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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS
FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: GESTÃO E PLANEJAMENTO EM SERVIÇO
SOCIAL
DOCENTE: FRANCILENE COSTA
GESTÃO DEMOCRÁTICA E SERVIÇO SOCIAL (FILHO e
GURGEL, 2016)
A gestão e sua caracterização geral
■ Administração e gestão são considerados sinônimos
■ Sinteticamente, trata-se da “utilização racional de recursos para a realização de fins
determinados”
– Essa definição não implica uma concepção de neutralidade de
administração/gestão, podemos e devemos dar uma direção social à mesma
■ Algumas questões fundamentais:
– A administração requer racionalidade
– É algo que sempre estará presente nas ações que os seres humanos fazem visando
atingir um objetivo proposto racionalmente, definindo recursos
– Recursos se referem aos elementos conceituais e materiais que a humanidade
utiliza para produzir os bens materiais e ideológicos necessários para se manter e
se reproduzir
– Utilização racional dos recursos implica por um lado, a adequação dos recursos
ao fim visado e por outro indica que o emprego dos recursos deve ser realizado
de forma econômica
■ Empregar de forma econômica recursos significa utilizar o menor tempo possível e a
menor quantidade de meios destinados à obtenção da finalidade definida.
– ATENÇÃO: O menor tempo e a menor quantidade de meios devem estar
relacionados à finalidade que se pretende atingir. Não são grandezas que podem
ser definidas abstratamente, sem ter como parâmetro a relação com a finalidade
estabelecida.
■ A finalidade determina os recursos que serão utilizados e a racionalidade envolvida na
administração
– Racionalidade comporta uma dimensão finalística (que é ético-politica e pode ou
não ser democrática/emancipatória) e uma dimensão instrumental (escolha
operacional dos recursos/instrumentos adequados à efetivação da finalidade
definida
■ Síntese:
– 1) Razão voltada para definir a finalidade;
– 2) Razão implicada na escolha dos recursos adequados à finalidade;
– 3) Razão aplicada para empregar de forma econômica os recursos escolhidos.
■ O gestor deve sempre estar preocupado com a análise racional e crítica das finalidades
da organização em que atua, bem como com a adequação dos recursos e fins visados e
o emprego econômico dos mesmos
– Não atentar para isso pode recair em uma ação instrumentalizadora sobre a
realidade
■ Consoante o projeto ético-político predominante no serviço social (NETTO, 1999;
BRAZ;TEIXEIRA, 2009), defende-se que a administração/gestão de organizações,
serviços, programas e projetos sociais realizados por assistentes sociais deve estar
orientada para a ampliação e aprofundamento de direitos na perspectiva de
construção de uma nova ordem societal fundada na liberdade e na igualdade,
enquanto uma sociabilidade onde as relações sociais não sejam baseadas na
exploração e/ou dominação de classe, etnia e gênero.
■ Importante considerar que a administração/gestão numa sociedade de classes UMA a
forma de realizar/materializara dominação enquanto finalidade da classe
dominante.
– Isso imprime à administração um caráter contraditório
– O cenário institucional mais provável em que um gestor crítico vá atuar é
aquele cuja finalidade é a manutenção da ordem de dominação e exploração
de classe
– Nesse sentido, os conflitos e as contradições serão os elementos
predominantes do processo de gestão
■ É necessário evitar tanto a posição daqueles que identificam a administração
capitalista/empresarial como algo de valor universal, quanto combater os radicais
ingênuos, aqueles que não enxergam as reais determinações da dominação vigente
na sociedade, que contêm afirmações e negações.
Burocracia
■ O que vem a ser burocracia?
– Dinâmica, estrutura e aparato técnico e organizacional que permitem o
funcionamento e a administração do Estado e demais instituições capitalistas.
■ Na perspectiva materialista dialética:
– A administração na sociedade capitalista expressa-se enquanto uma forma de
dominação da classe burguesa, baseada na racionalidade instrumental
estruturada formal e legalmente, que possui como finalidade viabilizar a
produção social e a apropriação privada da mais-valia, via exploração da força de
trabalho, e, expressa-se, também, pela necessidade de manter a ordem social
difundindo ideias da classe dominante, reprimindo reações e atendendo
determinadas demandas da classe trabalhadora
– O Estado não expressa o interesse geral e nem está voltado para o bem comum,
simplesmente ele TAMBÉM atua atendendo a determinados interesses da classe
trabalhadora, na medida da necessidade de garantia da estrutura de dominação
fundada na propriedade privada. Em outras palavras, não há como com haver
interesse geral em uma sociedade estruturada em classes sociais, pois os
interesses estão vinculados às estruturas de classe.
