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A história da Mata Atlântica tem seu início há 50 milhões de anos, quando o continente
sul-americano já era uma massa terra de isolada e suas formas de vida passaram a
evoluir localmente, sem transtornos geológicos adicionais. Ao longo desse tempo, no
período Quaternário, a floresta passou por períodos de fragmentações e expansões, em
decorrências das inúmeras eras Glaciais que ocorreram durante esse período[1]
. Nos
períodos em que o planeta se encontrava com temperaturas mais baixas, os refúgios
eram centros em que a biodiversidade florestal evoluía de forma isolada. Essa hipótese
pode explicar a enorme diversidade desse bioma, tal como seu alto grau de
endemismo[1]
. É notável que exatamente o sul da Bahia, norte do Espírito Santo e litoral
de Pernambuco são centros de endemismo na Mata Atlântica e os registros de pólen
demonstram que tais regiões eram refúgios no final do Pleistoceno.[2]
Concomitante a
relativa estabilidade no nordeste brasileiro, havia uma instabilidade climática à sudeste,
embora isso parece não ter evitado endemismo de alguns táxons de anfíbios amplamente
distribuídos.[2][3]
Essa instabilidade climática no sudeste e sul do Brasil tinha como
consequência o surgimento de outras fitofisionomias que não eram florestadas: estudos
paleoclimáticos utilizando pólen demonstram que o sudeste e sul passaram por inúmero
momentos em que as florestas eram substituídas por formações abertas, como
pradarias.[4]
Mais especificamente, a Mata de Araucária, chegou a ocorrer até a latitudes
em torno de 19º (muito ao norte do que ocorre atualmente) durante as glaciações, sendo
substituída pela floresta estacional semidecidual há cerca de 10.000 anos, quando o
clima voltou a ficar mais quente.[5]
A primeira leva de colonizadores humanos na região da Mata Atlântica data de
aproximadamente 8-10 mil anos atrás, como evidenciado por achados arqueológicos em
Lagoa Santa, Minas Gerais.[6][7]
Esses colonizadores já impactaram o ambiente com
atividades agricultoras itinerantes (atividades agrícolas em sistemas agroflorestais,
baseado em queimada e derrubada, principalmente do sub-bosque) após sua chegada,
principalmente em regiões em que as queimadas para o cultivo eram mais frequentes,
ocorrendo savanização[1]
. Existe a hipótese de que os pampas surgiram decorrente das
intensas queimadas provocadas por povos indígenas, já que vestígios mostram que a
região era florestada há cerca de 5 mil anos.[8]
É provável que toda a mata da baixada
litorânea tivesse sido, pelo menos uma vez, modificada para o cultivo pelos tupis. É
interessante que uma das fitofisionomias mais conhecidas, a Mata de Araucária atual,
pode ter surgido decorrente do manejo feito por agricultores itinerantes da Araucaria
angustifolia[1]
. Também, a agricultura itinerante é praticada até hoje por vários grupos
caiçaras e quilombolas do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.[9]
A biodiversidade da Mata Atlântica é semelhante à biodiversidade da Amazônia. Há
subdivisões do bioma da Mata Atlântica em diversos ecossistemas devido a variações
de latitude e altitude. Há ainda formações pioneiras, seja por condições climáticas, seja
por recuperação, zonas de campos de altitude e enclaves de tensão por contato. A
interface com estas áreas cria condições particulares de fauna e flora.
A fauna de vertebrados endêmica é formada principalmente por anfíbios (grande
variedade de anuros), mamíferos e aves das mais diversas espécies.
Da flora, 55% das espécies arbóreas e 40% das não-arbóreas são endêmicas ou seja só
existem na Mata Atlântica. Das bromélias, 70% são endêmicas dessa formação vegetal,
palmeiras, 64%. Estima-se que 8 mil espécies vegetais sejam endêmicas da Mata
Atlântica.
Existe uma relativa precariedade referente à realização de levantamentos de fauna da
Mata Atlântica, o que torna sua descrição mais difícil que a da vegetação, mas ela pode
ser dividida em dois grandes grupos de animais[55]
:
Generalistas: pouco exigentes, com altas taxas de reprodução e grande
variabilidade de dieta e hábitos alimentares, o que permite que habitem trechos
de mata secundária. Ex.: macaco-prego, sabiá-laranjeira.
Especialistas: dieta e hábitats muito restritos. São sensíveis à perturbações no
meio, e por isso tendem a ser encontradas em trechos de floresta primária.
Ex.:jacutinga, muriqui.
