SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 102
Baixar para ler offline
10
Sistema Nervoso
                                ''O CÉREBRO É MAIS AMPLO DO QUE O CÉU."
                                                      (Emily Dickinson)




 Semiologia do Sistema Nervoso de
 Pequenos Animais
     MARY MARCONDES FEITOSA



 Semiologia do Sistema Nervoso de
 Grandes Animais
     ALEXANDRE SECORUN BORGES



 Exames Complementares
     MARY MARCONDES FEITOSA
Semiologia do Sistema Nervoso de
Pequenos Animais
  1
      MARY MARCONDES FEITOSA




           INTRODUÇÃO
          De todos os sistemas do organismo, o sistema nervoso é, muitas ve-
          zes, o menos entendido pela maioria dos clínicos. Para que se possa
          realizar corrctamente o exame neurológico e sua respectiva interpre-
          tação, é necessário conhecer a estrutura e o funcionamento do sistema
          nervoso. Sem o conhecimento das bases anatomofuncionais, ainda que
          elementares, não é possível trilhar o caminho da semiologia e da clí-
          nica neurológica. Além disso, o diagnóstico topográfico é de funda-
          mental importância em neurologia, seja para fins clínicos ou para o
          tratamento cirúrgico de algumas enfermidades.


          DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO
          O sistema nervoso pode ser dividido em partes, levando-se em con-
          sideração critérios anatómicos, embriológicos e funcionais.
              A divisão com base em critérios anatómicos é das mais conheci-
          das, e segue demonstrada no esquema abaixo e na Figura 10.1.


                                                            telencéfalo
                                                cérebro
                                  encéfalo-                 diencéfalo

                     Sistema                    cerebelo
                                                                         mesencéfalo
                     Nervoso •
                     Central                    tronco encefálico        ponte

                                                                         bulbo
                                  medula espinhal



                                               [espinhais
                                  nervos
                     Sistema
                                              cranianos
                     Nervoso .
                     Periférico

                                  gânglios terminações
                                  nervosas
452   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                              Telencéfalo
Diencéfalo                                                 Medula




          Mesencéfalo


                           Ponte               Bulbo                 Figura 10.1 - Divisões do sistema nervoso central.




SISTEMA NERVOSO CENTRAL                                       80% da cavidade craniana. Os dois componentes
                                                              que o formam, telencéfalo e diencéfalo, apresen-
O sistema nervoso central (SNC) está localizado               tam características próprias. O telencéfalo compreende
dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal          os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, os
vertebral); o sistema nervoso periférico está fora deste      quais são incompletamente separados pela fissura
esqueleto. Esta distinção não é perfeitamente cxata           longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado por
pois os nervos e as raízes nervosas, para se conec-           uma larga faixa de fibras comissurais, o corpo caloso,
tarem ao sistema nervoso central, penetram no                 principal meio de união entre os dois hemisférios.
crânio e no canal vertebral. Além disso, alguns               Cada hemisfério cerebral possui quatro lobos cere-
gânglios (conjunto de corpos celulares localizado             brais que são: lobo frontal, o lobo temporal, o lobo
fora do SNC) estão localizados dentro do esque-               parietal c o lobo occipital (Fig. 10.2).
leto axial. O encéfalo é a parte do sistema nervoso
                                                                   No lobo frontal são processadas as atividades
central situada dentro do crânio e a medula fica
                                                              intelectuais, de aprendizagem e as atividades
localizada dentro do canal vertebral.
                                                              motoras finas e precisas. Em primatas esta região
                                                              também tem grande importância no processamento
                                                              de atividades motoras básicas. O lobo frontal tam-
ENCÉFALO                                                      bém influencia o estado de alerta e a integração
O encéfalo é dividido em cérebro, cerebelo e tronco           do animal com o meio ambiente.
encefálico. O cérebro é a porção mais desenvolvida                 O lobo parietal é o responsável pelas infor-
e mais importante do encéfalo, ocupando cerca de              mações sensitivas, tais como dor, propriocepção



   Figura 10.2 -Vista dorsal dos lobos cerebrais de
   um cão.




                                        Córtex                                                                   Córtex
                                        frontal                                                                  occipital



                                                               Córtex parietal            Córtex temporal
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   453



e toque. Entretanto, os animais não parecem                    Os hemisférios cerebrais possuem cavidades,
depender do lobo parietal para processar muitas           revestidas de epêndima e contendo líquido cefa-
sensações, como ocorre no homem, uma vez que              lorraquidiano, denominadas ventrículos cerebrais la-
o tálamo (localizado no diencéfalo) pode proces-          terais direito e esquerdo, que se comunicam pelos
sar mais informações sensitivas nos animais.              forames interventriculares com o IIIventrículo, uma
     O lobo occipital'é necessário para a visão e para    estreita fenda ímpar e mediana situada no diencéfalo.
processar a informação visual.                                 O tronco encefálico interpõe-se entre a medula
     O lobo temporal processa a informação auditi-        e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cere-
va e é também responsável por alguns comporta-            belo, e divide-se em mesencéfalo, situado cranial-
mentos complexos. Partes do córtex do lobo frontal        mente; bulbo, situado caudalmente; ç, ponte, situa-
e temporal estão incluídas no sistema límbico. Este é     da entre ambos. Na sua constituição entram cor-
responsável por muitas emoções e por comporta-            pos de neurônios que se agrupam em núcleos (como
mentos inatos de sobrevivência, tais como prote-          núcleos entende-se o conjunto de corpos celulares
ção, reações maternais e sexuais. A área piriforme        de neurônios dentro do SNC, sendo seu corres-
do lobo temporal é a responsável pela agressivi-          pondente no SNP denominado gânglio) e fibras
dade. A amígdala é um grande núcleo localizado            nervosas, que por sua vez se agrupam em feixes
sobre o lobo temporal, sendo parte do sistema             denominados tratos, fascículos ou leminiscos. Pas-
límbico e responsável por muitas reações de medo.         sam através do tronco encefálico vias sensitivas res-
     Cada hemisfério cerebral possui uma camada           ponsáveis por propriocepção consciente, incons-
superficial de substância cinzenta, o córtex cere-        ciente e dor; e vias descendentes motoras para
bral, que reveste um centro de substância branca,         músculos flexores e extensores. Muitos dos núcleos
no interior do qual existem massas de substância          do tronco encefálico recebem ou emitem fibras
cinzenta, os núcleos da base do cérebro. Os princi-       nervosas que entram na constituição dos nervos
pais núcleos da base são: claustrum, corpo amigdalóide,
                                                          cranianos. Por este motivo, o tronco encefálico é
caudado, putâmen e globo pálido. Juntos, os três
                                                          uma área de grande importância quando do exa-
últimos constituem o corpo estriado. Esses núcleos
                                                          me neurológico, uma vez que nele estão localiza-
contribuem para o tono muscular e início e con-
                                                          dos 10 dos 12 pares de nervos cranianos. Sendo
trole da atividade motora voluntária.
                                                          assim, uma lesão neste local, mesmo que peque-
     O diencéfalo compreende as seguintes partes:
                                                          na, poderá acarretar dano ou perda de função de
tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O hipotá-
lamo modula o controle do sistema nervoso                 um ou mais pares de nervos cranianos, já que é
autónomo de todo o organismo. Muitos dos neu-             grande a proximidade entre eles.
rônios motores simpáticos e parassimpáticos ori-               O mesencéfalo c atravessado por um estreito
ginam-se aí. Entre as funções hipotalâmicas en-           canal, o aqueduto cerebral, que une o III ao IV
contramos o controle do apetite, sede, regulação          ventrículo. O IV ventrículo situa-se entre o bulbo
da temperatura, balanço hídrico e eletrolítico, sono      e a ponte, ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente.
e respostas comportamentais. O tálamo é um                O mesencéfalo possui importantes estruturas, entre
complexo de muitos núcleos com funções                    elas a formação reticular. A formação reticular é
intrincadas, das quais as principais estão relacio-       uma agregação mais ou menos difusa de neurô-
nadas à dor c proprioccpção. Parte do sistema             nios de tamanhos e tipos diferentes, separados
ativador reticular ascendente (SARA) (que será            por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte
discutido mais adiante) projeta-se do mesencé-            central do tronco encefálico. A formação reticular
falo, através do tálamo, difusamente, para o cór-         possui conexões amplas e variadas. Além de
tex cerebral.                                             receber impulsos que entram pelos nervos cra-
     Os nervos olfatórios (I par de nervos cranianos)     nianos, ela mantém relações nos dois sentidos com
estão localizados rostralmente ao diencéfalo. As          o cérebro, o cerebelo e a medula. A atividade
fibras olfativas projetam-se dentro do hipotála-          elétrica do córtex cerebral, de que dependem os
mo e em outras partes do sistema límbico para             vários níveis de consciência, é regulada basica-
produzir uma resposta comportamental em de-               mente pela formação reticular. Existe na forma-
corrência do olfato. Os nervos ópticos e o quiasma        ção reticular um sistema de fibras ascendentes que
óptico, necessários à visão e aos reflexos lumino-        se projetam no córtex cerebral e sobre ele têm
sos pupilares, estão localizados na superfície ventral    uma ação ativadora. E o Sistema Ativador Reticu-
do hipotálamo, próximos à hipófise.                       lar Ascendente (SARA). A ação do SARA sobre o
                                                          córtex se faz através das conexões da formação
454   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



reticular com o tálamo, como já foi mencionado          aos neurônios motores da medula e são impor-
anteriormente. O SARA é o responsável pela              tantes para a manutenção do equilíbrio; e o fascí-
manutenção do sono e vigília. Além de seguirem          culo longitudinal medial, que está envolvido em
sua vias específicas, os impulsos sensoriais que        reflexos que permitem ao olho ajustar-se aos
chegam ao sistema nervoso central pelos nervos          movimentos da cabeça. O fascículo longitudinal
espinhais e cranianos passam também pela for-           medial é uma via de associação presente em toda
mação reticular e ativam o SARA. Desta forma,           a extensão do tronco encefálico, que liga todos os
quando o SARA é estimulado por meio da via              núcleos motores dos nervos cranianos, sendo es-
visual, auditiva, dolorosa e tátil, ele mantém o        pecialmente importantes suas conexões com os
animal em estado de alerta. Por outro lado, quan-       núcleos dos nervos relacionados com o movimento
do não recebe ou não processa esses impulsos, o         do globo ocular e da cabeça. Deste modo, o fas-
animal dorme.                                           cículo longitudinal medial é importante para a
     Por este motivo, os animais acordam quando         realização de reflexos que coordenam os movi-
submetidos a fortes estímulos sensoriais como, por      mentos da cabeça com os dos olhos (Fig. 10.3).
exemplo, um ruído muito alto. Isso se deve não à             O bulbo, ou medula oblonga, possui os núcleos
chegada de impulsos nervosos na área auditiva do        dos nervos abducente, facial e vestibulococlear (VI,
córtex, mas à ativação de todo o córtex pelo SARA,      VII e VIII pares de nervos cranianos), localizados
o qual, por sua vez, foi ativado por fibras que se      na porção rostral, na junção com a ponte. Os nervos
destacam da via auditiva. Assim, se forem lesadas       glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso (IX,
estas vias depois de seu trajeto pela formação re-      X, XI e XII pares de nervos cranianos) estão
ticular, embora não cheguem os impulsos na área         localizados na porção caudal. No bulbo localizam-
auditiva do córtex, o animal acorda com o ruído         se centros vitais, como o centro respiratório e o cen-
                                                        tro vasomotor, que controlam não só o ritmo respi-
(ele acorda, mas não ouve). Por outro lado, se fo-
                                                        ratório, como também o ritmo cardíaco e a pressão
ram mantidas intactas as vias auditivas e lesada a
                                                        arterial, funções indispensáveis à manutenção da
parte mais cranial da formação reticular, o animal
                                                        vida. Portanto, lesões nesta região podem ser ex-
dorme mesmo quando submetido a fortes ruídos,
                                                        tremamente perigosas. Além desses, encontramos
apesar de chegarem impulsos auditivos em seu
                                                        no bulbo também o centro do vómito.
córtex. Por este motivo, lesões mesencefálicas ou
                                                             O cerebelo situa-se dorsalmente ao bulbo e à
de córtex cerebral podem produzir níveis altera-        ponte, sobre três pares de estruturas denomina -
dos de consciência, tais como o coma. Os nervos         das pedúnculos cerebelares, e repousa sobre a fossa
oculomotor e troclear (III e IV pares de nervos         cerebelar do osso occipital, sendo separado do lobo
cranianos) estão localizados no mesencéfalo. Existe     occipital do cérebro por uma prega da dura-máter
ainda, no mesencéfalo, o núcleo deEdinger- Westphal,    denominada tenda do cerebelo. O cerebelo é
responsável pela inervação parassimpática do glo-       composto de duas massas laterais, os hemisférios
bo ocular, através do nervo oculomotor. Outra es-       cerebelares, sendo que na porção central desses
trutura importante é o núcleo rubro, que participa      há uma estrutura denominada vermis. O cerebe-
do controle da motricidade somática, recebe fibras do   lo está organizado em três regiões principais: lo-
cerebelo e de áreas motoras do córtex cerebral e        bos rostral, caudal e floculonodular. Uma das prin-
origina o trato rubrospinal, o principal trato motor    cipais funções do cerebelo é coordenar toda a ati-
voluntário nos animais.                                 vidade motora da cabeça, pescoço, tórax e mem-
     A ponte contém o nervo trigêmio (V par de          bros. O cerebelo também controla o tono muscular
nervos cranianos). Além disso, encontramos na           nos animais. O lobo floculonodular do cerebelo
ponte os núcleos vestibulares. Os núcleos vestibu-      faz parte do sistema vestibular e mantém o equi-
lares estão localizados no assoalho do IV ventrí-       líbrio do animal. Desta forma, lesões do cerebelo
culo, e recebem impulsos nervosos originados na         podem causar incoordenação motora, perda do
parte vestibular da orelha interna, através do nervo    equilíbrio e diminuição do tono da musculatura
vestibulococlear (porção vestibular), os quais          esquelética (hipotonia).
informam sobre a posição e os movimentos da
cabeça. Chegam ainda aos núcleos vestibulares
fibras provenientes do cerebelo, relacionadas com       MEDULA ESPINHAL
a manutenção do equilíbrio. A partir dos núcleos
vestibulares, saem tratos e fascículos tais como o      Etimologicamente, medula significa miolo e in-
trato vestibulospinal, cujas fibras levam impulsos      dica o que está dentro. A medula espinhal é uma
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   455



                                                                                              Núcleo do nervo
                                                                                              oculomotor

                                                                                                 Núcleo do nervo
                                                                                                 troclear
                                                                                                 Núcleo do nervo
                                                                                                 abducente
                                                                                                   Núcleo vestibular
                                                                                                   rostal
                                                                                                Núcleo
                                                                                               vestibular lateral
                                                                                          Núcleo vestibular caudal

                                                                                         Núcleo vestibular medial
                                 Cerebelo



                                                                                        Fascículo
                                                                                        longitudinal medial
Figura 10.3 - Núcleos vesti-
bulares e suas conexões.                    Orelha interna

massa cilindróide de tecido nervoso situada den-          torno do cone medular e filamento terminal, cons-
tro do canal vertebral, sem, entretanto, ocupá-lo         tituem, em conjunto, a chamada cauda equina. A
completamente. Cranialmente a medula limita -             diferença de tamanho entre a medula e o canal
se com o bulbo aproximadamente no nível do                vertebral, assim como a disposição das raízes dos
forame magno do osso occipital.                           nervos espinhais mais caudais, formando a cauda
     A medula espinhal pode ser morfológica e             equina, resultam, portanto, de ritmos de
funcionalmente dividida em cinco regiões: região          crescimento diferentes, em sentido longitudinal,
cervical (compreendendo os segmentos medula-              entre medula e coluna vertebral. No início do de-
res de Cl a G5); região cervicotorácica (também           senvolvimento intra-uterino a medula e a coluna
denominada de plexo ou intumescência braquial,            vertebral ocupam todo o comprimento do canal
segmentos de G6 a T2); região toracolombar(coí-           vertebral e os nervos, passando pelos respectivos
respondendo aos segmentos medulares de T3 a               forames intervertebrais, dispõem-se horizon-
L3); região lombossacral (plexo ou intumescência          talmente, formando com a medula um ângulo
lombossacral, segmentos de L4 a S2); região sa-           apr oximadamente r eto. Entr etanto, com o
crococcígea (segmento S3 ao último segmento               desenvolvimento, a coluna vertebral começa a
medular) (Fig. 10.4). Deve-se ressaltar que esta          crescer mais do que a medula, especialmente em
divisão corresponde a segmentos medulares e não           sua porção caudal. Como as raízes nervosas mantêm
às vértebras propriamente ditas. Tal fato seria sem       suas relações com os respectivos forames inter-
importância se o tamanho do segmento medular              vertebrais, há o alongamento das raízes e a dimi-
c a vértebra correspondente fossem iguais, po-            nuição do ângulo que elas fazem com a medula.
rém isto não ocorre em toda a medula espinhal.            Estes fenómenos são mais pronunciados na parte
     No adulto, a medula não ocupa todo o canal           caudal da medula.
vertebral, pois termina geralmente na altura da                A medula possui o mesmo número de seg-
6- ou 7- vértebra lombar nos cães e, na altura da         mentos que o número de vértebras (com exceção
1a ou 2- vértebra sacral nos felinos, nos equinos         da medula cervical, que é composta por oito
e nos bovinos. A medula termina afilando-se para          segmentos medulares). Os segmentos podem ser
formar um cone, o cone medular, que continua como         identificados morfologicamente, pois possuem um
um delgado filamento meníngeo, o filamento                par de nervos espinhais, cada um com uma raiz
terminal. Abaixo deste nível o canal vertebral            dorsal (sensitiva) e uma raiz ventral (motora).
contém apenas as meninges e as raízes nervosas                 Como consequência da diferença de ritmos
dos últimos nervos espinhais que, dispostas em            de crescimento entre coluna e medula, temos um
456   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                                           Cervico                         Lombossacral          Sacrococcígea
                                           toracica                        (L4-S2)               (S3 em diante)



                                                                                  Plexo
                                                                                  lombossa
                                                                                  cral
                                                                                    Figura 10.4 -Vista lateral da medula
                                                                                    espinhal ilustrando as cinco regiões me-
                                                                                    dulares.




afastamento dos segmentos medulares das vér-                    da vértebra correspondente. Esta diferença entre
tebras correspondentes. Este fato é de grande                   vértebras, segmento da medula espinhal e raízes
importância clínica para o diagnóstico, prognós-                nervosas deve ser levada em consideração quan-
tico e tratamento de lesões vertebromedulares.                  do se localiza uma lesão em certo segmento e aí
Portanto, é muito importante para o clínico co-                 é dicidido o nível vertebral correspondente. Isto
nhecer a correspondência entre vértebra e me-                   tem maior significado clínico na região toracolom-
dula. Em cães, por exemplo, existem 31 pares de                 bar do que na região cervical (Fig. 10.5).
nervos espinhais, aos quais correspondem 31                          A medula não possui um calibre uniforme,
segmentos medulares assim distribuídos: oito                    pois apresenta duas dilatações denominadas in-
cervicais, 13 torácicos, sete lombares e três sacrais.          tumescência cervical e intumescência lombar, situa-
Existem oito pares de nervos cervicais, mas so-                 das na região cervicotorácica (C6 a T2) e lom-
mente sete vértebras. O primeiro par cervical (Cl)              bossacral (L4 a S2), respectivamente. Estas intu-
emerge acima da primeira vértebra cervical, por-                mescências correspondem às áreas em que fazem
tanto, entre ela e o osso occipital. Já o oitavo par            conexão com a medula as grossas raízes nervosas
(C8) emerge abaixo da sétima vértebra, o mesmo                  que formam os plexos braquial c lombo-sacro,
acontecendo com os nervos espinhais abaixo de                   destinadas à inervação dos membros anteriores e
C8, que emergem, de cada lado, sempre abaixo                    posteriores, respectivamente (Fig. 10.4).


