SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
A Menina Gigante
Era uma vez uma jovem gigante. Vivia recolhida na orla da floresta porque tinha medo de
assustar os homens. Certa vez, tinha encontrado uma senhora a apanhar cogumelos, que
arregalou os olhos e fugiu a correr, cheia de medo.
A jovem gigante ficava muitas vezes à janela de casa a pensar no que a mãe, uma mulher
normal, lhe dissera:
— Um gigante, ainda vá. Mas uma gigante? Vais ficar só na vida. Nenhuma rapariga vai
querer-te como amiga porque o teu tamanho inspira medo. Nenhum rapaz
vai apaixonar-se por ti. Os homens gostam que as mulheres olhem para
eles de baixo para cima.
Aconteceu que um guarda-florestal construiu a sua casa à beira
da da menina, na orla da floresta, e olhava muitas vezes para ela,
do outro lado.
O rosto que surgia à janela do primeiro andar agradou-lhe.
Numa manhã, antes de ir para a floresta, acenou-lhe com a
mão.
A gigante acenou-lhe timidamente e ficou a seguir
o rapaz com o olhar, até ele desaparecer, pequenino,
entre as árvores.
“Se viesse agora alguém do meu tamanho!”,
pensava ela. A partir daquele dia, antes de ir para o trabalho, o jovem guarda-florestal passou
a trocar algumas palavras com a vizinha em cima, à janela.
Pelos finais de Fevereiro, quando os dias começaram a crescer, ele ouviu falar de uma
festa de Carnaval na cidade. “Vou perguntar à minha vizinha se quer vir comigo”, pensou ele.
À noite, ao regressar do trabalho, não a encontrou à janela. Bateu à porta, mas ninguém
abriu. Então, rodou a maçaneta. Da porta, olhou para o quarto e assustou-se.
Estendida no chão, em cima de um colchão enorme, estava uma gigante a dormir. A sua
cara era agora ainda mais bonita do que à janela. Um sorriso iluminava-a, talvez estivesse a ter
algum sonho agradável.
Sem fazer barulho para não acordar a gigante, o guarda-florestal fechou a porta e foi para
casa. Devia guardar segredo a respeito do que presenciara.
Na manhã seguinte, o rapaz parou debaixo da janela e gritou para cima:
— Há uma festa de Carnaval na cidade. Não quer lá ir, vizinha? Talvez eu consiga
reconhecê-la, mesmo disfarçada. Olhe que era divertido!
— Oh! — balbuciou ela. — Carnaval? Não saberia de que havia de ir vestida!
— No Carnaval tudo é possível — disse o guarda-florestal a rir. — De certeza que vai
haver muitos duendes, fadas, bruxas, gigantes!
A jovem pensou então: “ Esta é uma boa oportunidade para me misturar com as pessoas.
Toda a gente vai pensar que eu estou mascarada de gigante. Ninguém vai assustar-se comigo.”
Então, a jovem gigante foi à cidade e misturou-se com os mascarados. Sentiu-se bem no
meio de tantas bruxas, ciganas, índios e anões. Muitas pessoas, principalmente crianças,
paravam a olhar para ela admiradas.
Uma menina pequenina exclamou:
— Gosto de ti, gigante. Gostava de andar às tuas cavalitas no jardim zoológico e poder
finalmente olhar a girafa de frente.
A jovem gigante fechou os olhos por um momento e imaginou como seria estar com a
menina e com a girafa.
— E eu — exclamou um rapazinho — gostava de andar aos teus ombros no circo. No
espectáculo de ontem tive de ficar sentado atrás e não vi quase nada!
A gigante fechou os olhos por um momento e imaginou-se no circo com o menino.
— Também eu ficaria contente se te tivesse — disse um adulto. — Algumas telhas na
minha quinta estão partidas e a goteira está entupida. Não te seria nada difícil arranjar aquilo.
A gigante fechou por momentos os olhos e imaginou-se a reparar o telhado do lavrador.
Saber que as pessoas podiam precisar de alguém do seu tamanho deixava-a contente.
De repente, um cochicho passou pela multidão e abriram lugar a um segundo gigante.
Atravessou a ponte em direcção à jovem e agarrou-a pelas mãos.
O gigante e a gigante dançaram juntos um gigantesco minuete. As pessoas batiam
palmas. A gigante gostava de dançar. Finalmente podia olhar para uns olhos directamente à
sua frente e não muito abaixo de si. Através da abertura da máscara, olhava para uns olhos
maravilhosos, onde estavam reflectidos florestas, nuvens, o azul do céu.
“Finalmente alguém do meu tamanho!”, pensava ela. “Não foi com isto que sonhei durante
tanto tempo?”
Uma espanhola mascarada esticou a mão e puxou a perna das calças do gigante. Queria
saber se aquelas pernas compridas eram verdadeiras. O gigante começou a vacilar e um par de
andas caiu ao chão. Viu-se então que ele não era um gigante mas um homem de tamanho
normal.
Por detrás da máscara deslocada, a jovem reconheceu o seu vizinho, o guarda-florestal.
As lágrimas corriam-lhe pela face.
— E tu? — perguntou uma das crianças à gigante. — Ao menos tu és a sério?
A jovem limpou as lágrimas com as costas das mãos. A cólera e a tristeza davam-lhe
coragem e gritou:
— Todos têm de ficar a conhecer o meu segredo! Sim, sou uma gigante verdadeira! Moro
sozinha na orla da floresta para não vos assustar! — fez uma pausa. Mas ninguém fugiu
assustado.
— A sério? Mas isso é óptimo! — disse um rapazinho. E olhava para ela cheio de
admiração.
O guarda-florestal, que, muito envergonhado, se afastara, aproximou-se da jovem e, cheio
de coragem, disse-lhe:
— Eu também quero libertar-me do meu segredo. Há já algum tempo que sei que és uma
gigante. Mas, acaso isso é razão para não te amar? Também os meus amigos, as árvores, são
grandes. Se quiseres, mostro-tas amanhã.
No dia seguinte, o guarda-florestal e a jovem gigante passeavam pela floresta. E iam de
mão dada!
Eveline Hasler
Die Riesin
München, Ellerman Verlag, 1996
(Tradução e adaptação)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (11)