Burocracia
■ Na perspectiva Weberiana:
– Base teórico-metodológica distinta do materialismo dialético
– Tem maior influência nas ciências sociais e na prática social nas instituições e
empresas capitalistas
– Concepção idealista, pois parte do conceito de tipo ideal de Weber:
■ Construção conceitual que visa servir de elemento comparativo com a realidade empírica,
cujo parâmetro de análise é o conceito, algo construído idealmente
■ Tipologia ideal: dominação, legalidade, formalidade e especialização da administração
capitalista
– Características típicas: impessoalidade, meritocracia, legalidade (compõem a
proposito o imaginário da democracia liberal)
■ Alguns aspectos que diferenciam a concepção dialética e weberiana de burocracia:
– Dominação em Weber
■ probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre
determinadas pessoas indicáveis.
■ Refere-se à relação de mando-obediência e a ordem administrativa materializa esse
processo
■ A dominação legítima ocorre em três tipos: carismática, tradicional e legal
– Dominação na ótica dialética
■ Dominação de classes
Burocracia
■ Aspectos que diferenciam a concepção dialética e weberiana de burocracia:
– Racionalidade em Weber
■ A partir da premissa da “neutralidade axiológica”, a ciência deve se preocupar com a
racionalidade dos meios para atingir a finalidade, independente da racionalidade da
finalidade:
– Nesse sentido a ordem administrativa é neutra e a burocracia orientada por uma
racionalidade instrumental
■ A estrutura formal-legal da burocracia engloba os estabelecimento das competências e
atribuições do servidor, através das regras, leis e regulamentos; a organização
hierárquica da instituição, com a respectiva definição formal de mando e
subordinação. Tanto o poder de mando quanto a obediência devem esta estruturados
em regras que expressam a impessoalidade
– Racionalidade na ótica dialética
■ Não se restringe à sua dimensão instrumental, incide, também, sobre a finalidade a
ser atingida, a qual deve passar pelo crivo da razão, que neste caso, se filia à
concepção emancipatória,, a qual, inclusive, fundamenta o código de ética dos
assistentes sociais e o projeto ético-politico dominando na profissão (finalidade
pautada na liberdade, a partir da expansão e aprofundamento de direitos)
Gestão e o processo de democratização
■ Emancipação política
– alcance dos direitos humanos, concretizados em direitos políticos, civis e sociais
– Segundo análise de Marx: Apesar dos seus progressos sócio-históricos, são direitos
limitados, pois são subordinados à propriedade privada. Isso confere limitação à
emancipação política, pois a propriedade privada burguesa exige a subordinação de
muitos homens a alguns poucos que a detêm.
– Nesse contexto o Estado é o mediador dessa liberdade limitada, que significa
substancialmente a liberdade de participar de se tornar membro da sociedade
burguesa
■ Emancipação humana
– Em termos marxianos está relacionada a restituição do mundo e das relações
humanas aos próprios seres humanos. Uma forma de sociabilidade na qual é o
homem, e não forças estranhas, quem dirige – de modo consciente e planejado – o seu
processo de autoconstrução social. É também a superação do dinheiro e da
propriedade privadas, que alienam o homem do seu trabalho e da sua existência
– Não são uns homens que tem liberdade de dominar outros
– Não é uma sociabilidade baseada na alienação
Processo de democratização
■ A democracia enquanto um aperfeiçoamento do processo de participação dos sujeitos
sociais nos processos decisórios
– Democracia como valor universal: percebe-a enquanto um sistema tão
excelente de resolução de conflitos e participação nas decisões públicas e sociais
que mesmo o sistema sendo revolucionado, ela permanecerá
– Democracia como valor instrumental estratégico: vista como objetivo-meio
para se alcançar a o objetivo-fim do processo revolucionário que é a sociedade
sem classes. Nessa sociedade, os homens não necessariamente precisarão ficar
com a democracia por ela ser um valor universal, mas podem criar uma outra
forma mais evoluída e de acordo com a nova sociabilidade que os permita
participação dos sujeitos sociais na gestão da vida social
■ Então: a gestão, como uma dimensão da intervenção social, pode ser pensada e
implementada como um dos elementos que compõem o processo de democratização
numa perspectiva de construção socialista
■ É na disputa política entre as classes fundamentais do capitalismo, em torno do poder
de Estado, que se localiza o cerne do processo de democratização.