A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em biodiversidade de plantas no
Planeta, sendo constatada mais de 450 espécies no Sul da Bahia, perto de Una.[27]
Entretanto, tal diversidade e grau de endemismo varia, já que ela não se constitui em
uma formação vegetal homogênea, com variações na riqueza de espécies devido a
fatores como latitude, altitude, precipitação e solo.[28]
Alguns grupos de plantas como a
tribo Olyreae (Poaceae), possuem uma grande porcentagem de espécies no bioma da
Mata Atlântica.[29]

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A história da mata atlântica tem seu início há 50 milhões de anos

  • 1. A história da Mata Atlântica tem seu início há 50 milhões de anos, quando o continente sul-americano já era uma massa terra de isolada e suas formas de vida passaram a evoluir localmente, sem transtornos geológicos adicionais. Ao longo desse tempo, no período Quaternário, a floresta passou por períodos de fragmentações e expansões, em decorrências das inúmeras eras Glaciais que ocorreram durante esse período[1] . Nos períodos em que o planeta se encontrava com temperaturas mais baixas, os refúgios eram centros em que a biodiversidade florestal evoluía de forma isolada. Essa hipótese pode explicar a enorme diversidade desse bioma, tal como seu alto grau de endemismo[1] . É notável que exatamente o sul da Bahia, norte do Espírito Santo e litoral de Pernambuco são centros de endemismo na Mata Atlântica e os registros de pólen demonstram que tais regiões eram refúgios no final do Pleistoceno.[2] Concomitante a relativa estabilidade no nordeste brasileiro, havia uma instabilidade climática à sudeste, embora isso parece não ter evitado endemismo de alguns táxons de anfíbios amplamente distribuídos.[2][3] Essa instabilidade climática no sudeste e sul do Brasil tinha como consequência o surgimento de outras fitofisionomias que não eram florestadas: estudos paleoclimáticos utilizando pólen demonstram que o sudeste e sul passaram por inúmero momentos em que as florestas eram substituídas por formações abertas, como pradarias.[4] Mais especificamente, a Mata de Araucária, chegou a ocorrer até a latitudes em torno de 19º (muito ao norte do que ocorre atualmente) durante as glaciações, sendo substituída pela floresta estacional semidecidual há cerca de 10.000 anos, quando o clima voltou a ficar mais quente.[5] A primeira leva de colonizadores humanos na região da Mata Atlântica data de aproximadamente 8-10 mil anos atrás, como evidenciado por achados arqueológicos em Lagoa Santa, Minas Gerais.[6][7] Esses colonizadores já impactaram o ambiente com atividades agricultoras itinerantes (atividades agrícolas em sistemas agroflorestais, baseado em queimada e derrubada, principalmente do sub-bosque) após sua chegada, principalmente em regiões em que as queimadas para o cultivo eram mais frequentes, ocorrendo savanização[1] . Existe a hipótese de que os pampas surgiram decorrente das intensas queimadas provocadas por povos indígenas, já que vestígios mostram que a região era florestada há cerca de 5 mil anos.[8] É provável que toda a mata da baixada litorânea tivesse sido, pelo menos uma vez, modificada para o cultivo pelos tupis. É interessante que uma das fitofisionomias mais conhecidas, a Mata de Araucária atual, pode ter surgido decorrente do manejo feito por agricultores itinerantes da Araucaria angustifolia[1] . Também, a agricultura itinerante é praticada até hoje por vários grupos caiçaras e quilombolas do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.[9] A biodiversidade da Mata Atlântica é semelhante à biodiversidade da Amazônia. Há subdivisões do bioma da Mata Atlântica em diversos ecossistemas devido a variações de latitude e altitude. Há ainda formações pioneiras, seja por condições climáticas, seja por recuperação, zonas de campos de altitude e enclaves de tensão por contato. A interface com estas áreas cria condições particulares de fauna e flora. A fauna de vertebrados endêmica é formada principalmente por anfíbios (grande variedade de anuros), mamíferos e aves das mais diversas espécies. Da flora, 55% das espécies arbóreas e 40% das não-arbóreas são endêmicas ou seja só existem na Mata Atlântica. Das bromélias, 70% são endêmicas dessa formação vegetal, palmeiras, 64%. Estima-se que 8 mil espécies vegetais sejam endêmicas da Mata Atlântica.
  • 2. Existe uma relativa precariedade referente à realização de levantamentos de fauna da Mata Atlântica, o que torna sua descrição mais difícil que a da vegetação, mas ela pode ser dividida em dois grandes grupos de animais[55] : Generalistas: pouco exigentes, com altas taxas de reprodução e grande variabilidade de dieta e hábitos alimentares, o que permite que habitem trechos de mata secundária. Ex.: macaco-prego, sabiá-laranjeira. Especialistas: dieta e hábitats muito restritos. São sensíveis à perturbações no meio, e por isso tendem a ser encontradas em trechos de floresta primária. Ex.:jacutinga, muriqui. A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em biodiversidade de plantas no Planeta, sendo constatada mais de 450 espécies no Sul da Bahia, perto de Una.[27] Entretanto, tal diversidade e grau de endemismo varia, já que ela não se constitui em uma formação vegetal homogênea, com variações na riqueza de espécies devido a fatores como latitude, altitude, precipitação e solo.[28] Alguns grupos de plantas como a tribo Olyreae (Poaceae), possuem uma grande porcentagem de espécies no bioma da Mata Atlântica.[29]