1. Violência doméstica contra mulheres
Luiz Henrique Machado de Aguiar
Doutor em Psicologia Clínica e Cultura – UnB
Professor Universidade Paulista - UNIP
Psicólogo CEAM – SEMDH - GDF
luizhaguiar@gmail.com
2. DIMENSÔES DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER
Fenômeno descrito desde a Antiguidade
Honra masculina, religiões, ideologias e filosofias
• Mulheres agredidas e mortas no ambiente inviolável do lar
Há 2500 anos já existiam registros do modelo patriarcal
Aristóteles (Base da filosofia ocidental)
• Dualismos hierarquizados: Alma/Corpo;
Razão(Masculino)/Emoção(Feminino).
Passagens da Bíblia
3. A SEGUNDA ONDA FEMINISTA
No final da década de 1960 emerge a “segunda onda”
do feminismo
Extensão da primeira (direitos políticos) + questões da
igualdade entre os sexos e fim da discriminação.
Associadas às manifestações dos movimentos negros e
homossexuais
Denúncias / desigualdades de acesso às universidades, ao
mercado de trabalho, desigualdades de salários, assédio moral
e sexual, violência contra as mulheres, etc
4. A SEGUNDA ONDA FEMINISTA
Referência o Ano Internacional da Mulher (1975) e a
Década da Mulher (1976-85), ambos promovidos pela
Organização das Nações Unidas - ONU.
2ª. Onda: Vai além das preocupações sociais e políticas
ao voltar sua atuação também para o campo das
construções teóricas – Contexto Acadêmico
Problematização do conceito de Gênero
5. CONCEITUAÇAO DE GÊNERO
Feministas anglo-saxãs pioneiras em utilizar o termo
gender como distinto de sex
Incapacidade das teorias existentes - BIOLOGIA E RELIGIÃO - em
explicar as desigualdades históricas entre homens e mulheres.
Rejeição ao determinismo biológico implícito
Biologia e diferença não é negada / Ênfase na construção
cultural, social e histórica produzida sobre as
características biológicas
Scott (1995): ao rejeitar explicitamente explicações essencialmente
biológicas, o termo gênero passa a indicar as construções culturais e
a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados
aos homens e às mulheres – expectativas sociais
7. 1ª Fase – Construção da Tensão
Escalada gradual e discreta das agressões - ↑ Intensidade
Gritos, empurrões, agressões verbais, xingamentos,
ameaças, destruição de objetos e alguns abusos físicos
Agressor demonstra hostilidade e insatisfação com a
relação
Agressões ainda não são expressas de forma extrema
Mulher procura soluções para acalmar o parceiro e controlar
a situação
Guimarães (2009)
8. 2ª Fase – Tensão Máxima
Descontrole da situação e violências levada ao extremo
Série de agressões verbais e físicas
Abuso pode variar de um tapa ao feminicídio
Fase cessa com a descarga da tensão que gerou as
agressões
Episódio violento pode levar a uma reconfiguração do
casal
Separação, denúncias, intervenção de terceiros e/ou
manutenção da relação violenta no estagio seguinte do ciclo
9. 3ª Fase – Lua de Mel
Reestruturação da relação após uma violência intensa
Agressor dá assistência à vítima
Pede desculpas, mostra-se arrependido e com remorsos
Relata desejo de mudar e promete que não ocorrerão
novos abusos
Neste momento ele tem a convicção que não será mais violento
A mulher tenta acreditar e tem a esperança de que ele
realmente tenha a capacidade de mudar
Esta fase é a responsável pela manutenção da relação!!!!
11. MITOS EM TORNO DA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONTRA A MULHER
Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher
Violência conjugal acontece apenas com pessoas de baixa renda e
pouca instrução
Homem que bate em mulher é louco
O álcool é a maior causa da violência conjugal
Após o casamento os homens cessam a violência
A mulher continua com o agressor porque gosta de apanhar
12. FATORES DE RISCO
Ameaças
Dependência econômica
Aspectos culturais e estereótipos de gênero
Dependência emocional
Não reconhecimento da violência
Rede pessoal pobre
Falta de rede de serviços
13. FATORES DE PROTEÇÃO
Independência econômica
Reconhecimento das violências
Rede pessoal e familiar significativa
Reflexão sobre os papéis sociais de gênero
Rede institucional constituída e articulada
14. O ciclo da violência doméstica e as
anestesias relacionais nas violências
contra mulheres
15. Violência doméstica contra mulheres
Luiz Henrique Machado de Aguiar
Doutor em Psicologia Clínica e Cultura – UnB
Professor Universidade Paulista - UNIP
Psicólogo CEAM – SEMDH - GDF
luizhaguiar@gmail.com
16. Duplo Vínculo
Conceito cunhado por Gregory Bateson em 1956, EUA
“ ...relacionamentos contraditórios onde são expressados
comportamentos de afeto e agressão simultaneamente, onde ambas
pessoas estão fortemente envolvidas emocionalmente e não
conseguem se desvincular uma da outra” (Bateson, 1956)
Inicialmente o conceito foi utilizado no estudo da esquizofrenia
EX: A mãe que diz que ama seu filho porém o negligencia diariamente.