                                               Segmentos Medulares
                    Torácico                                                                    Sacral




                                                                                               sacral




                                                                                  Lombar


                                                                     Lombar
                                                  Vértebras

Figura 10.5 - Diagrama demonstrando a posição dos segmentos medulares e dos corpos vertebrais em um cão.
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais      457



     na medula, a substância cinzenta está locali-             dentes e descendentes são geralmente denomi-
zada por dentro da branca e apresenta a forma de               nadas conforme o local onde têm início e o local
um H. Nela, distinguimos de cada lado três colu-               onde terminam.
nas, denominadas colunas ventral, dorsal e late-                    As vias descendentes são formadas por fibras que
ral. A coluna lateral, entretanto, não aparece em              se originam no córtex cerebral ou em várias áreas
toda a extensão da medula. No centro da subs-                  do tronco encefálico e terminam fazendo sinapse
tância cinzenta localiza-se o canal central medu-              com neurônios medulares. Essas vias dividem-se em
lar (Fig. 10.6). A massa cinzenta central contém               dois grupos: vias piramidais e extrapiramidais. As
corpos celulares de neurônios motores inferiores,              primeiras recebem este nome porque, antes de
neurônios sensitivos e internunciais. As colunas               penetrar na medula, cruzam obliquamente o plano
dorsais contêm sinapses de neurônios sensitivos                mediano, constituindo a decussação das pirâmides
periféricos e corpos celulares de neurônios sensi-             bulbares, enquanto as segundas não o fazem. As vias
tivos ascendentes e internunciais. As colunas ven-             piramidais na medula compreendem o trato
erais contêm muitos corpos celulares dos neurô-                corticospinal. As vias extrapiramidais compreendem
nios motores inferiores dos músculos estriados.                os tratos tectospinal, vestibulospinal, rubrospinal e
uma área de substância cinzenta intermediária                  reticulospinal. Os nomes referem-se aos locais onde
contém corpos celulares de neurônios motores                   eles se originam, que são, respectivamente, o teto
inferiores simpáticos.                                         do mesencéfalo, os núcleos vestibulares, o núcleo
     A porção externa da medula espinhal é com-                rubro e a formação reticular. Iodos esses tratos ter-
posta de substância branca, formada por fibras, a              minam na medula, em neurônios internunciais,
maioria delas mielínicas, que se agrupam em tra-               através dos quais ligam-se aos neurônios motores e
tos e fascículos, formando verdadeiros caminhos,               assim exercem sua função motora.
ou vias, por onde passam os impulsos nervosos.                      As fibras que formam as vias ascendentes rela-
Temos, assim, tratos e fascículos que constituem               cionam-se direta ou indiretamente com as fibras
as vias descendentes e ascendentes da medula.                  que penetram pela raiz dorsal, trazendo impul-
Existem ainda vias que contêm tanto fibras as-                 sos aferentes de várias partes do corpo, e incluem
cendentes quanto descendentes, as quais consti-                os tratos espinocerebelares, os fascículos grácil e
tuem as vias de associação medular, que formam                 cuneiforme, os tratos espinotalâmicos e o trato
os fascículos próprios da medula. As vias ascen-               propriospinal (Fig. 10.7).



Figura 10.6 - Corte transversal da
medula espinhal.




                                                                                                    Coluna dorsal



                                                                                                          Funículo lateral

                                                                                                              Canal central



                                                                                                              Coluna ventral
                                     Substância
                                     cinzenta

                                                                                                  Raiz motora do
                                                                                                  nervo espinal
                                             Substância
                                             branca

                                                          Fissura mediana     Funículo     Funículo dorsal
                                                          ventral             ventral
                                                                                          Raiz sensitiva do
                                                                                          nervo espinal
458     Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



TRATOS MOTORES                                                 neurônio motor em grande parte se faz por meio do
                                                               trato corticospinhal. Dados mais recentes, eviden-
Os tratos motores podem ser divididos em dois                  ciando que o chamado sistema extrapiramidal tam-
grupos: os responsáveis pelo movimento volun-                  bém controla os movimentos voluntários, vieram a
tário (flexores) c aqueles para postura e sustenta-            mostrar que a conceituação de dois sistemas inde-
ção do corpo (extensores). O cerebclo modula a                 pendentes, piramidal e extrapiramidal, não pode
atividade dos sistemas flexores c extensores e                 mais ser aceita. Entretanto, pode-se manter os ter-
produz flexão e extensão suaves e coordenadas.                 mos piramidal e extrapiramidal para indicar res-
Até há algum tempo as estruturas e vias que                    pectivamente as vias motoras que passam ou não
influenciam a motricidade somática eram agrupa-                pelas pirâmides bulbares em seu trajeto até a
das em dois grandes sistemas, o piramidal e o extra-           medula. Desta forma, as vias piramidais compreen-
piramidal, termos que foram amplamente empre-                  dem dois tratos: o corticospinal e seu correspon-
gados, especialmente na área clínica. O sistema pi-            dente, no tronco encefálico, o trato corticonuclear.
ramidal, compreendendo os tratos corticospinal e               Por outro lado, as vias extrapiramidais compreen-
corticonuclear, assim como suas áreas corticais de             dem os tratos rubrospinal, tectospinal, vestibulospinal
origem, seria o único responsável pelos movimen-               c reticulospinal.
tos voluntários. Já o sistema extrapiramidal, compreen-             O trato rubrospinal começa no núcleo rubro
dendo todas as demais estruturas c vias motoras                do mesencéfalo, imediatamente cruza para o lado
somáticas, seria responsável pelos movimentos au-              oposto e descende, através do tronco, para a medula
tomáticos, assim como pela regulação do tono e da              espinhal. Ele é o mais importante trato motor
postura. A validade desta divisão foi questionada              voluntário ou de atividade muscular flexora em
quando se verificou que os núcleos do corpo estria-            animais. Em cães e gatos, lesões mesenccfálicas
do, em humanos, por muitos considerado o sistema               ou mais caudais podem causar paresia ou parali-
extrapiramidal propriamente dito, exerciam sua in-             sia de membros. O trato rubrospinal localiza-se
fluência sobre os neurônios motores através do tra-            no funículo lateral da medula espinhal, medial-
to corticospinhal, ou seja, através do próprio siste-          mente aos tratos espinocerebelares. Portanto, em
ma piramidal. O mesmo raciocínio pode ser feito                compressões medulares externas progressivas,
em relação ao cerebelo, frequentemente incluído                inicialmente observa-se incoordcnação motora c
no sistema extrapiramidal, cuja influência sobre o             depois paresia ou paralisia de membros.


                                                          Fascículo grácil

                                                                Fascículo cuneiforme

                                                                             Espinocerebelar
                                                                             dorsal

Corticospinal lateral                                                               Propriospinal



                                                                               Espinocerebelar
      Rubrospinal
                                                                               ventral
                                                                                            Figura 10.7 - Corte transversal da
                                                                                            medula espinhal mostrando a
      Reticulospinal
                                                                     Espirotalâmico
                                                                                               localização dos tratos motores e
      Vestibulospinal lateral
                                                                         Corticospinal
                                                                         ventral
                                                                                               sensitivos.
                                                        Sensitivo



                       Vestibulospinal ventral
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   459



     O trato corticospinal origina-se na área motora         respectivos fascículos e fazem sinapse no núcleo
do lobo frontal, descende através da cápsula inter-          grácil ou cuneiforme na junção da medula espi-
na e tronco cerebral, cruza para o lado oposto na            nhal e do bulbo. O segundo grupo de neurônios
medula oblonga caudal (decussação das pirâmides)             cruza para o lado oposto e ascende em um trajeto
e desce na medula espinhal próximo ao trato                  contralateral, no leminisco medial, fazendo sinapse
rubrospinal. Em compressões medulares, os dois               no tálamo. Um terceiro grupo de neurônios deixa
tratos são geralmente afetados. O trato corticospinal        o tálamo, passa através da cápsula interna e faz
é também um trato voluntário ou motor flexor. Ele é          sinapse no lobo parietal do córtex cerebral. Como
muito importante no homem e, quando ocorre uma               as fibras terminam em células do córtex cerebral,
lesão no córtex motor ou na cápsula interna, há              a propriocepção é chamada de consciente. Lesões
hemiparesia ou hemiplegia contralateral. Quando              no funículo dorsal da medula espinhal produzem
essas lesões ocorrem em animais, há fraqueza dis-            distúrbios proprioceptivos ipsilaterais nos mem-
creta mas transitória e ocorrem distúrbios contra-           bros afetados. Lesões no leminisco medial, cáp-
laterais de salto e posicionamento.                          sula interna e lobo parietal podem produzir alte-
     Os tratos vestibulospinais são os principais tra-       rações proprioceptivas contralatcrais.
tos de postura ou extensores em cães e gatos.                     Outro sistema sensitivo é o trato espinotalâmico,
Originam-se nos núcleos vestibulares da junção               que leva sensação de dor e temperatura dos mem-
pontinomedular e descendem, sem cruzar, através              bros e do corpo. Este sistema é mais complexo em
do bulbo e medula espinhal. Os tratos vestibu-               animais do que no homem e possui vários tratos
lospinais ficam no funículo ventral da medula es-            incluídos nele. A modalidade de dor profunda é
pinhal. Inicialmente, na evolução da compressão              levada nesse sistema. A fim de destruir este tipo
medular, o animal pode perder a habilidade em                de dor, deve haver uma lesão profunda, grave e
suportar o peso nos membros, devido ao envolvi-              bilateral, da medula espinhal. O teste de dor pro-
mento desses tratos.                                         funda é um guia prognóstico muito útil em um
     Os tratos reticulospinais têm início na forma-          animal paralisado. A ausência de dor profunda 72
ção reticular da ponte e bulbo e descendem sem               horas ou mais após uma lesão medular é geralmente
cruzar no tronco cerebral e medula espinhal. Um              considerada um indicativo de prognóstico grave.
dos tratos está associado principalmente com a                    O trato propriospinal leva informações entre
atividade motora extensora ou postural e locali-             os membros anteriores e posteriores, nos dois
za-se primariamente no funículo lateral da me-               sentidos.
dula espinhal. O outro trato reticulospinal influen-
cia a atividade motora voluntária.
                                                             MENINGES E LÍQUIDO
TRATOS SENSITIVOS                                            CEFALORRAQUIDIANO
                                                             O sistema nervoso central é envolvido por três
Os tratos espinocerebelares carregam informação
                                                             membranas conjuntivas denominadas meninges,
proprioceptiva inconsciente para o cerebelo, for-
necendo impulsos aferentes necessários para coor-            a dura-máter, a aracnóide e a pía-máter.
denar o movimento muscular. Esses tratos são                      A dura-máter é a meninge mais superficial,
afetados precocemente em compressões superfi-                espessa e resistente, formada por tecido conjunti-
ciais da medula espinhal e produzem ataxia ou                vo muito rico em fibras colágenas, contendo vasos
incoordenação motora.                                        e nervos. A dura-máter encefálica difere da dura-
     Qs fascículosgráále cuneiforme, localizados no          máter espinhal, por ser formada por dois folhetos,
funículo dorsal da medula, são responsáveis pela             o externo e o interno, dos quais apenas o interno
propriocepção consciente, ou senso de posição dos            continua com a dura-máter espinhal. O folheto
membros e tórax. A informação carregada nessas               externo se adere intimamente aos ossos do crânio
vias capacita o animal a corrigir os membros quando          e comporta-se como um periósteo destes ossos.
em posições anormais. O fascículo grácil leva                Entretanto, diferente do periósteo de outras áreas,
informações da cauda e membros posteriores, e o              o folheto externo da dura-máter não tem capaci-
fascículo cuneiforme, dos segmentos torácicos,               dade osteogênica, o que dificulta a consolidação
membros anteriores e região cervical. Os axônios             de fraturas no crânio. Esta peculiaridade, no en-
penetram na medula espinhal, ascendem em seus                tanto, é vantajosa, pois a formação de um calo ósseo
460    Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



        na superfície interna dos ossos do crânio pode cons-       caudalmente com o espaço subaracnóide da me-
        tituir um fator de irritação do tecido nervoso. Em         dula e liga-se ao IV ventrículo através de sua
        algumas áreas os dois folhetos da dura-máter do            abertura mediana. Por meio de uma punção su-
        encéfalo separam-se, delimitando cavidades reves-          boccipital, é possível realizar a colheita de liquor
        tidas de endotélio e que contêm sangue, consti-            da cisterna magna. Em alguns pontos a aracnóide
        tuindo os seios da dura-máter. O sangue proveniente        forma pequenos tufos que penetram no interior
        das veias do encéfalo é drenado para os seios da           dos seios da dura-máter, constituindo asgranu/a-
        dura-máter e, destes, para as veias jugulares inter-       ções aracnóides, através das quais o liquor é absor-
        nas. A dura-máter espinhal envolve toda a medu-            vido c chega no sangue (Fig. 10.8).
        la, como se fosse um dedo de luva. Cranialmente,                A pia-máter é a mais interna das meninges e
        a dura-máter espinhal continua com a dura-máter            dá resistência aos órgãos nervosos, pois o tecido
        craniana; caudalmente termina em um fundo-de-              nervoso é de consistência muito mole. A pia-máter
        saco, o saco durai.                                        acompanha os vasos que penetram no tecido
              A aracnóide é uma membrana muito delica-             nervoso a partir do espaço subaracnóide, forman-
        da, justaposta à dura-máter, da qual se separa por         do a parede externa dos espaços pcrivasculares.
        um espaço virtual, o espaço subdural, contendo             Nestes espaços há um prolongamento do espaço
        pequena quantidade de líquido necessário à lu-             subaracnóide, contendo liquor, que forma um
        brificação das superfícies de contato das duas             manguito protctor em torno dos vasos, importante
        membranas. A aracnóide separa-se da pia-máter              para amortecer o efeito da pulsação das artérias
        pelo espaço subaracnóide, que contém o líquido             sobre o tecido circunvizinho. Quando a medula
        cefalorraquidiano, ou liquor. A aracnóide justa-           termina no cone medular, a pia-máter continua
        põe-se à dura-máter e ambas acompanham gros-               caudalmente, formando um filamento es-
        seiramente a superfície do encéfalo. A pia-máter,          branquiçado denominado filamento terminal.
        entretanto, adere-se intimamente a esta superfí-                Portanto, em relação com as meninges, exis-
        cie, acompanhando todos os giros, sulcos e de-             tem três cavidades ou espaços denominados
        pressões. Deste modo, a distância entre as duas            epidural, subdural e subaracnóide. O espaço epidural
        membranas, ou seja, a profundidade do espaço               situa-se entre a dura-máter c o periósteo do canal
        subaracnóide é variável, formando, em alguns               vertebral. O espaço subdural, situado entre a dura-
        locais, dilatações denominadas cisternas aracnói-          máter e a aracnóide, é uma fenda estreita con-
        des, as quais contêm grande quantidade de liquor.          tendo uma pequena quantidade de líquido, sufi-
        A maior e mais importante cisterna é a cisterna            ciente apenas para evitar a aderência das pare-
        cerebelo-medular, ou cisterna magna, que continua          des. O espaço subaracnóide é o mais importante


                         Pia-máter                   Granulação   Seio sagital
                                                     aracnóide                                                      Figura
                                                                                              10.8 - Corte transversal
                                                                                              mostrando a posição das menin-
                                                                                              ges, espaço subaracnóide e gra-
                                                                                              nulações aracnóides.




Espaço                                                                                            aracnoide
subaracnóide




                                                                  dorsal

                                                                                 Dura-máter
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   461



e contém o líquido cefalorraquidiano, um fluido         vez, comunica-se com o canal central do bulbo e
aquoso e incolor que ocupa, além do espa ço             da medula espinhal. Os ventrículos, o canal cen-
subaracnóide, as cavidades ventriculares. Sua           tral do bulbo e da medula, são revestidos por uma
função primordial é de proteção mecânica do sis-        camada simples de células ependimárias, que
tema nervoso central, formando um verdadeiro            separa o liquor do tecido nervoso propriamente
coxim líquido entre este e o estojo ósseo.              dito. O liquor do sistema ventricular comunica-
     Além desta função de proteção mecânica, o          se com o liquor do espaço subaracnóide no IV ven-
liquor contribui para a proteção biológica do sis-      trículo, na região da cisterna magna, através de
tema nervoso central contra agentes infecciosos,        duas aberturas laterais, os forames de Luschka.
permitindo a distribuição mais ou menos homo-                A maior parte do liquor é formada nos plexos
génea de elementos de defesa como leucócitos e          coróides (tufos de tecido conjuntivo, rico em
anticorpos. A cavidade craniana é uma formação          capilares sanguíneos, que se projetam da pia -
rígida preenchida pelo tecido nervoso, sangue e         máter), principalmente nos ventrículos laterais.
liquor. Havendo variação de volume de um des-           Daí, o liquor passa ao III e IV ventrículos, ga-
tes componentes, o volume dos outros componentes        nhando posteriormente o espaço subaracnóide c
se altera compensatoriamente, de modo a manter          o canal central medular. A maior parte do liquor
a pressão intracraniana constante. O liquor exerce      é absorvida através das granulações aracnóides,
também uma função compensatória de regulação            situadas principalmente na parte superior do crâ-
do volume intracraniano. Por exemplo, se hou-           nio (Fig. 10.10). No espaço subaracnóide medu-
ver um aumento de volume do parênquima                  lar o liquor circula em direção caudal, mas ape-
encefálico, como no caso do crescimento de um           nas uma parte do mesmo retorna, pois há reabsorção
tumor, há uma tendência de diminuir a produção          liquórica nas pequenas granulações aracnóides
do liquor, ou de aumentar a sua absorção, com o         existentes nos prolongamentos da dura-máter que
objetivo de manter inalterada a pressão intra-          acompanham as raízes dos nervos espinhais. Como
craniana. O mesmo ocorre em casos de hiperten-          a produção de liquor nos ventrículos excede a sua
são, cm que há um aumento do fluxo sanguíneo            absorção, o mesmo flui dos ventrículos para o es-
cerebral. Deve-se lembrar, no entanto, que esta         paço subaracnóide, onde normalmente ocorre a
compensação feita pelo líquido cefalorraquidia -        absorção. A taxa de absorção do espaço subarac-
no auxilia somente até um certo ponto. Por exem-        nóide é diretamente proporcional à pressão in-
plo, no caso do tumor, à medida que este vai            tracraniana. A absorção liquórica também ocorre
aumentando muito de volume, o liquor já não             nas veias e vasos linfáticos localizados ao redor dos
consegue mais compensar a pressão intracraniana.        nervos cranianos e espinhais. Além disso, acredi-
O liquor é também um agente de troca de meta-           ta-se que algum liquor entre no parênquima cere-
bólitos entre o sangue e o cérebro, ajudando na         bral e seja absorvido pelos vasos sanguíneos de lá.
nutrição cerebral durante o período embrionário         Tal absorção ocorre mais frequentemente quando
e servindo para transferir produtos residuais do        a pressão intracraniana está elevada.
metabolismo do cérebro para a circulação.                    A exploração clínica do espaço subaracnóide na
     Os espaços ocupados pelo liquor dividem-se         medula é facilitada por certas particularidades ana-
cm internos c externos. Os espaços internos cor-        tómicas da dura-máter e da aracnóide na região lombar
respondem aos quatro ventrículos cerebrais e ao         da coluna vertebral. A medula termina mais cranial-
canal central da medula. Os espaços externos estão      mente do que o saco durai e a aracnóide que o acom-
compreendidos entre a aracnóide e a pia-máter,          panha. Entre esses dois níveis, o espaço subarac-
dividindo-se em espaços subaracnóides cranianos         nóide é maior, contém maior quantidade de liquor
e raquianos.                                            e nele estão apenas o filamento terminal e as raízes
     O sistema ventricular é constituído pelos dois     que formam a cauda equina. Não havendo perigo
ventrículos laterais, o III e o IV ventrículos (Fig.    de lesão medular, esta área é ideal para a introdu-
10.9). Os ventrículos laterais situam-se simetri-       ção de uma agulha, com a finalidade de retirada de
camente dentro de cada hemisfério cerebral e            liquor para fins terapêuticos ou diagnósticos. Além
comunicam-se por meio do forame interventri-            disso, pode-se realizar punções a este nível para
cular (forame de Monro) com o III ventrículo, que       introdução de meios de contrastes durante a reali-
fica localizado na linha mediana. Este continua         zação de exames radiográfícos (por exemplo, nas
caudalmente pelo aqueduto cerebral (aqueduto            mielografías), e para a introdução de anestésicos nas
de Sylvius) até o IV ventrículo, o qual, por sua        chamadas anestesias raquidianas.
462   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico




                                                                                        Canal central
                                                                                        da medula
Fora me
interventricular




                                                                          Aqueduto mesencefálico


                                      Ventrículo lateral Figura     ventrículo IV

                                                                    ventrículo
10.9 -Ventrículos cerebrais do cão - vista dorsal.




