O documento descreve as principais divisões e estruturas do sistema nervoso central de pequenos animais. Ele começa explicando as divisões do encéfalo, incluindo o cérebro, cerebelo e tronco encefálico. Em seguida, descreve as estruturas do cérebro como os lobos cerebrais, ventrículos cerebrais e núcleos da base. Por fim, explica as estruturas e funções do tronco encefálico, incluindo a formação reticular e os nervos cranianos.
1. 10
Sistema Nervoso
''O CÉREBRO É MAIS AMPLO DO QUE O CÉU."
(Emily Dickinson)
Semiologia do Sistema Nervoso de
Pequenos Animais
MARY MARCONDES FEITOSA
Semiologia do Sistema Nervoso de
Grandes Animais
ALEXANDRE SECORUN BORGES
Exames Complementares
MARY MARCONDES FEITOSA
2. Semiologia do Sistema Nervoso de
Pequenos Animais
1
MARY MARCONDES FEITOSA
INTRODUÇÃO
De todos os sistemas do organismo, o sistema nervoso é, muitas ve-
zes, o menos entendido pela maioria dos clínicos. Para que se possa
realizar corrctamente o exame neurológico e sua respectiva interpre-
tação, é necessário conhecer a estrutura e o funcionamento do sistema
nervoso. Sem o conhecimento das bases anatomofuncionais, ainda que
elementares, não é possível trilhar o caminho da semiologia e da clí-
nica neurológica. Além disso, o diagnóstico topográfico é de funda-
mental importância em neurologia, seja para fins clínicos ou para o
tratamento cirúrgico de algumas enfermidades.
DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO
O sistema nervoso pode ser dividido em partes, levando-se em con-
sideração critérios anatómicos, embriológicos e funcionais.
A divisão com base em critérios anatómicos é das mais conheci-
das, e segue demonstrada no esquema abaixo e na Figura 10.1.
telencéfalo
cérebro
encéfalo- diencéfalo
Sistema cerebelo
mesencéfalo
Nervoso •
Central tronco encefálico ponte
bulbo
medula espinhal
[espinhais
nervos
Sistema
cranianos
Nervoso .
Periférico
gânglios terminações
nervosas
3. 452 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Telencéfalo
Diencéfalo Medula
Mesencéfalo
Ponte Bulbo Figura 10.1 - Divisões do sistema nervoso central.
SISTEMA NERVOSO CENTRAL 80% da cavidade craniana. Os dois componentes
que o formam, telencéfalo e diencéfalo, apresen-
O sistema nervoso central (SNC) está localizado tam características próprias. O telencéfalo compreende
dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, os
vertebral); o sistema nervoso periférico está fora deste quais são incompletamente separados pela fissura
esqueleto. Esta distinção não é perfeitamente cxata longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado por
pois os nervos e as raízes nervosas, para se conec- uma larga faixa de fibras comissurais, o corpo caloso,
tarem ao sistema nervoso central, penetram no principal meio de união entre os dois hemisférios.
crânio e no canal vertebral. Além disso, alguns Cada hemisfério cerebral possui quatro lobos cere-
gânglios (conjunto de corpos celulares localizado brais que são: lobo frontal, o lobo temporal, o lobo
fora do SNC) estão localizados dentro do esque- parietal c o lobo occipital (Fig. 10.2).
leto axial. O encéfalo é a parte do sistema nervoso
No lobo frontal são processadas as atividades
central situada dentro do crânio e a medula fica
intelectuais, de aprendizagem e as atividades
localizada dentro do canal vertebral.
motoras finas e precisas. Em primatas esta região
também tem grande importância no processamento
de atividades motoras básicas. O lobo frontal tam-
ENCÉFALO bém influencia o estado de alerta e a integração
O encéfalo é dividido em cérebro, cerebelo e tronco do animal com o meio ambiente.
encefálico. O cérebro é a porção mais desenvolvida O lobo parietal é o responsável pelas infor-
e mais importante do encéfalo, ocupando cerca de mações sensitivas, tais como dor, propriocepção
Figura 10.2 -Vista dorsal dos lobos cerebrais de
um cão.
Córtex Córtex
frontal occipital
Córtex parietal Córtex temporal
4. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 453
e toque. Entretanto, os animais não parecem Os hemisférios cerebrais possuem cavidades,
depender do lobo parietal para processar muitas revestidas de epêndima e contendo líquido cefa-
sensações, como ocorre no homem, uma vez que lorraquidiano, denominadas ventrículos cerebrais la-
o tálamo (localizado no diencéfalo) pode proces- terais direito e esquerdo, que se comunicam pelos
sar mais informações sensitivas nos animais. forames interventriculares com o IIIventrículo, uma
O lobo occipital'é necessário para a visão e para estreita fenda ímpar e mediana situada no diencéfalo.
processar a informação visual. O tronco encefálico interpõe-se entre a medula
O lobo temporal processa a informação auditi- e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cere-
va e é também responsável por alguns comporta- belo, e divide-se em mesencéfalo, situado cranial-
mentos complexos. Partes do córtex do lobo frontal mente; bulbo, situado caudalmente; ç, ponte, situa-
e temporal estão incluídas no sistema límbico. Este é da entre ambos. Na sua constituição entram cor-
responsável por muitas emoções e por comporta- pos de neurônios que se agrupam em núcleos (como
mentos inatos de sobrevivência, tais como prote- núcleos entende-se o conjunto de corpos celulares
ção, reações maternais e sexuais. A área piriforme de neurônios dentro do SNC, sendo seu corres-
do lobo temporal é a responsável pela agressivi- pondente no SNP denominado gânglio) e fibras
dade. A amígdala é um grande núcleo localizado nervosas, que por sua vez se agrupam em feixes
sobre o lobo temporal, sendo parte do sistema denominados tratos, fascículos ou leminiscos. Pas-
límbico e responsável por muitas reações de medo. sam através do tronco encefálico vias sensitivas res-
Cada hemisfério cerebral possui uma camada ponsáveis por propriocepção consciente, incons-
superficial de substância cinzenta, o córtex cere- ciente e dor; e vias descendentes motoras para
bral, que reveste um centro de substância branca, músculos flexores e extensores. Muitos dos núcleos
no interior do qual existem massas de substância do tronco encefálico recebem ou emitem fibras
cinzenta, os núcleos da base do cérebro. Os princi- nervosas que entram na constituição dos nervos
pais núcleos da base são: claustrum, corpo amigdalóide,
cranianos. Por este motivo, o tronco encefálico é
caudado, putâmen e globo pálido. Juntos, os três
uma área de grande importância quando do exa-
últimos constituem o corpo estriado. Esses núcleos
me neurológico, uma vez que nele estão localiza-
contribuem para o tono muscular e início e con-
dos 10 dos 12 pares de nervos cranianos. Sendo
trole da atividade motora voluntária.
assim, uma lesão neste local, mesmo que peque-
O diencéfalo compreende as seguintes partes:
na, poderá acarretar dano ou perda de função de
tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O hipotá-
lamo modula o controle do sistema nervoso um ou mais pares de nervos cranianos, já que é
autónomo de todo o organismo. Muitos dos neu- grande a proximidade entre eles.
rônios motores simpáticos e parassimpáticos ori- O mesencéfalo c atravessado por um estreito
ginam-se aí. Entre as funções hipotalâmicas en- canal, o aqueduto cerebral, que une o III ao IV
contramos o controle do apetite, sede, regulação ventrículo. O IV ventrículo situa-se entre o bulbo
da temperatura, balanço hídrico e eletrolítico, sono e a ponte, ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente.
e respostas comportamentais. O tálamo é um O mesencéfalo possui importantes estruturas, entre
complexo de muitos núcleos com funções elas a formação reticular. A formação reticular é
intrincadas, das quais as principais estão relacio- uma agregação mais ou menos difusa de neurô-
nadas à dor c proprioccpção. Parte do sistema nios de tamanhos e tipos diferentes, separados
ativador reticular ascendente (SARA) (que será por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte
discutido mais adiante) projeta-se do mesencé- central do tronco encefálico. A formação reticular
falo, através do tálamo, difusamente, para o cór- possui conexões amplas e variadas. Além de
tex cerebral. receber impulsos que entram pelos nervos cra-
Os nervos olfatórios (I par de nervos cranianos) nianos, ela mantém relações nos dois sentidos com
estão localizados rostralmente ao diencéfalo. As o cérebro, o cerebelo e a medula. A atividade
fibras olfativas projetam-se dentro do hipotála- elétrica do córtex cerebral, de que dependem os
mo e em outras partes do sistema límbico para vários níveis de consciência, é regulada basica-
produzir uma resposta comportamental em de- mente pela formação reticular. Existe na forma-
corrência do olfato. Os nervos ópticos e o quiasma ção reticular um sistema de fibras ascendentes que
óptico, necessários à visão e aos reflexos lumino- se projetam no córtex cerebral e sobre ele têm
sos pupilares, estão localizados na superfície ventral uma ação ativadora. E o Sistema Ativador Reticu-
do hipotálamo, próximos à hipófise. lar Ascendente (SARA). A ação do SARA sobre o
córtex se faz através das conexões da formação
5. 454 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
reticular com o tálamo, como já foi mencionado aos neurônios motores da medula e são impor-
anteriormente. O SARA é o responsável pela tantes para a manutenção do equilíbrio; e o fascí-
manutenção do sono e vigília. Além de seguirem culo longitudinal medial, que está envolvido em
sua vias específicas, os impulsos sensoriais que reflexos que permitem ao olho ajustar-se aos
chegam ao sistema nervoso central pelos nervos movimentos da cabeça. O fascículo longitudinal
espinhais e cranianos passam também pela for- medial é uma via de associação presente em toda
mação reticular e ativam o SARA. Desta forma, a extensão do tronco encefálico, que liga todos os
quando o SARA é estimulado por meio da via núcleos motores dos nervos cranianos, sendo es-
visual, auditiva, dolorosa e tátil, ele mantém o pecialmente importantes suas conexões com os
animal em estado de alerta. Por outro lado, quan- núcleos dos nervos relacionados com o movimento
do não recebe ou não processa esses impulsos, o do globo ocular e da cabeça. Deste modo, o fas-
animal dorme. cículo longitudinal medial é importante para a
Por este motivo, os animais acordam quando realização de reflexos que coordenam os movi-
submetidos a fortes estímulos sensoriais como, por mentos da cabeça com os dos olhos (Fig. 10.3).
