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Óscar, o camaleão
Aconteceu uma coisa ao Óscar tão triste, tão trágica de partir o coração, mas ao mesmo
tempo tão profunda, que mudou a sua vida para sempre. Há muito tempo atrás, não
interessa quanto porque ele é muito sensível no que diz respeito à sua idade, Óscar o
camaleão, foi muito infeliz. Tudo aconteceu quando era muito jovem, mais
precisamente quando tinha 8 anos ou teria nove? Vou tentar contar a sua história da
forma mais clara que puder, devido à sua importância e também porque o Óscar é um
querido amigo meu e ficaria muito incomodado se não a contasse como realmente
aconteceu. Começarei pelo princípio e aqui vai ela.
Óscar, o camaleão
O Óscar era um jovem camaleão traquina e às vezes as suas traquinices metiam-
no em sarilhos. Não é que fosse mau camaleão, de facto não era, mas os
camaleões, em geral, são “gente” bastante brincalhona e traquina, está na sua
natureza e não conseguem evitá-lo. Certa tarde, o Óscar estava na escola com os
seus amigos a ouvir uma lição muito séria, sobre a constituição científica da pele
do feijão. Estavam todos muito aborrecidos, pois quem estava a dar a aula era
uma tartaruga.
As tartarugas são conhecidas por serem muito sérias e por demorarem muito tempo a alcançar o
seu objectivo e, contrariamente aos camaleões, não são nada brincalhonas. Além disso, hão-de
concordar comigo, falar de feijões não era um assunto que interessasse muito ao Óscar. Os feijões
são para comer, não para estudar, e o Óscar já estava a ficar com fome.
Para se animar um pouco, decidiu pregar uma partida à professora. Acontece que os camaleões
para além dos seus muitos e impressionantes atributos físicos, tais como serem capazes de
mudar de aparência têm línguas extremamente compridas e rápidas. Assim, quando a tartaruga
ergueu o feijão, bem alto, para que os alunos pudessem vê-lo melhor, o nosso Óscar lançou a sua
afiada língua laranja, como se fosse um chicote, tirou o feijão da mão da professora e engoliu-o
num abrir e fechar de olhos. A tartaruga, lenta por natureza, nem conseguiu ver quem lhe tinha
tirado o feijão da mão.
- Quem tirou o feijão da minha mão?
Todos continuavam sem dizer palavra.
“Vá confessem! Quem roubou o feijão
da minha mão?”
Um silêncio pesado caiu na sala de aula
e isso pôs a tartaruga ainda mais
zangada. Lentamente esticou o seu fino
e comprido pescoço para fora da
carapaça, girou a pesada cabeça verde
pela sala e parou juntinho às carteiras
de camaleão. Olhando-os bem fundo
nos olhos, ia perguntando “Foste tu”, e
assim sucessivamente. Um arrepio
assustador varreu a sala, enquanto a
tartaruga passava de estudante em
estudante, um a um.
Foste tu que roubaste o feijão? Ou foste tu?
Os olhos do Óscar enchiam-se de terror à
medida que ela progredia na sala
procurando o culpado, oscilando o seu
comprido pescoço verde como uma vara de
camaleão em camaleão. O estômago do
Óscar doía de medo, sempre que a tartaruga
confrontada cada aluno, cada vez mais perto
do lugar onde estava sentado. Finalmente,
com uma forte sacudidela, ela virou o longo
pescoço para o Óscar, pôs a sua enrugada
cara verde frente à dele, abriu os grandes
olhos negros e gritou; “Foste tu?!”
Uma onda de terror percorreu o corpo de
Óscar. O que é que ele podia fazer? Não
podia mentir porque, embora fosse
traquina, era um camaleão muito honesto,
mas ao mesmo tempo sabia que o castigo
da tartaruga ia ser duro e severo.
“Então, foste tu?” gritou a tartaruga.
Confessas que foste tu ou vais viver o resto
da tua vida como um pequeno camaleão
cobarde e choramingas?
O Óscar não disse nada. Estava congelado
de medo.