Ano Iinternacional das Florestas
Ano Iinternacional das FlorestasAno Iinternacional das Florestas
Ano Iinternacional das Florestas
 
Caneta feliz 1
Caneta feliz 1Caneta feliz 1
Caneta feliz 1
 
Recordando
RecordandoRecordando
Recordando
 
Ynari texto
Ynari textoYnari texto
Ynari texto
 
Caneta feliz2
Caneta feliz2Caneta feliz2
Caneta feliz2
 
A cadelinha e o motorista
A cadelinha e o motoristaA cadelinha e o motorista
A cadelinha e o motorista
 
Os sapatinhos encantados
Os sapatinhos encantadosOs sapatinhos encantados
Os sapatinhos encantados
 
A cinderela na gã­ria
A cinderela na gã­riaA cinderela na gã­ria
A cinderela na gã­ria
 
Contos Tradicionais
Contos TradicionaisContos Tradicionais
Contos Tradicionais
 
Quero...
Quero...Quero...
Quero...
 
Explorando o texto a princesa e a ervilha
 Explorando o texto a princesa e a ervilha Explorando o texto a princesa e a ervilha
Explorando o texto a princesa e a ervilha
 

Semelhante a A Gigante e o Guarda-Florestal

A menina do capuchinho vermelho no século xxi
A menina do capuchinho vermelho no século xxiA menina do capuchinho vermelho no século xxi
A menina do capuchinho vermelho no século xxiFernanda Sousa
 
As Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos Diferentes
As Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos DiferentesAs Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos Diferentes
As Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos DiferentesFreekidstories
 
16874590 Espiritismo Infantil Historia 27
16874590 Espiritismo Infantil Historia 2716874590 Espiritismo Infantil Historia 27
16874590 Espiritismo Infantil Historia 27Ana Cristina Freitas
 
Pedro das malasartes picoto ppt
Pedro das malasartes   picoto pptPedro das malasartes   picoto ppt
Pedro das malasartes picoto pptVirgínia Ferreira
 
Princesa baixinha
Princesa baixinhaPrincesa baixinha
Princesa baixinhagenarui
 
Monteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_Narizinho
Monteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_NarizinhoMonteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_Narizinho
Monteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_NarizinhoTânia Sampaio
 

Semelhante a A Gigante e o Guarda-Florestal (11)

A menina do capuchinho vermelho no século xxi
A menina do capuchinho vermelho no século xxiA menina do capuchinho vermelho no século xxi
A menina do capuchinho vermelho no século xxi
 
Cantinho da Escrita - Aagje 5º A
Cantinho da Escrita - Aagje  5º ACantinho da Escrita - Aagje  5º A
Cantinho da Escrita - Aagje 5º A
 
As Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos Diferentes
As Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos DiferentesAs Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos Diferentes
As Aventuras de Vagarildo e Ligeirinho - Amigos Diferentes
 
Sara e o gigante das histórias(pp)
Sara e o gigante das histórias(pp)Sara e o gigante das histórias(pp)
Sara e o gigante das histórias(pp)
 
16874590 Espiritismo Infantil Historia 27
16874590 Espiritismo Infantil Historia 2716874590 Espiritismo Infantil Historia 27
16874590 Espiritismo Infantil Historia 27
 
