2. O território
(...) não há território sem um vetor
de saída do território, e não há
saída do território, ou seja,
desterritorialização, sem, ao
mesmo tempo, um esforço para se
reterritorializar em outra parte.
(Gilles Deleuze,1997)
3. O território
De que “Território” estamos falando?
Agregado em si: determinantes sociais, integralidade da atenção e
redes de cuidado.
é um espaço de manifestações sociais, culturais, relações sociais e um
espaço geográfico.
é visto como um processo, então, dinâmico, pois está em constante
movimento.
4. O território
Os seres vivos são territorialistas: necessitam de se apropriar de espaços e
de ambientes para viver e se reproduzir.
O território é base material da existência humana, e sua apropriação para
as diversas formas de uso é condição necessária para que a vida seja
possível.
O conceito de território permite descrever e entender os modos de vida e
como pessoas e grupos se organizam e se relacionam.
Contribui para identificar formas de uso e apropriação de espaços e
ambientes pelos homens, para que estes produzam e consumam bens e
serviços, estabeleçam relações e trocas materiais e simbólicas, continuem
a reproduzir sua existência e se perpetuem como espécie.
5. Processo de trabalho e território
Conhecer o lugar da produção social da saúde como espaço de
construção de identidade e vínculo da população e dos trabalhadores da
saúde;
identificar riscos, vulnerabilidades e potencialidades do território na
perspectiva de articular e dialogar com a população;
analisar a situação de saúde e as condições de vida para o
reconhecimento dos determinantes sociais da saúde; e
intervir sobre problemas e necessidades da população para compartilhar
decisões e intervenções de vigilância em saúde no território.
6. Organização do território
- Território-domicílio (a sua casa):
é constituído por uma série de relacionamentos informais que ocorrem dentro
da rede social do próprio paciente (família, amigos, vizinhos, parentes) no
contexto familiar.
Incluem todas as práticas de saúde que as pessoas usam sem qualquer
pagamento e sem consulta a curandeiros, médicos (práticas autônomas,
remédios caseiros, automedicação, aconselhamento...).
Estima-se que cerca de 70 a 90% dos cuidados de saúde ocorram nesse setor,
sendo o responsável pela maior parte dos cuidados em saúde em qualquer
sociedade.
7. Organização do território
- Território-Microárea (a sua rua):
área menor normalmente acompanhada por um(a) Agente Comunitário de
Saúde, objeto do trabalho dele(a);
- Território-área (o seu bairro):
Área de responsabilidade de uma Equipe de referência (p.ex., uma Equipe da
ESF). Baseia-se nos critérios de acessibilidade e agrupamento geográficos,
de fluxo da população, e de divisões administrativas (setores censitários, por
exemplo).
8.
9. Organização do território
- Território-distrito (a região) que envolve os bairros vizinhos onde o seu se
encontra (norte, sul, leste ou oeste de sua cidade):
obedece à lógica político-administrativa e pode coincidir com o espaço de um
município, ou no caso de municípios maiores, com o espaço da
descentralização político-administrativa da Prefeitura.
Leitura do texto de apoio:
TERRITÓRIO: CONCEITO CHAVE
DO DISTRITO SANITÁRIO
10. Diagnóstico Comunitário
é o reconhecimento das necessidades e problemas das pessoas de um
determinado território.
envolve os conceitos de saúde, doença e determinantes de saúde.
Podemos fazer analogia do diagnóstico do território ao diagnóstico
clínico do paciente.
Como assim? Assim, como os profissionais da saúde fazem exame físico
e clínico no paciente, a equipe também faz um exame físico e clínico do
território. O território é como um paciente da equipe.
12. Diagnóstico comunitário
Vamos lembrar da pergunta:
Qual concepção saúde/doença que a sua equipe de saúde tem? É o modelo
biomédico ou é o modelo da integralidade?
Se o modelo de integralidade é o utilizado, ele realmente se baseia em saúde
“resultante das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente,
liberdade, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, paz, acesso e posse
de terra e acesso a serviços de saúde”.
Desta forma, a análise da situação de saúde (diagnóstico comunitário, local ou
situacional) deve ser feito em conjunto com a comunidade, num trabalho
coletivo, de forma contínua, para identificação e autoanálise dos problemas,
necessidades e recursos desta comunidade, de sua qualidade de vida.
13.
14. Apropriação do território:
Territorialização
Utilizado para que tenhamos informações mais fidedignas do território;
O processo deve ser realizado em equipe, incluindo atores da comunidade;
No processo de territorialização, as informações do território a serem estudadas
representam uma parte estratégica para organização do processo de trabalho
da equipe de saúde e o planejamento das ações em saúde.
Então, quando se está vivendo ou trabalhando num lugar, é necessário saber
onde se encontra o supermercado, a farmácia, os restaurantes, o centro
comercial, o cartório, os bares, observar o fluxo da população através das ruas,
os transportes utilizados e as barreiras geográficas que dificultam o acesso da
população à unidade e na circulação no bairro.
15. Apropriação do território:
Territorialização
É importante reconhecer:
as características das moradias e seus entornos como: condições das ruas
(terra, pedra, asfalto), calçadas, praças, espaços de lazer (por exemplo,
parques municipais), paisagismo, presença de esgotos a céu aberto e lixo;
qual a frequência da coleta do lixo e se há coleta seletiva.
As condições do meio ambiente: desmatamento ou poluição, áreas de
preservação permanente e a presença de animais no entorno das residências
e nas ruas, principais patologias e pacientes que merecem atenção especial.
