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Anais do Seminário
Rio de Janeiro:
apital e
abita idaae
de 23 a 26 de outubro de 2000
Organizador
André Nunes de Azevedo
Rio de Janeil'o
Departamento Cultural
NAPE/DEPEXT/SR-3/UERJ
2002
.)C)«">O"'W k."(
-...l
I~fJ ~O
Nota
MANET, Edouard. Lettresdejeunesse-1848-1849. V0'agea Rio. Paris: Louis R<lIlólll
et ftls editeurs, si J
NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império. 4' ed. Rio de Janeiro: Aguilar, I()I:',
p. 76
SAlNT-ApOLPHE ].CR. Milliet de. Dicionário geogr4ftco) histórico e de.rcritivo do JII//!/'II/I
do Brasil 2 ed. Paris, 1863, p.429
EWBANK, Thomas. Vida no Brasil Rio de Janeiro: Conquista, 1976, p. 32?
para toda esta parte, d. MATTOS , Umar Rohloff de. Otempo .raquarema. 4 ec!.{H I
de Janeiro: ACCESS Ed., 1999, pp. 73-76
d. MATTOS, limar Rohloff de. Op. Cit., pp. 28-42.
NABUCO,Joaqim. Op. cit., p. 145.
cE. MATTOS, Selma Rinaldi de. O Bra.ril em lições. A hi.rtória como disciplina escolc,,' /'11.
Joaquim Manuel de Macedo. Rio de Janeiro: ACCESS Ed., 2000.
"O H.io de Janeiro Imperial
e suas Áfricas Visíveis"
Marilene Rosa Nogueira da Silva1
Eu também imaginei um modelo de cidade do qual extraio todas as outra.r -
respondeu Marco Polo - é uma cidadefeita só de impedimentos, contradições, incongmên-
cias) contra senso. Se uma cidade assim e o que há de JIlais iJllprováve~ diminuindo o
ntÍmero do.r e!emertto.r anormais aumenta a probabilidade de que a cidade realmente
2
exista .. JJ
Articular os diferentes saberes, desenvolver a capacidade de ir e vir do tem-
po dos mortos para o tempo dos vivos, sem comprometê-Ios, são alguns dos
desafios que enfrentam os historiadores de ofício .Como discutir sem paixão os
11roblemasque nos rondam como espectros gerados pela complexa relação cida-
llc e modernidade; quando a pressa do cotidiano impõe o ritmo pelo tempo da
produção, massificando as pessoas dissolvendo a capacidade de compreensão do
Indivíduo, fazendo com que percam a capacidade do "o/har atenção'~ vencidos pela
óll1gústia
da pressa. A atenção mora e demora no tempo sendo 'um olhar profun-
(10 e despojado, porém um olhar que age e une uma consciência a uma ação
dicaz. Enfim o olhar atenção se exerce no tempo, captando por isso as mudanças
llue sofrem os homens e as coisas. Só a visão diacrônica revela o processo, tantas
3
vezes conflituoso que formou a aparência .
Desta 11l:llt'ir:l,propolho o tkslol':IIll'lllo tio 1,111.11 ,III'IH"IOdo It'IlIlO di,
poder nos sobrados, nos palácios, no Senado dn <::1111:11,1,
VIIIIIIIIHlSdiSCllrso~ t1J
elite condutora do processo de construção do Estado N:ll'I<)IlalMonárlluico, P,II I
a considerada" canalha, arraia miúda'~ que carregava a cidade e seus moradoll
produzindo desprezo, necessidade e medo. Desprezo pelo trabalho manual (I'I
sa de negro e medo da rebeldia de uma população escrava que chegava a SVI I
maioria em algumas freguesias. Essa exposição enfoca as contradições e - as ali:,!1
tações delas decorrentes - do sistema escravista tradicional frente as especificl< 1,1
des e necessidades de uma cidade como O Rio de Janeiro, cuja expansão ao ]011'.1 I
do século XIX foi marcada por sua função eminentemente comercial.
A questão do cotidiano sintetiza e define os procedimentos da discuss:II'
que desenvolvo. Cotidiano retomado no século XX valorizando o "HOIIII'
4
ordinário, no dizer de Freud em seu "Mal estar da civilização" , ou então, 11'
5
"Homem sem qualidades"da peça teatral de Musil .0 enfoque dado a uma cul
tura ordinária, começa quando esse homem ordinário se torna narrador, dv
finindo o lugar ( comum) do discurso e o espaço (anônimo) de seu desenvol
vimento. O estudo do cotidiano obriga o historiador a ampliar sobremancir:
a concepção de fontes, modificando também o tratamento metodológico uli
lizado. Exercício que representa ajustar a capacidade de observação, focali
zando numa micro história como uma espécie de reação, com todos os riscos
que ele pode conter, contra o estudo das tendências sociais formalizadoras
de uma História sem a face humana.
No cotidiano se explicita o poder, estabelecendo tanto as estratégias da do
minação, quanto as táticas da resistência dos "homens ordinários". Poder qm:
numa perspectiva foucaultiana, não apareceria somente como um instrumento de
repressão, porém, em sua competência de ramificar-se em nosso dia -a dia: "0
quefaz com que opoder se mantenha e seja aceito é simplesll/ente qNe ele não pesa comojórça qUI!
diZ6não} mas dejàto ele permeicl, prodllZ coÚas, induz ao prazer, jórma saber,7Prod1lZ discur-
so" . Por outro lado, Certeau na celebração tática da "Arte de Fazer" , faz o inven-
tário das ações do cotidiano, numa determinada realidade histórica. O autor não
nega a microfísica do poder, as possibilidades encontradas pela população para
burlar enfrentar, ou mesmo, transformar os mecanismos do poder. Conforme
suas palavras, haveria, portanto, uma espécie de microfísica da resistência nas
táticas cotidianas.
(~..Se é verdade que por loda pade se estende e se preà.sa (/ rede de "l)igilâllcia)~
mais urgenle ainda é dest'Obrir como é qm uma sociedade inteira não se reduz a ela: que
procedimentos popnlares ( larJ/bémll/imísculos e colidicmos jogam com os mecanismo da
disciplina e não se conftrma com ela (/ não serpara alterá-Ios; enfim) que (~lJaneira de
fazer jOrlJIam a conlrapartida, do lado dos conswllidores( 01/ dominados) , dos processos
B
mudos que organizam a ordenação sócio politica"
"(I'IHIlho It'SSl' IISI:l1tt·,tr:lsrorlll:lr lHll11el1S
e Illulheres escnlVizados, em
1111 l,itlmL's, rclidll1indo o lugar comum do seu discurso e o espaço-anônimo de
I 11 t1l'st'llvolvimenlO. A escolha desse caminho tem suas dificuldades, pois quan-
,I" ,1':1 1:1
I1dona a explicação dos fenômenos sociais através de uma metodologia
'1"' IIS tece em redes gigantescas de causas e efeitos, tentando analisa-los em
'-_t1 IIunl5 locais de saber, significa trocar uma série de dificuldades bem mapea-
.,1", por outras dificuldades quase desconhecidas.
Acompanho a rotina dos escravoS pelas ruas da cidade, articulando as estra-
1I1',i:IS
elaboradas pela Câmara Municipal em seu processo de burocratização dos
, Ivi~'os necessários a cidade que crescia, às táticas desenvolvidas pelos escravos
i'li:;' driblar e subverter de maneira consciente ou não esse poder. Era o negro na
'" , era o negro na casa, era o negro nas manufaturas, quer fosse como escravo
.lI11 1H::Stico,de aluguel ou de ganho. Era o negro alforriado, ou mesmo o fugitivo
'lIlI' buscava as possibilidades do anonimato oferecido pelo espaço urbano. En-
IlIn era o negro para tudo, carregador das riquezas, das pessoas, dos dejetos.- da
ll( lpria cidade.
Não é de estranhar, em uma sociedade dominada pela ideologia escra-
'lsla de menosprezo ao trabalho manual, ter escravos representava o dese-
jl I de toda a população que, dentro de suas possibilidades econômicas,
Inia investimentos nesse sentido. Não possuí-los era prova de mendicida-
de. Todos os artesãos sem exceção tinham pelo menos um escravo. Padres
IniEtares, taverneiros, funcionários, pequenos, médios e grandes negocian-
le5 e alugadores de escravos, todos investiam no escravisrno. Escravos e
mesmo ex-escravos tornavam-se vítimas e algozes do sistema - na contra-
dição extrema de escravo-senhor. O caso de Estevão Jesus, liberto, ilustra
essa situação ao requerer que seu antigo senhor lhe reembolsasse 173$400
réis pelo valor de um escravo que possuía no tempo do cativeiro. Exigia
além do preço do escravo, a quantia referente aos jornais de que o senhor
havia usufruído. 10
Ao analisar os proprietários dos escravos de ganho observei que, em-
bora predominassem os homens, muitas mulheres viúvas solicitam licenças
para colocar ao ganho seus escravos. Além de ricas proprietárias, encontra-
mos àquelas que viviam apenas da exploração de um único escravo, confor-
me citação abaixo:
"DiZ Agostinha, viÚva, moradora da RIJa do Sabão, que lendo sido presa por ordem do
}iscal de Semtana slla tÍnica escrava que pomti, Maria Cabinda por el/a ter deitado
circuJ, riO Largo da Cadeia Nova, lugar este que por ignorar a.r.rim ofes, não pode a
suppte pagar a J'IIultapor ser pobre por isso recorre a V5. para entregar a refttida
escrava dispensando de pagar a multa"
<)()
Debret na imagem abaixo, consegue captar a situação descrita:
Viúva pobre no interior de sua casa
Fonte: Debret. Op. Cit. P.304
AfIrma o artista: "ter escolhido o momento do regresso da negra, que entregava à Sf/fI
ama o lucro do dia, do qual retirou o necessário para a aquisição de uma penca de bananfl
11
destinada a ceiafrugal de todos os habitantes da casa"
Na documentação consultada encontrei vários pedidos de licenças para cs
cravos exercerem as mais variadas atividades. JustifIcavam-se esses pedidos pC!;1
difIculdade de se encontrarem homens livres que se dignassem a exerce-Ias.
" PeloRegimento do Cirurgião Mor dói reino, não se acha aconselhadaaprohibição rh'
exame de escravos, para que possão sangrar, lançar ventosas e sanguessugase fim!'
dentes.Por isso admitti a exame opreto Vicente escravodeAnacleto José Coelho.Nrill
acheinova razãopara pelo meujuizo deixar de assim o obrar, quando considerando1/1/'
vivendonumpaiv onde os homens ingênuos, livres e libertos se negar:;11
ao exercício de muitas occupações, de modo que não há sufficientenume!'oIh'
sugeitosmelhorperitos para ocorrera necessidade
publica...(grifos meus)"
12
Esses escravos na cidade são, como os viu Ewbank , carpinteiros, calcl'll·j
ros" impressores, vendedores, espalhados de maneira geral C 111 todas as atividadl'~
mecânicas, surgindo mesmo dl'signa<,'()l's locais qlll' Sl' nlraCll'ri",:lv:l1l1pdo agrup:I
Illl'lllo dl' l'scr:1VOS
qut' <l1'SI'IlVlllvi:llll:1i
11111;1
<11'11'1111111;1<1;1
I'spn l:dHI:1111:1I~II:Idllh
h'rl;l1llln'~ (.1111.11111,1
<1.1111.111<111;.1),1'1,11.1
dtl" :-;,I1;llt
111l~,
(1'1,11.1.1111'111111111;11)
É importante ressaltar, que tanto o escravo de ganho, quanto o escravo de
aluguel continuavam a pertencer a alguém que ditava qual deveria ser a sua sorte.