                                                                                                 Plexos
                                                                                                 coróides

                                                                                                            Espaço
                                                                                                            subaracnó
                   Ventrículos cerebrais                                                                    ide




                                                                                 Seios da dura-máter

                                                                                        Granulação aracnóide
                                                                                                Canal central medular


Figura 10.10 - Formação e absorção do liquor.




SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO                                        centrais para a periferia.

Embora denominado periférico, este sistema
contém fibras nervosas que unem o sistema ner-
voso central aos órgãos efetores e/ou receptores,
situados na periferia. Esta união justifica a pre-
sença de elementos do sistema nervoso periféri-
co na medula e no enccfalo. Conforme sua topo-
grafia, o sistema nervoso periférico pode ser divi-
dido em nervos cranianos e espinhais. De acordo
com o tipo de neurônio envolvido, são denomi-
nados de efetores ou sensitivos. Os ncurônios
efetores dividem-se conforme a sua função em
neurônios motores e neurônios autonômicos,
ambos eferentes porque conduzem os estímulos
O sistema nervoso periférico inclui, portan-
to, os 12 pares de nervos cranianos e os 36 pares
de nervos espinhais.


NEURÔNIOS SENSITIVOS E
MOTORES
Dentre as estruturas celulares encontradas no
sistema nervoso, o neurônio assume importância
fundamental por apresentar a capacidade de ex-
citação (polarização e despolarização), sendo res-
ponsável por todo o início e manutenção da ati-
vidade neurológica.
     Os neurônios podem ser funcionalmente di-
vididos em neurônios sensitivos e motores, sen-
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   463



do estes últimos responsáveis pelo início e ma-            encefálico. Seu axônio termina em interneurônios
nutenção da atividade motora, podendo ser divi-            que fazem sinapse com o neurônio motor inferior.
didos em neurônios motores superiores (NMS) e              O NMS é o responsável pelo início dos movimentos
neurônios motores inferiores (NMI) (Fig. 10.11).           voluntários, manutenção do tono muscular e
     A associação entre neurônios sensitivos e             regulação da postura.
neurônios motores permite a realização de arcos                  O neurônio motor inferior é um neurônio efe-
reflexos. Reflexos são respostas biológicas normais,       rente que liga o SNC ao órgão efetor, como um
espontâneas c praticamente invariáveis, sendo úteis        músculo ou uma glândula. Possui seu corpo celu-
ao organismo. O arco reflexo é uma resposta bá-            lar localizado em núcleos encefálicos (núcleos dos
sica após a realização de um estímulo e é por meio         NMI dos nervos cranianos) ou na substância cin-
de suas várias modalidades (reflexos espinhais,            zenta da medula espinhal, e seus axônios deixam
reflexos dos nervos cranianos) que parte do exa-           a medula através das raízes nervosas ventrais, em
me neurológico será realizada. O arco reflexo nada
                                                           dois pontos da medula espinhal, de C6 a T2 e de
mais c do que uma resposta motora involuntária
                                                           L4 a S3, nos chamados plexos braquial e lombos-
(sem uma supervisão direta de estruturas ligadas
                                                           sacral, respectivamente. Estes axônios irão fazer
à consciência) frente a um estímulo aplicado a uma
determinada estrutura. Basicamente três neurô-             parte dos nervos periféricos, terminando em um
nios (em alguns arcos reflexos mais estruturas             músculo.
podem estar envolvidas) são responsáveis pela                    O neurônio motor superior exerce uma influên-
efetuação de um arco reflexo. Em primeiro lugar            cia inibitória ou moduladora sobre o inferior e, por
um neurônio sensitivo (aferente) irá captar a in-          isso, quando é lesado, ocorre aumento do tono (como
formação sensorial e conduzi-la até a medula ou            tono entendemos a contração muscular residual
tronco encefálico (dependendo se será um arco              presente nos músculos) e dos reflexos, demons-
reflexo mediado por um nervo espinhal ou cra-              trando uma hiperatividade do NMI. Também ocorre
niano, respectivamente), depois fará a conexão             paresia (perda parcial da atividade motora) ou
com um interneurônio que será responsável pela             paralisia (perda total da atividade motora) já que
transmissão desta informação para um neurônio              as informações geradas nos núcleos motores (cor-
motor (eferente), o qual, por sua vez, efetuará a          pos celulares dos NMS) não chegam aos músculos.
estimulação de um músculo. Vários reflexos po-             Nestes casos, as paresias geralmente são espásticas
dem ser utilizados para avaliação neurológica como,        e com hipcrreflexia (devendo-se levar em conta o
por exemplo, o reflexo patelar, o reflexo palpe-           tempo decorrido após a lesão, já que a espasticidadc
bral e o reflexo pupilar. A ocorrência de reflexos         diminui com o tempo).
espinhais depende da integridade de músculos,                   Por sua vez, cm lesões de neurônios motores
de seus nervos periféricos e dos respectivos               inferiores ocorre paresia ou paralisia com diminui-
segmentos medulares.                                       ção ou ausência dos reflexos (hipo ou arreflexia) e
     O neurônio motor superior tem seu corpo ce-           diminuição do tono muscular. Isto ocorre porque
lular na substância cinzenta do córtex cerebral,           as informações clctricas não estão sendo encami-
nos núcleos da base ou em núcleos do tronco                nhadas ou são enviadas em menor número.


Figura 10.11 - Localização dos neurônios
                                                                        Neurônio motor superior (NMS)
motores superior e inferior.




                                                                                                     Neurônio motor
                                                                                                     inferior (NMI)




                                                                                   Membro pélvico
                                                          Membro torácico
464   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



NERVOS CRANIANOS                                                núcleo pré-tectal e, posteriormente, no núcleo de
                                                                Edinger-Westphal no mesencéfalo. As fibras desse
Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fa/em cone-                último passam pelo nervo oculomotor (III par),
xão com o tronco encefálico, excetuando-se ape-                 provendo inervação parassimpática para a mus-
nas os nervos olfatório e óptico, que ligam-se,                 culatura lisa da íris. Portanto, quando é testado o
respectivamente, ao telencéfalo e ao diencéfalo.                reflexo pupilar à luz, está sendo testada parte do
     I Par, Nervo Olfatório. É um nervo sensitivo,              II e do III par (Fig. 10.12).
cujas fibras conduzem impulsos olfatórios, origi-                    A inervação simpática da pupila, parte do hi-
nados nas fossas nasais.                                        potálamo e região pré-tectal e desce pelo tronco
     IIPar, Nervo Óptico. É constituído por um feixe            encefálico até a medula espinhal, através do tra-
de fibras nervosas que se originam na retina e são              to tcctotegmentar espinhal, localizado próximo à
responsáveis pela percepção visual e, por um com-               substância cinzenta no funículo lateral. Os neu-
ponente sensitivo do reflexo pupilar à luz. Cada                rônios de primeira ordem fazem então sinapse na
nervo óptico une-se com o do lado oposto, for-                  coluna cinzenta intermediolateral de Tl a T3. Os
mando o quiasma óptico, no qual há cruzamento                   neurônios de segunda ordem saem da medula
parcial de suas fibras.                                         espinhal através das raízes vcntrais de Tl a T3 e
     A via visual inclui o nervo óptico, o quiasma              unem a cadeia simpática paravertebral e o tronco
óptico, os tratos ópticos, os corpos geniculados                do nervo vagossimpático ao gânglio cervical cra-
laterais, as radiações ópticas e o lobo occipital do            nial. Os neurônios de terceira ordem passam pelo
córtex cerebral. Nos cães e nos gatos, 75% e 65%                gânglio cervical cranial, atravessam a orelha mé-
das fibras do nervo óptico cruzam, respectivamente,             dia, acompanham a divisão oftálmica do nervo
o quiasma óptico. Desse modo, a maior parte da                  trigêmeo quando este sai pela fissura orbital e,
sensação visual tem uma representação contrala-                 então, inervam a musculatura lisa das pálpebras,
teral no córtex. As fibras provenientes dos tratos              região periorbital e íris (Fig. 10.13).
ópticos fazem sinapse com os corpos geniculados                      A inervação parassimpática da pupila parte do
laterais e, daí, seguem através das radiações ópticas           hipotálamo e desce uma pequena distância atra-
até o lobo occipital do córtex cerebral. Algumas                vés do tronco encefálico rostral, até o núcleo de
fibras saem do trato óptico e fazem sinapse no                  Kdinger-Westphal no mesencéfalo. Os neurônios


                                                                                Figura 10.12- Localização neuroanatômica da
                                                                                via visual e reflexos pupilares.
Núcleo
geniculado
lateral                                                                   Inervação parassimpática da
                                                                               pupila
       Nervo óptico


             Quiasma
             óptico

       Trato óptico




 Radiações •
 ópticas




                Córtex
                occipital                                   
                                                      Núcleo de Edinger
                                                      Westphal
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais      465



 de segunda ordem caminham juntamente com o                         Quando a fixação do olhar em um objeto tende
 nervo oculomotor através da fissura orbital até o             a ser rompida por movimentos do corpo ou da
 gânglio ciliar. Os neurônios de terceira ordem                cabeça, existe um reflexo de movimentação dos
 passam pela região periorbital indo inervar a                 olhos que tem por finalidade manter essa fixa-
 musculatura lisa das pálpebras e íris (Fig. 10.13).           ção. Por exemplo, se um animal está correndo e
       Quando o sistema constituído pelos nervos               fixa os olhos em um determinado objeto à sua
 ópticos e oculomotor é estimulado pela luz                    frente, a cada trepidação da cabeça em decorrên-
 incidindo na retina, a pupila se contrai. Se o ani-           cia da corrida, o olho se move em sentido contrá-
 mal é cego e apresenta perda da resposta pupilar              rio, mantendo o olhar fixo no objeto. Assim, quando
 à luz, deve haver alguma lesão na retina, no ner-             a cabeça se move para baixo, os olhos se movem
 vo óptico, no quiasma óptico ou no trato óptico,              para cima, e vice-versa. Caso não houvesse esse
 antes da saída das fibras nervosas para o núcleo              mecanismo automático e rápido para a compen-
 pré-tectal. Se o animal é cego mas tem pupilas                sação dos desvios causados pela trepidação, o objeto
 fotorreagentes, então a lesão deverá estar locali-            estaria sempre saindo da mácula, ou seja, da parte
 zada na via visual após a saída das fibras dos tra-           da retina onde a visão é mais distinta. Os re-
 tos ópticos em direção ao núcleo pré-tectal. Es-              ceptores para este reflexo são as cristas dos ca-
 ses achados indicam uma lesão do trato óptico,                nais semicirculares da orelha interna, onde existe
 corpos geniculados laterais, radiações ópticas ou             a endolinfa. Os movimentos da cabeça causam
 lobo occipital.                                               movimento da endolinfa dentro dos canais semi-
       III Par, Nervo Oculomotor; IVPar, Nervo Troclear;       circulares e este movimento determina desloca-
 VI Par, Nervo Abducente. São nervos motores que               mento dos cílios das células sensoriais das cris-
 penetram na órbita, distribuindo-se aos músculos              tas. Isto estimula os prolongamentos periféricos
 extrínsecos do globo ocular, quais sejam, elevador            dos neurônios do gânglio vestibular, originando
 da pálpebra superior, reto dorsal, reto ventral, reto         impulsos nervosos que seguem pela porção ves-
 medial, reto lateral, oblíquo dorsal e oblíquo ven-           tibular do nervo vestibulococlear, através do qual
 tral. Todos estes músculos são inervados pelo ner-            atingem os núcleos vestibulares. Destes núcleos
 vo oculomotor, com exceção do reto lateral e do               saem fibras que ganham o fascículo longitudinal
 oblíquo dorsal, inervados, respectivamente, pelos             medial c vão diretamente aos núcleos do III, IV e
 nervos abducente e troclear. Além disso, o nervo              VI pares de nervos cranianos, determinando o
 oculomotor possui fibras responsáveis pelo contro-            movimento do olho em sentido contrário ao da
 le da constricção c acomodação pupilar através de             cabeça.
 suas fibras parassimpáticas, e o nervo abducente                   Nistagmo é o movimento oscilatório dos glo-
 inerva a musculatura retrobulbar, produzindo mo-              bos oculares, caracterizado por um componente
 vimentos de retração do globo ocular. Os núcleos              rápido e outro lento. Durante a movimentação da
 dos nervos oculomotor e troclear estão localizados            cabeça num animal normal, os olhos desviam-se
 no mesencéfalo e do nervo abducente, na ponte.                vagarosamente em direção oposta à da rotação da


                                                                                                          Segmento
                                                                                                          T1-T3




                                                                                        Inervação simpática
                                                                                        do globo ocular



                                         Gânglio cervical
                                         cranial
Globo
ocular
           Inervação parassimpática do                      Figura 10.13 - Esquema ilustrativo da inervação simpática e
           globo ocular                                     parassimpática da pupila.
466   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



cabeça e então movimentam-sc rapidamente de                            Movimento lento
volta em sua direção. Isto causa um nistagmo
vestibular com um componente lento e outro
rápido. Quando a cabeça é rodada para a direita,
o canal semicircular à direita é estimulado e o
correspondente canal semicircular à esquerda é
inibido. Os impulsos viajam das células ciliadas
através do nervo vestibular aos núcleos vestibu-
lares e daí para o fascículo longitudinal medial.                                                     Núcleo do nervo
                                                                                                      oculomotor
O núcleo oculomotor ipsilateral é estimulado
causando a contração do músculo retomedial do
olho direito, desviando-o para a esquerda. Simul-
taneamente, o núcleo abduccnte contralateral é                                                        Núcleo do nervo
estimulado, causando a constrição do músculo                                                          abducente
retolateral do olho esquerdo, desviando-o para a                                                               Nervo
esquerda. Desta maneira, o componente lento do                                                                 vestibular
nistagmo é produzido. Depois dos olhos se des-
viarem uma certa distância para a esquerda, eles
se movimentam rapidamente de volta para a di-
reita, em decorrência de um mecanismo compen-          Núcleos                                       Orelha interna
satório central proveniente do tronco cerebral. A      vestibulares1
fase rápida do nistagmo é, portanto, para a direi-
ta, a direção para onde a cabeça está sendo gira-
da. E por mecanismos similares, utilizando o fas-
                                                        Figura 10.14- Formação da fase lenta do nistagmo horizontal.
cículo longitudinal medial e suas conexões com
o III, IV e VI pares de nervos cranianos, que se
desenvolve o nistagmo vertical com uma fase rápida            VII Par, Nervo Facial. O nervo facial possui
para cima, quando a cabeça é movida para cima,          uma raiz motora, responsável pela atividade dos
e uma fase rápida para baixo quando a cabeça é          músculos faciais e uma raiz sensitiva e visceral,
movida para baixo. Quando um animal sofre uma           responsável pela inervação das glândulas lacrimal,
rotação, durante a aceleração inicial a fase rápida     submandibular e sublingual e pela inervação do
se dá na direção para a qual o animal está sendo        palato e dos dois terços craniais da língua (forne
rodado. Conforme a rotação continua, a velocidade       cendo paladar). O nervo facial tem grande impor
de rotação torna-se constante e o nistagmo pára,        tância clínica em razão de suas relações com o nervo
já que não há mais fluxo endolinfático. Quando a        vestibulococlear e com estruturas da orelha média
rotação do animal é descontinuada, a desaceleração      e interna, em seu trajcto intrapetroso, e com a
estimula o lado oposto. Um ligeiro nistagmo pós-        glândula parótida em seu trajeto extrapetroso. O
rotatório é observado, com a fase rápida em dire-       nervo facial passa através do meato acústico in
ção oposta àquela vista durante a aceleração, ou        terno, juntamente com o nervo vestibulococlear,
em direção oposta à da rotação. Portanto, se um         passando depois pelo canal facial do osso petroso
animal normal é girado para a esquerda, até que         e orelha média, saindo do crânio pelo forame
ele pare, desenvolver-se-á um nistagmo pós-ro-          estilomastóideo.
tatório com fase rápida para a direita (Fig. 10.14).          VIII Par, Nervo Vestibulococlear. É um nervo
V Par, Nervo Trigêmio. O nervo trigêmio é um            sensitivo que compõe-se de uma porção vestibu
nervo misto, possuindo uma raiz sensitiva e uma         lar e uma coclear que, embora unidas em um tronco
raiz motora. A raiz sensitiva possui três ramos ou      comum, têm origem, funções e conexões centrais
divisões: nervo oftálmico, nervo maxilar e nervo        diferentes. A parte vestibular conduz impulsos
mandibular, responsáveis pela sensibilidade dos         nervosos relacionados com o equilíbrio, origina
pavilhões auriculares, pálpebras, córnea, face,         dos em receptores da porção vestibular da orelha
cavidade oral e mucosa do septo nasal. A raiz motora    interna. A parte coclear é constituída de fibras que
do nervo trigêmio inerva os músculos da masti-          conduzem impulsos nervosos relacionados com a
gação. O nervo trigêmio localiza-se na ponte.           audição.
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   467



     IXPar, Nervo Glossofaríngeo. É um nervo mis-          parede vesical. O nervo pélvico também trans-
to que inerva músculos da faringe e estruturas             mite informação sensitiva e inervação parassim-
palatinas, em conjunto com algumas fibras do nervo         pática para o músculo liso do cólon descendente
vago e que supre a inervação sensitiva para o terço        e reto. As raízes nervosas e segmentos da medula
posterior da língua e mucosa faringeana. Este nervo        espinhal de SI a S3 também formam o nervo
também possui fibras parassimpáticas para as glân-         pudendo, que transmite informação sensitiva ao
dulas zigomática e parótida. Os nervos glossofa-           esfíncter uretral externo, ao esfíncter anal e à região
ríngeo, vago e acessório originam-sc de um núcleo          perineal. Além disso, o nervo pudendo determi-
comum, o núcleo ambíguo, situado no bulbo.                 na a inervação motora do esfíncter uretral exter-
     X Par, Nervo Vago. É o maior dos nervos cra           no e do músculo estriado do esfíncter anal.
nianos, é um nervo misto e essencialmente vis                    A contração reflexa da bexiga é conseguida
ceral. Ele emerge do crânio e percorre o pescoço           através de uma série de eventos que envolvem os
e o tórax, terminando no abdome. Neste trajeto             nervos pudendo e pélvico, e segmentos da medu-
o nervo vago dá origem a numerosos ramos que               la espinhal de SI a S3. Quando a bexiga se distende,
inervam a laringe e a faringe, controlando tam             são estimuladas terminações nervosas aferentes
bém a vocalização e a função laringeana. Sua               (sensitivas) da parede vesical e do esfíncter ure-
principal função é fornecer inervação paras -              tral externo, transmitindo-se impulsos para os nervos
simpática para as vísceras torácicas e abdominais,         pélvico e pudendo e, através destes, para a subs-
exceto aquelas da região pélvica.                          tância cinzenta de SI a S3. Os núcleos detrusores
     XI Par, Nervo Acessório. Ê formado por uma            na medula são estimulados e os impulsos paras-
raiz craniana (bulhar) c uma raiz espinhal (origi          simpáticos eferentes são transmitidos através do
nária das raízes ventrais dos segmentos cervicais          nervo pélvico, ocorrendo contração do músculo
de Cl a C5). Fibras da raiz craniana unem-se ao            detrusor. Simultaneamente, os núcleos pudendos
nervo vago e distribuem-se com ele, inervando              são inibidos, o esfíncter uretral externo é relaxado
músculos da laringe. Fibras da raiz espinhal iner          e a urina é expelida da bexiga. Trata-se, portanto,
vam os músculos trapézio e parte dos músculos              de um reflexo automático, em nível medular.
esternocefálico e braquiocefálico. Estes músculos                À medida que a bexiga se distende, alguns im-
sustentam o pescoço lateralmente e participam              pulsos sensitivos são levados para os segmentos sacrais
dos movimentos dos ombros e parte superior dos             da medula espinhal c ascendem através da medula
membros torácicos.                                         e do tronco encefálico para a formação reticular, lo-
     XII Par, Nervo Hipoglosso. É um nervo mo              calizada na ponte e mesencéfalo, onde se localiza o
tor, possui seu núcleo localizado no bulbo e inerva        centro detrusor. Alguns impulsos continuam através
músculos extrínsecos e intrínsecos da língua.              do tálamo e da cápsula interna para o córtex soma-
                                                           tosensitivo, onde a sensação da bexiga distendida e
                                                           a necessidade de urinar são percebidas. Caso a mic-
NERVOS ESPINHAIS                                           ção seja inapropriada no momento, impulsos do lobo
                                                           frontal descem e inibem o centro detrusor do me-
As raízes dorsais da medula espinhal são compos-           sencéfalo e ponte. Outros impulsos descem do lobo
tas primariamente de neurônios sensitivos. As raízes       frontal para os segmentos sacrais da medula, através
ventrais da medula espinhal são compostas por              do trato reticulospinal, e estimulam os nervos e nú-
axônios de neurônios motores inferiores. As raízes         cleos pudendos para produzirem contração e fecha-
dorsal e ventral unem-se para formar um nervo              mento do esfíncter uretral externo. Através desses
espinhal periférico, o qual contém uma combina-            mecanismos e interações, a micção é inibida nos
ção de processos motores e sensitivos (Fig. 10.15).        momentos apropriados. Quando o animal está em um
                                                           local onde é permitido urinar, a inibição cortical no
                                                           centro detrusor é liberada e ocorre a contração vo-
INERVAÇÃO DA BEXIGA                                        luntária do esfíncter uretral externo.
URINÁRIA E DO ÂNUS                                              A inervação simpática da bexiga origina-se na
                                                           substância cinzenta de L2 a L5, sai da medula
As raízes nervosas e os segmentos medulares de             espinhal através dos nervos esplâncnicos lomba-
SI a S3 formam o nervo pélvico, que transmite              res, faz sinapse no gânglio mesentérico caudal e
informação sensitiva e inervação motora parassim-          atinge a bexiga através dos nervos hipogástricos. A
pática para o músculo detrusor, o músculo liso da          inervação simpática da bexiga aumenta o limiar
468   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                                                                                Fibra
                                                                                sensitiva
                                                                                Figura 10.15 - Representação da formação
                                                                                de um nervo periférico.
                                                                                ,--""

