os confrontos entre franceses e ingleses ao longo do conflito.
Este documento resume:
1. Uma palestra sobre a herança egípcia na Maçonaria, discutindo a cultura do Antigo Egito, as pirâmides, a esfinge e os mistérios egípcios.
2. Anúncios de serviços de contabilidade e indicação de livros.
3. Resumo do almanaque do dia, incluindo eventos históricos e feriados.
O documento discute como a história do Brasil é geralmente ensinada de forma conservadora, focando nos brancos vencedores e ignorando contradições e conflitos. Também aponta que as novas abordagens encontram dificuldades para serem transmitidas, e defende repensar como conceber, escrever e divulgar a história do país.
A vida e os tempos do apóstolo paulo charles ferguson ballRodrigo Soares
1) O documento descreve a província da Cilícia e a cidade de Tarso, local de nascimento de Paulo. Tarso era um importante centro de comércio e cultura, com escolas renomadas que atraíam estudantes de todo o Império Romano.
2) Tarso possuía teatros, ginásios e infraestrutura portuária desenvolvida. Era um importante ponto de passagem entre a Ásia e a Europa.
3) Apesar de sua fama, nenhum dos ilustres cidadãos de Tarso alcançou a
Charles ferguson ball a vida e os tempos do apóstolo pauloIbpaz Coxipo
1) O documento descreve a província da Cilícia e a cidade de Tarso, local de nascimento de Paulo. Tarso era um importante centro de comércio e cultura, com escolas renomadas que atraíam estudantes de todo o Império Romano.
2) Tarso possuía teatros, ginásios e infraestrutura portuária desenvolvida. Era um importante ponto de passagem entre a Ásia e a Europa.
3) Apesar de sua fama, nenhum dos ilustres cidadãos de Tarso alcançou a
O documento resume os principais tópicos da história do Império Romano, Império Bizantino e o nascimento do mundo islâmico, incluindo: 1) A transformação de Roma em um império e fatores de seu declínio; 2) Costumes e leis romanas que permitiam mobilidade social; 3) Surgimento do Islã sob a liderança do profeta Maomé e difusão de sua doutrina no Alcorão.
As Cruzadas foram expedições militares cristãs entre os séculos XI e XIII com o objetivo de conquistar e manter a Terra Santa sob domínio cristão, em meio a tensões crescentes com o avanço do Islã na região. Motivadas por fatores religiosos, políticos e sociais na Europa, as oito Cruzadas oficiais fracassaram em seu intento de dominar permanentemente Jerusalém.
10 a transformação do homem na era da regeneraçãosidneyjorge
1) O documento discute a vida de Jesus e como ele começou seu ministério curando um homem paralítico em Cafarnaum.
2) Jesus atraiu multidões com suas palavras de compaixão e cura. Ele curou um homem paralítico que foi trazido até ele através do telhado da casa lotada.
3) Ao curar o homem, Jesus mostrou sua capacidade de curar e atraiu mais pessoas para seu ministério.
Destaques Enciclopédia 22 09-2014 a 28-09-2014Umberto Neves
1) O documento resume datas importantes de 22 de setembro, incluindo a proclamação da liberdade aos escravos nos EUA em 1862 e a independência do Mali em 1960.
2) É destacada a vida e obra de figuras históricas nascidas nessa data, como Ana de Cleves, Gonzaguinha e Antônio Conselheiro.
3) Antônio Conselheiro liderou a comunidade de Canudos no interior da Bahia até sua morte em 22 de setembro de 1897, durante a repressão do exército à revolta local
O documento discute as origens míticas versus históricas da fundação de Roma. A lenda atribui a fundação aos irmãos Rômulo e Remo, no entanto evidências arqueológicas apontam que Roma teria surgido da união dos povos latinos e sabinos para se defenderem dos etruscos.
O documento descreve o contexto mundial e político da época de Jesus, incluindo o Império Romano, as rotas comerciais, e a situação política turbulenta da Judéia sob domínio romano, com tensões entre judeus e não-judeus.
Os Romanos ocuparam a Península Ibérica no século III a.C. e dominaram grande parte do território, apesar da resistência de algumas tribos como os Lusitanos liderados por Viriato. Ao longo dos séculos, os Romanos introduziram a sua língua, cultura e organização política, processo conhecido como Romanização.
Este documento discute a natureza do cristianismo no Império Romano por volta do ano 400 d.C. Em três frases:
1) Embora o cristianismo fosse politicamente dominante, o paganismo ainda existia em algumas áreas rurais e entre intelectuais.
2) Havia diferentes interpretações do cristianismo, desde uma visão mais tradicional absorvida pelos valores romanos até visões mais rigorosas de ascetas.
3) Muitas práticas religiosas populares continuaram, como festividades, ap
1. O documento discute as civilizações da antiga Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates, incluindo suas características culturais, sociais e políticas.
2. As civilizações mesopotâmicas eram centralizadas ao redor de cidades-estado governadas por reis ou imperadores absolutos. A sociedade era altamente hierárquica e desigual, com a maioria da população vivendo como camponeses ou escravos.
3. A agricultura irrigada permitiu o desenvolvimento das prime
1) A ilha de Creta, localizada no Mediterrâneo, abrigava a antiga civilização Minoica, conhecida pelas ruínas do Palácio de Minos em Cnossos.
2) O palácio de Minos, construído por volta de 2000 a.C., era um grande centro administrativo e comercial com cômodos em formato de labirinto.
3) A civilização Minoica influenciou fortemente a formação da cultura Grega e seu colapso marcou o fim de sua era de domínio na região.
O documento apresenta uma introdução sobre o mundo islâmico e sua cultura, descrevendo suas diferenças em relação ao Ocidente. Também resume a história do islamismo, com ênfase na figura do profeta Maomé e no Corão. Por fim, traz uma cronologia das relações entre Ocidente e mundo islâmico desde o século VII até os dias atuais.
O documento descreve a história do tráfico de escravos da África para o Brasil. Detalha como os navios negreiros transportavam centenas de escravos amontoados em porões insalubres, onde muitos morriam de doença ou eram jogados ao mar. Também discute a origem dos diferentes grupos de escravos africanos trazidos ao Brasil e as condições de vida desumanas que enfrentavam.
O documento discute a importância da educação para o desenvolvimento econômico e social de um país. Ele argumenta que investimentos em educação melhoram a produtividade e capacidade de inovação, levando a maiores ganhos de produto interno bruto e bem-estar social ao longo do tempo. Além disso, uma população mais educada promove valores democráticos e reduz desigualdades.
Mais conteúdo relacionado
Semelhante a Bernard lewis a crise do islã - guerra santa e terror profano
As comemorações dos 500 anos do Brasil deveriam dar um lugar especial ao negro, pois o desenvolvimento da colônia só foi possível graças ao braço escravo. Foi o
escravo africano que, durante mais de três séculos de escravização, resistiu de todas as formas possíveis à opressão, e manteve valores e tradições que fazem definitivamente parte de nossa cultura. Mas ao mesmo tempo que se construía o Brasil, o tráfico esvaziava e destruía nações africanas.
Este é meu primeiro grande texto a respeito de uma grande civilização do passado. De fato, este é o tema de minha preferência e acredito que minha contribuição, por mais débil que seja, é muito válida, pois elucida a muitos sobre acontecimentos quase desconhecidos da História do Mundo. Digo quase desconhecidos porque não são comumente tratado pela História tradicional, ou seja, a História fundamentada na escola Francesa.
Este tem como fim abordar o processo que deu início as cruzadas, bem como, mostrar o que era, e como se deu toda sua trajetória, conhecido como um evento sangrento.
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi resultado de uma disputa pelo trono francês entre a família inglesa Plantageneta e a francesa Valois após a extinção da linhagem masculina direta dos Capetos. Interesses econômicos, como o comércio inglês na região da Bélgica, também motivaram os confrontos entre franceses e ingleses ao longo do conflito.
Este documento resume:
1. Uma palestra sobre a herança egípcia na Maçonaria, discutindo a cultura do Antigo Egito, as pirâmides, a esfinge e os mistérios egípcios.
2. Anúncios de serviços de contabilidade e indicação de livros.
3. Resumo do almanaque do dia, incluindo eventos históricos e feriados.
O documento discute como a história do Brasil é geralmente ensinada de forma conservadora, focando nos brancos vencedores e ignorando contradições e conflitos. Também aponta que as novas abordagens encontram dificuldades para serem transmitidas, e defende repensar como conceber, escrever e divulgar a história do país.
A vida e os tempos do apóstolo paulo charles ferguson ballRodrigo Soares
1) O documento descreve a província da Cilícia e a cidade de Tarso, local de nascimento de Paulo. Tarso era um importante centro de comércio e cultura, com escolas renomadas que atraíam estudantes de todo o Império Romano.
2) Tarso possuía teatros, ginásios e infraestrutura portuária desenvolvida. Era um importante ponto de passagem entre a Ásia e a Europa.
3) Apesar de sua fama, nenhum dos ilustres cidadãos de Tarso alcançou a
Charles ferguson ball a vida e os tempos do apóstolo pauloIbpaz Coxipo
1) O documento descreve a província da Cilícia e a cidade de Tarso, local de nascimento de Paulo. Tarso era um importante centro de comércio e cultura, com escolas renomadas que atraíam estudantes de todo o Império Romano.
2) Tarso possuía teatros, ginásios e infraestrutura portuária desenvolvida. Era um importante ponto de passagem entre a Ásia e a Europa.
3) Apesar de sua fama, nenhum dos ilustres cidadãos de Tarso alcançou a
O documento resume os principais tópicos da história do Império Romano, Império Bizantino e o nascimento do mundo islâmico, incluindo: 1) A transformação de Roma em um império e fatores de seu declínio; 2) Costumes e leis romanas que permitiam mobilidade social; 3) Surgimento do Islã sob a liderança do profeta Maomé e difusão de sua doutrina no Alcorão.
As Cruzadas foram expedições militares cristãs entre os séculos XI e XIII com o objetivo de conquistar e manter a Terra Santa sob domínio cristão, em meio a tensões crescentes com o avanço do Islã na região. Motivadas por fatores religiosos, políticos e sociais na Europa, as oito Cruzadas oficiais fracassaram em seu intento de dominar permanentemente Jerusalém.
10 a transformação do homem na era da regeneraçãosidneyjorge
1) O documento discute a vida de Jesus e como ele começou seu ministério curando um homem paralítico em Cafarnaum.
2) Jesus atraiu multidões com suas palavras de compaixão e cura. Ele curou um homem paralítico que foi trazido até ele através do telhado da casa lotada.
3) Ao curar o homem, Jesus mostrou sua capacidade de curar e atraiu mais pessoas para seu ministério.
Destaques Enciclopédia 22 09-2014 a 28-09-2014Umberto Neves
1) O documento resume datas importantes de 22 de setembro, incluindo a proclamação da liberdade aos escravos nos EUA em 1862 e a independência do Mali em 1960.
2) É destacada a vida e obra de figuras históricas nascidas nessa data, como Ana de Cleves, Gonzaguinha e Antônio Conselheiro.
3) Antônio Conselheiro liderou a comunidade de Canudos no interior da Bahia até sua morte em 22 de setembro de 1897, durante a repressão do exército à revolta local
O documento discute as origens míticas versus históricas da fundação de Roma. A lenda atribui a fundação aos irmãos Rômulo e Remo, no entanto evidências arqueológicas apontam que Roma teria surgido da união dos povos latinos e sabinos para se defenderem dos etruscos.
O documento descreve o contexto mundial e político da época de Jesus, incluindo o Império Romano, as rotas comerciais, e a situação política turbulenta da Judéia sob domínio romano, com tensões entre judeus e não-judeus.
Os Romanos ocuparam a Península Ibérica no século III a.C. e dominaram grande parte do território, apesar da resistência de algumas tribos como os Lusitanos liderados por Viriato. Ao longo dos séculos, os Romanos introduziram a sua língua, cultura e organização política, processo conhecido como Romanização.
Este documento discute a natureza do cristianismo no Império Romano por volta do ano 400 d.C. Em três frases:
1) Embora o cristianismo fosse politicamente dominante, o paganismo ainda existia em algumas áreas rurais e entre intelectuais.
2) Havia diferentes interpretações do cristianismo, desde uma visão mais tradicional absorvida pelos valores romanos até visões mais rigorosas de ascetas.
3) Muitas práticas religiosas populares continuaram, como festividades, ap
1. O documento discute as civilizações da antiga Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates, incluindo suas características culturais, sociais e políticas.
2. As civilizações mesopotâmicas eram centralizadas ao redor de cidades-estado governadas por reis ou imperadores absolutos. A sociedade era altamente hierárquica e desigual, com a maioria da população vivendo como camponeses ou escravos.
3. A agricultura irrigada permitiu o desenvolvimento das prime
1) A ilha de Creta, localizada no Mediterrâneo, abrigava a antiga civilização Minoica, conhecida pelas ruínas do Palácio de Minos em Cnossos.
2) O palácio de Minos, construído por volta de 2000 a.C., era um grande centro administrativo e comercial com cômodos em formato de labirinto.
3) A civilização Minoica influenciou fortemente a formação da cultura Grega e seu colapso marcou o fim de sua era de domínio na região.
O documento apresenta uma introdução sobre o mundo islâmico e sua cultura, descrevendo suas diferenças em relação ao Ocidente. Também resume a história do islamismo, com ênfase na figura do profeta Maomé e no Corão. Por fim, traz uma cronologia das relações entre Ocidente e mundo islâmico desde o século VII até os dias atuais.
O documento descreve a história do tráfico de escravos da África para o Brasil. Detalha como os navios negreiros transportavam centenas de escravos amontoados em porões insalubres, onde muitos morriam de doença ou eram jogados ao mar. Também discute a origem dos diferentes grupos de escravos africanos trazidos ao Brasil e as condições de vida desumanas que enfrentavam.
Semelhante a Bernard lewis a crise do islã - guerra santa e terror profano (20)
O documento discute a importância da educação para o desenvolvimento econômico e social de um país. Ele argumenta que investimentos em educação melhoram a produtividade e capacidade de inovação, levando a maiores ganhos de produto interno bruto e bem-estar social ao longo do tempo. Além disso, uma população mais educada promove valores democráticos e reduz desigualdades.
A empresa anunciou um novo produto para o mercado de smartphones. O novo aparelho terá câmera de alta resolução e bateria de longa duração a um preço acessível. A expectativa é que o lançamento ajude a empresa a aumentar sua participação no mercado.
A União Europeia está considerando novas regras para veículos autônomos. As regras propostas exigiriam que os fabricantes de veículos autônomos assumam mais responsabilidade por acidentes e garantam que os sistemas de direção sejam projetados para proteger os pedestres e ciclistas. Os legisladores da UE esperam que as novas regras ajudem a promover o desenvolvimento seguro de veículos autônomos na Europa.
A empresa de tecnologia anunciou um novo smartphone com câmera aprimorada, maior tela e bateria de longa duração. O dispositivo também possui processador mais rápido e armazenamento expansível. O novo modelo será lançado em outubro por um preço inicial de US$799.