Desta forma, o tipo de trabalho destinado ao escravo oscilava de acordo com a
demanda de mão de obra. A qualquer momento, atendendo aos interesses do
mercado, os senhores podiam retira-Ios do ganho, vendê-Ios para o campo ou
aluga-Ios para fIns domésticos ou industriais. Essa situação gerava grande insegu-
rança nos negros de ganho, os quais procuravam de qualquer maneira garantir a
sua atividade através da lucratividade que poderiam oferecer aos seus senhores.
Sendo assim, bastante compreensível a concorrência que existia entre eles, tor-
nando-os inimigos entre si. Os casos dos delitos que ocorriam na cidade em, sua
grande maioria eram cometidos contra escravos pelos próprios escravos. O que
caracterizariam esses delitos eram os pequenos furtos, as brigas violentas, as pan-
cadarias e arruaças ocasionadas por bebedeiras. Logo qualquer pessoa que amea-
<,'asseo trabalho do escravo de ganho era alvo de ódios e vinganças. É bem escla-
rl'cedor o relato de Luccock
"... No momento em que retirava as minhas bagagens de bordo, entendi de carregarnas
minhas próprias mãos um bacamarte de baioneta envolvido numa capa de lã. Não
tinha ido longe, quando um senhor inteiramente desconhecido
para mim fez-me parar,
pedindo que entregasseo que eu estava carregandoa um dos servos, acrescentandoque
não era direitoprivar ospretos do seu ganha pão e que issofazendo eu incorreria em
grave risco.Mais tarde eleme explicou assegurandoque até contra as oftnsas imaginá-
13
rias a gente das classesmais baixas as vezes exercia vingançasmais sérias"
O escravo urbano que o modelo de Estado Liberal em sua Constituição
1ll'sconhece, torna-se visível nos mecanismos de controle desenvolvido pela Câ-
111.lra
Municipal no dia a dia da cidade.VerifIca-se assim a existência de dois níveis
I 1II11plementares de intervenções - o nacional e local. O primeiro manifesta-se
1ir:lvés da constituição, referendando uma política mais geral, ou seja, um projeto
111
H'ral de Estado que se pretendia implantar. Já no segundo é possível perceber os
I III,nitos e tensões relativo as adaptações e aplicações das leis no cotidiano da
, Hbde
No caso específIco da Cidade do Rio de Janeiro, por sua situação política
,li ~('(Ic administrativa nacional, fIcavam ainda mais evidenciados esses con-
11111lS.
Cosmopolitismos e clivagens internas aparecem, portanto como pon-
111', Iwrceptíveis da identidade cultural e política da "Mui Leal e Heróica cida-
,li di' Sam Sebastiam do Rio de Janeiro. Cidade onde a ingerência do poder
'l'lllt;t1l' local definia as articulações e conflitos administrativos, relaciona-
,I"'l 1:11110
as qlll'StflO do mando, quanto às questões orçamentárias da arreca-
"11;;10I' :lpliclI<,':1odos imposlos. Por eXl'mplo, basta remontar ao decreto de
111~H '111('11'lil:1tI:1 1:1111:11;1
SII:I~1'I('l'mg:ltiv:lH IvgiHI:llivlIs, illicillndo () procl'S
" ,k 11.lr,i1i~:II::'ill1111111111p,1I
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Illl:ll('llll .1 1:l:llll;t1IZ;II:~Cl
dll I'lldl'l
91
')
central. O ato adicional de 1834, ao separar o Município da Corte da provín-
cia do Rio de Janeiro, garante o controle administrativo desta, que passa a
ser responsabilidade do Ministério do Império
As posturas municipais procuravam organizar e fiscalizar a presença amea-
çadora dos escravos no espaço urbano. Em nome do considerado bem público,
elas enquadravam senhores e escravos pois, estes ao transporem os limites da
casa, passavam a ser uma preocupação do Estado:
'54 Câmara desta mui Leal e Heróica Cidade de S am Sebastiam do Rio de;tlneiro,
desejando promover quanto couber em sua alçada o bem público promovendo e mantendo
a tranqiiilidade , segurança e comodidade de seus concidadãos ...
Art.l ° - Em todos osJuízes de Paz do Império haverá hum livro de matrícula todos o.'
escrams existentes, ou d 'ora em diante nascerem, com declaração dos nomes, naturali
dade, idades, estados, ocupações e signaes característicos e bem assim dos nomes e residêll
cias dos senhores
Art.2° Esta matricula devera ficar feita e concluída 60 dias depois de publicada 111
posturas .
Art 30_ Ninguem poderá ter escra1JOS
ao ganho sem tirar licença da Camara Municipltl,
recebendo com a licença uma chapa de metal numerada a qual devera andar sempre ((illl
o ganhador em lugar vi.ríveL O que Jór encontrado a ganhar sem a chapa, sofrera 8 dilll
de calabouço sendo escravo e sendo livre 8 dias de cadeia ..
Art 6° Todo escravo queJór encontrado das 7 horas em diante sem escripto de seu setllJIJ/,
datado do mesmo dia, no qual declara ofim a que vae, soffrera 8 dias deprisão, e Sl'llrl"
livre, 8 dias de cadeia.
Art. r -]Cozca prohibido aos senhores de escravos o consentires que el/es morem sobn' II ,
apretexto de qui/andarem, ou por qualquer outro; os transgressores serão punidos mlll r,
a 15 dias de prisão e multa de 10a 30 $para os senhores, e os escravos castigados ((111
açoites e trarão por anos ferro ao pescoço, penas estas, que serão dobradas hrll){'/IrI"
reincidências.
Art 31°_ Sobre a Praça do Mercado. Fica prohibido nadarem aspretas de ganho rlmll ,I
das praças e os escravos que aI/i Jórem mandados por seus senhores fazer comprll.",11,1"
deverão se demorar além do tempo necessário para ifftctua-Ias e o fisC(/1 II/(///(/'/(II
14
dispensar" .
Com relação ao rigor do artigo rdas posturas por exemplo, de11l111l11
o quanto era comum essa prática .. No centro da Cidade crescia, juntanH'lIl1 ,
com o processo de urbani:>.ação os cortiços, verdadeiras tlJ1'/lZIt/rlJ IIrllllIIi/l"
que atendiam aos inll'fl'SSl'S de proprielftrios e escravos, gar:l1lidn :1 pmxlllll
d:dv dns «'nlrns (nlll('1'( I:II~" ViiI<-apII's('III:1I 11111:1
d,ls 111l11I1l'1':I~
11'(1:1111.1<,'11'
til ',~,.IJllóllil':I:
" Secretaria de Policia da Corte 193 1860
Existe n"esta cidade um grande numero de casa alugadas diretamente a escra-
vos, ou à pessoas livres que parcialmente as sublocão a escravos.
Os males resultantes de um tal procedimento tão notórios, ninguém ignorando que essas
casas ale de serem valha-collto de escravosjitgido e malfeitores e mesmo de ratoeiros livres,
tornão-se verdadeiras espeluncas, onde predominão o vicio e a imoralidade de baixo de
mil formas dif!erentes.
Urgente seria pois reprimir severamente semelhante abuso, prohindo se alugar ous sublo-
car qualquer casa, ou parte della a escravos ainda mesmo munidos de autorização dos
,15
senhores para essefim. '
A cidade sentia-se ameaçada. As noticias de rebeliões de escravos refletiam-
11' nas medidas rigorosas criadas na legislação provincial. Como podemos citar a
'"Ida de pavor que após as insurreições baianas e particularmente a dos Nagôs
16
, 1111826, 1828 e 1830 e dos Malês . Os escravos ladinos da Bahia eram conside-
1,Idos suspeitos e por decisão da justiça em 18 de março de 1835, é exigida folha
, •Inida que orientasse da suspeita de serem envolvidos na última insurreição
.I,l<lucla cidade. Mesmo escravos acompanhados dos senhores só podiam desem-
I,"car no Rio de Janeiro apresentando esse folha. Um mês mais tarde a medida é
II,r:lndada, limitando a exigência" aOJ africanoJ maioreJ ) principalmente mina) que Je vêm
I"/llkr na Corte. Tentava-se evitar a contaminação dos escravos da cidade pelas idéias
,li ',ses escravos rebeldes. Para o contemporâneo, o escravo urbano, deixado a maior
I11I1('do tempo a si mesmo, vendendo livremente nas ruas ou alugando ou sublo-
I IIIt10 quartos independentes, era considerado um perigo que a imprevidência de
I.11 LIpopulação urbana, que vivia às suas custas, estava fomentando.
Apesar do grande medo urbano de uma rebelião negra, não encontrei na
"1111I111Cntaçãoqualquer referência a movimentos coletivos e organizados contra
I' ,I',lema feito pelos escravos da cidade do Rio de Janeiro. O que poderia ser
jll IIIÚ'ado, por um lado pela heterogeneidade étnica( Ijexa, Ebá, Aboum Haussá,
!lIllhil1llas, Oyó, Nagô entre outros) denominados "boçais", quando desconhe-
I 11111
,I lín~a e os costumes da terra e "ladinos"aos que nasciam aqui ou eram
11I Id.)s (após o fim do tráfico em1850) de outras provincial do Império, especi-
.11111
Ille do nordeste. Por outro lado a concorrência no trabalho gerando o receio
I, 111
Illl'!" as vantagens relativas adquiridas o que muitas vezes transformava o
I[ li. 11I11:1I1IenlO
enlre o escravo e o senhor mais ameno do que entre dois escra-
i I 1111
,'111
rl' UIll escravo e um liberto.
111'~IIHI
:lssiI11,para conlrolar seus passos na cidade, foram criadas restri-
01 II",.II~" idl·nngiras, qlll' :llingial11 l1:ío :qx'nas o escravo, mas o negro de
111111111,1
gll:tI 1.llV,O,
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Esses negros "tigres" que percorriam grotescamente as ruas da cidade semi-
nus, atrelados a correntes carregando os dejetos da cidade seriam, juntamente com os
aguadeiros a própria representação ambulante da caótica estrutura, ou melhor dizen-
do, da falta de estrutura urbana da corte. A água distribuída em grandes pipas ao
preço de 30 a 40 réis no período das chuvas, tornava-se durante o verão um artigo de
luxo, chegando a custar de 200 300 reis.Nas principais fontes os negros de ganho
llisputavam violentamente a possibilidade de encher seus tonéis, necessitando da in-
Invenção da polícia para organizar as filas e reprimir as brigas constantes
Associo agora aos modos de ver dos cronistas, viajanjantes e aos homens da
hurocracia municipal as imagens produzidas pelos pioneiros fotógrafos da corte ..
A rotografia associada a cartofilia, expressando a necessidade de visibilidade indi-
Vidual ou coletiva, dando status,comprovando viagens, enviando lembranças A
IlIdustria da cartofilia, aproveitando-se da curiosidade despertada pelos escravos
IIrhanos, reproduzia-os como objeto de propaganda do exotismo do país. Prática
'llI1denada, por alguns intelectuais da época, por reforçar a imagem do Brasil
IOlnO uma terra de selvagens. Na cidade do Rio de Janeiro, vamos encontrá-la
IIslrita aos primeiros "daguerreotipistas", que trabalhavam no país nos decênios
til' 40 a 50 do século XIX. A partir da década de 60, a imagem única produzida
Ili 10 daguerreótipo, começava a ser colocada de lado em virtude das novas técni-
I IH.•( multiplicadoras das cópias feitas do negativo).
O desejo de ser fotografado apossa-se de todos. Os grandes proprietários
1.llografavam sua família e seus escravos trajados, especialmente para a ocasião.
 pose e a montagem de estúdio representavam formas de exibição de poder.
18
 Il':lvés do punctus barthiano, ou seja, os pontos deixando-me atingir pelos
I'IIIIIOS sensíveis que saem da foto tal como uma seta, aguçando a sensibilidade
tI,l Ilistoriadora para deter-
1IIIIIados aspectos captados
~ I ,plicitados nas cenas do
'"lldiano, transportadas
11.1
L 1 o estúdio fotográfico.
