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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
ARTIGO ARTICLE
Acidente de trabalho, com material biológico,
em profissionais de saúde de hospitais públicos
do Distrito Federal, Brasil, 2002/2003
Work-related accidents in health care workers
from public hospitals in Brasilia, Brazil, 2002/2003
1 Hospital das Forças
Armadas, Brasília, Brasil.
2 Faculdade de Ciências
da Saúde, Universidade
de Brasília, Brasília, Brasil.
Correspondência
A. Barbosa-Branco
Departamento de Saúde
Coletiva, Faculdade
de Ciências da Saúde,
Universidade de Brasília.
Campus Universitário
Darcy Ribeiro, Brasília, DF
70910-900, Brasil.
anadergh@unb.br
Roberta de Betânia Caixeta 1
Anadergh Barbosa-Branco 2
Abstract
This study evaluates the knowledge and accep-
tance of biosafety measures by health care pro-
fessionals in light of the potential risk of occu-
pational transmission of HIV. The survey as-
sessed 570 health care workers from 6 hospitals,
randomly selected from all hospitals in the Fed-
eral District (Brasilia), Brazil. The sample corre-
sponds to 15.0% of the all health professionals
in the selected hospitals. These professionals an-
swered a semi-structured questionnaire on
knowledge of biosafety and universal precau-
tions, risk of occupational HIV transmission,
work-related accidents, use of personal protec-
tive equipment (PPE), and acceptance of chemo-
prophylaxis and HIV testing. The overall acci-
dent coefficient was 39.1. Dentists, physicians,
and laboratory technicians were those who most
frequently suffered such accidents. The accident
coefficient was inversely proportional to the
hospital capacity. The professionals’ knowledge
of biosafety concepts and the fact that written
norms were displayed in their workstations did
not positively affect the work accident coeffi-
cient.
Biosafety; Acquired Immunodeficiency Syndrome;
Health Personnel; Occupational Accidents
Introdução
Estudos sobre acidentes do trabalho com po-
tencial risco de transmissão do vírus da imu-
nodeficiência humana (HIV) em profissionais
de saúde têm sido realizados em várias partes
do mundo, mais particularmente nos Estados
Unidos 1,2. Entretanto, no Brasil, é clara a limi-
tação de estudos epidemiológicos sobre o as-
sunto, além da restrição desses aos profissio-
nais de enfermagem.
O Ministério da Previdência e Assistência
Social define acidente de trabalho como o ocor-
rido pelo exercício do trabalho a serviço da em-
presa, o qual provoca lesão corporal ou pertur-
bação funcional que cause a morte ou a perda
ou redução, permanente ou temporária, da ca-
pacidade para o trabalho 3. Bem antes do ad-
vento da síndrome da imunodeficiência adqui-
rida (AIDS), a Lei n. 6.367, de 19 de outubro de
1976, já equiparava ao acidente de trabalho a
doença proveniente da contaminação aciden-
tal do pessoal da área médica 4.
Os acidentes envolvendo material biológi-
co, freqüentes entre os profissionais de saú-
de, não se enquadram na definição legal. Con-
tudo, as suas conseqüências, a curto e médio
prazo, fazem com que o seu registro junto aos
serviços competentes da unidade hospitalar
(Medicina do Trabalho, Comissão de Controle
de Infecção Hospitalar e outros) seja funda-
mental.
Caixeta RB, Barbosa-Branco A738
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
O fato da comunicação do acidente de tra-
balho ser procedimento facultativo é um pro-
blema grave, pois, muitas vezes, o acidente não
gera nenhuma das situações previstas na defi-
nição de acidente de trabalho, nem tampouco,
no momento ou muito próximo desse, fica ca-
racterizada a transmissão. Legalmente, esse ti-
po de acidente não teria comunicação compul-
sória, realizada apenas quando a doença se de-
senvolve. Percebe-se claramente, nesse caso, a
falta de componente preventivo.
Para garantir os benefícios acidentários dos
trabalhadores, grande parte dos hospitais pro-
cura estabelecer alguma forma de registro des-
ses acidentes, mas, na prática, há falta de nor-
malização desse procedimento e uma deficien-
te divulgação junto aos profissionais de saúde.
Além disso, é necessário o estabelecimento de
rotinas relacionadas às medidas de precaução
imediatas, bem como as orientações e a dispo-
nibilidade da quimioprofilaxia em casos de aci-
dentes com material biológico de pacientes so-
ropositivos para o HIV ou desconhecidos.
Entretanto, pouco se sabe sobre o nível de
conhecimento dos profissionais de saúde so-
bre o assunto, bem como o grau de adesão às
normas de biossegurança. Em razão do poten-
cial desconhecimento dessa realidade nas ins-
tituições de saúde brasileiras, faz-se necessário
estabelecer novas políticas de saúde e seguran-
ça para aqueles que cuidam da saúde da popu-
lação.
Outro fator importante está relacionado ao
termo biossegurança que tem assumido, a par-
tir da Lei n. 8.975, de 5 de janeiro de 1995, 5 que
criou a Comissão Técnica Nacional de Biosse-
gurança (CTNBio), uma dimensão ampla, que
extrapola a área da saúde e do trabalho, sendo
empregada quando há referência ao meio am-
biente e à biotecnologia 6. Todavia, não se per-
cebe o mesmo empenho, principalmente go-
vernamental, de se discutir as questões relacio-
nadas à biossegurança no ambiente hospitalar
e à saúde dos trabalhadores envolvidos.
Considerando que este estudo também tra-
ta do conhecimento dos profissionais de saúde
e a adesão destes às medidas de biossegurança
frente ao potencial risco de transmissão do HIV,
o conceito de biossegurança adotado será o
instituído pela Comissão de Biossegurança da
Fundação Oswaldo Cruz, o qual é definido co-
mo “o conjunto de medidas voltadas para a pre-
venção, a minimização ou a eliminação de ris-
cos inerentes às atividades de pesquisa, produ-
ção, ensino, desenvolvimento tecnológico e pres-
tação de serviços, que podem comprometer a
saúde do homem, dos animais, do meio am-
biente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvi-
dos. Estas medidas são classificadas em quatro
grupos: medidas administrativas, técnicas, edu-
cacionais e médicas” 7 (p. 13).
Face ao exposto, o objetivo deste estudo é
identificar os fatores que interferem no aciden-
te de trabalho envolvendo material biológico
em profissionais de saúde.
Métodos
Trata-se de estudo epidemiológico, descritivo,
do tipo inquérito transversal, realizado em seis
hospitais públicos do Distrito Federal, Brasil,
em 2002 e 2003.
A seleção da amostra das unidades hospita-
lares foi feita por método aleatório estratifica-
do, definido segundo o porte dos hospitais. Fo-
ram estabelecidos três estratos: o primeiro, com-
posto por um hospital de grande porte (> 300
leitos). O segundo, por dois hospitais de médio
porte (> 100 e < 300 leitos) e, o terceiro, por três
hospitais de pequeno porte (< 100 leitos). Den-
tre as unidades hospitalares que compõem es-
te estudo, quatro são da Secretaria de Estado
de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) e duas
são organizações militares.
Em cada unidade selecionada foram entre-
vistados o mínimo de 15,0% dos profissionais
de saúde, perfazendo um total de 570 profissio-
nais, pertencentes às seguintes categorias: ci-
rurgião-dentista; enfermeiro; farmacêutico-
bioquímico; médico; técnico de laboratório de
análises clínicas; técnico de enfermagem; auxi-
liar de enfermagem; atendente de enfermagem
e auxiliar técnico de laboratório. Procurou-se
contemplar todas as categorias e todos os tur-
nos de trabalho.
Para a coleta de dados foi utilizada técnica
de entrevista, por meio de um instrumento do
tipo roteiro semi-estruturado, o qual abordou
aspectos como: conhecimento sobre biossegu-
rança, uso de equipamentos de proteção indi-
vidual (EPI), ocorrência de acidente de traba-
lho, reencape de agulha, risco de transmissão
ocupacional, aceitação da quimioprofilaxia e
realização de teste sorológico anti-HIV.
O instrumento foi validado por meio de pré-
teste e aplicado individualmente por uma equi-
pe multidisciplinar previamente treinada.
O projeto foi submetido à análise dos Co-
mitês de Ética em Pesquisa em Seres Humanos
(CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde, Uni-
versidade de Brasília (UnB) e da SES-DF, sendo
aprovado em ambos.
Os dados foram armazenados no Access e
posteriormente analisados por meio do pro-
grama SPSS 10.0.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
A análise foi realizada a partir dos dados do
conjunto de profissionais de saúde, em relação
à ocorrência de acidente de trabalho, por meio
das seguintes taxas padronizadas:
• Coeficiente de acidentabilidade (C. A.)
C. A. =
Total de acidentados
x 100
Total de avaliados
• Coeficiente de aceitação (C. Ac.)