A empresa de tecnologia anunciou um novo smartphone com câmera aprimorada, maior tela e melhor desempenho. O dispositivo também possui recursos adicionais de inteligência artificial e maior capacidade de armazenamento. O lançamento está programado para o próximo mês e o preço será similar aos modelos anteriores.
A empresa de tecnologia anunciou um novo smartphone com câmera aprimorada, processador mais rápido e bateria de maior duração. O dispositivo também possui tela maior e armazenamento expansível, com preço sugerido a partir de $799. Analistas esperam que o aparelho ajude a empresa a aumentar sua participação no competitivo mercado de smartphones.
The document discusses the benefits of exercise for mental health. Regular physical activity can help reduce anxiety and depression and improve mood and cognitive functioning. Exercise causes chemical changes in the brain that may help boost feelings of calmness, happiness and focus.
Osprey aircraft of the aces 017 - german jet aces of world war 2Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for mental health. Regular physical activity can help reduce anxiety and depression and improve mood and cognitive functioning. Exercise has also been shown to boost self-esteem and can serve as a healthy way to manage stress.
Osprey aircraft of the aces 016 - spitfire mark v aces 1941-45Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of meditation for reducing stress and anxiety. Regular meditation practice can help calm the mind and body by lowering heart rate and blood pressure. Meditation may also have psychological benefits like improved focus, emotional regulation, and overall well-being.
Osprey aircraft of the aces 014 - p-38 lightning aces of the pacific and cbAriovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for mental health. Regular physical activity can help reduce anxiety and depression and improve mood and cognitive functioning. Exercise has also been shown to boost self-esteem and can serve as a healthy way to manage stress.
Osprey aircraft of the aces 015 - soviet aces of ww2Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of meditation for reducing stress and anxiety. Regular meditation practice can help calm the mind and body by lowering heart rate and blood pressure. Meditation may also have psychological benefits like improving mood and reducing negative thoughts.
Osprey aircraft of the aces 013 - japanese army air force aces 1937-45Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for both physical and mental health. It notes that regular exercise can reduce the risk of diseases like heart disease and diabetes, improve mood, and reduce stress and anxiety levels. Exercise is also said to boost brain health and function by improving cognitive abilities and reducing the risk of conditions like Alzheimer's disease and dementia.
Osprey aircraft of the aces 012 - spitfire mk i&ii aces - 1939-1941Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for mental health. Regular physical activity can help reduce anxiety and depression and improve mood and cognitive function. Exercise causes chemical changes in the brain that may help protect against mental illness and improve symptoms for those who already suffer from conditions like anxiety and depression.
Osprey aircraft of the aces 011 - bf 109 d & e aces 1939-41Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for mental health. It notes that regular physical activity can help reduce anxiety and depression and improve mood and cognitive function. Exercise has also been shown to enhance self-esteem and serve as a healthy means of stress management.
Osprey aircraft of the aces 008 - corsair aces of world war iiAriovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for mental health. Regular physical activity can help reduce anxiety and depression and improve mood and cognitive functioning. Exercise has also been shown to boost self-esteem and can serve as a healthy way to manage stress.
Osprey aircraft of the aces 007 - mustang aces of the ninth & fifteenth...Ariovaldo Cunha
The document discusses the benefits of exercise for both physical and mental health. It notes that regular exercise can reduce the risk of diseases like heart disease and diabetes, improve mood, and reduce stress and anxiety. The document recommends that adults get at least 150 minutes of moderate exercise or 75 minutes of vigorous exercise per week to gain these benefits.
Osprey aircraft of the aces 006 - focke-wulf fw 190 aces of the russian frontAriovaldo Cunha
The document discusses the importance of summarization for processing large amounts of text. Automatic summarization systems aim to generate concise summaries by identifying the most important concepts and events within source texts. However, accurately summarizing texts remains a challenging task that current systems cannot fully achieve at a human level.
A empresa de tecnologia anunciou um novo smartphone com câmera aprimorada, maior tela e melhor desempenho. O dispositivo também possui um preço mais acessível em comparação aos modelos anteriores para atrair mais consumidores. O lançamento ocorrerá no próximo mês e a empresa espera que o novo smartphone ajude a aumentar suas vendas e participação no mercado.
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
Slideshare Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em Cristo, 1Tr24, Pr Henrique, EBD NA TV, Revista ano 11, nº 1, Revista Estudo Bíblico Jovens E Adultos, Central Gospel, 2º Trimestre de 2024, Professor, Tema, Os Grandes Temas Do Fim, Comentarista, Pr. Joá Caitano, estudantes, professores, Ervália, MG, Imperatriz, MA, Cajamar, SP, estudos bíblicos, gospel, DEUS, ESPÍRITO SANTO, JESUS CRISTO, Com. Extra Pr. Luiz Henrique, 99-99152-0454, Canal YouTube, Henriquelhas, @PrHenrique
Atividades de Inglês e Espanhol para Imprimir - AlfabetinhoMateusTavares54
Quer aprender inglês e espanhol de um jeito divertido? Aqui você encontra atividades legais para imprimir e usar. É só imprimir e começar a brincar enquanto aprende!
4. SUMARIO
Mopos
A Era dos Califas, 1
O Império Otomano, 8
A Era do ¡nipírúdisnia,'}
O Oriente Medio Moje, iO
Introdução, 11
1. D efinindo o Islã, 25
2. A Casa da G uerra, 45
3. D e C ruzados a Im perialistas, 59
4. D escobrindo a A m érica, 72
5. Satã e os Soviéticos, 86
6. D ois Pesos, D uas M edidas, 103
7 . U m Fracasso da M odernidade, 11 o
8. A A liança en tre o P oder Saudita e
o E nsinam ento W ahhabf 116
9. A A scensão do Terrorism o, 1/')
Posfódo, 151
índice Remissivo, r. i
9. -K5ñ- T7 30 ‘tjoyMfc-f-Y ®
'"'^K^n'odar
TURCOlJJNKr^^^
Mor Medrterróneo
- U " rCHIPRE^^ SIRIA
i A lexandria . g ; j |ei
C airo * Faíxa^GÍ
0«-* ■=““
B e iru te 3 H im s — x j-
Líbano^Damasco OB^dá<„
IRAÓ^,x_^
A n N asiriyaFi'
RashtoX^
I _asvim
^K arkufe Kermanshah
. J • .A r a k
^Herat
AFEG.
Isfahã
Ahvaz
IRÁ
Kerman^
^uwaHBusheh?^"^-iiAiiwait a
Zahedan
,A syu t
EGITO
.L u x o r
,A sw an
Bandar-eAbbas
laOUK , v^P^vrAAii
•H afa - c A
.Bnra^daR“
V'EMIRADOSl-rra.
MÃjgwipos
SU D Â O
Omdurman.^^^^
° Escala 1:21.000.00(1~'( ' 3
Projeção cônica conform e th L am bertV .>-d^
Paralelos-padráo 12'NÍe 38'N AdiiAbel|a
" V ' ETIÓPIA
'x T la r je y s a
O O riente M edio H
10. INTRODUÇÃO
o Presidente Bush e outros políticos ocidentais têm feito grandes es
forços para deixar claro que a guerra na qual estam os engajados é
urna guerra contra o terrorism o - não contra os árabes ou, em ter
mos mais gerais, contra m uçulm anos, instados a se juntarem a nós
nessa batalha contra o inim igo com um . A m ensagem de Osam a bin
haden é o contrário disso. Para ele e seus seguidores, essa é urna guerra
religiosa, urna guerra do islã contra os infiéis e, portanto, inevitavel
mente, contra os Estados Unidos, a m aior potencia do m undo infiel.
Em seus pronunciam entos, Bin Laden faz referências freqüentes
à historia. Um a das mais dram áticas foi em seu vídeo de 7 de outubro
de 2001, quando se referiu à “hum ilhação e desgraça” que o islã so
freu por “m ais de oitenta anos”. A m aior parte dos observadores n o r
te-am ericanos e europeus do O riente M édio com eçou um a busca
ansiosa por algum a coisa que tivesse acontecido há “mais de oitenta
anos”, e surgiram várias respostas. Podem os ter bastante certeza de
que os ouvintes m uçulm anos de Bin Laden - as pessoas às quais se
dirigia - entenderam a alusão im ediatam ente e valorizaram a sua
im portância.
Em 1918, o sultanato otom ano, o últim o dos grandes im perios
m uçulm anos, foi finalm ente derrotado - sua capital, U onstaiitino-
pla, foi ocupada, seu soberano feito cativo e a m aioria de seu territó
rio partilhado entre os lm|H'i ios vitoriosos: o Británico e o francés.
11
11. As antigas províncias otom anas de língua árabe do Crescente Fértil
foram separadas e deram origem a três novas entidades, com novos
nom es e fronteiras. D uas delas, Iraque e Palestina, ficaram sob o
m andato britânico, e a terceira, com o nom e Síria, foi dada para os
franceses. Mais tarde, esses últim os dividiram seu m andato em duas
partes, cham ando um a de Líbano e m antendo o nom e Síria para a
outra. Os britânicos fizeram algo bem parecido na Palestina, criando
um a divisão entre as duas m argens do Jordão. A parte oriental foi
cham ada Transjordânia e, mais tarde, sim plesm ente Jordânia; o
nom e Palestina foi m antido e reservado para a m argem ocidental,
ou seja, a parte propriam ente cisjordaniana do país.
Considerava-se, naquela época, que não valia a pena assum ir o
controle da Península Arábica, form ada, em grande parte, por deser
tos e m ontanhas estéreis e inacessíveis, e seus governantes tiveram
perm issão de m anter um a independência precária e lim itada. Os
turcos acabaram conseguindo liberar a Anatólia, sua terra natal, não
em nom e do islã, mas através de um m ovim ento nacionalista secular
liderado por um general otom ano cham ado M ustafa Kemal, mais
conhecido com o Kemal Ataturk. M esm o tendo lutado, com sucesso,
para libertar a Turquia do dom ínio ocidental, foi ele quem deu os
prim eiros passos para a adoção de cam inhos ocidentais - ou, com o
preferia dizer, cam inhos m odernos. Um de seus prim eiros atos, em
novem bro de 1922, foi abolir o sultanato.
O soberano otom ano era não apenas um sultão, o dirigente de
um Estado específico; era tam bém am plam ente reconhecido com o o
califa, o chefe de todo o islã sunita e o últim o em um a linhagem de
governantes cuja origem rem ontava a 632 d.C. - ano da m orte do
profeta M aom é e da indicação de um sucessor para ocupar seu lugar,
não com o chefe espiritual, mas sim com o chefe religioso e político
do Estado m uçulm ano e de sua com unidade. Após uma breve expe
riência com um califa distinto, os turcos aboliram lam bém o califa-
do, em m arço de 1924.
12 A crise do islã
12. D urante seus quase 13 séculos, o califado, em bora passando por
m uitas vicissitudes, perm aneceu com o poderoso sím bolo da unida
de m uçulm ana, até m esm o de sua identidade; seu desaparecim ento,
sob o duplo assalto de im perialistas estrangeiros e m odernistas do
mésticos, foi sentido em todo o m undo m uçulm ano. Vários m onar
cas e líderes m uçulm anos ensaiaram algum as débeis tentativas de
leclam ar o título vago, m as nenhum deles encontrou grande apoio.
Muitos m uçulm anos ainda percebem de form a dolorosa esse vazio, e
com enta-se que o próprio O sam a bin Laden tinha - ou tem - aspira
ções ao califado.
A palavra califa vem do árabe khalifa, que, com um a am bigüida
de oportuna, com bina os sentidos de “sucessor” e “substituto”. O ri
ginalm ente, o chefe da com unidade islâmica era “o Khalifa do
Profeta de D eus”. Alguns, mais ambiciosos, encurtaram o título para
"o Khalifa de D eus”. Esta pretensão à autoridade espiritual foi caloro
samente contestada' e, por fim, abandonada, em bora um título ex
pressando algo similar, de form a mais branda, “a Som bra de Deus na
Ierra,” tenha sido am plam ente usado por governantes m uçulm anos.
I)urante a m aior parte da história dessa instituição, os detentores do
uilifado contentavam-se com o título mais modesto de Amir al-M u’mi-
nin, em geral traduzido com o “C om andante dos Fiéis”.
Introdução 13
Alusões históricas com o as de Bin Laden, que talvez pareçam obscu
ras para m uitos ocidentais, são com uns entre os m uçulm anos, c só
podem ser entendidas adequadam ente levando-se em couta a forma
com o os povos do O riente M édio percebem a queslao da identidade,
e contra o pano de fundo da história daquela região. Mesmo os con
ceitos de história e identidade requerem novas di-liniçoes para o oci
dental que busca entender o O riente Medio rontenqiorâneo. No uso
corrente norte-am ericano, a expiarss.io "isto e história” é usada, em
geral, para desconsiderar algo i o m o siaulo sem im portância ou sem
nenhum a relevância paia ,is |ireocupaçoes atuais; apesar de um
13. im enso investim ento no ensino da história e na produção de textos
sobre o tem a, a sociedade norte-am ericana tem um nível geral de
conhecim ento histórico terrivelm ente lim itado. Os povos m uçul
m anos, com o todos os outros do m undo, são m oldados por sua his
tória, mas, ao contrário de alguns, são profundam ente conscientes
disso. Sua consciência data, no entanto, do advento do islã, com tal
vez algum as pequenas referências aos tem pos pré-islãm icos, neces
sárias para explicar alusões históricas encontradas no Alcorão e nas
antigas tradições e crônicas islâmicas. Para os m uçulm anos, a histó
ria islâmica tem im portante significado religioso e tam bém legal,
dado que reflete a elaboração detalhada do propósito de Deus para
Sua com unidade - form ada por aqueles que aceitam os ensinam en
tos do islã e obedecem a suas leis. A história dos Estados e povos
não-m uçulm anos não transm ite tal m ensagem e não tem , portanto,
valor ou interesse. M esm o em países com um a civilização antiga
com o a do O riente M édio, o conhecim ento da história pagã - de
seus próprios ancestrais, cujos m onum entos e inscrições estão à vol
ta de todos - era m ínim o. As línguas e os textos antigos foram esque
cidos, os registros antigos queim ados, até serem recuperados e
decifrados, nos tem pos m odernos, por obstinados arqueólogos e fi
lólogos ocidentais. Mas, no que se refere ao período iniciado com o
advento do islã, os povos m uçulm anos produziram um a rica e varia
da literatura histórica - de fato, em m uitas regiões, até m esm o em
países com um a civilização antiga com o a índia, os trabalhos históri
cos im portantes com eçam com a chegada do próprio islã.