Gestão democrática
■ A finalidade da gestão democrática deve ser transformar as condições de vida das
classes subalternas, aprofundando e universalizando direitos civis, políticos e sociais,
visando contribuir com a superação da ordem do capital. Uma finalidade que aponta
para uma intervenção imediata visando à expansão da emancipação política, na
perspectiva de contribuir com a luta pela construção da emancipação humana
■ Essa proposição de gestão é contraditória à ordem do capital e, por isso, a
possibilidade de sua efetivação encontra-se em movimentos que de alguma forma
tencionem a ordem
■ Nesse sentido, os gestores democráticos viverão, na grande maioria das vezes em
permanente contradição com as finalidades (e burocracias) das organizações em que
atuam
■ Dois pilares que sustentam os recursos necessários e adequados à gestão democrática:
– Conteúdo: o gestor democrático deve sempre colocar sob o crivo da crítica as
finalidades imediatas e mediatas da organização em que atua, buscando sempre
aproximar estas finalidades a um processo que amplie e universalize as condições
de vida das classes subalternas atingidas pelas ações da organização
– Forma
Gestão democrática
– Forma: realizar ações da organização, nas esferas da direção, organização,
planejamento e controle, que tenham a participação dos membros da própria
organização e, principalmente, dos usuários/beneficiários da organização como
eixo fundante. A participação, portanto, deve ser o elemento essencial dos
recursos gerenciais a serem utilizados por um gestor que pretenda realizar uma
gestão democrática
■ A proposição da participação como eixo fundante do recurso a ser empregado numa
perspectiva de gestão democrática encontra-se fundamentada no fato de que as
experiências de participação articuladas a processos de mobilização e organização das
classes subalternas indicam potencialidades para a construção de dinâmicas sociais que
possam vir a contribuir com o desenvolvimento de “hábitos” que venham a
potencializar ações coletivas voltadas para a ampliação do atendimento das demandas,
necessidades e interesses das classes subalternas.

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL DISCIPLINA: GESTÃO E PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL DOCENTE: FRANCILENE COSTA GESTÃO DEMOCRÁTICA E SERVIÇO SOCIAL (FILHO e GURGEL, 2016)
  • 2. A gestão e sua caracterização geral ■ Administração e gestão são considerados sinônimos ■ Sinteticamente, trata-se da “utilização racional de recursos para a realização de fins determinados” – Essa definição não implica uma concepção de neutralidade de administração/gestão, podemos e devemos dar uma direção social à mesma ■ Algumas questões fundamentais: – A administração requer racionalidade – É algo que sempre estará presente nas ações que os seres humanos fazem visando atingir um objetivo proposto racionalmente, definindo recursos – Recursos se referem aos elementos conceituais e materiais que a humanidade utiliza para produzir os bens materiais e ideológicos necessários para se manter e se reproduzir – Utilização racional dos recursos implica por um lado, a adequação dos recursos ao fim visado e por outro indica que o emprego dos recursos deve ser realizado de forma econômica
  • 3. ■ Empregar de forma econômica recursos significa utilizar o menor tempo possível e a menor quantidade de meios destinados à obtenção da finalidade definida. – ATENÇÃO: O menor tempo e a menor quantidade de meios devem estar relacionados à finalidade que se pretende atingir. Não são grandezas que podem ser definidas abstratamente, sem ter como parâmetro a relação com a finalidade estabelecida. ■ A finalidade determina os recursos que serão utilizados e a racionalidade envolvida na administração – Racionalidade comporta uma dimensão finalística (que é ético-politica e pode ou não ser democrática/emancipatória) e uma dimensão instrumental (escolha operacional dos recursos/instrumentos adequados à efetivação da finalidade definida ■ Síntese: – 1) Razão voltada para definir a finalidade; – 2) Razão implicada na escolha dos recursos adequados à finalidade; – 3) Razão aplicada para empregar de forma econômica os recursos escolhidos. ■ O gestor deve sempre estar preocupado com a análise racional e crítica das finalidades da organização em que atua, bem como com a adequação dos recursos e fins visados e o emprego econômico dos mesmos – Não atentar para isso pode recair em uma ação instrumentalizadora sobre a realidade
