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MARÇO / 201770 REVISTA PROTEÇÃO
SST EM ARQUEOLOGIA
Exploração segura
Nem maldições, nem Indiana Jones no cotidiano dos profissionais da arqueologia
Antonio Nunes Barbosa Filho
É inegável que, há muito, a literatura,
oral e escrita, e o cinema, desde o século
passado, influenciam a formação do ima-
ginário popular. De um lado, histórias as-
sustadoras, de outro, histórias fantásticas,
incríveis aventuras e incontáveis desejos
de vivenciá-las, de reproduzi-las, de tomar
parte nestas narrativas, de ser agente ati-
vo, de sair do papel de expectador para o
de protagonista.
E isso tem o seu lado bom. Quantos
jovens, como eu um dia, desejaram ser
engenheiros projetistas para dar vida ao
Nautilus e a tantos outros aparatos imagi-
nados muito antes por notáveis escritores?
Quem, em sua infância, não se imaginou,
ainda que por breves instantes, desven-
dando o universo em uma nave espacial?
Viajando em uma máquina do tempo? En-
colher ou se tornar um gigante ao disparar
de um botão?
De outro lado, é preciso restar bastante
claro que estes livros e filmes, muitos dos
quais embora baseados em fatos reais, são
obras de ficção e, portanto, incapazes de
reproduzir a realidade em sua totalidade,
quando não ocorrer de alterá-la delibera-
damente para fins diversos, que não cabe
aqui comentar.
Neste artigo, dedico especial atenção
a este distanciamento entre o imaginá-
rio popular, povoado por imagens dessas
obras, e as condições concretas encon-
tradas no cotidiano dos profissionais da
arqueologia. A despeito de que importan-
tes descobertas possam conduzir alguns
destes ao reconhecimento, até mesmo
internacional, deixando-os em evidência
aos olhos do grande público por algum
intervalo de tempo, as condições para a
sua consecução, não raro, são bastante
árduas e, embora não se caracterizem
como “maldições”, há em seu labor distin-
tas oportunidades de danos à integridade
e, inclusive, de ameaças à vida, sobre os
quais passamos a discorrer e dos quais
não podemos descuidar.
CATEGORIAS
Neste intuito, convém esclarecer, a prin-
cípio, que estudos arqueológicos, segundo
sua natureza, em razão das condições em
que se dão, podem ser divididos em duas
categorias, a saber:
 Acadêmicos – aqueles em que é
possível, por reiteradas vezes, retornar
ao sítio, realizar estudos de longo prazo,
posto não haver restrições ou ameaças
no tocante à imediata desconstituição do
local onde os registros ou artefatos de
ancestralidade se encontram, uma vez
identificados e reconhecidos como tal.
Nesta categoria podemos exemplificar
os Parques da Pedra de “Itacoatiara” (no
município de Ingá, na Paraíba) e da Serra
da Capivara (em São Raimundo Nonato,
no Piauí);
De contrato – que são aqueles, como
a própria denominação sugere, decorren-
tes de demandas específicas, em caráter
preventivo, quando da abertura ou amplia-
ção de rodovias, de obras de fundação ou
construção de edifícios diversos, das quais
resultam ou implicam como requisitos pa-
ra o seu licenciamento ou continuidade, a
execução de estudos arqueológicos, em
razão da possibilidade da perda irreversível
dos elementos alvo da intervenção. Esta
situação, não raro, é uma corrida contra o
tempo. O que, de certo modo, se configu-
ra como fator adicional para a ocorrência
de eventos indesejados. Nesta categoria
podemos citar, por exemplo, os múltiplos
levantamentos em curso nas áreas a serem
inundadas pela represa de Três Gargantas,
na China e em tantas outras obras pelo
mundo afora, em ambientes urbanos ou
não. Por sorte, algumas das descobertas
ocorridas nesta modalidade se revelam de
tal importância que podem influir sobre a
mudança de regime, com alterações dos
projetos como originalmente planejados e
sobre sua vigência.
Antonio Nunes Barbosa Filho - Engenheiro Mecânico e de
Segurança do Trabalho, bacharel em Direito, professor do De-
partamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), idealizador e responsável pela
introdução da disciplina “Saúde e Segurança Ocupacional em
Arqueologia”, junto aos cursos de graduação e pós-graduação
em Arqueologia da UFPE.
nunes@ufpe.br
ARQUIVOPROTEÇÃO
REVISTA PROTEÇÃO 71MARÇO / 2017
DEFINIÇÃO
Cumpre ressaltar que a Constituição Fe-
deral nacional, neste sentido, estatui, no
inciso X do artigo 20, que “As cavidades
naturais subterrâneas e os sítios arqueoló-
gicos” são bens da União e que consoante
ao artigo 216 deste mesmo diploma legal,
os sítios arqueológicos estão incluídos en-
tre os bens de natureza material e imaterial
que constituem patrimônio cultural brasi-
leiro, devendo, portanto, ser protegidos e
preservados, além da própria União, pelos
Estados e Municípios, por todos os entes
federativos.
Coube à Lei n. 3.294, de 26 de julho de
1961, em seu artigo 2º, definir como “mo-
numentos arqueológicos ou pré-históricos:
a) jazidas de qualquer natureza, origem
ou finalidade, que representem testemu-
nhos de cultura dos paleoameríndios do
Brasil, tais como sambaquis, montes arti-
ficiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos,
aterrados, estearias e quaisquer outras
não especificadas aqui, mas de significado
idêntico a juízo da autoridade competente;
b) sítios nos quais se encontram vestí-
gios positivos de ocupação pelos paleoa-
meríndios tais como grutas, lapas e abrigos
sob rocha;
c) sítios identificados como cemitérios,
sepulturas ou locais de pouso prolongado
ou de aldeiamento, “estações” e “cerâmi-
cos”, nos quais se encontram vestígios
humanos de interesse arqueológico ou
paleoetnográfico;
d) inscrições rupestres ou locais como
sulcos de polimentos de utensílios e outros
vestígios de atividade de paleoameríndios.
É importante ressaltar que à época do
estabelecimento desta definição, baseada
essencialmente no critério da ancestra-
lidade remota, havia uma compreensão
restrita da atuação da arqueologia em com-
paração ao atual entendimento, sobretudo
quando considerarmos novas modalidades
ou ramos de especialização como a arque-
ologia forense e a industrial.
Em todas estas, para que um cidadão
comum possa ter acesso ao conteúdo das
descobertas arqueológicas, quer do ponto
de vista material – quando resíduos, frag-
mentos de uma existência passada, partes
de edificações, de utensílios ou objetos
quaisquer são identificados, revelados e
registrados em sua presença física, quer do
ponto de vista imaterial – por intermédio
da elaboração de explicações que possam
nos levar à compreensão desse modo de
vida social pretérito, serão transcorridos
três momentos muito próprios da atuação
de profissionais deste campo de conhe-
cimento, que são: a prospecção de sítios
arqueológicos; o estudo, análise e a pre-
paração de fragmentos; a disponibilização
à sociedade, por meio de publicações ou
em exposições.
EXPOSIÇÃO
Para que tal resultado seja alcançado,
muito além das expectativas de glamour
presentes no imaginário popular, em dis-
tintas situações do cotidiano, os obreiros
dedicados às atividades de arqueologia
são expostos a riscos ocupacionais. Seja
nas tarefas de campo, seja nas atividades
realizadas nas instalações de restauro e
de conservação de um museu que acolhe-
rá e trará a público os vestígios coletados
nos sítios arqueológicos (quando devida
e permitida tal medida), assim como nas
bancadas dos laboratórios dos institutos e
centros de pesquisa, por intermédio das
quais profissionais incansáveis empreen-
dem esforços visando estabelecer relações
entre o passado, o presente e o futuro da
humanidade.