No jogo entre o pas-
1IIIII' o presente, as ima-
,,"' .. documentos nos
'1"I.:";"lltam as Áfricas ca-
li' ,r ,I, I 11:lIn:lndo a atenção
ILI 1';1 ( II arrt:gador de cadei
i iidl,111 1:1ll sua atividadt:,
11IlIIl/.illdo ul1la rila St"
jlli 1111 11:. SOII!'d:ld, '. Nl'ss:1
11,,,,, ,d"~111 dll ,I',p('(11I 1i':1
encaminhava à Câmara um pedido formal, onde constava sua própria identifica-
ção e endereço, lado a lado com os dados básicos ( origem, sexo, idade) de todos
os escravos que seriam colocados nessa atividade. Estes, sob pena de prisão, por-
tavam nas ruas uma chapa de identificação com o número do alvará concedido
Com efeito, a população enquadrada nessas posturas incluía, além dos escra-
vos de ganho, de aluguel e domésticos, os negros e mulatos libertos. Era também
uma forma de controlar a presença, na cidade de "negros fujões " que aqui tenta-
vam burlar a fiscalização. Todo negro era suspeito, atitude que, como sabemos, até
hoje permanece vigente na mentalidade brasileira. Quem duvidar preste atenção em
qualquer batida policial: sempre o negro-bem ou mal vestido - é suspeito.
Os escravos desenvolveram no cotidiano da cidade imperial táticas de sobre
vivência que, a longo prazo acabam subvertendo as relações escravistas tradicio
nais. Os anúncios de jornais e os pedidos de licenças feitos a Câmara Municipal,
revelaram a existência de escravos de vários níveis de especializações Encontra
mos na cidade o escravo de aluguel e o de ganho. Enquanto o escravo de aluguel
tinha seus serviços oferecidos pelo proprietário que estabelecia o tipo de trabalho
e as condições de pagamento. Era comum senhores ensinarem alguma arte 011
ofício, aumentando a jornada recebida pelo seu aluguel. O sistema de aluguel n?i<)
era específico da cidade já o encontramos nos primórdios da escravidão coloni:d
o emprego do aluguel de escravo nas pequenas colheitas.
Já o sistema de ganho, apresenta-se como uma especificidade do espa~'()
urbano - uma nova face da escravidão. O ganhador ou ganhadeira tornam SI
figuras imprescindíveis numa época em que a cidade crescia.Diferente do escrav I
de aluguel, o negro de ganho oferecia diretamente seu serviço no mercado. ESSI
escravo deveria com seu trabalho prover o próprio sustento e ainda levar ao pn I
prietário parte do rendimento. O escravo de ganho não era um grupo homogl
neo. Existia entre esses escravos uma hierarquia que estava relacionada ao tipo dI
trabalho, ao ganho recebido, além das diferenças étnicas.
Os negros de ganho aparecem nas funções de carregadores, estivadores dI'
porto, remadores e vendedores ambulantes, barbeiros. Os negros carregadml'
diferenciavam-se pelos produtos que transportassem, possuindo frente ao gnq li'
maior ou menor status. Assim sendo, o negro carregador de lixo e excrel11t"IIIi,
ocupava o lugar mais baixo, sendo considerado o mais vil dos serviços, des Ii1I
~I
dos a prisioneiro ou negros boçais. Esse tipo de carregador era imprescindívd 11.1
cidade que não possuía um sistema de esgotos que suportasse o seu creSCil11t"lIl11
(~.Aguas servidas, matéria ftcai.r, i?lIIl11dices de loda a cas/rl, /)I'mlalll'l'eIll, mlllll,1 '/1'1111"
/al'es. Não existem ,(ossas, plidlll brl/'li.!', I (('llr1 IIIJ/~/.!' 1'1I1'1"11(11,"
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I1I
97
~Sllll C0l110 variava a função do negro de ganho, variava também a cota
11
IIIOS seus proprieuhios de acordo com a ocupação, idade, sexo, saúde, Criou-
11111
I I, 11',11:
qUl' pudl'sse vi:lhiliz:tr o SiSIl'I11:t.
UI11carregador de cadeiras pagav:l
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~·I()II'I" (l', (~(I,III~, 1':11':1
(11I1~I'gllll 1,1/,-.11
"
primeiro como simples palha, depois na plenitude de sua forma, pronto para dar
conta das múltiplas atividades para o qual se destinava. O cesto e o escravo de
ganho confundem-se, sendo apresentados como mercadorias essências na vida
da cidade. Outro aspecto que se destaca é a gestualidade da representação caricata
da cordialidade da cultura dominante. O chapéu, assim como o cesto são peças
i"undamentais na cena. Ora na cabeça, ora nas mãos ou então, numa exibição
paradoxal da elegância dos negros, fazendo parte do jogo ritualístico do cumpri-
llento no encontro improvisado.
Os escravos que trabalhavam na alfândega - eram os que recebiam os maio-
n's jornais ou seja, ganhos. Negros jovens e robustos alugando seu serviço entre
II armazém e o porto e carregando navios, transportavam todas as mercadorias
II"C chegavam a cidade e saíam. Finalmente temos os negros que trabalhavam
'O!TIO vendedores ambulantes. Vendia-se de tudo na cidade- era o
:Illlburá,carvão,café torrado, capim, leite, cestos e outros utensílios de palha. Os
111l'gõesdos vendedores, com seus ritmos culturais ecoavam nas ruas da cidade
1II.Ircando o espaço de cada um.
O circular pela cidade, a escolha das ruas, os lugares de parada, os encontros
I Ionflitos definiam as táticas de sobrevivência. Para regular essas vendas, dimi-
1I11111do
os conflitos, surge entre esses escravos uma espécie de instituição sem
I .11
:ller legal, porém de aceitação de fato, como uma regra interna de convivência
( ls Cantos que reuniam trabalhadores libertos e escravos por etnias ou ocupa-
I , 11 ,~. Possuíam também importante função no auxílio mútuo para a alforria de
, II~ membros, como por exemplo dos carregadores de café, escravo da nação
111111:1,
que detinham o monopólio desse serviço e que, através de uma organiza-
• lI! de empréstimo semanais, adiantavam dinheiro para alforria um dos
-11111
Is.lnfelizmente pouco consegui levantar na documentação pesquisada sobre
" IIIIHionamento interno dessa instituição no Rio de Janeiro, a não ser algumas
19
I 1I11,Ol'S.
Em seu trabalho, Reis ,traça algumas características do funcionamento
di" I :llltoS em Salvador, que acredito possa ter alguma similitude com os cantos
1I'.",I:I,volvidos pelos negros de ganho nas ruas do Rio de Janeiro. Afirma o autor:
"cada um canto tinha um líder que se chamava caPital do Canto(...) Na Bahia , o
Capitão do Canto Intermediava a relação do ganhador com o contratador: acertava
.rerviços, estabelecia preços. Não .rabemo.r aos certo se pegava peso como os outros. Tam-
bétt/ desconhecemos que era exigido de.rse.rhomen.r(...) Havia eleição para o cargo de
mj>i/r/o, /1/ais {~noramo.r as regra.r... ))
Fonte: Christiano Junior . s.,,,
título-1864-1866
~~
I 111111 {1l11~11.1I111
111111111 ~1'lil 11111111
I HI,·I IHI,I,
tral já apresentado na pose, exibe dois escravos refinadamente vestidos; o primei-
ro plenamente incorporado ao seu papel coloca-se numa atitude cerimoniosa frente
a dama. Esta é o foco da objetiva nem tão objetiva do fotógrafo, sua expressão
:ontraída contrasta-se com a maneira displicente do segundo carregador. São
inÚmeras as imagens de carregadores de cadeirinhas da cidade do Rio de Janeiro,
a selecionada retrata uma cena de Salvador, entretanto 'ela poderia perfeitamente
rcpresentar o que constantemente acontecia nas ruas do Rio de Janeiro.
Nas fotos abaixo o que se vê são homens negros descalços- como todos os
cscravos deveriam andar, teatralizando seu ofício. Embora não olhem para o fo-
tografo ele está presente na expressão tensa dos modelos. Além dos homens,
outro aspecto que me toca nessa foto é o cesto. Ele é colocado em destaque,
li
devido ao seu proprietário e viver um pouco melhor, exerciam dupla função. Era
comum, nas imagens dos contemporâneos, o registro de negros carregadores
aguardando fregueses enquanto teciam palha, preparavam rosários, enfeites, fa-
bricando correntes de arame para prender papagaio, esteira, e chapéus de palha.
Sobreviver na cidade e desfrutar de uma certa liberdade no cativeiro impu-
nha ao negro de ganho uma verdadeira luta contra as doenças freqüentes em
decorrência das más condições de vida, alimentação inadequada, habitações pre-
cárias. Os anúncios dos jornais consultados fazem uma denúncia involuntária do
estado de saúde dos escravos da cidade, das constantes contaminações da popu-
lação e da sua grande mortalidade . Era a erisipela, os efeitos do raquitismo, a
bexiga, o escorbuto, os furúnculos, o vírus venéreo, a sarna, a elefantiase, os bi
chos de péDados do Relatório da Diretoria de Saúde Pública apontavam algumas
epidemias que dizimaram, principalmente, a população escrava da cidade, como
por exemplo, em 1850, a de febre amarela que fez 4.160 vítimas, m 1855, a de
cÓlera -morbo com 4828 vítimas; em 1857 e 1860, a de febre amarela; em 1865, a
de varíola e em 1867 e 1868, novamente o cólera morbo
Estamos analisando a escravidão as freguesias Urbanas ou Comerciais qur
20
segundo Noronha Santos seriam as seguintes: Candelária( 1634), São José( 1751),
I.:ngenho Novo(1873), Espírito Santo (1856), Gávea( 1873), Gloria(1834), Sacra
l11ento(1826), Santana (1814), Santa Rita( 1721), São Cristóvão ( 1856), Santo
Al1tonio ( 1854) , São João Baptista da Lagoa ( 1809). Nestes locais, mesmo soh
('()l1lrolc, as convivências efetivavam-se, denunciando uma espécie de tolerância,
1111
kchar de olhos para determinadas práticas, como por exemplo, a presença (LI
I ~l 1:lvaria em festas como a da Glória. Fora das festas, no tempo da normalidadl
(11I1I11:llla,
é possível observar outras formas de convivências, denunciando UI1LI
1',11 tI(' til' tolerância de práticas condenadas pelas posturas municipais, como !lIli
I .t·lllplo:l existência nas freguesias urbanas, de cirurgiões negros que curavalll
.111
.IV('Sde belneduras, talismãs, ervas, e principalmente, da aplicação de ventos:l'
A 11I't'sença desses curandeiros, de origem africana e indí~ena, rivalizava-se COIII
()s poucos e desacreditados médicos de cultura européia.