                                                                                produzindo relaxamento do
                                                                                esfíncter anal, e as fezes são
                                                                                expulsas.
                                                                                Receptor



                                                                                EXAME
                                                                                NEUROLÓGICO
                                                                                DE PEQUENOS
                                                                                ANIMAIS
                                                                                Objetivos
                                                                              Os objetivos de um exame
                                                                  neurológico são:
de contração reflexa local c permite que o mús-
culo detrusor se distenda e aumente o volume                    • Determinar se existe disfunção do sistema
vesical, antes que a contração muscular ocorra. O                 nervoso.
nervo hipogástrico também promove inervação                     • Estabelecer a localização e a extensão do
simpática do músculo liso da uretra próxima! e                    envolvimento neurológico.
produz dilatação uretral (Fig. 10.16).                          • Tentar direcionar o diagnóstico e o prognós
    O reflexo de defecação envolve mecanismos                     tico do animal.
parecidos com o de micção. A distensão estimula
aferências do reto e do esfíncter anal, que atra-
vés dos nervos pélvico e pudendo chegam à subs-               Identificação do Animal
tância cinzenta de SI a S3. O nervo pélvico esti-
mula a contração do músculo liso do cólon des-                     Antes de iniciar a anamnese c o exame físico,
cendente e do reto, o nervo pudendo é inibido,                é necessário prestar atenção à identificação do
                                                              animal, incluindo a espécie, raça, idade, sexo e
                                                              cor da pelagem. Muitos distúrbios neurológicos
                            S1-S3
                                                              apresentam uma predisposição racial. Por exem-
                                                              plo: epilepsia verdadeira em cães das raças beagle,
                                           Nervo              poodle, pastor alemão, setter irlandês, são bernardo
                                           pélvico            e dachshund; hidrocefalia no chihuahua e neo-
Cânglio
                                                              plasias cerebrais primárias no boxer e boston terrier.
mesentérico
caudal
                                                              De um modo geral, cães de raças pequenas ten-
                                                              dem a apresentar convulsões generalizadas mo-

                                                 Nervo
                                                    pudendo




Figura 10.16 - Inervação vesical.



              L2-L5
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   469



deradas, sem perda de consciência. No entanto,             tratamentos anteriormente realizados. Existem
cães de raças grandes e gigantes geralmente apre-          muitos antecedentes mórbidos que podem estar
sentam convulsões mais severas e mais difíceis             relacionados com o quadro neurológico atual. Por
de controlar. A idade do animal também é impor-            exemplo, uma queda ou um atropelamento pode
tante, pois malformações congénitas geralmente             provocar um traumatismo crânio-encefálico com
produzem sinais clínicos em animais com menos              posterior formação de um foco convulsivo. Uma
de um ano de idade. Por outro lado, processos              cirurgia prévia para retirada de um adenocarcino-
neoplásicos são frequentemente observados em               ma mamário pode sugerir a existência de uma
cães c gatos com mais de cinco anos. Intoxica-             metástase em sistema nervoso central. A descri-
ções, infecções ou traumas não acometem algu-              ção do local onde o animal vive c muito impor-
ma idade específica, mas são mais comuns em                tante para se detectar fontes de substâncias intoxi-
animais jovens, que possuem tendência a masti-             cantes como tintas, inseticidas, etc. O manejo
gar objetos estranhos, podem ter vacinação incom-          incorreto do animal pode ser a causa de um pro-
pleta ou possuem pouca experiência com veícu-              blema neurológico. Um exemplo disto são as in-
los em movimento. Os primeiros episódios da                toxicações por banhos carrapaticidas. O tipo de
epilepsia hereditária geralmente começam em                dieta também é importante para avaliar possíveis
animais de seis meses a cinco anos de idade. Já            deficiências nutricionais. Com relação aos trata-
doenças degenerativas ocorrem mais frequente-              mentos anteriormente preconizados, é importante
mente após os cinco anos de idade.                         saber qual o medicamento utilizado, a dose, o
     Poucos distúrbios neurológicos possuem pre-           intervalo de administração e a duração do trata-
disposição sexual. Os adenocarcinomas mamári-              mento. Muitas vezes o medicamento utilizado
os podem produzir metástases no sistema nervo-             estava correto, mas houve subdosagem na admi-
so central em fêmeas c os adenocarcinomas pros-            nistração.
táticos também podem provocar metástase no                      Além de uma anamnese detalhada sobre o
sistema nervoso central em cães machos. Em raras           problema neurológico, deve-se seguir a rotina
ocasiões os distúrbios neurológicos genéticos              normal de anamnese dos outros sistemas. Isto
podem estar relacionados com a cor da pelagem;             porque muitas vezes o quadro neurológico é se-
entretanto, gatos brancos de olhos azuis podem             cundário a um problema em outro órgão ou siste-
ser surdos.                                                ma. Por exemplo, encefalopatia hepática ou re-
                                                           nal, doenças cardíacas c infecções da orelha mé-
                                                           dia. Além disso, algumas doenças infecciosas cau-
Anamnese                                                   sam alterações cm outros sistemas além do qua-
                                                           dro neurológico, como, por exemplo, a cinomose
     A avaliação neurológica de qualquer pacien-           e a toxoplasmose. Uma história de distúrbios
te deve começar com uma anamnese cuidadosa e               endócrinos e sinais de poliúria, polidipsia e poli-
detalhada. Os sinais clínicos observados em pa-            fagia podem indicar uma lesão hipotalâmica ou
cientes com injúrias ao tecido nervoso refletem o          hipofisária. Estas informações devem ser consi-
local onde ocorreu a lesão. A maneira como esses           deradas ao localizar a lesão.
sinais começaram e o curso da doença refletem a
causa da injúria. Por esse motivo, a anamnese é
essencial para a avaliação do paciente. A anamnese         Início da Doença
requer, portanto, uma descrição completa do
quadro. É importante que se determine como foi                   A descrição do início da doença pode ser um
o início e a evolução da doença. A seguir, a anamne-       dado importante para o diagnóstico. Quando o
se pode ser conduzida na mesma sequência em                início é súbito, os sinais desenvolvem-se rapida-
que se realiza o exame neurológico. Inicialmente           mente, geralmente atingindo sua intensidade
o dono deve ser inquerido sobre o nível de cons-           máxima em 24 horas. Desta forma, podem suge-
ciência do animal e se ocorreram mudanças de               rir, por exemplo, traumatismos, intoxicações ou
comportamento, de personalidade ou convulsões.             acidente vascular cerebral. Doenças subagudas
Depois faz-se a avaliação dos nervos cranianos e           geralmente apresentam sinais que se desenvol-
da locomoção. Finalmente, obtém-se informações             vem progressivamente por um período de vários
a respeito dos antecedentes mórbidos, do ambiente          dias a algumas semanas. Exemplos incluem a
onde o animal vive, do manejo do animal e dos              maioria das doenças inflamatórias, infecciosas e
470   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



algumas doenças ncoplásicas. Doenças crónicas             Esses casos podem sugerir doenças metabólicas ou
são aquelas cujos sinais continuam a se desen-            instabilidades de coluna vertebral (Fig. 10.17).
volver por um período de meses ou anos, como                   Os medicamentos utilizados, suas respectivas
por exemplo distúrbios nutricionais, doenças              dosagens, bem como a resposta à terapia prévia,
degenerativas e algumas neoplasias. Outra infor-          também devem ser investigados. Se existiu uma
mação importante é determinar a idade do ani-             mudança no quadro clínico do animal durante o curso
mal quando do aparecimento do quadro neuroló-             da doença, é importante que se determine se novos
gico. Por exemplo, um animal pode vir para a              sinais clínicos apareceram ou se apenas os sinais
consulta com dois anos, mas o quadro pode exis-           anteriores pioraram. Por exemplo: um animal apre-
tir desde os quatro meses de idade.                       senta tetraparesia e após duas semanas torna-se
                                                          tetraplégico. Um outro animal apresenta tetraparesia
                                                          e após duas semanas apresenta sinais de disfunção
Evolução da Doença                                        de nervos cranianos. No primeiro caso houve piora
                                                          da lesão, mas no segundo caso houve uma progres-
(Progressão, Estabilidade, Melhora)                       são anatómica da lesão. Isto é, há envolvimento de
                                                          outras partes do sistema nervoso.
     A evolução da doença também está relaciona-
da ao seu início, mas é um parâmetro um pouco
diferente. Caso os sinais sejam estáticos, isto é, não
se alteram com o curso da doença, geralmente
                                                          Mudanças de Comportamento
sugerem anomalias congénitas do tecido nervoso.                Deve-se obter o máximo de informações do
Caso os sinais sejam progressivos, isto é, ocorre um      proprietário como, por exemplo, se houve algu-
aumento na severidade dos mesmos, isto sugere             ma mudança no comportamento do animal. Ani-
inflamação, degeneração ou neoplasia do tecido            mais com lesões no lobo piriforme, por exemplo,
nervoso que, enquanto não forem tratadas, evo-            podem apresentar agressividade excessiva. Lesões
luem progressivamente. Nos casos de melhora               no lobo frontal podem incapacitar o animal em
clínica sem tratamento, pode-se pensar em intoxi-         reconhecer o próprio dono e causam incapacida-
cações não muito severas, em que houve elimina-           de para o aprendizado. Animais epilépticos po-
ção do produto tóxico pelo organismo; em lesões           dem alterar seu comportamento um pouco antes
vasculares tais como um acidente vascular cere-           ou logo após uma convulsão.
bral de pequena intensidade, em que não houve
um grave comprometimento às funções neuroló-
gicas e ocorre recuperação do tecido nervoso lesa-        Convulsões
do; ou em injúrias traumáticas leves, em que há
recuperação da função cerebral. Existem algumas              Convulsão é um distúrbio desencadeado por
situações em que há períodos de melhora e piora.          uma descarga elétrica neuronal anormal e exces-


Sinais clínicos


                      Traumatismo vascular


                                                            --- Anomalia congénita
                                                            Metabólica
                                                            Neoplasia
                                                            Inflamação
                                                            Degeneração
                                                            Figura 10.17 - Evolução do quadro clínico ao longo do
                                                               tempo de acordo com a etiologia da enfermidade.
                                                      > Tempo
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais   471



siva, acarretando ou não perda de consciência,          reconhecimento do proprietário, cegueira transi-
presença de movimentos motores e fenómenos              tória e desorientação. Muitas vezes o animal
viscerais, sensoriais e psíquicos, caracterizando-      mostra-se extremamente ativo e deambula con-
se, pois, por atividade nervosa qualitativa ou          tinuamente, urina e defeca em grande quantida-
quantitativamente alterada, em parte ou em todo         de e frequência, mostra-se sedento e esfomeado.
o cérebro. Pode ser desencadeada por um estí-           Deve-se perguntar ao proprietário se ele percebe
mulo sensorial, químico ou elétrico, ou ainda por       essas fases e o que ocorre com o animal nestes
enfermidades intrínsecas do sistema nervoso cen-        períodos. Deve-se determinar como começam as
tral. Em função das características eletroencefa-       convulsões. Se elas são focais (apenas uma porção
jjgráficas e clínicas, classifica-se as convulsões em   do corpo, por exemplo, um membro) e depois
generalizadas ou primárias e em parciais ou focais.     tornam-se generalizadas (todo o corpo), ou se são
As convulsões generalizadas manifestam-se prin-         generalizadas desde o início. Se há ou não perda
cipalmente em decorrência de distúrbios meta -          de consciência. Se o animal cai, urina, defeca ou
bólicos, intoxicações, deficiências nutricionais e      vocaliza durante a convulsão. Se existe salivação
epilepsia hereditária. Elas se caracterizam por uma     intensa. Se as convulsões são tónicas (rigidez) ou
descarga elétrica difusa no córtex cerebral, ocor-      tônico-clônicas (contrações musculares bruscas). De-
rendo ao mesmo tempo manifestações clínicas             pendendo do tipo de convulsão, pode-sc supor qual
simétricas e sincrônicas em todo o corpo. Podem         sua causa. Por exemplo, um distúrbio metabólico
ou não causar perda de consciência. Quando não          não causará uma convulsão focal. A descrição do
há perda da consciência, são ditas leves', quando há,   quadro convulsivo, principalmente quando é fo-
são ditas graves. As convulsões parciais ou focais      cal, auxilia a sugerir a porção do córtex cerebral
originam-se de uma área focal de atividade              envolvida ou responsável pelo foco convulsivo.
neuronal anómala, no córtex cerebral. As mani-          Dessa maneira, animais com convulsões focais
festações clínicas dependem da área que contém          motoras possuem a lesão no lobo frontal contrala-
o foco, podendo ter características motoras, sen-       teral. É importante determinar também a duração
soriais ou comportamentais. Se existirem relatos        de cada fase. Além da avaliação de cada uma das
de convulsões, deve-se obter uma descrição de-          fases de um episódio convulsivo, outras informa-
talhada do quadro convulsivo. A convulsão é di-         ções são de extrema importância. Dcvc-sc deter-
vidida em três ou quatro fases, dependendo do           minar a idade do animal quando do primeiro epi-
autor: pródromo, aura, icto e pós-icto. Pródromo é      sódio convulsivo. Por exemplo, em casos de epi-
um período de duração variável (de minutos a dias)      lepsia verdadeira ou hereditária, o primeiro episó-
que antecede o episódio convulsivo e que pode           dio convulsivo ocorre geralmente entre os seis meses
ou não ser identificado pelo proprietário. Nesta        e os cinco anos de idade. Já na epilepsia adquiri-
fase o animal pode exteriorizar nervosismo, ansi-       da, o primeiro episódio aparece semanas ou meses
edade, temor inusitado ou extrema atividade fí-         após o insulto original. O intervalo entre as con-
sica. Alguns autores, que consideram quatro es-         vulsões é importante na escolha do tratamento. Se
tágios em uma convulsão, denominam o segundo            o animal apresenta uma convulsão a cada 12 horas,
estágio de aura. Entretanto, este termo se refere       não adianta, por exemplo, utilizar um anticonvul-
ao início da convulsão, conscientemente vivenciado      sivante que demore sete dias para atingir níveis
por humanos. Por esse motivo, não pode ser iden-        séricos estáveis. Também, por outro lado, se um
tificado em animais, os quais são incapazes de          animal apresenta uma convulsão a cada 12 meses,
comunicar verbalmente este fenómeno. Icto é a           muitas vezes não é necessário medicá-lo, a não ser
convulsão propriamente dita e tem duração va-           que o intervalo entre as convulsões diminua. Sa-
riável, de segundos a minutos. Podem ocorrer várias     ber o número total de convulsões é importante
manifestações tais como perda de consciência,           também para instituir ou não o tratamento do animal.
queda, convulsões tônico-clônicas, movimentos           Deve-se tentar determinar se existem fatores
anómalos dos membros (pedalar), relaxamento de          incitantes para o episódio convulsivo, tais como
esfíncteres, salivação excessiva e movimentos           estímulos auditivos, mecânicos, excitação ou estro.
mastigatórios. Pós-icto é aquela fase do episódio
convulsivo que, por sua duração geralmente lon-
ga, é muitas vezes confundida com o icto. Ela se        Avaliação dos Nervos Cranianos
manifesta por um quadro típico de exaustão ou
sonolência, agressividade, temor exagerado, não               Durante a anamnese, deve-se fazer pergun-
                                                        tas a respeito dos pares de nervos cranianos, tais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais
Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Fisiologia do sistema nervoso organização funcional
Fisiologia do sistema nervoso   organização funcionalFisiologia do sistema nervoso   organização funcional
Fisiologia do sistema nervoso organização funcionalRaul Tomé
 
Anatomia do Sistema Nervoso Humano
Anatomia do Sistema Nervoso HumanoAnatomia do Sistema Nervoso Humano
Anatomia do Sistema Nervoso HumanoEgberto Neto
 
Anatomia - Sistema Nervoso
Anatomia - Sistema NervosoAnatomia - Sistema Nervoso
Anatomia - Sistema NervosoPedro Miguel
 
Sistema nervoso central acabado1
Sistema nervoso central acabado1Sistema nervoso central acabado1
Sistema nervoso central acabado1Isabel Teixeira
 
Sistema Nervoso Central
Sistema Nervoso CentralSistema Nervoso Central
Sistema Nervoso CentralMutantDread
 
CN9-sistema nervoso
CN9-sistema nervosoCN9-sistema nervoso
CN9-sistema nervosoRita Rainho
 
Aula 7 Sistema Nervoso
Aula 7 Sistema NervosoAula 7 Sistema Nervoso
Aula 7 Sistema NervosoMarco Antonio
 
Introdução à neuroanatomia
Introdução à neuroanatomiaIntrodução à neuroanatomia
Introdução à neuroanatomiaCaio Maximino
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervosoCatir
 
Sn sistema nervoso central
Sn sistema nervoso centralSn sistema nervoso central
Sn sistema nervoso centralAna Conceição
 
11 ¬ aula slides sistema nervoso
11 ¬ aula slides sistema nervoso11 ¬ aula slides sistema nervoso
11 ¬ aula slides sistema nervosoSimone Alvarenga
 
Aula Sistema Nervoso 8º Ano
Aula Sistema Nervoso 8º AnoAula Sistema Nervoso 8º Ano
Aula Sistema Nervoso 8º AnoEliando Oliveira
 

Mais procurados (20)

Anatomia do Sistema Nervoso
Anatomia do Sistema NervosoAnatomia do Sistema Nervoso
Anatomia do Sistema Nervoso
 
Fisiologia do sistema nervoso organização funcional
Fisiologia do sistema nervoso   organização funcionalFisiologia do sistema nervoso   organização funcional
Fisiologia do sistema nervoso organização funcional
 