Embora inexistam em nosso país normas
RISCOS DA ATIVIDADE
Profissionais que realizam atividades
em campo e/ou em instalações e labo-
ratórios estão expostos basicamente aos
seguintes riscos:
 Presença de poeiras e particulados,
inclusive material biológico em suspensão;
 Posturas e trato manual de cargas;
 Trabalho sob exposição solar, frio e
intempéries;
 Queda de nível ou trabalho em altura;
 Contatos com animais peçonhentos
e silvestres (risco de zoonoses), substân-
cias naturais e químicos diversos;
 Trabalho em ambientes confinados;
 Escavações e desmonte de rochas;
 Trabalho hiperbárico (mergulhos);
 Endemias regionais (febre amarela,
dengue etc.);
 Outros riscos específicos, como na
interação com maquinaria e com a vege-
tação local.
trabalhistas que tratem especificamente de
exigências e de medidas relativas à SSO
no âmbito das atividades da arqueologia
– talvez pela ainda incipiente importância
econômica e do reduzido volume de mão-
de-obra ocupada por este segmento frente
a outros mais tradicionais e, portanto, da
visibilidade e das atenções do poder pú-
blico quanto à regulação deste aspecto – é
inegável a necessidade de levar conheci-
mentos atinentes à matéria aos profissio-
nais envolvidos, não apenas como caminho
para a prevenção e de minimização dos
acidentes ora existentes, mas, sobretudo,
como meio de fomentar a formação de uma
cultura proativa.
Quanto às condições e oportunidades
de danos à saúde e segurança, isto é, à in-
tegridade dos profissionais dedicados às
atividades de campo, ademais dos riscos
resultantes das instalações e da atividade
laboratorial, destacamos os temas que se-
rão abordados ao longo deste texto no box
Riscos da atividade.
PLANEJAMENTO
Como em todas as atividades que de-
mandam atuação em campo, a primeira
providência para mitigar improvisos, e
como consequência destes, o surgimento
de oportunidades de eventos indeseja-
dos, é imprescindível o planejamento ou
dimensionamento de um canteiro-base,
tão próximo quanto possível do local de
exploração, assim como de canteiros de
apoio, no próprio local de atuação. Para o
adequado planejamento desse(s) cantei-
ro(s), um conjunto de variáveis deve ser
previamente analisado no intuito de forne-
cer subsídios ao seu ótimo estabelecimen-
to. Confira quais são as principais no box
da página 72, Identificando as variáveis.
Já no caso da distribuição ou organiza-
ção dos setores do canteiro, esta deverá
ser feita de acordo com a destinação de
suas finalidades. Veja as sugestões no box
Organizando o canteiro.
Cabe destacar que, por vezes, o canteiro
arqueológico coexiste com aqueles volta-
dos às obras civis, nos quais são utilizados
equipamentos de grande porte, como re-
troescavadeiras e motoniveladoras, comu-
mente também utilizadas em fases iniciais
de algumas pesquisas arqueológicas. Neste
caso, convém destacar a simultaneidade
dos riscos de ambos os projetos e da ne-
cessidade de redobrar as atenções e de
esclarecer à equipe arqueológica e pro-
mover treinamentos a respeito destes ou-
MARÇO / 201772 REVISTA PROTEÇÃO
SST EM ARQUEOLOGIA
da prática da direção defensiva ou segura
dos veículos, no transporte de pessoal e de
materiais; proibição do uso de cigarros, be-
bidas e outros estimulantes e, finalmente,
confidencialidade quanto à difusão não-
-oficial dos achados ao longo da duração
do projeto.
RISCOS
Superada a fase de planejamento e ins-
talação do canteiro que dará suporte à ex-
ploração, cabe, agora, voltar a atenção às
demais condições que podem influenciar
na Saúde e a Segurança Ocupacional dos
arqueólogos e demais membros da equipe,
auxiliares diretos e indiretos. No desloca-
mento entre o canteiro-base e o sítio de
exploração propriamente dito podem ter
lugar várias oportunidades de danos à in-
tegridade dos trabalhadores. Por exemplo,
pelo deslocamento se dar em escarpas e
em terrenos íngremes. Outras vezes será
necessário fazer o uso de técnicas de esca-
lada ou de trabalho em altura, bem como o
deslocamento manual de cargas – não raro
excessivas, sejam mantimentos, suprimen-
tos, equipamentos, salvados e mesmo uma
boa quantidade de resíduos escavados,
que precisam ser retirados de seu local
de origem, ser peneirados, depositados
temporariamente ao largo das valas, para
posterior recomposição das aberturas que
não devem permanecer abertas, oferecen-
do riscos a terceiros.
É possível, também que, neste trajeto
ou no próprio local de atuação, se trave
contato com animais peçonhentos, sinan-
trópicos e silvestres (que podem oportu-
nizar as mais variadas zoonoses), bem co-
mo com substâncias naturais de algumas
plantas, de acordo com os biomas em que
estes se inserem. Pequenos animais, como
a aranha-marrom (Loxosceles s.p), de di-
minutas dimensões e picada quase indolor,
pode provocar, passado algum tempo da
indesejada e praticamente imperceptível
interação, graves repercussões à saúde de
sua vítima, motivo pelo qual sua potencial
presença deve ser cuidadosamente verifi-
cada em ambientes nos quais tenha sido
anteriormente relatada. Riscos biológicos
podem ser originados, por exemplo, nas
excreções de certos animais, como o fun-
go Histoplasma capsulatum (causador da
histoplasmose), relacionado à presença de
morcegos em cavernas. As fezes deposita-
das ao solo encontram condições propícias
à proliferação do microorganismo que, in-
serido em particulados dissolvidos na at-
tros riscos não-habituais em seu cotidiano,
aos quais potencialmente estarão sujeitos,
destacando-se, por exemplo, a interação
indevida com veículos industriais a partir
do que, não raro, em razão da sua intensa
movimentação, resultam graves acidentes,
alguns fatais.
De outro lado, algumas intervenções,
mesmo aquelas realizadas fora dos cen-
tros urbanos, demandam escavações em
profundidades diferentes, tanto para a
exploração propriamente dita, como para
a instalação de utilidades e podem resultar
no contato acidental com redes subterrâ-
neas, como as de água tratada, servidas
e pluvial, energia elétrica e, até mesmo,
de gases, o que pode originar eventos in-
desejados de distintas gravidades, como
explosões, inundações, choques elétricos
etc. Em razão disso, o planejamento do
canteiro de obras deverá contemplar a ve-
rificação da localização dessas redes junto
às municipalidades e concessionárias, com
quem os responsáveis pelo projeto deverão
interagir visando obter as informações pa-
ra minimizar as chances de ocorrência de
eventos desta natureza.
OUTRAS MEDIDAS
Dentre as medidas que podem ser ado-
tadas estão o reposicionamento destas
redes e quando viável, o seu desligamento
ou inativação temporária. No caso de redes
de gases, tubulações contendo resíduos de
inflamáveisououtrosprodutosquepossam
oferecer riscos adicionais, a regra geral
de segurança é esvaziá-los por completo,
procedendo à sua lavagem, para eliminar
a presença de resíduos perigosos e a for-
mação de vapores, situações que podem
oferecer risco não-percebido e contribuir
para a redução da atenção e das medidas
próprias do comportamento preventivo,
uma vez que se imagina estar isento destes.