Bem… É isso que queres? Ser um camaleão cobarde e mentiroso?!, gritou a tartaruga na
cara dele. Vamos lá! Fizeste-o ou não?!
O medo dentro do Óscar começou a arder. Ele bem queria confessar mas não conseguia
falar porque estava muito assustado. Abria a boca para se exprimir, mas não saía nada. O
seu corpo encheu-se de calor e começou a suar. De repente, e sem saber porquê, ficou
de um vermelho brilhante.
Ah, ah! A tartaruga gritou com alegria – Foste tu!
Suaves lágrimas brancas caíram, salpicando o rosto do Óscar. Ele sentiu-se muito
envergonhado pelo que tinha feito, e tentou explicá-lo à tartaruga, mas não conseguiu.
Estava muito assustado e nada saía da sua boca.
Agora tens de ser castigado! Disse a tartaruga. Estás oficialmente expulso da escola.
Nunca mais poderás voltar a esta escola ou sequer visitar os teus colegas. Toma,
entrega este bilhete à tua mãe. A tartaruga escreveu um bilhete e ainda comentou –
É para dizer à tua mãe que és um mau estudante, muito mal educado e, acima de
tudo, um pequeno camaleão que não é capaz de admitir que errou.
O Óscar pegou no bilhete, baixou a cabeça e saiu tristemente da sala de aula,
sabendo que nunca mais iria voltar a ver os seus amigos e colegas.
Lá fora, sentou-se num tronco que estava no relvado atrás da escola e segurando o bilhete na
mão, lia e relia. Como é que posso entregar este bilhete à minha mãe? – pensou para consigo
próprio. Isto vai enervá-la tanto e, além disso, tenho a certeza que vai ficar triste. Ser expulso da
escola…Sou um falhado. Não quero que a minha mãe pense isso de mim. Não quero magoá-la.
Começou a chorar. - O que é que eu vou fazer? – disse por entre as lágrimas. – O que é que eu
vou fazer?
Arrancou uma grande folha de erva do chão, limpou as lágrimas da cara e assoou o nariz com
força.
Ei! menos barulho aí em cima! Estou a tentar dormir!
Quem disse isso? – disse o Óscar olhando em redor.
Eu! Agora vê lá se te calas! Estou a ver se consigo dormir!
Onde estás? – perguntou o Óscar.
Onde estou? Quem sou eu? Mas de onde é que vêm essas perguntas todas? Estou aqui em baixo
em baixo a tentar dormir. Faz menos barulho, sim? Ou põe-te a andar.
O Óscar olhou para o chão. Reclinada descontraidamente, num pequeno monte de terra, viu uma
formiga vestindo um elegante fato branco, um panamá branco na cabeça e uns enormes óculos
de sol.
Muito bem, agora já me viste. A festa já acabou aí em cima? É que eu preciso de descansar”, disse
a formiga.
“Não queria acordar-te. È que eu tenho um grande
problema e não consigo resolvê-lo”, disse o Óscar.
“Problemas…Problemas…Todos temos problemas”,
disse a formiga.
“Pois, mas o meu é grande”, disse o Óscar. “Fiz
asneira na escola e agora vou magoar a minha
mãe. Não sou bom em nada e não sei que rumo
dar à minha vida.”
“Pára de ter pena de ti próprio. Relaxa, pá. Tens de
ser fixe e ter uma atitude positiva, disse a formiga.
“O que é uma atitude positiva?”, perguntou o
Óscar.
“É só uma maneira de dizer… relaxa. Não percebes
nada? Qual é afinal o teu problema?” perguntou a
formiga.
“Tenho de fugir de casa”, disse o Óscar, limpando
as lágrimas da cara.
“Pá tu estás um desastre. Vê lá se atinas, sim?”,
disse a formiga.
“Estou a tentar”, disse o Óscar, e arrancou outra
grande folha de erva do chão para limpar o nariz
com muita força.
“Ei! Ei! Calma lá com o barulho, pá! Pareces uma
sirene de nevoeiro”.