Sistema Nervoso
Sistema NervosoSistema Nervoso
Sistema Nervoso
 
Anatomia do Sistema Nervoso Humano
Anatomia do Sistema Nervoso HumanoAnatomia do Sistema Nervoso Humano
Anatomia do Sistema Nervoso Humano
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
Anatomia - Sistema Nervoso
Anatomia - Sistema NervosoAnatomia - Sistema Nervoso
Anatomia - Sistema Nervoso
 
Sistema nervoso central acabado1
Sistema nervoso central acabado1Sistema nervoso central acabado1
Sistema nervoso central acabado1
 
Sistema Nervoso Central
Sistema Nervoso CentralSistema Nervoso Central
Sistema Nervoso Central
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
CN9-sistema nervoso
CN9-sistema nervosoCN9-sistema nervoso
CN9-sistema nervoso
 
Aula sm (sn)
Aula sm (sn)Aula sm (sn)
Aula sm (sn)
 
Aula 7 Sistema Nervoso
Aula 7 Sistema NervosoAula 7 Sistema Nervoso
Aula 7 Sistema Nervoso
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
Introdução à neuroanatomia
Introdução à neuroanatomiaIntrodução à neuroanatomia
Introdução à neuroanatomia
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
Sn sistema nervoso central
Sn sistema nervoso centralSn sistema nervoso central
Sn sistema nervoso central
 
11 ¬ aula slides sistema nervoso
11 ¬ aula slides sistema nervoso11 ¬ aula slides sistema nervoso
11 ¬ aula slides sistema nervoso
 
Sistema Nervoso
Sistema NervosoSistema Nervoso
Sistema Nervoso
 
Espinal medula
Espinal medulaEspinal medula
Espinal medula
 
Aula Sistema Nervoso 8º Ano
Aula Sistema Nervoso 8º AnoAula Sistema Nervoso 8º Ano
Aula Sistema Nervoso 8º Ano
 

Destaque

Sistema nervoso victor c speirs
Sistema nervoso   victor c speirsSistema nervoso   victor c speirs
Sistema nervoso victor c speirsJamile Vitória
 
Das Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Das Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de JaneiroDas Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Das Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de JaneiroColaborativismo
 
Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01
Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01
Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01Med. Veterinária 2011
 
Ano vii edic12-rev77
Ano vii edic12-rev77Ano vii edic12-rev77
Ano vii edic12-rev77rodsilva2013
 
Guia terapêutico veterinário
Guia terapêutico veterinário Guia terapêutico veterinário
Guia terapêutico veterinário Patrícia Oliver
 
Exame clínico equinos
Exame clínico equinosExame clínico equinos
Exame clínico equinosMarcos Stopa
 
Osteologia - Parte 3
Osteologia  - Parte 3Osteologia  - Parte 3
Osteologia - Parte 3angelica luna
 
Manual de patologia clinica
Manual de patologia clinicaManual de patologia clinica
Manual de patologia clinicaJamile Vitória
 
Radiologia aplicada medicina_veterinaria
Radiologia aplicada medicina_veterinariaRadiologia aplicada medicina_veterinaria
Radiologia aplicada medicina_veterinariaDHPgnb
 
Manual Técnico de Ovinocultura
Manual Técnico de OvinoculturaManual Técnico de Ovinocultura
Manual Técnico de OvinoculturaAgriPoint
 
Curso Atualização Hemostasia pdf
Curso Atualização Hemostasia pdfCurso Atualização Hemostasia pdf
Curso Atualização Hemostasia pdfFábio Baía
 

Destaque (20)

Sistema nervoso victor c speirs
Sistema nervoso   victor c speirsSistema nervoso   victor c speirs
Sistema nervoso victor c speirs
 
Das Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Das Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de JaneiroDas Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Das Ruas às Redes: análise do lab.rio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
 
Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01
Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01
Osteologiaparte4color 110303073257-phpapp01
 
Vademecum ARSAL
Vademecum ARSALVademecum ARSAL
Vademecum ARSAL
 
Ano vii edic12-rev77
Ano vii edic12-rev77Ano vii edic12-rev77
Ano vii edic12-rev77
 
Guia terapêutico veterinário
Guia terapêutico veterinário Guia terapêutico veterinário
Guia terapêutico veterinário
 
Biblioteca Virtual em Medicina Veterinária e Zootecnia
Biblioteca Virtual em Medicina Veterinária e ZootecniaBiblioteca Virtual em Medicina Veterinária e Zootecnia
Biblioteca Virtual em Medicina Veterinária e Zootecnia
 
Clase 1
Clase 1Clase 1
Clase 1
 
Vademecum microdosis[1]
Vademecum microdosis[1]Vademecum microdosis[1]
Vademecum microdosis[1]
 
Moraxella bovis
Moraxella bovisMoraxella bovis
Moraxella bovis
 
Fisiologia coagulacao
Fisiologia coagulacaoFisiologia coagulacao
Fisiologia coagulacao
 
Exame clínico equinos
Exame clínico equinosExame clínico equinos
Exame clínico equinos
 
Vademecum ERMA
Vademecum ERMAVademecum ERMA
Vademecum ERMA
 
Osteologia - Parte 3
Osteologia  - Parte 3Osteologia  - Parte 3
Osteologia - Parte 3
 
Manual de patologia clinica
Manual de patologia clinicaManual de patologia clinica
Manual de patologia clinica
 
Aula 01 anatomia_ii_blog
Aula 01 anatomia_ii_blogAula 01 anatomia_ii_blog
Aula 01 anatomia_ii_blog
 
Radiologia aplicada medicina_veterinaria
Radiologia aplicada medicina_veterinariaRadiologia aplicada medicina_veterinaria
Radiologia aplicada medicina_veterinaria
 
Farmacología veterinaria
Farmacología veterinariaFarmacología veterinaria
Farmacología veterinaria
 
Manual Técnico de Ovinocultura
Manual Técnico de OvinoculturaManual Técnico de Ovinocultura
Manual Técnico de Ovinocultura
 
Curso Atualização Hemostasia pdf
Curso Atualização Hemostasia pdfCurso Atualização Hemostasia pdf
Curso Atualização Hemostasia pdf
 

Semelhante a Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais

Semelhante a Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais (20)

Introdução a Neuroanatomia e Neurofisiologia
Introdução a Neuroanatomia e NeurofisiologiaIntrodução a Neuroanatomia e Neurofisiologia
Introdução a Neuroanatomia e Neurofisiologia
 
Princípios de neuroanatomia
Princípios de neuroanatomiaPrincípios de neuroanatomia
Princípios de neuroanatomia
 
O papel do corpo na construção do desenvolvimento humano inês andré
O papel do corpo na construção do desenvolvimento humano inês andréO papel do corpo na construção do desenvolvimento humano inês andré
O papel do corpo na construção do desenvolvimento humano inês andré
 
Sn comparado
Sn comparadoSn comparado
Sn comparado
 
Aba58d01
Aba58d01Aba58d01
Aba58d01
 
Apostila aapii
Apostila aapiiApostila aapii
Apostila aapii
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
Sistema nervoso 3
Sistema nervoso 3Sistema nervoso 3
Sistema nervoso 3
 
Sistema neuro hormonal
Sistema neuro hormonalSistema neuro hormonal
Sistema neuro hormonal
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
Sistema nervoso parte ii
Sistema nervoso parte iiSistema nervoso parte ii
Sistema nervoso parte ii
 
Sistema Nervoso Humano
Sistema Nervoso HumanoSistema Nervoso Humano
Sistema Nervoso Humano
 
[Instituto Interage - Curso de Psicofarmacologia] Aula 1/1
[Instituto Interage - Curso de Psicofarmacologia] Aula 1/1[Instituto Interage - Curso de Psicofarmacologia] Aula 1/1
[Instituto Interage - Curso de Psicofarmacologia] Aula 1/1
 
Sistema Nervoso
Sistema NervosoSistema Nervoso
Sistema Nervoso
 
Sistemanervoso1 (2)
Sistemanervoso1 (2)Sistemanervoso1 (2)
Sistemanervoso1 (2)
 
Sistema nervoso
Sistema nervosoSistema nervoso
Sistema nervoso
 
Sistemanervoso1
Sistemanervoso1Sistemanervoso1
Sistemanervoso1
 
Sistema Nervoso
Sistema NervosoSistema Nervoso
Sistema Nervoso
 
Capítulo 07 - Sistema nervoso e órgãos sensoriais
Capítulo 07 - Sistema nervoso e órgãos sensoriaisCapítulo 07 - Sistema nervoso e órgãos sensoriais
Capítulo 07 - Sistema nervoso e órgãos sensoriais
 
06 sistema nervoso central-snc
06 sistema nervoso central-snc06 sistema nervoso central-snc
06 sistema nervoso central-snc
 

Mais de Jamile Vitória

Mais de Jamile Vitória (8)

Nervoso importancia
Nervoso importanciaNervoso importancia
Nervoso importancia
 
Modelo laudo de necropsia p alunos
Modelo laudo de necropsia p alunosModelo laudo de necropsia p alunos
Modelo laudo de necropsia p alunos
 
Glandula mamaria
Glandula mamariaGlandula mamaria
Glandula mamaria
 
Exame fisico geral
Exame fisico geralExame fisico geral
Exame fisico geral
 
Exame2
Exame2Exame2
Exame2
 
Eddc3
Eddc3Eddc3
Eddc3
 
Colheita de lliquor
Colheita de lliquorColheita de lliquor
Colheita de lliquor
 
8 sistema reprodutor
8 sistema reprodutor8 sistema reprodutor
8 sistema reprodutor
 

Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais

  • 1. 10 Sistema Nervoso ''O CÉREBRO É MAIS AMPLO DO QUE O CÉU." (Emily Dickinson) Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais MARY MARCONDES FEITOSA Semiologia do Sistema Nervoso de Grandes Animais ALEXANDRE SECORUN BORGES Exames Complementares MARY MARCONDES FEITOSA
  • 2. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 1 MARY MARCONDES FEITOSA INTRODUÇÃO De todos os sistemas do organismo, o sistema nervoso é, muitas ve- zes, o menos entendido pela maioria dos clínicos. Para que se possa realizar corrctamente o exame neurológico e sua respectiva interpre- tação, é necessário conhecer a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso. Sem o conhecimento das bases anatomofuncionais, ainda que elementares, não é possível trilhar o caminho da semiologia e da clí- nica neurológica. Além disso, o diagnóstico topográfico é de funda- mental importância em neurologia, seja para fins clínicos ou para o tratamento cirúrgico de algumas enfermidades. DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso pode ser dividido em partes, levando-se em con- sideração critérios anatómicos, embriológicos e funcionais. A divisão com base em critérios anatómicos é das mais conheci- das, e segue demonstrada no esquema abaixo e na Figura 10.1. telencéfalo cérebro encéfalo- diencéfalo Sistema cerebelo mesencéfalo Nervoso • Central tronco encefálico ponte bulbo medula espinhal [espinhais nervos Sistema cranianos Nervoso . Periférico gânglios terminações nervosas
  • 3. 452 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Telencéfalo Diencéfalo Medula Mesencéfalo Ponte Bulbo Figura 10.1 - Divisões do sistema nervoso central. SISTEMA NERVOSO CENTRAL 80% da cavidade craniana. Os dois componentes que o formam, telencéfalo e diencéfalo, apresen- O sistema nervoso central (SNC) está localizado tam características próprias. O telencéfalo compreende dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, os vertebral); o sistema nervoso periférico está fora deste quais são incompletamente separados pela fissura esqueleto. Esta distinção não é perfeitamente cxata longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado por pois os nervos e as raízes nervosas, para se conec- uma larga faixa de fibras comissurais, o corpo caloso, tarem ao sistema nervoso central, penetram no principal meio de união entre os dois hemisférios. crânio e no canal vertebral. Além disso, alguns Cada hemisfério cerebral possui quatro lobos cere- gânglios (conjunto de corpos celulares localizado brais que são: lobo frontal, o lobo temporal, o lobo fora do SNC) estão localizados dentro do esque- parietal c o lobo occipital (Fig. 10.2). leto axial. O encéfalo é a parte do sistema nervoso No lobo frontal são processadas as atividades central situada dentro do crânio e a medula fica intelectuais, de aprendizagem e as atividades localizada dentro do canal vertebral. motoras finas e precisas. Em primatas esta região também tem grande importância no processamento de atividades motoras básicas. O lobo frontal tam- ENCÉFALO bém influencia o estado de alerta e a integração O encéfalo é dividido em cérebro, cerebelo e tronco do animal com o meio ambiente. encefálico. O cérebro é a porção mais desenvolvida O lobo parietal é o responsável pelas infor- e mais importante do encéfalo, ocupando cerca de mações sensitivas, tais como dor, propriocepção Figura 10.2 -Vista dorsal dos lobos cerebrais de um cão. Córtex Córtex frontal occipital Córtex parietal Córtex temporal
  • 4. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 453 e toque. Entretanto, os animais não parecem Os hemisférios cerebrais possuem cavidades, depender do lobo parietal para processar muitas revestidas de epêndima e contendo líquido cefa- sensações, como ocorre no homem, uma vez que lorraquidiano, denominadas ventrículos cerebrais la- o tálamo (localizado no diencéfalo) pode proces- terais direito e esquerdo, que se comunicam pelos sar mais informações sensitivas nos animais. forames interventriculares com o IIIventrículo, uma O lobo occipital'é necessário para a visão e para estreita fenda ímpar e mediana situada no diencéfalo. processar a informação visual. O tronco encefálico interpõe-se entre a medula O lobo temporal processa a informação auditi- e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cere- va e é também responsável por alguns comporta- belo, e divide-se em mesencéfalo, situado cranial- mentos complexos. Partes do córtex do lobo frontal mente; bulbo, situado caudalmente; ç, ponte, situa- e temporal estão incluídas no sistema límbico. Este é da entre ambos. Na sua constituição entram cor- responsável por muitas emoções e por comporta- pos de neurônios que se agrupam em núcleos (como mentos inatos de sobrevivência, tais como prote- núcleos entende-se o conjunto de corpos celulares ção, reações maternais e sexuais. A área piriforme de neurônios dentro do SNC, sendo seu corres- do lobo temporal é a responsável pela agressivi- pondente no SNP denominado gânglio) e fibras dade. A amígdala é um grande núcleo localizado nervosas, que por sua vez se agrupam em feixes sobre o lobo temporal, sendo parte do sistema denominados tratos, fascículos ou leminiscos. Pas- límbico e responsável por muitas reações de medo. sam através do tronco encefálico vias sensitivas res- Cada hemisfério cerebral possui uma camada ponsáveis por propriocepção consciente, incons- superficial de substância cinzenta, o córtex cere- ciente e dor; e vias descendentes motoras para bral, que reveste um centro de substância branca, músculos flexores e extensores. Muitos dos núcleos no interior do qual existem massas de substância do tronco encefálico recebem ou emitem fibras cinzenta, os núcleos da base do cérebro. Os princi- nervosas que entram na constituição dos nervos pais núcleos da base são: claustrum, corpo amigdalóide, cranianos. Por este motivo, o tronco encefálico é caudado, putâmen e globo pálido. Juntos, os três uma área de grande importância quando do exa- últimos constituem o corpo estriado. Esses núcleos me neurológico, uma vez que nele estão localiza- contribuem para o tono muscular e início e con- dos 10 dos 12 pares de nervos cranianos. Sendo trole da atividade motora voluntária. assim, uma lesão neste local, mesmo que peque- O diencéfalo compreende as seguintes partes: na, poderá acarretar dano ou perda de função de tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O hipotá- lamo modula o controle do sistema nervoso um ou mais pares de nervos cranianos, já que é autónomo de todo o organismo. Muitos dos neu- grande a proximidade entre eles. rônios motores simpáticos e parassimpáticos ori- O mesencéfalo c atravessado por um estreito ginam-se aí. Entre as funções hipotalâmicas en- canal, o aqueduto cerebral, que une o III ao IV contramos o controle do apetite, sede, regulação ventrículo. O IV ventrículo situa-se entre o bulbo da temperatura, balanço hídrico e eletrolítico, sono e a ponte, ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente. e respostas comportamentais. O tálamo é um O mesencéfalo possui importantes estruturas, entre complexo de muitos núcleos com funções elas a formação reticular. A formação reticular é intrincadas, das quais as principais estão relacio- uma agregação mais ou menos difusa de neurô- nadas à dor c proprioccpção. Parte do sistema nios de tamanhos e tipos diferentes, separados ativador reticular ascendente (SARA) (que será por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte discutido mais adiante) projeta-se do mesencé- central do tronco encefálico. A formação reticular falo, através do tálamo, difusamente, para o cór- possui conexões amplas e variadas. Além de tex cerebral. receber impulsos que entram pelos nervos cra- Os nervos olfatórios (I par de nervos cranianos) nianos, ela mantém relações nos dois sentidos com estão localizados rostralmente ao diencéfalo. As o cérebro, o cerebelo e a medula. A atividade fibras olfativas projetam-se dentro do hipotála- elétrica do córtex cerebral, de que dependem os mo e em outras partes do sistema límbico para vários níveis de consciência, é regulada basica- produzir uma resposta comportamental em de- mente pela formação reticular. Existe na forma- corrência do olfato. Os nervos ópticos e o quiasma ção reticular um sistema de fibras ascendentes que óptico, necessários à visão e aos reflexos lumino- se projetam no córtex cerebral e sobre ele têm sos pupilares, estão localizados na superfície ventral uma ação ativadora. E o Sistema Ativador Reticu- do hipotálamo, próximos à hipófise. lar Ascendente (SARA). A ação do SARA sobre o córtex se faz através das conexões da formação
  • 5. 454 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico reticular com o tálamo, como já foi mencionado aos neurônios motores da medula e são impor- anteriormente. O SARA é o responsável pela tantes para a manutenção do equilíbrio; e o fascí- manutenção do sono e vigília. Além de seguirem culo longitudinal medial, que está envolvido em sua vias específicas, os impulsos sensoriais que reflexos que permitem ao olho ajustar-se aos chegam ao sistema nervoso central pelos nervos movimentos da cabeça. O fascículo longitudinal espinhais e cranianos passam também pela for- medial é uma via de associação presente em toda mação reticular e ativam o SARA. Desta forma, a extensão do tronco encefálico, que liga todos os quando o SARA é estimulado por meio da via núcleos motores dos nervos cranianos, sendo es- visual, auditiva, dolorosa e tátil, ele mantém o pecialmente importantes suas conexões com os animal em estado de alerta. Por outro lado, quan- núcleos dos nervos relacionados com o movimento do não recebe ou não processa esses impulsos, o do globo ocular e da cabeça. Deste modo, o fas- animal dorme. cículo longitudinal medial é importante para a Por este motivo, os animais acordam quando realização de reflexos que coordenam os movi- submetidos a fortes estímulos sensoriais como, por mentos da cabeça com os dos olhos (Fig. 10.3). exemplo, um ruído muito alto. Isso se deve não à O bulbo, ou medula oblonga, possui os núcleos chegada de impulsos nervosos na área auditiva do dos nervos abducente, facial e vestibulococlear (VI, córtex, mas à ativação de todo o córtex pelo SARA, VII e VIII pares de nervos cranianos), localizados o qual, por sua vez, foi ativado por fibras que se na porção rostral, na junção com a ponte. Os nervos destacam da via auditiva. Assim, se forem lesadas glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso (IX, estas vias depois de seu trajeto pela formação re- X, XI e XII pares de nervos cranianos) estão ticular, embora não cheguem os impulsos na área localizados na porção caudal. No bulbo localizam- auditiva do córtex, o animal acorda com o ruído se centros vitais, como o centro respiratório e o cen- tro vasomotor, que controlam não só o ritmo respi- (ele acorda, mas não ouve). Por outro lado, se fo- ratório, como também o ritmo cardíaco e a pressão ram mantidas intactas as vias auditivas e lesada a arterial, funções indispensáveis à manutenção da parte mais cranial da formação reticular, o animal vida. Portanto, lesões nesta região podem ser ex- dorme mesmo quando submetido a fortes ruídos, tremamente perigosas. Além desses, encontramos apesar de chegarem impulsos auditivos em seu no bulbo também o centro do vómito. córtex. Por este motivo, lesões mesencefálicas ou O cerebelo situa-se dorsalmente ao bulbo e à de córtex cerebral podem produzir níveis altera- ponte, sobre três pares de estruturas denomina - dos de consciência, tais como o coma. Os nervos das pedúnculos cerebelares, e repousa sobre a fossa oculomotor e troclear (III e IV pares de nervos cerebelar do osso occipital, sendo separado do lobo cranianos) estão localizados no mesencéfalo. Existe occipital do cérebro por uma prega da dura-máter ainda, no mesencéfalo, o núcleo deEdinger- Westphal, denominada tenda do cerebelo. O cerebelo é responsável pela inervação parassimpática do glo- composto de duas massas laterais, os hemisférios bo ocular, através do nervo oculomotor. Outra es- cerebelares, sendo que na porção central desses trutura importante é o núcleo rubro, que participa há uma estrutura denominada vermis. O cerebe- do controle da motricidade somática, recebe fibras do lo está organizado em três regiões principais: lo- cerebelo e de áreas motoras do córtex cerebral e bos rostral, caudal e floculonodular. Uma das prin- origina o trato rubrospinal, o principal trato motor cipais funções do cerebelo é coordenar toda a ati- voluntário nos animais. vidade motora da cabeça, pescoço, tórax e mem- A ponte contém o nervo trigêmio (V par de bros. O cerebelo também controla o tono muscular nervos cranianos). Além disso, encontramos na nos animais. O lobo floculonodular do cerebelo ponte os núcleos vestibulares. Os núcleos vestibu- faz parte do sistema vestibular e mantém o equi- lares estão localizados no assoalho do IV ventrí- líbrio do animal. Desta forma, lesões do cerebelo culo, e recebem impulsos nervosos originados na podem causar incoordenação motora, perda do parte vestibular da orelha interna, através do nervo equilíbrio e diminuição do tono da musculatura vestibulococlear (porção vestibular), os quais esquelética (hipotonia). informam sobre a posição e os movimentos da cabeça. Chegam ainda aos núcleos vestibulares fibras provenientes do cerebelo, relacionadas com MEDULA ESPINHAL a manutenção do equilíbrio. A partir dos núcleos vestibulares, saem tratos e fascículos tais como o Etimologicamente, medula significa miolo e in- trato vestibulospinal, cujas fibras levam impulsos dica o que está dentro. A medula espinhal é uma
  • 6. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 455 Núcleo do nervo oculomotor Núcleo do nervo troclear Núcleo do nervo abducente Núcleo vestibular rostal Núcleo vestibular lateral Núcleo vestibular caudal Núcleo vestibular medial Cerebelo Fascículo longitudinal medial Figura 10.3 - Núcleos vesti- bulares e suas conexões. Orelha interna massa cilindróide de tecido nervoso situada den- torno do cone medular e filamento terminal, cons- tro do canal vertebral, sem, entretanto, ocupá-lo tituem, em conjunto, a chamada cauda equina. A completamente. Cranialmente a medula limita - diferença de tamanho entre a medula e o canal se com o bulbo aproximadamente no nível do vertebral, assim como a disposição das raízes dos forame magno do osso occipital. nervos espinhais mais caudais, formando a cauda A medula espinhal pode ser morfológica e equina, resultam, portanto, de ritmos de funcionalmente dividida em cinco regiões: região crescimento diferentes, em sentido longitudinal, cervical (compreendendo os segmentos medula- entre medula e coluna vertebral. No início do de- res de Cl a G5); região cervicotorácica (também senvolvimento intra-uterino a medula e a coluna denominada de plexo ou intumescência braquial, vertebral ocupam todo o comprimento do canal segmentos de G6 a T2); região toracolombar(coí- vertebral e os nervos, passando pelos respectivos respondendo aos segmentos medulares de T3 a forames intervertebrais, dispõem-se horizon- L3); região lombossacral (plexo ou intumescência talmente, formando com a medula um ângulo lombossacral, segmentos de L4 a S2); região sa- apr oximadamente r eto. Entr etanto, com o crococcígea (segmento S3 ao último segmento desenvolvimento, a coluna vertebral começa a medular) (Fig. 10.4). Deve-se ressaltar que esta crescer mais do que a medula, especialmente em divisão corresponde a segmentos medulares e não sua porção caudal. Como as raízes nervosas mantêm às vértebras propriamente ditas. Tal fato seria sem suas relações com os respectivos forames inter- importância se o tamanho do segmento medular vertebrais, há o alongamento das raízes e a dimi- c a vértebra correspondente fossem iguais, po- nuição do ângulo que elas fazem com a medula. rém isto não ocorre em toda a medula espinhal. Estes fenómenos são mais pronunciados na parte No adulto, a medula não ocupa todo o canal caudal da medula. vertebral, pois termina geralmente na altura da A medula possui o mesmo número de seg- 6- ou 7- vértebra lombar nos cães e, na altura da mentos que o número de vértebras (com exceção 1a ou 2- vértebra sacral nos felinos, nos equinos da medula cervical, que é composta por oito e nos bovinos. A medula termina afilando-se para segmentos medulares). Os segmentos podem ser formar um cone, o cone medular, que continua como identificados morfologicamente, pois possuem um um delgado filamento meníngeo, o filamento par de nervos espinhais, cada um com uma raiz terminal. Abaixo deste nível o canal vertebral dorsal (sensitiva) e uma raiz ventral (motora). contém apenas as meninges e as raízes nervosas Como consequência da diferença de ritmos dos últimos nervos espinhais que, dispostas em de crescimento entre coluna e medula, temos um
  • 7. 456 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Cervico Lombossacral Sacrococcígea toracica (L4-S2) (S3 em diante) Plexo lombossa cral Figura 10.4 -Vista lateral da medula espinhal ilustrando as cinco regiões me- dulares. afastamento dos segmentos medulares das vér- da vértebra correspondente. Esta diferença entre tebras correspondentes. Este fato é de grande vértebras, segmento da medula espinhal e raízes importância clínica para o diagnóstico, prognós- nervosas deve ser levada em consideração quan- tico e tratamento de lesões vertebromedulares. do se localiza uma lesão em certo segmento e aí Portanto, é muito importante para o clínico co- é dicidido o nível vertebral correspondente. Isto nhecer a correspondência entre vértebra e me- tem maior significado clínico na região toracolom- dula. Em cães, por exemplo, existem 31 pares de bar do que na região cervical (Fig. 10.5). nervos espinhais, aos quais correspondem 31 A medula não possui um calibre uniforme, segmentos medulares assim distribuídos: oito pois apresenta duas dilatações denominadas in- cervicais, 13 torácicos, sete lombares e três sacrais. tumescência cervical e intumescência lombar, situa- Existem oito pares de nervos cervicais, mas so- das na região cervicotorácica (C6 a T2) e lom- mente sete vértebras. O primeiro par cervical (Cl) bossacral (L4 a S2), respectivamente. Estas intu- emerge acima da primeira vértebra cervical, por- mescências correspondem às áreas em que fazem tanto, entre ela e o osso occipital. Já o oitavo par conexão com a medula as grossas raízes nervosas (C8) emerge abaixo da sétima vértebra, o mesmo que formam os plexos braquial c lombo-sacro, acontecendo com os nervos espinhais abaixo de destinadas à inervação dos membros anteriores e C8, que emergem, de cada lado, sempre abaixo posteriores, respectivamente (Fig. 10.4). Segmentos Medulares Torácico Sacral sacral Lombar Lombar Vértebras Figura 10.5 - Diagrama demonstrando a posição dos segmentos medulares e dos corpos vertebrais em um cão.
  • 8. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 457 na medula, a substância cinzenta está locali- dentes e descendentes são geralmente denomi- zada por dentro da branca e apresenta a forma de nadas conforme o local onde têm início e o local um H. Nela, distinguimos de cada lado três colu- onde terminam. nas, denominadas colunas ventral, dorsal e late- As vias descendentes são formadas por fibras que ral. A coluna lateral, entretanto, não aparece em se originam no córtex cerebral ou em várias áreas toda a extensão da medula. No centro da subs- do tronco encefálico e terminam fazendo sinapse tância cinzenta localiza-se o canal central medu- com neurônios medulares. Essas vias dividem-se em lar (Fig. 10.6). A massa cinzenta central contém dois grupos: vias piramidais e extrapiramidais. As corpos celulares de neurônios motores inferiores, primeiras recebem este nome porque, antes de neurônios sensitivos e internunciais. As colunas penetrar na medula, cruzam obliquamente o plano dorsais contêm sinapses de neurônios sensitivos mediano, constituindo a decussação das pirâmides periféricos e corpos celulares de neurônios sensi- bulbares, enquanto as segundas não o fazem. As vias tivos ascendentes e internunciais. As colunas ven- piramidais na medula compreendem o trato erais contêm muitos corpos celulares dos neurô- corticospinal. As vias extrapiramidais compreendem nios motores inferiores dos músculos estriados. os tratos tectospinal, vestibulospinal, rubrospinal e uma área de substância cinzenta intermediária reticulospinal. Os nomes referem-se aos locais onde contém corpos celulares de neurônios motores eles se originam, que são, respectivamente, o teto inferiores simpáticos. do mesencéfalo, os núcleos vestibulares, o núcleo A porção externa da medula espinhal é com- rubro e a formação reticular. Iodos esses tratos ter- posta de substância branca, formada por fibras, a minam na medula, em neurônios internunciais, maioria delas mielínicas, que se agrupam em tra- através dos quais ligam-se aos neurônios motores e tos e fascículos, formando verdadeiros caminhos, assim exercem sua função motora. ou vias, por onde passam os impulsos nervosos. As fibras que formam as vias ascendentes rela- Temos, assim, tratos e fascículos que constituem cionam-se direta ou indiretamente com as fibras as vias descendentes e ascendentes da medula. que penetram pela raiz dorsal, trazendo impul- Existem ainda vias que contêm tanto fibras as- sos aferentes de várias partes do corpo, e incluem cendentes quanto descendentes, as quais consti- os tratos espinocerebelares, os fascículos grácil e tuem as vias de associação medular, que formam cuneiforme, os tratos espinotalâmicos e o trato os fascículos próprios da medula. As vias ascen- propriospinal (Fig. 10.7). Figura 10.6 - Corte transversal da medula espinhal. Coluna dorsal Funículo lateral Canal central Coluna ventral Substância cinzenta Raiz motora do nervo espinal Substância branca Fissura mediana Funículo Funículo dorsal ventral ventral Raiz sensitiva do nervo espinal
  • 9. 458 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico TRATOS MOTORES neurônio motor em grande parte se faz por meio do trato corticospinhal. Dados mais recentes, eviden- Os tratos motores podem ser divididos em dois ciando que o chamado sistema extrapiramidal tam- grupos: os responsáveis pelo movimento volun- bém controla os movimentos voluntários, vieram a tário (flexores) c aqueles para postura e sustenta- mostrar que a conceituação de dois sistemas inde- ção do corpo (extensores). O cerebclo modula a pendentes, piramidal e extrapiramidal, não pode atividade dos sistemas flexores c extensores e mais ser aceita. Entretanto, pode-se manter os ter- produz flexão e extensão suaves e coordenadas. mos piramidal e extrapiramidal para indicar res- Até há algum tempo as estruturas e vias que pectivamente as vias motoras que passam ou não influenciam a motricidade somática eram agrupa- pelas pirâmides bulbares em seu trajeto até a das em dois grandes sistemas, o piramidal e o extra- medula. Desta forma, as vias piramidais compreen- piramidal, termos que foram amplamente empre- dem dois tratos: o corticospinal e seu correspon- gados, especialmente na área clínica. O sistema pi- dente, no tronco encefálico, o trato corticonuclear. ramidal, compreendendo os tratos corticospinal e Por outro lado, as vias extrapiramidais compreen- corticonuclear, assim como suas áreas corticais de dem os tratos rubrospinal, tectospinal, vestibulospinal origem, seria o único responsável pelos movimen- c reticulospinal. tos voluntários. Já o sistema extrapiramidal, compreen- O trato rubrospinal começa no núcleo rubro dendo todas as demais estruturas c vias motoras do mesencéfalo, imediatamente cruza para o lado somáticas, seria responsável pelos movimentos au- oposto e descende, através do tronco, para a medula tomáticos, assim como pela regulação do tono e da espinhal. Ele é o mais importante trato motor postura. A validade desta divisão foi questionada voluntário ou de atividade muscular flexora em quando se verificou que os núcleos do corpo estria- animais. Em cães e gatos, lesões mesenccfálicas do, em humanos, por muitos considerado o sistema ou mais caudais podem causar paresia ou parali- extrapiramidal propriamente dito, exerciam sua in- sia de membros. O trato rubrospinal localiza-se fluência sobre os neurônios motores através do tra- no funículo lateral da medula espinhal, medial- to corticospinhal, ou seja, através do próprio siste- mente aos tratos espinocerebelares. Portanto, em ma piramidal. O mesmo raciocínio pode ser feito compressões medulares externas progressivas, em relação ao cerebelo, frequentemente incluído inicialmente observa-se incoordcnação motora c no sistema extrapiramidal, cuja influência sobre o depois paresia ou paralisia de membros. Fascículo grácil Fascículo cuneiforme Espinocerebelar dorsal Corticospinal lateral Propriospinal Espinocerebelar Rubrospinal ventral Figura 10.7 - Corte transversal da medula espinhal mostrando a Reticulospinal Espirotalâmico localização dos tratos motores e Vestibulospinal lateral Corticospinal ventral sensitivos. Sensitivo Vestibulospinal ventral