Mas história de quê? No m undo ocidental, a unidade básica da
organização hum ana é a nação - um conceito que, no uso n o r
te-am ericano, mas não no europeu, é virtualm ente sinônim o de
país. Essa totalidade é então subdividida segundo vários critérios,
sendo um deles a religião. Os m uçulm anos, no entanto, tendem a ver
não um a nação subdividida em grupos religiosos, mas um a religião
subdividida em nações. Sem dúvida, isso se deve, parcialm ente, ao
fato de a m aior parte dos Estados-nações que com põem o O riente
14 A crise do islã
14. Médio m oderno ser um a criação relativam ente nova, rem anescente
dos tem pos de dom inação im perial anglo-francesa que se seguiram à
derrota do Im pério O tom ano. Esses Estados preservam as dem arca
ções nacionais e as fronteiras estabelecidas p o r seus antigos senhores
imperiais. Até m esm o seus nom es refletem essa artificialidade. O
1raque era um a província medieval, com fronteiras m uito diferentes
daquelas da República m oderna, excluindo a M esopotâm ia, no n o r
te, e incluindo um a parte do Irã ocidental; Síria, Palestina e Líbia são
nomes da A ntigüidade clássica que não haviam sido usados na re
gião por mil anos ou mais, até serem revividos e im postos - tam bém
com fronteiras novas e, m uitas vezes, diferentes - por im perialistas
europeus no século XX.* Argélia e Tunísia nem m esm o existem
com o nom es árabes - o m esm o nom e serve para a cidade e o país. O
mais notável de tudo é que a língua árabe não tem nenhum nom e
para Arábia, e a atual Arábia Saudita é cham ada “o reino árabe sau
dita” ou “a península dos árabes”, dependendo do contexto. E não
porque o árabe seja um a língua pobre - bem ao contrário - mas p o r
que os árabes sim plesm ente não pensam identidade em term os da
com binação de etnia e território. O califa ‘U m ar é citado com o d i
zendo aos árabes: “A prendam suas genealogias, e não sejam com o os
cam poneses locais que, quando lhes perguntam quem são, respon
dem; ‘sou de tal ou qual lugar’.”**
Nos prim eiros séculos da era m uçulm ana, a com unidade islâ
mica era um Estado sob um governante. M esm o depois de aquela co-
Introdução 15
* O prim eiro desses nom es reapareceu brevem ente no final do período otom ano,
quando a província de Damasco foi renom eada província da Síria (Suriye). Suas
IVonteiras eram significativamente diferentes daquelas da república pós-guerra. O
nome rom ano-bizantino Palestina foi m antido por algum tem po pelos conquista
dores árabes, mas já havia sido esquecido quando chegaram os cruzados. Reapare
ceu com o estabelecim ento do M andato Britânico após a Prim eira Guerra M undial.
O nom e rom ano Líbia era desconhecido até que foi oficialmente reintroduzido pe
los italianos.
' ' Ibn Khaldun, mAl-Muqaddima, F.. Quatrem ère (org.) (Paris, 1858), vol.l, p.237.
15. m unidade ter sido dividida em m uitos Estados, persistiu o ideal de
urna única unidade política islámica. Os Estados eram quase todos
dinásticos, com fronteiras cam biantes, e é certam ente significativo
que, na riquíssim a historiografia do m undo islámico em árabe, per
sa e turco, encontrem -se historias de dinastias, cidades e, principal
m ente, do Estado e da com unidade islâmica, mas nenhum a da
Pérsia ou da Turquia. Esses nom es, diferentem ente do que ocorre
com Síria, Palestina ou Iraque, designam não novas entidades políti
cas, mas antigas, com séculos de independência e soberania. Ainda
assim, até os tem pos m odernos, m esm o esses nom es não existiam
em árabe, persa ou turco. O nom e Turquia, designando um país ha
bitado por pessoas cham adas turcos e que falam um idiom a cham a
do turco, parece conform ar-se ao padrão europeu norm al de
identificar países por nom es étnicos. Mas esse nom e, corrente na
Europa desde a Idade M édia, som ente foi adotado na T urquia após a
proclam ação da república, em 1923. Pérsia é um a adaptação euro
péia, originalm ente grega, de Pars, posteriorm ente Fars, o nom e de
um a província do Irã ocidental. Após a conquista árabe, com o o al
fabeto árabe não tem a letra p, passou a ser conhecida com o Fars.
Assim com o o dialeto castelhano tornou-se espanhol e o toscano vi
rou italiano, assim tam bém farsi, o dialeto regional de Fars, acabou
sendo língua padrão do país, mas, no uso persa, o nom e da provín
cia nunca foi aplicado ao país com o um todo.
Tanto árabes quanto turcos produziram vasta literatura descre
vendo suas lutas contra a Europa crista, desde as prim eiras incursões
árabes no século VIII até .1 liilima relirada turca, no século XX. Mas,
até o período m oderno, c|uaiKlo conceitos e categorias europeus to r
naram -se dom inantes, os soldados, oficiais e historiadores islâmicos
quase sem pre se referiam aos seus oponentes não em term os territo
riais ou nacionais, mas sim plesm ente com o infiéis {kafir) ou, algu
mas vezes, por vagos term os gerais com o trancos ou rom anos. Do
m esm o m odo, nunca se referiam ao seu próprio lado com o árabes,
16 A crise do Islã
16. (tersas ou turcos; identificavam todos com o m uçulm anos. Essa pers-
(lectiva ajuda a explicar, entre outras coisas, a preocupação do Pa-
((uistão com o Talibã e seus sucessores no Afeganistão. O nom e
l’aquistão, um a invenção do século XX, designa um país inteiram en
te definido por sua religião e lealdade islâmicas. Em todos os outros
.ispectos, o país e o povo do Paquistão são - com o haviam sido por
m ilên io s-p arte da índia. O Afeganistão definido por sua identidade
islâmica seria um aliado natural do Paquistão, ou m esm o um satélite
seu. O Afeganistão definido pela nacionalidade étnica, ao contrário,
poderia ser um vizinho perigoso, lançando dem andas irredentistas
sobre as áreas do noroeste paquistanês que fala o pashtu e, talvez, até
m esmo aliando-se à índia.
Referências à história, e até à história antiga, são lugar-com um
nos discursos públicos. Na década de 1980, durante a G uerra
Irã-Iraque, por exemplo, os dois lados em penharam -se em cam pa
nhas de propaganda massiva que freqüentem ente evocavam eventos
c personalidades de épocas tão rem otas quanto o século VII, as bata
lhas de Qadisiyya (637 d.C.) e Karbala (680 d.C.). A batalha de Q adi-
siyya foi vencida pelos árabes m uçulm anos que invadiram o Irã e
lutaram contra o exército defensor do xá da Pérsia, ainda não con
vertido ao islã e, portanto, aos olhos m uçulm anos, ainda com posto
de pagãos e infiéis. Assim, os dois lados podiam proclam ar com o sua
a vitória - para Saddam Hussein, dos árabes sohi e os (icrsas, e, para o
aiatolá K hom eini, dos m uçulm anos sobre o.s infiei.s.
As referências a essas batalhas não eram desei içocs nem narrati
vas, mas rápidas, incom pletas alusões. Ainda assim, os dois lados
usaram -nas com plena certeza de cpie sei lam (Ha echidas e identifica
das por seus respectivos públicos. e ,ile nu'sm o pela m aior parte deles
que era com posta de analfabelos. f (liln il im aginar agentes de pro
paganda de m assa no Ocidenie delendendo seus pontos de vista
através de alusões a eras i.ki ,inii;;.is, a hcptarquia anglo-saxônica na
Inglaterra os aos m on.inas i.nolíngios na França. Inflam ado pelo
Introdução 17
17. m esm o espírito, O sam a bin Laden insulta o presidente Bush ao
igualá-lo ao Faraó, e acusa o vice-presidente Dick Cheney e o secre
tário de Estado Colin Powell (citados no m esm o contexto) de terem
produzido m aior devastação no Iraque durante e após a G uerra do
Golfo de 1991 do que os cãs m ongóis que, em m eados do século XIII,
conquistaram Bagdá e destruíram o califado abássida. Os povos do
O riente M édio têm um a percepção da história que é fom entada nos
púlpitos, nas escolas e pela m ídia, e em bora possa ser - e, m uitas ve
zes, é - distorcida e pouco acurada, é, ainda assim, vivida, e tem p ro
funda repercussão.
18 A crise do islã
Em 23 de fevereiro de 1998, o Al-Q uds al-Arabi, u m jo rn al árabe p u
blicado em Londres, trouxe a íntegra de um a “Declaração da Frente
Islâmica M undial para a Jihad contra os Judeus e os C ruzados”. De
acordo com o jornal, o texto lhes foi enviado por fax, com as assina
turas de O sam a bin Laden e dos líderes dos grupos da jihad no Egito,
Paquistão e em Bangladesh. A declaração - um a m agnífica peça de
eloqüente, e por vezes poética, prosa árabe - revela um a versão da
história que, para a m aior parte dos ocidentais, soará nada familiar.
As queixas feitas por Bin Laden naquele docum ento não são exata
m ente as que m uitos poderiam esperar. A declaração começa com a
citação das passagens m ais m ilitantes do Alcorão e dos ditos do pro
feta M aom é, e depois continua: “Desde que Deus m oldou a Penínsu
la Arábica, criou seus desertos e a cercou com seus m ares, jam ais
um a calam idade a assolou com o essas hostes de cruzados que se es
palharam sobre ela com o gafanhotos, infestando seu solo, com endo
seus frutos e destruindo sua vegetação; e isso num (empo em que as
nações se lançam contra os m uçulm anos com o convivas de um jan
tar acotovelando-se em volta de um a travessa de com ida.”
A partir desse ponto, a declaração segue falando sobre a necessi
dade de com preender a situação e agir para corrigi-la. Os latos, diz o
18. (cxto, são conhecidos por todos, e são apresentados em três tópicos
principais.
Primeiro - Há mais de sete anos os Estados Unidos estão ocupando as
terras do islã no mais sagrado de seus territórios, a Arábia, pilhando
suas riquezas, esmagando seus governantes, hum ilhando seu povo,
ameaçando seus vizinhos e usando suas bases na península com o pon
ta de lança para lutar contra os povos islâmicos da vizinhança.
Embora tenha havido controvérsias no passado sobre a verdadeira na
tureza dessa ocupação, o povo da Arábia, em sua totalidade, agora a
reconhece.
Não há m elhor prova disso que a contínua agressão norte-am eri
cana contra o povo do Iraque, desencadeada da Arábia a despeito de
seus governantes, que, m esm o sendo todos eles contrários ao uso
de seus territórios para tal propósito, estão subjugados.
Segundo - Apesar da imensa destruição infligida ao povo iraquiano
pelas mãos dos cruzados e judeus em aliança, e apesar do número cho
cante de mortes, que ultrapassaram um milhão, os norte-americanos,
ainda assim, a despeito de tudo isso, estão tentando, mais uma vez, re
petir essa pavorosa carnificina. Parece que o longo bloqueio que se se
guiu a uma guerra selvagem, o desm embramento e a de.struição não
são suficientes para eles. Assim, voltam hoje para destruir o que resta
desse povo e humilhar seus vizinhos muçulm anos.
Terceiro - Embora os propósitos dos norte-americanos nessas guerras
sejam religiosos e econôm icos, eles também servem .o insignificante
Estado dos judeus, desviando a atenção de sua oi iipaçao de )erusalém
e da morte de m uçulm anos na cidade.
Não há m elhor prova de tudo isso i|iie a s.mh.i norle-americana de
destruir o Iraque, o mais forte dos Estados .ii .ihes vi/inhos, esua tenta
tiva de desmembrar todos os Estados d.i ic-g.i.io, com o o Iraque, a Ará
bia Saudita, o Egito e o Sudão, (ranslorm.nulo os em Estados menores
cuja divisão e fraqueza garantiriam .1 sohicvivencia de Israel e a conti
nuação da calamitosa ociipa(,ao d.is lei i.is da Arábia pelos cruzados.
Esses crimes, continua a dec lar.içao, eqüivalem a um a “declara
ção explícita de gueri.i pelos noric-am ericanos contra Deus, Seu
Introdução 19
19. Profeta e os m uçulm anos. Em tal situação, os ulemás têm opinado
unanim em ente através dos séculos que, quando inim igos atacam as
terras m uçulm anas, ajihad torna-se um a obrigação pessoal de todos
os m uçulm anos”.
Os signatários citam várias autoridades m uçulm anas e passam
então para a parte final e mais im portante da declaração, afatw a, es
tabelecendo que “m atar am ericanos e seus aliados, tanto civis q uan
to militares, é um a obrigação individual de todos os m uçulm anos
capazes, em qualquer país em que isso seja possível, até que a m es
quita de Aqsa [em Jerusalém] e a m esquita de H aram [em Meca] se
jam libertadas de seu jugo, e até que seus exércitos, despedaçados e
capengas, abandonem todas as terras do islã, incapazes de am eaçar
qualquer m uçulm ano”.
Após citar alguns outros versículos relevantes do Alcorão, o do
cum ento continua: “Com a perm issão de Deus, convocamos todos
os m uçulm anos que acreditam em Deus e esperam recom pensa por
obedecer a Seus com andos para m atar os norte-am ericanos e sa
quear suas posses onde quer que os encontrem e quando quer que
consigam. Da m esm a form a, convocam os os ulemás, os líderes, os
jovens e os soldados m uçulm anos para dar início a ataques contra os
exércitos dos dem ônios norte-am ericanos e contra aqueles ajudan
tes de Satã que são seus aliados.” A declaração e a fatw a term inam
com um a série de outras citações das escrituras m uçulm anas.
20 A crise do islã
Segundo a visão ocidental corrente, a C uerra do Colfo de 1991 foi
iniciada pelos Estados U nidos, com um a coalizão de países árabes e
outros aliados, para libertar o Kuwait da conquista e ocupação ira
quianas e proteger a Arábia Saudita contra um a agressão do Iraque.
Ver essa guerra com o um a agressão norte-am ericana ao lr;K|Lic pode
parecer um tanto estranho, mas essa é a pcrspcciiv.i am plam ente
aceita no m undo islâmico. Na m edida cm c|uc se dilui ,i m em ória do
ataque de Saddam Hussein ao Kuwait, o cpie entra no loco das aten-
20. ções são as sanções contra o Iraque, os aviões norte-am ericanos e
britânicos patrulhando os céus a partir de bases na Arábia, o sofri
m ento do povo iraquiano e, crescentem ente, o que se percebe com o
a tendenciosidade norte-am ericana a favor de Israel.
As três áreas de queixas listadas na declaração - Arábia, Iraque,
lerusalém - são familiares para observadores do cenário no O riente
Médio. O que pode ser m enos fam iliar é a seqüência e a ênfase com
i|Lie essas áreas são apresentadas. Isso não será nenhum a surpresa
inira qualquer um versado na história e literatura islâmicas. Em bora
iiós, ocidentais, tendam os a esquecer isso algumas vezes, para os m u
çulm anos a Terra Santa por excelência é a Arábia e, especialmente, a
região do Hijaz e suas duas cidades sagradas - Meca, onde nasceu o
1’rofeta, e M edina, onde se estabeleceu o prim eiro Estado m uçulm a
no; o país cujo povo foi o prim eiro a acorrer à nova fé e tornou-se seu
baluarte. O profeta M aom é viveu e m orreu na Arábia, bem com o
seus sucessores im ediatos, os califas, no com ando da com unidade.
I)esde então, exceto por breve intervalo na Síria, o centro do m undo
islâmico e o cenário de suas m aiores realizações foi o Iraque, e Bagdá,
sua capital, foi a sede do califado por m eio m ilênio. Para os m uçul
manos, não se pode jam ais renunciar a nenhum pedaço de terra um a
vez que tenha sido anexado à esfera de dom ínio do islã, mas nenhum
se com para em significado à Arábia e ao Iraque.