C. Ac. =
Total de pessoas que
x 100
aceitariam a quimioprofilaxia
Total de profissionais avaliados
Na análise estatística foram utilizados os
seguintes testes:
• Teste Exato de Fisher: análise univariada pa-
ra verificar o grau de associação entre a ocor-
rência de acidentes do trabalho e o conhecimen-
to dos profissionais de saúde sobre biossegu-
rança, a definição de biossegurança, o risco de
transmissão do HIV em caso de acidente com
material perfurocortante, o uso e a aceitação da
quimioprofilaxia, o conhecimento dos profis-
sionais sobre as precauções universais, o trei-
namento em biossegurança e a realização de
teste sorológico anti-HIV, com nível de signifi-
cância (p < 0,05).
• Teste Qui-Quadrado: para verificar a dife-
rença estatística entre a freqüência em que os
profissionais de saúde relataram ter o conheci-
mento sobre as normas de biossegurança e a
disponibilidade das mesmas, com nível de sig-
nificância (p < 0,05).
Resultados
Os seis hospitais possuíam um total de 6.179
trabalhadores, dos quais 57,0% (3.466) são pro-
fissionais de saúde. Do conjunto desses profis-
sionais foram avaliados em média 16,4%, tota-
lizando 570 profissionais de saúde.
Dentre os profissionais de saúde avaliados,
223 (39,1%) referiram ter sofrido acidente de
trabalho com material biológico.
Ao se avaliar a distribuição das categorias
profissionais em relação ao sexo, observa-se
uma predominância feminina em todas as ca-
tegorias, totalizando 75,2% da amostra.
A idade dos profissionais de saúde variou
entre 20 e 68 anos, apresentando uma média
de 38,8 ± 9,3 anos, e mediana de 32 anos. Ob-
serva-se que os profissionais de saúde são pes-
soas jovens, uma vez que 71,2% estão concen-
trados na faixa etária ampliada de 20 a 39 anos
e mediana de 29 anos.
ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 739
Em relação à distribuição do tempo de ser-
viço, verifica-se que os profissionais de saúde
apresentaram uma média de 10,3 ± 8,1 anos.
Na avaliação da influência do porte do hos-
pital e da categoria profissional no coeficiente
de acidentabilidade de trabalho envolvendo
material biológico, observou-se uma relação
inversamente proporcional ao coeficiente de
acidentabilidade. Foram registrados para gran-
de, médio e pequeno porte, 32,9, 39,9 e 44,1,
respectivamente.
Quanto à categoria profissional, aquelas
cujos profissionais mais relataram acidentes
com material biológico foram a de cirurgião-
dentista (64,3), médico (47,8) e técnico de la-
boratório (46,0), enquanto o menor relato ob-
servou-se na categoria dos farmacêuticos-bio-
químicos (17,6).
Analisando-se o coeficiente de acidentabi-
lidade de trabalho segundo o sexo dos profis-
sionais de saúde, verificou-se uma ligeira pre-
dominância no sexo masculino.
Esse mesmo indicador, analisado de acordo
com o sexo e a categoria profissional (Figura 1),
mostrou que entre os profissionais do sexo mas-
culino, os maiores coeficientes correspondem
à categoria de atendente de enfermagem (100,0)
e entre os técnicos de laboratório (72,2). Entre
as mulheres, as categorias que mais se aciden-
taram foram as de cirurgiã-dentista e médica,
72,2 e 50,8, respectivamente.
No conjunto dos profissionais de saúde hou-
ve pouca diferença entre as faixas etárias. Os
maiores coeficientes foram observados nas fai-
xas etárias de 30 a 39 anos e de 50 a 59, com
43,5 e 43,2, respectivamente.
Na análise do coeficiente de acidentabilida-
de de trabalho, segundo o tempo de serviço na
atividade, identifica-se a faixa de 11 a 15 anos
como a mais vulnerável, tanto no conjunto dos
profissionais (54,8 acidentados em 100 profis-
sionais) quanto individualmente, nos níveis mé-
dio (57,1) e superior (58,3).
Na análise da interferência do tempo de
atividade e da categoria profissional no coefi-
ciente de acidentabilidade, subdividiu-se o tem-
po de atividade em menor ou igual a 10 anos e
maior de 10 anos e observou-se pouca diferen-
ça entre esses dois grupos. A categoria técnico
de laboratório obteve maior coeficiente entre
os profissionais com mais de 10 anos, enquan-
to que na categoria médica o coeficiente foi
maior entre aqueles com menor tempo de ser-
viço.
Constatou-se associação significativa entre
a freqüência em que os profissionais de saúde
que se acidentaram relataram ter conhecimento
sobre as normas de biossegurança (χ2 = 178,985;
Caixeta RB, Barbosa-Branco A740
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
df = 2; p = 0,000) e a disponibilidade das mes-
mas na unidade de trabalho (χ2 = 231,217; df =
3; p = 0,000).
Não houve influência do fato de os profis-
sionais de saúde afirmarem ter conhecimento
do conceito de biossegurança no coeficiente de
acidentabilidade de trabalho, uma vez que esse
indicador foi maior entre aqueles que conhe-
ciam o conceito (50,0) do que entre os que de-
claram não o conhecer (37,5).
O treinamento recebido pelos profissionais
de saúde, com conteúdo sobre biossegurança,
nos últimos dois anos não diminuiu o coefi-
ciente de acidentabilidade de trabalho envol-
vendo material biológico. Os dados apontam
um coeficiente mais elevado para aqueles que
referem ter recebido treinamento (44,5) do que
para os que não receberam (37,3).
O fato de os profissionais de saúde terem
ou não conhecimento do risco de transmissão
ocupacional do HIV não interferiu significati-
vamente no coeficiente de acidentabilidade de
trabalho, apresentando coeficiente maior entre
aqueles que conheciam o risco (41,2).
Quanto ao uso de equipamentos de proteção
individual, a influência do conhecimento dessas
medidas e a adesão dos profissionais à utilização
das mesmas no coeficiente de acidente de traba-
lho mostraram haver pouca ou nenhuma relação
significativa entre essas variáveis.
O índice de reencape de agulha e o coefi-
ciente de acidentabilidade segundo o sexo, mos-
traram que os profissionais do sexo masculino
reencapam mais agulhas do que os profissio-
nais do sexo feminino. Observou-se um maior
coeficiente de acidentabilidade entre aqueles
que sabem que não se deve reencapar agulha.
Considerando o conjunto de profissionais
que sofreram acidentes de trabalho, segundo o
tipo e a categoria profissional, observa-se que
86,5% do total de acidentes envolveram exposi-
ção percutânea. Nesse tipo de acidente, desta-
cam-se as categorias de farmacêutico-bioquími-
co, atendente de enfermagem, auxiliar de enfer-
magem e cirurgião-dentista como aquelas com
o maior porcentual de acidentes, totalizando
100,0%, 100,0%, 97,1% e 94,4%, respectivamen-
te. Por outro lado, as categorias que apresentam
maior porcentual de acidentes por contato cutâ-
neo-mucosa com fluidos potencialmente conta-
minados são as de enfermeiro (23,5%) e de téc-
nico de laboratório (13,0%) (Figura 2).
A distribuição dos profissionais de saúde
acidentados com material biológico, em relação
à aceitação de quimioprofilaxia, em casos de
acidentes com indicação para a mesma, mos-
trou que, dos 223 acidentados, 87,4% aceita-
riam a quimioprofilaxia, e destes últimos 30,0%
efetivamente a realizaram (Tabela 1).
Quanto à realização da sorologia anti-HIV,
do total de acidentados, 80,3% relataram ter
realizado o teste (Tabela 1).
Visando a conhecer o nível de aceitação da
quimioprofilaxia por parte dos profissionais de
Figura 1
Coeficiente de acidentabilidade de trabalho segundo a categoria profissional e o sexo do acidentado.
Distrito Federal, Brasil, 2002/2003.
% 0
20
40
60
80
100
120
140
Feminino
Masculino
Atendente de
enfermagem
Técnico de
enfermagem
Auxiliar de
enfermagem
Farmacêutico/
Bioquímico
Cirurgião
dentista
EnfermeiroTécnico de
laboratório
Médico
ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 741
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
Figura 2
Percentual de acidentados segundo o tipo de acidente com material biológico.
Distrito Federal, Brasil, 2002/2003.
% 0
20
40
60
80
100
120
Cutânea/Mucosa
Percutânea
TotalAtendente de
enfermagem
Técnico de
enfermagem
Auxiliar de
enfermagem
Farmacêutico/
Bioquímico
Cirurgião
dentista
EnfermeiroTécnico de
laboratório
Médico
Tabela 1
Percentual de acidentados segundo a aceitação e o uso de quimioprofilaxia (QP), teste anti-HIV e porte do hospital.
Distrito Federal, Brasil, 2002/2003.
Estrato/Unidade Aceitação QP Uso de QP Realização do Total de Total de
hospitalar* teste anti-HIV acidentados profissionais
n %** n %** n %** n %*** n %
Grande porte
A 47 88,7 17 32,1 48 90,6 53 32,9 161 28,2
Total 47 88,7 17 32,1 48 90,6 53 32,9 161 28,2
Médio porte
B 54 91,5 21 35,6 44 74,8 59 46,8 126 22,1
C 38 95,0 13 32,5 32 80,0 40 32,8 122 21,4
Total 92 92,9 34 34,3 76 76,7 99 39,9 248 43,5
Pequeno porte
D 17 77,3 6 27,3 19 86,4 22 43,1 51 8,9
E 27 90,0 7 23,3 23 76,7 30 37,5 80 14,0
F 12 70,6 3 17,6 13 76,5 17 56,7 30 5,3
Total 56 78,9 16 22,5 55 77,5 71 44,1 161 28,2
Total geral 195 87,4 67 30,0 179 80,3 223 39,1 570 100,0
* Unidades hospitalares: A, B, C, D, E, F.