exemplo, um ruído muito alto. Isso se deve não à O bulbo, ou medula oblonga, possui os núcleos
chegada de impulsos nervosos na área auditiva do dos nervos abducente, facial e vestibulococlear (VI,
córtex, mas à ativação de todo o córtex pelo SARA, VII e VIII pares de nervos cranianos), localizados
o qual, por sua vez, foi ativado por fibras que se na porção rostral, na junção com a ponte. Os nervos
destacam da via auditiva. Assim, se forem lesadas glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso (IX,
estas vias depois de seu trajeto pela formação re- X, XI e XII pares de nervos cranianos) estão
ticular, embora não cheguem os impulsos na área localizados na porção caudal. No bulbo localizam-
auditiva do córtex, o animal acorda com o ruído se centros vitais, como o centro respiratório e o cen-
tro vasomotor, que controlam não só o ritmo respi-
(ele acorda, mas não ouve). Por outro lado, se fo-
ratório, como também o ritmo cardíaco e a pressão
ram mantidas intactas as vias auditivas e lesada a
arterial, funções indispensáveis à manutenção da
parte mais cranial da formação reticular, o animal
vida. Portanto, lesões nesta região podem ser ex-
dorme mesmo quando submetido a fortes ruídos,
tremamente perigosas. Além desses, encontramos
apesar de chegarem impulsos auditivos em seu
no bulbo também o centro do vómito.
córtex. Por este motivo, lesões mesencefálicas ou
O cerebelo situa-se dorsalmente ao bulbo e à
de córtex cerebral podem produzir níveis altera- ponte, sobre três pares de estruturas denomina -
dos de consciência, tais como o coma. Os nervos das pedúnculos cerebelares, e repousa sobre a fossa
oculomotor e troclear (III e IV pares de nervos cerebelar do osso occipital, sendo separado do lobo
cranianos) estão localizados no mesencéfalo. Existe occipital do cérebro por uma prega da dura-máter
ainda, no mesencéfalo, o núcleo deEdinger- Westphal, denominada tenda do cerebelo. O cerebelo é
responsável pela inervação parassimpática do glo- composto de duas massas laterais, os hemisférios
bo ocular, através do nervo oculomotor. Outra es- cerebelares, sendo que na porção central desses
trutura importante é o núcleo rubro, que participa há uma estrutura denominada vermis. O cerebe-
do controle da motricidade somática, recebe fibras do lo está organizado em três regiões principais: lo-
cerebelo e de áreas motoras do córtex cerebral e bos rostral, caudal e floculonodular. Uma das prin-
origina o trato rubrospinal, o principal trato motor cipais funções do cerebelo é coordenar toda a ati-
voluntário nos animais. vidade motora da cabeça, pescoço, tórax e mem-
A ponte contém o nervo trigêmio (V par de bros. O cerebelo também controla o tono muscular
nervos cranianos). Além disso, encontramos na nos animais. O lobo floculonodular do cerebelo
ponte os núcleos vestibulares. Os núcleos vestibu- faz parte do sistema vestibular e mantém o equi-
lares estão localizados no assoalho do IV ventrí- líbrio do animal. Desta forma, lesões do cerebelo
culo, e recebem impulsos nervosos originados na podem causar incoordenação motora, perda do
parte vestibular da orelha interna, através do nervo equilíbrio e diminuição do tono da musculatura
vestibulococlear (porção vestibular), os quais esquelética (hipotonia).
informam sobre a posição e os movimentos da
cabeça. Chegam ainda aos núcleos vestibulares
fibras provenientes do cerebelo, relacionadas com MEDULA ESPINHAL
a manutenção do equilíbrio. A partir dos núcleos
vestibulares, saem tratos e fascículos tais como o Etimologicamente, medula significa miolo e in-
trato vestibulospinal, cujas fibras levam impulsos dica o que está dentro. A medula espinhal é uma
6. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 455
Núcleo do nervo
oculomotor
Núcleo do nervo
troclear
Núcleo do nervo
abducente
Núcleo vestibular
rostal
Núcleo
vestibular lateral
Núcleo vestibular caudal
Núcleo vestibular medial
Cerebelo
Fascículo
longitudinal medial
Figura 10.3 - Núcleos vesti-
bulares e suas conexões. Orelha interna
massa cilindróide de tecido nervoso situada den- torno do cone medular e filamento terminal, cons-
tro do canal vertebral, sem, entretanto, ocupá-lo tituem, em conjunto, a chamada cauda equina. A
completamente. Cranialmente a medula limita - diferença de tamanho entre a medula e o canal
se com o bulbo aproximadamente no nível do vertebral, assim como a disposição das raízes dos
forame magno do osso occipital. nervos espinhais mais caudais, formando a cauda
A medula espinhal pode ser morfológica e equina, resultam, portanto, de ritmos de
funcionalmente dividida em cinco regiões: região crescimento diferentes, em sentido longitudinal,
cervical (compreendendo os segmentos medula- entre medula e coluna vertebral. No início do de-
res de Cl a G5); região cervicotorácica (também senvolvimento intra-uterino a medula e a coluna
denominada de plexo ou intumescência braquial, vertebral ocupam todo o comprimento do canal
segmentos de G6 a T2); região toracolombar(coí- vertebral e os nervos, passando pelos respectivos
respondendo aos segmentos medulares de T3 a forames intervertebrais, dispõem-se horizon-
L3); região lombossacral (plexo ou intumescência talmente, formando com a medula um ângulo
lombossacral, segmentos de L4 a S2); região sa- apr oximadamente r eto. Entr etanto, com o
crococcígea (segmento S3 ao último segmento desenvolvimento, a coluna vertebral começa a
medular) (Fig. 10.4). Deve-se ressaltar que esta crescer mais do que a medula, especialmente em
divisão corresponde a segmentos medulares e não sua porção caudal. Como as raízes nervosas mantêm
às vértebras propriamente ditas. Tal fato seria sem suas relações com os respectivos forames inter-
importância se o tamanho do segmento medular vertebrais, há o alongamento das raízes e a dimi-
c a vértebra correspondente fossem iguais, po- nuição do ângulo que elas fazem com a medula.
rém isto não ocorre em toda a medula espinhal. Estes fenómenos são mais pronunciados na parte
No adulto, a medula não ocupa todo o canal caudal da medula.
vertebral, pois termina geralmente na altura da A medula possui o mesmo número de seg-
6- ou 7- vértebra lombar nos cães e, na altura da mentos que o número de vértebras (com exceção
1a ou 2- vértebra sacral nos felinos, nos equinos da medula cervical, que é composta por oito
e nos bovinos. A medula termina afilando-se para segmentos medulares). Os segmentos podem ser
formar um cone, o cone medular, que continua como identificados morfologicamente, pois possuem um
um delgado filamento meníngeo, o filamento par de nervos espinhais, cada um com uma raiz
terminal. Abaixo deste nível o canal vertebral dorsal (sensitiva) e uma raiz ventral (motora).
contém apenas as meninges e as raízes nervosas Como consequência da diferença de ritmos
dos últimos nervos espinhais que, dispostas em de crescimento entre coluna e medula, temos um
7. 456 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Cervico Lombossacral Sacrococcígea
toracica (L4-S2) (S3 em diante)
Plexo
lombossa
cral
Figura 10.4 -Vista lateral da medula
espinhal ilustrando as cinco regiões me-
dulares.
afastamento dos segmentos medulares das vér- da vértebra correspondente. Esta diferença entre
tebras correspondentes. Este fato é de grande vértebras, segmento da medula espinhal e raízes
importância clínica para o diagnóstico, prognós- nervosas deve ser levada em consideração quan-
tico e tratamento de lesões vertebromedulares. do se localiza uma lesão em certo segmento e aí
Portanto, é muito importante para o clínico co- é dicidido o nível vertebral correspondente. Isto
nhecer a correspondência entre vértebra e me- tem maior significado clínico na região toracolom-
dula. Em cães, por exemplo, existem 31 pares de bar do que na região cervical (Fig. 10.5).
nervos espinhais, aos quais correspondem 31 A medula não possui um calibre uniforme,
segmentos medulares assim distribuídos: oito pois apresenta duas dilatações denominadas in-
cervicais, 13 torácicos, sete lombares e três sacrais. tumescência cervical e intumescência lombar, situa-
Existem oito pares de nervos cervicais, mas so- das na região cervicotorácica (C6 a T2) e lom-
mente sete vértebras. O primeiro par cervical (Cl) bossacral (L4 a S2), respectivamente. Estas intu-
emerge acima da primeira vértebra cervical, por- mescências correspondem às áreas em que fazem
tanto, entre ela e o osso occipital. Já o oitavo par conexão com a medula as grossas raízes nervosas
(C8) emerge abaixo da sétima vértebra, o mesmo que formam os plexos braquial c lombo-sacro,
acontecendo com os nervos espinhais abaixo de destinadas à inervação dos membros anteriores e
C8, que emergem, de cada lado, sempre abaixo posteriores, respectivamente (Fig. 10.4).