Ademais da alocação das áreas neces-
sárias para as várias utilidades citadas, o
gestor do projeto deve, ainda, estabelecer
outras medidas e orientações quanto à se-
gurança ocupacional no interior e entorno
do canteiro, relativas ao ordenamento e
controle do tráfego de veículos e pesso-
as; cuidados quanto à drenagem e escoa-
mento de águas pluviais e preexistentes;
controle da presença de insetos, roedores
e outros animais, domésticos ou silvestres,
que possam servir de vetores para doenças
transmissíveis; rigoroso controle do acesso
ao interior do canteiro e, em especial, aos
lotes (quadrículas) de exploração; adoção
IDENTIFICANDO
AS VARIÁVEIS
Um planejamento adequado do traba-
lho no local da exploração deve levar em
consideração:
1Se dará em ambiente urbano ou
rural;
2Se nas proximidades ou não de um
núcleo urbano há mínima capaci-
dade e disponibilidade para fornecimento
de, dentre outros requisitos:infraestrutura,
água potável, energia elétrica, combus-
tíveis, serviços médico-hospitalares,
alimentação preparada ou mantimentos,
hotelaria e/ou hospedagem, reposição de
suprimentos diversos etc.;
3A distância, as dificuldades e o
tempo de deslocamento desde e
até o sítio arqueológico (poderão existir
meios ou rotas distintos para acesso ou
chegada e saída);
4O número total de pessoas fixas e
volantes por período ao longo da
duração da intervenção;
5A duração prevista para as ativi-
dades de campo e a autonomia
esperada entre entregas sucessivas de
suprimentos;
6Os diversos meios de transporte
(inclusive se por tração animal), seu
porte e combustíveis utilizados;
7A modalidade da exploração, se
acadêmica (com a possibilidade ou
necessidade de reutilização do canteiro)
ou se por contrato (canteiro provisório,
com uso por tempo determinado);
8A maquinaria, o ferramental e ou-
tros recursos materiais a serem uti-
lizados diretamente na exploração (como
contenedores para transporte manual,
EPI, químicos, cordoalhas etc.);
9A extensão ou limites da área em
prospecção e a necessidade ou
obrigatoriedade do fechamento de seu
perímetro por questões de segurança
quanto ao acesso indevido de terceiros e
de animais (urbanos e silvestres), de Se-
gurança Ocupacional e, inclusive pessoal
da equipe e do próprio acervo em estudo;
10O custo humano, ambiental
e financeiro da mobilização e
desmobilização do canteiro em razão
da disponibilidade ou não de áreas para
a alocação de cada utilidade e serviços
associados.
REVISTA PROTEÇÃO 73MARÇO / 2017
mosfera, pode ser prontamente respirado
causando grave doença respiratória.
Ao longo da imensa costa do Brasil, mui-
tos foram os naufrágios desde remotas
eras. A arqueologia subaquática é, deste
modo, outro campo promissor. Para a sua
adequada consecução, toda uma vasta ga-
ma de cuidados para evitar barotraumas,
apagamentos, hipotermia e intoxicações
por gases, dentre outras ocorrências que
podem ter lugar, também em águas inte-
riores como rios e lagos, assim como em
cavernas inundadas (vide o contido na Por-
taria Ibama n. 100, de 5 de julho de 2006),
devem ser realizados a contento.
QUÍMICOS
Na arqueologia, os químicos podem en-
contrar aplicações das mais diversas. Por
exemplo, ao retirarmos uma moeda me-
tálica de um naufrágio marítimo será ne-
cessário aplicar produtos químicos para a
interrupção da ação da água salina sobre
esta quando do contato com a atmosfera
rica em oxigênio; outro para a limpeza
de sua superfície sob rigoroso controle,
para que esta não seja danificada e para
serviço de análise; posteriormente outra
substância pode ser utilizada para a ca-
racterização precisa da liga que a constitui
e, finalmente, outros químicos podem ser
usados para a preservação da peça visan-
do a sua exposição ao grande público, se
for o caso. E todos nós sabemos: onde há
químicos, há riscos associados aos traba-
lhadores que lidam com eles, em maior ou
menor intensidade.
O campo de estudos relativo à carac-
terização de achados arqueológicos por
métodos físico-químicos recebe o nome
de “arqueometria”. Neste, além dos quí-
micos para a determinação da presença
de resíduos de certas matérias como o san-
gue, ácidos presentes nas gorduras e nas
bebidas, por exemplo, podemos destacar
técnicas de datação utilizando radiações,
o que, por sua natureza, ensejam todos os
cuidados relativos ao seu uso seguro.
Em nosso país não podemos deixar de
nos referir ao trabalho sob exposição so-
lar, sobretudo em razão de que muitas das
atividades de campo na arqueologia estão
limitadas ao dia solar, pelo que se requer
atenções não somente à incidência da ra-
diação ultravioleta sobre a pele, notada-
mente dos indivíduos com menor grau de
pigmentação e, por conseguinte, de menor
proteção pela melanina, assim como pela
inafastável necessidade de reposição hídri-
ca e da manutenção do equilíbrio hidroele-
trolítico, sobretudo em ambientes de baixa
umidade, quando a sudorese pode resultar
despercebida.
Ao serem realizadas atividades de esca-
vação, a mais tradicional forma de explo-
ração arqueológica, devemos ter em mente
que as camadas deste solo, de ocupação de
civilizações anteriores, comumente guar-
dam características diferentes de solos
íntegros e, devido a tal condição, tendem
a ser bem menos estáveis do que aqueles,
sendo necessário, portanto, rigoroso cui-
dado quanto ao possível desmoronamen-
to. O paradoxo da presença dos meios
de contenção nestas escavações reside
justamente no fato de que, quando mal
projetados e/ou instalados, estes aparatos
podem não apenas danificar os vestígios
em exploração, como também impedir ou
dificultar o acesso a estes. Nesta perspec-
tiva, impõe-se ao mesmo tempo proteção
e restrições ao exercício da atividade, de
onde surge um amplo campo de atuação
prevencionista no tocante ao desenvolvi-
mento de equipamentos de proteção que
contemplem simultaneamente estas duas
necessidades.
DICAS
Para finalizar podemos elencar algumas
“regras gerais” como dicas de segurança
para atividades de arqueologia. Inicial-
mente é importante ter em mente que
cada sítio arqueológico é único em suas
características, seja localização, forma
de acesso, se terrestre, se subaquático
etc. Deste modo, os riscos associados à
sua exploração e investigação são úni-
cos, carecendo tanto de identificação e
reconhecimento prévio, quanto de plane-
jamento das medidas preventivas e pro-
tetivas necessárias para a preservação da
integridade dos envolvidos na execução
de tais tarefas.
Como na maioria das vezes é reduzida
a familiaridade com o ambiente onde se
dará ou será alvo do estudo, não se pode
prescindir de um plano de Saúde e Segu-
rança Ocupacional específico para cada
sítio, bem como da ampla disseminação de
seu conteúdo, com explanações a todos
os membros da equipe, incluindo tempo-
rários e terceirizados, sobre riscos poten-
cialmente presentes e medidas apropria-
das para seu controle e/ou minimização.