Os contos do 5.º E
Os contos  do 5.º EOs contos  do 5.º E
Os contos do 5.º E
 
Pedro das malasartes picoto ppt
Pedro das malasartes   picoto pptPedro das malasartes   picoto ppt
Pedro das malasartes picoto ppt
 
Princesa baixinha
Princesa baixinhaPrincesa baixinha
Princesa baixinha
 
Oscar camaleão
Oscar camaleãoOscar camaleão
Oscar camaleão
 
Lygiafagundestellesvenhaveropordosol 120214143309-phpapp01
Lygiafagundestellesvenhaveropordosol 120214143309-phpapp01Lygiafagundestellesvenhaveropordosol 120214143309-phpapp01
Lygiafagundestellesvenhaveropordosol 120214143309-phpapp01
 
Monteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_Narizinho
Monteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_NarizinhoMonteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_Narizinho
Monteiro lobato -_Sitio_do_Picapau_Amarelo_-_vol_1-_Reinacoes_de_Narizinho
 

Mais de mariacarmcorreia

Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01
Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01
Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01mariacarmcorreia
 
Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02
Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02
Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02mariacarmcorreia
 
Avaliação de matemática final1periodo
Avaliação de matemática   final1periodoAvaliação de matemática   final1periodo
Avaliação de matemática final1periodomariacarmcorreia
 
Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01mariacarmcorreia
 
Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01mariacarmcorreia
 
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp011 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01mariacarmcorreia
 
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp011 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01mariacarmcorreia
 
Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01
Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01
Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01mariacarmcorreia
 
Registo avali.3º ano nova
Registo avali.3º ano novaRegisto avali.3º ano nova
Registo avali.3º ano novamariacarmcorreia
 
Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01
Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01
Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01mariacarmcorreia
 

Mais de mariacarmcorreia (20)

Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01
Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01
Cinciasexperimentaisno1ciclo20122013 121028114507-phpapp01
 
Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02
Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02
Leituraeinterpretacaodetextos 140507190836-phpapp02
 
Lp marco
Lp marcoLp marco
Lp marco
 
Geografia capitais
Geografia   capitais Geografia   capitais
Geografia capitais
 
Planonationalleitura
PlanonationalleituraPlanonationalleitura
Planonationalleitura
 
Segredos
SegredosSegredos
Segredos
 
Historia pedro e o lobo
Historia pedro e o loboHistoria pedro e o lobo
Historia pedro e o lobo
 
Cinderela
CinderelaCinderela
Cinderela
 
Avaliação de matemática final1periodo
Avaliação de matemática   final1periodoAvaliação de matemática   final1periodo
Avaliação de matemática final1periodo
 
Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco3 ficha avaliaçãotrimestral_01
 
Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01
Bloco1 ficha avaliaçãotrimestral_01
 
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp011 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
 
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp011 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
1 anofichasmatemtica-110506165653-phpapp01
 
Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01
Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01
Fichadeavaliaosumativamatemtica 121016034624-phpapp01
 
Regi.avali 1º ano nova
Regi.avali 1º ano novaRegi.avali 1º ano nova
Regi.avali 1º ano nova
 
Registo avali.3º ano nova
Registo avali.3º ano novaRegisto avali.3º ano nova
Registo avali.3º ano nova
 
Matem.2 abril
Matem.2 abrilMatem.2 abril
Matem.2 abril
 
Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01
Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01
Avaliaoleituraeescrita 1e2ano-130217132319-phpapp01
 
Segredos
SegredosSegredos
Segredos
 
Geografia capitais
Geografia   capitais Geografia   capitais
Geografia capitais
 

Último

Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxRonys4
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfAlissonMiranda22
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 