  • 4. ■ Consoante o projeto ético-político predominante no serviço social (NETTO, 1999; BRAZ;TEIXEIRA, 2009), defende-se que a administração/gestão de organizações, serviços, programas e projetos sociais realizados por assistentes sociais deve estar orientada para a ampliação e aprofundamento de direitos na perspectiva de construção de uma nova ordem societal fundada na liberdade e na igualdade, enquanto uma sociabilidade onde as relações sociais não sejam baseadas na exploração e/ou dominação de classe, etnia e gênero. ■ Importante considerar que a administração/gestão numa sociedade de classes UMA a forma de realizar/materializara dominação enquanto finalidade da classe dominante. – Isso imprime à administração um caráter contraditório – O cenário institucional mais provável em que um gestor crítico vá atuar é aquele cuja finalidade é a manutenção da ordem de dominação e exploração de classe – Nesse sentido, os conflitos e as contradições serão os elementos predominantes do processo de gestão ■ É necessário evitar tanto a posição daqueles que identificam a administração capitalista/empresarial como algo de valor universal, quanto combater os radicais ingênuos, aqueles que não enxergam as reais determinações da dominação vigente na sociedade, que contêm afirmações e negações.
  • 5. Burocracia ■ O que vem a ser burocracia? – Dinâmica, estrutura e aparato técnico e organizacional que permitem o funcionamento e a administração do Estado e demais instituições capitalistas. ■ Na perspectiva materialista dialética: – A administração na sociedade capitalista expressa-se enquanto uma forma de dominação da classe burguesa, baseada na racionalidade instrumental estruturada formal e legalmente, que possui como finalidade viabilizar a produção social e a apropriação privada da mais-valia, via exploração da força de trabalho, e, expressa-se, também, pela necessidade de manter a ordem social difundindo ideias da classe dominante, reprimindo reações e atendendo determinadas demandas da classe trabalhadora – O Estado não expressa o interesse geral e nem está voltado para o bem comum, simplesmente ele TAMBÉM atua atendendo a determinados interesses da classe trabalhadora, na medida da necessidade de garantia da estrutura de dominação fundada na propriedade privada. Em outras palavras, não há como com haver interesse geral em uma sociedade estruturada em classes sociais, pois os interesses estão vinculados às estruturas de classe.
  • 6. Burocracia ■ Na perspectiva Weberiana: – Base teórico-metodológica distinta do materialismo dialético – Tem maior influência nas ciências sociais e na prática social nas instituições e empresas capitalistas – Concepção idealista, pois parte do conceito de tipo ideal de Weber: ■ Construção conceitual que visa servir de elemento comparativo com a realidade empírica, cujo parâmetro de análise é o conceito, algo construído idealmente ■ Tipologia ideal: dominação, legalidade, formalidade e especialização da administração capitalista – Características típicas: impessoalidade, meritocracia, legalidade (compõem a proposito o imaginário da democracia liberal) ■ Alguns aspectos que diferenciam a concepção dialética e weberiana de burocracia: – Dominação em Weber ■ probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis. ■ Refere-se à relação de mando-obediência e a ordem administrativa materializa esse processo ■ A dominação legítima ocorre em três tipos: carismática, tradicional e legal – Dominação na ótica dialética ■ Dominação de classes
  • 7. Burocracia ■ Aspectos que diferenciam a concepção dialética e weberiana de burocracia: – Racionalidade em Weber ■ A partir da premissa da “neutralidade axiológica”, a ciência deve se preocupar com a racionalidade dos meios para atingir a finalidade, independente da racionalidade da finalidade: – Nesse sentido a ordem administrativa é neutra e a burocracia orientada por uma racionalidade instrumental ■ A estrutura formal-legal da burocracia engloba os estabelecimento das competências e atribuições do servidor, através das regras, leis e regulamentos; a organização hierárquica da instituição, com a respectiva definição formal de mando e subordinação. Tanto o poder de mando quanto a obediência devem esta estruturados em regras que expressam a impessoalidade – Racionalidade na ótica dialética ■ Não se restringe à sua dimensão instrumental, incide, também, sobre a finalidade a ser atingida, a qual deve passar pelo crivo da razão, que neste caso, se filia à concepção emancipatória,, a qual, inclusive, fundamenta o código de ética dos assistentes sociais e o projeto ético-politico dominando na profissão (finalidade pautada na liberdade, a partir da expansão e aprofundamento de direitos)
