SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
Baixar para ler offline
O PAPEL DA RADIOLOGIA NA
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
THE ROLE OF RADIOLOGY IN INTENSIVE CARE UNITS
Fabiano R. Lucchesi1
: Gilberto Taketani1
: Jorge Elias Jr2
& Clóvis S. Trad2
1
Médico Residente. 2
Docente do Centro de Ciências das Imagem e Física Médica. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto.
CORRESPONDÊNCIA: Av. Bandeirantes, 3900 - Campus Universitário, Ribeirão Preto-São Paulo. Email: cstrad@fmrp.usp.br.
LUCCHESI FR et al. O papel da radiologia na Unidade de Terapia Intensiva. Medicina, Ribeirão Preto, 31:
517-531, out./dez. 1998.
RESUMO: O presente trabalho tem o intuito de abranger da forma mais ampla possível, os
diferentes meios diagnósticos disponíveis atualmente para a avaliação de pacientes em Unidade
de Terapia Intensiva ( UTI ). Desta forma, alguns conceitos radiológicos essenciais para a interpre-
tação e correta solicitação de exames serão abordados com um enfoque prático e objetivo.
UNITERMOS: Radiologia. Radiografia Torácica. Radiografia Abdominal. Unidades de Tera-
pia Intensiva.
517
1. INTRODUÇÃO
A crescente incorporação da tecnologia nos di-
versos segmentos da medicina, particularmente na ra-
diologia, vem contribuindo para um diagnóstico cada
vez mais precoce e acurado das diferentes patologias,
trazendo imensuráveis benefícios aos pacientes. Cer-
tamente, em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a
precocidade no diagnóstico e na detecção de possí-
veis complicações influencia, decisivamente, a con-
duta terapêutica e, em última análise, o prognóstico
do paciente. O presente artigo abordará o atual papel
dos diferentes métodos de diagnóstico por imagem
nas patologias mais freqüentes em UTIs; e, em virtu-
de da abrangência do assunto, descreveremos, opor-
tunamente, os aspectos radiológicos em UTIs pediá-
tricas e aqueles ligados ao trauma. Avaliaremos, se-
qüencialmente, o aparelho cardiovascular pulmonar e
digestivo, enfocando, principalmente, as apresentações
radiológicas típicas, sem descrições pormenorizadas
dos aspectos clínicos, os quais serão analisados nos
demais capítulos.
2. APARELHOS CARDIOVASCULAR E
PULMONAR
A análise radiológica do aparelho cardiovascu-
lar basicamente é feita através da radiografia de tó-
rax no leito, com aparelho portátil, em incidência an-
teroposterior e com o paciente em decúbito dorsal.
Desta forma, a qualidade da imagem é inferior em
relação àquela obtida no departamento de radiologia,
em virtude da menor distância foco filme e posição
supina, das características técnicas dos aparelhos
móveis, da não utilização de grades de filtragem e,
também, de possíveis imperfeições no processo de
revelação do filme. Eventualmente, para melhor elu-
cidação diagnóstica, utilizam-se incidências laterais.
A radiografia digital, de utilização mais recente, pos-
sibilita, pela conversão de imagens analógicas em di-
gitais, que estas sejam armazenadas e posteriormente
manipuladas, melhorando suas características diagnós-
ticas, tais como grau de exposição, brilho e contraste,
reduzindo a repetição de exames e irradiação desne-
cessária dos pacientes. Também permite a reprodu-
Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: MEDICINA INTENSIVA: II. TÓPICOS SELECIONADOS
31: 517-531, out./dez. 1998 Capítulo III
518
FR Lucchesi et al.
ção das grafias sempre que desejável e, principalmen-
te, a transmissão, à distância, das informações, tecno-
logia esta conhecida como telerradiologia, com aces-
so rápido das imagens e laudos por todo o ambiente
hospitalar, em especial as UTIs(1,2)
. (Tabela I)
2.1.Atelectasia
Condição muito fre-
qüente em UTI, resultante,
geralmente, de hipoventilação
pulmonar, anestesias prolonga-
das, posição supina, secreções
pulmonares, pós-operatório e
do mal posicionamento de câ-
nulas endotraqueais. Acome-
te, preferencialmente, o lobo
inferior esquerdo (66%), se-
guido dos lobos inferior (22%)
e superior (11%) direitos. O di-
agnóstico radiológico diferen-
cial deve ser feito com outras
causas de consolidação pul-
monar, como pneumonia, he-
morragia, infarto pulmonar,
devendo-se valorizar a evolu-
ção temporal dos achados,
uma vez que as mudanças na
atelectasia ocorrem em horas
e as demais, em dias. A apre-
Figura 1 - Extremidade distal da cânula orotraqueal ao nível do brônquio fonte
direito, associado a opacificação do pulmão esquerdo, compatível com atelectasia.
sentação radiológica é variável, desde uma radiogra-
fia normal, ou com os clássicos sinais de desvio
ipsilateral das cissuras, do mediastino, dos arcos costais
e das estruturas broncovasculares e elevação do he-
midiafragma. Outros sinais indicativos de atelectasia
são a presença de velamentos lineares ou discóides,
associados ou não a broncograma aéreo ou até con-
solidação lobar. Quando a atelectasia cursa com au-
sência de broncograma aéreo, sugere a presença de
obstrução da luz brônquica, possivelmente secundária
à rolha de secreção, orientando, desta forma, a con-
duta terapêutica(3,4,5)
. (Figura 1)
2.2. Pneumonia
A pneumonia hospitalar apresenta uma incidên-
cia em torno de 8% a 12% em UTIs clínicas e cirúrgi-
cas, atingindo uma taxa de até 60% nos pacientes com
síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA) e
uma mortalidade variando entre 13% a 55%. Em am-
bientes de UTIs, predominam, como agentes etiológi-
cos, as bactérias aeróbicas gram-negativas (Pseudo-
monas, Enterobacter, Klebsiella, Proteus, Acineto-
bacter, Serratia, Haemophilus), o Staphylococcus
aureus e a Candida. Na grande maioria das vezes,
há uma prévia colonização da orofaringe, bem como
do estômago, principalmente quando existirem níveis
Tabela I – Radiologia Convencional X Digital em UTI
Desvantagens da Radiologia Convencional em UTI
− Posição supina e menor distância foco filme→ amplia-
ção do mediastino e coração, menores volumes
pulmonares e análise prejudicada da trama pulmonar.
− Uso de aparelhos móveis→ exposições prolongadas,
possibilitando artefatos de movimento.
− Não utilização de grades de filtragem→ aumento da
radiação espalhada.
− Erros no processo de revelação→ degradação da
qualidade final da imagem.
Vantagens da Radiologia Digital em UTI
− Redução significativa da repetição de exames, dimi-
nuindo exposição à radiação.
− Possibilidade de pós-processamento das imagens em
diferentes formatos, melhorando a qualidade das ima-
gens e capacidade diagnóstica.
− Capacidade de armazenamento e transmissão das
imagens.
519
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
mais elevados de pH gástrico,
antes do desenvolvimento do
quadro pneumônico. Os parâ-
metros utilizados para o diag-
nóstico da pneumonia são a
presença de febre, leucocito-
se, leucopenia, isolamento mi-
crobiológico do agente em se-
creção traqueal e velamento
na radiografia após setenta e
duas (72) horas de internação.
É importante ressaltar que es-
tes critérios não são específi-
cos da pneumonia, podendo
ocorrer em outras condições
clínicas. O diagnóstico radio-
lógico baseia-se no apareci-
mento de velamento segmen-
tar lobar ou difuso, do tipo
alveolar, ou seja, com bordas
mal definidas, com broncogra-
ma aéreo e sinal da silhue-
ta(3,4,5)
(Figura 2, Tabela II). O
diagnóstico diferencial deve
ser feito com atelectasia, hemorragia, infarto, contu-
são, derrame pleural, edema e SARA, sendo que esta
última patologia dificulta sobremaneira o diagnóstico
de pneumonia(6)
(Tabela III).
Infelizmente, a especificidade da radiografia de
tórax para detecção de pneumonia é baixa, variando
de 27% a 35%, mesmo considerando-se os dados clí-
nicos e as radiografias anteriores. A presença de ca-
vitação é sugestiva de pneumonia. O velamento devi-
do ao processo pneumônico costuma aparecer mais
tardiamente e resolver-se mais lentamente que a as-
piração pulmonar e a atelectasia. Um velamento que
tenha surgido em horas é sugestivo de atelectasia, en-
quanto o aparecimento súbito de qualquer novo
velamento deve levantar a suspeita de aspiração.
Em geral, mesmo com adequada terapêutica an-
tibiótica, o padrão radiológico não se altera de forma
importante em quarenta e oito (48) horas, sendo con-
siderado tratamento ineficiente, quando não houver
melhora radiológica em quatorze (14) dias. As mu-
danças das condições clínicas, geralmente, precedem
as alterações radiológicas(7,8). A tomografia compu-
tadorizada, com sua capacidade de detectar altera-
ções no parênquima pulmonar, derrame pleural, bem
como alterações nas demais estruturas torácicas, tem
papel coadjuvante à radiografia de tórax na detecção
Figura 2 - Velamento de padrão alveolar, na base pulmonar direita, e infrailar es-
querdo. Pneumonia bilateral.
Tabela II – Características Radiológicas do Ve-
lamento de padrão alveolar
− Margens mal definidas
− Distribuição lobar ou segmentar
− Broncograma aéreo
− Coalescente
− Tempo de resolução rápido
Tabela III - Diagnóstico diferencial e radiológico de
pneumonia
Contusão TEP
Atelectasia Hemorragia
Infarto pulmonar Derrame pleural
Edema SARA
de pneumonia e suas eventuais complicações(9,10)
.
Entretanto, nem sempre é possível sua utilização em
pacientes mantidos em UTIs, em função do estado
clínico deteriorado do enfermo, apesar da melhora atual
da segurança no transporte de pacientes graves.
520
FR Lucchesi et al.
2.3 Pneumonia Aspirativa
A ocorrência de aspiração em UTIs é bas-