16. Apropriação do território:
Territorialização
Além disso, conhecer
Dados Demográficos da População (população por sexo e faixa etária),
consultando os dados do IBGE e principalmente do Sistema de Informação da
Atenção Básica (SIAB),
relatórios SSA2 (consolidação das Fichas A, Fichas B, Fichas C e Ficha D das ACS)
como fontes possíveis;
os aspectos culturais do bairro como comportamentos machistas ou feministas
ou racistas;
áreas de interesses sociais de consumo e venda de droga;
influências culturais tipo: descendência alemã, italiana, açoriana, polonesa,
comunidades de pescadores artesanais, alternativos, tropeiros, artesãos,
bordadeiras, etc.
17. Apropriação do território:
Territorialização
os aspectos econômicos:
como atividade pesqueira, agrícola, agropecuária, madeireira, industrial,
comercial ou turística;
os principais equipamentos sociais:
escolas, creches, centros comunitários, clubes, igrejas, posto policial, hospital,
associações de bairro e outros serviços que a população utiliza para
desenvolver a sua vida no território.
Saber quais os meios de comunicação entre as pessoas na sua área de
abrangência.
Há lugares que há internet, telefone, correio, rádio, TV, jornal de bairro.
Entretanto, já em outros há apenas o rádio e a comunicação entre as pessoas
(boca-a-boca).
18. Apropriação do território:
Territorialização
Segundo Figueredo et al. (2011):
coletar informações da história desta Comunidade com a equipe e os
moradores para entender de onde vieram estas pessoas, como surgiu esta
comunidade, atividades econômicas, aspectos culturais (inclusive
religiosos), é um ponto importante para o processo de territorialização.
Portanto, é recomendado identificar pessoas de referência na
comunidade, pois, elas podem ser parceiras em atividades de saúde.
19. EXEMPLOS DE CONHECIMENTO DO
TERRITÓRIO
Exemplo 1:
O turista é um fator complicador?
Para algumas equipes pode ser, para outras não, visto que numa
determinada época do ano (férias, de verão no litoral e de inverno na
serra) há uma quantidade muito grande de pessoas que permanecem
por um tempo curto (uma semana, um mês) na comunidade e a
demanda espontânea aumenta significativamente. Uma equipe cuida de
4.000 pessoas, e de repente aumenta para 10.000 por exemplo.
20. EXEMPLOS DE CONHECIMENTO DO
TERRITÓRIO
Exemplo 2:
A pavimentação asfáltica é um fator que melhora a qualidade de vida?
Para umas comunidades sim, para outras não. Algumas vezes, em áreas
de preservação, a população opta por deixar a estrada de terra, como
componente cultural, que faz parte da característica do lugar.
Ex: Na comunidade da Lagoa do Peri, em Florianópolis, o asfalto é visto
como agente causador de invasão de pessoas e consequentemente
desmatamento.
21. Apropriação do território:
Territorialização
O diagnóstico situacional (ou comunitário) é também a etapa inicial e
fundamental do Planejamento Estratégico em Saúde (PES).
a prática da territorialização poderá ser realizada a pé ou de carro.
A atividade pode ser feita coletivamente com um dia pré-agendado com
a participação de toda equipe ou, quando isso não for possível, pode ser
realizada por cada profissional, individualmente.
Para finalizar nosso reconhecimento do território é importante que os
membros da equipe conheçam a história da implantação da Unidade
Básica de Saúde para analisar posturas e comportamentos atuais em
saúde.
22.
23. Ferramenta: mapa inteligente
A sistematização dos dados coletados pela equipe pode ser feita com o
auxílio da construção de um mapa inteligente.
Os mapas inteligentes são ferramentas que ilustram cada micro-área com
riqueza de detalhes e proporcionam para a equipe de saúde da família
reflexão para diversas situações de saúde e planejamento de ações
baseado no diagnóstico local.
Consideram a geografia e o ambiente, delimitação do território,
pavimentação, áreas de risco, malha rodoviária e ferroviária, bem como o
perfil populacional envolvendo os problemas de saúde das famílias.
24. Como fazer o mapa do território
a construção do mapa inteligente deve ser realizada após o
reconhecimento do território (Territorialização).
O mapa inteligente é um desenho gráfico do território como um todo e
também o das micro-áreas da equipe que identifica sistematicamente:
as ruas,
as casas,
as famílias,
os equipamentos sociais,
a delimitação geográfica,
os marcadores de saúde
e outras características locais do território para auxiliar no planejamento
estratégico em saúde baseado na realidade local. Conforme exemplos:
27. Outros tipos de mapas
Mapas do Ambiente e do Território:
conhecendo acidentes geográficos,
áreas com importância para a saúde (lixão, criatórios de animais, áreas sem
saneamento, cruzamentos com alto índice de atropelamentos, fontes de
poluição etc.),
áreas de risco e de grande pobreza,
praças e locais de lazer e esporte,
características da violência na comunidade,
enfim, tudo o que a equipe achar que é importante para intervir no processo
saúde-doença.
28. Outros tipos de mapas
Mapa do Preconceito:
podemos localizar lugares, espaços e situações onde se efetiva práticas de
subordinação e exclusão das mulheres, de pessoas com orientações sexuais
distintas, do negro, daquele entendido como louco, dos drogaditos, daquele
com problema mental ou neurológico, etc.
Lugares de encontro: bares, eventos, quartinho no fundo de casa, etc.
29. Outros tipos de mapas
Mapa da demanda com perfil dos usuários:
necessidades de saúde, alvo de demanda, fluxo, horários, etc e, de outro, fazer
uma análise do processo de trabalho e da organização da Unidade de Saúde
permitido aprofundar discussões sobre Adequação Ofertas-Demandas,
Humanização e Resolutividade do serviços de saúde.