( oportuno ressaltar que essa política notadamente tolerante da MOnanlli.1
explicar-ser-ía pelo próprio sistema escravista que definia, rigorosamente, a po'"
çao sócio-econômica de cada pessoa, de cada grupo, de suas relações de podt'1 II.
senhores de terra, mas principalmente de homens. Essa tolerância foi ratll(.tI
mente substituída, logo nos primeiros anos da República, por um cos1110!l0IIlI"
1110agressivo, negando todo e qualquer elemento das práticas popul:trt'~, .1,
cultura.22Confor11le explicil:t os artigos 156,157,158 do Código Penal dI' IKI)(I
IrI. I 'ilí: / :.''/·rn·r 1I1(·tlirl/l/l ('1111/lltIllfllI'l' tio.' .1'1'1I1' /fIlllfi! /. ri IIIJto tll'/IlllI1rl Il
1;lIlllllllrl. 1"rlllr,1I ri /lolIIl'lif"tI/rI, ri rlOIIIII!'!/1,I. O /11/1/10111I111I
fi/l 1111(1:"1'111111I
,11I;
11'1/1"1/,11/1'';'1111''1/11
1t'1~/1(/'/1I
,,,Idl r' /"/:/1/'11I11'I11111
/"'1/111 /'ly,,/(lII'IIII,II/'OI 1/'11,1 1,Ii
meses e multa de 100$ a 500$000.Parágrafo Único- peios abusos cometidos no exercí-
cio ilegal da medicina em gera~ os autores sofrerão, além das penas estabeiecidaJ, as que
forem impostas aos crimes a que deram causa. I(
Art-157- Praticar o e.rpiritismo, a magia e seus sortilégios, UJar tali.rmãs e cartomancias
para de.rpertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar curas de moléJtias curaveis ou
incuraveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica. Penas de prisão ceiu-
lar por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000.
Art. 158- Mini.rtrar ou simplesmente preescrever como meio curativo para uso interno
ou externo, e sob qualquer forma preparada, substância de qualquer dos reinos da
natureza,fazendo, ou exercendo assim, o oficio denominado curandeiro: penaJ deprisão
2J
por seis meses e multa de 100$ a 500$000.
Os artigos da lei enquadravam duas experiências execradas pelo mito da
Illodernidade: o rudimentar barbeiro cirurgião do povo das ruas, cuja origem
lI'montaria a Idade Média e, as práticas religiosas dos afra - descendentes consi-
Ilrradas barbarismo fetichista e curandeirismo, enfim uma memória indesejável
24
11.1
cidade colonial e Imperial que ainda resistia na cidade republicana
Através dos relatos dos cronistas e apoiados na documentação, eu poderia
1llllIar, se tivesse tal habilidade, um dia qualquer perdido na cidade imperial, o que
I.llri agora através de uma descrição.
A cidade amanhece. Aos poucos eles vão chegando. Usam calções de algo-
'-' 11)
harato, estão descalços, como todo escravo deve andar. São negros e negras
,I. dif"crentes etnias, são ladinos, são crioulos. Localizam-se nas esquinas, nos
I" IIlc )S,nas portas das lojas. Atropelam-se na disputa de um freguês. As ruelas da
, 1.I.llk são muitas vezes transformadas em praças de guerra de todas as lutas,
,. 1,l('sentações de ritos iniciáticos de guerreiros em disputa de seu troféu maior-
I ,111
)rl'vivência. O Calabouço sempre lotado reflete a ação das autoridades. O
11tI ••tI110 é incessante, mal dá tempo para comer, mesmo assim as solidariedades
"'llilc·cem. Os encontros no Paço, nas proximidades do Porto, no Rocio, sempre
111 Illlla dos caldeirões de angú das baianas quituteiras, figuras centrais no coti-
Illilll tI:1cidade. Mulheres escravas ou forras, que mesmo antes de qualquer pro-
l~'" Ik libertação feminina já estavam nas ruas da cidade, com seus f1lhos en-
'lI<1I;II1osna cintura, ou correndo ao redor dos tabuleiros Quando a noite chega
, I, " S:I<)obrigados a se recolherem ou dirigindo-se à casa dos seus senhor,
25
11/111,
o mais comum, era ir para algum quartinho sublocado ilegalmente.
111)1:1111
1~lnto homens e mulheres renomeados que carregaram essa cidade:
11 il' ,li lliIC;:Hl
Congo, Manocl da Nação Benguela, Adão, Alberto, Cassiano, Bo-
il".,II", 'II~(' ':JCiI110,Irmluicl, todos da nação Mina, Macário, Pedro, Geriacó, Ce-
lj ~IIII,I", S:JIIIIII) '1(11)1:1~, IlIdos tI:J 1':lt:ao N:Jg(>. I)iollíso Moc:lmbiqlle, Diogo
.1'11111,1,
1>.1111<,1
, AI.flllllll til' AII/'.O!.I
, 10;111
('OI')',Cl M;lri:Js tI:1 ll:lt;:I() 1)('11)111'11:1,
99
ÁI1tII1t1ala 111111:1,
.1ali 11
Ia l1ago, l{o~:1I;l,do COI1,1Il,
.I11~'(Ii dI llgol:1. I':il'~Ii':1i'1
am, juntamente, COIl1
a cruz de Cerro l11arGldo l10 (OIIHI, (lIlll:l~ "ll1:lIcas d;1ll'1'ra",
ou então, marcas reinventadas pelas mãos habilidosas dos velhos "cirurgiCí('~:
negros" tatuadores, as representações simbólicas da Africa M;k, provedora c ga
rantidora da humanidade tão aviltada pela coisificação da escravidão. Nos labiril1
tos da cidade imperial escravos mapeavam nos seus corpos os caminhos para :1
África perdida de cada um as cicatrizes de uma idealizada identidade cultural.
10
11
J?
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
Notas
Doutora em História Social pela USP. Professora do Departamento de História d:1
UERJ e UGE
CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Cia das Letras, 1991. p.23
Ver: A Educação pelo Olhar: Simone Weil e a Filosofia da Atenção apud BOSl,
Alfredo In O Olhar (vários autores) São Paulo: Cia das Letras. 1989.p.82 a 86.
FREUD, S. O Mal estar na civilização. p. 431, 432
MUSIL, Robert. L'Homme sans qtlalité. Paris: Gallimard, Folio.T.l,p.2
FOUCAULT, Michel. A Mimiflsica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
CERTEAU, Michel de.A InvençãodoCotidiano-Altes defazer. Rio de janeiro:Vozes 1994.
Michel de Certeau. Op. cit.p.41.
SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Negro na Rlla- A Nova Face da eJcravidão. São
Paulo: Hucitec, 1988.
Marilene Rosa Nogueira da Silva.O Grupo Social que explorava o escravo de ganho
In Negro Na Rua op. Cit. p. 143-156.
Debret. Op. CitoP.256.
EWBANK, Thomas. ,/1 vida 110 Brcwl Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1973.
LUCCOCK,johnn . Notas Jobreo Rio deJaneiro eparteJ meridionaÚdo Brc/JIl São Paulo:
]jv. Martins, 1951.p.75.
AGCRj-códice 6.1.55
AGCRJ-códice 6-1.55
Ver REIS, João José. Rebeldia escrava,o levante de Males. São Paulo: Brasiliense, 1986.
RIBEYROLLES, Charles. 13raJi!PitoreJco 1822-1860. 2° volume. Belo Horizonte:
Itatiaia, São Paulo, 1980.p188.
BARTHES, Roland. A Câmara C/ara. Lisboa: Edições 70, São Paulo: Martins Fon-
tes,1980,
J.J. Reis. Op. Cit. P 202
SANTOS, Francisco Noronha. As hegllesias do Rio Antzgo. Rio de janeiro: Edições O
Cruzeiro, sd.
Ver MONTEIRO, Paula. Da Doença a DeJordem. Rio de janeiro: Graal,1985
A complexa discussão sobre a definição de Cultura popular questionada por Pierre
Bordieu em Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectivas, 1975, que
1"11 11111
P:lll'lill'SI'So 1:11,11('1
l'Olill'stadot d, rul1ura popubr pata ahorda Ia sob o
"ISlll:111.1
(cliISl't1':1<;:1< I, 1st
() l', pcl() que l1elaexiste de reprodução e assimilação dos
v.tI(
II'l'S dominanles. Concordando em parte com o autor pois não consideramos
(',101
COl1l0uma oulra cultura, entretanto não dá para relegar as características de
,q1(lpriaçao e adaptação como um fator de resistência. Tratamos a questão na pers-
11('(
tiva formulada por Bakthin sobre a circularidade da cultura novamente proposta
pm Carlo Ginzburgo em Os Queijos e os Vermes. São Paulo: Cia das Letras, 1987.
(:c'ldigo Penal dos Estados Unidos do Brasil, promulgado pelo Decreto n° 847 de 11
!il' outubro de 1890.p.23
Ver IJmRUN, François. Os CirurgiõeJ -BarbeiroJ. In jacques Le GofE. AJ Doenças tem
IliJ/rÍlia. Lisboa: Terramar, 1991.pp.299-321.
Marilene Rosa Nogueira da Silva. Negro na Rua. Op. Citop.ll1.
Sumário
#~,
fG~
~ UERJ ~
'" 11 '"
<b (S11011 ~
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Agradecimentos------------------
5
REITORA
Nilcéa Freire
VICE-REITOR
Celso Sá
SUB-REITOR DE GRADUAçÃojSR-l
Isac Vasconcellos
SUB-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E
PESQUlSAjSR-2
Maria Andréa Rios Loyola
SUB-REITOR DE EXTENSÃO
E CULTURAjSR-3
André Lázaro
DIRETOR DO DEPARTAMENTO CULTURAL
Roberto Conduru
COORDENADORA DE PROJETOS E AÇÕES
CULTURAIS
Vera Beatriz Siqueira
Apresentação
Artigos
Em Algum Lugar do Passado. Cultura e história na cidade
do Rio de Janeiro
Antônio Edmilson M. Rodrigues
7
1 1
A Capitalidade do Rio de Janeiro.
Um exercício de reflexão histórica
André Nunes de Azevedo 45
Catalogação na Ponte
Departamento Nacional do Livro
S471a Seminário Rio de Janeiro: capital e capitalidade (Rio de
Janeiro)
Anais do seminário Rio de Janeiro: capital e capitalidade,
Rio de Janeiro, 23 a 26 de outubro de 2000 / Organizador,
André Nunes dc Azevedo. -- Rio de Janeiro: Departamento
Cultural/NAPE/DEPEXT /SR-3/UERJ, 2002.
180p.; 23cm
A História do Rio de Janeiro como espelho
da monarquia portuguesa 1660-1763
Rodrigo Bentes Monteiro
O Rio de Janeiro e a Experiência Imperial
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65
77
87
159
125
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J FIIHHO: lIolaH hihlio{.!;l·áfieuH
(' C'Olll4'II1líl'ioH (C'I'ílin'H) Hol)l'(' 1111I11
1I0VII illl.·"V.·II(~11O 1111
C'idlld.' do lCio d.' .lllll4'in.
111U'111 c 1 I1 eh I
CDD981.53
ISBN: 85-86065-06-4
(:onl'(l(llIlu;tlu (I•.' 1»I·udll~·ílO I,/(( ltI A/filo: Plujc.tu (~I uli, fI" t :UI"l t .'II/tl/ll 11'10 I' Ih///fI (;1 illlJi
l)h'WIIllHu.;lm UmlUlIl (."1110dI' A 10/(1". I(f'vi,AjJttl 111 011111.1' I ,111 111' Il,tllll U"IIIII': ,ltllltll"
NAPE/D EPEXT/SR·3/U ERJ
Rua São Francisco Xavier, 524, Sala 1054, 13loco F M:II':!( ,111,1
20550·0 I:~ Riode .I""l'iro R.I ·ll·l.: (021) 25H7 71 (,r, / "', ••7 7'1'111 ,. 1I1
.•il: ,1:'1><'((/'"(,' j.l)I
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~
~Rio de Janeiro (Cidade) - História. 2. Rio de Janeiro-
Usos e 'êllJstumes. 1. Azevedo, André Nunes de.