Desses dois, a Arábia é, de longe, o m ais im portante. II istoriado-
res árabes clássicos contam que, no ano 20 da era m uçulm ana (cor
respondente ao ano 641 d.C.), o califa ‘U m ar decretou c|ue judeus e
cristãos deveriam ser retirados de toda a Arábia, com exceção das fai
xas do sul e do leste, em obediência a um com ando tio Ihofeta pro
nunciado em seu leito de m orte: “Q ue nao baja duas religiões na
Arábia.”
Os povos em questão eram os judeus do oásjs de Khaybar, no
norte, e os cristãos de Najran, no sul. Ambos constituíam com unida
des antigas e bem consoliilatlas, de tala, cultura e m odo de vida ára
bes, diferindo de seus vi/jiihos apenas em sua fé.
Introdução 21
21. A atribuição daquela fala ao Profeta foi im pugnada por algumas
autoridades islâmicas mais antigas. Mas, de m odo geral, foi aceita e
cum prida. A expulsão de m inorias religiosas é extrem am ente rara na
história islâmica - ao contrário da cristandade medieval, na qual
expulsões de judeus e, após a Reconquista, de m uçulm anos eram
norm ais e freqüentes. C om parado com as expulsões européias, o de
creto de ‘U m ar era tanto lim itado quanto compassivo. Não incluía o
sul e o sudeste da Arábia, que não eram vistos com o parte da Terra
Santa islâmica. E, diferentem ente dos judeus e m uçulm anos expul
sos da Espanha e de outros países europeus, obrigados a encontrar o
refúgio que pudessem em outro lugar, os judeus e cristãos da Arábia
foram reassentados em terras destinadas a eles - os judeus, na Síria e
na Palestina e os cristãos, no Iraque. O processo foi gradual, em vez
de súbito, e há registros de judeus e cristãos em Khaybar e N ajran por
algum tem po ainda após o decreto.
A expulsão foi concluída a seu tem po e, desde então, a Terra
Santa do Hijaz tem sido território proibido para não-m uçulm anos.
De acordo com a escola de jurisprudência islâmica reconhecida pelo
Estado saudita e por O sam a bin Laden e seus seguidores, até m esm o
o fato de um não-m uçulm ano pisar o solo sagrado já é um a grande
ofensa. No resto do reino, os não-m uçulm anos, em bora adm itidos
com o visitantes tem porários, não tinham perm issão para fixar resi
dência ou praticar suas religiões. O porto de Djedda, no M ar Verme
lho, funcionou, durante m uito tem po, com o um tipo de área de
quarentena religiosa, na qual representantes diplom áticos, consula
res e comerciais recebiam perm issão de viver estritam ente num cará
ter tem porário.
A partir da década de 1930, a descoberta e exploração do petró
leo e o conseqüente crescim ento de Riad - a capital saudita que, de
um a pequena cidade de oásis, transform ou-se num a grande m etró
pole - trouxeram m uitas m udanças e considerável inlliixo de estran
geiros, predom inantem ente norte-am ericanos, o que alclou todos os
aspectos da vida árabe. A presença desses estrangeiros, ainda vista
22 A crise do islã
22. por m uitos com o um a profanação, pode ajudar a explicar o clima de
crescente ressentim ento.
A Arábia foi am eaçada pelos cruzados durante algum tem po, no
século XII da era cristã. Depois de derrotados e expulsos, a outra
ameaça infiel à Arábia com eçou no século XVIII, com a consolidação
do poder europeu no sul da Ásia e o aparecim ento de navios euro
peus - ou seja, cristãos - no litoral da Arábia. O ressentim ento daí re
sultante constituiu pelo m enos um dos elem entos do revivalismo
religioso inspirado na Arábia pelo m ovim ento wahhabi, com andado
pela Casa de Saud { S u u d em árabe), fundadora do Estado saudita.
D urante o período de influência anglo-francesa e de seu dom ínio do
O riente M édio nos séculos XIX e XX, os poderes im periais governa
ram o Egito, o Sudão, o Iraque, a Síria e a Palestina. T iraram certo
proveito das m argens da Arábia, de Áden e do golfo Pérsico, m as fo
ram suficientem ente sábios para não ter nenhum envolvim ento m i
litar, e apenas um m ínim o político, nos negócios da Península.
Enquanto esse envolvim ento estrangeiro era exclusivamente
econôm ico, e enquanto o retorno era mais que adequado para apla
car todas as queixas, a presença estrangeira pôde ser tolerada. Mas,
nos anos recentes, os term os de com prom isso m udaram . Com a que
da dos preços do petróleo e o aum ento de população e gastos, o
retorno deixou de ser adequado e as queixas tornaram -se m ais n u
m erosas e m ais audíveis. Tam pouco está a participação lim itada às
atividades econômicas. A revolução no Irã, as am bições de Saddam
Elussein c o conseqüente agravam ento de todos os problem as da re
gião, especialm ente o eonllito Israel-Palestina, agregaram dim ensões
políticas e mililai es a presença estrangeira, dando algum a plausibili-
dade aos cada vez mais lieqücntes brados de “im perialism o”. Q uan
do se tratar de sua lin .i S.mta, m uitos m uçulm anos tenderão a
caracterizar a luta e, alg.iini.is vezes, tam bém o inim igo, em term os
religiosos e a ver as trop.is norle-am ericanas enviadas para liberar o
Kuwait e salvar a Ai .ibi.i S.uulila de Saddam Hussein com o invasores
Introdução 23
23. e ocupantes infléis. Essa percepção é aguçada pela inquestionável su
prem acia norte-am ericana entre as autoridades do m undo infiel.
Para a m aior parte dos norte-am ericanos, a declaração de Bin
Laden é urna caricatura, urna distorção flagrante da natureza e do
propósito da presença norte-am ericana na Arábia. Tam bém deve
riam estar conscientes de que, para m uitos m uçulm anos, talvez a
m aioria deles, a declaração é um a caricatura igualm ente grotesca da
natureza do islã, e m esm o de sua doutrina de jihad. O Alcorão fala de
paz, bem com o de güera. As centenas de m ilhares de tradições e ditos
atribuidos, com variados graus de confiabilidade, ao Profeta, e algu
m as vezes interpretados de m aneiras m uito diversas, oferecem am
pla gam a de orientações, das quais a interpretação m ilitante e
violenta da religião é apenas urna dentre m uitas.
Enquanto isso, núm eros significativos de m uçulm anos estão
prontos para aprovar, e uns poucos deles para aplicar, essa interpre
tação de sua religião. O terrorism o requer apenas uns poucos. O b
viam ente, o O cidente tem que se defender por quaisquer meios
efetivos. Mas, ao conceber meios de com bater os terroristas, certa
m ente seria útil entender as forças que os im pelem .
24 A crise do islã
24. 1 Definindo o Islã
É difícil generalizar a respeito do islã. Para começar, a própria pala
vra é usualm ente em pregada com dois significados relacionados,
mas distintos, eqüivalendo tanto a cristianism o quanto a cristanda
de. No prim eiro sentido, indica um a religião, um sistema de crença e
culto; no outro, a civilização que cresceu e floresceu sob a égide da
quela religião. Assim, a palavra “islã” denota m ais de 14 séculos de
história, 1,3 bilhão de pessoas e um a tradição religiosa e cultural de
enorm e diversidade. Cristianism o e cristandade representam um
período mais longo e um núm ero m aior - m ais de 20 séculos, mais
de dois bilhões de pessoas c um a diversidade ainda maior. M esmo
assim, são possíveis certas generalizações a respeito do que é indife
rentem ente cham ado cristão, judaico-cristão, pós-cristão e, mais
sim plesm ente, civilização ocidental. Em bora possa ser difícil - e, às
vezes, em certo sentido, |)crigoso - generalizar sobre a civilização is
lâmica, i.sso não c impossível, c pode ter algum as utilidades.
Em Icrmos es|i.K i.iis, o dom ínio do islã estende-se do M arrocos
à Indonésia, do ( ;a/.u|uisl,io ao Senegal. Tem poralm ente, retrocede a
m ais de 14 séculos, .lo advento e à missão do profeta M aom é na A rá
bia, no século VII d.(2, i|uaiulo criou a com unidade e o Estado islâ
micos. No período que hisloi iadores europeus vêem com o um negro
interlúdio entre o declínio da eivilização antiga - Grécia e Rom a - e o
surgim ento da m oderna, oii seja, da Europa, o islã era a civilização
25
25. que liderava o m undo, m arcada por seus grandes e poderosos rei
nos, pela riqueza e variedade da indústria e do com ércio, por suas
ciências e artes engenhosas e criativas. M uito mais que a cristandade,
o islã foi o estágio interm ediário entre o antigo O riente e o m oderno
O cidente, para o qual contribuiu de m odo significativo. D urante os
últim os três séculos, contudo, o m undo islâmico perdeu sua dom i-
nância e liderança e ficou para trás do m oderno O cidente e tam bém
do O riente rapidam ente m odernizado. Esse crescente hiato apresen
ta problem as cada vez m ais agudos, tanto de ordem prática quanto
em ocional, para os quais os governantes, pensadores e rebeldes do
islã ainda não encontraram respostas convincentes.
Com o religião, o islã é, sob todos os aspectos, m uito mais próxi
m o da tradição judaico-cristã que de qualquer um a das grandes reli
giões da Ásia, com o o hinduísm o, o budism o ou o confucionism o. O
judaísm o e o islã têm em com um a crença em um a lei divina que re
gula todos os aspectos da atividade hum ana, incluindo até m esm o a
com ida e a bebida. Cristãos e m uçulm anos partilham um m esm o
triunfalism o. Em contraste com as outras religiões, incluindo o ju
daísm o, acreditam que são os únicos afortunados a receber e guardar
a m ensagem final de Deus para a hum anidade, sendo sua obrigação
levá-la ao resto do m undo. C om paradas com as mais antigas reli
giões orientais, todas as três religiões do O riente M édio - judaísm o,
cristianism o e islam ism o - estão intim am ente relacionadas e apare
cem, de fato, com o variantes da m esm a tradição religiosa.
A cristandade e o islã são, de m uitas m aneiras, civilizações
irm ãs, am bas derivadas de um a m esm a herança - a revelação c pro
fecia judaicas e a filosofia e ciência gregas - e nutridas pelas im em o
riais tradições do O riente M édio antigo. D urante a maioi parte de
sua história conjunta, têm sido im pelidas a se com bak iem, mas,
m esm o no conflito e na polêm ica, revelam seu paren testo essencial e
os traços com uns que as unem e as distinguem das civiliz.içoes asiáti
cas mais distantes.
26 A crise do islã
26. Mas, assim com o há semelhanças, há tam bém profundas dispa
ridades entre as duas, que vão além das óbvias diferenças de dogm a e
culto. Em nenhum outro aspecto essas diferenças são mais profun-
rlas - e mais óbvias - que na atitude dessas religiões e de seus expoen
tes legitim ados a respeito das relações entre governo, religião e
sociedade. O fundador do cristianism o ordenou a seus seguidores
dar “a César o que é de César, e a Deus o que é de D eus” (M at. 22:21)
e, durante séculos, o cristianism o cresceu e se desenvolveu com o
um a religião dos oprim idos, até que, com a conversão do im perador
( Àmstantino, o próprio César tornou-se cristão e inaugurou um a sé
rie de m udanças através das quais a nova fé ganhou o Im pério Ro
m ano e transform ou sua civilização.
O fundador do islã foi seu próprio C onstantino, e fundou seu
próprio Estado e im pério. Assim, ele não criou - nem necessitou
criar - um a igreja. A dicotom ía entre regnum e sacerdotium, tão
crucial na história da cristandade ocidental, não tinha nenhum equi
valente no islã. D urante a vida de M aom é, os m uçulm anos to rn a
ram-se, ao m esm o tem po, um a com unidade política e religiosa,
tendo o Profeta com o chefe de Estado. C om o tal, ele governava um
lugar e um povo, propiciava justiça, recolhia im postos, com andava
exércitos, declarava guerra e fazia a paz. A prim eira geração m uçul
m ana do período de form ação do islã, cujas aventuras constituem
sua história sagrada, não foi posta à prova continuam ente por perse
guições e nem tinha um a tradição de resistência a um poder estatal
hostil. Ao contrário, o Estado que os regia era o do islã, e a aprovação
de Deus à sua causa m anifestava-se para eles sob a forma de vitória e
im pério neste m undo.
Na Rom a pagã. César era Deus. Para os crislãos, há um a escolha
entre Deus e César, e inum eráveis gerações de cristãos têm -se enre
dado nas teias dessa escolha. No isla, nao havia nenhum a escolha ár
dua com o essa a fazer. Na organi/açao política universal islâmica, tal
com o concebida pelos m uçulm anos, náo há César, apenas Deus, que
é o único soberano e a imie.i (ontc da lei. M aom é foi Seu profeta,
Definindo o islã 27
27. que durante a vida ensinou e governou em nom e de Deus. Q uando
m orreu, em 632 d.C., sua m issão espiritual e profética de trazer a pa
lavra de Deus para a hum anidade havia sido com pletada. O que per
m aneceu foi a tarefa religiosa de espalhar a revelação de D eus até
que, finalm ente, o m undo todo a aceitasse. Isso deveria ser alcança
do am pliando a autoridade e, portanto, tam bém a participação da
com unidade que abraçava a verdadeira fé e sustentava a lei de Deus.
A fim de prover a adesão e a liderança necessárias para essa tarefa, re
queria-se um substituto ou sucessor do Profeta. A palavra árabe kha-
lifa foi o título adotado por Abu Bakr, sogro do Profeta e seu
sucessor, cuja ascensão à chefia da com unidade islâmica m arcou a
fundação da grande instituição histórica do califado.
D urante o governo dos califas, a com unidade de M edina, onde
havia governado o Profeta, transform ou-se num vasto im pério em
pouco m enos de um século, e o islam ism o tornou-se um a religião
universal. Na experiência dos prim eiros m uçulm anos, tal com o pre
servada e registrada para as gerações vindouras, a verdade religiosa e
o poder político eram indissoluvelm ente associados: a prim eira san-
tificava o segundo, e este sustentava aquela. O aiatolá K hom eini um a
vez observou que “o islã é política ou não é nada”. Nem todos os m u
çulm anos chegariam a tanto, m as a m aior parte deles concordaria
que D eus preocupa-se com a política, e essa crença é confirm ada e
sustentada pela sharia, a Lei Sagrada, que lida extensivam ente com a
aquisição e o exercício do poder, a natureza da legitim idade e da
autoridade, as obrigações dos governantes e súditos; em poucas pala
vras, com aquilo que, no Ocidenlc, cham aríam os direito constitu
cional e filosofia política.