tante freqüente e as condições que favorecem a aspi-
ração são o rebaixamento do nível de consciência, dis-
túrbios neuromusculares e alterações estruturais no
tubo digestivo. Classicamente, dividem-se a aspiração
e suas conseqüências em: aspiração do conteúdo gás-
trico, infecções pleuropulmonares, decorrentes da as-
piração e obstrução aguda das vias aéreas.
2.3.1 Aspiração do conteúdo gástrico
A lesão pulmonar tem relação direta com o
volume do conteúdo gástrico aspirado e é mais signi-
ficativa quando o pH deste for < 2,5. Não há altera-
ções radiológicas características, identificando-se des-
de radiografias normais até velamentos nodulares ou
confluentes, geralmente multilobares, bilaterais, pre-
dominando o acometimento dos segmentos superio-
res dos lobos inferiores e segmentos posteriores dos
lobos superiores, em pacientes em decúbito dorsal. O
aspirado gástrico também poderá desencadear ede-
ma pulmonar não cardiogênico.
2.3.2 Complicações infecciosas
Na pneumonia aspirativa comunitária há um
predomínio das bactérias anaeróbicas como agentes
etiológicos (Bacteriodes fragilis, Fusobacterium
nucleatum, Peptostreptococcus spp) e das bactérias
aeróbicas nas pneumonias nosocomiais, refletindo a
colonização da orofaringe (Haemophilus influenzae,
Staphylococcus aureus, bacilos gram-negativos).
2.3.3 Obstrução das vias aéreas
As alterações radiológicas dependerão do nível
da obstrução na árvore traqueobrônquica, podendo ser
normal ou mostrar hiperinsuflação unilateral, atelec-
tasia e desvio do mediastino(11,12,13)
.
2.4. Edema Pulmonar
Havendo um aumento da pressão hidrostática
ao nível dos capilares pulmonares, decorrente do es-
tado de hiperhidratação ou do aumento da pressão
diastólica final do ventrículo esquerdo (Pd2
VE), ocor-
rerá um extravasamento de líquido, inicialmente, para
o interstício e, depois, para o alvéolo. Como os pacien-
tes em UTIs estão geralmente em posição supina, a
redistribuição da trama vascular pulmonar, resultante
do aumento da Pd2
VE não é identificada. As altera-
ções radiológicas do edema intersticial compreendem
as linhas septais de Kerley e borramento da trama
vascular pulmonar. Com o extravasamento de líquido
atingindoosalvéolos,nota-sevelamentodotipoflocoso,
coalescente, de limites mal definidos, periilar, com as-
pecto em “asa de borboleta” e presença de bronco-
grama aéreo. Geralmente, é bilateral e simétrico, as-
sociado a área cardíaca aumentada, apresentando iní-
cio e resolução rápida, diferenciando-o da pneumonia
e da Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto(3,4,5)
.
(Figura 3)
2.5 Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto
O diagnóstico da Síndrome da Angústia Respi-
ratória do Adulto (SARA) é baseado em critérios clí-
nicos, gasométricos, hemodinâmicos e radiológicos.
Apresenta-se como dispnéia pronunciada, com com-
placência pulmonar diminuída, hipoxemia refratária
e pressão capilar pulmonar < 18mmHg. Em termos
fisiopatológicos e radiologicamente, distinguem-se três
fases:
Estágio I (0 –24h)
Figura 3 – Edema pulmonar cardiogênico. Aumento da
área cardíaca, associado a velamento de padrão radio-
lógico alveolar, com distribuição periilar, mais acentua-
do à direita.
521
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
Trata-se da fase exsudativa inicial, com discre-
to extravasamento de líquido para o interstício, tradu-
zindo-se por uma radiografia de tórax normal ou com
aparecimento de linhas septais.
Estágio II (24-36h)
Nesta fase, aumenta o extravasamento de lí-
quido para o interstício e para o alvéolo, manifestan-
do-se por opacificação alveolar, de limites mal defini-
dos, localizados, inicialmente, nas porções mais peri-
féricas dos pulmões, progredindo para o envolvimen-
to difuso dos campos pulmonares. A presença de bron-
cograma aéreo, ausência de cardiomegalia e alarga-
mento do pedículo vascular ajudam a diferenciá-la do
edema pulmonar cardiogênico. Geralmente, após trinta
e seis (36) horas, os achados radiológicos mantêm-se
inalterados, sendo que qualquer mudança pode indi-
car processo infeccioso associado.
Estágio III (± 72h)
Caracteriza-se pelo processo de reparação pul-
monar, com resolução do quadro alveolar, evidencian-
do-se velamento de padrão reticular.
Dentre as complicações mais freqüentemente
associadas estão a pneumonia e o barotrauma, este
último podendo se manifestar sob a forma de enfisema
intersticial, enfisema subcutâneo, cistos subpleurais,
pneumotórax, pneumomediastino, pneumoperitôneo e
pneumorretroperitôneo(14)
.
A tomografia computadorizada de tórax é im-
portante na identificação de complicações não diag-
nosticadas na radiografia convencional, especialmen-
teabscessos,enfisemas,doençasmediastinaisena quan-
tificação do acometimento pulmonar(9,10)
. (Tabela IV)
2.6 Derrame Pleural
Na posição em decúbito dorsal, em função da
gravidade, o líquido ficará localizado, preferencialmen-
te, nas porções posteriores do ápice e base do hemi-
tórax, traduzindo-se, radiologicamente, como um au-
mento homogêneo da densidade do hemitórax envol-
vido, mantendo-se a visualização dos vasos pulmona-
res, ausência de broncogramas aéreos, sem desvio do
hilo e mediastino, a não ser quando volumoso, perda
do contorno normal do hemidiafragma, obliteração do
seio costofrênico (sinal do menisco) e do ápice pul-
monar, e alargamento da cissura menor(3,4,5,15)
.
Ruskin et al.(16) descrevem uma sensibilidade
de 67% e especificidade de 70% para a radiografia
de tórax na posição supina, para detecção de derra-
me pleural. Sendo assim, uma radiografia de tórax, na
posição supina, não exclui a presença de derrame
pleural. O diagnóstico dos derrames pleurais peque-
nos e simétricos é difícil, sendo importante a contri-
buição do ultra-som e da tomografia computadorizada.
Woodring e Collins et al.(17,18)
relatam que, provavel-
mente, um derrame pleural não seja diagnosticado nas
grafias em posição supina, quando tiver um volume
menor do que 175 ml. A radiografia de tórax não tem
a capacidade de distinguir entre exsudato, transudato,
empiema e hemorragia, o que pode ser melhor avalia-
do através da tomografia computadorizada. O derra-
me pleural poderá estar loculado, geralmente corres-
pondendo a um exsudato (neoplasia, sangue ou
empiema), não se alterando nas grafias, em diferen-
tes projeções. O diagnóstico diferencial deverá ser
feito entre atelectasia e outros processos pulmonares
que promovam consolidação.
*Avaliação prejudicada em decúbito dorsal.
Tabela IV - Características radiológicas das principais causas de edema pulmonar
Cardiogênico Renal
Síndrome Angústia
Respiratória Adulto
Área cardíaca
Derrame pleural
Broncograma áerea
Distribuição do edema
Distribuição do fluxo sanguíneo*
Pedículo vascular*
Aumentada
Comum
Incomum
Central/periférico
Invertido
Normal ou aumentado
Aumentada
Comum
Incomum
Central/periférico
Balanceado
Aumentado
Normal
Incomum
Comum
Periférico
Normal ou balanceado
Normal ou reduzido
522
FR Lucchesi et al.
2.7 Pneumotórax
Trata-se de uma das entidades mais freqüente-
mente encontradas em UTIs, seja em virtude da larga
utilização da ventilação mecânica, ou devido a proce-
dimentos diagnósticos ou terapêuticos ou resultantes
das patologias presentes em pacientes gravemente
enfermos.
Estima-se que a incidência de pneumotórax, em
pacientes sob ventilação mecânica, varie entre 4% a
15%, sendo que cerca de 60% a 96% podem, rapida-
mente, tornar-se hipertensivos. Radiologicamente, o
pneumotórax é identificado como separação das pleu-
ras parietal e visceral, associada a ausência de vascu-
latura entre os folhetos pleurais, sendo melhor visuali-
zado na grafia em expiração. Em função da posição
supina e da gravidade, o ar, preferencialmente, coleta-
se nas regiões anteromedial e subpulmonar e, quando
mais volumoso, também na região látero-apical. Iden-
tifica-se a localização anteromedial pelo adequado de-
lineamento das estruturas mediastinais, tais como as
veias cava superior e ázigo, veias pulmonares superi-
ores, artéria subclávia esquerda, veia cava inferior e
contornos cardíacos. Observa-se, na localização sub-
pulmonar, aumento da radiotransparência dos quadran-
tes superiores do abdome, seio costofrênico mais pro-
fundo e hipertransparente, adequada visualização do
diafragma ipsilateral e margem inferior do pulmão. Em
presença de perda de volume do lobo inferior, o ar
poderá coletar-se na região posteromedial, delineando
as estruturas do mediastino posterior, como a aorta
descendente, seios costovertebrais e linha paraespi-
nhal(19/,24).
Tanto a perda de volume pulmonar quanto o
desvio do mediastino podem ocorrer no pneumotórax
simples e no hipertensivo, sendo que, neste último, no-
tam-se as repercussões clínicas dos distúrbios respi-
ratórios e hemodinâmicos. Radiologicamente, identi-
fica-se deslocamento inferior ou inversão do diafrag-
ma e alteração do contorno do coração e dos vasos.
Pneumotórax de pequeno volume pode passar
despercebido à radiologia convencional, sendo diag-
nosticado na tomografia computadorizada.
2.8 Tromboembolismo Pulmonar
O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma
condição bastante freqüente num ambiente de UTI,
uma vez que estes pacientes possuem vários fatores
de risco com relação à clássica tríade de Virchow
(injúria vascular, estase sangüínea e estados de hi-
percoagulabilidade). Infelizmente, tanto os dados clí-