** Percentual calculado em relação ao total de acidentados.
*** Coeficiente de acidentabilidade.
Caixeta RB, Barbosa-Branco A742
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
saúde acidentados, frente ao risco de transmis-
são do HIV, foram estabelecidas algumas situa-
ções ligadas ao acidente que interfeririam po-
sitiva ou negativamente nessa aceitação (Tabe-
la 2). Dentre estas, as situações em que o pacien-
te-fonte apresentava carga viral intensa e/ou
sorologia positiva prévia foram aquelas que
mais contribuíram para a decisão do profissio-
nal em aceitar a quimioprofilaxia, totalizando
94,6% e 94,2%, respectivamente, seguida por
paciente-fonte fase inicial (91,9%) e profundida-
de e extensão da superfície de contato (91,5%)
(Tabela 2).
O coeficiente de aceitação geral dos profis-
sionais acidentados em relação à quimioprofi-
laxia foi de 87,4. Na análise específica de cada
situação do acidente quanto à aceitação da qui-
mioprofilaxia, os maiores coeficientes encon-
trados foram para a sorologia positiva do pa-
ciente-fonte (99,6) e a carga viral intensa (99,0)
(Tabela 2). Ao se verificar o nível de significân-
cia estatística apresentado pelas variáveis estu-
dadas em relação à ocorrência de acidentes do
trabalho – análise univariada – Teste Exato de
Fisher, observou-se que não houve diferença
estatisticamente significante para as variáveis:
conhecimento das precauções universais, trei-
namento em biossegurança, reencape de agu-
lha e teste sorológico anti-HIV (Tabela 3).
Entretanto, para as variáveis: conhecimen-
to sobre biossegurança, definição sobre bios-
segurança, risco de transmissão, uso de quimio-
profilaxia e aceitação da quimioprofilaxia, veri-
ficou-se que houve diferença estatisticamente
significante (Tabela 3).
Discussão
A principal causa de acidentes de trabalho em
profissionais de saúde está relacionada ao uso
de material perfurocortante 8. Neste estudo, a
maioria dos profissionais de saúde relatou ter
sofrido acidente com esse tipo de material.
O número de acidentes envolvendo mate-
rial biológico pode ser reduzido se as normas
de biossegurança forem implementadas no
ambiente de trabalho, conforme demonstrado
no estudo de Beekmann et al. 9, realizado no
Centro Clínico do Instituto Nacional de Saúde
dos Estados Unidos, em Maryland. Os aciden-
tes relacionados a comportamentos considera-
dos de risco, como reencapar agulhas, dimi-
nuíram de 16,0% para 10,0%, redução estatisti-
camente significativa, o que comprova a efi-
ciência dessa recomendação.
Quanto ao coeficiente de acidentabilidade
por categoria, neste estudo o cirurgião-dentis-
ta ocupou o primeiro lugar, o que pode ser ex-
plicado pela prática diária com materiais per-
furocortantes. Estudo realizado também em
Maryland, entre esses profissionais, constatou
um aumento no uso de barreiras. Entretanto,
destacou altas taxas de reencape de agulhas,
Tabela 2
Coeficiente de aceitação de quimioprofilaxia e distribuição dos profissionais de saúde, segundo a situação
em que potencialmente aceitariam fazer uso da mesma. Distrito Federal, Brasil, 2002/2003.
Situação do acidente Coeficiente Aceitação da quimioprofilaxia Total
de aceitação Sim Não
n % n % n %
Acidentes de pequena magnitude 64,4 124 55,6 99 44,4 223 100,0
Profundidade e extensão da superfície 92,8 204 91,5 19 8,5 223 100,0
de contato no acidente
Pequena quantidade de material inoculado 83,8 171 76,7 52 23,3 223 100,0
Impossibilidade do teste sorológico 91,3 196 87,9 27 12,1 223 100,0
do contaminante
Demora para a obtenção do resultado 91,8 183 82,1 40 17,9 223 100,0
do paciente-fonte
Paciente-fonte em fase inicial da doença 97,1 205 91,9 18 8,1 223 100,0
Sorologia positiva do paciente-fonte 99,6 210 94,2 13 5,8 223 100,0
Sorologia negativa do paciente-fonte 49,4 82 36,8 141 63,2 223 100,0
Carga viral intensa do paciente-fonte 99,0 211 94,6 12 5,4 223 100,0
do acidente
Coeficiente de aceitação =
Total de pessoas que aceitariam a quimioprofilaxia
x 100
Total de profissionais
ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 743
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
problema de difícil solução, uma vez que, nes-
sa categoria, a natureza específica do procedi-
mento “anestesia” exige a repetição desse ato
durante um mesmo atendimento 10.
No Brasil, onde não existem muitas pesqui-
sas direcionadas exclusivamente à categoria de
cirurgião-dentista, os estudos apontam o aten-
dente de enfermagem, seguido do auxiliar de
enfermagem, como os profissionais que mais
se acidentam. A justificativa apresentada é a de
que os profissionais com pouca ou nenhuma
qualificação profissional estão mais expostos
aos riscos de acidentes 11,12,13. Paradoxalmen-
te, neste estudo, essas categorias obtiveram o
quinto e quarto maiores coeficientes de aci-
dentabilidade, respectivamente.
A distribuição dos profissionais que se aci-
dentaram segundo o sexo é diferenciada em
vários estudos, embora se perceba um predo-
mínio do sexo feminino 14,15,16. Isso pode ser
explicado pelo fato desses estudos terem sido
realizados na equipe de enfermagem, conside-
rada predominantemente feminina 17.
Em contrapartida, Brandi et al. 18 observa-
ram a tendência de o grupo masculino aciden-
tar-se mais que o feminino na realização das
mesmas tarefas. Entre os profissionais deste
estudo, a diferença entre os dois sexos foi qua-
se insignificante. Entretanto, o fato do profissio-
nal do sexo masculino ter se acidentado mais
está relacionado à prática do reencape de agu-
lhas ser maior entre esses profissionais, estan-
do mais expostos ao risco.
A incorporação da prática de não reencapar
agulhas pelos profissionais de saúde requer o
suprimento adequado de recipientes próprios
para descarte em todas as unidades hospitala-
res. Saghafi et al. 19, também sugeriram tornar
mais acessíveis os recipientes próprios para des-
carte, bem como a rotina de descartar esses re-
cipientes antes da superlotação. Esses estudos
ressaltam a importância de se fazer um diagnós-
tico das condições de risco de acidentes com
agulhas, a fim de buscar soluções fundamenta-
das na realidade de cada instituição hospitalar.
Com relação à faixa etária, este estudo en-
controu na população compreendida entre 30
e 39 anos o maior coeficiente de acidentabili-
dade, dado que corrobora os resultados de Bran-
di et al. 18, que também avaliaram se os mate-
riais perfurocortantes estavam infectados com
o HIV. Essa avaliação não foi realizada neste es-
tudo, mas o material perfurocortante represen-
tou a principal causa de acidente.
O tempo de serviço não influenciou no coe-
ficiente de acidentabilidade, entretanto, os da-
dos mostraram que a categoria médica apre-
sentou um maior coeficiente de acidentabili-
dade dentre aqueles que possuíam menor tem-
po de serviço, provavelmente, em decorrência
da inexperiência.
Dentre os profissionais entrevistados, os
que afirmaram conhecer todas as normas de
biossegurança foram os que mais se acidenta-
ram. Isso se deve, em parte, por considerarem
ter adquirido um conhecimento que, na práti-
ca, não acontece, ou por estarem mais expos-
tos aos riscos de transmissão do que a parcela
que relatou desconhecer ou ter um conheci-
mento parcial dessas normas. Isso pôde ser ob-
servado especificamente na categoria farma-
cêutico-bioquímico, que apresentou o menor
coeficiente de acidentabilidade, uma vez que o
risco de exposição desses profissionais é me-
nor do que o dos demais.
O treinamento recebido pelos profissionais
estudados não interferiu no coeficiente de aci-
dentabilidade, fato que deve ser melhor explo-
rado, pois não apareceu neste estudo que esse
treinamento tenha de fato resultado em uma
melhoria na capacitação dos profissionais quan-
to às normas de precaução universal.
Tabela 3
Nível de significância estatística apresentado pelas variáveis estudadas em relação à ocorrência
de acidentes de trabalho.
Com significância estatística Sem significância estatística
p < 0,05 p > 0,05
Conhecimento sobre biossegurança (0,05) Conhecimento das precauções universais (0,68)
Definição sobre biossegurança (0,04) Treinamento em biossegurança (0,14)
Risco de transmissão (0,00) Reencape de agulha (0,62)
Uso de quimioprofilaxia (0,00) Teste sorológico anti-HIV (0,33)
Aceitação da quimioprofilaxia (0,00)
Análise univariada – Teste Exato de Fisher.