A longa interação entre o islã e a cristand.ule, c suas m uitas se
m elhanças e influências m útuas, algum as vezes lêm levado observa
dores a ignorar certas diferenças significativas, t) Alcoi ao, di/.-se, é a
Bíblia m uçulm ana; a m esquita é a igreja m uçulm ana; os ulemás são
o clero m uçulm ano. As três afirm ações são verdadeiras, mas, ainda
assim, são perigosam ente enganosas. Tanto o Velho c]uanlo o Novo
28 A crise do islã
28. Testam ento consistem de coleções de diferentes livros, estenden-
do-se por longo período de tem po, e são considerados pelos crentes
a m aterialização da revelação divina. Para os m uçulm anos, o Alco
rão é um único livro, revelado em um tem po determ inado por um
m esm o hom em , o profeta M aom é. Após intensos debates nos p ri
m eiros séculos do islã, foi adotada a doutrina de que o Alcorão é, ele
m esm o, incriado e eterno, divino e im utável. Isso se tornou um
princípio central da fé.
A m esquita é, realm ente, a igreja m uçulm ana, no sentido de ser
um lugar de culto com unal. Mas não se pode falar “a M esquita”
com o se fala “a Igreja” - ou seja, um a instituição com sua própria
hierarquia e suas leis, em contraste com o Estado. Os ulemás (conhe
cidos com o m ulás no Irã e nos países m uçulm anos influenciados
pela cultura persa) podem ser descritos com o sacerdotes no sentido
sociológico, pois são hom ens de religião por profissão, reconhecidos
com o tal por treinam ento e certificado. M as não há um clero no islã
- nenhum a m ediação clerical entre D eus e o fiel, nem ordenação,
sacram entos ou rituais que apenas um sacerdote ordenado possa
realizar. N o passado, ter-se-ia acrescentado que não há concilios
ou sínodos, nem bispos para definir a ortodoxia e inquisidores para
fazê-la cum prir. Pelo m enos no Irã, isso já não é inteiram ente
verdadeiro.
A principal função do ulem á - de um a palavra árabe significan
do “conhecim ento”- é preservar e interpretar a Eei Sagrada. No final
dos tem pos medievais, surgiu algo com o um clero local que atendia
às necessidades das pessoas com im s em cidades e vilas, mas era
usualm ente separado do ulema e iiao coiilava com sua confiança, de
vendo mais ao isla mislico do c|iie .10 dogm ático. Nas últim as m onar
quias islâmicas, na 'liii(|uia e no Ir.i, apareceu um tipo de hierarquia
eclesiástica, mas sem rai/es n.i iiadiç.io m uçulm ana clássica, e m es
m o essas hierarquias nniu .1 dem andaram - e, m enos ainda, exerce
ram - os poderes dos piel.idos c 1 istãos. Nos tem pos m odernos, tem
havido m uitas m udanças, devidas, principalm ente, a influências oci
Definindo o islã 29
29. dentais, e desenvolveram -se instituições e profissões que guardam
sem elhança suspeita com as igrejas e clérigos da cristandade. M as re
presentam um afastam ento do islã clássico, e não um retorno a ele.
Se é possível, no m undo islâmico, falar de um clero num senso
sociológico lim itado, não há o m enor sentido em se falar de um a lai-
cidade. A própria noção de algo separado, ou m esm o separável, da
autoridade religiosa, expressa na linguagem cristã por term os com o
laico, temporal ou secular, é totalm ente estranha ao pensam ento e à
prática do islã. N ão foi senão a partir de tem pos relativam ente m o
dernos que passaram a existir equivalentes para esses term os na lín
gua árabe. Foram tom ados em prestados do uso de cristãos de fala
árabe, ou recém -inventados.
Desde a época do Profeta, a sociedade islâmica tinha um a n atu
reza dupla. De um lado, era um a unidade política - um a capitania
que, sucessivamente, tornou-se um Estado e um im pério. De outro
lado, e ao m esm o tem po, era um a com unidade religiosa fundada por
um profeta e dirigida por seus substitutos, que tam bém eram seus
sucessores. Cristo foi crucificado, Moisés m orreu sem entrar na terra
prom etida, e as crenças e condutas de seus seguidores religiosos ain
da são profundam ente influenciados pela m em ória desses fatos.
M aom é triunfou em vida e m orreu com o soberano e conquistador.
As condutas m uçulm anas resultantes não tinham com o não serem
confirm adas pela história subseqüente de sua religião. Na Europa
ocidental, invasores bárbaros [mas educáveis] encontraram um Es
tado e um a religião já existindo: o Im pério Rom ano e a Igreja cristã.
Os invasores reconheceram am bos, e tentaram trabalhar para seus
próprios fins e neccssitiades denlro das eslriituras da sociedade ro
m ana organizada e da religião ci isl.i, qiie em pregavam a língua lati
na. Os invasores árabes m uçulm anos i|ue toiiquislaiam o O riente
M édio e a África do N orte trouxeram sua (uopi i.i le, lom suas p ró
prias escrituras em sua própria língua; criaram sua piopria consti
tuição política, com um novo conjunto de leis, um novo idiom a
im perial e um a nova estrutura im perial, tendo o calila <,omo chefe
30 A crise do islã
30. suprem o. Esse Estado e essa organização eram definidos pelo islã, e a
associação plena era concedida exclusivam ente àqueles que profes
savam a fé dom inante.
A carreira do profeta M aom é - o m odelo que todo bom m uçul
m ano busca im itar, não só nisso, com o em tudo o mais, - divide-se
em duas partes. Na prim eira, durante os anos em sua cidade natal,
M eca (?570-622), era um oponente da oligarquia pagã que então
reinava. Na segunda, após sua m udança de Meca para M edina
(622-632), era o chefe de um Estado. Essas duas fases na carreira do
Profeta, um a de resistência, outra de com ando, estão refletidas no
Alcorão, onde, em diferentes capítulos, os fiéis são instruídos a obe
decer ao representante de Deus e desobedecer ao Faraó, o paradigm a
do dirigente injusto e tirânico. Tais aspectos da vida e obra do Profeta
inspiraram duas tradições no islã, um a autoritária e quietista, a outra
radical e ativista. Ambas estão am plam ente refietidas, de um lado, no
desenvolvim ento da tradição, e, de outro, no desenrolar dos eventos.
N em sem pre foi fácil determ inar quem era o representante de Deus e
quem era o Faraó; m uitos livros foram escritos, e m uitas batalhas
travadas, na tentativa do fazê Io. O problem a perm anece, e as duas
tradições podem ser vist.is imiilo claram ente nas polêm icas e nos
conflitos de nosso (uoprio tempo.
Entre os extrem os de c|iiietismo e radicalism o há um a atitude
dissem inada, am plam enlr' t'xpiessada, de reserva, e m esm o de des
confiança, diante ilo j;ovei no. Um exemplo é a m arcante diferença,
nos tem pos mcdiev.iis, d.is atitudes populares relativas ao cádi, um
juiz, e o m ufti, um |ui ise(insulto ria Lei Sagrada. O cádi, nom eado
pelo governante, c apresenl.ido n.i literatura e no folclore com o um a
figura m ercenária e .ite i kIk iiI.i; o mufti, reputado no islã medieval
pelo reconhecim ento de seus (.olegas e da população em geral, des
frutava de estima e res|H iiii. Uin lema tradicional nas biografias de
hom ens devotos - as (|uais existem centenas de m ilhares - é que o
herói recebeu a olerl.i de um taigo governam ental e recusou. A ofer-
Definindo o Isla il
31. ta dem onstra seu conhecim ento e reputação; a recusa, sua inte
gridade.
Nos tem pos otom anos, houve urna m udança im portante. O
cádi ganhou m uito em poder e autoridade, e m esm o o m ufti foi inte
grado à hierarquia pública de autoridade. Mas a velha atitude de des
confiança diante do governo persistiu e é freqüentem ente expressada
em provérbios, historias folclóricas e até na m elhor literatura.
Por m ais de m il anos, o islã forneceu o único conjunto univer
salm ente aceitável de regras e principios para a regulação da vida p ú
blica e social. M esm o durante o período da m áxim a influência
européia, nos países governados ou dom inados por poderes im pe
riais europeus, bem com o naqueles que perm aneceram indepen
dentes, as noções e atitudes políticas islâmicas continuaram a exercer
profunda e dissem inada influência. Nos anos recentes, tem havido
m uitos sinais de que essas noções e atitudes podem estar retornando
ao padrão anterior de dom inância, em bora sob form as modificadas.
32 A crise do islã
É no terreno da política - interna, regional e internacional - que p o
dem ser vistas as diferenças mais m arcantes entre o islã e o resto do
m undo. Os chefes de Estado ou m inistros de Relações Exteriores dos
países escandinavos e do Reino U nido não se reúnem , de tem pos em
tem pos, em conferências de cúpula protestantes; nem foi jam ais um a
prática dos governantes da Grécia, Iugoslávia, Bulgária e União
Soviética, esquecendo tem porariam ente suas diferenças políticas e
ideológicas, prom over encontros regulares com base em sua adesão
prévia ou atual à Igreja O rtodoxa. Do m esm o m odo, os Estados b u
distas do leste e do sudeste asiático não constituem um liloco budista
nas Nações U nidas nem em nenhum a outra de suas atividades políti
cas. No m undo m oderno, a própria iiléia de lal gi ii|iam ento baseado
na religião pode parecer anacrônica e ale absuul.i. M .isem relação ao
islã, não é anacrônica nem absurda. Ao lougo das tensões da G uerra
Fria, e após aquele período, mais de cinqüenta governos m uçulm a-
32. nos - incluindo m onarquias e repúblicas, conservadores e radicais,
adeptos do capitalism o e do socialismo, partidários do bloco ociden
tal e do bloco oriental, e toda um a gama de graus de neutralidade -
construíram um elaborado aparato de consulta internacional e, em
m uitos casos, de cooperação.
Em setem bro de 1969, um a conferência de cúpula islâmica reu
nida em Rabá, no M arrocos, decidiu criar um a entidade cham ada
Organização da Conferência Islâmica (O C I), com um a secretaria
perm anente em D jedda, na Arábia Saudita. A entidade foi criada e se
desenvolveu rapidam ente na década de 1970. Suas preocupações
principais eram a ajuda aos países m uçulm anos pobres, o apoio às
m inorias m uçulm anas em países não-m uçulm anos e a posição in
ternacional do islã e dos m uçulm anos - nas palavras de um observa
dor, os direitos islâmicos do hom em .
Essa organização tem agora 57 Estados m em bros, além de três
com status de observadores. Dois desses Estados, Albânia e Turquia,
estão, ou aspiram a estar, na Europa (a Bosnia tem apenas o status de
observador); dois, Surinam e (adm itido em 1996) e G uiana (adm iti
da em 1998), estão no hem isfério ocidental. Os demais estão na Ásia
e na África, e, com poucas exceções, gantiaram sua independência
nos últim os 50 anos dos im périos da fluropa ocidental e, mais recen
tem ente, do Soviético. A m.iior parle desses Estados tem um a p o p u
lação quase em siia totalidade iiiuçulm ana, em bora alguns poucos
tenham sido adm itidos em limçao da força de suas significativas m i
norias m uçulm anas. Alem di-ssi-s lisiados, há im portantes m inorias
m uçulm anas em outros países algumas delas sem elhantes à m aio
ria, com o na liulia, onl r.is, f-inica c religiosamente distintas, com o os
tchetchenos e os l.n l.iios da federação Russa. Alguns países, com o a
China, têm m inorias m uçulm anas dos dois tipos. A tualm ente, m ui
tos outros estão g.mli.mdo m inorias m uçulm anas em conseqüência
de imigrações.
Houve e há im porlanles limites à eficácia da O CI com o um ator
no cenário polít ico in u-rn acionai. A invasão soviética do Afeganistão
Definindo o islã 33
33. em 1979, um flagrante ato de agressão contra urna nação m uçulm a
na soberana, não evocou protestos sérios e foi até defendida por al
guns m em bros. M ais recentem ente, a Organização tem deixado de
se m anifestar a respeito de guerras civis em Estados m em bros com o
Sudão e Somalia. Seu desem penho em questões regionais tam bém
não foi significativo. Entre 1980 e 1988, dois países islâmicos, Iraque
e Irã, envolveram -se num a guerra devastadora, infligindo im ensos
danos um ao outro. A OCI nada fez, nem para im pedir a guerra nem
para dar fim a ela. Em geral, a OCI, diferentem ente da Organização
dos Estados A m ericanos e da Organização da U nidade Africana, não
se ocupa de abusos de direitos hum anos e outros problem as internos
dos Estados m em bros; suas preocupações com a questão têm -se
lim itado à situação de m uçulm anos vivendo em países nâo-m u-
çulm anos, principalm ente na Palestina. No entanto, a OCI não deve
ser desconsiderada. Suas atividades culturais e sociais são im portan
tes e crescentes, e o aparato que propicia para consultas regulares en
tre Estados m em bros pode ganhar im portância à m edida que a
G uerra Fria e seus efeitos perturbadores vão ficando para trás.
Passando da política internacional para a regional e nacional, as
diferenças entre o islã e o resto do m undo, em bora m enos m arcantes,
são ainda substanciais. Em alguns dos países com regimes dem ocrá
ticos m ultipartidários existem partidos políticos com designações
religiosas - Cristão no Ocidente, H indu na índia. Budista no O rien
te. Mas esses partidos são relativam ente poucos, e os que desem pe
nham papel im portante são ainda em m enor núm ero. M esm o no
caso desses últim os, os tem as religiosos são, em geral, de m enor im
portância em seus program as e apelos ao eleitorado. Entretanto, na
m aioria dos países islâmicos, a religião continua a ser um fator polí
tico relevante - m uito mais no cam po dom estico, de lato, que nas
questões internacionais ou m esm o regionais. (Ju.il a ia/ao dessa d i
ferença?
Um a resposta é óbvia: a m aior pai te dos países m uçulm anos
ainda é profundam ente m uçulm ana, de um a form a e luim sentido
34 A crise do islã
34. que a m aioria dos países cristãos já não é. É certo que, em m uitos
desses últim os, as crenças cristãs e o clero que as sustentam ainda são
um a força poderosa. Em bora seu papel não seja o m esm o que o de
séculos passados, não é, de m aneira algum a, insignificante. M as em
nenhum país cristão da atualidade os líderes religiosos podem con
tar com um grau de crença e participação com o o que continua a ser
norm alm ente encontrado em terras m uçulm anas. Em poucos países
cristãos, se é que em algum, os princípios e práticas cristãos estão
im unes a com entários críticos ou discussões no nível em que é aceito
com o norm al m esm o em sociedades m uçulm anas ostensivam ente
seculares e dem ocráticas. N a realidade, essa im unidade privilegiada
tem sido estendida, de facto, a países ocidentais onde com unidades
m uçulm anas estão já estabelecidas e onde crenças e práticas m uçul
m anas têm garantia de im unidade a críticas num nível que as m aio
rias cristãs perderam e as m inorias judias nunca tiveram . Mais
im portante ainda; com m uito poucas exceções, o clero cristão não
exerce ou nem ao m enos dem anda o tipo de autoridade pública que
ainda é norm al e aceita na m aior parte dos países m uçulm anos.
O nível m ais elevado de fé c práticas religiosas entre os m uçul
m anos, em com paração com seguidores dc outras religiões, explica,
em parte, a atitude única dos m uçulm anos frente à política; não é a
explicação total, já que atitude sem elhante pode ser encontrada em
indivíduos e m esm o em grupos inteiros cujo com prom isso com a fé
e a prática religiosas é, iio m.iximo, superficial. O islã é não apenas
um a questão de fé e prát ica; e tam liém um a identidade e um a lealda
de que, para m uitos, trausceudem todas as demais.