nicos quanto os radiológicos são bastante inespecíficos
e de baixa sensibilidade. A radiografia de tórax tem
importância no sentido de identificar eventuais diag-
nósticos diferenciais, a saber, pneumonia, pneumotó-
rax, edema pulmonar. Dentre os achados radiográficos
estão o derrame pleural (50,9%), diminuição focal da
trama vascular pulmonar (Sinal deWestermark – 15%),
elevação do diafragma, atelectasia, dilatação da arté-
ria pulmonar e consolidação. Cerca de 10% a 15%
dos TEP promovem infarto pulmonar, sendo mais co-
muns em lobos inferiores, apresentando-se como opa-
cificação adjacente a pleura, ocasionalmente no for-
mato piramidal, com ponta para o hilo (Sinal de
Hampton), aparecendo entre doze (12) a vinte e qua-
tro (24) horas do início dos sintomas. (Figura 4). Num
período de três (03) semanas, pode resolver-se com-
pletamente ou deixar espessamento pleural e traves
fibróticas(4,5,25)
.
Figura 4 – Tromboembolismo pulmonar, confirmado
pelo estudo de ventilação e perfusão. Velamento alveo-
lar com base voltada para margem lateral do gradeado
costal direito.
523
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
Outras modalidades diagnósticas são ventilação
e perfusão com material radioativo, angiografia pul-
monar, tomografia computadorizada espiral e, mais re-
centemente, a ressonância nuclear magnética. Os re-
sultados do estudo com ventilação/perfusão devem ser
correlacionados com os dados clínicos dos pacientes,
uma vez que um resultado anormal não necessaria-
mente confirma a suspeita clínica de tromboembolis-
mo pulmonar.
2.9 Dispositivos
2.9.1 Sonda Endotraqueal
Relata-se que, em cerca de 12% a 15% dos
pacientes, há um mau posicionamento da sonda endo-
traqueal, sendo este detectado, ao exame físico, em
apenas 3% dos casos. A posição ideal da extremida-
de distal da sonda com a cabeça em posição neutra é
de 5 a 7cm acima da carina, já que a sonda poderá
migrar cerca de 2cm para cima ou para baixo, com o
movimento de flexão e de extensão da cabeça. Quando
houver dificuldade em localizar a carina na radiogra-
fia de leito, é prudente deixar a extremidade distal do
tubo ao nível do corpo vertebral T2 – T4, uma vez
que, em 90% dos casos, a carina está entre T5 e T7,
na radiografia de leito. Em função da angulação do
brônquio fonte direito, este freqüentemente é entubado
seletivamente, promovendo hiperinsuflação do pulmão
direito e atelectasia do esquerdo. Além da entubação
seletiva, eventualmente, poderá ocorrer entubação do
esôfago. Naqueles pacientes onde se prolonga o
período de ventilação mecânica, indica-se a traque-
ostomia, sendo que a cânula deverá ser colocada ao
nível de T3, a cerca de 2/3 da distância entre o estoma
traqueal e a carina. Apresentam-se, como possíveis
complicações, o pneumotórax, pneumomediastino,
enfisema subcutâneo, hemorragia, mau posicionamen-
to, estenose traqueal, fístula traqueoesofágica e in-
fecção da ferida.
2.9.2 Cateter venoso central
A extremidade distal do cateter deverá estar
localizada entre o átrio direito e as valvas venosas mais
proximais, que estão localizadas nas veias subclávias
e na jugular interna, cerca de 2,5cm do ponto onde
estes vasos se juntam para formar a veia braquioce-
fálica. A última valva na veia subclávia está situada
ao nível do primeiro arco costal anterior.Assim, a ponta
do cateter deverá estar localizada medialmente à por-
ção anterior do primeiro arco costal. Não se deve dei-
xar a ponta do cateter no átrio ou ventrículo direito,
em função da possibilidade de arritmias, perfuração e
tamponamento cardíaco. Outras complicações são o
pneumotórax (1% a 12%), hemotórax, hemorragia
mediastinal, embolia gasosa e fratura do cateter.
2.9.3 Sonda nasogástrica
A ponta deve estar localizada cerca de 10cm
além da junção gastroesofágica, para que o último ori-
fício lateral fique localizado dentro do estômago, pre-
venindo a infusão da dieta no esôfago e posterior aspi-
ração pulmonar. A correta verificação do posiciona-
mento da sonda é importante para excluir a eventual
colocação em vias aéreas e conseqüente infusão da
dieta na árvore traqueobrônquica.
2.9.4 Cateter de Swan Ganz
A ponta do cateter não deve estar além da por-
ção proximal das artérias pulmonares interlobares, pois,
quando localizada mais distalmente, aumenta a chance
de infarto pulmonar. As possíveis complicações que
devem ser investigadas radiologicamente incluem o
infarto pulmonar, perfuração, pneumotórax, enovela-
mento do cateter, mal posicionamento, ruptura da ar-
téria pulmonar. (Figura 5)
2.9.5 Balão intra aórtico
O correto posicionamento da ponta do balão
deve ser distal à origem da artéria subclávia esquerda,
ao nível do botão aórtico, evitando oclusão das artéri-
as carótidas, subclávias e renais. As complicações in-
cluem embolia cerebral, dissecção aórtica, oclusão de
vasos emergentes da aorta e ruptura do balão.
2.9.6 Marcapasso
A ponta do fio de marcapasso deve localizar-
se na ponta do ventrículo direito, pelo menos 3mm
aprofundada na gordura epicárdica, na grafia em per-
fil. A importância da radiologia é na detecção de com-
plicações, como mau posicionamento, fratura do fio,
perfuração miocárdica e tamponamento cardíaco.
2.9.7 Dreno torácico
O estudo radiológico é importante para deter-
minação do posicionamento, sendo também ne-
cessário à obtenção de grafia em perfil, para deter-
minar se os tubos de drenagem estão bem localizados
em relação à coleção. Quando houver loculação, a
drenagem também poderá ser guiada pelo ultra-som
ou tomografia computadorizada. As complicações mais
importantes são o inadequado posicionamento, perfu-
ração pulmonar e fístula broncopleural (4,5,26)
.
524
FR Lucchesi et al.
3.1 Pneumoperitônio
O acúmulo de gás, na
cavidade peritoneal, é freqüen-
temente encontrado no pós-
operatório de cirurgia abdomi-
nal recente, diálise peritoneal,
laparoscopia ou outros proce-
dimentosinvasivosabdominais,
além de perfuração de vísce-
ras ocas intraperitoneais, infec-
ção, pneumatose intestinal, e,
raramente, secundário a pneu-
momediastino.
A duração do pneumo-
peritônio pós-operatório, de-
monstrável radiologicamente,
está relacionada à quantidade
de gás presente imediatamen-
te após o procedimento res-
ponsável por este, sendo rea-
bsorvido, em média, em qua-
tro (4) a cinco (5) dias. Após
este período, deve-se suspeitar da possibilidade de
deiscência anastomótica de vísceras ocas ou outras
causas predisponentes.
Em 90% dos pacientes com pneumoperitônio
espontâneo, há condição abdominal aguda que requer
intervenção cirúrgica(29).
Para a detecção de pneumoperitônio, em paci-
entes de UTI, freqüentemente é impossível a realiza-
ção de grafias em posição ortostática, sendo neces-
sária a avaliação em decúbito dorsal, o que permite
demonstrar o pneumoperitônio em 50% das vezes(30)
.
Havendo dúvida na incidência em decúbito dorsal, é
possível verificar na radiografia feita em decúbito la-
teral esquerdo, com raios horizontais, após dez (10)
minutos nesta posição, gás acumulado entre a parede
abdominal e a borda lateral direita do fígado.
O sinal radiológico mais conhecido de pneumo-
peritônio, em grafias em decúbito, é a demonstração
de gás em ambos os lados da parede intestinal (sinal
de Rigler), ocasionalmente formando coleções de gás
extraluminais, triangulares, entre as alças adjacentes
(Figura 6). Outros sinais radiológicos são a visualiza-
ção do ligamento falciforme, como uma faixa radiopaca
no quadrante superior direito, quando o gás se acu-
mula ao redor deste e a visualização das pregas umbi-
licais mediais, na pelve, em forma de “V” invertido.
Existindo uma grande quantidade de gás, poder-se-á
Figura 5 – Rx de tórax, revelando adequado posicionamento do cateter de Swan
Ganz, que se encontra na porção proximal da artéria interlobar esquerda.
3. ABDOME EM UTI
O estudo radiológico do abdome, em ambiente
de UTI, baseia-se na utilização do ultra-som, da to-
mografia computadorizada e da radiografia simples,
sendo a seqüência de investigação empregada depen-
dente da patologia apresentada e das limitações diag-
nósticas de cada método de imagem. Em virtude da
gravidade clínica dos pacientes e das dificuldades
de locomoção, os benefícios da tomografia com-
putadorizada devem ser avaliados em relação aos ris-
cos do transporte de pacientes graves até a sala de
exames. Para otimização das informações fornecidas
pela tomografia computadorizada dedica-se cuidado-
sa atenção à técnica empregada no exame, devendo
o intestino delgado estar uniformemente opacificado
e distendido pela administração rotineira prévia de
contraste iodado oral a 2 ou 3%, para adequada ava-
liação da espessura da parede intestinal, evitando-se
falsas interpretações de abscessos, massa ou linfade-
nopatia(27,28)
.
Para pacientes gravemente debilitados, com his-
tória prévia de reação moderada ou intensa ao meio
de contraste, doença cardíaca significante, asma, dia-
betes ou alergia a outros medicamentos, indica-se o
uso de meios de contraste não iônicos, pela sua me-
nor incidência de reações alérgicas.
525
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
A tomografia computadorizada é capaz de de-
monstrar quantidades menores de gás intraperitoneal,
que se acumula sob a parede anterior do abdome,
quando o paciente está em posição supina.
3.2. Líquido livre intraperitoneal
Na radiografia simples de abdome, podemos
avaliar um grande número de sinais de líquido livre