Subitamente, vindo do nada, surgiu um grande
gato preto avançando na direcção do Óscar e da
formiga.
“Agora é que estragaste tudo”, sussurrou a
formiga, que não queria ser ouvida. “Aquele é o
Negrito, o Gato. Se ele me vir, estou metido em
sarilhos até ao pescoço.” Porquê?, sussurrou o
Óscar.
Devo-lhe dinheiro. Como é que achas que arranjei
este fato elegante? Tenho uma certa aparência a
manter, percebes? Sai caro ter tanto estilo – disse
a formiga bem baixinho.
Porquê que não lhe pagas? – perguntou o Óscar.
Porquê? Porque estou falido, claro! – respondeu a
formiga.
Negrito, o Gato, já tinha entretanto chegado junto
do Óscar e da formiga.
Onde é que está o meu dinheiro, seu vagabundo?
– rosnou o Negrito.
Vagabundo? Calma, Negrito, não é preciso insultar
- disse a formiga.
O Negrito apanhou a formiga do chão e segurou-a
na sua grande pata preta.
Tens razão – disse o Negrito, erguendo-a mesmo
em frente ao seu focinho. Acho que vou apenas
comer-te e assim ficamos quites.
Mas o Óscar, que até agora tinha estado calado observando isto tudo, ficou muito zangado. O
gato estava a ser muito mau com a formiga e ele decidiu protegê-la, não sabia era como. Então,
de repente, o Óscar começou a mudar de cor muito depressa, vermelho brilhante, laranja,
amarelo, verde, azul, em rápida sucessão, como se fosse uma sirene de carro de polícia.
Negrito, o Gato, olhou para o Óscar e soltou um grito de medo. Ah ah! O pêlo ficou eriçado como
se tivesse apanhado um choque eléctrico. Estava tão assustado que deixou cair a formiga e
desatou a fugir, correndo o mais depressa que podia. A formiga flutuou no ar e aterrou
suavemente no chão.
O Óscar lançou um suspiro de alívio e voltou à sua cor normal, a verde.
Como é que fizeste isso? – perguntou incrédula a formiga.
Não sei – disse o Óscar.
Meu amigo, tu tens muito talento. Devias fazer alguma coisa com isso – disse a formiga,
endireitando os óculos escuros.
De repente a cara da formiga iluminou-se, como se fosse uma lâmpada. Tive uma ideia – disse a
formiga. Vamos visitar um querido amigo meu. Talvez ele possa resolver os teus dois problemas.
O Óscar e a formiga começaram a caminhar, deixando para trás um campo de altas folhas de erva
fresca e uma floresta cheia de grandes árvores.
Subiram ainda uma enorme colina castanha e cruzaram um campo de lindos girassóis que se
voltavam em direcção ao sol e até parecia que sorriam para eles. Quando finalmente chegaram
ao cimo da colina, avistaram o vale, lá em baixo, aconchegado entre as colinas castanhas como se
fosse um ovo num ninho. Encostado a um dos lados, estava um grande edifício de madeira que
mais parecia um celeiro.
É ali, disse a formiga.
O Óscar e a formiga abriram a porta do edifício de madeira, e maravilharam-se com o que viram.
Havia pessoas e animais de todas as espécies, correndo agitadamente por todo o lado. Havia um
coelho vestido de rei, com um grande casaco vermelho e uma coroa dourada e brilhante, cheia
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Havia gafanhotos de capas negras compridas e espadas à cintura, saltando de um lado para o
outro, num verdadeiro caos. Mais à frente, estavam umas raposas vermelhas que usavam meias-
calças púrpuras e uns gansos brancos, que grasnavam imenso e abanavam as caudas em grande
frenesim, usando uns chapéus pretos e penas de avestruz a enfeitar.
Ao fundo, a dormir numa linda cama de cristal, estava uma jovem princesa, com um longo
vestido branco e uma soberba tiara de diamantes que luzia na sua cabeça.
”Que sítio é este?”, perguntou o Óscar. “É um teatro”, disse a formiga. “É lindo”, disse o Óscar,
olhando em redor.