A Gigante e o Guarda-Florestal

  • 1. A Menina Gigante Era uma vez uma jovem gigante. Vivia recolhida na orla da floresta porque tinha medo de assustar os homens. Certa vez, tinha encontrado uma senhora a apanhar cogumelos, que arregalou os olhos e fugiu a correr, cheia de medo. A jovem gigante ficava muitas vezes à janela de casa a pensar no que a mãe, uma mulher normal, lhe dissera: — Um gigante, ainda vá. Mas uma gigante? Vais ficar só na vida. Nenhuma rapariga vai querer-te como amiga porque o teu tamanho inspira medo. Nenhum rapaz vai apaixonar-se por ti. Os homens gostam que as mulheres olhem para eles de baixo para cima. Aconteceu que um guarda-florestal construiu a sua casa à beira da da menina, na orla da floresta, e olhava muitas vezes para ela, do outro lado. O rosto que surgia à janela do primeiro andar agradou-lhe. Numa manhã, antes de ir para a floresta, acenou-lhe com a mão. A gigante acenou-lhe timidamente e ficou a seguir o rapaz com o olhar, até ele desaparecer, pequenino, entre as árvores. “Se viesse agora alguém do meu tamanho!”, pensava ela. A partir daquele dia, antes de ir para o trabalho, o jovem guarda-florestal passou a trocar algumas palavras com a vizinha em cima, à janela. Pelos finais de Fevereiro, quando os dias começaram a crescer, ele ouviu falar de uma festa de Carnaval na cidade. “Vou perguntar à minha vizinha se quer vir comigo”, pensou ele. À noite, ao regressar do trabalho, não a encontrou à janela. Bateu à porta, mas ninguém abriu. Então, rodou a maçaneta. Da porta, olhou para o quarto e assustou-se. Estendida no chão, em cima de um colchão enorme, estava uma gigante a dormir. A sua cara era agora ainda mais bonita do que à janela. Um sorriso iluminava-a, talvez estivesse a ter algum sonho agradável. Sem fazer barulho para não acordar a gigante, o guarda-florestal fechou a porta e foi para casa. Devia guardar segredo a respeito do que presenciara. Na manhã seguinte, o rapaz parou debaixo da janela e gritou para cima: — Há uma festa de Carnaval na cidade. Não quer lá ir, vizinha? Talvez eu consiga reconhecê-la, mesmo disfarçada. Olhe que era divertido! — Oh! — balbuciou ela. — Carnaval? Não saberia de que havia de ir vestida!
  • 2. — No Carnaval tudo é possível — disse o guarda-florestal a rir. — De certeza que vai haver muitos duendes, fadas, bruxas, gigantes! A jovem pensou então: “ Esta é uma boa oportunidade para me misturar com as pessoas. Toda a gente vai pensar que eu estou mascarada de gigante. Ninguém vai assustar-se comigo.” Então, a jovem gigante foi à cidade e misturou-se com os mascarados. Sentiu-se bem no meio de tantas bruxas, ciganas, índios e anões. Muitas pessoas, principalmente crianças, paravam a olhar para ela admiradas. Uma menina pequenina exclamou: — Gosto de ti, gigante. Gostava de andar às tuas cavalitas no jardim zoológico e poder finalmente olhar a girafa de frente. A jovem gigante fechou os olhos por um momento e imaginou como seria estar com a menina e com a girafa. — E eu — exclamou um rapazinho — gostava de andar aos teus ombros no circo. No espectáculo de ontem tive de ficar sentado atrás e não vi quase nada! A gigante fechou os olhos por um momento e imaginou-se no circo com o menino. — Também eu ficaria contente se te tivesse — disse um adulto. — Algumas telhas na minha quinta estão partidas e a goteira está entupida. Não te seria nada difícil arranjar aquilo. A gigante fechou por momentos os olhos e imaginou-se a reparar o telhado do lavrador. Saber que as pessoas podiam precisar de alguém do seu tamanho deixava-a contente. De repente, um cochicho passou pela multidão e abriram lugar a um segundo gigante. Atravessou a ponte em direcção à jovem e agarrou-a pelas mãos. O gigante e a gigante dançaram juntos um gigantesco minuete. As pessoas batiam palmas. A gigante gostava de dançar. Finalmente podia olhar para uns olhos directamente à sua frente e não muito abaixo de si. Através da abertura da máscara, olhava para uns olhos maravilhosos, onde estavam reflectidos florestas, nuvens, o azul do céu. “Finalmente alguém do meu tamanho!”, pensava ela. “Não foi com isto que sonhei durante tanto tempo?” Uma espanhola mascarada esticou a mão e puxou a perna das calças do gigante. Queria saber se aquelas pernas compridas eram verdadeiras. O gigante começou a vacilar e um par de andas caiu ao chão. Viu-se então que ele não era um gigante mas um homem de tamanho normal. Por detrás da máscara deslocada, a jovem reconheceu o seu vizinho, o guarda-florestal. As lágrimas corriam-lhe pela face. — E tu? — perguntou uma das crianças à gigante. — Ao menos tu és a sério? A jovem limpou as lágrimas com as costas das mãos. A cólera e a tristeza davam-lhe coragem e gritou: — Todos têm de ficar a conhecer o meu segredo! Sim, sou uma gigante verdadeira! Moro sozinha na orla da floresta para não vos assustar! — fez uma pausa. Mas ninguém fugiu assustado.
  • 3. — A sério? Mas isso é óptimo! — disse um rapazinho. E olhava para ela cheio de admiração. O guarda-florestal, que, muito envergonhado, se afastara, aproximou-se da jovem e, cheio de coragem, disse-lhe: — Eu também quero libertar-me do meu segredo. Há já algum tempo que sei que és uma gigante. Mas, acaso isso é razão para não te amar? Também os meus amigos, as árvores, são grandes. Se quiseres, mostro-tas amanhã. No dia seguinte, o guarda-florestal e a jovem gigante passeavam pela floresta. E iam de mão dada! Eveline Hasler Die Riesin München, Ellerman Verlag, 1996 (Tradução e adaptação)