Caixeta RB, Barbosa-Branco A744
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
A relação entre o conhecimento e a adesão
dos profissionais de saúde ao uso de barreiras
de proteção não foi significativa. Demonstrou-
se que eles têm o conhecimento, mas não ade-
rem às medidas e possuem uma percepção fra-
ca de risco, pois fazem uso de barreiras apenas
mediante o diagnóstico de soropositividade pa-
ra HIV. Este é um dos aspectos mais preocupan-
tes, uma vez que esta falsa segurança aumenta
significativamente o risco da transmissão do
HIV.
Particularmente para os profissionais de
saúde, o uso de barreiras de proteção deve ser
conduta priorizada, diferentemente do que é
recomendado pela Portaria n. 3.214 do Minis-
tério do Trabalho e Emprego para os agentes
insalubres químicos e físicos 20. Nos casos dos
agentes químicos e físicos, os EPIs devem ser
adotados tanto quanto todas as outras possibi-
lidades (equipamentos de proteção coletiva,
controle da fonte). No caso dos agentes bioló-
gicos, como em grande parte das situações é
impossível ou inviável o controle da fonte ou
do ambiente como um todo, as barreiras de pro-
teção, representadas nesse caso pelos EPIs, de-
vem estar presentes em todas as situações que
ofereçam risco, mesmo que potencial.
A eficiência dessas barreiras foi demonstra-
da no estudo de Bennet & Howard 21 e Mast et
al. 22, que comprovaram que as luvas funcio-
nam como medidas de proteção no caso de aci-
dentes com exposição da pele das mãos a san-
gue e fluidos corporais. No caso de acidentes
perfurocortantes foi demonstrado que uma úni-
ca luva pode reduzir o volume de sangue inje-
tado por agulhas maciças de sutura, em 70,0%.
No caso de agulhas ocas, a luva pode reduzir de
35,0% a 50,0% a inoculação do sangue, uma vez
que uma porção deste permanece na parte in-
terna da agulha 23. Mesmo oferecendo redução
menor que com agulhas maciças, sem dúvida a
utilização de luvas configura uma barreira au-
xiliar para a prevenção de acidentes perfuro-
cortantes.
Conforme as normas pós-acidente, os pro-
fissionais devem ser encaminhados para coleta
de sorologia anti-HIV, hepatites B e C 18. Entre-
tanto, questionados sobre essa coleta, somente
54,3% referiram ter realizado teste anti-HIV,
dado que não foi corroborado neste estudo, em
que o percentual de profissionais que afirma-
ram ter realizado esse teste foi bem maior, o
que demonstra que eles aderiram mais a al-
guns dos procedimentos recomendados.
Quanto à aceitação e ao uso da quimiopro-
filaxia pelos profissionais estudados, no perío-
do pós-acidente, uma grande maioria afirmou
que aceitaria fazer uso da medicação, mas, na
prática, esse dado não foi tão expressivo, pro-
vavelmente, em decorrência da ausência de in-
dicação de uso da quimioprofilaxia, devido ao
tipo de acidente, ou pelo fato de o profissional
acidentado ter optado por não fazer uso da me-
dicação em função dos efeitos colaterais. Po-
de-se questionar também a falta da orientação
correta dos serviços responsáveis, nas unida-
des hospitalares, pelo controle dos acidentes
de trabalho.
De modo geral, observa-se que a ocorrên-
cia de acidentes de trabalho envolvendo mate-
rial biológico potencialmente infectado pelo
HIV foi significativa, sendo de primordial rele-
vância o desenvolvimento de medidas técnicas
e administrativas para a minimização desse
problema.
Vale ressaltar que a relação conhecimento
das normas de biossegurança e treinamento
demonstraram que os treinamentos desenvol-
vidos devem ser reavaliados. Esse dado pode
ser alarmante num primeiro momento, já que
atualmente muito se confia e investe em trei-
namento enquanto ferramenta de capacitação
profissional. Deve-se no entanto, observar o ti-
po de treinamento, sua qualidade, sua adequa-
ção ao tipo de ambiente e de categoria profis-
sional que se pretende atingir. Além de propor
a implantação de um programa de educação
continuada, que possa constantemente mobi-
lizar os profissionais quanto às ações de prote-
ção dos profissionais de saúde, principalmente
as que dizem respeito à prevenção de aciden-
tes envolvendo material biológico potencial-
mente infectante.
Sendo assim, este estudo sugere a imple-
mentação de medidas de biossegurança em
hospitais, que são fundamentais para a prote-
ção dos profissionais de saúde. Tais medidas
abrangem tanto questões de ordem adminis-
trativa, de organização do trabalho, como rela-
cionadas à educação continuada, e ao controle
de qualidade e prevenção de acidentes.
Conclusões
Os dados apresentados permitem concluir que
o coeficiente de acidentabilidade foi inversa-
mente proporcional ao porte do hospital; os
profissionais de saúde do sexo masculino aci-
dentaram-se mais do que os do sexo feminino;
as categorias cirurgião-dentista, médico e téc-
nico de laboratório foram as que mais se aci-
dentaram; a realização de treinamento com
conteúdos sobre biossegurança não interferi-
ram positivamente na diminuição de aciden-
tes; os profissionais de saúde com maior tem-
ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 745
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
po de serviço se acidentaram mais, a exceção
dos médicos que apresentaram uma relação
inversa; o coeficiente de acidentabilidade foi
maior entre os profissionais de saúde que afir-
maram conhecer todas as normas; não houve
relação positiva entre o conhecimento e a ade-
são quanto ao uso de EPI entre os profissionais
de saúde.
Estes resultados apontam para a necessida-
de de uma reavaliação da estrutura e dos con-
teúdos dos treinamentos em serviços oferecidos
aos profissionais de saúde no Distrito Federal.
Agradecimentos
Aos acadêmicos de medicina Gustavo Vasconcelos
Carvalho e Paulo José Tonello Ferreira pela colabora-
ção na coleta de dados, ao Ministério da Saúde e à
UNESCO (CFA n. 645-2) pelo financiamento desta
pesquisa.
Colaboradores
R. B. Caixeta e A. Barbosa-Branco participaram em
conjunto de todas as etapas de elaboração do artigo.
Resumo
Foi estudada a ocorrência de acidente de trabalho em
profissionais de saúde no período de 2002/2003 e a in-
fluência das medidas de biossegurança e aceitação de
quimioprofilaxia frente ao risco de transmissão ocu-
pacional do HIV. Avaliou-se 570 profissionais de saúde
de seis hospitais públicos, selecionados aleatoriamen-
te, do conjunto de hospitais do Distrito Federal, Brasil.
Esses profissionais foram questionados quanto ao co-
nhecimento sobre biossegurança, ocorrência de aci-
dente de trabalho, aceitação da quimioprofilaxia e
teste sorológico anti-HIV. Entre os profissionais ava-
liados, o coeficiente de acidentabilidade foi de 39,1 e
mostrou-se inversamente proporcional ao porte do
hospital. Dentistas, médicos e técnicos de laboratório
acidentaram-se mais, em contrapartida aos farma-
cêuticos e enfermeiros. As situações relacionadas ao
acidente de trabalho com maior aceitação e adesão ao
uso da quimioprofilaxia foram sorologia positiva e
carga viral intensa do paciente-fonte (99,6-99,0%), em
contraposição à sorologia negativa do paciente-fonte
e acidente de pequena proporção (36,8-55,6%). O co-
nhecimento dos profissionais de saúde sobre o concei-
to e as normas de biossegurança, a disponibilidade
destas na unidade de trabalho e a realização de treina-
mento em biossegurança não influenciaram positiva-
mente no coeficiente de acidentabilidade de trabalho.
Biossegurança; Síndrome de Imunodeficiência Adqui-
rida; Pessoal de Saúde; Acidentes de Trabalho
Caixeta RB, Barbosa-Branco A746
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005
Referências
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6,396 gloves from intra-operative procedures at
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Hosp Epidemiol 1994; 15:349.