“Ali vem o meu amigo Fred, a Rã. Não digas uma única palavra. Deixa-me tratar de todo”, disse a
formiga para o Óscar, enquanto a Rã se aproximava.”Esta não é uma boa altura”, disse a Rã.
“Estou agitadíssimo. O nosso espectáculo estreia esta noite. Estamos a fazer A Bela Adormecida e
o actor principal, que interpreta o Príncipe, está doente. que é que hei-de fazer? Já vendemos os
bilhetes todos.”
“Os teus problemas acabaram”, disse a formiga.”Acontece que, aqui o meu amigo Óscar, é actor.”
“Sou?” , disse o Óscar.
Claro que és, disse a formiga.
Consegues fazer de príncipe?, perguntou a rã.
Claro que consegue – disse a formiga. Ele consegue fazer qualquer papel. Tem um talento natural.
Naquela noite, o Óscar subiu ao palco como o príncipe da Bela Adormecida. E com a uma incrível
capacidade de mudar de cor e de aparência, ofereceu uma prestação espectacular, interpretou o
papel tão bem, e com tanto à vontade e graça que a plateia se levantou no fim da peça,
aplaudindo de pé o seu belo e único talento.
Mas agora é que vem a parte mais impressionante da história!
É que a mãe do Óscar estava na plateia nessa
noite!
No final foi aos bastidores procurar o Óscar no seu
camarim e surpreendeu-o.
És tão talentoso, Óscar! Estou tão orgulhosa de
seres meu filho – disse ela encantada.
O Óscar não cabia em si de tanta felicidade. A sua
cor mudou para um tom prateado resplandecente
e a sua luz e alegria iluminaram todo o teatro .
E esta é a história do Óscar, o Camaleão. Ele
encontrou seu lugar na vida e transformou-se num
grande actor. É que, sabem, todos nós temos o
nosso lugar na vida e o truque é procurá-lo.
Bom agora tenho que ir embora. Também eu já
encontrei um lugar no mundo do espectáculo…
Autor: Joaquim de Almeida
Com a colaboração de: John Frey
Ilustrações: João Ramos

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A história do camaleão Óscar

  • 2. Aconteceu uma coisa ao Óscar tão triste, tão trágica de partir o coração, mas ao mesmo tempo tão profunda, que mudou a sua vida para sempre. Há muito tempo atrás, não interessa quanto porque ele é muito sensível no que diz respeito à sua idade, Óscar o camaleão, foi muito infeliz. Tudo aconteceu quando era muito jovem, mais precisamente quando tinha 8 anos ou teria nove? Vou tentar contar a sua história da forma mais clara que puder, devido à sua importância e também porque o Óscar é um querido amigo meu e ficaria muito incomodado se não a contasse como realmente aconteceu. Começarei pelo princípio e aqui vai ela.
  • 3. Óscar, o camaleão O Óscar era um jovem camaleão traquina e às vezes as suas traquinices metiam- no em sarilhos. Não é que fosse mau camaleão, de facto não era, mas os camaleões, em geral, são “gente” bastante brincalhona e traquina, está na sua natureza e não conseguem evitá-lo. Certa tarde, o Óscar estava na escola com os seus amigos a ouvir uma lição muito séria, sobre a constituição científica da pele do feijão. Estavam todos muito aborrecidos, pois quem estava a dar a aula era uma tartaruga.
  • 4. As tartarugas são conhecidas por serem muito sérias e por demorarem muito tempo a alcançar o seu objectivo e, contrariamente aos camaleões, não são nada brincalhonas. Além disso, hão-de concordar comigo, falar de feijões não era um assunto que interessasse muito ao Óscar. Os feijões são para comer, não para estudar, e o Óscar já estava a ficar com fome.
  • 5. Para se animar um pouco, decidiu pregar uma partida à professora. Acontece que os camaleões para além dos seus muitos e impressionantes atributos físicos, tais como serem capazes de mudar de aparência têm línguas extremamente compridas e rápidas. Assim, quando a tartaruga ergueu o feijão, bem alto, para que os alunos pudessem vê-lo melhor, o nosso Óscar lançou a sua afiada língua laranja, como se fosse um chicote, tirou o feijão da mão da professora e engoliu-o num abrir e fechar de olhos. A tartaruga, lenta por natureza, nem conseguiu ver quem lhe tinha tirado o feijão da mão.