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  • 1. Anais do Seminário Rio de Janeiro: apital e abita idaae de 23 a 26 de outubro de 2000 Organizador André Nunes de Azevedo Rio de Janeil'o Departamento Cultural NAPE/DEPEXT/SR-3/UERJ 2002 .)C)«">O"'W k."( -...l I~fJ ~O
  • 2. Nota MANET, Edouard. Lettresdejeunesse-1848-1849. V0'agea Rio. Paris: Louis R<lIlólll et ftls editeurs, si J NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império. 4' ed. Rio de Janeiro: Aguilar, I()I:', p. 76 SAlNT-ApOLPHE ].CR. Milliet de. Dicionário geogr4ftco) histórico e de.rcritivo do JII//!/'II/I do Brasil 2 ed. Paris, 1863, p.429 EWBANK, Thomas. Vida no Brasil Rio de Janeiro: Conquista, 1976, p. 32? para toda esta parte, d. MATTOS , Umar Rohloff de. Otempo .raquarema. 4 ec!.{H I de Janeiro: ACCESS Ed., 1999, pp. 73-76 d. MATTOS, limar Rohloff de. Op. Cit., pp. 28-42. NABUCO,Joaqim. Op. cit., p. 145. cE. MATTOS, Selma Rinaldi de. O Bra.ril em lições. A hi.rtória como disciplina escolc,,' /'11. Joaquim Manuel de Macedo. Rio de Janeiro: ACCESS Ed., 2000. "O H.io de Janeiro Imperial e suas Áfricas Visíveis" Marilene Rosa Nogueira da Silva1 Eu também imaginei um modelo de cidade do qual extraio todas as outra.r - respondeu Marco Polo - é uma cidadefeita só de impedimentos, contradições, incongmên- cias) contra senso. Se uma cidade assim e o que há de JIlais iJllprováve~ diminuindo o ntÍmero do.r e!emertto.r anormais aumenta a probabilidade de que a cidade realmente 2 exista .. JJ Articular os diferentes saberes, desenvolver a capacidade de ir e vir do tem- po dos mortos para o tempo dos vivos, sem comprometê-Ios, são alguns dos desafios que enfrentam os historiadores de ofício .Como discutir sem paixão os 11roblemasque nos rondam como espectros gerados pela complexa relação cida- llc e modernidade; quando a pressa do cotidiano impõe o ritmo pelo tempo da produção, massificando as pessoas dissolvendo a capacidade de compreensão do Indivíduo, fazendo com que percam a capacidade do "o/har atenção'~ vencidos pela óll1gústia da pressa. A atenção mora e demora no tempo sendo 'um olhar profun- (10 e despojado, porém um olhar que age e une uma consciência a uma ação dicaz. Enfim o olhar atenção se exerce no tempo, captando por isso as mudanças llue sofrem os homens e as coisas. Só a visão diacrônica revela o processo, tantas 3 vezes conflituoso que formou a aparência .
  • 3. Desta 11l:llt'ir:l,propolho o tkslol':IIll'lllo tio 1,111.11 ,III'IH"IOdo It'IlIlO di, poder nos sobrados, nos palácios, no Senado dn <::1111:11,1, VIIIIIIIIHlSdiSCllrso~ t1J elite condutora do processo de construção do Estado N:ll'I<)IlalMonárlluico, P,II I a considerada" canalha, arraia miúda'~ que carregava a cidade e seus moradoll produzindo desprezo, necessidade e medo. Desprezo pelo trabalho manual (I'I sa de negro e medo da rebeldia de uma população escrava que chegava a SVI I maioria em algumas freguesias. Essa exposição enfoca as contradições e - as ali:,!1 tações delas decorrentes - do sistema escravista tradicional frente as especificl< 1,1 des e necessidades de uma cidade como O Rio de Janeiro, cuja expansão ao ]011'.1 I do século XIX foi marcada por sua função eminentemente comercial. A questão do cotidiano sintetiza e define os procedimentos da discuss:II' que desenvolvo. Cotidiano retomado no século XX valorizando o "HOIIII' 4 ordinário, no dizer de Freud em seu "Mal estar da civilização" , ou então, 11' 5 "Homem sem qualidades"da peça teatral de Musil .0 enfoque dado a uma cul tura ordinária, começa quando esse homem ordinário se torna narrador, dv finindo o lugar ( comum) do discurso e o espaço (anônimo) de seu desenvol vimento. O estudo do cotidiano obriga o historiador a ampliar sobremancir: a concepção de fontes, modificando também o tratamento metodológico uli lizado. Exercício que representa ajustar a capacidade de observação, focali zando numa micro história como uma espécie de reação, com todos os riscos que ele pode conter, contra o estudo das tendências sociais formalizadoras de uma História sem a face humana. No cotidiano se explicita o poder, estabelecendo tanto as estratégias da do minação, quanto as táticas da resistência dos "homens ordinários". Poder qm: numa perspectiva foucaultiana, não apareceria somente como um instrumento de repressão, porém, em sua competência de ramificar-se em nosso dia -a dia: "0 quefaz com que opoder se mantenha e seja aceito é simplesll/ente qNe ele não pesa comojórça qUI! diZ6não} mas dejàto ele permeicl, prodllZ coÚas, induz ao prazer, jórma saber,7Prod1lZ discur- so" . Por outro lado, Certeau na celebração tática da "Arte de Fazer" , faz o inven- tário das ações do cotidiano, numa determinada realidade histórica. O autor não nega a microfísica do poder, as possibilidades encontradas pela população para burlar enfrentar, ou mesmo, transformar os mecanismos do poder. Conforme suas palavras, haveria, portanto, uma espécie de microfísica da resistência nas táticas cotidianas. (~..Se é verdade que por loda pade se estende e se preà.sa (/ rede de "l)igilâllcia)~ mais urgenle ainda é dest'Obrir como é qm uma sociedade inteira não se reduz a ela: que procedimentos popnlares ( larJ/bémll/imísculos e colidicmos jogam com os mecanismo da disciplina e não se conftrma com ela (/ não serpara alterá-Ios; enfim) que (~lJaneira de fazer jOrlJIam a conlrapartida, do lado dos conswllidores( 01/ dominados) , dos processos B mudos que organizam a ordenação sócio politica" "(I'IHIlho It'SSl' IISI:l1tt·,tr:lsrorlll:lr lHll11el1S e Illulheres escnlVizados, em 1111 l,itlmL's, rclidll1indo o lugar comum do seu discurso e o espaço-anônimo de I 11 t1l'st'llvolvimenlO. A escolha desse caminho tem suas dificuldades, pois quan- ,I" ,1':1 1:1 I1dona a explicação dos fenômenos sociais através de uma metodologia '1"' IIS tece em redes gigantescas de causas e efeitos, tentando analisa-los em '-_t1 IIunl5 locais de saber, significa trocar uma série de dificuldades bem mapea- .,1", por outras dificuldades quase desconhecidas. Acompanho a rotina dos escravoS pelas ruas da cidade, articulando as estra- 1I1',i:IS elaboradas pela Câmara Municipal em seu processo de burocratização dos , Ivi~'os necessários a cidade que crescia, às táticas desenvolvidas pelos escravos i'li:;' driblar e subverter de maneira consciente ou não esse poder. Era o negro na '" , era o negro na casa, era o negro nas manufaturas, quer fosse como escravo .lI11 1H::Stico,de aluguel ou de ganho. Era o negro alforriado, ou mesmo o fugitivo 'lIlI' buscava as possibilidades do anonimato oferecido pelo espaço urbano. En- IlIn era o negro para tudo, carregador das riquezas, das pessoas, dos dejetos.- da ll( lpria cidade. Não é de estranhar, em uma sociedade dominada pela ideologia escra- 'lsla de menosprezo ao trabalho manual, ter escravos representava o dese- jl I de toda a população que, dentro de suas possibilidades econômicas, Inia investimentos nesse sentido. Não possuí-los era prova de mendicida- de. Todos os artesãos sem exceção tinham pelo menos um escravo. Padres IniEtares, taverneiros, funcionários, pequenos, médios e grandes negocian- le5 e alugadores de escravos, todos investiam no escravisrno. Escravos e mesmo ex-escravos tornavam-se vítimas e algozes do sistema - na contra- dição extrema de escravo-senhor. O caso de Estevão Jesus, liberto, ilustra essa situação ao requerer que seu antigo senhor lhe reembolsasse 173$400 réis pelo valor de um escravo que possuía no tempo do cativeiro. Exigia além do preço do escravo, a quantia referente aos jornais de que o senhor havia usufruído. 10 Ao analisar os proprietários dos escravos de ganho observei que, em- bora predominassem os homens, muitas mulheres viúvas solicitam licenças para colocar ao ganho seus escravos. Além de ricas proprietárias, encontra- mos àquelas que viviam apenas da exploração de um único escravo, confor- me citação abaixo: "DiZ Agostinha, viÚva, moradora da RIJa do Sabão, que lendo sido presa por ordem do }iscal de Semtana slla tÍnica escrava que pomti, Maria Cabinda por el/a ter deitado circuJ, riO Largo da Cadeia Nova, lugar este que por ignorar a.r.rim ofes, não pode a suppte pagar a J'IIultapor ser pobre por isso recorre a V5. para entregar a refttida escrava dispensando de pagar a multa"
  • 4. <)() Debret na imagem abaixo, consegue captar a situação descrita: Viúva pobre no interior de sua casa Fonte: Debret. Op. Cit. P.304 AfIrma o artista: "ter escolhido o momento do regresso da negra, que entregava à Sf/fI ama o lucro do dia, do qual retirou o necessário para a aquisição de uma penca de bananfl 11 destinada a ceiafrugal de todos os habitantes da casa" Na documentação consultada encontrei vários pedidos de licenças para cs cravos exercerem as mais variadas atividades. JustifIcavam-se esses pedidos pC!;1 difIculdade de se encontrarem homens livres que se dignassem a exerce-Ias. " PeloRegimento do Cirurgião Mor dói reino, não se acha aconselhadaaprohibição rh' exame de escravos, para que possão sangrar, lançar ventosas e sanguessugase fim!' dentes.Por isso admitti a exame opreto Vicente escravodeAnacleto José Coelho.Nrill acheinova razãopara pelo meujuizo deixar de assim o obrar, quando considerando1/1/' vivendonumpaiv onde os homens ingênuos, livres e libertos se negar:;11 ao exercício de muitas occupações, de modo que não há sufficientenume!'oIh' sugeitosmelhorperitos para ocorrera necessidade publica...