Aparentem ente, a impoi tação de noções ocidentais de patriotis
m o e nacionalism o m uilou tudo isso e levou à criação de um a série
de Estados-naçocs m odeinos que se estendem por todo o m undo is
lâmico, do M arroios a Indonésia.
Mas nem tudo e com o parece ser. Dois exemplos podem ser su
ficientes. Em 1923, aiKÍs a últim a guerra greco-turca, os dois gover
nos concordaram em resolver os problem as de suas m inorias através
Definindo o islã 35
35. de um a troca de populações - gregos foram m andados da T urquia
para a Grécia, turcos foram enviados da Grécia para a Turquia. Pelo
m enos, é isso, em geral, o que contam os livros de historia. Os fatos
são um tanto diferentes. O protocolo assinado pelos dois governos
em Lausanne em 1923, contendo o acordo de trocas, não fala de
“gregos” e “turcos”. Ele define as pessoas a serem trocadas com o “se
guidores turcos da religião ortodoxa grega residindo na T urquia” e
“seguidores gregos da religião m uçulm ana residindo na Grécia”.
Assim, o protocolo reconhece apenas dois tipos de identidade - um a
definida por ser súdito de um Estado, e outra por ser seguidor de
um a religião. N ão é feita qualquer referência a nacionalidades étni
cas ou lingüísticas. A precisão desse docum ento em expressar as in
tenções dos signatários foi confirm ada pela troca verdadeiram ente
realizada. M uitos dos assim cham ados gregos da província de Kara-
m an, na A natólia turca, tinham o turco com o língua m aterna, mas
usavam o alfabeto grego para escrever e freqüentavam os cultos das
igrejas ortodoxas. M uitos dos assim cham ados turcos da Grécia não
sabiam turco, ou sabiam m uito pouco, e usualm ente falavam grego
- mas escreviam com o alfabeto turco-árabe.
Um observador ocidental, acostum ado a um sistema ocidental
de classificação, poderia m uito bem ter concluído que o que os go
vernos da Grécia e da Turquia concordaram em fazer, e fizeram, não
foi a troca e a repatriação de m inorias nacionais gregas e turcas, mas
sim um a dupla deportação para o exílio - de m uçulm anos gregos
para a Turquia, de turcos cristãos para a Grécia. Até m uito recente
m ente, a Grécia e a Turquia, am bas dem ocracias ocidentalizadas, a
prim eira, m em bro efetivo da União Européia, a segunda, candidata,
reservavam um cam po específico para religião nos docum entos de
identidade oficiais.
Um segundo exemplo é o Egito. Poucos países, (alvez nenhum
outro, têm m elhores elem entos para reclam ar seu caráter de nação -
um país claram ente caracterizado tanto pela história quanto pela
geografia, com um a história ininterrupta de civili/.açao que se esten-
36 A crise do islã
36. de por mais de cinco m il anos. M as os egipcios têm diversas identi
dades, e, na m aior parte dos últim os 14 séculos - isto é, desde a
conquista árabe-islám ica do Egito no século VII e a subseqüente isla-
mização e arabização do país - raram ente a egipcia tem sido a predo
m inante: têm precedência a identidade cultural e lingüística do
arabism o ou, durante a m aior parte de sua historia, a identidade reli
giosa do islã. C om o nação, o Egito é urna das m ais antigas do m u n
do. Com o Estado-nação, é urna criação m oderna e ainda enfrenta
m uitos desafíos internos. A tualm ente, o m ais forte desses desafíos,
tam bém encontrado em alguns outros países m uçulm anos, vem de
grupos islâmicos radicais, do tipo com um ente descrito hoje, em bora
de form a equivocada, com o “fundam entalista”.
Definindo o islã 37
Desde quando seu Fundador era vivo e, portanto, conform e suas sa
gradas escrituras, o islã está associado, no espirito e na m em oria dos
m uçulm anos, com o exercício do poder político e militar. O islã clás
sico reconhecia a distinção entre coisas desse m undo e coisas do p ró
xim o, entre reflexões pias e m undanas. O que não reconhecia erá
um a instituição separada, com hierarquia e leis próprias, para regu
lar questões religiosas.
Isso significa então que o islã é urna teocracia? No sentido de
que Deus é visto com o o suprem o soberano, a resposta teria que ser
um decisivo sim. No sentido de governo por um sacerdocio, definiti
vam ente não. O surgim ento de urna hierarquia sacerdotal que veio a
assum ir a autoridade mais elevada no Estado é urna inovação m o
derna e urna contribuição exclusiva do aiatolá K hom eini do Irã ao
pensam ento e .i experiência do islã.
A Revolução Islâmica no Irã, com o as revoluções Francesa e
Russa às quais se assemelha em m uitos aspectos, teve um trem endo
im pacto não apenas naquele país e entre seu próprio povo, mas tam
bém em todos os países e povos com os quais tinha um universo dis
cursivo em conunn. Com o as revoluções Francesa e Russa em suas
37. respectivas épocas, despertou trem enda esperança e enorm e entu
siasmo. C om o aquelas revoluções, sofreu seu T error e sua guerra de
intervenção; com o elas, tem seus jacobinos e seus bolcheviques, de
term inados a esm agar qualquer sinal de pragm atism o ou m odera
ção. E, tal com o aquelas revoluções, mais particularm ente a Russa,
tem tam bém sua própria rede de agentes e emissários lutando, de vá
rias form as, para prom over a causa revolucionária ou, pelo menos, o
regim e visto com o sua m aterialização.
A palavra revolução tem sido m uito m al usada no m oderno
O riente M édio, sendo aplicada a m uitos eventos - ou dem andada
por eles - que seriam mais adequadam ente designados pela expres
são francesa coup d ’état, pela palavra alemã Putsch ou pela espanhola
pronunciamiento. É interessante que a experiência política dos povos
de língua inglesa não ofereça um term o equivalente. O que aconte
ceu no Irã não foi nada disso, mas tratava-se, em suas origens, de um
autêntico m ovim ento revolucionário pró-m udança. Com o seus an
tecessores, deu dem asiadam ente errado em m uitos aspectos, levan
do à tirania no país e ao terror e à subversão fora. D iferentem ente da
França e da Rússia revolucionárias, o Irã revolucionário carece dos
meios, dos recursos e das competências para se tornar um a autoridade
e um a ameaça expressivas em esfera m undial. A ameaça que oferece é,
principal e totalm ente, para os m uçulm anos e para o próprio islã.
A onda revolucionária no islã tem diversos com ponentes. Um
deles é um senso de hum ilhação: o sentim ento de um a com unidade
de pessoas acostum adas a se verem com o as únicas guardiãs da ver
dade de Deus, que receberam Dele o com ando de levá-la aos infiéis e
que, de repente, vêem-se dom inadas c exploradas por aqueles m es
m os infiéis. M esm o quando já não mais ilom inadas, suas vidas são
m udadas e profundam ente afetadas, pois se scnlem tiradas do verda
deiro cam inho islâmico e levadas para oiilios. A luim ilbação ju n
tou-se frustração, à m edida que lotam cxpei im eiilados vários
rem édios, a m aior parte im portada do Ocidente, e, um após outro,
todos falharam .
38 A crise do islã
38. Em seguida à hum ilhação e à frustração veio um terceiro com
ponente, necessário para o ressurgim ento - um a nova confiança e
um senso de poder renovado. Isso se m anifestou a partir da crise do
petróleo de 1973, quando, em apoio à guerra do Egito contra Israel,
os países árabes produtores de petróleo usaram tanto o fornecim en
to quanto o preço com o arm as que se provaram m uito eficazes. A ri
queza, o orgulho e a autoconfiança que resultaram do episódio
foram reforçados por outro elem ento tam bém novo; o desprezo. Em
contato com a Europa e a América, os visitantes m uçulm anos com e
çaram a observar e descrever o que viram com o a degradação m oral
e a conseqüente fragilidade da civilização ocidental.
Em um tem po de tensões crescentes, ideologias vacilantes, leal-
dades exauridas e instituições decadentes, um a ideologia expressada
em term os islâmicos oferecia diversas vantagens: um a base em o
cionalm ente fam iliar para a identidade grupai, a solidariedade e a ex
clusão; um a base aceitável de legitim idade e autoridade; um a
form ulação im ediatam ente inteligível de princípios a serem usados
tanto num a crítica do presente quanto num program a para o futuro.
Através de tudo isso, o islã pôde prover os sím bolos e slogans mais
efetivos para a m obilização, seja a favor de um a causa ou um regime,
seja contra eles.
Os m ovim entos islâmicos tam bém têm outra im ensa vantagem
quando com parados com todos os seus com petidores. Nas m esqui
tas, eles dispõem de um a rede de associação e com unicação que m es
m o o mais ditatorial dos governos não pode controlar inteiram ente.
De fato, ditaduras brutais os ajudam , m esm o não tendo tal intenção,
ao elim inar oposições com petidoras.
O islam ism o radical, ao qual se tornou usual dar o nom e de fun-
dam entalism o islâmico, não é um único m ovim ento hom ogêneo.
Elá m uitos tipos de fundam entalism o islâmico em diferentes países
e, às vczcs, dentro de um m esm o país. Alguns são patrocinados pelo
Estado - prom ulgados, usados e prom ovidos por um ou outro go
verno m uçulm ano para seus próprios propósitos; outros são genuí-
Definindo o islã 39
39. nos m ovim entos populares de base. Entre os m ovim entos islâmicos
patrocinados pelo Estado há tam bém vários tipos, tanto radicais
quanto conservadores, tanto subversivos quanto preventivos. M ovi
m entos conservadores e preventivos têm sido iniciados por gover
nos no poder buscando proteger-se de urna onda revolucionária.
São desse tipo os m ovim entos encorajados, em diferentes épocas,
pelos egipcios, paquistaneses e, principalm ente, sauditas. O outro
tipo, m uito m ais im portante, vem de baixo, com urna auténtica base
popular. O prim eiro desses a tom ar o poder e exercê-lo com m aior
sucesso foi o m ovim ento conhecido com o a Revolução Islâmica no
Irã. Regimes islâmicos radicais agora dom inam no Sudão e, por al
gum tem po, dom inaram no Afeganistão, enquanto m ovim entos is
lâm icos constituem grandes ameaças à já am eaçada ordem existente
em outros países, especialm ente Argélia e Egito.
Os fundam entalistas m uçulm anos, diferentem ente dos grupos
protestantes cujo nom e foi transferido para eles, não diferem da cor
rente dom inante em questões de teologia e interpretação dos textos
sagrados. Sua crítica, em sentido m ais am plo, é relativa a toda a so
ciedade. O m undo islâmico, na opinião desses fundam entalistas, to
m ou um cam inho errado. Seus governantes cham am a si m esm os
m uçulm anos e fingem ser o islã, mas são, de fato, apóstatas que abo
liram a Lei Sagrada e adotaram leis e costum es estrangeiros, infiéis. A
única solução, segundo eles, é um retorno ao autêntico m odo de vida
m uçulm ano, c, para isso, <i remoção dos governos apóstatas é um
prim eiro passo essencial. Os fuiulam enlalislas são antiocidentais no
sentido de que vêem o Ocideiile com o a lonle do mal que está cor
roendo a sociedade m uçulm ana, m.is scai prim eiro ataque está diri
gido contra seus próprios govr-rnanU's e lideres. Assim foram os
m ovim entos que resultaram na ilei iubarla do xá do Irã em 1979 e no
assassinato do presidente Sadal, do Lgilo, dois anos depois. Ambos
eram vistos com o sintom as de um mal mais profundo a ser rem edia
do com um a lim peza interna. No Egito, eles m ataram o dirigente.
40 A crise do islã
40. mas não conseguiram se apropriar do Estado; no Irã, destruíram o
regime e criaram o seu próprio.
Definindo o islã 41
O islã é um a das grandes religiões do m undo. D eu dignidade e senti
do a vidas toscas e em pobrecidas. Ensinou hom ens de diferentes ra
ças a viver em irm andade e povos de diferentes credos a viver lado a
lado em sensata tolerância. Inspirou um a grande civilização na qual
outros, além dos m uçulm anos, tiveram vidas criativas e proveitosas e
que, por suas realizações, enriqueceram o m undo inteiro. Mas o islã,
com o outras religiões, tam bém conheceu períodos nos quais inspi
rou em alguns de seus seguidores um espírito de ódio e violência. É
um infortúnio nosso que tenham os que confrontar parte do m undo
m uçulm ano no m om ento em que atravessa um desses períodos, e
quando a m aior parte daquele ódio - mas não todo ele, de form a al
gum a - está dirigido contra nós.
Por quê? N ão devemos exagerar as dim ensões do problem a. O
m undo m uçulm ano está longe de ser unânim e em sua rejeição do
Ocidente, e nem as regiões m uçulm anas do Terceiro M undo têm es
tado sozinhas em sua hostilidade. Existem ainda núm eros significa
tivos de m uçulm anos, em alguns lugares talvez a m aioria deles, com
os quais partilham os algu mas crenças e aspirações básicas de n ature
za cultural e m oral, social e política; existe um a significativa presença
ocidental - cultural, econôm ica, diplom ática - em terras m uçulm a
nas, algum as das quais sao aliadas do O cidente. M as há um a m aré
de ódio que aflige, alarma c, acima de tudo, desconcerta os norte-
am ericanos.
Frcqiicntcm enle esse odio vai além do nível de hostilidade a in
teresses, ações, políticas ou m esm o países específicos, e se transfor
m a em rejeição à civilização ocidental propriam ente dita, não tanto
pelo que faz, m as pelo que é e [k To s princípios e valores que pratica e
professa. Na verdade, esses são vistos com o intrínsecam ente maléfi-
41. COS, e os que os prom ovem ou aceitam são considerados “inim igos
de D eus”.
Essa frase, que reaparece tão freqüentem ente nas declarações da
liderança iraniana, tanto em seus procedim entos jurídicos quanto
nos pronunciam entos políticos, pode parecer m uito estranha ao
m oderno observador externo, seja religioso ou secular. A idéia de
que Deus tem inim igos e necessita de ajuda hum ana para identifi
cá-los e elim iná-los é um tanto difícil de assimilar. No entanto, não é
assim tão estranha. O conceito de inim igos de Deus era fam iliar na
Antigüidade pré-clássica e clássica, tanto no Antigo e Novo Testa
m entos quanto no Alcorão.
No islã, a luta entre bem e m al adquiriu, desde o começo, di
m ensões políticas e m esm o militares. Deve-se recordar que M aom é
era não apenas um profeta e m estre, tal com o os fundadores de ou
tras religiões; era tam bém um dirigente e um soldado. Daí que sua
luta envolvesse um Estado e suas forças arm adas. Se os com batentes
na guerra pelo islã, a guerra santa “no cam inho de D eus”, estão lu
tando por Deus, segue-se que seus oponentes estão lutando contra
Deus. E dado que Deus é, em princípio, o soberano, o suprem o chefe
do Estado islâmico, tendo o Profeta e, depois dele, os califas como
Seus vice-regentes, então Deus, com o soberano, com anda o exército.