intraperitoneal, a maioria deles com uso limitado, em
pacientes de UTI. Os cólons ascendente e descen-
dente devem estar imediatamente adjacentes à faixa
radiolucente da parede abdominal lateral, que consti-
tui a gordura préperitoneal. Caso essas porções do
cólon, preenchidas por gás, fezes ou contraste, este-
jam deslocadas medialmente, pode-se concluir, com
razoável grau de confiança, que se trata de líquido
livre. Outros sinais úteis são a perda da definição do
ângulo hepático do cólon e área de densificação adja-
cente ao espaço de Douglas.
O exame ultra-sonográfico é a melhor alterna-
tiva, quando a grafia simples mostra-se inconclusi-
va e o paciente não pode deslocar-se até a sala de
tomografia computadorizada, pois evidencia, com alta
sensibilidade e especificidade, o líquido livre peri-
toneal, mesmo quando de pequeno volume, propici-
ando, muitas vezes, o diagnóstico da causa do derra-
me peritoneal, como, por exemplo, pancreatite, ruptu-
ra vesicular, processos inflamatórios abdominais e ou-
tros. (Tabela V)
Figura 6 – Rx simples de abdome, demonstrando o
ligamento falciforme como uma faixa radiodensa
paravertebral à direita e a superfície interna e externa
das alças intestinais (Sinal de Rigler)
formar uma área radiolucente, ova-
lada, preenchendo todo o abdome,
referida como “football sign”, mais
comumente vista em crianças e ido-
sos. O gás pode também se acu-
mular anteriormente, na porção cen-
tral do abdome superior, freqüente-
mente em posição semi-ereta do pa-
ciente, dando a aparência de um
“terceiro diafragma central”(31)
.
Mais freqüente que qualquer um desses sinais,
é a demonstração de coleções gasosas anteriores ao
fígado e no espaço subepático.
A demonstração de pneumoperitônio é especi-
almente difícil através do exame ultra-sonográfico, de-
pendendo de sinais indiretos e de alto grau de experi-
ência do examinador, não sendo exame indicado para
tal suspeita. No entanto, pode ser importante na de-
tecção de lesões associadas.
Tabela V – Densidades tomográficas dos líquidos abdominais
Tipo de Líquido Densidade tomográfica(UH)
Transudato (ICC, Cirrose )
Exsudato
Hemorrágico
0 a 15
15 a 30
Dependente do tempo de evolução→ 15 a 75
Agudamente,diminuindo com a lise do coágulo
Se a coleção for localizada e hiperdensa, na to-
mografia computadorizada, pode-se interpretar como
um coágulo e, assim, predizer o local de hemorragia
(“sentinel clot sign”).
3.3. Isquemia intestinal
A isquemia intestinal é um problema relativa-
mente comum em pacientes idosos em UTI. Sinais
específicos de isquemia, na grafia simples, são vistos
em menos de 20% das vezes. (Tabela VI)
526
FR Lucchesi et al.
3.5 Monitorização radiológica de tubos
gastrintestinais
A maioria dos tubos nasogástricos e intesti-
nais, de alimentação ou descompressão, são posi-
cionados “às cegas” e o posicionamento correto é
assumido se o conteúdo gástrico puder ser aspira-
do ou se ar injetado puder ser ouvido na região
epigástrica. Esta técnica é falível, uma vez que o
barulho do gás injetado em sondas erroneamente
localizadas no espaço pleural, mediastino ou pul-
mões pode ser ouvido no epigástrio. Assim, a
checagem radiológica dos tubos e sondas deve ser
rotineira, devendo – se, atentar para as possíveis
complicações: hemorragias fatais por tubos pres-
sionando grandes vasos anômalos, nós, acotovela-
mentos, perfuração da parede intestinal, principal-
mente em crianças, e aspiração e pneumonia se-
cundárias ao mal posicionamento.
3.6. Processos inflamatórios
3.6.1. Colecistite aguda
O ultra-som continua sendo a modalidade de
escolha para a detecção da colecistite aguda, embora
a tomografia computadorizada possa ser útil em ca-
sos onde a visualização ultra-sonográfica da vesícula
biliar é insatisfatória.
Os critérios sonográficos para o diagnóstico de
colecistite aguda incluem: cálculo fixo infundibular ou
obstruindo o ducto cístico, dilatação da vesícula biliar
(diâmetro transverso > 40mm), espessamento da pa-
rede vesicular (> 3mm), líquidos pericolecísticos e dor
à compressão do transdutor em projeção da vesícula
(sinal de Murphy ecográfico), que, em pacientes in-
conscientes, pode ser de difícil avaliação. A colecisti-
te enfisematosa e a perfuração são complicações da
colecistite aguda, detectáveis ao US. A colecistite en-
fisematosa ocorre mais freqüentemente em pacientes
diabéticos, e o diagnóstico deve ser suspeitado quan-
do se observam ecos reverberativos na parede e lúmen
da vesícula ao US e áreas radiolucentes, na projeção
vesicular ao RX. Ocorrendo perfuração vesicular, o
US pode demonstrar abcesso pericolecístico.
A colecistite alitiásica é definida como inflama-
ção da vesícula biliar na ausência de cálculos, é mais
comum em pacientes em estado crítico ou em pós-
operatório recente, queimados, sepse, hipotensão pro-
longada, diabéticos e hiperalimentação.
Os critérios diagnósticos incluem espessamen-
to parietal, com espessura maior que 3mm, líquido
Além desses sinais, Ha et al.(33)
demonstraram
que o contorno serrilhado e o afilamento pontiagudo
da luz intestinal, presentes em obstrução, sugerem a
presença de estrangulamento, que tem como causas
mais freqüentes aderências e hérnias.
Os distúrbios vasculares são as condições que
mais freqüentemente levam à isquemia intestinal.
Com o advento de uma nova técnica de TC, denomi-
nada espiral ou helicoidal, que possibilita a obtenção
de cortes contíguos, em velocidade muito alta, após
injeção em “bolus” de contraste, permitindo demons-
trar impregnação da parede das alças, numa fase
arteriolar, pode-se diagnosticar a isquemia mesen-
térica.
3.4. Obstrução intestinal
Um importante conceito, na análise da obstru-
ção intestinal, é a compreensão de que a maior parte
dos gases contidos no intestino é oriunda da deglutição,
e a progressão destes depende de um trânsito intesti-
nal livre. Desta forma, se algum segmento gastrintes-
tinal se encontra distendido, e o adjacente não contém
gás, é um bom sinal indicativo de obstrução.
Ocasionalmente, pode ocorrer o mesmo em pre-
sença de íleo adinâmico e isquemia intestinal, sendo
difícil a diferenciação entre tais entidades. É útil lem-
brar que o íleo adinâmico, em UTI, é muito mais co-
mum que a obstrução intestinal.
Tabela VI - Sinais radiológicos de isquemia intestinal
Radiografia simples
− Espessamento segmentar da parede intestinal e
impressões digitiformes, localizadas (thumb printing).
− Gás intramural e/ou no sistema venoso portal
(pneumatose).
− Gás livre intraperitoneal.
− Dilatação difusa dos intestinos delgado e grosso em
50% dos casos (padrão pseudo-obstrutivo)
(32)
.
Tomografia computadorizada
− Mesmos achados citados para a grafia simples.
− Espessura parietal > 3 mm, com ou sem reforço anelar.
− Hiperdensidade parietal na fase não contrastada
(usualmente > 20 UH) e hipodensidade e/ou
heteregeneidade pós-contraste.
− Liquído livre intraperitoneal.
527
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
pericolecístico, edema subseroso na ausência de as-
cite, gás intramural, distensão vesicular e bile hiper-
densa pela tomografia computadorizada.
3.6.2. Abcessos abdominais
Podem estar localizados
na parede abdominal, na cavi-
dade peritoneal, dentro de vís-
ceras sólidas ou no retroperitô-
neo. A maioria dos casos são
precedidos por cirurgia abdo-
minal, trauma, perfuração ou in-
fecção de estruturas abdomi-
nais.
A grafia simples poderá
demonstrar coleções gasosas
extraluminais deslocando alças
intestinais, elevação da cúpula
diafragmática (abcessos subdi-
afragmáticos), com redução de
sua excursão respiratória, mi-
metizando coleções líquidas
subpleurais.
À ultra-sonografia, um
abcesso pode assumir várias
configurações, sendo mais co-
mum uma coleção fluida sono-
lucente, com reforço acústico
posterior, paredes espessas e
irregulares, níveis líquido líqui-
do, septos ou debris no interior
e, eventualmente, reverbera-
ção, sugerindo gás. Abcessos
com ecos internos difusos po-
dem simular massas neoplási-
cas sólidas(34)
.
Na tomografia computa-
dorizada, os abcessos podem
se apresentar como coleções
com densidade de partes mo-
les (0 a 40 UH) que causam
efeito de massa ou se comuni-
cam através de fístulas com es-
truturas adjacentes, tendo pa-
redes espessadas e irregulares
que reforçam após a adminis-
tração de contraste EV. Gases
e debris podem também ser
identificados.
A acuracidade do método alcança 90% em algu-
mas séries(35)
, embora a distinção definitiva entre co-
leções estéreis e sépticas necessite de punção aspira-
tiva, guiada, através ou do ultra-som.(Figuras 7 e 8).
Figura 8 – Tomografia de abdome, demonstrando ascite volumosa, associada a
sinais de cirrose hepática.
Figura 7 – Tomografia contrastada evidenciando um abcesso hipodenso, com
reforço periférico no lobo hepático direito.
528
FR Lucchesi et al.
3.6.3 Pancreatite aguda
Compreende uma entidade cuja apresentação
clínica e radiológica pode assumir um espectro de
variação de acordo com a severidade da doença.
Ultra-sonograficamente, os achados podem ser
negativos nas formas brandas, embora se possa mos-
trar, nestes casos, o fator causal como coledocolitíase.
A forma focal pode apresentar áreas de aumento das
dimensões da glândula, hipo ou isoecóicas, sem mani-
festações extrapancreáticas.
Na pancreatite extensa, o pâncreas aparece
difusamente aumentado e hipoecogênico em relação
ao fígado, podendo estar associado à dilatação do ducto