  • 6.
  • 7. - Quem tirou o feijão da minha mão? Todos continuavam sem dizer palavra. “Vá confessem! Quem roubou o feijão da minha mão?” Um silêncio pesado caiu na sala de aula e isso pôs a tartaruga ainda mais zangada. Lentamente esticou o seu fino e comprido pescoço para fora da carapaça, girou a pesada cabeça verde pela sala e parou juntinho às carteiras de camaleão. Olhando-os bem fundo nos olhos, ia perguntando “Foste tu”, e assim sucessivamente. Um arrepio assustador varreu a sala, enquanto a tartaruga passava de estudante em estudante, um a um.
  • 8. Foste tu que roubaste o feijão? Ou foste tu? Os olhos do Óscar enchiam-se de terror à medida que ela progredia na sala procurando o culpado, oscilando o seu comprido pescoço verde como uma vara de camaleão em camaleão. O estômago do Óscar doía de medo, sempre que a tartaruga confrontada cada aluno, cada vez mais perto do lugar onde estava sentado. Finalmente, com uma forte sacudidela, ela virou o longo pescoço para o Óscar, pôs a sua enrugada cara verde frente à dele, abriu os grandes olhos negros e gritou; “Foste tu?!” Uma onda de terror percorreu o corpo de Óscar. O que é que ele podia fazer? Não podia mentir porque, embora fosse traquina, era um camaleão muito honesto, mas ao mesmo tempo sabia que o castigo da tartaruga ia ser duro e severo. “Então, foste tu?” gritou a tartaruga. Confessas que foste tu ou vais viver o resto da tua vida como um pequeno camaleão cobarde e choramingas? O Óscar não disse nada. Estava congelado de medo.
  • 9. Bem… É isso que queres? Ser um camaleão cobarde e mentiroso?!, gritou a tartaruga na cara dele. Vamos lá! Fizeste-o ou não?! O medo dentro do Óscar começou a arder. Ele bem queria confessar mas não conseguia falar porque estava muito assustado. Abria a boca para se exprimir, mas não saía nada. O seu corpo encheu-se de calor e começou a suar. De repente, e sem saber porquê, ficou de um vermelho brilhante. Ah, ah! A tartaruga gritou com alegria – Foste tu! Suaves lágrimas brancas caíram, salpicando o rosto do Óscar. Ele sentiu-se muito envergonhado pelo que tinha feito, e tentou explicá-lo à tartaruga, mas não conseguiu. Estava muito assustado e nada saía da sua boca.
  • 10. Agora tens de ser castigado! Disse a tartaruga. Estás oficialmente expulso da escola. Nunca mais poderás voltar a esta escola ou sequer visitar os teus colegas. Toma, entrega este bilhete à tua mãe. A tartaruga escreveu um bilhete e ainda comentou – É para dizer à tua mãe que és um mau estudante, muito mal educado e, acima de tudo, um pequeno camaleão que não é capaz de admitir que errou. O Óscar pegou no bilhete, baixou a cabeça e saiu tristemente da sala de aula, sabendo que nunca mais iria voltar a ver os seus amigos e colegas.
  • 11. Lá fora, sentou-se num tronco que estava no relvado atrás da escola e segurando o bilhete na mão, lia e relia. Como é que posso entregar este bilhete à minha mãe? – pensou para consigo próprio. Isto vai enervá-la tanto e, além disso, tenho a certeza que vai ficar triste. Ser expulso da escola…Sou um falhado. Não quero que a minha mãe pense isso de mim. Não quero magoá-la. Começou a chorar. - O que é que eu vou fazer? – disse por entre as lágrimas. – O que é que eu vou fazer?
  • 12. Arrancou uma grande folha de erva do chão, limpou as lágrimas da cara e assoou o nariz com força.