(grifos meus)" 12 Esses escravos na cidade são, como os viu Ewbank , carpinteiros, calcl'll·j ros" impressores, vendedores, espalhados de maneira geral C 111 todas as atividadl'~ mecânicas, surgindo mesmo dl'signa<,'()l's locais qlll' Sl' nlraCll'ri",:lv:l1l1pdo agrup:I Illl'lllo dl' l'scr:1VOS qut' <l1'SI'IlVlllvi:llll:1i 11111;1 <11'11'1111111;1<1;1 I'spn l:dHI:1111:1I~II:Idllh h'rl;l1llln'~ (.1111.11111,1 <1.1111.111<111;.1),1'1,11.1 dtl" :-;,I1;llt 111l~, (1'1,11.1.1111'111111111;11) É importante ressaltar, que tanto o escravo de ganho, quanto o escravo de aluguel continuavam a pertencer a alguém que ditava qual deveria ser a sua sorte. Desta forma, o tipo de trabalho destinado ao escravo oscilava de acordo com a demanda de mão de obra. A qualquer momento, atendendo aos interesses do mercado, os senhores podiam retira-Ios do ganho, vendê-Ios para o campo ou aluga-Ios para fIns domésticos ou industriais. Essa situação gerava grande insegu- rança nos negros de ganho, os quais procuravam de qualquer maneira garantir a sua atividade através da lucratividade que poderiam oferecer aos seus senhores. Sendo assim, bastante compreensível a concorrência que existia entre eles, tor- nando-os inimigos entre si. Os casos dos delitos que ocorriam na cidade em, sua grande maioria eram cometidos contra escravos pelos próprios escravos. O que caracterizariam esses delitos eram os pequenos furtos, as brigas violentas, as pan- cadarias e arruaças ocasionadas por bebedeiras. Logo qualquer pessoa que amea- <,'asseo trabalho do escravo de ganho era alvo de ódios e vinganças. É bem escla- rl'cedor o relato de Luccock "... No momento em que retirava as minhas bagagens de bordo, entendi de carregarnas minhas próprias mãos um bacamarte de baioneta envolvido numa capa de lã. Não tinha ido longe, quando um senhor inteiramente desconhecido para mim fez-me parar, pedindo que entregasseo que eu estava carregandoa um dos servos, acrescentandoque não era direitoprivar ospretos do seu ganha pão e que issofazendo eu incorreria em grave risco.Mais tarde eleme explicou assegurandoque até contra as oftnsas imaginá- 13 rias a gente das classesmais baixas as vezes exercia vingançasmais sérias" O escravo urbano que o modelo de Estado Liberal em sua Constituição 1ll'sconhece, torna-se visível nos mecanismos de controle desenvolvido pela Câ- 111.lra Municipal no dia a dia da cidade.VerifIca-se assim a existência de dois níveis I 1II11plementares de intervenções - o nacional e local. O primeiro manifesta-se 1ir:lvés da constituição, referendando uma política mais geral, ou seja, um projeto 111 H'ral de Estado que se pretendia implantar. Já no segundo é possível perceber os I III,nitos e tensões relativo as adaptações e aplicações das leis no cotidiano da , Hbde No caso específIco da Cidade do Rio de Janeiro, por sua situação política ,li ~('(Ic administrativa nacional, fIcavam ainda mais evidenciados esses con- 11111lS. Cosmopolitismos e clivagens internas aparecem, portanto como pon- 111', Iwrceptíveis da identidade cultural e política da "Mui Leal e Heróica cida- ,li di' Sam Sebastiam do Rio de Janeiro. Cidade onde a ingerência do poder 'l'lllt;t1l' local definia as articulações e conflitos administrativos, relaciona- ,I"'l 1:11110 as qlll'StflO do mando, quanto às questões orçamentárias da arreca- "11;;10I' :lpliclI<,':1odos imposlos. Por eXl'mplo, basta remontar ao decreto de 111~H '111('11'lil:1tI:1 1:1111:11;1 SII:I~1'I('l'mg:ltiv:lH IvgiHI:llivlIs, illicillndo () procl'S " ,k 11.lr,i1i~:II::'ill1111111111p,1I I: I 011~'(''111( Illl:ll('llll .1 1:l:llll;t1IZ;II:~Cl dll I'lldl'l 91
  • 5. ') central. O ato adicional de 1834, ao separar o Município da Corte da provín- cia do Rio de Janeiro, garante o controle administrativo desta, que passa a ser responsabilidade do Ministério do Império As posturas municipais procuravam organizar e fiscalizar a presença amea- çadora dos escravos no espaço urbano. Em nome do considerado bem público, elas enquadravam senhores e escravos pois, estes ao transporem os limites da casa, passavam a ser uma preocupação do Estado: '54 Câmara desta mui Leal e Heróica Cidade de S am Sebastiam do Rio de;tlneiro, desejando promover quanto couber em sua alçada o bem público promovendo e mantendo a tranqiiilidade , segurança e comodidade de seus concidadãos ... Art.l ° - Em todos osJuízes de Paz do Império haverá hum livro de matrícula todos o.' escrams existentes, ou d 'ora em diante nascerem, com declaração dos nomes, naturali dade, idades, estados, ocupações e signaes característicos e bem assim dos nomes e residêll cias dos senhores Art.2° Esta matricula devera ficar feita e concluída 60 dias depois de publicada 111 posturas . Art 30_ Ninguem poderá ter escra1JOS ao ganho sem tirar licença da Camara Municipltl, recebendo com a licença uma chapa de metal numerada a qual devera andar sempre ((illl o ganhador em lugar vi.ríveL O que Jór encontrado a ganhar sem a chapa, sofrera 8 dilll de calabouço sendo escravo e sendo livre 8 dias de cadeia .. Art 6° Todo escravo queJór encontrado das 7 horas em diante sem escripto de seu setllJIJ/, datado do mesmo dia, no qual declara ofim a que vae, soffrera 8 dias deprisão, e Sl'llrl" livre, 8 dias de cadeia. Art. r -]Cozca prohibido aos senhores de escravos o consentires que el/es morem sobn' II , apretexto de qui/andarem, ou por qualquer outro; os transgressores serão punidos mlll r, a 15 dias de prisão e multa de 10a 30 $para os senhores, e os escravos castigados ((111 açoites e trarão por anos ferro ao pescoço, penas estas, que serão dobradas hrll){'/IrI" reincidências. Art 31°_ Sobre a Praça do Mercado. Fica prohibido nadarem aspretas de ganho rlmll ,I das praças e os escravos que aI/i Jórem mandados por seus senhores fazer comprll.",11,1" deverão se demorar além do tempo necessário para ifftctua-Ias e o fisC(/1 II/(///(/'/(II 14 dispensar" . Com relação ao rigor do artigo rdas posturas por exemplo, de11l111l11 o quanto era comum essa prática .. No centro da Cidade crescia, juntanH'lIl1 , com o processo de urbani:>.ação os cortiços, verdadeiras tlJ1'/lZIt/rlJ IIrllllIIi/l" que atendiam aos inll'fl'SSl'S de proprielftrios e escravos, gar:l1lidn :1 pmxlllll d:dv dns «'nlrns (nlll('1'( I:II~" ViiI<-apII's('III:1I 11111:1 d,ls 111l11I1l'1':I~ 11'(1:1111.1<,'11' til ',~,.IJllóllil':I: " Secretaria de Policia da Corte 193 1860 Existe n"esta cidade um grande numero de casa alugadas diretamente a escra- vos, ou à pessoas livres que parcialmente as sublocão a escravos. Os males resultantes de um tal procedimento tão notórios, ninguém ignorando que essas casas ale de serem valha-collto de escravosjitgido e malfeitores e mesmo de ratoeiros livres, tornão-se verdadeiras espeluncas, onde predominão o vicio e a imoralidade de baixo de mil formas dif!erentes. Urgente seria pois reprimir severamente semelhante abuso, prohindo se alugar ous sublo- car qualquer casa, ou parte della a escravos ainda mesmo munidos de autorização dos ,15 senhores para essefim. ' A cidade sentia-se ameaçada. As noticias de rebeliões de escravos refletiam- 11' nas medidas rigorosas criadas na legislação provincial. Como podemos citar a '"Ida de pavor que após as insurreições baianas e particularmente a dos Nagôs 16 , 1111826, 1828 e 1830 e dos Malês . Os escravos ladinos da Bahia eram conside- 1,Idos suspeitos e por decisão da justiça em 18 de março de 1835, é exigida folha , •Inida que orientasse da suspeita de serem envolvidos na última insurreição .I,l<lucla cidade. Mesmo escravos acompanhados dos senhores só podiam desem- I,"car no Rio de Janeiro apresentando esse folha. Um mês mais tarde a medida é II,r:lndada, limitando a exigência" aOJ africanoJ maioreJ ) principalmente mina) que Je vêm I"/llkr na Corte. Tentava-se evitar a contaminação dos escravos da cidade pelas idéias ,li ',ses escravos rebeldes. Para o contemporâneo, o escravo urbano, deixado a maior I11I1('do tempo a si mesmo, vendendo livremente nas ruas ou alugando ou sublo- I IIIt10 quartos independentes, era considerado um perigo que a imprevidência de I.11 LIpopulação urbana, que vivia às suas custas, estava fomentando. Apesar do grande medo urbano de uma rebelião negra, não encontrei na "1111I111Cntaçãoqualquer referência a movimentos coletivos e organizados contra I' ,I',lema feito pelos escravos da cidade do Rio de Janeiro. O que poderia ser jll IIIÚ'ado, por um lado pela heterogeneidade étnica( Ijexa, Ebá, Aboum Haussá, !lIllhil1llas, Oyó, Nagô entre outros) denominados "boçais", quando desconhe- I 11111 ,I lín~a e os costumes da terra e "ladinos"aos que nasciam aqui ou eram 11I Id.)s (após o fim do tráfico em1850) de outras provincial do Império, especi- .11111 Ille do nordeste. Por outro lado a concorrência no trabalho gerando o receio I, 111 Illl'!" as vantagens relativas adquiridas o que muitas vezes transformava o I[ li. 11I11:1I1IenlO enlre o escravo e o senhor mais ameno do que entre dois escra- i I 1111 ,'111 rl' UIll escravo e um liberto. 111'~IIHI :lssiI11,para conlrolar seus passos na cidade, foram criadas restri- 01 II",.II~" idl·nngiras, qlll' :llingial11 l1:ío :qx'nas o escravo, mas o negro de 111111111,1 gll:tI 1.llV,O, .1'> Illl·IH,.I~ "':11110 (.llllIldHllvg:d p:lr: o g:ln!1o, alivid:ld<.: 1111 , 11',1,1, 1111110 '11111.1 <!",tI'l"lI, p.II".1I11l1l1'l.lC .lh.II,1, () 11'11111'1:1110 jllll'I('S~:(lo 93
  • 6. 95 I'flllll' AIIHlllilllill) IIh'IIIIIH;HLt IH(,() ilJHUL (.iII'lIIN Il:uvl'IIlCl M:1H'1l1l dl'lll lll- r111111.l A l'I,IT"~ll.1 li.! ( ,1l1l11}',,' (".lltlt 'I'H'~sn ,dCl til' 1111.1 }I!II'I dlllll')',lillllllt,l'.l1 'd"l',nllll 1,1111',1' 'lIlIll.l',(I!U Esses negros "tigres" que percorriam grotescamente as ruas da cidade semi- nus, atrelados a correntes carregando os dejetos da cidade seriam, juntamente com os aguadeiros a própria representação ambulante da caótica estrutura, ou melhor dizen- do, da falta de estrutura urbana da corte. A água distribuída em grandes pipas ao preço de 30 a 40 réis no período das chuvas, tornava-se durante o verão um artigo de luxo, chegando a custar de 200 300 reis.Nas principais fontes os negros de ganho llisputavam violentamente a possibilidade de encher seus tonéis, necessitando da in- Invenção da polícia para organizar as filas e reprimir as brigas constantes Associo agora aos modos de ver dos cronistas, viajanjantes e aos homens da hurocracia municipal as imagens produzidas pelos pioneiros fotógrafos da corte .. A rotografia associada a cartofilia, expressando a necessidade de visibilidade indi- Vidual ou coletiva, dando status,comprovando viagens, enviando lembranças A IlIdustria da cartofilia, aproveitando-se da curiosidade despertada pelos escravos IIrhanos, reproduzia-os como objeto de propaganda do exotismo do país. Prática 'llI1denada, por alguns intelectuais da época, por reforçar a imagem do Brasil IOlnO uma terra de selvagens. Na cidade do Rio de Janeiro, vamos encontrá-la IIslrita aos primeiros "daguerreotipistas", que trabalhavam no país nos decênios til' 40 a 50 do século XIX. A partir da década de 60, a imagem única produzida Ili 10 daguerreótipo, começava a ser colocada de lado em virtude das novas técni- I IH.