pancreático e, eventualmente, com cálculos hipere-
cogênicos e com sombra acústica posterior.
A tomografia computadorizada é o método
radiológico de escolha para avaliação de pacientes
com pancreatite em qualquer situação pois confirma
o diagnóstico e quantifica o grau de acometimento da
glândula.
O aumento pancreático é a primeira alteração
detectável na tomografia, geralmente difuso, podendo
ser segmentar em 18% dos casos, comumente na re-
gião cefálica(36).
Nos casos mais graves, pode-se demonstrar in-
flamação do tecido peripancreático, espessamento da
fascia pancreática e reforço heterogêneo do parên-
quima, após administração de contraste EV. As áreas
necróticas assumem reforço menor que 50 UH(36)
, cuja
acuracidade de detecção varia de 80 a 90%(36)
.
A ruptura do ductos pancreáticos leva à for-
mação de coleções intra e extrapancreáticas, conten-
do sangue, enzimas pancreáticas e debris, podendo
estar adjacentes ao pâncreas, dispersas através do
peritônio, no interior de órgãos sólidos ou sítios dis-
tantes, como tórax, mediastino, pleura, pericárdio.
Coleções fluidas podem ser identificadas em
40 a 50% dos pacientes com pancreatite aguda, re-
solvendo espontaneamente em 50% dos casos(36,37)
.
Quando persistem, as coleções podem progredir para
formação de pseudocistos pancreáticos, que, even-
tualmente, podem se infectar, progredindo para um
abcesso ou apresentar sangramento. A distinção en-
tre coleções estéreis e infectadas pode ser feita com
base na demonstração de gás, no interior da coleção,
sendo um achado inespecífico que ocorre em 30 a
40% dos casos, embora o diagnóstico definitivo seja
feito apenas com base na aspiração do conteúdo da
coleção. (Figura 9) (Tabela VII).
Figura 9 – Tomografia pós-contraste, demonstrando um aumento difuso do pâncreas,
com áreas hipodensas por toda a glândula.
529
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
Tabela VII – Achados radiológicos e limitações dos métodos de imagem em processos inflamatórios abdominais
Ordem de
Importância
Achados freqüentes Limitações
–
Colecistite
Aguda
1) Ultra-sonografia
2) Tomografia
– Cálculo nas vias biliares, dila-
tação da vesícula biliar, espes-
samento parietal, coleções pe-
ricolecísticas, sinal de Murphy
Ecográfico
– Dilatacção vesicular, espessa-
mento parietal, coleções peri-
colecísticas e, eventualmente,
cálculos
Obesidade, distenção gasosa intesti-
nal
Não demonstra cálculos isodensos à
bile e o sinal de Murphy
Abcessos
Abdominais
1) Tomografia
2) Ultra-sonografia
3) Rx simples
– Coleções com densidade variá-
vel, contendo ou não gás, pa-
redes espessadas que refor-
çam após contraste EV
– Coleções sonoluscentes, de
paredes espessadas e irregula-
res, reforço acústico posterior,
níveis líquidos, debris, reverbe-
rações gasosas
– Coleções gasosas extra-intesti-
nais deslocando alças, eleva-
ção da cúpula diafragmática,
com redução da excursão res-
piratória
Necessita de contraste EV e VO
Obesidade, distensão gasosa intesti-
nal
Baixa sensibilidade e especificidade
Pancreatite
Aguda
1) Tomografia
2) Ultra-sonografia
3) Rx simples
– Aumento das dimensões do
pâncreas, inflamação peripan-
creática, reforço heterogêneo
do parênquima pós-contraste
EV, coleções fluidas
– Aumento focal ou difuso com
hipoecogenicidade do pân-
creas, coleções peripancreáti-
cas, coledocolitíase, dilatação
do ducto pancreático
– Dilatação de alça duodenal
(alça sentinela)
– Borrando da sombra do psoas
à esquerda
– Dilatação do cólon transverso,
com espasmo na região da flexu-
ra esplênica em 8% dos casos.
Necessita de contraste EV e VO
Obesidade, distensão gasosa intesti-
nal
Baixa sensibilidade e especificidade
530
FR Lucchesi et al.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - MACMAHON H & GIGER M. Portable chest radiography
techniques and teleradiology. Radiol Clin North Am 34:
1-20, 1996.
2 - MILLER WT. The radiologist in the Intensive Care Unit. Semin
Roentgenol 32: 86-88, 1997.
3 - MILLER WT. The chest radiography in the Intensive Care
Unit. Semin Roentgenol 32: 89-101, 1997.
4 - BROWN K & KALLMAN C. Imaging procedures. In: BOGARD
FS & SUE DY, eds. Current critical care diagnosis &
treatment, Appleton & Lange, Connecticut, p.245-293, 1994
5 - CASCADE PN & KAZEROONI EA. Aspectos da radiografia
de tórax na Unidade de Terapia Intensiva. Clín Ter Intensi-
va 10: 251-269, 1994.
6 - WINER-MURAM HT et al. Pneumonia and ARDS in patients
receiving mechanical ventilation: Diagnostic accuracy of
chest radiography. Radiology 188: 479-485, 1993.
7 - HENSCHKE CI et al. Accuracy and efficacy of chest radi-
ography in the Intensive Care Unit. Radiol Clin North Am
34: 21-31, 1996.
8 - LIPCHIK RJ & KUZO RS. Nosocomial pneumonia. Radiol
Clin North Am 34: 47-58, 1996.
9 - MILLER Jr WT. Thoracic computed tomography in the In-
tensive Care Unit. Semin Roentgenol 32:117-121, 1997.
10 - PERUZZI W & et al. Portable chest roentgenography
and computed tomography in critically Ill patients. Chest 93:
722-726, 1988.
11 - SHIFRIN RY & CHOPLIN RH. Aspiration in patients in critical
care units. Radiol Clin North Am 34: 83-96, 1996.
12 - LANDAY MJ & CHRISTENSEN EE & BYNUM LJ. Pulmonary
manifestation of acute aspiration of gastric contents. Am J
Roentgenol 131: 587-592, 1978.
13 - LORBER B & SWENSON RM. Bacteriology of aspiration
pneumonia. Ann Intern Med 81:329-331, 1974.
14 - DESAI SR & HANSELL DM. Lung imaging in the adult respi-
ratory distress syndrome: current practice and new insights.
Intensive Care Med 23: 7-15, 1997.
LUCCHESI FR et al. The role of radiology in Intensive Care Units. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 517-531,
oct./dec. 1998.
ABSTRACT: In this critical review, we analyze the role of radiology in Intensive Care Units,
discussing conventional radiology and other new imaging methods, such ultrasound and computed
tomography. We included in this work the most common diseases in Intensive Care Units, focusing
cardiopulmonary system and digest tract.
UNITERMS: Radiology. Thoracic Radiography. Radiography, Abdominal. Intensive Care Units.
15 - RAASCH BN & al. Pleural effusion: explanation of some
typical appearances. Am J Roentgenol 139: 99-904, 1982.
16 - RUSKIN JA & et al. Detection of pleural effusions on
supine chest radiographs. Am J Roentgenol 148: 681-683,
1987.
17 - WOODRING JH. Recognition of pleural effusion on supine
radiographs: How much fluid Is required? Am J Roentgenol
142: 59-64, 1984.
18 - COLLINS JD et al. Minimal detectable pleural effusions.
Radiology 105: 51-53, 1972.
19 - TOCINO I & WESTCOTT JL. Barotrauma. Radiol Clin North
Am 34: 59-81, 1996.
20 - TOCINO IM; MILLER MH & FAIRFAX WR. Distribution of
pneumothorax in the supine and semirecumbent critically Ill
adult. Am J Roentgenol 144: 901-905, 1985.
21 - GREENE R & McLOUD TC & STARK P. Pneumothorax.
Semin Roentgenol 12: 313-325, 1977
22 - WESTCOTT JL & ZITER FMH. Supine subpulmonary
Pneumothorax. Am J Roentgenol 137: 69-701, 1981.
23 - MOSKOWITZ PS & GRISCOM NT. The medial pneumothorax.
Radiology 120:143-147, 1976.
24 - GORDON R. The deep sulcus sign. Radiology 136: 25-27,
1980.
25 - TAPSON VF. Pulmonary embolism: The diagnostic reper-
toire. Chest 112: 578-580, 1997.
26 - ARONCHICK JM & MILLER WT. Tubes and lines in the in-
tensive care setting. Semin Roentgenol 32:102-116, 1997.
27 - MARKS WM et al. Intestinal pseudotumors. A problem in
computed tomography solved by direct techniques.
Gastrointest Radiol 5: 155-160,1980
28 - MEGIBOW AJ & ZERHOUNI EA. Techniques of
gastrintestinal computed tomography. In: MEGIBOW AJ &
BALTHAZAR EJ, eds Computed tomography of the
gastrintestinal tract. CV Mosby, St.Louis, p 1-32,1986.
29 - MILLER RE. The radiological evaluation of intraperitoneal
gas (pneumoperitonium). CRC Crit Rev Clin Radiol Nucl
Med 4: 61-85,1973.
531
O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva
30 - MENUCK L & SIMERS PP. Pneumoperitoneum: Importance
of right upper quadrant features. Am J Roentgenol 127:
753-756, 1976.
31 - MILLER WT. The abdomen in the Intensive Care Unit.
Seminars Roentgenol 32:122-127, 1997.
32 - TOMCHISK FS, WITTEMBERG J & OTTIGER LW.
Roentnographic spectrum of wel infarction. Radiology 96:
249-260, 1970.
33 - HÁ HK. CT in the early detection of strangulation in intestinal
obstruction. Semin Ultrasound CT MR 16:141-150, 1995.
34 - WINTER III & LAING FC. Hepatic ultrasound. In: MARGULIS
AR & BURHENNE HJ, eds. Alimentary tract radiology.
5th. Mosby, St. Louis, p. 1475-1476, 1994.
35 - SCHNEEKLOTH G; TERRIER F & FUCHS WA. Computed
tomography of intraperitoneal abcesses. Gastrointest
Radiol 7: 35-41,1982.
36 - BALTAZAR EI et al. Acute pancreatitis: Prognostic value
of CT. Radiology 156: 767-772, 1985.
37 - FREENE PC & ROTORMAN CA. Inflamatory disease
of the pancreas. In: FREENY PC & STEVENSON GW, eds.
Alimentary tract radiology, Mosby, St. Louis, p.1052-1090,
1993.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
1 - FEDERLE MP & JEFFREY RB. Hemoperitoneum studied by
computed tomography, Radioloy 148:187-192, 1983.
2 - INDECK M. et al. Risk and benefit of transporting ICU
patient for special studies. J Trauma 28:1020-1025, 1988.
3 - NOVELLINE RA. Abdomen: Nontraumatic emergencies. In:
HARRIS JH, eds. The Radiology of emergency medi-
cine, 3thed, Williams & Wilkins, Baltimore, p.819-895, 1993.
Recebido para publicação em 04/03/98
Aprovado para publicação em 07/10/98