  • 13. Ei! menos barulho aí em cima! Estou a tentar dormir! Quem disse isso? – disse o Óscar olhando em redor. Eu! Agora vê lá se te calas! Estou a ver se consigo dormir! Onde estás? – perguntou o Óscar. Onde estou? Quem sou eu? Mas de onde é que vêm essas perguntas todas? Estou aqui em baixo em baixo a tentar dormir. Faz menos barulho, sim? Ou põe-te a andar. O Óscar olhou para o chão. Reclinada descontraidamente, num pequeno monte de terra, viu uma formiga vestindo um elegante fato branco, um panamá branco na cabeça e uns enormes óculos de sol. Muito bem, agora já me viste. A festa já acabou aí em cima? É que eu preciso de descansar”, disse a formiga.
  • 14. “Não queria acordar-te. È que eu tenho um grande problema e não consigo resolvê-lo”, disse o Óscar. “Problemas…Problemas…Todos temos problemas”, disse a formiga. “Pois, mas o meu é grande”, disse o Óscar. “Fiz asneira na escola e agora vou magoar a minha mãe. Não sou bom em nada e não sei que rumo dar à minha vida.” “Pára de ter pena de ti próprio. Relaxa, pá. Tens de ser fixe e ter uma atitude positiva, disse a formiga. “O que é uma atitude positiva?”, perguntou o Óscar. “É só uma maneira de dizer… relaxa. Não percebes nada? Qual é afinal o teu problema?” perguntou a formiga. “Tenho de fugir de casa”, disse o Óscar, limpando as lágrimas da cara. “Pá tu estás um desastre. Vê lá se atinas, sim?”, disse a formiga. “Estou a tentar”, disse o Óscar, e arrancou outra grande folha de erva do chão para limpar o nariz com muita força. “Ei! Ei! Calma lá com o barulho, pá! Pareces uma sirene de nevoeiro”.
  • 15. Subitamente, vindo do nada, surgiu um grande gato preto avançando na direcção do Óscar e da formiga. “Agora é que estragaste tudo”, sussurrou a formiga, que não queria ser ouvida. “Aquele é o Negrito, o Gato. Se ele me vir, estou metido em sarilhos até ao pescoço.” Porquê?, sussurrou o Óscar. Devo-lhe dinheiro. Como é que achas que arranjei este fato elegante? Tenho uma certa aparência a manter, percebes? Sai caro ter tanto estilo – disse a formiga bem baixinho. Porquê que não lhe pagas? – perguntou o Óscar. Porquê? Porque estou falido, claro! – respondeu a formiga. Negrito, o Gato, já tinha entretanto chegado junto do Óscar e da formiga. Onde é que está o meu dinheiro, seu vagabundo? – rosnou o Negrito. Vagabundo? Calma, Negrito, não é preciso insultar - disse a formiga. O Negrito apanhou a formiga do chão e segurou-a na sua grande pata preta. Tens razão – disse o Negrito, erguendo-a mesmo em frente ao seu focinho. Acho que vou apenas comer-te e assim ficamos quites.
  • 16. Mas o Óscar, que até agora tinha estado calado observando isto tudo, ficou muito zangado. O gato estava a ser muito mau com a formiga e ele decidiu protegê-la, não sabia era como. Então, de repente, o Óscar começou a mudar de cor muito depressa, vermelho brilhante, laranja, amarelo, verde, azul, em rápida sucessão, como se fosse uma sirene de carro de polícia. Negrito, o Gato, olhou para o Óscar e soltou um grito de medo. Ah ah! O pêlo ficou eriçado como se tivesse apanhado um choque eléctrico. Estava tão assustado que deixou cair a formiga e desatou a fugir, correndo o mais depressa que podia. A formiga flutuou no ar e aterrou suavemente no chão.