Neste sentido, ações como os DDSMS
ORGANIZANDO O CANTEIRO
No momento de distribuição e organi-
zação das áreas poderemos relacionar
á­reas para:
 Guaritas, geradores, rede de distribui-
ção e sistemas de iluminação e segurança;
 Alojamentos, escritório ou adminis-
tração do projeto, inclusive reuniões e co-
municação (instalação de rádio base etc.);
 Serviços de emergência e atendimento
médico;
 Prospecção propriamente dita, reser-
vada e em atividade;
 Cozinhas, sanitários e refeitórios;
 Pré-tratamento ou triagem para labo-
ratórios de campo;
 Deposição temporária e eventual reti-
rada ou carregamento do material oriundo
da escavação e/ou movimentação de
terras, assim como para os demais
resíduos gerados no canteiro;
 Reservatórios de suprimento de
água potável e de uso comum;
 Almoxarifados e depósitos, in-
cluindo áreas específicas para re-
cepção, armazenagem, preparação
e fracionamento de químicos de uso
técnico;
 Armazenamento e abastecimento de
combustíveis;
 Recursos de resposta imediata a emer-
gências como extintores e kits de primeiros
socorros e contenção de vazamentos;
 Estacionamentos, inclusive para meios
secundários de movimentação, como em-
barcações, quadriciclos etc., bem como
para alguns equipamentos, quando houver
a previsão de sua utilização em diferentes
fases do projeto;
 Manutenção de equipamentos;
 Reservas (exclusivas) para o tráfego
de pessoas e de veículos, incluindo para
os meios de elevação e deslocamento de
materiais de maior massa e volume;
 Outras áreas.
ARQUIVOPROTEÇÃO
MARÇO / 201774 REVISTA PROTEÇÃO
SST EM ARQUEOLOGIA
- Diálogos Diários de Segurança, Meio
Ambiente e Saúde, a ter lugar no próprio
canteiro arqueológico e nas demais insta-
lações do projeto, podem contribuir para
a efetivação de uma cultura proativa no
tocante à prevenção de acidentes junto a
todos os membros da(s) equipe(s);
Ainda que algumas intervenções arque-
ológicas possam ter duração determinada
por contrato, muitos sítios costumam ser
objeto de estudo por meses, anos e, até
mesmo, por décadas. Nestes, em especial,
as medidas de engenharia de segurança,
em sentido amplo, não podem ser provi-
sórias ou improvisadas. Pelo contrário,
têm de ser duradouras, sendo revisadas
periodicamente quanto à sua adequação
ao atual estágio da obra, assim como ao
seu estado de conservação e, portanto,
da capacidade em cumprir as funções
para as quais foram especificadas e im-
plementadas;
ATENÇÃO
Em alguns casos poderão existir seve-
ras dificuldades quanto às condições de
higiene pessoal e coletiva, o que inclui o
acesso à água potável e alimentação se-
gura, assim como o gerenciamento dos
resíduos gerados localmente. Neste mes-
mo sentido, cabe antecipar que além das
providências de caráter geral relativas
a primeiros socorros, cada membro da
equipe deve informar acerca de restri-
ções e no tocante ao uso habitual de me-
dicamentos em função de condições de
saúde específicas, sobretudo com relação
a alergias e a possíveis distúrbios meta-
bólicos. Recomendáveis, portanto, testes
alergênicos prévios e o acompanhamento
médico regular da saúde individual antes
de cada expedição;
Cuidados preventivos no tocante à gera-
ção e propagação de incêndios, por ação
direta ou de terceiros, devem ser uma
constante, assim como o domínio das
técnicas necessárias para a sua extinção
em seu princípio. Também a evacuação
segura quando estiverem fora de controle
deve integrar os treinamentos da equipe;
Estejam atentos ao comportamento
dos elementos da natureza, sobretudo
os ventos, as chuvas (quanto ao perío-
do de ocorrência e intensidade) e ao sol.
Cuidados específicos diante de cada um
destes são fundamentais para a seguran-
ça individual e coletiva em atividades a
céu aberto. Como diz o ditado popular:
“Fogo morro acima e água morro abaixo,
a atenção ou o tratamento adequado, po-
derá se converter em afastamento perma-
nente das atividades. É preciso, portanto,
estarmos atentos às “queixas” ou sinais de
alerta fornecidos pelo nosso corpo em ra-
zão das exigências a que o submetemos.
APRENDIZADO
De modo similar às obras de construção
civil, recomenda-se o isolamento ou fe-
chamento do perímetro e a sinalização das
escavações com o fito de evitar a entrada
de pessoas não-autorizadas nas áreas de
exploração, assim como servir de limita-
ção para a presença de animais silvestres
e mesmo de companhia (cães, gatos e
outros domesticados), com os quais uma
interação indevida pode resultar eventos
indesejados, sejam acidentes ou danos aos
vestígios sob investigação;
Comunique a quem de direito e registre
todo e qualquer evento indesejado que
possa colocar em risco a integridade do
empreendimento e das pessoas envolvi-
das. Tenha causado ou não lesões pesso-
ais, a investigação e análise de cada ocor-
rência serão requisitos essenciais para a
aprendizagem a partir do ocorrido, o que
incluirá, necessariamente, a determinação
das medidas que devem ser estabelecidas
para evitar a sua recorrência e propiciar
a execução segura da tarefa no futuro. A
posterior divulgação do resultado alcan-
çado, do aprendizado resultante do caso,
servirá para o aprimoramento dos siste-
mas de Saúde e Segurança Ocupacional
nas atividades de arqueologia, seja no
campo ou em laboratório. Este conheci-
mento se tornará útil não apenas nas em-
preitadas em que você participa ou parti-
cipará daqui em diante, mas para todos os
demais profissionais que tiverem acesso
ao conhecimento gerado. O compartilha-
mento das informações associadas servi-
rá, inclusive, para o desenvolvimento das
normas técnicas e legislações pertinentes.
Por fim, mas nem por isso menos impor-
tante, é fundamental lembrarmos a pre-
mente necessidade do desenvolvimento
de uma cultura proativa em relação ao
gerenciamento dos riscos laborais nas
atividades de arqueologia, envolvendo
a troca de experiências e saberes, como
também a participação ativa e conjunta de
profissionais especialistas em engenharia
de segurança e de áreas correlatas (como
a geotecnia, a toxicologia, a construção
civil etc.) no desenvolvimento de novas
tecnologias aplicáveis ao segmento.
ninguém segura! ”.
Tenham sempre em dia o seu plano
vacinal para as enfermidades endêmicas
nas regiões onde atuar e para aquelas que
podem se originar diretamente da ativida-
de, como o tétano. Ferramentas em ina-
dequado estado de conservação, impro-
visadas ou armazenadas podem oferecer
condições de risco em sua utilização ou
por interação acidental.
PROTEÇÃO
Utilizem, habitualmente, Equipamentos
de Proteção Individual apropriados para
cada atividade a ser desenvolvida e sigam
integralmente os procedimentos para a
sua execução segura, notadamente quan-
do envolverem risco acentuado, como nos
mergulhos, escavações, trabalhos em al-
tura e em ambientes confinados.
Nunca trabalhem com as mãos, pés ou
partes do corpo desprotegidas. A vesti-
menta é uma forma de proteção. As mãos
são extensões das ferramentas, quando
não as próprias, e é por meio daquelas que
fazemos o uso adequado destas. Cuidados
ao efetuar os deslocamentos e observar os
locais onde se pisa são necessários para
evitar perfurações, escorregões, tropeços
e quedas.