•( multiplicadoras das cópias feitas do negativo). O desejo de ser fotografado apossa-se de todos. Os grandes proprietários 1.llografavam sua família e seus escravos trajados, especialmente para a ocasião. pose e a montagem de estúdio representavam formas de exibição de poder. 18 Il':lvés do punctus barthiano, ou seja, os pontos deixando-me atingir pelos I'IIIIIOS sensíveis que saem da foto tal como uma seta, aguçando a sensibilidade tI,l Ilistoriadora para deter- 1IIIIIados aspectos captados ~ I ,plicitados nas cenas do '"lldiano, transportadas 11.1 L 1 o estúdio fotográfico. No jogo entre o pas- 1IIIII' o presente, as ima- ,,"' .. documentos nos '1"I.:";"lltam as Áfricas ca- li' ,r ,I, I 11:lIn:lndo a atenção ILI 1';1 ( II arrt:gador de cadei i iidl,111 1:1ll sua atividadt:, 11IlIIl/.illdo ul1la rila St" jlli 1111 11:. SOII!'d:ld, '. Nl'ss:1 11,,,,, ,d"~111 dll ,I',p('(11I 1i':1 encaminhava à Câmara um pedido formal, onde constava sua própria identifica- ção e endereço, lado a lado com os dados básicos ( origem, sexo, idade) de todos os escravos que seriam colocados nessa atividade. Estes, sob pena de prisão, por- tavam nas ruas uma chapa de identificação com o número do alvará concedido Com efeito, a população enquadrada nessas posturas incluía, além dos escra- vos de ganho, de aluguel e domésticos, os negros e mulatos libertos. Era também uma forma de controlar a presença, na cidade de "negros fujões " que aqui tenta- vam burlar a fiscalização. Todo negro era suspeito, atitude que, como sabemos, até hoje permanece vigente na mentalidade brasileira. Quem duvidar preste atenção em qualquer batida policial: sempre o negro-bem ou mal vestido - é suspeito. Os escravos desenvolveram no cotidiano da cidade imperial táticas de sobre vivência que, a longo prazo acabam subvertendo as relações escravistas tradicio nais. Os anúncios de jornais e os pedidos de licenças feitos a Câmara Municipal, revelaram a existência de escravos de vários níveis de especializações Encontra mos na cidade o escravo de aluguel e o de ganho. Enquanto o escravo de aluguel tinha seus serviços oferecidos pelo proprietário que estabelecia o tipo de trabalho e as condições de pagamento. Era comum senhores ensinarem alguma arte 011 ofício, aumentando a jornada recebida pelo seu aluguel. O sistema de aluguel n?i<) era específico da cidade já o encontramos nos primórdios da escravidão coloni:d o emprego do aluguel de escravo nas pequenas colheitas. Já o sistema de ganho, apresenta-se como uma especificidade do espa~'() urbano - uma nova face da escravidão. O ganhador ou ganhadeira tornam SI figuras imprescindíveis numa época em que a cidade crescia.Diferente do escrav I de aluguel, o negro de ganho oferecia diretamente seu serviço no mercado. ESSI escravo deveria com seu trabalho prover o próprio sustento e ainda levar ao pn I prietário parte do rendimento. O escravo de ganho não era um grupo homogl neo. Existia entre esses escravos uma hierarquia que estava relacionada ao tipo dI trabalho, ao ganho recebido, além das diferenças étnicas. Os negros de ganho aparecem nas funções de carregadores, estivadores dI' porto, remadores e vendedores ambulantes, barbeiros. Os negros carregadml' diferenciavam-se pelos produtos que transportassem, possuindo frente ao gnq li' maior ou menor status. Assim sendo, o negro carregador de lixo e excrel11t"IIIi, ocupava o lugar mais baixo, sendo considerado o mais vil dos serviços, des Ii1I ~I dos a prisioneiro ou negros boçais. Esse tipo de carregador era imprescindívd 11.1 cidade que não possuía um sistema de esgotos que suportasse o seu creSCil11t"lIl11 (~.Aguas servidas, matéria ftcai.r, i?lIIl11dices de loda a cas/rl, /)I'mlalll'l'eIll, mlllll,1 '/1'1111" /al'es. Não existem ,(ossas, plidlll brl/'li.!', I (('llr1 IIIJ/~/.!' 1'1I1'1"11(11," /'Iilll /11/11'1/1'1/'/0, mlllill!J1I drls /llflill.', (hllllllll 111I1'1'.1/11 ( ••• ) ItI rI' 1'111 jJll/ílllllltll' ti (11///'(11'/lIr II/:wm, /011/1 I 1'/' /iml 11111 1'/'1/0 rll' 1,11<111111 I' o '111",)'<11'11Io 11'/'1'1(11 '/" 11I'1't'." ')~
  • 7. I1I 97 ~Sllll C0l110 variava a função do negro de ganho, variava também a cota 11 IIIOS seus proprieuhios de acordo com a ocupação, idade, sexo, saúde, Criou- 11111 I I, 11',11: qUl' pudl'sse vi:lhiliz:tr o SiSIl'I11:t. UI11carregador de cadeiras pagav:l lii!ILI, 11111 dl.1 ('111IH,I,?, S1I',llldo dI' Olllms (:lrrl'g:tt!o1"('S l' l'stiv:tc!orl'S '111l'p:lg:1 .111 /U 111",I ',I;III':'; 1.1.111111;1" ~·I()II'I" (l', (~(I,III~, 1':11':1 (11I1~I'gllll 1,1/,-.11 " primeiro como simples palha, depois na plenitude de sua forma, pronto para dar conta das múltiplas atividades para o qual se destinava. O cesto e o escravo de ganho confundem-se, sendo apresentados como mercadorias essências na vida da cidade. Outro aspecto que se destaca é a gestualidade da representação caricata da cordialidade da cultura dominante. O chapéu, assim como o cesto são peças i"undamentais na cena. Ora na cabeça, ora nas mãos ou então, numa exibição paradoxal da elegância dos negros, fazendo parte do jogo ritualístico do cumpri- llento no encontro improvisado. Os escravos que trabalhavam na alfândega - eram os que recebiam os maio- n's jornais ou seja, ganhos. Negros jovens e robustos alugando seu serviço entre II armazém e o porto e carregando navios, transportavam todas as mercadorias II"C chegavam a cidade e saíam. Finalmente temos os negros que trabalhavam 'O!TIO vendedores ambulantes. Vendia-se de tudo na cidade- era o :Illlburá,carvão,café torrado, capim, leite, cestos e outros utensílios de palha. Os 111l'gõesdos vendedores, com seus ritmos culturais ecoavam nas ruas da cidade 1II.Ircando o espaço de cada um. O circular pela cidade, a escolha das ruas, os lugares de parada, os encontros I Ionflitos definiam as táticas de sobrevivência. Para regular essas vendas, dimi- 1I11111do os conflitos, surge entre esses escravos uma espécie de instituição sem I .11 :ller legal, porém de aceitação de fato, como uma regra interna de convivência ( ls Cantos que reuniam trabalhadores libertos e escravos por etnias ou ocupa- I , 11 ,~. Possuíam também importante função no auxílio mútuo para a alforria de , II~ membros, como por exemplo dos carregadores de café, escravo da nação 111111:1, que detinham o monopólio desse serviço e que, através de uma organiza- • lI! de empréstimo semanais, adiantavam dinheiro para alforria um dos -11111 Is.lnfelizmente pouco consegui levantar na documentação pesquisada sobre " IIIIHionamento interno dessa instituição no Rio de Janeiro, a não ser algumas 19 I 1I11,Ol'S. Em seu trabalho, Reis ,traça algumas características do funcionamento di" I :llltoS em Salvador, que acredito possa ter alguma similitude com os cantos 1I'.",I:I,volvidos pelos negros de ganho nas ruas do Rio de Janeiro. Afirma o autor: "cada um canto tinha um líder que se chamava caPital do Canto(...) Na Bahia , o Capitão do Canto Intermediava a relação do ganhador com o contratador: acertava .rerviços, estabelecia preços. Não .rabemo.r aos certo se pegava peso como os outros. Tam- bétt/ desconhecemos que era exigido de.rse.rhomen.r(...) Havia eleição para o cargo de mj>i/r/o, /1/ais {~noramo.r as regra.r... )) Fonte: Christiano Junior . s.,,, título-1864-1866 ~~ I 111111 {1l11~11.1I111 111111111 ~1'lil 11111111 I HI,·I IHI,I, tral já apresentado na pose, exibe dois escravos refinadamente vestidos; o primei- ro plenamente incorporado ao seu papel coloca-se numa atitude cerimoniosa frente a dama. Esta é o foco da objetiva nem tão objetiva do fotógrafo, sua expressão :ontraída contrasta-se com a maneira displicente do segundo carregador. São inÚmeras as imagens de carregadores de cadeirinhas da cidade do Rio de Janeiro, a selecionada retrata uma cena de Salvador, entretanto 'ela poderia perfeitamente rcpresentar o que constantemente acontecia nas ruas do Rio de Janeiro. Nas fotos abaixo o que se vê são homens negros descalços- como todos os cscravos deveriam andar, teatralizando seu ofício. Embora não olhem para o fo- tografo ele está presente na expressão tensa dos modelos. Além dos homens, outro aspecto que me toca nessa foto é o cesto. Ele é colocado em destaque,
  • 8. li devido ao seu proprietário e viver um pouco melhor, exerciam dupla função. Era comum, nas imagens dos contemporâneos, o registro de negros carregadores aguardando fregueses enquanto teciam palha, preparavam rosários, enfeites, fa- bricando correntes de arame para prender papagaio, esteira, e chapéus de palha. Sobreviver na cidade e desfrutar de uma certa liberdade no cativeiro impu- nha ao negro de ganho uma verdadeira luta contra as doenças freqüentes em decorrência das más condições de vida, alimentação inadequada, habitações pre- cárias. Os anúncios dos jornais consultados fazem uma denúncia involuntária do estado de saúde dos escravos da cidade, das constantes contaminações da popu- lação e da sua grande mortalidade . Era a erisipela, os efeitos do raquitismo, a bexiga, o escorbuto, os furúnculos, o vírus venéreo, a sarna, a elefantiase, os bi chos de péDados do Relatório da Diretoria de Saúde Pública apontavam algumas epidemias que dizimaram, principalmente, a população escrava da cidade, como por exemplo, em 1850, a de febre amarela que fez 4.160 vítimas, m 1855, a de cÓlera -morbo com 4828 vítimas; em 1857 e 1860, a de febre amarela; em 1865, a de varíola e em 1867 e 1868, novamente o cólera morbo Estamos analisando a escravidão as freguesias Urbanas ou Comerciais qur 20 segundo Noronha Santos seriam as seguintes: Candelária( 1634), São José( 1751), I.:ngenho Novo(1873), Espírito Santo (1856), Gávea( 1873), Gloria(1834), Sacra l11ento(1826), Santana (1814), Santa Rita( 1721), São Cristóvão ( 1856), Santo Al1tonio ( 1854) , São João Baptista da Lagoa ( 1809). Nestes locais, mesmo soh ('()l1lrolc, as convivências efetivavam-se, denunciando uma espécie de tolerância, 1111 kchar de olhos para determinadas práticas, como por exemplo, a presença (LI I ~l 1:lvaria em festas como a da Glória. Fora das festas, no tempo da normalidadl (11I1I11:llla, é possível observar outras formas de convivências, denunciando UI1LI 1',11 tI(' til' tolerância de práticas condenadas pelas posturas municipais, como !lIli I .t·lllplo:l existência nas freguesias urbanas, de cirurgiões negros que curavalll .111 .IV('Sde belneduras, talismãs, ervas, e principalmente, da aplicação de ventos:l' A 11I't'sença desses curandeiros, de origem africana e indí~ena, rivalizava-se COIII ()s poucos e desacreditados médicos de cultura européia. ( oportuno ressaltar que essa política notadamente tolerante da MOnanlli.1 explicar-ser-ía pelo próprio sistema escravista que definia, rigorosamente, a po'" çao sócio-econômica de cada pessoa, de cada grupo, de suas relações de podt'1 II. senhores de terra, mas principalmente de homens. Essa tolerância foi ratll(.tI mente substituída, logo nos primeiros anos da República, por um cos1110!l0IIlI" 1110agressivo, negando todo e qualquer elemento das práticas popul:trt'~, .1, cultura.22Confor11le explicil:t os artigos 156,157,158 do Código Penal dI' IKI)(I IrI. I 'ilí: / :.''