O exército é o exército de D eus e o inim igo é o inim igo de D eus.
A obrigação dos Seus soldados é despachar os inim igos, tão ráp i
do quanto possível, para o lugar onde Deus os castigará, ou seja, a
outra vida.
Atualm cnle, a iiucsiao t h.ive (|ue ocupa os form uladores de po
líticas no O cidente pode sei expiessad.i sim |)lesm entc como: será o
islã, fundam eiitalista oli nao, iiiii.i aiiu-.u,.i p.iia o Ocidenie? A essa
questão simples têm sido d.idas varias respusi.is l.inibem simples, e,
sendo assim, a m aior parte aponía na direção ei i.ul.i. I )e .leordo com
um a escola de pensam ento, após o desm anlel.im eiilo da União So
viética e do m ovim ento com unista, o islã e o lundaiueiil.ilism o islâ
mico passaram a ocupar seus lugares com o a m aior ameaça ao
42 A crise do islã
42. O cidente e ao m odo de vida ocidental. De acordo com outra escola
de pensam ento, os m uçulm anos, incluindo os fundam entalistas ra
dicais, são pessoas basicam ente decentes, am antes da paz e devotas,
algumas das quais foram levadas além do suportável por todas as
coisas terríveis que nós, do O cidente, tem os feito a elas. Escolhemos
vê-los com o inim igos porque tem os um a necessidade psicológica de
um inim igo para substituir a finada U nião Soviética.
Ambas as perspectivas contêm elem entos de verdade; am bas es
tão perigosam ente erradas. O islã, com o tal, não é um inim igo do
Ocidente, e há porções crescentes de m uçulm anos, tanto lá com o
aqui, que desejam nada m ais que um a relação mais próxim a e mais
am istosa com o O cidente e o desenvolvim ento de instituições dem o
cráticas em seus próprios países. Mas um núm ero significativo de
m uçulm anos - especialm ente aqueles que cham am os de fundam en
talistas, mas não apenas eles - é hostil e perigoso, não porque neces
sitemos de um inim igo, mas porque eles, sim.
Nos últim os anos tem havido algumas m udanças de ponto de
vista e, conseqüentem ente, de táticas entre os m uçulm anos. Alguns
deles ainda vêem o Ocidente em geral - e seu atual líder, os Estados
Unidos, em particular com o um antigo e irreconciliável inim igo do
islã, o único sério obstáculo à restauração da fé e da lei de Deus em
seus países e ao triunfo definitivo das m esm as em todo o m undo.
Para esses m uçulm anos, iiáo há outro cam inho senão a guerra até a
m orte, em obediência ao t|uc vêem com o os m andam entos de sua fé.
H á outros que, em bora perm anecendo m uçulm anos com prom eti
dos e m uito consc ientes tias falhas da m oderna sociedade ocidental,
aindaassim lam bem veem seus m é rito s-se u espírito indagador, que
produziu a ciêiu i,i e ,t leenologia m odernas; suas preocupações com
a liberdade, t|ue t riaram m odernos governos dem ocráticos. Esses úl
tim os, em bora m anieiulo suas próprias crenças e sua própria cultu
ra, buscam juntai se a nós na cam inhada em direção a um m undo
mais livre e melhor. 1Ia outros ainda que, apesar de verem o O ciden
te com o seu priiu ipal inimigo e com o fonte de todos os males, estão.
Definindo o islã 43
43. ainda assim, conscientes do poder ocidental e buscam algum a aco
m odação tem porária a fim de m elhor se prepararem para a batalha
final. Seria sábio de nossa parte não confundir os segundos com os
terceiros.
44 A crise do islã
44. 2 A Casa da Guerra
Ao longo da historia hum ana, m uitas civilizações floresceram e de
caíram - China, índia, Grécia, Rom a e, antes delas, as antigas civili
zações do O riente M édio. D urante os séculos que a história européia
cham a de medievais, a mais avançada civilização do m undo era, sem
dúvida, a do islã. O islã pode ter sido igualado - ou m esm o, em al
guns aspectos, ultrapassado - pela índia e pela China, mas essas duas
perm aneceram essencialm ente circunscritas a um a região e a um
grupo étnico, e seu im pacto sobre o resto do m undo foi, por isso
m esm o, lim itado. A civilização do islã, em contraste, tinha perspecti
vas ecum ênicas e, em suas aspirações, era explicitam ente assim.
U m a das tarefas elem entares legadas aos m uçulm anos pelo Pro
feta era ãjihad. Essa palavra vem da raiz arábica j-h-d, significando
basicam ente em penho ou esforço. Com freqúência, é usada em tex
tos clássicos com um seu lido bastante próxim o de batalha e, p o rtan
to, tam bém de luta. h usualm ente citada no versículo do Alcorão
“esforçando-se iio (.auiinho de D eus” (p.ex, IX, 24; LX, 1 etc.), e tem
recebido várias iiilerprelações no sentido de esforço m oral e luta ar
m ada. Em ger.il, e bastante fácil entender, pelo contexto, qual dessas
nuances de siguilitado tem-se em m ente. No Alcorão, a palavra
ocorre m uitas ve/a s uesscs dois sentidos distintos, m as relacionados.
Nos prim eiros tapilulos, datados do período em Meca, quando o
Profeta ainda ci-.i o lulcr de um grupo m inoritário lutando contra a
45
45. oligarquia pagã dom inante, a palavra freqüentem ente tem o sentido,
preferido por exegetas m odernistas, de esforço m oral. Nos últim os
capítulos, revelados em M edina, onde o Profeta dirigia o Estado e
com andava seu exército, jihad geralm ente tem um a conotação prá
tica m ais explícita. Em m uitos casos, o significado m ilitar é inequí
voco. U m bom exem plo é a passagem IV, 95: “Aqueles crentes que
perm anecem em casa, além dos incapacitados, não são iguais àque
les que se em penham no cam inho de Deus com seus bens e suas pes
soas. Deus situou os que se em penham com seus bens e suas pessoas
em um nível mais elevado do que aqueles que perm anecem em casa.
Deus prom eteu recom pensa a todos que crêem , mas concede aos
que lutam um a recom pensa m aior, distinguindo-os dos que perm a
necem em casa.” Juízos sem elhantes podem ser encontrados em VIII,
72; IX, 41, 81, 88; LXVI, 9 etc.
Alguns m uçulm anos m odernos, especialm ente ao se dirigirem
ao m undo exterior, explicam a obrigação da jihad num sentido espi
ritual e m oral. A esm agadora m aioria das autoridades mais antigas,
citando as passagens relevantes do Alcorão, os com entários e as tra
dições do Profeta, discute jihad em term os militares. Segundo a lei is
lâmica, está de acordo com as escrituras fazer guerra contra quatro
tipos de inimigos: infiéis, apóstatas, rebeldes e bandidos. Em bora os
quatro tipos de guerras sejam legítimos, apenas os dois prim eiros
contam com o jihad. Portanto, a jihad é um a obrigação religiosa. Ao
discutir a obrigação da guerra santa, os juristas m uçulm anos clássi
cos distinguem entre guerra ofensiva e defensiva. Na ofensiva, ajihad
é um a obrigação da com unidade m uçulm ana com o um lodo, e pode
ser cum prida, portanto, por com batentes voluntários e profissionais.
Em um a guerra defensiva, torna-se um a obrigação de Iodos os indi
víduos fisicamente aptos. É esse princípio que Osam a bin l.adcn in
vocou em sua declaração de guerra contra os Estados Unidos.
D urante a m aior parte dos 14 séculos de história m uçulm ana
registrada, a jihad foi m ais com um ente interpretada c o m o luta a r
m ada para defesa ou aum ento do poder m uçulm ano. N.i ii adição
46 A crise do islã
46. m uçulm ana, o m undo é dividido em duas casas: a Casa do Islã [Dar
al-Islam), na qual existem governos m uçulm anos e onde prevalece a
lei m uçulm ana, e a Casa da G uerra {Dar al-Harh), o resto do m u n
do, ainda habitado por infiéis e, m ais im portante, sob governos
infiéis. A presunção é que a obrigação da jihad continuará, inter
rom pida apenas por tréguas, até que o m undo todo adote a fé m u
çulm ana ou se subm eta ao m ando m uçulm ano. Aqueles que lutam
na jihad qualificam -se para recom pensas nos dois m undos, butim
nesse, paraíso no próxim o.
Nessa questão, com o em tantas outras, a orientação do Alcorão
c am pliada e elaborada ñas hadiths, tradições que tratam dos atos e
palavras do Profeta. M uitas dessas referem -se à guerra santa. Esses
são alguns exemplos:
A jihad é sua obrigação sob qualquer comandante, seja ele divino ou
iníquo.
É melhor um dia e uma noite de lutas na fronteira do que um mês de
jejum e prece.
A picada de uma formiga causa mais dor a um mártir do que a ferida
de uma arma, pois essa é mais bem -vinda para ele do que água fres
ca e doce em um dia quente de verão.
Aquele que morre sem ter participado de um a campanha morre num
certo tipo de desci eiiça.
Deus se maravilha com ac|ueles [aos quais o islã é trazido por conquis
ta] que são .in asiados ao paraíso em cadeias.
Aprenda a atii'.ii', pois o es[iaço entre o alvo e o arqueiro é um dos jar
dins do paiaiso.
O paraíso esl.i .i somhi .i de espadas.
A tradição l.nnhein esl.ibdcce algumas regras de guerra para a
condução da jihati:
Saiba que os prisioiieiios devem ser bem tratados.
A pilhagem nao e m.iis leg.il do que carne podre.
Deus proibiu m.il.ii m u lh eres e crianças.
A casa da guerra 47
47. Os m uçulm anos estão obrigados por seus acordos, desde que esses es
tejam em conform idade com a le if
Os tratados jurídicos convencionais relacionados com a sharia
norm alm ente contêm um capítulo sobre ajihad, entendida no senti
do m ilitar com o guerra regular contra infiéis e apóstatas. M as esses
tratados prescrevem com portam ento correto e respeito às regras da
guerra em questões com o o início e o térm ino das hostilidades e o
tratam ento de não-com batentes e prisioneiros, para não falar dos
enviados diplom áticos.
D urante a m aior parte da história registrada do islã, desde o
tem po em que vivia o profeta M aomé, a palavra jihad foi usada em
sentido principalm ente militar. M aom é com eçou sua missão profé
tica em Meca, sua cidade natal, mas, devido à perseguição sofrida
por ele e seus seguidores nas m ãos da oligarquia pagã que governava
a cidade, m udou-se com eles para M edina, onde as tribos locais os
acolheram e fizeram do Profeta seu árbitro e, depois, seu governante.
Essa m igração de Meca para M edina é conhecida em árabe com o a
Hijra, às vezes escrita de form a incorreta com o Hegira** e traduzida
equivocadam ente com o “fuga.” A era m uçulm ana tem início com o
com eço do ano árabe no qual ocorreu a Hijra. A p rim e m jihad foi
realizada pelo Profeta contra os governantes de sua cidade natal e
term inou com a conquista de M eca no mês do Ram adã do ano 8 da
Hijra, correspondendo a janeiro do ano 630 da era cristã. A liderança
de Meca rendeu-se quase sem lutar, e os habitantes, com exceção da
queles acusados de insultos específicos contra o Profeta ou contra
um m uçulm ano, receberam im unidade para suas vidas e proprieda-
48 A crise do islã
* Esses e outros textos sobre ajihad serão encontrados nas edições slandard das tra
dições do Profeta, alguns deles tam bém disponíveis em inglês. Os citados acima fo
ram tirados de ‘Ala ai-Din ‘Ali ibn H usam al-Din al-M uttqi, Kaiiz al-'Ummal, 8
partes (Hiderabad, 1312; 1894-1895), vol.2, p.252-86.
*’* Em português, Hégira.
48. des, desde que se com portassem conform e o acordo. A próxim a ta
refa era a extensão da autoridade m uçulm ana ao resto da Arábia e,
sob os califas sucessores do Profeta, ao resto do m undo.
Nos prim eiros séculos da era islámica, isso parecia possível e, na
realidade, provável. D entro de um tem po extraordinariam ente cu r
to, os exércitos conquistadores m uçulm anos haviam derrubado o
antigo im pério da Pérsia e incorporado todos os seus territórios aos
dom ínios do califado, abrindo cam inho para a invasão da Ásia Cen
tral e da índia. A Oeste, o Im pério Bizantino ainda não havia sido
derrubado, mas grande parte de seus territórios fora tom ada. As pro
víncias então cristãs da Síria, Palestina, África do N orte e do Egito fo
ram incorporadas e, a seu devido tem po, islamizadas e arabizadas,
passando a servir com o bases para a subseqüente invasão da Europa
c a conquista da Espanha e de Portugal, bem com o do sul da Itália.
Por volta do início do século VIII, os exércitos conquistadores árabes
já haviam avançado além dos Pirineas, até a França.
Após vários séculos de ininterruptas vitórias, ajihad árabe foi fi
nalm ente refreada e repelida pela Europa cristã. No Leste, os bizanti
nos m antiveram a grande cidade cristã de C onstantinopla, repelindo
uma série de ataques árabes. No Oeste, com eçaram o longo processo
conhecido na história espanhola com o a Reconquista, que acabou
resultando na expulsão dos m uçulm anos dos territórios que haviam
conquistado na Itália e na Península Ibérica. Tam bém foi deslancha
da um a tentativa de levar a Reconquista ao O riente M édio e recobrar
o local de nascim ento de Cristo, tom ado pelos m uçulm anos no sécu
lo VII. Essa tentativa, conhecida com o as cruzadas, falhou totalm en
te, e os cruzados foram expulsos em debandada.
Mas ajihad não havia term inado. Um a nova fase foi inaugurada,
agora não pelos árabes, mas por turcos e tártaros, recentem ente in
corporados ao islã. Esses loi am capazes de conquistar a até então ter
ra cristã da Anatólia e, em m.iio de 1453, tom aram C onstantinopla,
que a partir daí tornou se a capital dos sultões otom anos, sucessores
do antigo califado na lulei aiiça da jihad islâmica. Os otom anos nos
A casa da guerra 49
49. Bálcãs e os tártaros islam izados na Rússia reassum iram a tentativa de
conquistar a Europa, dessa vez com eçando pelo leste, e, por algum
tem po, pareciam estar próxim os do sucesso.
M as, novam ente, a cristandade européia foi capaz de expulsar
os invasores e, de novo, agora com m elhores resultados, de con
tra-atacar os dom ínios do islã. A jihad então tornara-se quase total
m ente defensiva - resistindo à Reconquista na Espanha e na Rússia,
resistindo aos m ovim entos de autoliberação nacional dos cristãos
subm etidos ao Im pério O tom ano e, finalm ente, tal qual o ponto
de vista dos m uçulm anos, defendendo o coração da terra islam ita
contra o ataque de infiéis. Essa fase veio a ser conhecida com o im pe
rialismo.
M esm o nesse período de retirada, a jihad ofensiva de form a al
gum a foi abandonada. Em 1896, os afegãos invadiram as regiões
m ontanhosas de Elindu Kuch onde é agora o nordeste do Afeganis
tão. Até então, os habitantes eram não-m uçulm anos, e a região era,
portanto, conhecida pelos m uçulm anos com o Cafiristão, “terra dos
que não crêem ”. Após a conquista afegã, foi renom eada N uristão,
“terra de luz”. D urante o m esm o período, jihads de vários tipos fo
ram conduzidas na África contra populações não-m uçulm anas.
