O documento descreve o funeral do presidente eleito Tancredo Neves após sua morte em 1985, incluindo o papel de alunos da Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) que treinaram durante a noite para transportar seu caixão em procissão em São Paulo no dia seguinte.
Convite original - Aspirantes 1988, APMBB São Paulo
O funeral de Tancredo Neves e a participação da APMBB
1. A APMBB E O FUNERAL DE TANCREDO NEVES
Adilson Luís Franco Nassaro
Em meados da década de 1980 o Brasil passava por momentos de transição
democrática e também de tensões sociais. Desde 1964 sucederam-se cinco presidentes
na fase do regime militar no Governo Federal e o último deles, o General João Baptista
de Oliveira Figueiredo foi responsável pela abertura necessária para a eleição de um
presidente civil1. Em 15 de janeiro de 1985, o governador de Minas Gerais Tancredo
Neves foi eleito presidente por voto indireto e veio a adoecer gravemente em 14 de
março, véspera de sua posse, com diagnóstico de diverticulite, relatando fortes dores
abdominais.
O quadro grave de saúde do presidente eleito e não empossado, que então se
seguiu, causou grande comoção e expectativa durante os trinta e oito dias em que
permaneceu internado, vindo a falecer no Instituto do Coração em São Paulo no dia 21
de abril, com falência múltipla dos órgãos vitais. Sua morte foi anunciada exatamente as
22h 30min, no último boletim médico lido pelo então Secretário de Imprensa, Antonio
Britto, porta-voz oficial da presidência, em coletiva no Centro de Convenções Rebouças,
em São Paulo2.
1 Interessante o registro de que, entre os diversos cargos ocupados durante a carreira militar do general
Figueiredo, destaca-se o de Comandante Geral da Força Pública do Estado de São Paulo, de 1966 a
1967. Durante o regime militar era regra a nomeação de oficiais do Exército comissionados na função de
Comandantes Gerais das forças militares estaduais. Coincidentemente, o pai do General Figueiredo,
também General do Exército Euclides Figueiredo, havia sido um dos comandantes, no Estado de São
Paulo, da Revolução Constitucionalista de 1932.
2 O noticiário apresentado em 22/04/1985, pela Rede Globo de televisão, descreveu com imagens a
sequência exata desses acontecimentos. Disponível em:
2. Na mesma noite fria daquele Dia de Tiradentes, foi mobilizado o Oficial de Dia da
APMBB. A ordem de representação com cadetes em uniforme especial (o azulão) havia
sido expedida pelo Comando Geral da Polícia Militar e era necessário um urgente
treinamento para a formalidade do transporte do esquife, em marcha fúnebre, e
acompanhamento das honras e cortejo durante o deslocamento que ocorreria em São
Paulo: o corpo de Tancredo Neves deveria ser trasladado em voo partindo do aeroporto
de Congonhas para sepultamento em sua cidade natal, São João Del Rey, no sudeste
de Minas Gerais. Era governador de São Paulo Franco Montoro e Comandante Geral da
Polícia Militar paulista o Coronel PM Nilton Vianna3.
Tratava-se de um domingo e deveriam ser designados alunos que haviam
chegado para o pernoite obrigatório, com a revista realizada as 22 horas, como
regularmente ocorria. Diante da grande responsabilidade daquela missão, foram
convocados alunos-oficiais do 3º CFO entre aqueles de maior estatura: haveria pouco
tempo para ensaios pois a noite avançava. Entre os escalados estavam Lúcio, Salesse,
Carlos Alberto, Andrade, Rogério Bortoletto, Crevelaro, Nocetti Holms, Renato Vieira e
Pratt Corrêa4.
Já de madrugada, os alunos treinaram em silêncio o deslocamento a pé no pátio
da Academia, simulando o transporte solene do esquife que, no dia seguinte, depois do
cortejo por ruas e avenidas de São Paulo, seria por eles retirado do caminhão do Corpo
de Bombeiros e conduzido até o avião para embarque. Não se encontrou melhor forma
para a simulação: em marcha com passos contados e sincronizados, seguravam uma
cama de alojamento suspensa e apoiada em seus ombros!
Texto publicado no blog: “Ciências Policiais - Segurança Pública”
Disponível em: http://ciencias-policiais.blogspot.com.br/2017/06/a-apmbb-e-o-funeral-
de-tancredo-neves.html
<https://www.youtube.com/watch?v=pRU360VGgvE>. Acesso em: 06 jun. 2017.
3 Mais de trinta anos depois, organizei uma entrevista com o Coronel PM Nilton Vianna (em 2016), que
resultou um artigo em coautoria com Celso Ricardo de Souza (“Coronel Nilton Vianna: um Comandante às
vésperas de uma nova Constituição para o Brasil - 1988”), publicado na revista A Força Policial, ed. digital
02, 2º trim. São Paulo: PMESP, 2017). O Coronel Vianna faleceu em 24/12/2016.
4 Em 2017 realizei contato com alguns deles para obter detalhes. Lúcio, Salesse e Carlos Alberto
confirmaram os nomes dos Alunos envolvidos na missão. O informativo institucional impresso “Legião de
Idealistas”, em 1985, também registrou detalhes desse apoio da APMBB ao funeral de Tancredo Neves,
enquanto na cidade de São Paulo.