O marido que logo após bater na esposa pede perdão e se propõe a
reparar através de romantismos.
O cuidador que ao mesmo tempo que expressa compaixão e atenção a um
paciente também expressa tédio, cansaço e o culpa pela situação.
17. Fatores necessários para que haja o
duplo vínculo
(a) Uma pessoa de valor afetivo importante e
com valor de sobrevivência;
(b) Presença de mensagens paradoxais;
e (c) Impossibilidade de refletir sobre ou sair da
relação
(Angelim, 2009; Angelim & Diniz, 2010)
18. Uma pessoa de valor afetivo importante e
com valor de sobrevivência
É estruturada na crença de não conseguir sobreviver
sem a presença do/a cônjuge
mesmo quando a relação fica bastante adversa – como no caso
da presença de violência conjugal.
Papéis sociais de gênero: espera-se da mulher que seja a
cuidadora da família e responsável pelo seu sucesso ou
fracasso
pedidos de arquivamentos dos processos de violências podem
significar esse apelo cultural de manutenção da família
Status sociais diferenciados para homens e mulheres
casados em relação aos solteiros
19. Presença de Mensagens Paradoxais
três indícios importantes da força das mensagens
paradoxais no contexto da violência:
1. Interpretação do episódio de violência como
demonstração de afeto.
Essa contradição tem o ciúme como principal
elemento.
busca mudar e restringir seus próprios
comportamentos para não “provocar” ira; e não se
permite sentir a dor das agressões.
20. Presença de Mensagens Paradoxais
O ciúme excessivo não tem como base o amor, mas
o sentimento de insegurança, de controle e de
posse.
A mulher pode também ver o seu parceiro como um
doente, como um sofredor que precisa ser cuidado.
Essa interpretação pode aprisioná-la ainda mais à
relação. A separação pode ser vista como
sinônimo de abandono, e a mulher pode sentir-
se extremamente culpada por isso (Guimarães,
2009).
21. Presença de Mensagens Paradoxais
2 . Justificativas das violências e minimizações das
suas consequências
• Elas explicam as agressões como gestos involuntários ou
atos reflexos do parceiro.
• Atribuem a violência a fatores externos, geralmente ao álcool
e ao uso de outras drogas.
• As violências verbais ou empurrões são vistos como atitudes
do parceiro para evitar agressões maiores.
Essa é uma das consequências mais graves da violência – o fato de
que a vítima passa a justificar a violência que sofre (Guimarães, 2009).
22. Presença de mensagens paradoxais
3 . Ambivalência de sentimentos
• Mulheres em situação de violência conjugal tendem a se
sentirem extremamente confusas - não sabem se amam ou
odeiam o parceiro agressor
• Padrão de diversos términos e retornos à relação.
• Terminar e reconciliar a conjugalidade evidencia a coexistência da
expectativa de sair da relação e a esperança de mudança na sua
dinâmica
• A ambivalência de sentimento atinge seu extremo quando ocorre o
paradoxo entre amor e ódio – feminicídio / suicídio
23. Impossibilidade de Refletir sobre a Relação
Ciclo da violência (Walker, 1979) - seus altos e baixos
e repetições dificultam a percepção das agressões
O isolamento social da família também dificulta ou
impossibilita a reflexão sobre a relação
Isolamento é muito comum em famílias em situação de violência e
ocorre quando a vítima perde ou diminui significativamente o
contato com seus parentes, amigos e comunidade.
O parceiro geralmente tenta impedir de todas as maneiras que a
mulher estude, trabalhe e circule livremente
Anestesias relacionais
24. Anestesias Relacionais
Cristina Ravazzola (1997) – conceito de DUPLO CEGO
“Não vemos as coisas para as quais não encontramos nomes.
Tampouco vemos que não as vemos. Acreditamos então sem
esforço que elas não existem. O efeito do ‘duplo-cego’ (...) é
poderoso” (p. 92)
Anestesia aparece em oposição às reações que seriam
esperadas diante de violência: dor, indignação, raiva, etc.
