O documento discute três grandes mudanças contemporâneas: a revolução científica e tecnológica, a revolução gerencial e mudanças nas relações internacionais. A revolução científica e tecnológica trouxe avanços como a internet e os supercomputadores. A revolução gerencial surgiu para elevar a produtividade com novos métodos de gestão. Nas relações internacionais, organismos supranacionais como a ONU e a UE ganharam importância, reduzindo a soberania dos estados-nação.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
As três grandes mudanças contemporâneas
1. AS TRÊS GRANDES MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS
Fernando Alcoforado*
O processo de desenvolvimento do capitalismo na segunda metade do Século XX
proporcionou o advento de três grandes mudanças que estão transformando a face do
mundo, não apenas nas suas estruturas produtivas, mas principalmente no campo social e
nas relações internacionais. As três grandes mudanças dizem respeito às revoluções
científica e tecnológica, gerencial e das relações internacionais.
A revolução científica e tecnológica já se faz sentir praticamente em todo o mundo com a
introdução da informática, da microeletrônica, dos novos materiais e da biotecnologia aos
processos produtivos. O avanço científico e tecnológico alcançado nos últimos 30 anos tem
sido fantástico em todos os setores da atividade humana, seja na agricultura, na indústria,
no comércio e nos serviços.
Esta revolução vem produzindo avanços significativos, por exemplo, na tecnologia
aeronáutica, que está possibilitando o transporte de grande número de pessoas e de cargas a
qualquer parte do globo terrestre num tempo cada vez mais reduzido, e na telemática
(telecomunicações associadas à informática), especialmente com o uso de redes do tipo
Internet, que facilitam as comunicações ao nível global e tendem a se disseminar ainda
mais no futuro .
No bojo da revolução científica e tecnológica, que se processa mundialmente, destaca-se,
indiscutivelmente, a tecnologia do "superhighway" ou super-rodovia da informação ou
superinfovia que, possibilitando a união da informática com as telecomunicações, está
proporcionando as condições para que sons, imagens e dados transitem à velocidade da luz
numa única linha. A previsão é a de que o Japão interligue todo o país por cabos de fibras
óticas até o ano 2015, enquanto os Estados Unidos deverá alcançar este objetivo até o ano
2030.
Para Naisbitt e Aburdene, "as telecomunicações - e os computadores - continuarão a
provocar mudanças, como fez a manufatura durante o período industrial. Estamos
construindo as bases de um sistema avançado de informação internacional. Nas
telecomunicações, estamos caminhando para a formação de uma rede mundial única, da
mesma forma como, economicamente, estamos nos tornando um mercado global único"
(Naisbitt, J. et Aburdene, P., Megatrends 2000, Amana Key Editora, São Paulo, 1990, pág.
34).
A revolução científica e tecnológica em curso soma-se à revolução gerencial que surge
como resposta à necessidade de elevar os níveis de produtividade do capital, cujo declínio
vem se acentuando nas três últimas décadas, com o uso de novos métodos de gestão
empresarial como a qualidade total e a reengenharia, entre outros. Segundo Peter Drucker,
"desde que Taylor começou, a produtividade aumentou cerca de cinquenta vezes em todos
os países avançados. E essa expansão sem precedentes foi origem de todas as elevações do
padrão e da qualidade de vida nos países desenvolvidos (Drucker, P., Sociedade Pós-
Capitalista, Pioneira, São Paulo, 1993, pág. 18).
1
2. Ainda é Drucker que afirma à página 22 de sua obra Sociedade Pós-Capitalista que "a
Revolução Gerencial já se estendeu a todo o planeta. Foram precisos cem anos, da metade
do século dezoito até a metade do século dezenove, para que a Revolução Industrial
dominasse o mundo. Foram precisos cerca de setenta anos, de 1880 até o fim da Segunda
Guerra Mundial, para que a Revolução da Produtividade fizesse o mesmo. E menos de
cinquenta anos - de 1945 a 1990 - para que a Revolução Gerencial também dominasse o
mundo".
Ao lado das revoluções científica, tecnológica e gerencial que se observam em todo o
mundo, constatam-se, também mudanças sensíveis no campo das relações internacionais,
cuja característica marcante do momento é a existência de vários organismos
supranacionais além da ONU, do FMI e do Organização Mundial do Comércio, como é o
caso do G7 (países industrializados + Rússia), de blocos econômicos (União Europeia,
Bloco Ásia- Pacífico, Nafta e Mercosul, entre outros) e mais recentemente do G20 (países
industrializados + países emergentes).
A principal consequência da constituição de vários organismos supranacionais é o declínio
da soberania dos Estados-Nações que vêm perdendo sua posição como único órgão de
poder mundial desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Estado-Nação não irá
desaparecer. Ainda por muito tempo permanecerá como órgão político mais poderoso. No
entanto, progressivamente, dividirá cada vez mais seu poder com outros órgãos, outras
instituições e outras entidades criadoras de política.
Segundo Christian Harbulot, nos últimos quarenta anos, a economia assumiu uma
importância predominante nas relações internacionais. A mundialização das trocas levou a
uma reversão de valores da própria noção de conflito. A passagem de uma economia de
subsistência a uma economia mercantil fez com que a guerra econômica assumisse uma
amplitude desestabilizadora que se iguala à guerra tradicional. De fato, com a
interpenetração de mercados, o aparecimento de várias esferas de influência regionais
(Ásia, Europa, Américas, G7 e G20) e a ascensão em potência dos capitalismos nacionais,
as noções de defesa e de segurança não concernem apenas aos aspectos de natureza militar
(Harbulot, C., La Machine de Guerre Économique - États-Unis, Japon, Europe,
Economica, Paris, 1992, pág. 2).
É ainda Harbulot que afirma à página 151 da mesma obra que a competição econômica é
atualmente a coluna vertebral da estratégia dos países industrializados. A comunidade
planetária não deve esquecer o essencial de que a concorrência é o motor da economia
mundial e não a solidariedade internacional. Esta contradição é no momento insolúvel. Ela
deixa o caminho livre às máquinas de guerra econômica nacionais e multinacionais cuja
função é justamente vencer a concorrência. A guerra econômica que está sendo
implementada em todo o mundo, inclusive pelo Brasil, tende a produzir consequências
nefastas para a humanidade com a exclusão social planetária em massa e a emergência de
conflitos internacionais de difícil superação.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
2
3. planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial
(Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São
Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
3