/·rn·r 1I1(·tlirl/l/l ('1111/lltIllfllI'l' tio.' .1'1'1I1' /fIlllfi! /. ri IIIJto tll'/IlllI1rl Il 1;lIlllllllrl. 1"rlllr,1I ri /lolIIl'lif"tI/rI, ri rlOIIIII!'!/1,I. O /11/1/10111I111I fi/l 1111(1:"1'111111I ,11I; 11'1/1"1/,11/1'';'1111''1/11 1t'1~/1(/'/1I ,,,Idl r' /"/:/1/'11I11'I11111 /"'1/111 /'ly,,/(lII'IIII,II/'OI 1/'11,1 1,Ii meses e multa de 100$ a 500$000.Parágrafo Único- peios abusos cometidos no exercí- cio ilegal da medicina em gera~ os autores sofrerão, além das penas estabeiecidaJ, as que forem impostas aos crimes a que deram causa. I( Art-157- Praticar o e.rpiritismo, a magia e seus sortilégios, UJar tali.rmãs e cartomancias para de.rpertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar curas de moléJtias curaveis ou incuraveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica. Penas de prisão ceiu- lar por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000. Art. 158- Mini.rtrar ou simplesmente preescrever como meio curativo para uso interno ou externo, e sob qualquer forma preparada, substância de qualquer dos reinos da natureza,fazendo, ou exercendo assim, o oficio denominado curandeiro: penaJ deprisão 2J por seis meses e multa de 100$ a 500$000. Os artigos da lei enquadravam duas experiências execradas pelo mito da Illodernidade: o rudimentar barbeiro cirurgião do povo das ruas, cuja origem lI'montaria a Idade Média e, as práticas religiosas dos afra - descendentes consi- Ilrradas barbarismo fetichista e curandeirismo, enfim uma memória indesejável 24 11.1 cidade colonial e Imperial que ainda resistia na cidade republicana Através dos relatos dos cronistas e apoiados na documentação, eu poderia 1llllIar, se tivesse tal habilidade, um dia qualquer perdido na cidade imperial, o que I.llri agora através de uma descrição. A cidade amanhece. Aos poucos eles vão chegando. Usam calções de algo- '-' 11) harato, estão descalços, como todo escravo deve andar. São negros e negras ,I. dif"crentes etnias, são ladinos, são crioulos. Localizam-se nas esquinas, nos I" IIlc )S,nas portas das lojas. Atropelam-se na disputa de um freguês. As ruelas da , 1.I.llk são muitas vezes transformadas em praças de guerra de todas as lutas, ,. 1,l('sentações de ritos iniciáticos de guerreiros em disputa de seu troféu maior- I ,111 )rl'vivência. O Calabouço sempre lotado reflete a ação das autoridades. O 11tI ••tI110 é incessante, mal dá tempo para comer, mesmo assim as solidariedades "'llilc·cem. Os encontros no Paço, nas proximidades do Porto, no Rocio, sempre 111 Illlla dos caldeirões de angú das baianas quituteiras, figuras centrais no coti- Illilll tI:1cidade. Mulheres escravas ou forras, que mesmo antes de qualquer pro- l~'" Ik libertação feminina já estavam nas ruas da cidade, com seus f1lhos en- 'lI<1I;II1osna cintura, ou correndo ao redor dos tabuleiros Quando a noite chega , I, " S:I<)obrigados a se recolherem ou dirigindo-se à casa dos seus senhor, 25 11/111, o mais comum, era ir para algum quartinho sublocado ilegalmente. 111)1:1111 1~lnto homens e mulheres renomeados que carregaram essa cidade: 11 il' ,li lliIC;:Hl Congo, Manocl da Nação Benguela, Adão, Alberto, Cassiano, Bo- il".,II", 'II~(' ':JCiI110,Irmluicl, todos da nação Mina, Macário, Pedro, Geriacó, Ce- lj ~IIII,I", S:JIIIIII) '1(11)1:1~, IlIdos tI:J 1':lt:ao N:Jg(>. I)iollíso Moc:lmbiqlle, Diogo .1'11111,1, 1>.1111<,1 , AI.flllllll til' AII/'.O!.I , 10;111 ('OI')',Cl M;lri:Js tI:1 ll:lt;:I() 1)('11)111'11:1, 99
  • 9. ÁI1tII1t1ala 111111:1, .1ali 11 Ia l1ago, l{o~:1I;l,do COI1,1Il, .I11~'(Ii dI llgol:1. I':il'~Ii':1i'1 am, juntamente, COIl1 a cruz de Cerro l11arGldo l10 (OIIHI, (lIlll:l~ "ll1:lIcas d;1ll'1'ra", ou então, marcas reinventadas pelas mãos habilidosas dos velhos "cirurgiCí('~: negros" tatuadores, as representações simbólicas da Africa M;k, provedora c ga rantidora da humanidade tão aviltada pela coisificação da escravidão. Nos labiril1 tos da cidade imperial escravos mapeavam nos seus corpos os caminhos para :1 África perdida de cada um as cicatrizes de uma idealizada identidade cultural. 10 11 J? 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Notas Doutora em História Social pela USP. Professora do Departamento de História d:1 UERJ e UGE CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Cia das Letras, 1991. p.23 Ver: A Educação pelo Olhar: Simone Weil e a Filosofia da Atenção apud BOSl, Alfredo In O Olhar (vários autores) São Paulo: Cia das Letras. 1989.p.82 a 86. FREUD, S. O Mal estar na civilização. p. 431, 432 MUSIL, Robert. L'Homme sans qtlalité. Paris: Gallimard, Folio.T.l,p.2 FOUCAULT, Michel. A Mimiflsica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1988. CERTEAU, Michel de.A InvençãodoCotidiano-Altes defazer. Rio de janeiro:Vozes 1994. Michel de Certeau. Op. cit.p.41. SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Negro na Rlla- A Nova Face da eJcravidão. São Paulo: Hucitec, 1988. Marilene Rosa Nogueira da Silva.O Grupo Social que explorava o escravo de ganho In Negro Na Rua op. Cit. p. 143-156. Debret. Op. CitoP.256. EWBANK, Thomas. ,/1 vida 110 Brcwl Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1973. LUCCOCK,johnn . Notas Jobreo Rio deJaneiro eparteJ meridionaÚdo Brc/JIl São Paulo: ]jv. Martins, 1951.p.75. AGCRj-códice 6.1.55 AGCRJ-códice 6-1.55 Ver REIS, João José. Rebeldia escrava,o levante de Males. São Paulo: Brasiliense, 1986. RIBEYROLLES, Charles. 13raJi!PitoreJco 1822-1860. 2° volume. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo, 1980.p188. BARTHES, Roland. A Câmara C/ara. Lisboa: Edições 70, São Paulo: Martins Fon- tes,1980, J.J. Reis. Op. Cit. P 202 SANTOS, Francisco Noronha. As hegllesias do Rio Antzgo. Rio de janeiro: Edições O Cruzeiro, sd. Ver MONTEIRO, Paula. Da Doença a DeJordem. Rio de janeiro: Graal,1985 A complexa discussão sobre a definição de Cultura popular questionada por Pierre Bordieu em Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectivas, 1975, que 1"11 11111 P:lll'lill'SI'So 1:11,11('1 l'Olill'stadot d, rul1ura popubr pata ahorda Ia sob o "ISlll:111.1 (cliISl't1':1<;:1< I, 1st () l', pcl() que l1elaexiste de reprodução e assimilação dos v.tI( II'l'S dominanles. Concordando em parte com o autor pois não consideramos (',101 COl1l0uma oulra cultura, entretanto não dá para relegar as características de ,q1(lpriaçao e adaptação como um fator de resistência. Tratamos a questão na pers- 11('( tiva formulada por Bakthin sobre a circularidade da cultura novamente proposta pm Carlo Ginzburgo em Os Queijos e os Vermes. São Paulo: Cia das Letras, 1987. (:c'ldigo Penal dos Estados Unidos do Brasil, promulgado pelo Decreto n° 847 de 11 !il' outubro de 1890.p.23 Ver IJmRUN, François. Os CirurgiõeJ -BarbeiroJ. In jacques Le GofE. AJ Doenças tem IliJ/rÍlia. Lisboa: Terramar, 1991.pp.299-321. Marilene Rosa Nogueira da Silva. Negro na Rua. Op. Citop.ll1.
  • 10.
  • 11. Sumário #~, fG~ ~ UERJ ~ '" 11 '" <b (S11011 ~ UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Agradecimentos------------------ 5 REITORA Nilcéa Freire VICE-REITOR Celso Sá SUB-REITOR DE GRADUAçÃojSR-l Isac Vasconcellos SUB-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUlSAjSR-2 Maria Andréa Rios Loyola SUB-REITOR DE EXTENSÃO E CULTURAjSR-3 André Lázaro DIRETOR DO DEPARTAMENTO CULTURAL Roberto Conduru COORDENADORA DE PROJETOS E AÇÕES CULTURAIS Vera Beatriz Siqueira Apresentação Artigos Em Algum Lugar do Passado. Cultura e história na cidade do Rio de Janeiro Antônio Edmilson M. Rodrigues 7 1 1 A Capitalidade do Rio de Janeiro. Um exercício de reflexão histórica André Nunes de Azevedo 45 Catalogação na Ponte Departamento Nacional do Livro S471a Seminário Rio de Janeiro: capital e capitalidade (Rio de Janeiro) Anais do seminário Rio de Janeiro: capital e capitalidade, Rio de Janeiro, 23 a 26 de outubro de 2000 / Organizador, André Nunes dc Azevedo. -- Rio de Janeiro: Departamento Cultural/NAPE/DEPEXT /SR-3/UERJ, 2002. 180p.; 23cm A História do Rio de Janeiro como espelho da monarquia portuguesa 1660-1763 Rodrigo Bentes Monteiro O Rio de Janeiro e a Experiência Imperial limar Rohloff de Maltos o Rio de Janeiro Imperial e suas Áfricas Visíveis Marilene Rosa Nogueira da Silva 65 77 87 159 125 103 ·1 21 Rio de Janeiro: capital de um império escravista Maria Emília Prado O povo Escala o Monumento: uma arqueologia da ex capital da República Vera Uns o Haussmanismo na Cidade do Rio de Janeiro laime Larry Benchimol O Rio de Janeiro Continua Sendo? Mar!}' Silva da Molta J FIIHHO: lIolaH hihlio{.!;l·áfieuH (' C'Olll4'II1líl'ioH (C'I'ílin'H) Hol)l'(' 1111I11 1I0VII illl.·"V.·II(~11O 1111 C'idlld.' do lCio d.' .lllll4'in. 111U'111 c 1 I1 eh I CDD981.53 ISBN: 85-86065-06-4 (:onl'(l(llIlu;tlu (I•.' 1»I·udll~·ílO I,/(( ltI A/filo: Plujc.tu (~I uli, fI" t :UI"l t .'II/tl/ll 11'10 I' Ih///fI (;1 illlJi l)h'WIIllHu.;lm UmlUlIl (."1110dI' A 10/(1". I(f'vi,AjJttl 111 011111.1' I ,111 111' Il,tllll U"IIIII': ,ltllltll" NAPE/D EPEXT/SR·3/U ERJ Rua São Francisco Xavier, 524, Sala 1054, 13loco F M:II':!( ,111,1 20550·0 I:~ Riode .I""l'iro R.I ·ll·l.: (021) 25H7 71 (,r, / "', ••7 7'1'111 ,. 1I1 .•il: ,1:'1><'((/'"(,' j.l)I ('" t· ~I .1.;-)' ~ ~Rio de Janeiro (Cidade) - História. 2. Rio de Janeiro- Usos e 'êllJstumes. 1. Azevedo, André Nunes de.