Segmentos Medulares
Torácico Sacral
sacral
Lombar
Lombar
Vértebras
Figura 10.5 - Diagrama demonstrando a posição dos segmentos medulares e dos corpos vertebrais em um cão.
8. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 457
na medula, a substância cinzenta está locali- dentes e descendentes são geralmente denomi-
zada por dentro da branca e apresenta a forma de nadas conforme o local onde têm início e o local
um H. Nela, distinguimos de cada lado três colu- onde terminam.
nas, denominadas colunas ventral, dorsal e late- As vias descendentes são formadas por fibras que
ral. A coluna lateral, entretanto, não aparece em se originam no córtex cerebral ou em várias áreas
toda a extensão da medula. No centro da subs- do tronco encefálico e terminam fazendo sinapse
tância cinzenta localiza-se o canal central medu- com neurônios medulares. Essas vias dividem-se em
lar (Fig. 10.6). A massa cinzenta central contém dois grupos: vias piramidais e extrapiramidais. As
corpos celulares de neurônios motores inferiores, primeiras recebem este nome porque, antes de
neurônios sensitivos e internunciais. As colunas penetrar na medula, cruzam obliquamente o plano
dorsais contêm sinapses de neurônios sensitivos mediano, constituindo a decussação das pirâmides
periféricos e corpos celulares de neurônios sensi- bulbares, enquanto as segundas não o fazem. As vias
tivos ascendentes e internunciais. As colunas ven- piramidais na medula compreendem o trato
erais contêm muitos corpos celulares dos neurô- corticospinal. As vias extrapiramidais compreendem
nios motores inferiores dos músculos estriados. os tratos tectospinal, vestibulospinal, rubrospinal e
uma área de substância cinzenta intermediária reticulospinal. Os nomes referem-se aos locais onde
contém corpos celulares de neurônios motores eles se originam, que são, respectivamente, o teto
inferiores simpáticos. do mesencéfalo, os núcleos vestibulares, o núcleo
A porção externa da medula espinhal é com- rubro e a formação reticular. Iodos esses tratos ter-
posta de substância branca, formada por fibras, a minam na medula, em neurônios internunciais,
maioria delas mielínicas, que se agrupam em tra- através dos quais ligam-se aos neurônios motores e
tos e fascículos, formando verdadeiros caminhos, assim exercem sua função motora.
ou vias, por onde passam os impulsos nervosos. As fibras que formam as vias ascendentes rela-
Temos, assim, tratos e fascículos que constituem cionam-se direta ou indiretamente com as fibras
as vias descendentes e ascendentes da medula. que penetram pela raiz dorsal, trazendo impul-
Existem ainda vias que contêm tanto fibras as- sos aferentes de várias partes do corpo, e incluem
cendentes quanto descendentes, as quais consti- os tratos espinocerebelares, os fascículos grácil e
tuem as vias de associação medular, que formam cuneiforme, os tratos espinotalâmicos e o trato
os fascículos próprios da medula. As vias ascen- propriospinal (Fig. 10.7).
Figura 10.6 - Corte transversal da
medula espinhal.
Coluna dorsal
Funículo lateral
Canal central
Coluna ventral
Substância
cinzenta
Raiz motora do
nervo espinal
Substância
branca
Fissura mediana Funículo Funículo dorsal
ventral ventral
Raiz sensitiva do
nervo espinal
9. 458 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
TRATOS MOTORES neurônio motor em grande parte se faz por meio do
trato corticospinhal. Dados mais recentes, eviden-
Os tratos motores podem ser divididos em dois ciando que o chamado sistema extrapiramidal tam-
grupos: os responsáveis pelo movimento volun- bém controla os movimentos voluntários, vieram a
tário (flexores) c aqueles para postura e sustenta- mostrar que a conceituação de dois sistemas inde-
ção do corpo (extensores). O cerebclo modula a pendentes, piramidal e extrapiramidal, não pode
atividade dos sistemas flexores c extensores e mais ser aceita. Entretanto, pode-se manter os ter-
produz flexão e extensão suaves e coordenadas. mos piramidal e extrapiramidal para indicar res-
Até há algum tempo as estruturas e vias que pectivamente as vias motoras que passam ou não
influenciam a motricidade somática eram agrupa- pelas pirâmides bulbares em seu trajeto até a
das em dois grandes sistemas, o piramidal e o extra- medula. Desta forma, as vias piramidais compreen-
piramidal, termos que foram amplamente empre- dem dois tratos: o corticospinal e seu correspon-
gados, especialmente na área clínica. O sistema pi- dente, no tronco encefálico, o trato corticonuclear.
ramidal, compreendendo os tratos corticospinal e Por outro lado, as vias extrapiramidais compreen-
corticonuclear, assim como suas áreas corticais de dem os tratos rubrospinal, tectospinal, vestibulospinal
origem, seria o único responsável pelos movimen- c reticulospinal.
tos voluntários. Já o sistema extrapiramidal, compreen- O trato rubrospinal começa no núcleo rubro
dendo todas as demais estruturas c vias motoras do mesencéfalo, imediatamente cruza para o lado
somáticas, seria responsável pelos movimentos au- oposto e descende, através do tronco, para a medula
tomáticos, assim como pela regulação do tono e da espinhal. Ele é o mais importante trato motor
postura. A validade desta divisão foi questionada voluntário ou de atividade muscular flexora em
quando se verificou que os núcleos do corpo estria- animais. Em cães e gatos, lesões mesenccfálicas
do, em humanos, por muitos considerado o sistema ou mais caudais podem causar paresia ou parali-
extrapiramidal propriamente dito, exerciam sua in- sia de membros. O trato rubrospinal localiza-se
fluência sobre os neurônios motores através do tra- no funículo lateral da medula espinhal, medial-
to corticospinhal, ou seja, através do próprio siste- mente aos tratos espinocerebelares. Portanto, em
ma piramidal. O mesmo raciocínio pode ser feito compressões medulares externas progressivas,
em relação ao cerebelo, frequentemente incluído inicialmente observa-se incoordcnação motora c
no sistema extrapiramidal, cuja influência sobre o depois paresia ou paralisia de membros.
Fascículo grácil
Fascículo cuneiforme
Espinocerebelar
dorsal
Corticospinal lateral Propriospinal
Espinocerebelar
Rubrospinal
ventral
Figura 10.7 - Corte transversal da
medula espinhal mostrando a
Reticulospinal
Espirotalâmico
localização dos tratos motores e
Vestibulospinal lateral
Corticospinal
ventral
sensitivos.
Sensitivo
Vestibulospinal ventral
10. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 459
O trato corticospinal origina-se na área motora respectivos fascículos e fazem sinapse no núcleo
do lobo frontal, descende através da cápsula inter- grácil ou cuneiforme na junção da medula espi-
na e tronco cerebral, cruza para o lado oposto na nhal e do bulbo. O segundo grupo de neurônios
medula oblonga caudal (decussação das pirâmides) cruza para o lado oposto e ascende em um trajeto
e desce na medula espinhal próximo ao trato contralateral, no leminisco medial, fazendo sinapse
rubrospinal. Em compressões medulares, os dois no tálamo. Um terceiro grupo de neurônios deixa
tratos são geralmente afetados. O trato corticospinal o tálamo, passa através da cápsula interna e faz
é também um trato voluntário ou motor flexor. Ele é sinapse no lobo parietal do córtex cerebral. Como
muito importante no homem e, quando ocorre uma as fibras terminam em células do córtex cerebral,
lesão no córtex motor ou na cápsula interna, há a propriocepção é chamada de consciente. Lesões
hemiparesia ou hemiplegia contralateral. Quando no funículo dorsal da medula espinhal produzem
essas lesões ocorrem em animais, há fraqueza dis- distúrbios proprioceptivos ipsilaterais nos mem-
creta mas transitória e ocorrem distúrbios contra- bros afetados. Lesões no leminisco medial, cáp-
laterais de salto e posicionamento. sula interna e lobo parietal podem produzir alte-
Os tratos vestibulospinais são os principais tra- rações proprioceptivas contralatcrais.
tos de postura ou extensores em cães e gatos. Outro sistema sensitivo é o trato espinotalâmico,
Originam-se nos núcleos vestibulares da junção que leva sensação de dor e temperatura dos mem-
pontinomedular e descendem, sem cruzar, através bros e do corpo. Este sistema é mais complexo em
do bulbo e medula espinhal. Os tratos vestibu- animais do que no homem e possui vários tratos
lospinais ficam no funículo ventral da medula es- incluídos nele. A modalidade de dor profunda é
pinhal. Inicialmente, na evolução da compressão levada nesse sistema. A fim de destruir este tipo
medular, o animal pode perder a habilidade em de dor, deve haver uma lesão profunda, grave e
suportar o peso nos membros, devido ao envolvi- bilateral, da medula espinhal. O teste de dor pro-
mento desses tratos. funda é um guia prognóstico muito útil em um
Os tratos reticulospinais têm início na forma- animal paralisado. A ausência de dor profunda 72
ção reticular da ponte e bulbo e descendem sem horas ou mais após uma lesão medular é geralmente
cruzar no tronco cerebral e medula espinhal. Um considerada um indicativo de prognóstico grave.
dos tratos está associado principalmente com a O trato propriospinal leva informações entre
atividade motora extensora ou postural e locali- os membros anteriores e posteriores, nos dois
za-se primariamente no funículo lateral da me- sentidos.
dula espinhal. O outro trato reticulospinal influen-
cia a atividade motora voluntária.