Estejam acompanhados, sempre que
possível e de posse de equipamentos de
comunicação e de orientação, o que pode
incluir lanternas, bússolas tradicionais,
uma vez que eletrônicos. Mesmo os mais
modernos como aparelhos de GPS, rádios
e telefones por satélite, estão sujeitos a
falhas e à ocorrência de condições adver-
sas que podem inviabilizar o seu uso e o
acesso aos benefícios oferecidos por eles.
Observar as posturas e esforços físicos
despendidos é de fundamental impor-
tância quando da execução de trabalhos
de longa duração. A postura sentada ou
com o pescoço e/ou a coluna inclinados
à frente ou em posturas esdrúxulas (isto
é, incomuns) por períodos prolongados, a
sustentação, a elevação e o deslocamento
manual de cargas excessivas podem impor
fadiga precoce ao membro da equipe ar-
queológica, prejudicando o seu desempe-
nho laboral. Se tal se dá de modo intenso
ou repetitivo, esta condição de trabalho
poderá resultar uma situação de desgaste
crônico que poderá se converter em danos
às estruturas do corpo, introduzindo-lhe
limitações funcionais. Isto pode causar a
diminuição da capacidade laboral com in-
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Artigo SST em Arqueologia Antonio Nunes -Revista Protecao 03-2017

  • 1. MARÇO / 201770 REVISTA PROTEÇÃO SST EM ARQUEOLOGIA Exploração segura Nem maldições, nem Indiana Jones no cotidiano dos profissionais da arqueologia Antonio Nunes Barbosa Filho É inegável que, há muito, a literatura, oral e escrita, e o cinema, desde o século passado, influenciam a formação do ima- ginário popular. De um lado, histórias as- sustadoras, de outro, histórias fantásticas, incríveis aventuras e incontáveis desejos de vivenciá-las, de reproduzi-las, de tomar parte nestas narrativas, de ser agente ati- vo, de sair do papel de expectador para o de protagonista. E isso tem o seu lado bom. Quantos jovens, como eu um dia, desejaram ser engenheiros projetistas para dar vida ao Nautilus e a tantos outros aparatos imagi- nados muito antes por notáveis escritores? Quem, em sua infância, não se imaginou, ainda que por breves instantes, desven- dando o universo em uma nave espacial? Viajando em uma máquina do tempo? En- colher ou se tornar um gigante ao disparar de um botão? De outro lado, é preciso restar bastante claro que estes livros e filmes, muitos dos quais embora baseados em fatos reais, são obras de ficção e, portanto, incapazes de reproduzir a realidade em sua totalidade, quando não ocorrer de alterá-la delibera- damente para fins diversos, que não cabe aqui comentar. Neste artigo, dedico especial atenção a este distanciamento entre o imaginá- rio popular, povoado por imagens dessas obras, e as condições concretas encon- tradas no cotidiano dos profissionais da arqueologia. A despeito de que importan- tes descobertas possam conduzir alguns destes ao reconhecimento, até mesmo internacional, deixando-os em evidência aos olhos do grande público por algum intervalo de tempo, as condições para a sua consecução, não raro, são bastante árduas e, embora não se caracterizem como “maldições”, há em seu labor distin- tas oportunidades de danos à integridade e, inclusive, de ameaças à vida, sobre os quais passamos a discorrer e dos quais não podemos descuidar. CATEGORIAS Neste intuito, convém esclarecer, a prin- cípio, que estudos arqueológicos, segundo sua natureza, em razão das condições em que se dão, podem ser divididos em duas categorias, a saber:  Acadêmicos – aqueles em que é possível, por reiteradas vezes, retornar ao sítio, realizar estudos de longo prazo, posto não haver restrições ou ameaças no tocante à imediata desconstituição do local onde os registros ou artefatos de ancestralidade se encontram, uma vez identificados e reconhecidos como tal. Nesta categoria podemos exemplificar os Parques da Pedra de “Itacoatiara” (no município de Ingá, na Paraíba) e da Serra da Capivara (em São Raimundo Nonato, no Piauí); De contrato – que são aqueles, como a própria denominação sugere, decorren- tes de demandas específicas, em caráter preventivo, quando da abertura ou amplia- ção de rodovias, de obras de fundação ou construção de edifícios diversos, das quais resultam ou implicam como requisitos pa- ra o seu licenciamento ou continuidade, a execução de estudos arqueológicos, em razão da possibilidade da perda irreversível dos elementos alvo da intervenção. Esta situação, não raro, é uma corrida contra o tempo. O que, de certo modo, se configu- ra como fator adicional para a ocorrência de eventos indesejados. Nesta categoria podemos citar, por exemplo, os múltiplos levantamentos em curso nas áreas a serem inundadas pela represa de Três Gargantas, na China e em tantas outras obras pelo mundo afora, em ambientes urbanos ou não. Por sorte, algumas das descobertas ocorridas nesta modalidade se revelam de tal importância que podem influir sobre a mudança de regime, com alterações dos projetos como originalmente planejados e sobre sua vigência. Antonio Nunes Barbosa Filho - Engenheiro Mecânico e de Segurança do Trabalho, bacharel em Direito, professor do De- partamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), idealizador e responsável pela introdução da disciplina “Saúde e Segurança Ocupacional em Arqueologia”, junto aos cursos de graduação e pós-graduação em Arqueologia da UFPE. nunes@ufpe.br ARQUIVOPROTEÇÃO
  • 2. REVISTA PROTEÇÃO 71MARÇO / 2017 DEFINIÇÃO Cumpre ressaltar que a Constituição Fe- deral nacional, neste sentido, estatui, no inciso X do artigo 20, que “As cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueoló- gicos” são bens da União e que consoante ao artigo 216 deste mesmo diploma legal, os sítios arqueológicos estão incluídos en- tre os bens de natureza material e imaterial que constituem patrimônio cultural brasi- leiro, devendo, portanto, ser protegidos e preservados, além da própria União, pelos Estados e Municípios, por todos os entes federativos. Coube à Lei n. 3.294, de 26 de julho de 1961, em seu artigo 2º, definir como “mo- numentos arqueológicos ou pré-históricos: a) jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemu- nhos de cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquis, montes arti- ficiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras não especificadas aqui, mas de significado idêntico a juízo da autoridade competente; b) sítios nos quais se encontram vestí- gios positivos de ocupação pelos paleoa- meríndios tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; c) sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeiamento, “estações” e “cerâmi- cos”, nos quais se encontram vestígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; d) inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. É importante ressaltar que à época do estabelecimento desta definição, baseada essencialmente no critério da ancestra- lidade remota, havia uma compreensão restrita da atuação da arqueologia em com- paração ao atual entendimento, sobretudo quando considerarmos novas modalidades ou ramos de especialização como a arque- ologia forense e a industrial. Em todas estas, para que um cidadão comum possa ter acesso ao conteúdo das descobertas arqueológicas, quer do ponto de vista material – quando resíduos, frag- mentos de uma existência passada, partes de edificações, de utensílios ou objetos quaisquer são identificados, revelados e registrados em sua presença física, quer do ponto de vista imaterial – por intermédio da elaboração de explicações que possam nos levar à compreensão desse modo de vida social pretérito, serão transcorridos três momentos muito próprios da atuação de profissionais deste campo de conhe- cimento, que são: a prospecção de sítios arqueológicos; o