Recebido em 17/Dez/2003
Versão final reapresentada em 03/Nov/2004
Aprovado em 09/Nov/2004

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Acidente biologico

  • 1. 737 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 ARTIGO ARTICLE Acidente de trabalho, com material biológico, em profissionais de saúde de hospitais públicos do Distrito Federal, Brasil, 2002/2003 Work-related accidents in health care workers from public hospitals in Brasilia, Brazil, 2002/2003 1 Hospital das Forças Armadas, Brasília, Brasil. 2 Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil. Correspondência A. Barbosa-Branco Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF 70910-900, Brasil. anadergh@unb.br Roberta de Betânia Caixeta 1 Anadergh Barbosa-Branco 2 Abstract This study evaluates the knowledge and accep- tance of biosafety measures by health care pro- fessionals in light of the potential risk of occu- pational transmission of HIV. The survey as- sessed 570 health care workers from 6 hospitals, randomly selected from all hospitals in the Fed- eral District (Brasilia), Brazil. The sample corre- sponds to 15.0% of the all health professionals in the selected hospitals. These professionals an- swered a semi-structured questionnaire on knowledge of biosafety and universal precau- tions, risk of occupational HIV transmission, work-related accidents, use of personal protec- tive equipment (PPE), and acceptance of chemo- prophylaxis and HIV testing. The overall acci- dent coefficient was 39.1. Dentists, physicians, and laboratory technicians were those who most frequently suffered such accidents. The accident coefficient was inversely proportional to the hospital capacity. The professionals’ knowledge of biosafety concepts and the fact that written norms were displayed in their workstations did not positively affect the work accident coeffi- cient. Biosafety; Acquired Immunodeficiency Syndrome; Health Personnel; Occupational Accidents Introdução Estudos sobre acidentes do trabalho com po- tencial risco de transmissão do vírus da imu- nodeficiência humana (HIV) em profissionais de saúde têm sido realizados em várias partes do mundo, mais particularmente nos Estados Unidos 1,2. Entretanto, no Brasil, é clara a limi- tação de estudos epidemiológicos sobre o as- sunto, além da restrição desses aos profissio- nais de enfermagem. O Ministério da Previdência e Assistência Social define acidente de trabalho como o ocor- rido pelo exercício do trabalho a serviço da em- presa, o qual provoca lesão corporal ou pertur- bação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da ca- pacidade para o trabalho 3. Bem antes do ad- vento da síndrome da imunodeficiência adqui- rida (AIDS), a Lei n. 6.367, de 19 de outubro de 1976, já equiparava ao acidente de trabalho a doença proveniente da contaminação aciden- tal do pessoal da área médica 4. Os acidentes envolvendo material biológi- co, freqüentes entre os profissionais de saú- de, não se enquadram na definição legal. Con- tudo, as suas conseqüências, a curto e médio prazo, fazem com que o seu registro junto aos serviços competentes da unidade hospitalar (Medicina do Trabalho, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e outros) seja funda- mental.
  • 2. Caixeta RB, Barbosa-Branco A738 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 O fato da comunicação do acidente de tra- balho ser procedimento facultativo é um pro- blema grave, pois, muitas vezes, o acidente não gera nenhuma das situações previstas na defi- nição de acidente de trabalho, nem tampouco, no momento ou muito próximo desse, fica ca- racterizada a transmissão. Legalmente, esse ti- po de acidente não teria comunicação compul- sória, realizada apenas quando a doença se de- senvolve. Percebe-se claramente, nesse caso, a falta de componente preventivo. Para garantir os benefícios acidentários dos trabalhadores, grande parte dos hospitais pro- cura estabelecer alguma forma de registro des- ses acidentes, mas, na prática, há falta de nor- malização desse procedimento e uma deficien- te divulgação junto aos profissionais de saúde. Além disso, é necessário o estabelecimento de rotinas relacionadas às medidas de precaução imediatas, bem como as orientações e a dispo- nibilidade da quimioprofilaxia em casos de aci- dentes com material biológico de pacientes so- ropositivos para o HIV ou desconhecidos. Entretanto, pouco se sabe sobre o nível de conhecimento dos profissionais de saúde so- bre o assunto, bem como o grau de adesão às normas de biossegurança. Em razão do poten- cial desconhecimento dessa realidade nas ins- tituições de saúde brasileiras, faz-se necessário estabelecer novas políticas de saúde e seguran- ça para aqueles que cuidam da saúde da popu- lação. Outro fator importante está relacionado ao termo biossegurança que tem assumido, a par- tir da Lei n. 8.975, de 5 de janeiro de 1995, 5 que criou a Comissão Técnica Nacional de Biosse- gurança (CTNBio), uma dimensão ampla, que extrapola a área da saúde e do trabalho, sendo empregada quando há referência ao meio am- biente e à biotecnologia 6. Todavia, não se per- cebe o mesmo empenho, principalmente go- vernamental, de se discutir as questões relacio- nadas à biossegurança no ambiente hospitalar e à saúde dos trabalhadores envolvidos. Considerando que este estudo também tra- ta do conhecimento dos profissionais de saúde e a adesão destes às medidas de biossegurança frente ao potencial risco de transmissão do HIV, o conceito de biossegurança adotado será o instituído pela Comissão de Biossegurança da Fundação Oswaldo Cruz, o qual é definido co- mo “o conjunto de medidas voltadas para a pre- venção, a minimização ou a eliminação de ris- cos inerentes às atividades de pesquisa, produ- ção, ensino, desenvolvimento tecnológico e pres- tação de serviços, que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio am- biente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvi- dos. Estas medidas são classificadas em quatro grupos: medidas administrativas, técnicas, edu- cacionais e médicas” 7 (p. 13). Face ao exposto, o objetivo deste estudo é identificar os fatores que interferem no aciden- te de trabalho envolvendo material biológico em profissionais de saúde. Métodos Trata-se de estudo epidemiológico, descritivo, do tipo inquérito transversal, realizado em seis hospitais públicos do Distrito Federal, Brasil, em 2002 e 2003. A seleção da amostra das unidades hospita- lares foi feita por método aleatório estratifica- do, definido segundo o porte dos hospitais. Fo- ram estabelecidos três estratos: o primeiro, com- posto por um hospital de grande porte (> 300 leitos). O segundo, por dois hospitais de médio porte (> 100 e < 300 leitos) e, o terceiro, por três hospitais de pequeno porte (< 100 leitos). Den- tre as unidades hospitalares que compõem es- te estudo, quatro são da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) e duas são organizações militares. Em cada unidade selecionada foram entre- vistados o mínimo de 15,0% dos profissionais de saúde, perfazendo um total de 570 profissio- nais, pertencentes às seguintes categorias: ci- rurgião-dentista; enfermeiro; farmacêutico- bioquímico; médico; técnico de laboratório de análises clínicas; técnico de enfermagem; auxi- liar de enfermagem; atendente de enfermagem e auxiliar técnico de laboratório. Procurou-se contemplar todas as categorias e todos os tur- nos de trabalho. Para a coleta de dados foi utilizada técnica de entrevista, por meio de um instrumento do tipo roteiro semi-estruturado, o qual abordou aspectos como: conhecimento sobre biossegu- rança, uso de equipamentos de proteção indi- vidual (EPI), ocorrência de acidente de traba- lho, reencape de agulha, risco de transmissão ocupacional, aceitação da quimioprofilaxia e realização de teste sorológico anti-HIV. O instrumento foi validado por meio de pré- teste e aplicado individualmente por uma equi- pe multidisciplinar previamente treinada. O projeto foi submetido à análise dos Co- mitês de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde, Uni- versidade de Brasília (UnB) e da SES-DF, sendo aprovado em ambos. Os dados foram armazenados no Access e posteriormente analisados por meio do pro- grama SPSS 10.0.