MENINGES E LÍQUIDO
TRATOS SENSITIVOS CEFALORRAQUIDIANO
O sistema nervoso central é envolvido por três
Os tratos espinocerebelares carregam informação
membranas conjuntivas denominadas meninges,
proprioceptiva inconsciente para o cerebelo, for-
necendo impulsos aferentes necessários para coor- a dura-máter, a aracnóide e a pía-máter.
denar o movimento muscular. Esses tratos são A dura-máter é a meninge mais superficial,
afetados precocemente em compressões superfi- espessa e resistente, formada por tecido conjunti-
ciais da medula espinhal e produzem ataxia ou vo muito rico em fibras colágenas, contendo vasos
incoordenação motora. e nervos. A dura-máter encefálica difere da dura-
Qs fascículosgráále cuneiforme, localizados no máter espinhal, por ser formada por dois folhetos,
funículo dorsal da medula, são responsáveis pela o externo e o interno, dos quais apenas o interno
propriocepção consciente, ou senso de posição dos continua com a dura-máter espinhal. O folheto
membros e tórax. A informação carregada nessas externo se adere intimamente aos ossos do crânio
vias capacita o animal a corrigir os membros quando e comporta-se como um periósteo destes ossos.
em posições anormais. O fascículo grácil leva Entretanto, diferente do periósteo de outras áreas,
informações da cauda e membros posteriores, e o o folheto externo da dura-máter não tem capaci-
fascículo cuneiforme, dos segmentos torácicos, dade osteogênica, o que dificulta a consolidação
membros anteriores e região cervical. Os axônios de fraturas no crânio. Esta peculiaridade, no en-
penetram na medula espinhal, ascendem em seus tanto, é vantajosa, pois a formação de um calo ósseo
11. 460 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
na superfície interna dos ossos do crânio pode cons- caudalmente com o espaço subaracnóide da me-
tituir um fator de irritação do tecido nervoso. Em dula e liga-se ao IV ventrículo através de sua
algumas áreas os dois folhetos da dura-máter do abertura mediana. Por meio de uma punção su-
encéfalo separam-se, delimitando cavidades reves- boccipital, é possível realizar a colheita de liquor
tidas de endotélio e que contêm sangue, consti- da cisterna magna. Em alguns pontos a aracnóide
tuindo os seios da dura-máter. O sangue proveniente forma pequenos tufos que penetram no interior
das veias do encéfalo é drenado para os seios da dos seios da dura-máter, constituindo asgranu/a-
dura-máter e, destes, para as veias jugulares inter- ções aracnóides, através das quais o liquor é absor-
nas. A dura-máter espinhal envolve toda a medu- vido c chega no sangue (Fig. 10.8).
la, como se fosse um dedo de luva. Cranialmente, A pia-máter é a mais interna das meninges e
a dura-máter espinhal continua com a dura-máter dá resistência aos órgãos nervosos, pois o tecido
craniana; caudalmente termina em um fundo-de- nervoso é de consistência muito mole. A pia-máter
saco, o saco durai. acompanha os vasos que penetram no tecido
A aracnóide é uma membrana muito delica- nervoso a partir do espaço subaracnóide, forman-
da, justaposta à dura-máter, da qual se separa por do a parede externa dos espaços pcrivasculares.
um espaço virtual, o espaço subdural, contendo Nestes espaços há um prolongamento do espaço
pequena quantidade de líquido necessário à lu- subaracnóide, contendo liquor, que forma um
brificação das superfícies de contato das duas manguito protctor em torno dos vasos, importante
membranas. A aracnóide separa-se da pia-máter para amortecer o efeito da pulsação das artérias
pelo espaço subaracnóide, que contém o líquido sobre o tecido circunvizinho. Quando a medula
cefalorraquidiano, ou liquor. A aracnóide justa- termina no cone medular, a pia-máter continua
põe-se à dura-máter e ambas acompanham gros- caudalmente, formando um filamento es-
seiramente a superfície do encéfalo. A pia-máter, branquiçado denominado filamento terminal.
entretanto, adere-se intimamente a esta superfí- Portanto, em relação com as meninges, exis-
cie, acompanhando todos os giros, sulcos e de- tem três cavidades ou espaços denominados
pressões. Deste modo, a distância entre as duas epidural, subdural e subaracnóide. O espaço epidural
membranas, ou seja, a profundidade do espaço situa-se entre a dura-máter c o periósteo do canal
subaracnóide é variável, formando, em alguns vertebral. O espaço subdural, situado entre a dura-
locais, dilatações denominadas cisternas aracnói- máter e a aracnóide, é uma fenda estreita con-
des, as quais contêm grande quantidade de liquor. tendo uma pequena quantidade de líquido, sufi-
A maior e mais importante cisterna é a cisterna ciente apenas para evitar a aderência das pare-
cerebelo-medular, ou cisterna magna, que continua des. O espaço subaracnóide é o mais importante
Pia-máter Granulação Seio sagital
aracnóide Figura
10.8 - Corte transversal
mostrando a posição das menin-
ges, espaço subaracnóide e gra-
nulações aracnóides.
Espaço aracnoide
subaracnóide
dorsal
Dura-máter
12. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 461
e contém o líquido cefalorraquidiano, um fluido vez, comunica-se com o canal central do bulbo e
aquoso e incolor que ocupa, além do espa ço da medula espinhal. Os ventrículos, o canal cen-
subaracnóide, as cavidades ventriculares. Sua tral do bulbo e da medula, são revestidos por uma
função primordial é de proteção mecânica do sis- camada simples de células ependimárias, que
tema nervoso central, formando um verdadeiro separa o liquor do tecido nervoso propriamente
coxim líquido entre este e o estojo ósseo. dito. O liquor do sistema ventricular comunica-
Além desta função de proteção mecânica, o se com o liquor do espaço subaracnóide no IV ven-
liquor contribui para a proteção biológica do sis- trículo, na região da cisterna magna, através de
tema nervoso central contra agentes infecciosos, duas aberturas laterais, os forames de Luschka.
permitindo a distribuição mais ou menos homo- A maior parte do liquor é formada nos plexos
génea de elementos de defesa como leucócitos e coróides (tufos de tecido conjuntivo, rico em
anticorpos. A cavidade craniana é uma formação capilares sanguíneos, que se projetam da pia -
rígida preenchida pelo tecido nervoso, sangue e máter), principalmente nos ventrículos laterais.
liquor. Havendo variação de volume de um des- Daí, o liquor passa ao III e IV ventrículos, ga-
tes componentes, o volume dos outros componentes nhando posteriormente o espaço subaracnóide c
se altera compensatoriamente, de modo a manter o canal central medular. A maior parte do liquor
a pressão intracraniana constante. O liquor exerce é absorvida através das granulações aracnóides,
também uma função compensatória de regulação situadas principalmente na parte superior do crâ-
do volume intracraniano. Por exemplo, se hou- nio (Fig. 10.10). No espaço subaracnóide medu-
ver um aumento de volume do parênquima lar o liquor circula em direção caudal, mas ape-
encefálico, como no caso do crescimento de um nas uma parte do mesmo retorna, pois há reabsorção
tumor, há uma tendência de diminuir a produção liquórica nas pequenas granulações aracnóides
do liquor, ou de aumentar a sua absorção, com o existentes nos prolongamentos da dura-máter que
objetivo de manter inalterada a pressão intra- acompanham as raízes dos nervos espinhais. Como
craniana. O mesmo ocorre em casos de hiperten- a produção de liquor nos ventrículos excede a sua
são, cm que há um aumento do fluxo sanguíneo absorção, o mesmo flui dos ventrículos para o es-
cerebral. Deve-se lembrar, no entanto, que esta paço subaracnóide, onde normalmente ocorre a
compensação feita pelo líquido cefalorraquidia - absorção. A taxa de absorção do espaço subarac-
no auxilia somente até um certo ponto. Por exem- nóide é diretamente proporcional à pressão in-
plo, no caso do tumor, à medida que este vai tracraniana. A absorção liquórica também ocorre
aumentando muito de volume, o liquor já não nas veias e vasos linfáticos localizados ao redor dos
consegue mais compensar a pressão intracraniana. nervos cranianos e espinhais. Além disso, acredi-
O liquor é também um agente de troca de meta- ta-se que algum liquor entre no parênquima cere-
bólitos entre o sangue e o cérebro, ajudando na bral e seja absorvido pelos vasos sanguíneos de lá.
nutrição cerebral durante o período embrionário Tal absorção ocorre mais frequentemente quando
e servindo para transferir produtos residuais do a pressão intracraniana está elevada.