  • 10. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 459 O trato corticospinal origina-se na área motora respectivos fascículos e fazem sinapse no núcleo do lobo frontal, descende através da cápsula inter- grácil ou cuneiforme na junção da medula espi- na e tronco cerebral, cruza para o lado oposto na nhal e do bulbo. O segundo grupo de neurônios medula oblonga caudal (decussação das pirâmides) cruza para o lado oposto e ascende em um trajeto e desce na medula espinhal próximo ao trato contralateral, no leminisco medial, fazendo sinapse rubrospinal. Em compressões medulares, os dois no tálamo. Um terceiro grupo de neurônios deixa tratos são geralmente afetados. O trato corticospinal o tálamo, passa através da cápsula interna e faz é também um trato voluntário ou motor flexor. Ele é sinapse no lobo parietal do córtex cerebral. Como muito importante no homem e, quando ocorre uma as fibras terminam em células do córtex cerebral, lesão no córtex motor ou na cápsula interna, há a propriocepção é chamada de consciente. Lesões hemiparesia ou hemiplegia contralateral. Quando no funículo dorsal da medula espinhal produzem essas lesões ocorrem em animais, há fraqueza dis- distúrbios proprioceptivos ipsilaterais nos mem- creta mas transitória e ocorrem distúrbios contra- bros afetados. Lesões no leminisco medial, cáp- laterais de salto e posicionamento. sula interna e lobo parietal podem produzir alte- Os tratos vestibulospinais são os principais tra- rações proprioceptivas contralatcrais. tos de postura ou extensores em cães e gatos. Outro sistema sensitivo é o trato espinotalâmico, Originam-se nos núcleos vestibulares da junção que leva sensação de dor e temperatura dos mem- pontinomedular e descendem, sem cruzar, através bros e do corpo. Este sistema é mais complexo em do bulbo e medula espinhal. Os tratos vestibu- animais do que no homem e possui vários tratos lospinais ficam no funículo ventral da medula es- incluídos nele. A modalidade de dor profunda é pinhal. Inicialmente, na evolução da compressão levada nesse sistema. A fim de destruir este tipo medular, o animal pode perder a habilidade em de dor, deve haver uma lesão profunda, grave e suportar o peso nos membros, devido ao envolvi- bilateral, da medula espinhal. O teste de dor pro- mento desses tratos. funda é um guia prognóstico muito útil em um Os tratos reticulospinais têm início na forma- animal paralisado. A ausência de dor profunda 72 ção reticular da ponte e bulbo e descendem sem horas ou mais após uma lesão medular é geralmente cruzar no tronco cerebral e medula espinhal. Um considerada um indicativo de prognóstico grave. dos tratos está associado principalmente com a O trato propriospinal leva informações entre atividade motora extensora ou postural e locali- os membros anteriores e posteriores, nos dois za-se primariamente no funículo lateral da me- sentidos. dula espinhal. O outro trato reticulospinal influen- cia a atividade motora voluntária. MENINGES E LÍQUIDO TRATOS SENSITIVOS CEFALORRAQUIDIANO O sistema nervoso central é envolvido por três Os tratos espinocerebelares carregam informação membranas conjuntivas denominadas meninges, proprioceptiva inconsciente para o cerebelo, for- necendo impulsos aferentes necessários para coor- a dura-máter, a aracnóide e a pía-máter. denar o movimento muscular. Esses tratos são A dura-máter é a meninge mais superficial, afetados precocemente em compressões superfi- espessa e resistente, formada por tecido conjunti- ciais da medula espinhal e produzem ataxia ou vo muito rico em fibras colágenas, contendo vasos incoordenação motora. e nervos. A dura-máter encefálica difere da dura- Qs fascículosgráále cuneiforme, localizados no máter espinhal, por ser formada por dois folhetos, funículo dorsal da medula, são responsáveis pela o externo e o interno, dos quais apenas o interno propriocepção consciente, ou senso de posição dos continua com a dura-máter espinhal. O folheto membros e tórax. A informação carregada nessas externo se adere intimamente aos ossos do crânio vias capacita o animal a corrigir os membros quando e comporta-se como um periósteo destes ossos. em posições anormais. O fascículo grácil leva Entretanto, diferente do periósteo de outras áreas, informações da cauda e membros posteriores, e o o folheto externo da dura-máter não tem capaci- fascículo cuneiforme, dos segmentos torácicos, dade osteogênica, o que dificulta a consolidação membros anteriores e região cervical. Os axônios de fraturas no crânio. Esta peculiaridade, no en- penetram na medula espinhal, ascendem em seus tanto, é vantajosa, pois a formação de um calo ósseo
  • 11. 460 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico na superfície interna dos ossos do crânio pode cons- caudalmente com o espaço subaracnóide da me- tituir um fator de irritação do tecido nervoso. Em dula e liga-se ao IV ventrículo através de sua algumas áreas os dois folhetos da dura-máter do abertura mediana. Por meio de uma punção su- encéfalo separam-se, delimitando cavidades reves- boccipital, é possível realizar a colheita de liquor tidas de endotélio e que contêm sangue, consti- da cisterna magna. Em alguns pontos a aracnóide tuindo os seios da dura-máter. O sangue proveniente forma pequenos tufos que penetram no interior das veias do encéfalo é drenado para os seios da dos seios da dura-máter, constituindo asgranu/a- dura-máter e, destes, para as veias jugulares inter- ções aracnóides, através das quais o liquor é absor- nas. A dura-máter espinhal envolve toda a medu- vido c chega no sangue (Fig. 10.8). la, como se fosse um dedo de luva. Cranialmente, A pia-máter é a mais interna das meninges e a dura-máter espinhal continua com a dura-máter dá resistência aos órgãos nervosos, pois o tecido craniana; caudalmente termina em um fundo-de- nervoso é de consistência muito mole. A pia-máter saco, o saco durai. acompanha os vasos que penetram no tecido A aracnóide é uma membrana muito delica- nervoso a partir do espaço subaracnóide, forman- da, justaposta à dura-máter, da qual se separa por do a parede externa dos espaços pcrivasculares. um espaço virtual, o espaço subdural, contendo Nestes espaços há um prolongamento do espaço pequena quantidade de líquido necessário à lu- subaracnóide, contendo liquor, que forma um brificação das superfícies de contato das duas manguito protctor em torno dos vasos, importante membranas. A aracnóide separa-se da pia-máter para amortecer o efeito da pulsação das artérias pelo espaço subaracnóide, que contém o líquido sobre o tecido circunvizinho. Quando a medula cefalorraquidiano, ou liquor. A aracnóide justa- termina no cone medular, a pia-máter continua põe-se à dura-máter e ambas acompanham gros- caudalmente, formando um filamento es- seiramente a superfície do encéfalo. A pia-máter, branquiçado denominado filamento terminal. entretanto, adere-se intimamente a esta superfí- Portanto, em relação com as meninges, exis- cie, acompanhando todos os giros, sulcos e de- tem três cavidades ou espaços denominados pressões. Deste modo, a distância entre as duas epidural, subdural e subaracnóide. O espaço epidural membranas, ou seja, a profundidade do espaço situa-se entre a dura-máter c o periósteo do canal subaracnóide é variável, formando, em alguns vertebral. O espaço subdural, situado entre a dura- locais, dilatações denominadas cisternas aracnói- máter e a aracnóide, é uma fenda estreita con- des, as quais contêm grande quantidade de liquor. tendo uma pequena quantidade de líquido, sufi- A maior e mais importante cisterna é a cisterna ciente apenas para evitar a aderência das pare- cerebelo-medular, ou cisterna magna, que continua des. O espaço subaracnóide é o mais importante Pia-máter Granulação Seio sagital aracnóide Figura 10.8 - Corte transversal mostrando a posição das menin- ges, espaço subaracnóide e gra- nulações aracnóides. Espaço aracnoide subaracnóide dorsal Dura-máter
  • 12. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 461 e contém o líquido cefalorraquidiano, um fluido vez, comunica-se com o canal central do bulbo e aquoso e incolor que ocupa, além do espa ço da medula espinhal. Os ventrículos, o canal cen- subaracnóide, as cavidades ventriculares. Sua tral do bulbo e da medula, são revestidos por uma função primordial é de proteção mecânica do sis- camada simples de células ependimárias, que tema nervoso central, formando um verdadeiro separa o liquor do tecido nervoso propriamente coxim líquido entre este e o estojo ósseo. dito. O liquor do sistema ventricular comunica- Além desta função de proteção mecânica, o se com o liquor do espaço subaracnóide no IV ven- liquor contribui para a proteção biológica do sis- trículo, na região da cisterna magna, através de tema nervoso central contra agentes infecciosos, duas aberturas laterais, os forames de Luschka. permitindo a distribuição mais ou menos homo- A maior parte do liquor é formada nos plexos génea de elementos de defesa como leucócitos e coróides (tufos de tecido conjuntivo, rico em anticorpos. A cavidade craniana é uma formação capilares sanguíneos, que se projetam da pia - rígida preenchida pelo tecido nervoso, sangue e máter), principalmente nos ventrículos laterais. liquor. Havendo variação de volume de um des- Daí, o liquor passa ao III e IV ventrículos, ga- tes componentes, o volume dos outros componentes nhando posteriormente o espaço subaracnóide c se altera compensatoriamente, de modo a manter o canal central medular. A maior parte do liquor a pressão intracraniana constante. O liquor exerce é absorvida através das granulações aracnóides, também uma função compensatória de regulação situadas principalmente na parte superior do crâ- do volume intracraniano. Por exemplo, se hou- nio (Fig. 10.10). No espaço subaracnóide medu- ver um aumento de volume do parênquima lar o liquor circula em direção caudal, mas ape- encefálico, como no caso do crescimento de um nas uma parte do mesmo retorna, pois há reabsorção tumor, há uma tendência de diminuir a produção liquórica nas pequenas granulações aracnóides do liquor, ou de aumentar a sua absorção, com o existentes nos prolongamentos da dura-máter que objetivo de manter inalterada a pressão intra- acompanham as raízes dos nervos espinhais. Como craniana. O mesmo ocorre em casos de hiperten- a produção de liquor nos ventrículos excede a sua são, cm que há um aumento do fluxo sanguíneo absorção, o mesmo flui dos ventrículos para o es- cerebral. Deve-se lembrar, no entanto, que esta paço subaracnóide, onde normalmente ocorre a compensação feita pelo líquido cefalorraquidia - absorção. A taxa de absorção do espaço subarac- no auxilia somente até um certo ponto. Por exem- nóide é diretamente proporcional à pressão in- plo, no caso do tumor, à medida que este vai tracraniana. A absorção liquórica também ocorre aumentando muito de volume, o liquor já não nas veias e vasos linfáticos localizados ao redor dos consegue mais compensar a pressão intracraniana. nervos cranianos e espinhais. Além disso, acredi- O liquor é também um agente de troca de meta- ta-se que algum liquor entre no parênquima cere- bólitos entre o sangue e o cérebro, ajudando na bral e seja absorvido pelos vasos sanguíneos de lá. nutrição cerebral durante o período embrionário Tal absorção ocorre mais frequentemente quando e servindo para transferir produtos residuais do a pressão intracraniana está elevada. metabolismo do cérebro para a circulação. A exploração clínica do espaço subaracnóide na Os espaços ocupados pelo liquor dividem-se medula é facilitada por certas particularidades ana- cm internos c externos. Os espaços internos cor- tómicas da dura-máter e da aracnóide na região lombar respondem aos quatro ventrículos cerebrais e ao da coluna vertebral. A medula termina mais cranial- canal central da medula. Os espaços externos estão mente do que o saco durai e a aracnóide que o acom- compreendidos entre a aracnóide e a pia-máter, panha. Entre esses dois níveis, o espaço subarac- dividindo-se em espaços subaracnóides cranianos nóide é maior, contém maior quantidade de liquor e raquianos. e nele estão apenas o filamento terminal e as raízes O sistema ventricular é constituído pelos dois que formam a cauda equina. Não havendo perigo ventrículos laterais, o III e o IV ventrículos (Fig. de lesão medular, esta área é ideal para a introdu- 10.9). Os ventrículos laterais situam-se simetri- ção de uma agulha, com a finalidade de retirada de camente dentro de cada hemisfério cerebral e liquor para fins terapêuticos ou diagnósticos. Além comunicam-se por meio do forame interventri- disso, pode-se realizar punções a este nível para cular (forame de Monro) com o III ventrículo, que introdução de meios de contrastes durante a reali- fica localizado na linha mediana. Este continua zação de exames radiográfícos (por exemplo, nas caudalmente pelo aqueduto cerebral (aqueduto mielografías), e para a introdução de anestésicos nas de Sylvius) até o IV ventrículo, o qual, por sua chamadas anestesias raquidianas.
  • 13. 462 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Canal central da medula Fora me interventricular Aqueduto mesencefálico Ventrículo lateral Figura ventrículo IV ventrículo 10.9 -Ventrículos cerebrais do cão - vista dorsal. Plexos coróides Espaço subaracnó Ventrículos cerebrais ide Seios da dura-máter Granulação aracnóide Canal central medular Figura 10.10 - Formação e absorção do liquor. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO centrais para a periferia. Embora denominado periférico, este sistema contém fibras nervosas que unem o sistema ner- voso central aos órgãos efetores e/ou receptores, situados na periferia. Esta união justifica a pre- sença de elementos do sistema nervoso periféri- co na medula e no enccfalo. Conforme sua topo- grafia, o sistema nervoso periférico pode ser divi- dido em nervos cranianos e espinhais. De acordo com o tipo de neurônio envolvido, são denomi- nados de efetores ou sensitivos. Os ncurônios efetores dividem-se conforme a sua função em neurônios motores e neurônios autonômicos, ambos eferentes porque conduzem os estímulos
  • 14. O sistema nervoso periférico inclui, portan- to, os 12 pares de nervos cranianos e os 36 pares de nervos espinhais. NEURÔNIOS SENSITIVOS E MOTORES Dentre as estruturas celulares encontradas no sistema nervoso, o neurônio assume importância fundamental por apresentar a capacidade de ex- citação (polarização e despolarização), sendo res- ponsável por todo o início e manutenção da ati- vidade neurológica. Os neurônios podem ser funcionalmente di- vididos em neurônios sensitivos e motores, sen-
  • 15. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 463 do estes últimos responsáveis pelo início e ma- encefálico. Seu axônio termina em interneurônios nutenção da atividade motora, podendo ser divi- que fazem sinapse com o neurônio motor inferior. didos em neurônios motores superiores (NMS) e O NMS é o responsável pelo início dos movimentos neurônios motores inferiores (NMI) (Fig. 10.11). voluntários, manutenção do tono muscular e A associação entre neurônios sensitivos e regulação da postura. neurônios motores permite a realização de arcos O neurônio motor inferior é um neurônio efe- reflexos. Reflexos são respostas biológicas normais, rente que liga o SNC ao órgão efetor, como um espontâneas c praticamente invariáveis, sendo úteis músculo ou uma glândula. Possui seu corpo celu- ao organismo. O arco reflexo é uma resposta bá- lar localizado em núcleos encefálicos (núcleos dos sica após a realização de um estímulo e é por meio NMI dos nervos cranianos) ou na substância cin- de suas várias modalidades (reflexos espinhais, zenta da medula espinhal, e seus axônios deixam reflexos dos nervos cranianos) que parte do exa- a medula através das raízes nervosas ventrais, em me neurológico será realizada. O arco reflexo nada dois pontos da medula espinhal, de C6 a T2 e de mais c do que uma resposta motora involuntária L4 a S3, nos chamados plexos braquial e lombos- (sem uma supervisão direta de estruturas ligadas sacral, respectivamente. Estes axônios irão fazer à consciência) frente a um estímulo aplicado a uma determinada estrutura. Basicamente três neurô- parte dos nervos periféricos, terminando em um nios (em alguns arcos reflexos mais estruturas músculo. podem estar envolvidas) são responsáveis pela O neurônio motor superior exerce uma influên- efetuação de um arco reflexo. Em primeiro lugar cia inibitória ou moduladora sobre o inferior e, por um neurônio sensitivo (aferente) irá captar a in- isso, quando é lesado, ocorre aumento do tono (como formação sensorial e conduzi-la até a medula ou tono entendemos a contração muscular residual tronco encefálico (dependendo se será um arco presente nos músculos) e dos reflexos, demons- reflexo mediado por um nervo espinhal ou cra- trando uma hiperatividade do NMI. Também ocorre niano, respectivamente), depois fará a conexão paresia (perda parcial da atividade motora) ou com um interneurônio que será responsável pela paralisia (perda total da atividade motora) já que transmissão desta informação para um neurônio as informações geradas nos núcleos motores (cor- motor (eferente), o qual, por sua vez, efetuará a pos celulares dos NMS) não chegam aos músculos. estimulação de um músculo. Vários reflexos po- Nestes casos, as paresias geralmente são espásticas dem ser utilizados para avaliação neurológica como, e com hipcrreflexia (devendo-se levar em conta o por exemplo, o reflexo patelar, o reflexo palpe- tempo decorrido após a lesão, já que a espasticidadc bral e o reflexo pupilar. A ocorrência de reflexos diminui com o tempo). espinhais depende da integridade de músculos, Por sua vez, cm lesões de neurônios motores de seus nervos periféricos e dos respectivos inferiores ocorre paresia ou paralisia com diminui- segmentos medulares. ção ou ausência dos reflexos (hipo ou arreflexia) e O neurônio motor superior tem seu corpo ce- diminuição do tono muscular. Isto ocorre porque lular na substância cinzenta do córtex cerebral, as informações clctricas não estão sendo encami- nos núcleos da base ou em núcleos do tronco nhadas ou são enviadas em menor número. Figura 10.11 - Localização dos neurônios Neurônio motor superior (NMS) motores superior e inferior. Neurônio motor inferior (NMI) Membro pélvico Membro torácico
  • 16. 464 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico NERVOS CRANIANOS núcleo pré-tectal e, posteriormente, no núcleo de Edinger-Westphal no mesencéfalo. As fibras desse Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fa/em cone- último passam pelo nervo oculomotor (III par), xão com o tronco encefálico, excetuando-se ape- provendo inervação parassimpática para a mus- nas os nervos olfatório e óptico, que ligam-se, culatura lisa da íris. Portanto, quando é testado o respectivamente, ao telencéfalo e ao diencéfalo. reflexo pupilar à luz, está sendo testada parte do I Par, Nervo Olfatório. É um nervo sensitivo, II e do III par (Fig. 10.12). cujas fibras conduzem impulsos olfatórios, origi- A inervação simpática da pupila, parte do hi- nados nas fossas nasais. potálamo e região pré-tectal e desce pelo tronco IIPar, Nervo Óptico. É constituído por um feixe encefálico até a medula espinhal, através do tra- de fibras nervosas que se originam na retina e são to tcctotegmentar espinhal, localizado próximo à responsáveis pela percepção visual e, por um com- substância cinzenta no funículo lateral. Os neu- ponente sensitivo do reflexo pupilar à luz. Cada rônios de primeira ordem fazem então sinapse na nervo óptico une-se com o do lado oposto, for- coluna cinzenta intermediolateral de Tl a T3. Os mando o quiasma óptico, no qual há cruzamento neurônios de segunda ordem saem da medula parcial de suas fibras. espinhal através das raízes vcntrais de Tl a T3 e A via visual inclui o nervo óptico, o quiasma unem a cadeia simpática paravertebral e o tronco óptico, os tratos ópticos, os corpos geniculados do nervo vagossimpático ao gânglio cervical cra- laterais, as radiações ópticas e o lobo occipital do nial. Os neurônios de terceira ordem passam pelo córtex cerebral. Nos cães e nos gatos, 75% e 65% gânglio cervical cranial, atravessam a orelha mé- das fibras do nervo óptico cruzam, respectivamente, dia, acompanham a divisão oftálmica do nervo o quiasma óptico. Desse modo, a maior parte da trigêmeo quando este sai pela fissura orbital e, sensação visual tem uma representação contrala- então, inervam a musculatura lisa das pálpebras, teral no córtex. As fibras provenientes dos tratos região periorbital e íris (Fig. 10.13). ópticos fazem sinapse com os corpos geniculados A inervação parassimpática da pupila parte do laterais e, daí, seguem através das radiações ópticas hipotálamo e desce uma pequena distância atra- até o lobo occipital do córtex cerebral. Algumas vés do tronco encefálico rostral, até o núcleo de fibras saem do trato óptico e fazem sinapse no Kdinger-Westphal no mesencéfalo. Os neurônios Figura 10.12- Localização neuroanatômica da via visual e reflexos pupilares. Núcleo geniculado lateral Inervação parassimpática da pupila Nervo óptico Quiasma óptico Trato óptico Radiações • ópticas Córtex occipital Núcleo de Edinger Westphal
  • 17. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 465 de segunda ordem caminham juntamente com o Quando a fixação do olhar em um objeto tende nervo oculomotor através da fissura orbital até o a ser rompida por movimentos do corpo ou da gânglio ciliar. Os neurônios de terceira ordem cabeça, existe um reflexo de movimentação dos passam pela região periorbital indo inervar a olhos que tem por finalidade manter essa fixa- musculatura lisa das pálpebras e íris (Fig. 10.13). ção. Por exemplo, se um animal está correndo e Quando o sistema constituído pelos nervos fixa os olhos em um determinado objeto à sua ópticos e oculomotor é estimulado pela luz frente, a cada trepidação da cabeça em decorrên- incidindo na retina, a pupila se contrai. Se o ani- cia da corrida, o olho se move em sentido contrá- mal é cego e apresenta perda da resposta pupilar rio, mantendo o olhar fixo no objeto. Assim, quando à luz, deve haver alguma lesão na retina, no ner- a cabeça se move para baixo, os olhos se movem vo óptico, no quiasma óptico ou no trato óptico, para cima, e vice-versa. Caso não houvesse esse antes da saída das fibras nervosas para o núcleo mecanismo automático e rápido para a compen- pré-tectal. Se o animal é cego mas tem pupilas sação dos desvios causados pela trepidação, o objeto fotorreagentes, então a lesão deverá estar locali- estaria sempre saindo da mácula, ou seja, da parte zada na via visual após a saída das fibras dos tra- da retina onde a visão é mais distinta. Os re- tos ópticos em direção ao núcleo pré-tectal. Es- ceptores para este reflexo são as cristas dos ca- ses achados indicam uma lesão do trato óptico, nais semicirculares da orelha interna, onde existe corpos geniculados laterais, radiações ópticas ou a endolinfa. Os movimentos da cabeça causam lobo occipital. movimento da endolinfa dentro dos canais semi- III Par, Nervo Oculomotor; IVPar, Nervo Troclear; circulares e este movimento determina desloca- VI Par, Nervo Abducente. São nervos motores que mento dos cílios das células sensoriais das cris- penetram na órbita, distribuindo-se aos músculos tas. Isto estimula os prolongamentos periféricos extrínsecos do globo ocular, quais sejam, elevador dos neurônios do gânglio vestibular, originando da pálpebra superior, reto dorsal, reto ventral, reto impulsos nervosos que seguem pela porção ves- medial, reto lateral, oblíquo dorsal e oblíquo ven- tibular do nervo vestibulococlear, através do qual tral. Todos estes músculos são inervados pelo ner- atingem os núcleos vestibulares. Destes núcleos vo oculomotor, com exceção do reto lateral e do saem fibras que ganham o fascículo longitudinal oblíquo dorsal, inervados, respectivamente, pelos medial c vão diretamente aos núcleos do III, IV e nervos abducente e troclear. Além disso, o nervo VI pares de nervos cranianos, determinando o oculomotor possui fibras responsáveis pelo contro- movimento do olho em sentido contrário ao da le da constricção c acomodação pupilar através de cabeça. suas fibras parassimpáticas, e o nervo abducente Nistagmo é o movimento oscilatório dos glo- inerva a musculatura retrobulbar, produzindo mo- bos oculares, caracterizado por um componente vimentos de retração do globo ocular. Os núcleos rápido e outro lento. Durante a movimentação da dos nervos oculomotor e troclear estão localizados cabeça num animal normal, os olhos desviam-se no mesencéfalo e do nervo abducente, na ponte. vagarosamente em direção oposta à da rotação da Segmento T1-T3 Inervação simpática do globo ocular Gânglio cervical cranial Globo ocular Inervação parassimpática do Figura 10.13 - Esquema ilustrativo da inervação simpática e globo ocular parassimpática da pupila.