estudo, análise e a pre- paração de fragmentos; a disponibilização à sociedade, por meio de publicações ou em exposições. EXPOSIÇÃO Para que tal resultado seja alcançado, muito além das expectativas de glamour presentes no imaginário popular, em dis- tintas situações do cotidiano, os obreiros dedicados às atividades de arqueologia são expostos a riscos ocupacionais. Seja nas tarefas de campo, seja nas atividades realizadas nas instalações de restauro e de conservação de um museu que acolhe- rá e trará a público os vestígios coletados nos sítios arqueológicos (quando devida e permitida tal medida), assim como nas bancadas dos laboratórios dos institutos e centros de pesquisa, por intermédio das quais profissionais incansáveis empreen- dem esforços visando estabelecer relações entre o passado, o presente e o futuro da humanidade. Embora inexistam em nosso país normas RISCOS DA ATIVIDADE Profissionais que realizam atividades em campo e/ou em instalações e labo- ratórios estão expostos basicamente aos seguintes riscos:  Presença de poeiras e particulados, inclusive material biológico em suspensão;  Posturas e trato manual de cargas;  Trabalho sob exposição solar, frio e intempéries;  Queda de nível ou trabalho em altura;  Contatos com animais peçonhentos e silvestres (risco de zoonoses), substân- cias naturais e químicos diversos;  Trabalho em ambientes confinados;  Escavações e desmonte de rochas;  Trabalho hiperbárico (mergulhos);  Endemias regionais (febre amarela, dengue etc.);  Outros riscos específicos, como na interação com maquinaria e com a vege- tação local. trabalhistas que tratem especificamente de exigências e de medidas relativas à SSO no âmbito das atividades da arqueologia – talvez pela ainda incipiente importância econômica e do reduzido volume de mão- de-obra ocupada por este segmento frente a outros mais tradicionais e, portanto, da visibilidade e das atenções do poder pú- blico quanto à regulação deste aspecto – é inegável a necessidade de levar conheci- mentos atinentes à matéria aos profissio- nais envolvidos, não apenas como caminho para a prevenção e de minimização dos acidentes ora existentes, mas, sobretudo, como meio de fomentar a formação de uma cultura proativa. Quanto às condições e oportunidades de danos à saúde e segurança, isto é, à in- tegridade dos profissionais dedicados às atividades de campo, ademais dos riscos resultantes das instalações e da atividade laboratorial, destacamos os temas que se- rão abordados ao longo deste texto no box Riscos da atividade. PLANEJAMENTO Como em todas as atividades que de- mandam atuação em campo, a primeira providência para mitigar improvisos, e como consequência destes, o surgimento de oportunidades de eventos indeseja- dos, é imprescindível o planejamento ou dimensionamento de um canteiro-base, tão próximo quanto possível do local de exploração, assim como de canteiros de apoio, no próprio local de atuação. Para o adequado planejamento desse(s) cantei- ro(s), um conjunto de variáveis deve ser previamente analisado no intuito de forne- cer subsídios ao seu ótimo estabelecimen- to. Confira quais são as principais no box da página 72, Identificando as variáveis. Já no caso da distribuição ou organiza- ção dos setores do canteiro, esta deverá ser feita de acordo com a destinação de suas finalidades. Veja as sugestões no box Organizando o canteiro. Cabe destacar que, por vezes, o canteiro arqueológico coexiste com aqueles volta- dos às obras civis, nos quais são utilizados equipamentos de grande porte, como re- troescavadeiras e motoniveladoras, comu- mente também utilizadas em fases iniciais de algumas pesquisas arqueológicas. Neste caso, convém destacar a simultaneidade dos riscos de ambos os projetos e da ne- cessidade de redobrar as atenções e de esclarecer à equipe arqueológica e pro- mover treinamentos a respeito destes ou-
  • 3. MARÇO / 201772 REVISTA PROTEÇÃO SST EM ARQUEOLOGIA da prática da direção defensiva ou segura dos veículos, no transporte de pessoal e de materiais; proibição do uso de cigarros, be- bidas e outros estimulantes e, finalmente, confidencialidade quanto à difusão não- -oficial dos achados ao longo da duração do projeto. RISCOS Superada a fase de planejamento e ins- talação do canteiro que dará suporte à ex- ploração, cabe, agora, voltar a atenção às demais condições que podem influenciar na Saúde e a Segurança Ocupacional dos arqueólogos e demais membros da equipe, auxiliares diretos e indiretos. No desloca- mento entre o canteiro-base e o sítio de exploração propriamente dito podem ter lugar várias oportunidades de danos à in- tegridade dos trabalhadores. Por exemplo, pelo deslocamento se dar em escarpas e em terrenos íngremes. Outras vezes será necessário fazer o uso de técnicas de esca- lada ou de trabalho em altura, bem como o deslocamento manual de cargas – não raro excessivas, sejam mantimentos, suprimen- tos, equipamentos, salvados e mesmo uma boa quantidade de resíduos escavados, que precisam ser retirados de seu local de origem, ser peneirados, depositados temporariamente ao largo das valas, para posterior recomposição das aberturas que não devem permanecer abertas, oferecen- do riscos a terceiros. É possível, também que, neste trajeto ou no próprio local de atuação, se trave contato com animais peçonhentos, sinan- trópicos e silvestres (que podem oportu- nizar as mais variadas zoonoses), bem co- mo com substâncias naturais de algumas plantas, de acordo com os biomas em que estes se inserem. Pequenos animais, como a aranha-marrom (Loxosceles s.p), de di- minutas dimensões e picada quase indolor, pode provocar, passado algum tempo da indesejada e praticamente imperceptível interação, graves repercussões à saúde de sua vítima, motivo pelo qual sua potencial presença deve ser cuidadosamente verifi- cada em ambientes nos quais tenha sido anteriormente relatada. Riscos biológicos podem ser originados, por exemplo, nas excreções de certos animais, como o fun- go Histoplasma capsulatum (causador da histoplasmose), relacionado à presença de morcegos em cavernas. As fezes deposita- das ao solo encontram condições propícias à proliferação do microorganismo que, in- serido em particulados dissolvidos na at- tros riscos não-habituais em seu cotidiano, aos quais potencialmente estarão sujeitos, destacando-se, por exemplo, a interação indevida com veículos industriais a partir do que, não raro, em razão da sua intensa movimentação, resultam graves acidentes, alguns fatais. De outro lado, algumas intervenções, mesmo aquelas realizadas fora dos cen- tros urbanos, demandam escavações em profundidades diferentes, tanto para a exploração propriamente dita, como para a instalação de utilidades e podem resultar no contato acidental com redes subterrâ- neas, como as de água tratada, servidas e pluvial, energia elétrica e, até mesmo, de gases, o que pode originar eventos in- desejados de distintas gravidades, como explosões, inundações, choques elétricos etc. Em razão disso, o planejamento do canteiro de obras deverá contemplar a ve- rificação da localização dessas redes junto às municipalidades e concessionárias, com quem os responsáveis pelo projeto deverão interagir visando obter as informações pa- ra minimizar as chances de ocorrência de eventos desta natureza. OUTRAS MEDIDAS Dentre as medidas que podem ser ado- tadas estão o reposicionamento destas redes e quando viável, o seu desligamento ou inativação temporária. No caso de redes de gases, tubulações contendo resíduos de inflamáveisououtrosprodutosquepossam oferecer riscos adicionais, a regra geral de segurança é esvaziá-los por completo, procedendo à sua lavagem, para eliminar a presença de resíduos perigosos e a