metabolismo do cérebro para a circulação. A exploração clínica do espaço subaracnóide na
Os espaços ocupados pelo liquor dividem-se medula é facilitada por certas particularidades ana-
cm internos c externos. Os espaços internos cor- tómicas da dura-máter e da aracnóide na região lombar
respondem aos quatro ventrículos cerebrais e ao da coluna vertebral. A medula termina mais cranial-
canal central da medula. Os espaços externos estão mente do que o saco durai e a aracnóide que o acom-
compreendidos entre a aracnóide e a pia-máter, panha. Entre esses dois níveis, o espaço subarac-
dividindo-se em espaços subaracnóides cranianos nóide é maior, contém maior quantidade de liquor
e raquianos. e nele estão apenas o filamento terminal e as raízes
O sistema ventricular é constituído pelos dois que formam a cauda equina. Não havendo perigo
ventrículos laterais, o III e o IV ventrículos (Fig. de lesão medular, esta área é ideal para a introdu-
10.9). Os ventrículos laterais situam-se simetri- ção de uma agulha, com a finalidade de retirada de
camente dentro de cada hemisfério cerebral e liquor para fins terapêuticos ou diagnósticos. Além
comunicam-se por meio do forame interventri- disso, pode-se realizar punções a este nível para
cular (forame de Monro) com o III ventrículo, que introdução de meios de contrastes durante a reali-
fica localizado na linha mediana. Este continua zação de exames radiográfícos (por exemplo, nas
caudalmente pelo aqueduto cerebral (aqueduto mielografías), e para a introdução de anestésicos nas
de Sylvius) até o IV ventrículo, o qual, por sua chamadas anestesias raquidianas.
13. 462 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Canal central
da medula
Fora me
interventricular
Aqueduto mesencefálico
Ventrículo lateral Figura ventrículo IV
ventrículo
10.9 -Ventrículos cerebrais do cão - vista dorsal.
Plexos
coróides
Espaço
subaracnó
Ventrículos cerebrais ide
Seios da dura-máter
Granulação aracnóide
Canal central medular
Figura 10.10 - Formação e absorção do liquor.
SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO centrais para a periferia.
Embora denominado periférico, este sistema
contém fibras nervosas que unem o sistema ner-
voso central aos órgãos efetores e/ou receptores,
situados na periferia. Esta união justifica a pre-
sença de elementos do sistema nervoso periféri-
co na medula e no enccfalo. Conforme sua topo-
grafia, o sistema nervoso periférico pode ser divi-
dido em nervos cranianos e espinhais. De acordo
com o tipo de neurônio envolvido, são denomi-
nados de efetores ou sensitivos. Os ncurônios
efetores dividem-se conforme a sua função em
neurônios motores e neurônios autonômicos,
ambos eferentes porque conduzem os estímulos
14. O sistema nervoso periférico inclui, portan-
to, os 12 pares de nervos cranianos e os 36 pares
de nervos espinhais.
NEURÔNIOS SENSITIVOS E
MOTORES
Dentre as estruturas celulares encontradas no
sistema nervoso, o neurônio assume importância
fundamental por apresentar a capacidade de ex-
citação (polarização e despolarização), sendo res-
ponsável por todo o início e manutenção da ati-
vidade neurológica.
Os neurônios podem ser funcionalmente di-
vididos em neurônios sensitivos e motores, sen-
15. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 463
do estes últimos responsáveis pelo início e ma- encefálico. Seu axônio termina em interneurônios
nutenção da atividade motora, podendo ser divi- que fazem sinapse com o neurônio motor inferior.
didos em neurônios motores superiores (NMS) e O NMS é o responsável pelo início dos movimentos
neurônios motores inferiores (NMI) (Fig. 10.11). voluntários, manutenção do tono muscular e
A associação entre neurônios sensitivos e regulação da postura.
neurônios motores permite a realização de arcos O neurônio motor inferior é um neurônio efe-
reflexos. Reflexos são respostas biológicas normais, rente que liga o SNC ao órgão efetor, como um
espontâneas c praticamente invariáveis, sendo úteis músculo ou uma glândula. Possui seu corpo celu-
ao organismo. O arco reflexo é uma resposta bá- lar localizado em núcleos encefálicos (núcleos dos
sica após a realização de um estímulo e é por meio NMI dos nervos cranianos) ou na substância cin-
de suas várias modalidades (reflexos espinhais, zenta da medula espinhal, e seus axônios deixam
reflexos dos nervos cranianos) que parte do exa- a medula através das raízes nervosas ventrais, em
me neurológico será realizada. O arco reflexo nada
dois pontos da medula espinhal, de C6 a T2 e de
mais c do que uma resposta motora involuntária
L4 a S3, nos chamados plexos braquial e lombos-
(sem uma supervisão direta de estruturas ligadas
sacral, respectivamente. Estes axônios irão fazer
à consciência) frente a um estímulo aplicado a uma
determinada estrutura. Basicamente três neurô- parte dos nervos periféricos, terminando em um
nios (em alguns arcos reflexos mais estruturas músculo.
podem estar envolvidas) são responsáveis pela O neurônio motor superior exerce uma influên-
efetuação de um arco reflexo. Em primeiro lugar cia inibitória ou moduladora sobre o inferior e, por
um neurônio sensitivo (aferente) irá captar a in- isso, quando é lesado, ocorre aumento do tono (como
formação sensorial e conduzi-la até a medula ou tono entendemos a contração muscular residual
tronco encefálico (dependendo se será um arco presente nos músculos) e dos reflexos, demons-
reflexo mediado por um nervo espinhal ou cra- trando uma hiperatividade do NMI. Também ocorre
niano, respectivamente), depois fará a conexão paresia (perda parcial da atividade motora) ou
com um interneurônio que será responsável pela paralisia (perda total da atividade motora) já que
transmissão desta informação para um neurônio as informações geradas nos núcleos motores (cor-
motor (eferente), o qual, por sua vez, efetuará a pos celulares dos NMS) não chegam aos músculos.
estimulação de um músculo. Vários reflexos po- Nestes casos, as paresias geralmente são espásticas
dem ser utilizados para avaliação neurológica como, e com hipcrreflexia (devendo-se levar em conta o
por exemplo, o reflexo patelar, o reflexo palpe- tempo decorrido após a lesão, já que a espasticidadc
bral e o reflexo pupilar. A ocorrência de reflexos diminui com o tempo).
espinhais depende da integridade de músculos, Por sua vez, cm lesões de neurônios motores
de seus nervos periféricos e dos respectivos inferiores ocorre paresia ou paralisia com diminui-
segmentos medulares. ção ou ausência dos reflexos (hipo ou arreflexia) e
O neurônio motor superior tem seu corpo ce- diminuição do tono muscular. Isto ocorre porque
lular na substância cinzenta do córtex cerebral, as informações clctricas não estão sendo encami-
nos núcleos da base ou em núcleos do tronco nhadas ou são enviadas em menor número.
Figura 10.11 - Localização dos neurônios
Neurônio motor superior (NMS)
motores superior e inferior.
Neurônio motor
inferior (NMI)
Membro pélvico
Membro torácico
16. 464 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
NERVOS CRANIANOS núcleo pré-tectal e, posteriormente, no núcleo de
Edinger-Westphal no mesencéfalo. As fibras desse
Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fa/em cone- último passam pelo nervo oculomotor (III par),
xão com o tronco encefálico, excetuando-se ape- provendo inervação parassimpática para a mus-
nas os nervos olfatório e óptico, que ligam-se, culatura lisa da íris. Portanto, quando é testado o
respectivamente, ao telencéfalo e ao diencéfalo. reflexo pupilar à luz, está sendo testada parte do
I Par, Nervo Olfatório. É um nervo sensitivo, II e do III par (Fig. 10.12).
cujas fibras conduzem impulsos olfatórios, origi- A inervação simpática da pupila, parte do hi-
nados nas fossas nasais. potálamo e região pré-tectal e desce pelo tronco
IIPar, Nervo Óptico. É constituído por um feixe encefálico até a medula espinhal, através do tra-
de fibras nervosas que se originam na retina e são to tcctotegmentar espinhal, localizado próximo à
responsáveis pela percepção visual e, por um com- substância cinzenta no funículo lateral. Os neu-
ponente sensitivo do reflexo pupilar à luz. Cada rônios de primeira ordem fazem então sinapse na
nervo óptico une-se com o do lado oposto, for- coluna cinzenta intermediolateral de Tl a T3. Os
mando o quiasma óptico, no qual há cruzamento neurônios de segunda ordem saem da medula
parcial de suas fibras. espinhal através das raízes vcntrais de Tl a T3 e
A via visual inclui o nervo óptico, o quiasma unem a cadeia simpática paravertebral e o tronco
óptico, os tratos ópticos, os corpos geniculados do nervo vagossimpático ao gânglio cervical cra-
laterais, as radiações ópticas e o lobo occipital do nial. Os neurônios de terceira ordem passam pelo
córtex cerebral. Nos cães e nos gatos, 75% e 65% gânglio cervical cranial, atravessam a orelha mé-
das fibras do nervo óptico cruzam, respectivamente, dia, acompanham a divisão oftálmica do nervo
o quiasma óptico. Desse modo, a maior parte da trigêmeo quando este sai pela fissura orbital e,
sensação visual tem uma representação contrala- então, inervam a musculatura lisa das pálpebras,
teral no córtex. As fibras provenientes dos tratos região periorbital e íris (Fig. 10.13).