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Radiologia na UTI

O racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOC
O racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOCO racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOC
O racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOCCristiano Marta Figueiredo
 
Importância clínica rx no diag de cc
Importância clínica rx no diag de ccImportância clínica rx no diag de cc
Importância clínica rx no diag de ccgisa_legal
 
Diagnóstico por imagem do punho na síndrome
Diagnóstico por imagem do punho na síndromeDiagnóstico por imagem do punho na síndrome
Diagnóstico por imagem do punho na síndromeadrianomedico
 
Técnica radiológica médica básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007
Técnica radiológica médica   básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007Técnica radiológica médica   básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007
Técnica radiológica médica básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007cezarlima35
 
01 liv rx princ term p rad 01a 62
01  liv rx princ term p rad  01a 6201  liv rx princ term p rad  01a 62
01 liv rx princ term p rad 01a 62Luanapqt
 
Semiologia radiologica-estudantes-medicina
Semiologia radiologica-estudantes-medicinaSemiologia radiologica-estudantes-medicina
Semiologia radiologica-estudantes-medicinaKarlinhos Talita
 
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdfAdm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdfMeryslandeMoreira1
 
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdfAdm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdfMeryslandeMoreira1
 
Medicina Nuclear
Medicina NuclearMedicina Nuclear
Medicina Nuclearlilitha
 
Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...
Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...
Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...Alex Eduardo Ribeiro
 
2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...
2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...
2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...Nádia Elizabeth Barbosa Villas Bôas
 
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...jacquesveronica5d
 
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009Urovideo.org
 
Radioterapia no Cancro da Próstata
Radioterapia no Cancro da PróstataRadioterapia no Cancro da Próstata
Radioterapia no Cancro da PróstataRui P Rodrigues
 
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010Urovideo.org
 

Semelhante a Radiologia na UTI (20)

O racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOC
O racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOCO racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOC
O racíocinio clínico a propósto de um caso de DPOC
 
Importância clínica rx no diag de cc
Importância clínica rx no diag de ccImportância clínica rx no diag de cc
Importância clínica rx no diag de cc
 
Diagnóstico por imagem do punho na síndrome
Diagnóstico por imagem do punho na síndromeDiagnóstico por imagem do punho na síndrome
Diagnóstico por imagem do punho na síndrome
 