  • 8. Gestão e o processo de democratização ■ Emancipação política – alcance dos direitos humanos, concretizados em direitos políticos, civis e sociais – Segundo análise de Marx: Apesar dos seus progressos sócio-históricos, são direitos limitados, pois são subordinados à propriedade privada. Isso confere limitação à emancipação política, pois a propriedade privada burguesa exige a subordinação de muitos homens a alguns poucos que a detêm. – Nesse contexto o Estado é o mediador dessa liberdade limitada, que significa substancialmente a liberdade de participar de se tornar membro da sociedade burguesa ■ Emancipação humana – Em termos marxianos está relacionada a restituição do mundo e das relações humanas aos próprios seres humanos. Uma forma de sociabilidade na qual é o homem, e não forças estranhas, quem dirige – de modo consciente e planejado – o seu processo de autoconstrução social. É também a superação do dinheiro e da propriedade privadas, que alienam o homem do seu trabalho e da sua existência – Não são uns homens que tem liberdade de dominar outros – Não é uma sociabilidade baseada na alienação
  • 9. Processo de democratização ■ A democracia enquanto um aperfeiçoamento do processo de participação dos sujeitos sociais nos processos decisórios – Democracia como valor universal: percebe-a enquanto um sistema tão excelente de resolução de conflitos e participação nas decisões públicas e sociais que mesmo o sistema sendo revolucionado, ela permanecerá – Democracia como valor instrumental estratégico: vista como objetivo-meio para se alcançar a o objetivo-fim do processo revolucionário que é a sociedade sem classes. Nessa sociedade, os homens não necessariamente precisarão ficar com a democracia por ela ser um valor universal, mas podem criar uma outra forma mais evoluída e de acordo com a nova sociabilidade que os permita participação dos sujeitos sociais na gestão da vida social ■ Então: a gestão, como uma dimensão da intervenção social, pode ser pensada e implementada como um dos elementos que compõem o processo de democratização numa perspectiva de construção socialista ■ É na disputa política entre as classes fundamentais do capitalismo, em torno do poder de Estado, que se localiza o cerne do processo de democratização.
  • 10. Gestão democrática ■ A finalidade da gestão democrática deve ser transformar as condições de vida das classes subalternas, aprofundando e universalizando direitos civis, políticos e sociais, visando contribuir com a superação da ordem do capital. Uma finalidade que aponta para uma intervenção imediata visando à expansão da emancipação política, na perspectiva de contribuir com a luta pela construção da emancipação humana ■ Essa proposição de gestão é contraditória à ordem do capital e, por isso, a possibilidade de sua efetivação encontra-se em movimentos que de alguma forma tencionem a ordem ■ Nesse sentido, os gestores democráticos viverão, na grande maioria das vezes em permanente contradição com as finalidades (e burocracias) das organizações em que atuam ■ Dois pilares que sustentam os recursos necessários e adequados à gestão democrática: – Conteúdo: o gestor democrático deve sempre colocar sob o crivo da crítica as finalidades imediatas e mediatas da organização em que atua, buscando sempre aproximar estas finalidades a um processo que amplie e universalize as condições de vida das classes subalternas atingidas pelas ações da organização – Forma
  • 11. Gestão democrática – Forma: realizar ações da organização, nas esferas da direção, organização, planejamento e controle, que tenham a participação dos membros da própria organização e, principalmente, dos usuários/beneficiários da organização como eixo fundante. A participação, portanto, deve ser o elemento essencial dos recursos gerenciais a serem utilizados por um gestor que pretenda realizar uma gestão democrática ■ A proposição da participação como eixo fundante do recurso a ser empregado numa perspectiva de gestão democrática encontra-se fundamentada no fato de que as experiências de participação articuladas a processos de mobilização e organização das classes subalternas indicam potencialidades para a construção de dinâmicas sociais que possam vir a contribuir com o desenvolvimento de “hábitos” que venham a potencializar ações coletivas voltadas para a ampliação do atendimento das demandas, necessidades e interesses das classes subalternas.