O documento discute como o stress não é uma doença, mas sim uma reação do corpo a situações de tensão ou sobrecarga. Gerir positivamente o stress envolve controlar seus níveis na vida, como outros índices de saúde, e usar a resposta de stress para lidar com situações ao invés de deixá-las sem solução. Quando não gerido, o stress pode levar a problemas de saúde, mas com estratégias certas ele pode ser usado a nosso favor.
1. A propósito do stress (1)
Escrevo sentada na varanda, de manhã bem cedo, desfrutando da tranquilidade de um
cálido amanhecer de Setembro, apenas interrompida pelo choro de uma criança, algures na
vizinhança, possivelmente obstinada em permanecer na doce indolência matinal, enquanto
uma voz adulta a incentiva a despachar-se.
Gosto de começar o dia sem pressas. Há quem diga que careço de energia, mas prefiro
considerar que apenas procuro encaminhá-la positivamente, e não há nada para mim como
começar um dia em silêncio e com muita calma, ainda que implique levantar bem mais cedo
do que poderia ser necessário para a maioria das pessoas. Não quero ser “casa de ferreiro/a
com espeto de pau”. Não quero deixar-me levar pelo stress logo nas primeiras horas da
manhã.
Porque o stress, conjunto de sinais físicos e psicoemocionais que nos finais do século
passado começaram a revestir-se do carácter de doença, não é afinal mais do que uma
reacção adequada do nosso organismo perante estímulos ou situações de tensão ou
sobrecarga, e apenas temos de o saber gerir.
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sobrecarga, e apenas temos de o saber gerir.
O stress não é uma doença. E pode não originar qualquer doença subsequente, se
controlarmos os seus níveis na nossa vida, como controlamos os índices de glicémia ou de
colesterol. Ninguém é imune. Mas o stress é positivo, e temos de saber tirar dele o melhor
partido, e não usá-lo como desculpa para a nossa inépcia em gerir o dia-a-dia.
Em situação de tensão, o nosso organismo aumenta a produção de adrenalina e de cortisol
cuja função é, grosso modo, ajudá-lo a lidar com essa tensão. Contudo, o que acontece,
frequentemente, é que não procuramos formas de resolver a situação, e o aumento
sistemático dessas hormonas dá origem aos tão indesejados sintomas de stress: diminuição
da atenção/concentração e da memória, irritabilidade, cansaço, num crescendo que pode
chegar a entidades verdadeiramente nosológicas, como a hipertensão arterial, as insónias,
as úlceras.
E se está tão em voga falar dele certo é, também, que, do meu ponto de vista, em muitos
contextos é com a intenção mais ou menos subliminar, mais ou menos directa, de vender
produtos e serviços para reduzir o tão famigerado stress. Mas como em tempos de crise
parcas são as nossas economias, deixamo-nos levar pela angústia do que não podemos ter e
corremos o risco de entrar (in)conscientemente, num ciclo vicioso sem fim.
Como poderemos, então, gerir positivamente o stress nas nossas vidas, é reflexão que
pretendo continuar a fazer convosco num próximo suplemento do DA.