Técnica radiológica médica básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007
Técnica radiológica médica   básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007Técnica radiológica médica   básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007
Técnica radiológica médica básica e avançada - luiz fernando boisson- 2007
 
Questões comentadas - Técnico em Radiologia EMSERH
Questões comentadas - Técnico em Radiologia EMSERHQuestões comentadas - Técnico em Radiologia EMSERH
Questões comentadas - Técnico em Radiologia EMSERH
 
Prevencao.de.reacoes.adversas
Prevencao.de.reacoes.adversasPrevencao.de.reacoes.adversas
Prevencao.de.reacoes.adversas
 
01 liv rx princ term p rad 01a 62
01  liv rx princ term p rad  01a 6201  liv rx princ term p rad  01a 62
01 liv rx princ term p rad 01a 62
 
Semiologia radiologica-estudantes-medicina
Semiologia radiologica-estudantes-medicinaSemiologia radiologica-estudantes-medicina
Semiologia radiologica-estudantes-medicina
 
Semiologia radiologica-estudantes-medicina
Semiologia radiologica-estudantes-medicinaSemiologia radiologica-estudantes-medicina
Semiologia radiologica-estudantes-medicina
 
Artigo - Novas Tecnologias de Imagem na Odontologia
Artigo - Novas Tecnologias de Imagem na OdontologiaArtigo - Novas Tecnologias de Imagem na Odontologia
Artigo - Novas Tecnologias de Imagem na Odontologia
 
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdfAdm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
 
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdfAdm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
Adm. de Laboratório e Formação da Imagem - unipro.pdf
 
Abd agudo. radiologico pdf
Abd agudo. radiologico pdfAbd agudo. radiologico pdf
Abd agudo. radiologico pdf
 
Medicina Nuclear
Medicina NuclearMedicina Nuclear
Medicina Nuclear
 
Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...
Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...
Utilização da Tomografia Computadorizada no Planejamento de Colocação de Impl...
 
2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...
2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...
2009 espectroscopia cerebral em candidatos a transplante hepático gustavo jus...
 
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
 
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2009
 
Radioterapia no Cancro da Próstata
Radioterapia no Cancro da PróstataRadioterapia no Cancro da Próstata
Radioterapia no Cancro da Próstata
 
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010
Linfadenectomia Retroperitoneal Laparoscópica - 2010
 

Mais de CURSO TÉCNICO CEPRAMED (17)

AV ANA PRATICA CRANIO.pdf
AV ANA PRATICA CRANIO.pdfAV ANA PRATICA CRANIO.pdf
AV ANA PRATICA CRANIO.pdf
 
1. INTROD CONTRASTE.pptx
1. INTROD CONTRASTE.pptx1. INTROD CONTRASTE.pptx
1. INTROD CONTRASTE.pptx
 
2. Meios de contraste.pptx
2. Meios de contraste.pptx2. Meios de contraste.pptx
2. Meios de contraste.pptx
 
3. Meios de contraste.pptx
3. Meios de contraste.pptx3. Meios de contraste.pptx
3. Meios de contraste.pptx
 
4. Meios de contraste.pptx
4. Meios de contraste.pptx4. Meios de contraste.pptx
4. Meios de contraste.pptx
 
6 MEIOS DE CONTRASTE.pptx
6 MEIOS DE CONTRASTE.pptx6 MEIOS DE CONTRASTE.pptx
6 MEIOS DE CONTRASTE.pptx
 
5MEIOS DE CONTRASTE.pptx
5MEIOS DE CONTRASTE.pptx5MEIOS DE CONTRASTE.pptx
5MEIOS DE CONTRASTE.pptx
 
2 BIOSSEGURANÇA.pptx
2 BIOSSEGURANÇA.pptx2 BIOSSEGURANÇA.pptx
2 BIOSSEGURANÇA.pptx
 
1 BIOSSEGURANÇA.pptx
1 BIOSSEGURANÇA.pptx1 BIOSSEGURANÇA.pptx
1 BIOSSEGURANÇA.pptx
 
Anatomia crânio e face 2016
Anatomia crânio e face 2016Anatomia crânio e face 2016
Anatomia crânio e face 2016
 
Anatomia c vertebral 2016
Anatomia c vertebral   2016Anatomia c vertebral   2016
Anatomia c vertebral 2016
 
Anatomia dos membros superior e inferior 2016
Anatomia dos  membros superior e inferior 2016Anatomia dos  membros superior e inferior 2016
Anatomia dos membros superior e inferior 2016
 
1 anatomia generalidades 2017
1 anatomia generalidades 20171 anatomia generalidades 2017
1 anatomia generalidades 2017
 
Admistração em radiologia 2017
Admistração em radiologia 2017Admistração em radiologia 2017
Admistração em radiologia 2017
 
Princípios de biossegurança 2017 - GRUPO IRRADIAR
Princípios de biossegurança 2017 - GRUPO IRRADIARPrincípios de biossegurança 2017 - GRUPO IRRADIAR
Princípios de biossegurança 2017 - GRUPO IRRADIAR
 
Principios de primeiros socorros 2017- GRUPO IRRADIAR
Principios de primeiros socorros 2017- GRUPO IRRADIARPrincipios de primeiros socorros 2017- GRUPO IRRADIAR
Principios de primeiros socorros 2017- GRUPO IRRADIAR
 
FÍSICA RADIOLÓGICA 2016- GRUPO IRRADIAR
FÍSICA RADIOLÓGICA 2016- GRUPO IRRADIARFÍSICA RADIOLÓGICA 2016- GRUPO IRRADIAR
FÍSICA RADIOLÓGICA 2016- GRUPO IRRADIAR
 