Para anestesia ocorrer, é necessário três atores:
Abusador, vítima e contexto reforçador
Guimarães (2009)
25. Abusador
Se sente vítima do comportamento da mulher
Teme a independência da vítima – sente que deve
controlar as suas ações
Não percebe os sentimentos da vítima
Tende a se colocar em posição hierárquica superior a ela
Acredita que não necessita de ajuda ou apoio
Acredita que terceiros não devem intervir na dinâmica
da família
26. Vítima
Não se vê como protagonista da própria vida
Crença de que é importante viver para os filhos, marido ...
Sente-se responsável pelo companheiro, que precisaria de ajuda
Crê que há algo errado em si, e falha em não controlar o
companheiro – violência sofrida como “mal comportamento”
Sente vergonha (alheia) e culpa pela violência sofrida
Anestesia a impede de entra em contato com o seu
sofrimento – com as injustiças e os perigos que corre
PERDE A NOÇÃO DO PERIGO
27. Vítima
A mulher passa a não perceber mais as violências
Banaliza, pode até rir ao relatar seus dramas
Provoca raiva, antipatia e desqualificação de quem escuta
Fenômeno dissociativo-cognitivo
Ela passa a apresentar lentidão de raciocínio, passividade, falta
de memoria, insegurança, irritabilidade, sonolência, ansiedade,
distúrbios alimentares, etc
Cefaleias, dores, palpitações, diarreia, insônia, etc
Negação e minimização da situação – necessita de
intervenção externa para superar as violências sofridas
28. Contexto Reforçador
Familiares, vizinhos, amigos, profissionais, etc
Geralmente essas pessoas têm melhores condições de
ajudar na resolução dos problemas – Rede Social
Contudo, também podem ser os grandes reforçadores
para a manutenção das violências
A intervenção de terceiros deve “desanestesiar” o sistema
Vítima precisa retomar o mal-estar e o medo
Agressor precisa ter dimensão dos seus atos violentos
RESPONSABILIZAÇÃO – Reflexão deve ser feita com ambos
29. Contexto Reforçador
Ravazzola defende que os profissionais que lidam
com a violência contra mulheres também devem
recuperar o próprio mal-estar
“Cada vez que a negamos ou minimizamos (...) reforçamos
involuntariamente uma lógica que admite que ocorram novos
episódios de violência. Participamos de uma anestesia que os
próprios protagonistas do sistema não registram como tal.
Recuperar o nosso mal-estar é então, um ponto de partida
imprescindível para produzir uma perturbação nesses sistemas
tão estáveis. Acabar com esta cadeia de negações está mais ao
nosso alcance do que ao alcance dos protagonistas. Eles não
podem ver que negam o que negam”
(Guimarães, 2009)
30. O ciclo da violência doméstica e as
anestesias relacionais nas violências
contra mulheres
31.
32. Bibliografia Utilizada
Guimarães, F.L.; Angelim, F.P.; Diniz, G.R.S. (2017). "Mas Ele Diz que me Ama...": Duplo-Vínculo e Nomeação
da Violência Conjugal. Psicologia Teoria e Pesquisa.
file:///C:/Users/luiz.aguiar/Downloads/Mas_Ele_Diz_que_me_Ama_Duplo-Vinculo_e_Nomeacao_da%20(1).pdf
Guimarães, F.L. (2016) “Ela não precisava chamar a polícia...” : anestesias relacionais e duplo-vínculos na
perspectiva de homens autores de violência conjugal. Tese de Doutorado. Psicologia Clinica e Cultura.
Universidade de Brasília.
http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/20983/1/2015_Fabr%c3%adcioLemosGuimar%c3%a3es.pdf
Aguiar, L.H.M. Intervenções psicossociais e responsabilização com homens autores de violências contra
parceiras íntimas no Distrito Federal, Brasil e em Porto, Portugal. Tese de Doutorado. Psicologia Clinica e
Cultura. Universidade de Brasília.
Walker, L.E.A. (2017). The battered woman syndrome. 4th edition. Springer Publishing Company.
http://lghttp.48653.nexcesscdn.net/80223CF/springer
static/media/samplechapters/9780826170989/9780826170989_chapter.pdf
33. O ciclo da violência doméstica e as
anestesias relacionais nas violências
contra mulheres
Luiz Henrique Machado de Aguiar
Doutor em Psicologia Clínica e Cultura – UnB
Professor Universidade Paulista - UNIP
Psicólogo CEAM – SEMDH - GDF
luizhaguiar@gmail.com