  • 18. 466 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico cabeça e então movimentam-sc rapidamente de Movimento lento volta em sua direção. Isto causa um nistagmo vestibular com um componente lento e outro rápido. Quando a cabeça é rodada para a direita, o canal semicircular à direita é estimulado e o correspondente canal semicircular à esquerda é inibido. Os impulsos viajam das células ciliadas através do nervo vestibular aos núcleos vestibu- lares e daí para o fascículo longitudinal medial. Núcleo do nervo oculomotor O núcleo oculomotor ipsilateral é estimulado causando a contração do músculo retomedial do olho direito, desviando-o para a esquerda. Simul- taneamente, o núcleo abduccnte contralateral é Núcleo do nervo estimulado, causando a constrição do músculo abducente retolateral do olho esquerdo, desviando-o para a Nervo esquerda. Desta maneira, o componente lento do vestibular nistagmo é produzido. Depois dos olhos se des- viarem uma certa distância para a esquerda, eles se movimentam rapidamente de volta para a di- reita, em decorrência de um mecanismo compen- Núcleos Orelha interna satório central proveniente do tronco cerebral. A vestibulares1 fase rápida do nistagmo é, portanto, para a direi- ta, a direção para onde a cabeça está sendo gira- da. E por mecanismos similares, utilizando o fas- Figura 10.14- Formação da fase lenta do nistagmo horizontal. cículo longitudinal medial e suas conexões com o III, IV e VI pares de nervos cranianos, que se desenvolve o nistagmo vertical com uma fase rápida VII Par, Nervo Facial. O nervo facial possui para cima, quando a cabeça é movida para cima, uma raiz motora, responsável pela atividade dos e uma fase rápida para baixo quando a cabeça é músculos faciais e uma raiz sensitiva e visceral, movida para baixo. Quando um animal sofre uma responsável pela inervação das glândulas lacrimal, rotação, durante a aceleração inicial a fase rápida submandibular e sublingual e pela inervação do se dá na direção para a qual o animal está sendo palato e dos dois terços craniais da língua (forne rodado. Conforme a rotação continua, a velocidade cendo paladar). O nervo facial tem grande impor de rotação torna-se constante e o nistagmo pára, tância clínica em razão de suas relações com o nervo já que não há mais fluxo endolinfático. Quando a vestibulococlear e com estruturas da orelha média rotação do animal é descontinuada, a desaceleração e interna, em seu trajcto intrapetroso, e com a estimula o lado oposto. Um ligeiro nistagmo pós- glândula parótida em seu trajeto extrapetroso. O rotatório é observado, com a fase rápida em dire- nervo facial passa através do meato acústico in ção oposta àquela vista durante a aceleração, ou terno, juntamente com o nervo vestibulococlear, em direção oposta à da rotação. Portanto, se um passando depois pelo canal facial do osso petroso animal normal é girado para a esquerda, até que e orelha média, saindo do crânio pelo forame ele pare, desenvolver-se-á um nistagmo pós-ro- estilomastóideo. tatório com fase rápida para a direita (Fig. 10.14). VIII Par, Nervo Vestibulococlear. É um nervo V Par, Nervo Trigêmio. O nervo trigêmio é um sensitivo que compõe-se de uma porção vestibu nervo misto, possuindo uma raiz sensitiva e uma lar e uma coclear que, embora unidas em um tronco raiz motora. A raiz sensitiva possui três ramos ou comum, têm origem, funções e conexões centrais divisões: nervo oftálmico, nervo maxilar e nervo diferentes. A parte vestibular conduz impulsos mandibular, responsáveis pela sensibilidade dos nervosos relacionados com o equilíbrio, origina pavilhões auriculares, pálpebras, córnea, face, dos em receptores da porção vestibular da orelha cavidade oral e mucosa do septo nasal. A raiz motora interna. A parte coclear é constituída de fibras que do nervo trigêmio inerva os músculos da masti- conduzem impulsos nervosos relacionados com a gação. O nervo trigêmio localiza-se na ponte. audição.
  • 19. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 467 IXPar, Nervo Glossofaríngeo. É um nervo mis- parede vesical. O nervo pélvico também trans- to que inerva músculos da faringe e estruturas mite informação sensitiva e inervação parassim- palatinas, em conjunto com algumas fibras do nervo pática para o músculo liso do cólon descendente vago e que supre a inervação sensitiva para o terço e reto. As raízes nervosas e segmentos da medula posterior da língua e mucosa faringeana. Este nervo espinhal de SI a S3 também formam o nervo também possui fibras parassimpáticas para as glân- pudendo, que transmite informação sensitiva ao dulas zigomática e parótida. Os nervos glossofa- esfíncter uretral externo, ao esfíncter anal e à região ríngeo, vago e acessório originam-sc de um núcleo perineal. Além disso, o nervo pudendo determi- comum, o núcleo ambíguo, situado no bulbo. na a inervação motora do esfíncter uretral exter- X Par, Nervo Vago. É o maior dos nervos cra no e do músculo estriado do esfíncter anal. nianos, é um nervo misto e essencialmente vis A contração reflexa da bexiga é conseguida ceral. Ele emerge do crânio e percorre o pescoço através de uma série de eventos que envolvem os e o tórax, terminando no abdome. Neste trajeto nervos pudendo e pélvico, e segmentos da medu- o nervo vago dá origem a numerosos ramos que la espinhal de SI a S3. Quando a bexiga se distende, inervam a laringe e a faringe, controlando tam são estimuladas terminações nervosas aferentes bém a vocalização e a função laringeana. Sua (sensitivas) da parede vesical e do esfíncter ure- principal função é fornecer inervação paras - tral externo, transmitindo-se impulsos para os nervos simpática para as vísceras torácicas e abdominais, pélvico e pudendo e, através destes, para a subs- exceto aquelas da região pélvica. tância cinzenta de SI a S3. Os núcleos detrusores XI Par, Nervo Acessório. Ê formado por uma na medula são estimulados e os impulsos paras- raiz craniana (bulhar) c uma raiz espinhal (origi simpáticos eferentes são transmitidos através do nária das raízes ventrais dos segmentos cervicais nervo pélvico, ocorrendo contração do músculo de Cl a C5). Fibras da raiz craniana unem-se ao detrusor. Simultaneamente, os núcleos pudendos nervo vago e distribuem-se com ele, inervando são inibidos, o esfíncter uretral externo é relaxado músculos da laringe. Fibras da raiz espinhal iner e a urina é expelida da bexiga. Trata-se, portanto, vam os músculos trapézio e parte dos músculos de um reflexo automático, em nível medular. esternocefálico e braquiocefálico. Estes músculos À medida que a bexiga se distende, alguns im- sustentam o pescoço lateralmente e participam pulsos sensitivos são levados para os segmentos sacrais dos movimentos dos ombros e parte superior dos da medula espinhal c ascendem através da medula membros torácicos. e do tronco encefálico para a formação reticular, lo- XII Par, Nervo Hipoglosso. É um nervo mo calizada na ponte e mesencéfalo, onde se localiza o tor, possui seu núcleo localizado no bulbo e inerva centro detrusor. Alguns impulsos continuam através músculos extrínsecos e intrínsecos da língua. do tálamo e da cápsula interna para o córtex soma- tosensitivo, onde a sensação da bexiga distendida e a necessidade de urinar são percebidas. Caso a mic- NERVOS ESPINHAIS ção seja inapropriada no momento, impulsos do lobo frontal descem e inibem o centro detrusor do me- As raízes dorsais da medula espinhal são compos- sencéfalo e ponte. Outros impulsos descem do lobo tas primariamente de neurônios sensitivos. As raízes frontal para os segmentos sacrais da medula, através ventrais da medula espinhal são compostas por do trato reticulospinal, e estimulam os nervos e nú- axônios de neurônios motores inferiores. As raízes cleos pudendos para produzirem contração e fecha- dorsal e ventral unem-se para formar um nervo mento do esfíncter uretral externo. Através desses espinhal periférico, o qual contém uma combina- mecanismos e interações, a micção é inibida nos ção de processos motores e sensitivos (Fig. 10.15). momentos apropriados. Quando o animal está em um local onde é permitido urinar, a inibição cortical no centro detrusor é liberada e ocorre a contração vo- INERVAÇÃO DA BEXIGA luntária do esfíncter uretral externo. URINÁRIA E DO ÂNUS A inervação simpática da bexiga origina-se na substância cinzenta de L2 a L5, sai da medula As raízes nervosas e os segmentos medulares de espinhal através dos nervos esplâncnicos lomba- SI a S3 formam o nervo pélvico, que transmite res, faz sinapse no gânglio mesentérico caudal e informação sensitiva e inervação motora parassim- atinge a bexiga através dos nervos hipogástricos. A pática para o músculo detrusor, o músculo liso da inervação simpática da bexiga aumenta o limiar
  • 20. 468 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Fibra sensitiva Figura 10.15 - Representação da formação de um nervo periférico. ,--"" produzindo relaxamento do esfíncter anal, e as fezes são expulsas. Receptor EXAME NEUROLÓGICO DE PEQUENOS ANIMAIS Objetivos Os objetivos de um exame neurológico são: de contração reflexa local c permite que o mús- culo detrusor se distenda e aumente o volume • Determinar se existe disfunção do sistema vesical, antes que a contração muscular ocorra. O nervoso. nervo hipogástrico também promove inervação • Estabelecer a localização e a extensão do simpática do músculo liso da uretra próxima! e envolvimento neurológico. produz dilatação uretral (Fig. 10.16). • Tentar direcionar o diagnóstico e o prognós O reflexo de defecação envolve mecanismos tico do animal. parecidos com o de micção. A distensão estimula aferências do reto e do esfíncter anal, que atra- vés dos nervos pélvico e pudendo chegam à subs- Identificação do Animal tância cinzenta de SI a S3. O nervo pélvico esti- mula a contração do músculo liso do cólon des- Antes de iniciar a anamnese c o exame físico, cendente e do reto, o nervo pudendo é inibido, é necessário prestar atenção à identificação do animal, incluindo a espécie, raça, idade, sexo e cor da pelagem. Muitos distúrbios neurológicos S1-S3 apresentam uma predisposição racial. Por exem- plo: epilepsia verdadeira em cães das raças beagle, Nervo poodle, pastor alemão, setter irlandês, são bernardo pélvico e dachshund; hidrocefalia no chihuahua e neo- Cânglio plasias cerebrais primárias no boxer e boston terrier. mesentérico caudal De um modo geral, cães de raças pequenas ten- dem a apresentar convulsões generalizadas mo- Nervo pudendo Figura 10.16 - Inervação vesical. L2-L5
  • 21. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 469 deradas, sem perda de consciência. No entanto, tratamentos anteriormente realizados. Existem cães de raças grandes e gigantes geralmente apre- muitos antecedentes mórbidos que podem estar sentam convulsões mais severas e mais difíceis relacionados com o quadro neurológico atual. Por de controlar. A idade do animal também é impor- exemplo, uma queda ou um atropelamento pode tante, pois malformações congénitas geralmente provocar um traumatismo crânio-encefálico com produzem sinais clínicos em animais com menos posterior formação de um foco convulsivo. Uma de um ano de idade. Por outro lado, processos cirurgia prévia para retirada de um adenocarcino- neoplásicos são frequentemente observados em ma mamário pode sugerir a existência de uma cães c gatos com mais de cinco anos. Intoxica- metástase em sistema nervoso central. A descri- ções, infecções ou traumas não acometem algu- ção do local onde o animal vive c muito impor- ma idade específica, mas são mais comuns em tante para se detectar fontes de substâncias intoxi- animais jovens, que possuem tendência a masti- cantes como tintas, inseticidas, etc. O manejo gar objetos estranhos, podem ter vacinação incom- incorreto do animal pode ser a causa de um pro- pleta ou possuem pouca experiência com veícu- blema neurológico. Um exemplo disto são as in- los em movimento. Os primeiros episódios da toxicações por banhos carrapaticidas. O tipo de epilepsia hereditária geralmente começam em dieta também é importante para avaliar possíveis animais de seis meses a cinco anos de idade. Já deficiências nutricionais. Com relação aos trata- doenças degenerativas ocorrem mais frequente- mentos anteriormente preconizados, é importante mente após os cinco anos de idade. saber qual o medicamento utilizado, a dose, o Poucos distúrbios neurológicos possuem pre- intervalo de administração e a duração do trata- disposição sexual. Os adenocarcinomas mamári- mento. Muitas vezes o medicamento utilizado os podem produzir metástases no sistema nervo- estava correto, mas houve subdosagem na admi- so central em fêmeas c os adenocarcinomas pros- nistração. táticos também podem provocar metástase no Além de uma anamnese detalhada sobre o sistema nervoso central em cães machos. Em raras problema neurológico, deve-se seguir a rotina ocasiões os distúrbios neurológicos genéticos normal de anamnese dos outros sistemas. Isto podem estar relacionados com a cor da pelagem; porque muitas vezes o quadro neurológico é se- entretanto, gatos brancos de olhos azuis podem cundário a um problema em outro órgão ou siste- ser surdos. ma. Por exemplo, encefalopatia hepática ou re- nal, doenças cardíacas c infecções da orelha mé- dia. Além disso, algumas doenças infecciosas cau- Anamnese sam alterações cm outros sistemas além do qua- dro neurológico, como, por exemplo, a cinomose A avaliação neurológica de qualquer pacien- e a toxoplasmose. Uma história de distúrbios te deve começar com uma anamnese cuidadosa e endócrinos e sinais de poliúria, polidipsia e poli- detalhada. Os sinais clínicos observados em pa- fagia podem indicar uma lesão hipotalâmica ou cientes com injúrias ao tecido nervoso refletem o hipofisária. Estas informações devem ser consi- local onde ocorreu a lesão. A maneira como esses deradas ao localizar a lesão. sinais começaram e o curso da doença refletem a causa da injúria. Por esse motivo, a anamnese é essencial para a avaliação do paciente. A anamnese Início da Doença requer, portanto, uma descrição completa do quadro. É importante que se determine como foi A descrição do início da doença pode ser um o início e a evolução da doença. A seguir, a anamne- dado importante para o diagnóstico. Quando o se pode ser conduzida na mesma sequência em início é súbito, os sinais desenvolvem-se rapida- que se realiza o exame neurológico. Inicialmente mente, geralmente atingindo sua intensidade o dono deve ser inquerido sobre o nível de cons- máxima em 24 horas. Desta forma, podem suge- ciência do animal e se ocorreram mudanças de rir, por exemplo, traumatismos, intoxicações ou comportamento, de personalidade ou convulsões. acidente vascular cerebral. Doenças subagudas Depois faz-se a avaliação dos nervos cranianos e geralmente apresentam sinais que se desenvol- da locomoção. Finalmente, obtém-se informações vem progressivamente por um período de vários a respeito dos antecedentes mórbidos, do ambiente dias a algumas semanas. Exemplos incluem a onde o animal vive, do manejo do animal e dos maioria das doenças inflamatórias, infecciosas e
  • 22. 470 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico algumas doenças ncoplásicas. Doenças crónicas Esses casos podem sugerir doenças metabólicas ou são aquelas cujos sinais continuam a se desen- instabilidades de coluna vertebral (Fig. 10.17). volver por um período de meses ou anos, como Os medicamentos utilizados, suas respectivas por exemplo distúrbios nutricionais, doenças dosagens, bem como a resposta à terapia prévia, degenerativas e algumas neoplasias. Outra infor- também devem ser investigados. Se existiu uma mação importante é determinar a idade do ani- mudança no quadro clínico do animal durante o curso mal quando do aparecimento do quadro neuroló- da doença, é importante que se determine se novos gico. Por exemplo, um animal pode vir para a sinais clínicos apareceram ou se apenas os sinais consulta com dois anos, mas o quadro pode exis- anteriores pioraram. Por exemplo: um animal apre- tir desde os quatro meses de idade. senta tetraparesia e após duas semanas torna-se tetraplégico. Um outro animal apresenta tetraparesia e após duas semanas apresenta sinais de disfunção Evolução da Doença de nervos cranianos. No primeiro caso houve piora da lesão, mas no segundo caso houve uma progres- (Progressão, Estabilidade, Melhora) são anatómica da lesão. Isto é, há envolvimento de outras partes do sistema nervoso. A evolução da doença também está relaciona- da ao seu início, mas é um parâmetro um pouco diferente. Caso os sinais sejam estáticos, isto é, não se alteram com o curso da doença, geralmente Mudanças de Comportamento sugerem anomalias congénitas do tecido nervoso. Deve-se obter o máximo de informações do Caso os sinais sejam progressivos, isto é, ocorre um proprietário como, por exemplo, se houve algu- aumento na severidade dos mesmos, isto sugere ma mudança no comportamento do animal. Ani- inflamação, degeneração ou neoplasia do tecido mais com lesões no lobo piriforme, por exemplo, nervoso que, enquanto não forem tratadas, evo- podem apresentar agressividade excessiva. Lesões luem progressivamente. Nos casos de melhora no lobo frontal podem incapacitar o animal em clínica sem tratamento, pode-se pensar em intoxi- reconhecer o próprio dono e causam incapacida- cações não muito severas, em que houve elimina- de para o aprendizado. Animais epilépticos po- ção do produto tóxico pelo organismo; em lesões dem alterar seu comportamento um pouco antes vasculares tais como um acidente vascular cere- ou logo após uma convulsão. bral de pequena intensidade, em que não houve um grave comprometimento às funções neuroló- gicas e ocorre recuperação do tecido nervoso lesa- Convulsões do; ou em injúrias traumáticas leves, em que há recuperação da função cerebral. Existem algumas Convulsão é um distúrbio desencadeado por situações em que há períodos de melhora e piora. uma descarga elétrica neuronal anormal e exces- Sinais clínicos Traumatismo vascular --- Anomalia congénita Metabólica Neoplasia Inflamação Degeneração Figura 10.17 - Evolução do quadro clínico ao longo do tempo de acordo com a etiologia da enfermidade. > Tempo
  • 23. Semiologia do Sistema Nervoso de Pequenos Animais 471 siva, acarretando ou não perda de consciência, reconhecimento do proprietário, cegueira transi- presença de movimentos motores e fenómenos tória e desorientação. Muitas vezes o animal viscerais, sensoriais e psíquicos, caracterizando- mostra-se extremamente ativo e deambula con- se, pois, por atividade nervosa qualitativa ou tinuamente, urina e defeca em grande quantida- quantitativamente alterada, em parte ou em todo de e frequência, mostra-se sedento e esfomeado. o cérebro. Pode ser desencadeada por um estí- Deve-se perguntar ao proprietário se ele percebe mulo sensorial, químico ou elétrico, ou ainda por essas fases e o que ocorre com o animal nestes enfermidades intrínsecas do sistema nervoso cen- períodos. Deve-se determinar como começam as tral. Em função das características eletroencefa- convulsões. Se elas são focais (apenas uma porção jjgráficas e clínicas, classifica-se as convulsões em do corpo, por exemplo, um membro) e depois generalizadas ou primárias e em parciais ou focais. tornam-se generalizadas (todo o corpo), ou se são As convulsões generalizadas manifestam-se prin- generalizadas desde o início. Se há ou não perda cipalmente em decorrência de distúrbios meta - de consciência. Se o animal cai, urina, defeca ou bólicos, intoxicações, deficiências nutricionais e vocaliza durante a convulsão. Se existe salivação epilepsia hereditária. Elas se caracterizam por uma intensa. Se as convulsões são tónicas (rigidez) ou descarga elétrica difusa no córtex cerebral, ocor- tônico-clônicas (contrações musculares bruscas). De- rendo ao mesmo tempo manifestações clínicas pendendo do tipo de convulsão, pode-sc supor qual simétricas e sincrônicas em todo o corpo. Podem sua causa. Por exemplo, um distúrbio metabólico ou não causar perda de consciência. Quando não não causará uma convulsão focal. A descrição do há perda da consciência, são ditas leves', quando há, quadro convulsivo, principalmente quando é fo- são ditas graves. As convulsões parciais ou focais cal, auxilia a sugerir a porção do córtex cerebral originam-se de uma área focal de atividade envolvida ou responsável pelo foco convulsivo. neuronal anómala, no córtex cerebral. As mani- Dessa maneira, animais com convulsões focais festações clínicas dependem da área que contém motoras possuem a lesão no lobo frontal contrala- o foco, podendo ter características motoras, sen- teral. É importante determinar também a duração soriais ou comportamentais. Se existirem relatos de cada fase. Além da avaliação de cada uma das de convulsões, deve-se obter uma descrição de- fases de um episódio convulsivo, outras informa- talhada do quadro convulsivo. A convulsão é di- ções são de extrema importância. Dcvc-sc deter- vidida em três ou quatro fases, dependendo do minar a idade do animal quando do primeiro epi- autor: pródromo, aura, icto e pós-icto. Pródromo é sódio convulsivo. Por exemplo, em casos de epi- um período de duração variável (de minutos a dias) lepsia verdadeira ou hereditária, o primeiro episó- que antecede o episódio convulsivo e que pode dio convulsivo ocorre geralmente entre os seis meses ou não ser identificado pelo proprietário. Nesta e os cinco anos de idade. Já na epilepsia adquiri- fase o animal pode exteriorizar nervosismo, ansi- da, o primeiro episódio aparece semanas ou meses edade, temor inusitado ou extrema atividade fí- após o insulto original. O intervalo entre as con- sica. Alguns autores, que consideram quatro es- vulsões é importante na escolha do tratamento. Se tágios em uma convulsão, denominam o segundo o animal apresenta uma convulsão a cada 12 horas, estágio de aura. Entretanto, este termo se refere não adianta, por exemplo, utilizar um anticonvul- ao início da convulsão, conscientemente vivenciado sivante que demore sete dias para atingir níveis por humanos. Por esse motivo, não pode ser iden- séricos estáveis. Também, por outro lado, se um tificado em animais, os quais são incapazes de animal apresenta uma convulsão a cada 12 meses, comunicar verbalmente este fenómeno. Icto é a muitas vezes não é necessário medicá-lo, a não ser convulsão propriamente dita e tem duração va- que o intervalo entre as convulsões diminua. Sa- riável, de segundos a minutos. Podem ocorrer várias ber o número total de convulsões é importante manifestações tais como perda de consciência, também para instituir ou não o tratamento do animal. queda, convulsões tônico-clônicas, movimentos Deve-se tentar determinar se existem fatores anómalos dos membros (pedalar), relaxamento de incitantes para o episódio convulsivo, tais como esfíncteres, salivação excessiva e movimentos estímulos auditivos, mecânicos, excitação ou estro. mastigatórios. Pós-icto é aquela fase do episódio convulsivo que, por sua duração geralmente lon- ga, é muitas vezes confundida com o icto. Ela se Avaliação dos Nervos Cranianos manifesta por um quadro típico de exaustão ou sonolência, agressividade, temor exagerado, não Durante a anamnese, deve-se fazer pergun- tas a respeito dos pares de nervos cranianos, tais