  • 3. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 A análise foi realizada a partir dos dados do conjunto de profissionais de saúde, em relação à ocorrência de acidente de trabalho, por meio das seguintes taxas padronizadas: • Coeficiente de acidentabilidade (C. A.) C. A. = Total de acidentados x 100 Total de avaliados • Coeficiente de aceitação (C. Ac.) C. Ac. = Total de pessoas que x 100 aceitariam a quimioprofilaxia Total de profissionais avaliados Na análise estatística foram utilizados os seguintes testes: • Teste Exato de Fisher: análise univariada pa- ra verificar o grau de associação entre a ocor- rência de acidentes do trabalho e o conhecimen- to dos profissionais de saúde sobre biossegu- rança, a definição de biossegurança, o risco de transmissão do HIV em caso de acidente com material perfurocortante, o uso e a aceitação da quimioprofilaxia, o conhecimento dos profis- sionais sobre as precauções universais, o trei- namento em biossegurança e a realização de teste sorológico anti-HIV, com nível de signifi- cância (p < 0,05). • Teste Qui-Quadrado: para verificar a dife- rença estatística entre a freqüência em que os profissionais de saúde relataram ter o conheci- mento sobre as normas de biossegurança e a disponibilidade das mesmas, com nível de sig- nificância (p < 0,05). Resultados Os seis hospitais possuíam um total de 6.179 trabalhadores, dos quais 57,0% (3.466) são pro- fissionais de saúde. Do conjunto desses profis- sionais foram avaliados em média 16,4%, tota- lizando 570 profissionais de saúde. Dentre os profissionais de saúde avaliados, 223 (39,1%) referiram ter sofrido acidente de trabalho com material biológico. Ao se avaliar a distribuição das categorias profissionais em relação ao sexo, observa-se uma predominância feminina em todas as ca- tegorias, totalizando 75,2% da amostra. A idade dos profissionais de saúde variou entre 20 e 68 anos, apresentando uma média de 38,8 ± 9,3 anos, e mediana de 32 anos. Ob- serva-se que os profissionais de saúde são pes- soas jovens, uma vez que 71,2% estão concen- trados na faixa etária ampliada de 20 a 39 anos e mediana de 29 anos. ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 739 Em relação à distribuição do tempo de ser- viço, verifica-se que os profissionais de saúde apresentaram uma média de 10,3 ± 8,1 anos. Na avaliação da influência do porte do hos- pital e da categoria profissional no coeficiente de acidentabilidade de trabalho envolvendo material biológico, observou-se uma relação inversamente proporcional ao coeficiente de acidentabilidade. Foram registrados para gran- de, médio e pequeno porte, 32,9, 39,9 e 44,1, respectivamente. Quanto à categoria profissional, aquelas cujos profissionais mais relataram acidentes com material biológico foram a de cirurgião- dentista (64,3), médico (47,8) e técnico de la- boratório (46,0), enquanto o menor relato ob- servou-se na categoria dos farmacêuticos-bio- químicos (17,6). Analisando-se o coeficiente de acidentabi- lidade de trabalho segundo o sexo dos profis- sionais de saúde, verificou-se uma ligeira pre- dominância no sexo masculino. Esse mesmo indicador, analisado de acordo com o sexo e a categoria profissional (Figura 1), mostrou que entre os profissionais do sexo mas- culino, os maiores coeficientes correspondem à categoria de atendente de enfermagem (100,0) e entre os técnicos de laboratório (72,2). Entre as mulheres, as categorias que mais se aciden- taram foram as de cirurgiã-dentista e médica, 72,2 e 50,8, respectivamente. No conjunto dos profissionais de saúde hou- ve pouca diferença entre as faixas etárias. Os maiores coeficientes foram observados nas fai- xas etárias de 30 a 39 anos e de 50 a 59, com 43,5 e 43,2, respectivamente. Na análise do coeficiente de acidentabilida- de de trabalho, segundo o tempo de serviço na atividade, identifica-se a faixa de 11 a 15 anos como a mais vulnerável, tanto no conjunto dos profissionais (54,8 acidentados em 100 profis- sionais) quanto individualmente, nos níveis mé- dio (57,1) e superior (58,3). Na análise da interferência do tempo de atividade e da categoria profissional no coefi- ciente de acidentabilidade, subdividiu-se o tem- po de atividade em menor ou igual a 10 anos e maior de 10 anos e observou-se pouca diferen- ça entre esses dois grupos. A categoria técnico de laboratório obteve maior coeficiente entre os profissionais com mais de 10 anos, enquan- to que na categoria médica o coeficiente foi maior entre aqueles com menor tempo de ser- viço. Constatou-se associação significativa entre a freqüência em que os profissionais de saúde que se acidentaram relataram ter conhecimento sobre as normas de biossegurança (χ2 = 178,985;
  • 4. Caixeta RB, Barbosa-Branco A740 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 df = 2; p = 0,000) e a disponibilidade das mes- mas na unidade de trabalho (χ2 = 231,217; df = 3; p = 0,000). Não houve influência do fato de os profis- sionais de saúde afirmarem ter conhecimento do conceito de biossegurança no coeficiente de acidentabilidade de trabalho, uma vez que esse indicador foi maior entre aqueles que conhe- ciam o conceito (50,0) do que entre os que de- claram não o conhecer (37,5). O treinamento recebido pelos profissionais de saúde, com conteúdo sobre biossegurança, nos últimos dois anos não diminuiu o coefi- ciente de acidentabilidade de trabalho envol- vendo material biológico. Os dados apontam um coeficiente mais elevado para aqueles que referem ter recebido treinamento (44,5) do que para os que não receberam (37,3). O fato de os profissionais de saúde terem ou não conhecimento do risco de transmissão ocupacional do HIV não interferiu significati- vamente no coeficiente de acidentabilidade de trabalho, apresentando coeficiente maior entre aqueles que conheciam o risco (41,2). Quanto ao uso de equipamentos de proteção individual, a influência do conhecimento dessas medidas e a adesão dos profissionais à utilização das mesmas no coeficiente de acidente de traba- lho mostraram haver pouca ou nenhuma relação significativa entre essas variáveis. O índice de reencape de agulha e o coefi- ciente de acidentabilidade segundo o sexo, mos- traram que os profissionais do sexo masculino reencapam mais agulhas do que os profissio- nais do sexo feminino. Observou-se um maior coeficiente de acidentabilidade entre aqueles que sabem que não se deve reencapar agulha. Considerando o conjunto de profissionais que sofreram acidentes de trabalho, segundo o tipo e a categoria profissional, observa-se que 86,5% do total de acidentes envolveram exposi- ção percutânea. Nesse tipo de acidente, desta- cam-se as categorias de farmacêutico-bioquími- co, atendente de enfermagem, auxiliar de enfer- magem e cirurgião-dentista como aquelas com o maior porcentual de acidentes, totalizando 100,0%, 100,0%, 97,1% e 94,4%, respectivamen- te. Por outro lado, as categorias que apresentam maior porcentual de acidentes por contato cutâ- neo-mucosa com fluidos potencialmente conta- minados são as de enfermeiro (23,5%) e de téc- nico de laboratório (13,0%) (Figura 2). A distribuição dos profissionais de saúde acidentados com material biológico, em relação à aceitação de quimioprofilaxia, em casos de acidentes com indicação para a mesma, mos- trou que, dos 223 acidentados, 87,4% aceita- riam a quimioprofilaxia, e destes últimos 30,0% efetivamente a realizaram (Tabela 1). Quanto à realização da sorologia anti-HIV, do total de acidentados, 80,3% relataram ter realizado o teste (Tabela 1). Visando a conhecer o nível de aceitação da quimioprofilaxia por parte dos profissionais de Figura 1 Coeficiente de acidentabilidade de trabalho segundo a categoria profissional e o sexo do acidentado. Distrito Federal, Brasil, 2002/2003. % 0 20 40 60 80 100 120 140 Feminino Masculino Atendente de enfermagem Técnico de enfermagem Auxiliar de enfermagem Farmacêutico/ Bioquímico Cirurgião dentista EnfermeiroTécnico de laboratório Médico
  • 5. ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 741 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 Figura 2 Percentual de acidentados segundo o tipo de acidente com material biológico. Distrito Federal, Brasil, 2002/2003. % 0 20 40 60 80 100 120 Cutânea/Mucosa Percutânea TotalAtendente de enfermagem Técnico de enfermagem Auxiliar de enfermagem Farmacêutico/ Bioquímico Cirurgião dentista EnfermeiroTécnico de laboratório Médico Tabela 1 Percentual de acidentados segundo a aceitação e o uso de quimioprofilaxia (QP), teste anti-HIV e porte do hospital. Distrito Federal, Brasil, 2002/2003. Estrato/Unidade Aceitação QP Uso de QP Realização do Total de Total de hospitalar* teste anti-HIV acidentados profissionais n %** n %** n %** n %*** n % Grande porte A 47 88,7 17 32,1 48 90,6 53 32,9 161 28,2 Total 47 88,7 17 32,1 48 90,6 53 32,9 161 28,2 Médio porte B 54 91,5 21 35,6 44 74,8 59 46,8 126 22,1 C 38 95,0 13 32,5 32 80,0 40 32,8 122 21,4 Total 92 92,9 34 34,3 76 76,7 99 39,9 248 43,5 Pequeno porte D 17 77,3 6 27,3 19 86,4 22 43,1 51 8,9 E 27 90,0 7 23,3 23 76,7 30 37,5 80 14,0 F 12 70,6 3 17,6 13 76,5 17 56,7 30 5,3 Total 56 78,9 16 22,5 55 77,5 71 44,1 161 28,2 Total geral 195 87,4 67 30,0 179 80,3 223 39,1 570 100,0 * Unidades hospitalares: A, B, C, D, E, F. ** Percentual calculado em relação ao total de acidentados. *** Coeficiente de acidentabilidade.