for- mação de vapores, situações que podem oferecer risco não-percebido e contribuir para a redução da atenção e das medidas próprias do comportamento preventivo, uma vez que se imagina estar isento destes. Ademais da alocação das áreas neces- sárias para as várias utilidades citadas, o gestor do projeto deve, ainda, estabelecer outras medidas e orientações quanto à se- gurança ocupacional no interior e entorno do canteiro, relativas ao ordenamento e controle do tráfego de veículos e pesso- as; cuidados quanto à drenagem e escoa- mento de águas pluviais e preexistentes; controle da presença de insetos, roedores e outros animais, domésticos ou silvestres, que possam servir de vetores para doenças transmissíveis; rigoroso controle do acesso ao interior do canteiro e, em especial, aos lotes (quadrículas) de exploração; adoção IDENTIFICANDO AS VARIÁVEIS Um planejamento adequado do traba- lho no local da exploração deve levar em consideração: 1Se dará em ambiente urbano ou rural; 2Se nas proximidades ou não de um núcleo urbano há mínima capaci- dade e disponibilidade para fornecimento de, dentre outros requisitos:infraestrutura, água potável, energia elétrica, combus- tíveis, serviços médico-hospitalares, alimentação preparada ou mantimentos, hotelaria e/ou hospedagem, reposição de suprimentos diversos etc.; 3A distância, as dificuldades e o tempo de deslocamento desde e até o sítio arqueológico (poderão existir meios ou rotas distintos para acesso ou chegada e saída); 4O número total de pessoas fixas e volantes por período ao longo da duração da intervenção; 5A duração prevista para as ativi- dades de campo e a autonomia esperada entre entregas sucessivas de suprimentos; 6Os diversos meios de transporte (inclusive se por tração animal), seu porte e combustíveis utilizados; 7A modalidade da exploração, se acadêmica (com a possibilidade ou necessidade de reutilização do canteiro) ou se por contrato (canteiro provisório, com uso por tempo determinado); 8A maquinaria, o ferramental e ou- tros recursos materiais a serem uti- lizados diretamente na exploração (como contenedores para transporte manual, EPI, químicos, cordoalhas etc.); 9A extensão ou limites da área em prospecção e a necessidade ou obrigatoriedade do fechamento de seu perímetro por questões de segurança quanto ao acesso indevido de terceiros e de animais (urbanos e silvestres), de Se- gurança Ocupacional e, inclusive pessoal da equipe e do próprio acervo em estudo; 10O custo humano, ambiental e financeiro da mobilização e desmobilização do canteiro em razão da disponibilidade ou não de áreas para a alocação de cada utilidade e serviços associados.
  • 4. REVISTA PROTEÇÃO 73MARÇO / 2017 mosfera, pode ser prontamente respirado causando grave doença respiratória. Ao longo da imensa costa do Brasil, mui- tos foram os naufrágios desde remotas eras. A arqueologia subaquática é, deste modo, outro campo promissor. Para a sua adequada consecução, toda uma vasta ga- ma de cuidados para evitar barotraumas, apagamentos, hipotermia e intoxicações por gases, dentre outras ocorrências que podem ter lugar, também em águas inte- riores como rios e lagos, assim como em cavernas inundadas (vide o contido na Por- taria Ibama n. 100, de 5 de julho de 2006), devem ser realizados a contento. QUÍMICOS Na arqueologia, os químicos podem en- contrar aplicações das mais diversas. Por exemplo, ao retirarmos uma moeda me- tálica de um naufrágio marítimo será ne- cessário aplicar produtos químicos para a interrupção da ação da água salina sobre esta quando do contato com a atmosfera rica em oxigênio; outro para a limpeza de sua superfície sob rigoroso controle, para que esta não seja danificada e para serviço de análise; posteriormente outra substância pode ser utilizada para a ca- racterização precisa da liga que a constitui e, finalmente, outros químicos podem ser usados para a preservação da peça visan- do a sua exposição ao grande público, se for o caso. E todos nós sabemos: onde há químicos, há riscos associados aos traba- lhadores que lidam com eles, em maior ou menor intensidade. O campo de estudos relativo à carac- terização de achados arqueológicos por métodos físico-químicos recebe o nome de “arqueometria”. Neste, além dos quí- micos para a determinação da presença de resíduos de certas matérias como o san- gue, ácidos presentes nas gorduras e nas bebidas, por exemplo, podemos destacar técnicas de datação utilizando radiações, o que, por sua natureza, ensejam todos os cuidados relativos ao seu uso seguro. Em nosso país não podemos deixar de nos referir ao trabalho sob exposição so- lar, sobretudo em razão de que muitas das atividades de campo na arqueologia estão limitadas ao dia solar, pelo que se requer atenções não somente à incidência da ra- diação ultravioleta sobre a pele, notada- mente dos indivíduos com menor grau de pigmentação e, por conseguinte, de menor proteção pela melanina, assim como pela inafastável necessidade de reposição hídri- ca e da manutenção do equilíbrio hidroele- trolítico, sobretudo em ambientes de baixa umidade, quando a sudorese pode resultar despercebida. Ao serem realizadas atividades de esca- vação, a mais tradicional forma de explo- ração arqueológica, devemos ter em mente que as camadas deste solo, de ocupação de civilizações anteriores, comumente guar- dam características diferentes de solos íntegros e, devido a tal condição, tendem a ser bem menos estáveis do que aqueles, sendo necessário, portanto, rigoroso cui- dado quanto ao possível desmoronamen- to. O paradoxo da presença dos meios de contenção nestas escavações reside justamente no fato de que, quando mal projetados e/ou instalados, estes aparatos podem não apenas danificar os vestígios em exploração, como também impedir ou dificultar o acesso a estes. Nesta perspec- tiva, impõe-se ao mesmo tempo proteção e restrições ao exercício da atividade, de onde surge um amplo campo de atuação prevencionista no tocante ao desenvolvi- mento de equipamentos de proteção que contemplem simultaneamente estas duas necessidades. DICAS Para finalizar podemos elencar algumas “regras gerais” como dicas de segurança para atividades de arqueologia. Inicial- mente é importante ter em mente que cada sítio arqueológico é único em suas características, seja localização, forma de acesso, se terrestre, se subaquático etc. Deste modo, os riscos associados à sua exploração e investigação são úni- cos, carecendo tanto de identificação e reconhecimento prévio, quanto de plane- jamento das medidas preventivas e pro- tetivas necessárias para a preservação da integridade dos envolvidos na execução de tais tarefas. Como na maioria das vezes é reduzida a familiaridade com o ambiente onde se dará ou será alvo do estudo, não se pode prescindir de um plano de Saúde e Segu- rança Ocupacional específico para cada sítio, bem como da ampla disseminação de seu conteúdo, com explanações a todos os membros da equipe, incluindo tempo- rários e terceirizados, sobre riscos poten- cialmente presentes e medidas apropria- das para seu controle e/ou minimização. Neste sentido, ações como os DDSMS ORGANIZANDO O CANTEIRO No momento de distribuição e organi- zação das áreas poderemos relacionar á­reas para:  Guaritas, geradores, rede de distribui- ção e sistemas de iluminação e segurança;  Alojamentos, escritório ou adminis- tração do projeto, inclusive reuniões e co- municação (instalação de rádio base etc.);  Serviços de emergência e atendimento médico;  Prospecção propriamente dita, reser- vada e em atividade;  Cozinhas, sanitários e refeitórios;  Pré-tratamento ou triagem para labo- ratórios de campo;  Deposição temporária e eventual reti- rada ou carregamento do material oriundo da escavação e/ou movimentação de terras, assim como para os demais resíduos gerados no canteiro;  Reservatórios de suprimento de água potável e de uso comum;  Almoxarifados e depósitos, in- cluindo áreas específicas para re- cepção, armazenagem, preparação e fracionamento de químicos de uso técnico;  Armazenamento e abastecimento de combustíveis;  Recursos de resposta imediata a emer- gências como extintores e kits de primeiros socorros e contenção de vazamentos;  Estacionamentos, inclusive para meios secundários de movimentação, como em- barcações, quadriciclos etc., bem como para alguns equipamentos, quando houver a previsão de sua utilização em diferentes fases do projeto;  Manutenção de equipamentos;  Reservas (exclusivas) para o tráfego de pessoas e de veículos, incluindo para os meios de elevação e deslocamento de materiais de maior massa e volume;  Outras áreas. ARQUIVOPROTEÇÃO