  • 17. O Óscar lançou um suspiro de alívio e voltou à sua cor normal, a verde. Como é que fizeste isso? – perguntou incrédula a formiga. Não sei – disse o Óscar. Meu amigo, tu tens muito talento. Devias fazer alguma coisa com isso – disse a formiga, endireitando os óculos escuros. De repente a cara da formiga iluminou-se, como se fosse uma lâmpada. Tive uma ideia – disse a formiga. Vamos visitar um querido amigo meu. Talvez ele possa resolver os teus dois problemas. O Óscar e a formiga começaram a caminhar, deixando para trás um campo de altas folhas de erva fresca e uma floresta cheia de grandes árvores.
  • 18. Subiram ainda uma enorme colina castanha e cruzaram um campo de lindos girassóis que se voltavam em direcção ao sol e até parecia que sorriam para eles. Quando finalmente chegaram ao cimo da colina, avistaram o vale, lá em baixo, aconchegado entre as colinas castanhas como se fosse um ovo num ninho. Encostado a um dos lados, estava um grande edifício de madeira que mais parecia um celeiro.
  • 19. É ali, disse a formiga. O Óscar e a formiga abriram a porta do edifício de madeira, e maravilharam-se com o que viram. Havia pessoas e animais de todas as espécies, correndo agitadamente por todo o lado. Havia um coelho vestido de rei, com um grande casaco vermelho e uma coroa dourada e brilhante, cheia de jóias, colocada no cimo da sua cabeça.
  • 20. Havia gafanhotos de capas negras compridas e espadas à cintura, saltando de um lado para o outro, num verdadeiro caos. Mais à frente, estavam umas raposas vermelhas que usavam meias- calças púrpuras e uns gansos brancos, que grasnavam imenso e abanavam as caudas em grande frenesim, usando uns chapéus pretos e penas de avestruz a enfeitar.
  • 21. Ao fundo, a dormir numa linda cama de cristal, estava uma jovem princesa, com um longo vestido branco e uma soberba tiara de diamantes que luzia na sua cabeça.
  • 22. ”Que sítio é este?”, perguntou o Óscar. “É um teatro”, disse a formiga. “É lindo”, disse o Óscar, olhando em redor.
  • 23. “Ali vem o meu amigo Fred, a Rã. Não digas uma única palavra. Deixa-me tratar de todo”, disse a formiga para o Óscar, enquanto a Rã se aproximava.”Esta não é uma boa altura”, disse a Rã. “Estou agitadíssimo. O nosso espectáculo estreia esta noite. Estamos a fazer A Bela Adormecida e o actor principal, que interpreta o Príncipe, está doente. que é que hei-de fazer? Já vendemos os bilhetes todos.” “Os teus problemas acabaram”, disse a formiga.”Acontece que, aqui o meu amigo Óscar, é actor.” “Sou?” , disse o Óscar.
  • 24. Claro que és, disse a formiga. Consegues fazer de príncipe?, perguntou a rã. Claro que consegue – disse a formiga. Ele consegue fazer qualquer papel. Tem um talento natural. Naquela noite, o Óscar subiu ao palco como o príncipe da Bela Adormecida. E com a uma incrível capacidade de mudar de cor e de aparência, ofereceu uma prestação espectacular, interpretou o papel tão bem, e com tanto à vontade e graça que a plateia se levantou no fim da peça, aplaudindo de pé o seu belo e único talento. Mas agora é que vem a parte mais impressionante da história!
  • 25. É que a mãe do Óscar estava na plateia nessa noite! No final foi aos bastidores procurar o Óscar no seu camarim e surpreendeu-o. És tão talentoso, Óscar! Estou tão orgulhosa de seres meu filho – disse ela encantada. O Óscar não cabia em si de tanta felicidade. A sua cor mudou para um tom prateado resplandecente e a sua luz e alegria iluminaram todo o teatro . E esta é a história do Óscar, o Camaleão. Ele encontrou seu lugar na vida e transformou-se num grande actor. É que, sabem, todos nós temos o nosso lugar na vida e o truque é procurá-lo. Bom agora tenho que ir embora. Também eu já encontrei um lugar no mundo do espectáculo…
  • 26.
  • 27. Autor: Joaquim de Almeida Com a colaboração de: John Frey Ilustrações: João Ramos