ópticos fazem sinapse com os corpos geniculados A inervação parassimpática da pupila parte do
laterais e, daí, seguem através das radiações ópticas hipotálamo e desce uma pequena distância atra-
até o lobo occipital do córtex cerebral. Algumas vés do tronco encefálico rostral, até o núcleo de
fibras saem do trato óptico e fazem sinapse no Kdinger-Westphal no mesencéfalo. Os neurônios
Figura 10.12- Localização neuroanatômica da
via visual e reflexos pupilares.
Núcleo
geniculado
lateral Inervação parassimpática da
pupila
Nervo óptico
Quiasma
óptico
Trato óptico
Radiações •
ópticas
Córtex
occipital
Núcleo de Edinger
Westphal
17. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 465
de segunda ordem caminham juntamente com o Quando a fixação do olhar em um objeto tende
nervo oculomotor através da fissura orbital até o a ser rompida por movimentos do corpo ou da
gânglio ciliar. Os neurônios de terceira ordem cabeça, existe um reflexo de movimentação dos
passam pela região periorbital indo inervar a olhos que tem por finalidade manter essa fixa-
musculatura lisa das pálpebras e íris (Fig. 10.13). ção. Por exemplo, se um animal está correndo e
Quando o sistema constituído pelos nervos fixa os olhos em um determinado objeto à sua
ópticos e oculomotor é estimulado pela luz frente, a cada trepidação da cabeça em decorrên-
incidindo na retina, a pupila se contrai. Se o ani- cia da corrida, o olho se move em sentido contrá-
mal é cego e apresenta perda da resposta pupilar rio, mantendo o olhar fixo no objeto. Assim, quando
à luz, deve haver alguma lesão na retina, no ner- a cabeça se move para baixo, os olhos se movem
vo óptico, no quiasma óptico ou no trato óptico, para cima, e vice-versa. Caso não houvesse esse
antes da saída das fibras nervosas para o núcleo mecanismo automático e rápido para a compen-
pré-tectal. Se o animal é cego mas tem pupilas sação dos desvios causados pela trepidação, o objeto
fotorreagentes, então a lesão deverá estar locali- estaria sempre saindo da mácula, ou seja, da parte
zada na via visual após a saída das fibras dos tra- da retina onde a visão é mais distinta. Os re-
tos ópticos em direção ao núcleo pré-tectal. Es- ceptores para este reflexo são as cristas dos ca-
ses achados indicam uma lesão do trato óptico, nais semicirculares da orelha interna, onde existe
corpos geniculados laterais, radiações ópticas ou a endolinfa. Os movimentos da cabeça causam
lobo occipital. movimento da endolinfa dentro dos canais semi-
III Par, Nervo Oculomotor; IVPar, Nervo Troclear; circulares e este movimento determina desloca-
VI Par, Nervo Abducente. São nervos motores que mento dos cílios das células sensoriais das cris-
penetram na órbita, distribuindo-se aos músculos tas. Isto estimula os prolongamentos periféricos
extrínsecos do globo ocular, quais sejam, elevador dos neurônios do gânglio vestibular, originando
da pálpebra superior, reto dorsal, reto ventral, reto impulsos nervosos que seguem pela porção ves-
medial, reto lateral, oblíquo dorsal e oblíquo ven- tibular do nervo vestibulococlear, através do qual
tral. Todos estes músculos são inervados pelo ner- atingem os núcleos vestibulares. Destes núcleos
vo oculomotor, com exceção do reto lateral e do saem fibras que ganham o fascículo longitudinal
oblíquo dorsal, inervados, respectivamente, pelos medial c vão diretamente aos núcleos do III, IV e
nervos abducente e troclear. Além disso, o nervo VI pares de nervos cranianos, determinando o
oculomotor possui fibras responsáveis pelo contro- movimento do olho em sentido contrário ao da
le da constricção c acomodação pupilar através de cabeça.
suas fibras parassimpáticas, e o nervo abducente Nistagmo é o movimento oscilatório dos glo-
inerva a musculatura retrobulbar, produzindo mo- bos oculares, caracterizado por um componente
vimentos de retração do globo ocular. Os núcleos rápido e outro lento. Durante a movimentação da
dos nervos oculomotor e troclear estão localizados cabeça num animal normal, os olhos desviam-se
no mesencéfalo e do nervo abducente, na ponte. vagarosamente em direção oposta à da rotação da
Segmento
T1-T3
Inervação simpática
do globo ocular
Gânglio cervical
cranial
Globo
ocular
Inervação parassimpática do Figura 10.13 - Esquema ilustrativo da inervação simpática e
globo ocular parassimpática da pupila.
18. 466 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
cabeça e então movimentam-sc rapidamente de Movimento lento
volta em sua direção. Isto causa um nistagmo
vestibular com um componente lento e outro
rápido. Quando a cabeça é rodada para a direita,
o canal semicircular à direita é estimulado e o
correspondente canal semicircular à esquerda é
inibido. Os impulsos viajam das células ciliadas
através do nervo vestibular aos núcleos vestibu-
lares e daí para o fascículo longitudinal medial. Núcleo do nervo
oculomotor
O núcleo oculomotor ipsilateral é estimulado
causando a contração do músculo retomedial do
olho direito, desviando-o para a esquerda. Simul-
taneamente, o núcleo abduccnte contralateral é Núcleo do nervo
estimulado, causando a constrição do músculo abducente
retolateral do olho esquerdo, desviando-o para a Nervo
esquerda. Desta maneira, o componente lento do vestibular
nistagmo é produzido. Depois dos olhos se des-
viarem uma certa distância para a esquerda, eles
se movimentam rapidamente de volta para a di-
reita, em decorrência de um mecanismo compen- Núcleos Orelha interna
satório central proveniente do tronco cerebral. A vestibulares1
fase rápida do nistagmo é, portanto, para a direi-
ta, a direção para onde a cabeça está sendo gira-
da. E por mecanismos similares, utilizando o fas-
Figura 10.14- Formação da fase lenta do nistagmo horizontal.
cículo longitudinal medial e suas conexões com
o III, IV e VI pares de nervos cranianos, que se
desenvolve o nistagmo vertical com uma fase rápida VII Par, Nervo Facial. O nervo facial possui
para cima, quando a cabeça é movida para cima, uma raiz motora, responsável pela atividade dos
e uma fase rápida para baixo quando a cabeça é músculos faciais e uma raiz sensitiva e visceral,
movida para baixo. Quando um animal sofre uma responsável pela inervação das glândulas lacrimal,
rotação, durante a aceleração inicial a fase rápida submandibular e sublingual e pela inervação do
se dá na direção para a qual o animal está sendo palato e dos dois terços craniais da língua (forne
rodado. Conforme a rotação continua, a velocidade cendo paladar). O nervo facial tem grande impor
de rotação torna-se constante e o nistagmo pára, tância clínica em razão de suas relações com o nervo
já que não há mais fluxo endolinfático. Quando a vestibulococlear e com estruturas da orelha média
rotação do animal é descontinuada, a desaceleração e interna, em seu trajcto intrapetroso, e com a
estimula o lado oposto. Um ligeiro nistagmo pós- glândula parótida em seu trajeto extrapetroso. O
rotatório é observado, com a fase rápida em dire- nervo facial passa através do meato acústico in
ção oposta àquela vista durante a aceleração, ou terno, juntamente com o nervo vestibulococlear,
em direção oposta à da rotação. Portanto, se um passando depois pelo canal facial do osso petroso
animal normal é girado para a esquerda, até que e orelha média, saindo do crânio pelo forame
ele pare, desenvolver-se-á um nistagmo pós-ro- estilomastóideo.
tatório com fase rápida para a direita (Fig. 10.14). VIII Par, Nervo Vestibulococlear. É um nervo
V Par, Nervo Trigêmio. O nervo trigêmio é um sensitivo que compõe-se de uma porção vestibu
nervo misto, possuindo uma raiz sensitiva e uma lar e uma coclear que, embora unidas em um tronco
raiz motora. A raiz sensitiva possui três ramos ou comum, têm origem, funções e conexões centrais
divisões: nervo oftálmico, nervo maxilar e nervo diferentes. A parte vestibular conduz impulsos
mandibular, responsáveis pela sensibilidade dos nervosos relacionados com o equilíbrio, origina
pavilhões auriculares, pálpebras, córnea, face, dos em receptores da porção vestibular da orelha
cavidade oral e mucosa do septo nasal. A raiz motora interna. A parte coclear é constituída de fibras que
do nervo trigêmio inerva os músculos da masti- conduzem impulsos nervosos relacionados com a
gação. O nervo trigêmio localiza-se na ponte. audição.
19. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 467
IXPar, Nervo Glossofaríngeo. É um nervo mis- parede vesical. O nervo pélvico também trans-
to que inerva músculos da faringe e estruturas mite informação sensitiva e inervação parassim-
palatinas, em conjunto com algumas fibras do nervo pática para o músculo liso do cólon descendente
vago e que supre a inervação sensitiva para o terço e reto. As raízes nervosas e segmentos da medula
posterior da língua e mucosa faringeana. Este nervo espinhal de SI a S3 também formam o nervo
também possui fibras parassimpáticas para as glân- pudendo, que transmite informação sensitiva ao
dulas zigomática e parótida. Os nervos glossofa- esfíncter uretral externo, ao esfíncter anal e à região
ríngeo, vago e acessório originam-sc de um núcleo perineal. Além disso, o nervo pudendo determi-
comum, o núcleo ambíguo, situado no bulbo. na a inervação motora do esfíncter uretral exter-
X Par, Nervo Vago. É o maior dos nervos cra no e do músculo estriado do esfíncter anal.
nianos, é um nervo misto e essencialmente vis A contração reflexa da bexiga é conseguida
ceral. Ele emerge do crânio e percorre o pescoço através de uma série de eventos que envolvem os
e o tórax, terminando no abdome. Neste trajeto nervos pudendo e pélvico, e segmentos da medu-
o nervo vago dá origem a numerosos ramos que la espinhal de SI a S3. Quando a bexiga se distende,
inervam a laringe e a faringe, controlando tam são estimuladas terminações nervosas aferentes
bém a vocalização e a função laringeana. Sua (sensitivas) da parede vesical e do esfíncter ure-
principal função é fornecer inervação paras - tral externo, transmitindo-se impulsos para os nervos
simpática para as vísceras torácicas e abdominais, pélvico e pudendo e, através destes, para a subs-
exceto aquelas da região pélvica. tância cinzenta de SI a S3. Os núcleos detrusores
XI Par, Nervo Acessório. Ê formado por uma na medula são estimulados e os impulsos paras-
raiz craniana (bulhar) c uma raiz espinhal (origi simpáticos eferentes são transmitidos através do
nária das raízes ventrais dos segmentos cervicais nervo pélvico, ocorrendo contração do músculo
de Cl a C5). Fibras da raiz craniana unem-se ao detrusor. Simultaneamente, os núcleos pudendos
nervo vago e distribuem-se com ele, inervando são inibidos, o esfíncter uretral externo é relaxado
músculos da laringe. Fibras da raiz espinhal iner e a urina é expelida da bexiga. Trata-se, portanto,
vam os músculos trapézio e parte dos músculos de um reflexo automático, em nível medular.
esternocefálico e braquiocefálico. Estes músculos À medida que a bexiga se distende, alguns im-
sustentam o pescoço lateralmente e participam pulsos sensitivos são levados para os segmentos sacrais
dos movimentos dos ombros e parte superior dos da medula espinhal c ascendem através da medula
membros torácicos. e do tronco encefálico para a formação reticular, lo-
XII Par, Nervo Hipoglosso. É um nervo mo calizada na ponte e mesencéfalo, onde se localiza o
tor, possui seu núcleo localizado no bulbo e inerva centro detrusor. Alguns impulsos continuam através
músculos extrínsecos e intrínsecos da língua. do tálamo e da cápsula interna para o córtex soma-
tosensitivo, onde a sensação da bexiga distendida e
a necessidade de urinar são percebidas. Caso a mic-
NERVOS ESPINHAIS ção seja inapropriada no momento, impulsos do lobo
frontal descem e inibem o centro detrusor do me-
As raízes dorsais da medula espinhal são compos- sencéfalo e ponte. Outros impulsos descem do lobo
tas primariamente de neurônios sensitivos. As raízes frontal para os segmentos sacrais da medula, através
ventrais da medula espinhal são compostas por do trato reticulospinal, e estimulam os nervos e nú-
axônios de neurônios motores inferiores. As raízes cleos pudendos para produzirem contração e fecha-
dorsal e ventral unem-se para formar um nervo mento do esfíncter uretral externo. Através desses
espinhal periférico, o qual contém uma combina- mecanismos e interações, a micção é inibida nos
ção de processos motores e sensitivos (Fig. 10.15). momentos apropriados. Quando o animal está em um
local onde é permitido urinar, a inibição cortical no
centro detrusor é liberada e ocorre a contração vo-
INERVAÇÃO DA BEXIGA luntária do esfíncter uretral externo.
URINÁRIA E DO ÂNUS A inervação simpática da bexiga origina-se na
substância cinzenta de L2 a L5, sai da medula
As raízes nervosas e os segmentos medulares de espinhal através dos nervos esplâncnicos lomba-
SI a S3 formam o nervo pélvico, que transmite res, faz sinapse no gânglio mesentérico caudal e
informação sensitiva e inervação motora parassim- atinge a bexiga através dos nervos hipogástricos. A
pática para o músculo detrusor, o músculo liso da inervação simpática da bexiga aumenta o limiar
20. 468 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Fibra
sensitiva
Figura 10.15 - Representação da formação
de um nervo periférico.
,--""
produzindo relaxamento do
esfíncter anal, e as fezes são
expulsas.
Receptor
EXAME
NEUROLÓGICO
DE PEQUENOS
ANIMAIS
Objetivos
Os objetivos de um exame
neurológico são:
de contração reflexa local c permite que o mús-
culo detrusor se distenda e aumente o volume • Determinar se existe disfunção do sistema
vesical, antes que a contração muscular ocorra. O nervoso.
nervo hipogástrico também promove inervação • Estabelecer a localização e a extensão do
simpática do músculo liso da uretra próxima! e envolvimento neurológico.
produz dilatação uretral (Fig. 10.16). • Tentar direcionar o diagnóstico e o prognós
O reflexo de defecação envolve mecanismos tico do animal.
parecidos com o de micção. A distensão estimula
aferências do reto e do esfíncter anal, que atra-
vés dos nervos pélvico e pudendo chegam à subs- Identificação do Animal
tância cinzenta de SI a S3. O nervo pélvico esti-
mula a contração do músculo liso do cólon des- Antes de iniciar a anamnese c o exame físico,
cendente e do reto, o nervo pudendo é inibido, é necessário prestar atenção à identificação do
animal, incluindo a espécie, raça, idade, sexo e
cor da pelagem. Muitos distúrbios neurológicos
S1-S3
apresentam uma predisposição racial. Por exem-
plo: epilepsia verdadeira em cães das raças beagle,
Nervo poodle, pastor alemão, setter irlandês, são bernardo
pélvico e dachshund; hidrocefalia no chihuahua e neo-
Cânglio
plasias cerebrais primárias no boxer e boston terrier.
mesentérico
caudal
De um modo geral, cães de raças pequenas ten-
dem a apresentar convulsões generalizadas mo-
Nervo
pudendo
Figura 10.16 - Inervação vesical.
L2-L5
21. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 469
deradas, sem perda de consciência. No entanto, tratamentos anteriormente realizados. Existem
cães de raças grandes e gigantes geralmente apre- muitos antecedentes mórbidos que podem estar
sentam convulsões mais severas e mais difíceis relacionados com o quadro neurológico atual. Por
de controlar. A idade do animal também é impor- exemplo, uma queda ou um atropelamento pode
tante, pois malformações congénitas geralmente provocar um traumatismo crânio-encefálico com
produzem sinais clínicos em animais com menos posterior formação de um foco convulsivo. Uma
de um ano de idade. Por outro lado, processos cirurgia prévia para retirada de um adenocarcino-
neoplásicos são frequentemente observados em ma mamário pode sugerir a existência de uma
cães c gatos com mais de cinco anos. Intoxica- metástase em sistema nervoso central. A descri-
ções, infecções ou traumas não acometem algu- ção do local onde o animal vive c muito impor-
ma idade específica, mas são mais comuns em tante para se detectar fontes de substâncias intoxi-
animais jovens, que possuem tendência a masti- cantes como tintas, inseticidas, etc. O manejo
gar objetos estranhos, podem ter vacinação incom- incorreto do animal pode ser a causa de um pro-
pleta ou possuem pouca experiência com veícu- blema neurológico. Um exemplo disto são as in-
los em movimento. Os primeiros episódios da toxicações por banhos carrapaticidas. O tipo de
epilepsia hereditária geralmente começam em dieta também é importante para avaliar possíveis
animais de seis meses a cinco anos de idade. Já deficiências nutricionais. Com relação aos trata-
doenças degenerativas ocorrem mais frequente- mentos anteriormente preconizados, é importante
mente após os cinco anos de idade. saber qual o medicamento utilizado, a dose, o
Poucos distúrbios neurológicos possuem pre- intervalo de administração e a duração do trata-
disposição sexual. Os adenocarcinomas mamári- mento. Muitas vezes o medicamento utilizado
os podem produzir metástases no sistema nervo- estava correto, mas houve subdosagem na admi-
so central em fêmeas c os adenocarcinomas pros- nistração.
táticos também podem provocar metástase no Além de uma anamnese detalhada sobre o
sistema nervoso central em cães machos. Em raras problema neurológico, deve-se seguir a rotina
ocasiões os distúrbios neurológicos genéticos normal de anamnese dos outros sistemas. Isto
podem estar relacionados com a cor da pelagem; porque muitas vezes o quadro neurológico é se-
entretanto, gatos brancos de olhos azuis podem cundário a um problema em outro órgão ou siste-
ser surdos. ma. Por exemplo, encefalopatia hepática ou re-
nal, doenças cardíacas c infecções da orelha mé-
dia. Além disso, algumas doenças infecciosas cau-
Anamnese sam alterações cm outros sistemas além do qua-
dro neurológico, como, por exemplo, a cinomose
A avaliação neurológica de qualquer pacien- e a toxoplasmose. Uma história de distúrbios
te deve começar com uma anamnese cuidadosa e endócrinos e sinais de poliúria, polidipsia e poli-
detalhada. Os sinais clínicos observados em pa- fagia podem indicar uma lesão hipotalâmica ou
cientes com injúrias ao tecido nervoso refletem o hipofisária. Estas informações devem ser consi-
local onde ocorreu a lesão. A maneira como esses deradas ao localizar a lesão.