  • 5. MARÇO / 201774 REVISTA PROTEÇÃO SST EM ARQUEOLOGIA - Diálogos Diários de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, a ter lugar no próprio canteiro arqueológico e nas demais insta- lações do projeto, podem contribuir para a efetivação de uma cultura proativa no tocante à prevenção de acidentes junto a todos os membros da(s) equipe(s); Ainda que algumas intervenções arque- ológicas possam ter duração determinada por contrato, muitos sítios costumam ser objeto de estudo por meses, anos e, até mesmo, por décadas. Nestes, em especial, as medidas de engenharia de segurança, em sentido amplo, não podem ser provi- sórias ou improvisadas. Pelo contrário, têm de ser duradouras, sendo revisadas periodicamente quanto à sua adequação ao atual estágio da obra, assim como ao seu estado de conservação e, portanto, da capacidade em cumprir as funções para as quais foram especificadas e im- plementadas; ATENÇÃO Em alguns casos poderão existir seve- ras dificuldades quanto às condições de higiene pessoal e coletiva, o que inclui o acesso à água potável e alimentação se- gura, assim como o gerenciamento dos resíduos gerados localmente. Neste mes- mo sentido, cabe antecipar que além das providências de caráter geral relativas a primeiros socorros, cada membro da equipe deve informar acerca de restri- ções e no tocante ao uso habitual de me- dicamentos em função de condições de saúde específicas, sobretudo com relação a alergias e a possíveis distúrbios meta- bólicos. Recomendáveis, portanto, testes alergênicos prévios e o acompanhamento médico regular da saúde individual antes de cada expedição; Cuidados preventivos no tocante à gera- ção e propagação de incêndios, por ação direta ou de terceiros, devem ser uma constante, assim como o domínio das técnicas necessárias para a sua extinção em seu princípio. Também a evacuação segura quando estiverem fora de controle deve integrar os treinamentos da equipe; Estejam atentos ao comportamento dos elementos da natureza, sobretudo os ventos, as chuvas (quanto ao perío- do de ocorrência e intensidade) e ao sol. Cuidados específicos diante de cada um destes são fundamentais para a seguran- ça individual e coletiva em atividades a céu aberto. Como diz o ditado popular: “Fogo morro acima e água morro abaixo, a atenção ou o tratamento adequado, po- derá se converter em afastamento perma- nente das atividades. É preciso, portanto, estarmos atentos às “queixas” ou sinais de alerta fornecidos pelo nosso corpo em ra- zão das exigências a que o submetemos. APRENDIZADO De modo similar às obras de construção civil, recomenda-se o isolamento ou fe- chamento do perímetro e a sinalização das escavações com o fito de evitar a entrada de pessoas não-autorizadas nas áreas de exploração, assim como servir de limita- ção para a presença de animais silvestres e mesmo de companhia (cães, gatos e outros domesticados), com os quais uma interação indevida pode resultar eventos indesejados, sejam acidentes ou danos aos vestígios sob investigação; Comunique a quem de direito e registre todo e qualquer evento indesejado que possa colocar em risco a integridade do empreendimento e das pessoas envolvi- das. Tenha causado ou não lesões pesso- ais, a investigação e análise de cada ocor- rência serão requisitos essenciais para a aprendizagem a partir do ocorrido, o que incluirá, necessariamente, a determinação das medidas que devem ser estabelecidas para evitar a sua recorrência e propiciar a execução segura da tarefa no futuro. A posterior divulgação do resultado alcan- çado, do aprendizado resultante do caso, servirá para o aprimoramento dos siste- mas de Saúde e Segurança Ocupacional nas atividades de arqueologia, seja no campo ou em laboratório. Este conheci- mento se tornará útil não apenas nas em- preitadas em que você participa ou parti- cipará daqui em diante, mas para todos os demais profissionais que tiverem acesso ao conhecimento gerado. O compartilha- mento das informações associadas servi- rá, inclusive, para o desenvolvimento das normas técnicas e legislações pertinentes. Por fim, mas nem por isso menos impor- tante, é fundamental lembrarmos a pre- mente necessidade do desenvolvimento de uma cultura proativa em relação ao gerenciamento dos riscos laborais nas atividades de arqueologia, envolvendo a troca de experiências e saberes, como também a participação ativa e conjunta de profissionais especialistas em engenharia de segurança e de áreas correlatas (como a geotecnia, a toxicologia, a construção civil etc.) no desenvolvimento de novas tecnologias aplicáveis ao segmento. ninguém segura! ”. Tenham sempre em dia o seu plano vacinal para as enfermidades endêmicas nas regiões onde atuar e para aquelas que podem se originar diretamente da ativida- de, como o tétano. Ferramentas em ina- dequado estado de conservação, impro- visadas ou armazenadas podem oferecer condições de risco em sua utilização ou por interação acidental. PROTEÇÃO Utilizem, habitualmente, Equipamentos de Proteção Individual apropriados para cada atividade a ser desenvolvida e sigam integralmente os procedimentos para a sua execução segura, notadamente quan- do envolverem risco acentuado, como nos mergulhos, escavações, trabalhos em al- tura e em ambientes confinados. Nunca trabalhem com as mãos, pés ou partes do corpo desprotegidas. A vesti- menta é uma forma de proteção. As mãos são extensões das ferramentas, quando não as próprias, e é por meio daquelas que fazemos o uso adequado destas. Cuidados ao efetuar os deslocamentos e observar os locais onde se pisa são necessários para evitar perfurações, escorregões, tropeços e quedas. Estejam acompanhados, sempre que possível e de posse de equipamentos de comunicação e de orientação, o que pode incluir lanternas, bússolas tradicionais, uma vez que eletrônicos. Mesmo os mais modernos como aparelhos de GPS, rádios e telefones por satélite, estão sujeitos a falhas e à ocorrência de condições adver- sas que podem inviabilizar o seu uso e o acesso aos benefícios oferecidos por eles. Observar as posturas e esforços físicos despendidos é de fundamental impor- tância quando da execução de trabalhos de longa duração. A postura sentada ou com o pescoço e/ou a coluna inclinados à frente ou em posturas esdrúxulas (isto é, incomuns) por períodos prolongados, a sustentação, a elevação e o deslocamento manual de cargas excessivas podem impor fadiga precoce ao membro da equipe ar- queológica, prejudicando o seu desempe- nho laboral. Se tal se dá de modo intenso ou repetitivo, esta condição de trabalho poderá resultar uma situação de desgaste crônico que poderá se converter em danos às estruturas do corpo, introduzindo-lhe limitações funcionais. Isto pode causar a diminuição da capacidade laboral com in- capacidades temporárias e se não receber