Mas, em sua m aior parte, o conceito, a prática e a experiência da ji
had no m oderno m undo islâmico têm sido, em sua quase totalidade,
de natureza defensiva.
O uso predom inantem ente m ilitar do term o continuou até
tem pos relativam ente m odernos. No Im pério O tom ano, a cidade de
Belgrado, um a base avançada na guerra contra os austríacos, recebeu
o nom e de Casa da Jihad {Dar al-Jihad). No início do século XIX,
quando M uham m ad ‘Ali Paxá, o líder m odcrni/ador do Egito, refor
m ou suas forças arm adas e sua adm inistração seguindo (cs gêneros
francês e britânico, foi criado um “departam ento de gLicrra” para ad
m inistrá-las. Era conhecido em árabe com o o Divã dos Assuntos da
Jihad {Diwan al-Jihadiyya), e seu chefe era o supervisor dos assuntos
da jihad {Nazir al-Jihadiyya). Seria possível citar outros exemplos
50 A crise do Islã
50. A casa da guerra 51
nos quais a palavra,jihad perdeu seu aspecto sacro, conservando ape
nas sua conotação m ilitar. Nos tem pos m odernos, tanto o uso m ili
tar quanto o m oral do term o foram revividos, e são entendidos e
em pregados de m aneiras diversas por diferentes grupos de pessoas.
Organizações que, na atualidade, se atribuem o nom e de Jihad na
Caxemira, Tchetchênia, Palestina e em outros lugares, evidente
m ente não usam a palavra para denotar em penho moral.
A jihad é apresentada, às vezes, com o o equivalente m uçulm ano
das cruzadas, e as duas são vistas com o m ais ou m enos equivalentes.
Em um certo sentido, isso é verdadeiro - am bas foram proclam adas
e lançadas com o guerras santas da fé verdadeira contra um inim igo
infiel. Mas há urna diferença. As cruzadas são um evento tardio na
história crista e, de certo m odo, m arcam um afastam ento radical dos
valores básicos cristãos, tal com o expressos nos Evangelhos. A cris
tandade estivera sob ataque desde o século VII, e havia perdido vastos
territórios para o dom inio m uçulm ano; o conceito de urna guerra
santa, m ais com um ente urna guerra justa, era fam iliar desde a A nti
güidade. A inda assim, no longo conflito entre islam ism o e cristanda
de, as cruzadas foram tardias, lim itadas e de relativam ente pouca
duração. A jihad, ao contrário, está presente desde o inicio da histó
ria islâmica - nos textos sagrados, na vida do Profeta e ñas condutas
de seus com panheiros e sucessores im ediatos. C ontinuou a existir ao
longo da história islâmica e m antém seu apelo até os dias atuais.
A palavra cruzada deriva, obviam ente, de cruz, e denotava origi
nalm ente urna guerra santa da cristandade. Mas, no m undo cristão,
há m uito perdeu aquele significado, sendo usada no sentido geral de
urna cam panha de orientação m oral por urna boa causa. Pode-se ini
ciar urna cruzada pelo meio am biente, por despoluição das águas,
por m elhores serviços sociais, pelos direitos das m ulheres e por toda
urna gam a de cansas. O único contexto no qual a palavra cruzada
não é usada hoje em di.i c juslam ente no sentido religioso original.
Jihad tam bém é usada em varios sentidos, mas, ao contrário de cru
zada, m anteve sen sigiiilicado original principal.
51. Aqueles que são m ortos m jihad são cham ados m ártires, shahid
~ em árabe e em outras línguas m uçulm anas. A palavra m ártir vem
do grego m artys (“testem unha”) e, no uso judaico-cristão, designa
aquele que está preparado para sofrer tortura e m orte em vez de re
nunciar à sua fé. Seu m artírio é, assim, um testem unho daquela fé e
de sua disposição de sofrer e m orrer por ela. A palavra árabe shahid
tam bém significa “testem unha” e é usualm ente traduzida com o
“m ártir”, mas tem um a conotação bastante diferente. O uso islâmico
do term o martírio é norm alm ente interpretado com o m orte em um a
jihad, e sua recom pensa é a bem -aventurança eterna, descrita com
certo detalhe em textos religiosos m ais antigos. O suicídio, ao con
trário, é um pecado m ortal e leva à danação eterna, m esm o para
aqueles que, de outra form a, teriam garantido um lugar no paraíso.
Os juristas clássicos distinguem claram ente entre defrontar a m orte
nas m ãos do inim igo e m atar-se com as próprias mãos. A prim eira
leva ao céu, a outra, ao inferno. Alguns juristas fundam entalistas
m odernos e outros têm obscurecido ou m esm o repudiado essa dis
tinção, mas sua opinião de form a algum a é aceita unanim em ente. O
hom em -bom ba, portanto, está assum indo um risco considerável,
decorrente de um a sutileza teológica.
D ado que a guerra santa é um a obrigação da fé, tem um a regula
m entação elaborada na sharia. Os que lutam em um a jihad são ins
tados a não m atar m ulheres, crianças e idosos - a m enos que esses
ataquem prim eiro - , a não torturar ou m utilar prisioneiros, a avisar
a tem po sobre o recom eço das hostilidades após um a trégua e a h o n
rar acordos. Juristas e teólogos medievais discutem com certa m inu-
ciosidade as regras da guerra, incluindo questões com o arm as
perm itidas ou proibidas. Existe até algum a discussão nos textos m e
dievais sobre a legalidade de mísseis e guerra quím ica, a prim eira
relacionada a m anganelas e catapultas, a segunda, a flechas envene
nadas e ao envenenam ento dos reservatórios de água do inimigo. Há
um a variação considerável a respeito desses pontos. Certos juristas
perm item , alguns lim itam , outros desaprovam o uso dessas arm as. A
52 A crise do islã
52. razão apresentada para esse cuidado são as m ortes indiscrim inadas
que produzem . Em nenhum m om ento os textos básicos do islã o r
denam o terrorism o e o assassinato. Em m om ento algum - pelo m e
nos que eu saiba - eles sequer consideram o m assacre aleatorio de
circunstantes.
Os juristas insistem em que os espólios da guerra devem ser um
beneficio incidental, não o propósito principal. Alguns chegam a di
zer que, se vêm a tornar-se o objetivo principal, isso invalida ajihad e
anula seus beneficios, se não nesse m undo, então no próxim o, k ji
had, para ter qualquer valor legal, tem que ser em preendida “no ca
m inho de D eus” e não em nom e de ganhos materiais. Existem,
todavia, reclamações freqüentes sobre o uso do honrado nom e áa ji
had para propósitos desonrosos. Juristas africanos, em particular, la
m entam o uso do term o jihad por caçadores de escravos para
justificar suas depredações e estabelecer a propriedade legítim a de
suas vítimas. A Lei Sagrada prescreve bom tratam ento para não-
com batentes, mas concede aos vencedores direitos extensivos sobre a
propriedade e tam bém sobre as pessoas e as famílias dos vencidos.
1)e acordo com o costum e universal da A ntigüidade, inim igos captu
rados na guerra eram escravizados, junto com suas famílias, e pode
riam ser vendidos ou m antidos pelo vencedor para seu uso. O islã
trouxe um a m odificação dessa regra, lim itando o direito à escraviza-
ção apenas daqueles capturados em um a jihad, e em nenhum a outra
forma de guerra.
As regras relativas a um a guerra contra apóstatas são um tanto
diferentes, e sem dúvida mais rigorosas que as para um a guerra con
tra infiéis. O apóstata ou renegado, aos olhos m uçulm anos, é m uito
pior do que o infiel. O infiel não viu a luz, e há sem pre a esperança de
que, um dia, ele a veja. No m eio tem po, desde que atenda às condi
ções necessárias, pode m erecer a tolerância do Estado m uçulm ano e
ter perm issão para continuar a praticar sua própria religião e até
m esmo aplica r suas próprias leis religiosas. O renegado é alguém que
conheceu a fé verdadeira, não im porta se por pouco tem po, e a aban-
A casa da guerra 53
53. donou. N ão existe perdão hum ano para essa ofensa, e, de acordo
com a esm agadora m aioria dos juristas, o renegado deve ser m orto,
se for hom em . Se for m ulher, pode ser suficiente urna punição mais
leve, com o flagelação e prisão. A m isericordia divina pode perdoá-lo
no outro m undo, se D eus assim escolher. N enhum ser hum ano
tem autoridade para tanto. Essa distinção é de algum a im portância
atualm ente, quando líderes m ilitantes proclam aram um a jihad d u
pla - contra estrangeiros infiéis e contra apóstatas dom ésticos. A
m aior parte, se não a totalidade, dos governantes m uçulm anos que
nós, no O cidente, tem os o prazer de ver com o nossos amigos e alia
dos é vista por m uitos - ou talvez pela m aioria de seu próprio povo -
com o traidores e, m uito pior que isso, com o apóstatas.
Desde os tem pos antigos foi feita um a distinção legal entre terri
tórios adquiridos pela força ( ‘anwatan em árabe, o equivalente a vi et
armis no direito rom ano) e os adquiridos sulhan, isto é, por algum a
form a de trégua ou rendição pacífica. As regras relativas a butim e,
em term os m ais gerais, ao tratam ento da população do território
recém -adquirido diferem em alguns aspectos notáveis. De acordo
com a tradição, a diferença era sim bolizada na m esquita todas as
sextas-feiras. Em territórios tom ados ‘anwatan, o im am e levava um a
espada; naqueles tom ados sulhan, um bastão de m adeira. A imagem
da espada continua a ser im portante. Até hoje, a bandeira saudi
ta tem dois emblemas em um cam po verde. Um é o texto em árabe
do credo m uçulm ano: “N ão existe outro deus além de Deus, M aom é
é o profeta de Deus.” O outro é um a inequívoca representação de
um a espada.
Em certos períodos, os juristas reconheceram um status inter
m ediário, a Casa da Trégua {Dar al-Sulh) ou Casa da Aliança {Dar
al-‘Ahd), entre as Casas da G uerra e do Islã. Essas Casas interm e
diárias eram form adas por países não-m uçulm anos, usualm ente
cristãos, cujos governantes entraram em algum tipo de acordo com
os governantes do islã: pagavam um a form a de taxa ou tributo, visto
com o o equivalente áajizya, ou im posto por cabeça, e conservavam
54 A crise do isiã
54. um alto grau de autonom ia em seus assuntos internos. U m exemplo
mais antigo foi o acordo feito pelos califas O m íadas no século VII
com os príncipes cristãos da Arm ênia. O exem plo clássico da Dar
al-Sulh, ou Casa da Trégua, foi o pacto acordado em 652 d.C. com os
governantes cristãos da N úbia, segundo o qual náo pagavam a taxa,
mas proviam um tributo anual, consistindo em um núm ero especí
fico de escravos. Ao fazer a opção de considerar presentes com o tri
butos, os governantes m uçulm anos e seus conselheiros jurídicos
podiam ajustar a lei para cobrir urna grande variedade de relações
políticas, m ilitares e com erciais com as nações não-m uçulm anas.
Essa abordagem não desapareceu inteiram ente.
A casa da guerra 55
Desde tem pos mais antigos, os m uçulm anos sabiam que havia certas
diferenças entre os povos da Casa da G uerra. A m aior parte deles era
constituída sim plesm ente de politeístas e idólatras, que não repre
sentavam qualquer am eaça séria ao islã e eram prováveis candidatos
à conversão. Esses eram encontrados principalm ente na Ásia e na
Africa. A principal exceção eram os cristãos, que os m uçulm anos re
conheciam com o tendo um a religião do m esm o tipo da sua e, p o r
tanto, sendo seus m aiores rivais na guerra pela dom inação do
m undo - ou, com o teriam definido, pela ilum inação do m undo. A
cristandade e o islã são duas civilizações definidas a p artir de suas re
ligiões, e entraram em conflito não por suas diferenças, mas pelas se
melhanças.
A m ais antiga edificação religiosa m uçulm ana que sobrevive
fora da Arábia, o D om o da Rocha, em Jerusalém, foi com pletada em
691 ou 692 d.C. A construção desse m onum ento no lugar do antigo
tem plo judeu, no estilo c na vizinhança de m onum entos cristãos tais
com o o Santo Sepulcro c a Igreja da Ascensão, enviou um a inequívo
ca m ensagem aos judeus e, mais im portante ainda, aos cristãos. As
revelações recebidas [lor csscs, em bora autênticas, haviam sido cor
rom pidas por seus indignos guardiães e foram , portanto, suplanta-
55. das pela revelação final e perfeita encarnada no islã. Assim com o os
judeus haviam sido vencidos e superados pelos cristãos, tam bém a
ordem m undial cristã seria agora substituida pela fé m uçulm ana e
pelo califado islámico. Para salientar a questão, as palavras do Alco
rão inscritas no D om o da Rocha denunciam o que os m uçulm anos
vêem com o os principais erros cristãos: “Bendito seja Deus, que não
gerou nenhum filho e não tem nenhum sem elhante” e “Ele é Deus,
uno, eterno. Ele não gerou, Ele não foi gerado, e Ele não tem sem e
lhante.” (Alcorão CXIl) Isso era, claram ente, um desafio à cristanda
de em seu próprio berço. U m m ilênio mais tarde, quando tropas
norte-am ericanas estacionaram na Arábia, isso foi visto por m uitos
m uçulm anos, e notavelm ente por Osam a bin Laden, com o um desa
fio similar, dessa vez vindo da cristandade contra o islã.
Visando reforçar aquele desafio inicial à cristandade, o califa,
pela prim eira vez, fez cunhar m oedas de ouro, até então um a prerro
gativa im perial rom ana. É significativo que o nom e da prim eira
m oeda de ouro islâmica, o dinar, tenha sido tom ado em prestado do
denarius rom ano. Algumas dessas m oedas traziam o nom e do califa,
seu título de C om andante dos Fiéis e os m esm os versículos polêm i
cos. A m ensagem era clara. No entendim ento m uçulm ano, os judeus
e, m ais tarde, os cristãos, haviam -se desencam inhado e seguido fal
sas doutrinas. As duas religiões, portanto, foram superadas e substi
tuídas pelo islã, a revelação final e perfeita na sucessão de Deus. Os
versículos do Alcorão inscritos no D om o e nas m oedas de ouro con
denam o que, para os m uçulm anos, é a pior das corrupções à fé ver
dadeira. H á tam bém , por certo, um a m ensagem adicional do califa
para o im perador: “Sua fé está corrom pida, seu tem po passou, agora
sou eu o governante do im pério de Deus na terra.”
A m ensagem foi bem com preendida, e a cunhagem de m oedas
de ouro vista pelo im perador com o um casus belli. Por mais de mil
anos, a partir de suas sucessivas capitais em M edina, Damasco, Bag
dá, Cairo e Istam bul, os califas do islã fizeram guerra contra os im pe
radores cristãos em C onstantinopla, Viena e, posteriorm ente, sob
56 A crise do islã