  • 6. Caixeta RB, Barbosa-Branco A742 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 saúde acidentados, frente ao risco de transmis- são do HIV, foram estabelecidas algumas situa- ções ligadas ao acidente que interfeririam po- sitiva ou negativamente nessa aceitação (Tabe- la 2). Dentre estas, as situações em que o pacien- te-fonte apresentava carga viral intensa e/ou sorologia positiva prévia foram aquelas que mais contribuíram para a decisão do profissio- nal em aceitar a quimioprofilaxia, totalizando 94,6% e 94,2%, respectivamente, seguida por paciente-fonte fase inicial (91,9%) e profundida- de e extensão da superfície de contato (91,5%) (Tabela 2). O coeficiente de aceitação geral dos profis- sionais acidentados em relação à quimioprofi- laxia foi de 87,4. Na análise específica de cada situação do acidente quanto à aceitação da qui- mioprofilaxia, os maiores coeficientes encon- trados foram para a sorologia positiva do pa- ciente-fonte (99,6) e a carga viral intensa (99,0) (Tabela 2). Ao se verificar o nível de significân- cia estatística apresentado pelas variáveis estu- dadas em relação à ocorrência de acidentes do trabalho – análise univariada – Teste Exato de Fisher, observou-se que não houve diferença estatisticamente significante para as variáveis: conhecimento das precauções universais, trei- namento em biossegurança, reencape de agu- lha e teste sorológico anti-HIV (Tabela 3). Entretanto, para as variáveis: conhecimen- to sobre biossegurança, definição sobre bios- segurança, risco de transmissão, uso de quimio- profilaxia e aceitação da quimioprofilaxia, veri- ficou-se que houve diferença estatisticamente significante (Tabela 3). Discussão A principal causa de acidentes de trabalho em profissionais de saúde está relacionada ao uso de material perfurocortante 8. Neste estudo, a maioria dos profissionais de saúde relatou ter sofrido acidente com esse tipo de material. O número de acidentes envolvendo mate- rial biológico pode ser reduzido se as normas de biossegurança forem implementadas no ambiente de trabalho, conforme demonstrado no estudo de Beekmann et al. 9, realizado no Centro Clínico do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em Maryland. Os aciden- tes relacionados a comportamentos considera- dos de risco, como reencapar agulhas, dimi- nuíram de 16,0% para 10,0%, redução estatisti- camente significativa, o que comprova a efi- ciência dessa recomendação. Quanto ao coeficiente de acidentabilidade por categoria, neste estudo o cirurgião-dentis- ta ocupou o primeiro lugar, o que pode ser ex- plicado pela prática diária com materiais per- furocortantes. Estudo realizado também em Maryland, entre esses profissionais, constatou um aumento no uso de barreiras. Entretanto, destacou altas taxas de reencape de agulhas, Tabela 2 Coeficiente de aceitação de quimioprofilaxia e distribuição dos profissionais de saúde, segundo a situação em que potencialmente aceitariam fazer uso da mesma. Distrito Federal, Brasil, 2002/2003. Situação do acidente Coeficiente Aceitação da quimioprofilaxia Total de aceitação Sim Não n % n % n % Acidentes de pequena magnitude 64,4 124 55,6 99 44,4 223 100,0 Profundidade e extensão da superfície 92,8 204 91,5 19 8,5 223 100,0 de contato no acidente Pequena quantidade de material inoculado 83,8 171 76,7 52 23,3 223 100,0 Impossibilidade do teste sorológico 91,3 196 87,9 27 12,1 223 100,0 do contaminante Demora para a obtenção do resultado 91,8 183 82,1 40 17,9 223 100,0 do paciente-fonte Paciente-fonte em fase inicial da doença 97,1 205 91,9 18 8,1 223 100,0 Sorologia positiva do paciente-fonte 99,6 210 94,2 13 5,8 223 100,0 Sorologia negativa do paciente-fonte 49,4 82 36,8 141 63,2 223 100,0 Carga viral intensa do paciente-fonte 99,0 211 94,6 12 5,4 223 100,0 do acidente Coeficiente de aceitação = Total de pessoas que aceitariam a quimioprofilaxia x 100 Total de profissionais
  • 7. ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 743 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 problema de difícil solução, uma vez que, nes- sa categoria, a natureza específica do procedi- mento “anestesia” exige a repetição desse ato durante um mesmo atendimento 10. No Brasil, onde não existem muitas pesqui- sas direcionadas exclusivamente à categoria de cirurgião-dentista, os estudos apontam o aten- dente de enfermagem, seguido do auxiliar de enfermagem, como os profissionais que mais se acidentam. A justificativa apresentada é a de que os profissionais com pouca ou nenhuma qualificação profissional estão mais expostos aos riscos de acidentes 11,12,13. Paradoxalmen- te, neste estudo, essas categorias obtiveram o quinto e quarto maiores coeficientes de aci- dentabilidade, respectivamente. A distribuição dos profissionais que se aci- dentaram segundo o sexo é diferenciada em vários estudos, embora se perceba um predo- mínio do sexo feminino 14,15,16. Isso pode ser explicado pelo fato desses estudos terem sido realizados na equipe de enfermagem, conside- rada predominantemente feminina 17. Em contrapartida, Brandi et al. 18 observa- ram a tendência de o grupo masculino aciden- tar-se mais que o feminino na realização das mesmas tarefas. Entre os profissionais deste estudo, a diferença entre os dois sexos foi qua- se insignificante. Entretanto, o fato do profissio- nal do sexo masculino ter se acidentado mais está relacionado à prática do reencape de agu- lhas ser maior entre esses profissionais, estan- do mais expostos ao risco. A incorporação da prática de não reencapar agulhas pelos profissionais de saúde requer o suprimento adequado de recipientes próprios para descarte em todas as unidades hospitala- res. Saghafi et al. 19, também sugeriram tornar mais acessíveis os recipientes próprios para des- carte, bem como a rotina de descartar esses re- cipientes antes da superlotação. Esses estudos ressaltam a importância de se fazer um diagnós- tico das condições de risco de acidentes com agulhas, a fim de buscar soluções fundamenta- das na realidade de cada instituição hospitalar. Com relação à faixa etária, este estudo en- controu na população compreendida entre 30 e 39 anos o maior coeficiente de acidentabili- dade, dado que corrobora os resultados de Bran- di et al. 18, que também avaliaram se os mate- riais perfurocortantes estavam infectados com o HIV. Essa avaliação não foi realizada neste es- tudo, mas o material perfurocortante represen- tou a principal causa de acidente. O tempo de serviço não influenciou no coe- ficiente de acidentabilidade, entretanto, os da- dos mostraram que a categoria médica apre- sentou um maior coeficiente de acidentabili- dade dentre aqueles que possuíam menor tem- po de serviço, provavelmente, em decorrência da inexperiência. Dentre os profissionais entrevistados, os que afirmaram conhecer todas as normas de biossegurança foram os que mais se acidenta- ram. Isso se deve, em parte, por considerarem ter adquirido um conhecimento que, na práti- ca, não acontece, ou por estarem mais expos- tos aos riscos de transmissão do que a parcela que relatou desconhecer ou ter um conheci- mento parcial dessas normas. Isso pôde ser ob- servado especificamente na categoria farma- cêutico-bioquímico, que apresentou o menor coeficiente de acidentabilidade, uma vez que o risco de exposição desses profissionais é me- nor do que o dos demais. O treinamento recebido pelos profissionais estudados não interferiu no coeficiente de aci- dentabilidade, fato que deve ser melhor explo- rado, pois não apareceu neste estudo que esse treinamento tenha de fato resultado em uma melhoria na capacitação dos profissionais quan- to às normas de precaução universal. Tabela 3 Nível de significância estatística apresentado pelas variáveis estudadas em relação à ocorrência de acidentes de trabalho. Com significância estatística Sem significância estatística p < 0,05 p > 0,05 Conhecimento sobre biossegurança (0,05) Conhecimento das precauções universais (0,68) Definição sobre biossegurança (0,04) Treinamento em biossegurança (0,14) Risco de transmissão (0,00) Reencape de agulha (0,62) Uso de quimioprofilaxia (0,00) Teste sorológico anti-HIV (0,33) Aceitação da quimioprofilaxia (0,00) Análise univariada – Teste Exato de Fisher.