sinais começaram e o curso da doença refletem a
causa da injúria. Por esse motivo, a anamnese é
essencial para a avaliação do paciente. A anamnese Início da Doença
requer, portanto, uma descrição completa do
quadro. É importante que se determine como foi A descrição do início da doença pode ser um
o início e a evolução da doença. A seguir, a anamne- dado importante para o diagnóstico. Quando o
se pode ser conduzida na mesma sequência em início é súbito, os sinais desenvolvem-se rapida-
que se realiza o exame neurológico. Inicialmente mente, geralmente atingindo sua intensidade
o dono deve ser inquerido sobre o nível de cons- máxima em 24 horas. Desta forma, podem suge-
ciência do animal e se ocorreram mudanças de rir, por exemplo, traumatismos, intoxicações ou
comportamento, de personalidade ou convulsões. acidente vascular cerebral. Doenças subagudas
Depois faz-se a avaliação dos nervos cranianos e geralmente apresentam sinais que se desenvol-
da locomoção. Finalmente, obtém-se informações vem progressivamente por um período de vários
a respeito dos antecedentes mórbidos, do ambiente dias a algumas semanas. Exemplos incluem a
onde o animal vive, do manejo do animal e dos maioria das doenças inflamatórias, infecciosas e
22. 470 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
algumas doenças ncoplásicas. Doenças crónicas Esses casos podem sugerir doenças metabólicas ou
são aquelas cujos sinais continuam a se desen- instabilidades de coluna vertebral (Fig. 10.17).
volver por um período de meses ou anos, como Os medicamentos utilizados, suas respectivas
por exemplo distúrbios nutricionais, doenças dosagens, bem como a resposta à terapia prévia,
degenerativas e algumas neoplasias. Outra infor- também devem ser investigados. Se existiu uma
mação importante é determinar a idade do ani- mudança no quadro clínico do animal durante o curso
mal quando do aparecimento do quadro neuroló- da doença, é importante que se determine se novos
gico. Por exemplo, um animal pode vir para a sinais clínicos apareceram ou se apenas os sinais
consulta com dois anos, mas o quadro pode exis- anteriores pioraram. Por exemplo: um animal apre-
tir desde os quatro meses de idade. senta tetraparesia e após duas semanas torna-se
tetraplégico. Um outro animal apresenta tetraparesia
e após duas semanas apresenta sinais de disfunção
Evolução da Doença de nervos cranianos. No primeiro caso houve piora
da lesão, mas no segundo caso houve uma progres-
(Progressão, Estabilidade, Melhora) são anatómica da lesão. Isto é, há envolvimento de
outras partes do sistema nervoso.
A evolução da doença também está relaciona-
da ao seu início, mas é um parâmetro um pouco
diferente. Caso os sinais sejam estáticos, isto é, não
se alteram com o curso da doença, geralmente
Mudanças de Comportamento
sugerem anomalias congénitas do tecido nervoso. Deve-se obter o máximo de informações do
Caso os sinais sejam progressivos, isto é, ocorre um proprietário como, por exemplo, se houve algu-
aumento na severidade dos mesmos, isto sugere ma mudança no comportamento do animal. Ani-
inflamação, degeneração ou neoplasia do tecido mais com lesões no lobo piriforme, por exemplo,
nervoso que, enquanto não forem tratadas, evo- podem apresentar agressividade excessiva. Lesões
luem progressivamente. Nos casos de melhora no lobo frontal podem incapacitar o animal em
clínica sem tratamento, pode-se pensar em intoxi- reconhecer o próprio dono e causam incapacida-
cações não muito severas, em que houve elimina- de para o aprendizado. Animais epilépticos po-
ção do produto tóxico pelo organismo; em lesões dem alterar seu comportamento um pouco antes
vasculares tais como um acidente vascular cere- ou logo após uma convulsão.
bral de pequena intensidade, em que não houve
um grave comprometimento às funções neuroló-
gicas e ocorre recuperação do tecido nervoso lesa- Convulsões
do; ou em injúrias traumáticas leves, em que há
recuperação da função cerebral. Existem algumas Convulsão é um distúrbio desencadeado por
situações em que há períodos de melhora e piora. uma descarga elétrica neuronal anormal e exces-
Sinais clínicos
Traumatismo vascular
--- Anomalia congénita
Metabólica
Neoplasia
Inflamação
Degeneração
Figura 10.17 - Evolução do quadro clínico ao longo do
tempo de acordo com a etiologia da enfermidade.
> Tempo
23. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 471
siva, acarretando ou não perda de consciência, reconhecimento do proprietário, cegueira transi-
presença de movimentos motores e fenómenos tória e desorientação. Muitas vezes o animal
viscerais, sensoriais e psíquicos, caracterizando- mostra-se extremamente ativo e deambula con-
se, pois, por atividade nervosa qualitativa ou tinuamente, urina e defeca em grande quantida-
quantitativamente alterada, em parte ou em todo de e frequência, mostra-se sedento e esfomeado.
o cérebro. Pode ser desencadeada por um estí- Deve-se perguntar ao proprietário se ele percebe
mulo sensorial, químico ou elétrico, ou ainda por essas fases e o que ocorre com o animal nestes
enfermidades intrínsecas do sistema nervoso cen- períodos. Deve-se determinar como começam as
tral. Em função das características eletroencefa- convulsões. Se elas são focais (apenas uma porção
jjgráficas e clínicas, classifica-se as convulsões em do corpo, por exemplo, um membro) e depois
generalizadas ou primárias e em parciais ou focais. tornam-se generalizadas (todo o corpo), ou se são
As convulsões generalizadas manifestam-se prin- generalizadas desde o início. Se há ou não perda
cipalmente em decorrência de distúrbios meta - de consciência. Se o animal cai, urina, defeca ou
bólicos, intoxicações, deficiências nutricionais e vocaliza durante a convulsão. Se existe salivação
epilepsia hereditária. Elas se caracterizam por uma intensa. Se as convulsões são tónicas (rigidez) ou
descarga elétrica difusa no córtex cerebral, ocor- tônico-clônicas (contrações musculares bruscas). De-
rendo ao mesmo tempo manifestações clínicas pendendo do tipo de convulsão, pode-sc supor qual
simétricas e sincrônicas em todo o corpo. Podem sua causa. Por exemplo, um distúrbio metabólico
ou não causar perda de consciência. Quando não não causará uma convulsão focal. A descrição do
há perda da consciência, são ditas leves', quando há, quadro convulsivo, principalmente quando é fo-
são ditas graves. As convulsões parciais ou focais cal, auxilia a sugerir a porção do córtex cerebral
originam-se de uma área focal de atividade envolvida ou responsável pelo foco convulsivo.
neuronal anómala, no córtex cerebral. As mani- Dessa maneira, animais com convulsões focais
festações clínicas dependem da área que contém motoras possuem a lesão no lobo frontal contrala-
o foco, podendo ter características motoras, sen- teral. É importante determinar também a duração
soriais ou comportamentais. Se existirem relatos de cada fase. Além da avaliação de cada uma das
de convulsões, deve-se obter uma descrição de- fases de um episódio convulsivo, outras informa-
talhada do quadro convulsivo. A convulsão é di- ções são de extrema importância. Dcvc-sc deter-
vidida em três ou quatro fases, dependendo do minar a idade do animal quando do primeiro epi-
autor: pródromo, aura, icto e pós-icto. Pródromo é sódio convulsivo. Por exemplo, em casos de epi-
um período de duração variável (de minutos a dias) lepsia verdadeira ou hereditária, o primeiro episó-
que antecede o episódio convulsivo e que pode dio convulsivo ocorre geralmente entre os seis meses
ou não ser identificado pelo proprietário. Nesta e os cinco anos de idade. Já na epilepsia adquiri-
fase o animal pode exteriorizar nervosismo, ansi- da, o primeiro episódio aparece semanas ou meses
edade, temor inusitado ou extrema atividade fí- após o insulto original. O intervalo entre as con-
sica. Alguns autores, que consideram quatro es- vulsões é importante na escolha do tratamento. Se
tágios em uma convulsão, denominam o segundo o animal apresenta uma convulsão a cada 12 horas,
estágio de aura. Entretanto, este termo se refere não adianta, por exemplo, utilizar um anticonvul-
ao início da convulsão, conscientemente vivenciado sivante que demore sete dias para atingir níveis
por humanos. Por esse motivo, não pode ser iden- séricos estáveis. Também, por outro lado, se um
tificado em animais, os quais são incapazes de animal apresenta uma convulsão a cada 12 meses,
comunicar verbalmente este fenómeno. Icto é a muitas vezes não é necessário medicá-lo, a não ser
convulsão propriamente dita e tem duração va- que o intervalo entre as convulsões diminua. Sa-
riável, de segundos a minutos. Podem ocorrer várias ber o número total de convulsões é importante
manifestações tais como perda de consciência, também para instituir ou não o tratamento do animal.
queda, convulsões tônico-clônicas, movimentos Deve-se tentar determinar se existem fatores
anómalos dos membros (pedalar), relaxamento de incitantes para o episódio convulsivo, tais como
esfíncteres, salivação excessiva e movimentos estímulos auditivos, mecânicos, excitação ou estro.
mastigatórios. Pós-icto é aquela fase do episódio
convulsivo que, por sua duração geralmente lon-
ga, é muitas vezes confundida com o icto. Ela se Avaliação dos Nervos Cranianos
manifesta por um quadro típico de exaustão ou
sonolência, agressividade, temor exagerado, não Durante a anamnese, deve-se fazer pergun-
tas a respeito dos pares de nervos cranianos, tais