  • 8. Caixeta RB, Barbosa-Branco A744 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 A relação entre o conhecimento e a adesão dos profissionais de saúde ao uso de barreiras de proteção não foi significativa. Demonstrou- se que eles têm o conhecimento, mas não ade- rem às medidas e possuem uma percepção fra- ca de risco, pois fazem uso de barreiras apenas mediante o diagnóstico de soropositividade pa- ra HIV. Este é um dos aspectos mais preocupan- tes, uma vez que esta falsa segurança aumenta significativamente o risco da transmissão do HIV. Particularmente para os profissionais de saúde, o uso de barreiras de proteção deve ser conduta priorizada, diferentemente do que é recomendado pela Portaria n. 3.214 do Minis- tério do Trabalho e Emprego para os agentes insalubres químicos e físicos 20. Nos casos dos agentes químicos e físicos, os EPIs devem ser adotados tanto quanto todas as outras possibi- lidades (equipamentos de proteção coletiva, controle da fonte). No caso dos agentes bioló- gicos, como em grande parte das situações é impossível ou inviável o controle da fonte ou do ambiente como um todo, as barreiras de pro- teção, representadas nesse caso pelos EPIs, de- vem estar presentes em todas as situações que ofereçam risco, mesmo que potencial. A eficiência dessas barreiras foi demonstra- da no estudo de Bennet & Howard 21 e Mast et al. 22, que comprovaram que as luvas funcio- nam como medidas de proteção no caso de aci- dentes com exposição da pele das mãos a san- gue e fluidos corporais. No caso de acidentes perfurocortantes foi demonstrado que uma úni- ca luva pode reduzir o volume de sangue inje- tado por agulhas maciças de sutura, em 70,0%. No caso de agulhas ocas, a luva pode reduzir de 35,0% a 50,0% a inoculação do sangue, uma vez que uma porção deste permanece na parte in- terna da agulha 23. Mesmo oferecendo redução menor que com agulhas maciças, sem dúvida a utilização de luvas configura uma barreira au- xiliar para a prevenção de acidentes perfuro- cortantes. Conforme as normas pós-acidente, os pro- fissionais devem ser encaminhados para coleta de sorologia anti-HIV, hepatites B e C 18. Entre- tanto, questionados sobre essa coleta, somente 54,3% referiram ter realizado teste anti-HIV, dado que não foi corroborado neste estudo, em que o percentual de profissionais que afirma- ram ter realizado esse teste foi bem maior, o que demonstra que eles aderiram mais a al- guns dos procedimentos recomendados. Quanto à aceitação e ao uso da quimiopro- filaxia pelos profissionais estudados, no perío- do pós-acidente, uma grande maioria afirmou que aceitaria fazer uso da medicação, mas, na prática, esse dado não foi tão expressivo, pro- vavelmente, em decorrência da ausência de in- dicação de uso da quimioprofilaxia, devido ao tipo de acidente, ou pelo fato de o profissional acidentado ter optado por não fazer uso da me- dicação em função dos efeitos colaterais. Po- de-se questionar também a falta da orientação correta dos serviços responsáveis, nas unida- des hospitalares, pelo controle dos acidentes de trabalho. De modo geral, observa-se que a ocorrên- cia de acidentes de trabalho envolvendo mate- rial biológico potencialmente infectado pelo HIV foi significativa, sendo de primordial rele- vância o desenvolvimento de medidas técnicas e administrativas para a minimização desse problema. Vale ressaltar que a relação conhecimento das normas de biossegurança e treinamento demonstraram que os treinamentos desenvol- vidos devem ser reavaliados. Esse dado pode ser alarmante num primeiro momento, já que atualmente muito se confia e investe em trei- namento enquanto ferramenta de capacitação profissional. Deve-se no entanto, observar o ti- po de treinamento, sua qualidade, sua adequa- ção ao tipo de ambiente e de categoria profis- sional que se pretende atingir. Além de propor a implantação de um programa de educação continuada, que possa constantemente mobi- lizar os profissionais quanto às ações de prote- ção dos profissionais de saúde, principalmente as que dizem respeito à prevenção de aciden- tes envolvendo material biológico potencial- mente infectante. Sendo assim, este estudo sugere a imple- mentação de medidas de biossegurança em hospitais, que são fundamentais para a prote- ção dos profissionais de saúde. Tais medidas abrangem tanto questões de ordem adminis- trativa, de organização do trabalho, como rela- cionadas à educação continuada, e ao controle de qualidade e prevenção de acidentes. Conclusões Os dados apresentados permitem concluir que o coeficiente de acidentabilidade foi inversa- mente proporcional ao porte do hospital; os profissionais de saúde do sexo masculino aci- dentaram-se mais do que os do sexo feminino; as categorias cirurgião-dentista, médico e téc- nico de laboratório foram as que mais se aci- dentaram; a realização de treinamento com conteúdos sobre biossegurança não interferi- ram positivamente na diminuição de aciden- tes; os profissionais de saúde com maior tem-
  • 9. ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO 745 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 po de serviço se acidentaram mais, a exceção dos médicos que apresentaram uma relação inversa; o coeficiente de acidentabilidade foi maior entre os profissionais de saúde que afir- maram conhecer todas as normas; não houve relação positiva entre o conhecimento e a ade- são quanto ao uso de EPI entre os profissionais de saúde. Estes resultados apontam para a necessida- de de uma reavaliação da estrutura e dos con- teúdos dos treinamentos em serviços oferecidos aos profissionais de saúde no Distrito Federal. Agradecimentos Aos acadêmicos de medicina Gustavo Vasconcelos Carvalho e Paulo José Tonello Ferreira pela colabora- ção na coleta de dados, ao Ministério da Saúde e à UNESCO (CFA n. 645-2) pelo financiamento desta pesquisa. Colaboradores R. B. Caixeta e A. Barbosa-Branco participaram em conjunto de todas as etapas de elaboração do artigo. Resumo Foi estudada a ocorrência de acidente de trabalho em profissionais de saúde no período de 2002/2003 e a in- fluência das medidas de biossegurança e aceitação de quimioprofilaxia frente ao risco de transmissão ocu- pacional do HIV. Avaliou-se 570 profissionais de saúde de seis hospitais públicos, selecionados aleatoriamen- te, do conjunto de hospitais do Distrito Federal, Brasil. Esses profissionais foram questionados quanto ao co- nhecimento sobre biossegurança, ocorrência de aci- dente de trabalho, aceitação da quimioprofilaxia e teste sorológico anti-HIV. Entre os profissionais ava- liados, o coeficiente de acidentabilidade foi de 39,1 e mostrou-se inversamente proporcional ao porte do hospital. Dentistas, médicos e técnicos de laboratório acidentaram-se mais, em contrapartida aos farma- cêuticos e enfermeiros. As situações relacionadas ao acidente de trabalho com maior aceitação e adesão ao uso da quimioprofilaxia foram sorologia positiva e carga viral intensa do paciente-fonte (99,6-99,0%), em contraposição à sorologia negativa do paciente-fonte e acidente de pequena proporção (36,8-55,6%). O co- nhecimento dos profissionais de saúde sobre o concei- to e as normas de biossegurança, a disponibilidade destas na unidade de trabalho e a realização de treina- mento em biossegurança não influenciaram positiva- mente no coeficiente de acidentabilidade de trabalho. Biossegurança; Síndrome de Imunodeficiência Adqui- rida; Pessoal de Saúde; Acidentes de Trabalho
  • 10. Caixeta RB, Barbosa-Branco A746 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(3):737-746, mai-jun, 2005 Referências 1. Oskenhendler E, Harzic M, Leroux JM, Rabian C, Clauvel JP. HIV infection with seroconversion af- ter a superficial needlestick injury to the finger. N Engl J Med 1986; 315:582. 2. Henderson DK, Saah AJ, Zak BJ, Kaslow RA, Lane HC, Folks T, et al. Risk of nosocomial infection with human T-cell lymphotropic virus type III/ lymphadenopathy associated virus in a large co- hort of intensively exposed health-care workers. Ann Intern Med 1986; 104:644-7. 3. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Controle de infecções e a prática odontológica em tempos de AIDS: manual de condutas. Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde, Ministério da Saúde; 2000. 4. Oliveira SG. Proteção jurídica à saúde do traba- lhador. São Paulo: LTR; 1996. 5. Brasil. Lei n. 8.974. Dispõe sobre a criação da Co- missão Técnica Nacional de Biossegurança, e dá outras providências. Diário Oficial da União 1995; 6 jan. 6. Sant’Ana A. Biossegurança no Brasil: a necessi- dade de uma política consistente. In: Teixeira P, Valle S, organizadores. Biossegurança: uma abor- dagem multidisciplinar: Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1996. p. 27-40. 7. Teixeira P, Valle S, organizadores. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1998. 8. Sarquis LMM. Acidentes de trabalho com instru- mentos perfurocortantes: ocorrência entre os tra- balhadores de enfermagem [Dissertação de Mes- trado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1999. 9. Beekman SE, Vlahov D, Koziol DE, McShalley ED, Schmitt JM, Henderson DK. Temporal association between implementation of universal precau- tions and a sustained, progressive decrease in percutaneous exposures to blood. Clin Infect Dis 1994; 18:562-9. 10. Gershon RRM, Karkashian C, Vlahov D, Grimes M, Spannhake E. Correlates of infection control practices in dentistry. Am J Infect Control 1998; 26:29-34. 11. Oliveira MG, Makaron PE, Mororne LC. Aspectos epidemiológicos dos acidentes de trabalho em um hospital geral. Rev Bras Saúde Ocup 1982; 10:26-30. 12. Faria MP, Silva AM. Análise de acidentes do traba- lho ocorridos durante parte do ano de 1983, na grande Belo Horizonte. Rev Bras Saúde Ocup 1983; 11:26-32. 13. Silva VEF. Estudo sobre acidentes de trabalho ocorridos com trabalhadores de enfermagem de um hospital de ensino [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1983. 14. Souza M, Vianna LAC. Incidência de acidentes de trabalho relacionada com a não utilização das precauções universais. Rev Bras Enfermagem 1993; 46:234-44. 15. Machado AA, Costa JC, Gir E, Moriya TM, Figuei- redo JFC. Riscos de infecção pelo vírus da imuno- deficiência humana (HIV) em profissionais da saúde. Rev Saúde Pública 1992; 26:54-6. 16. Devries B, Cossart YE. Neddlestick injury in med- ical students. Med J Aust 1994; 160:398-400. 17. Douglas JL. Contribuição para a caracterização da enfermagem que atua na assistência da saúde do trabalhador na América Latina [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1991. 18. Brandi S, Benatti MCC, Alexandre NMC. Ocorrên- cia de acidente de trabalho por material perfuro- cortante entre trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário da Cidade de Campi- nas, Estado de São Paulo. Rev Esc Enfermagem USP 1998; 32:124-33. 19. Saghafi L, Raselli P, Francillon C, Francioli P. Ex- posure to blood during various procedures: re- sults of two surveys before and after the imple- mentations of universal precaution. Am J Infect Control 1992; 20:53-7. 20. Ministério do Trabalho. Segurança e medicina do trabalho. São Paulo: Editora Atlas; 1995. 21. Bennet NT, Howard RJ. Quantity of blood inocu- lated in a needlestick injury from suture needles. J Am Coll Surg 1994; 178:107. 22. Mast ST, Woolwine JD, Gerberding JL. Efficacy of gloves in reducing blood volumes transferred during simulated needlestick injury. J Infect Dis 1993; 168:1589. 23. Rose DA. Usage patterns and perforation rates for 6,396 gloves from intra-operative procedures at San Francisco General Hospital. Infect Control Hosp Epidemiol 1994; 15:349. Recebido em 17/Dez/2003 Versão final reapresentada em 03/Nov/2004 Aprovado em 09/Nov/2004