Radiologia na UTI

  • 1. O PAPEL DA RADIOLOGIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA THE ROLE OF RADIOLOGY IN INTENSIVE CARE UNITS Fabiano R. Lucchesi1 : Gilberto Taketani1 : Jorge Elias Jr2 & Clóvis S. Trad2 1 Médico Residente. 2 Docente do Centro de Ciências das Imagem e Física Médica. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. CORRESPONDÊNCIA: Av. Bandeirantes, 3900 - Campus Universitário, Ribeirão Preto-São Paulo. Email: cstrad@fmrp.usp.br. LUCCHESI FR et al. O papel da radiologia na Unidade de Terapia Intensiva. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 517-531, out./dez. 1998. RESUMO: O presente trabalho tem o intuito de abranger da forma mais ampla possível, os diferentes meios diagnósticos disponíveis atualmente para a avaliação de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva ( UTI ). Desta forma, alguns conceitos radiológicos essenciais para a interpre- tação e correta solicitação de exames serão abordados com um enfoque prático e objetivo. UNITERMOS: Radiologia. Radiografia Torácica. Radiografia Abdominal. Unidades de Tera- pia Intensiva. 517 1. INTRODUÇÃO A crescente incorporação da tecnologia nos di- versos segmentos da medicina, particularmente na ra- diologia, vem contribuindo para um diagnóstico cada vez mais precoce e acurado das diferentes patologias, trazendo imensuráveis benefícios aos pacientes. Cer- tamente, em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a precocidade no diagnóstico e na detecção de possí- veis complicações influencia, decisivamente, a con- duta terapêutica e, em última análise, o prognóstico do paciente. O presente artigo abordará o atual papel dos diferentes métodos de diagnóstico por imagem nas patologias mais freqüentes em UTIs; e, em virtu- de da abrangência do assunto, descreveremos, opor- tunamente, os aspectos radiológicos em UTIs pediá- tricas e aqueles ligados ao trauma. Avaliaremos, se- qüencialmente, o aparelho cardiovascular pulmonar e digestivo, enfocando, principalmente, as apresentações radiológicas típicas, sem descrições pormenorizadas dos aspectos clínicos, os quais serão analisados nos demais capítulos. 2. APARELHOS CARDIOVASCULAR E PULMONAR A análise radiológica do aparelho cardiovascu- lar basicamente é feita através da radiografia de tó- rax no leito, com aparelho portátil, em incidência an- teroposterior e com o paciente em decúbito dorsal. Desta forma, a qualidade da imagem é inferior em relação àquela obtida no departamento de radiologia, em virtude da menor distância foco filme e posição supina, das características técnicas dos aparelhos móveis, da não utilização de grades de filtragem e, também, de possíveis imperfeições no processo de revelação do filme. Eventualmente, para melhor elu- cidação diagnóstica, utilizam-se incidências laterais. A radiografia digital, de utilização mais recente, pos- sibilita, pela conversão de imagens analógicas em di- gitais, que estas sejam armazenadas e posteriormente manipuladas, melhorando suas características diagnós- ticas, tais como grau de exposição, brilho e contraste, reduzindo a repetição de exames e irradiação desne- cessária dos pacientes. Também permite a reprodu- Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: MEDICINA INTENSIVA: II. TÓPICOS SELECIONADOS 31: 517-531, out./dez. 1998 Capítulo III
  • 2. 518 FR Lucchesi et al. ção das grafias sempre que desejável e, principalmen- te, a transmissão, à distância, das informações, tecno- logia esta conhecida como telerradiologia, com aces- so rápido das imagens e laudos por todo o ambiente hospitalar, em especial as UTIs(1,2) . (Tabela I) 2.1.Atelectasia Condição muito fre- qüente em UTI, resultante, geralmente, de hipoventilação pulmonar, anestesias prolonga- das, posição supina, secreções pulmonares, pós-operatório e do mal posicionamento de câ- nulas endotraqueais. Acome- te, preferencialmente, o lobo inferior esquerdo (66%), se- guido dos lobos inferior (22%) e superior (11%) direitos. O di- agnóstico radiológico diferen- cial deve ser feito com outras causas de consolidação pul- monar, como pneumonia, he- morragia, infarto pulmonar, devendo-se valorizar a evolu- ção temporal dos achados, uma vez que as mudanças na atelectasia ocorrem em horas e as demais, em dias. A apre- Figura 1 - Extremidade distal da cânula orotraqueal ao nível do brônquio fonte direito, associado a opacificação do pulmão esquerdo, compatível com atelectasia. sentação radiológica é variável, desde uma radiogra- fia normal, ou com os clássicos sinais de desvio ipsilateral das cissuras, do mediastino, dos arcos costais e das estruturas broncovasculares e elevação do he- midiafragma. Outros sinais indicativos de atelectasia são a presença de velamentos lineares ou discóides, associados ou não a broncograma aéreo ou até con- solidação lobar. Quando a atelectasia cursa com au- sência de broncograma aéreo, sugere a presença de obstrução da luz brônquica, possivelmente secundária à rolha de secreção, orientando, desta forma, a con- duta terapêutica(3,4,5) . (Figura 1) 2.2. Pneumonia A pneumonia hospitalar apresenta uma incidên- cia em torno de 8% a 12% em UTIs clínicas e cirúrgi- cas, atingindo uma taxa de até 60% nos pacientes com síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA) e uma mortalidade variando entre 13% a 55%. Em am- bientes de UTIs, predominam, como agentes etiológi- cos, as bactérias aeróbicas gram-negativas (Pseudo- monas, Enterobacter, Klebsiella, Proteus, Acineto- bacter, Serratia, Haemophilus), o Staphylococcus aureus e a Candida. Na grande maioria das vezes, há uma prévia colonização da orofaringe, bem como do estômago, principalmente quando existirem níveis Tabela I – Radiologia Convencional X Digital em UTI Desvantagens da Radiologia Convencional em UTI − Posição supina e menor distância foco filme→ amplia- ção do mediastino e coração, menores volumes pulmonares e análise prejudicada da trama pulmonar. − Uso de aparelhos móveis→ exposições prolongadas, possibilitando artefatos de movimento. − Não utilização de grades de filtragem→ aumento da radiação espalhada. − Erros no processo de revelação→ degradação da qualidade final da imagem. Vantagens da Radiologia Digital em UTI − Redução significativa da repetição de exames, dimi- nuindo exposição à radiação. − Possibilidade de pós-processamento das imagens em diferentes formatos, melhorando a qualidade das ima- gens e capacidade diagnóstica. − Capacidade de armazenamento e transmissão das imagens.
  • 3. 519 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva mais elevados de pH gástrico, antes do desenvolvimento do quadro pneumônico. Os parâ- metros utilizados para o diag- nóstico da pneumonia são a presença de febre, leucocito- se, leucopenia, isolamento mi- crobiológico do agente em se- creção traqueal e velamento na radiografia após setenta e duas (72) horas de internação. É importante ressaltar que es- tes critérios não são específi- cos da pneumonia, podendo ocorrer em outras condições clínicas. O diagnóstico radio- lógico baseia-se no apareci- mento de velamento segmen- tar lobar ou difuso, do tipo alveolar, ou seja, com bordas mal definidas, com broncogra- ma aéreo e sinal da silhue- ta(3,4,5) (Figura 2, Tabela II). O diagnóstico diferencial deve ser feito com atelectasia, hemorragia, infarto, contu- são, derrame pleural, edema e SARA, sendo que esta última patologia dificulta sobremaneira o diagnóstico de pneumonia(6) (Tabela III). Infelizmente, a especificidade da radiografia de tórax para detecção de pneumonia é baixa, variando de 27% a 35%, mesmo considerando-se os dados clí- nicos e as radiografias anteriores. A presença de ca- vitação é sugestiva de pneumonia. O velamento devi- do ao processo pneumônico costuma aparecer mais tardiamente e resolver-se mais lentamente que a as- piração pulmonar e a atelectasia. Um velamento que tenha surgido em horas é sugestivo de atelectasia, en- quanto o aparecimento súbito de qualquer novo velamento deve levantar a suspeita de aspiração. Em geral, mesmo com adequada terapêutica an- tibiótica, o padrão radiológico não se altera de forma importante em quarenta e oito (48) horas, sendo con- siderado tratamento ineficiente, quando não houver melhora radiológica em quatorze (14) dias. As mu- danças das condições clínicas, geralmente, precedem as alterações radiológicas(7,8). A tomografia compu- tadorizada, com sua capacidade de detectar altera- ções no parênquima pulmonar, derrame pleural, bem como alterações nas demais estruturas torácicas, tem papel coadjuvante à radiografia de tórax na detecção Figura 2 - Velamento de padrão alveolar, na base pulmonar direita, e infrailar es- querdo. Pneumonia bilateral. Tabela II – Características Radiológicas do Ve- lamento de padrão alveolar − Margens mal definidas − Distribuição lobar ou segmentar − Broncograma aéreo − Coalescente − Tempo de resolução rápido Tabela III - Diagnóstico diferencial e radiológico de pneumonia Contusão TEP Atelectasia Hemorragia Infarto pulmonar Derrame pleural Edema SARA de pneumonia e suas eventuais complicações(9,10) . Entretanto, nem sempre é possível sua utilização em pacientes mantidos em UTIs, em função do estado clínico deteriorado do enfermo, apesar da melhora atual da segurança no transporte de pacientes graves.
  • 4. 520 FR Lucchesi et al. 2.3 Pneumonia Aspirativa A ocorrência de aspiração em UTIs é bas- tante freqüente e as condições que favorecem a aspi- ração são o rebaixamento do nível de consciência, dis- túrbios neuromusculares e alterações estruturais no tubo digestivo. Classicamente, dividem-se a aspiração e suas conseqüências em: aspiração do conteúdo gás- trico, infecções pleuropulmonares, decorrentes da as- piração e obstrução aguda das vias aéreas. 2.3.1 Aspiração do conteúdo gástrico A lesão pulmonar tem relação direta com o volume do conteúdo gástrico aspirado e é mais signi- ficativa quando o pH deste for < 2,5. Não há altera- ções radiológicas características, identificando-se des- de radiografias normais até velamentos nodulares ou confluentes, geralmente multilobares, bilaterais, pre- dominando o acometimento dos segmentos superio- res dos lobos inferiores e segmentos posteriores dos lobos superiores, em pacientes em decúbito dorsal. O aspirado gástrico também poderá desencadear ede- ma pulmonar não cardiogênico. 2.3.2 Complicações infecciosas Na pneumonia aspirativa comunitária há um predomínio das bactérias anaeróbicas como agentes etiológicos (Bacteriodes fragilis, Fusobacterium nucleatum, Peptostreptococcus spp) e das bactérias aeróbicas nas pneumonias nosocomiais, refletindo a colonização da orofaringe (Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus, bacilos gram-negativos). 2.3.3 Obstrução das vias aéreas As alterações radiológicas dependerão do nível da obstrução na árvore traqueobrônquica, podendo ser normal ou mostrar hiperinsuflação unilateral, atelec- tasia e desvio do mediastino(11,12,13) . 2.4. Edema Pulmonar Havendo um aumento da pressão hidrostática ao nível dos capilares pulmonares, decorrente do es- tado de hiperhidratação ou do aumento da pressão diastólica final do ventrículo esquerdo (Pd2 VE), ocor- rerá um extravasamento de líquido, inicialmente, para o interstício e, depois, para o alvéolo. Como os pacien- tes em UTIs estão geralmente em posição supina, a redistribuição da trama vascular pulmonar, resultante do aumento da Pd2 VE não é identificada. As altera- ções radiológicas do edema intersticial compreendem as linhas septais de Kerley e borramento da trama vascular pulmonar. Com o extravasamento de líquido atingindoosalvéolos,nota-sevelamentodotipoflocoso, coalescente, de limites mal definidos, periilar, com as- pecto em “asa de borboleta” e presença de bronco- grama aéreo. Geralmente, é bilateral e simétrico, as- sociado a área cardíaca aumentada, apresentando iní- cio e resolução rápida, diferenciando-o da pneumonia e da Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto(3,4,5) . (Figura 3) 2.5 Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto O diagnóstico da Síndrome da Angústia Respi- ratória do Adulto (SARA) é baseado em critérios clí- nicos, gasométricos, hemodinâmicos e radiológicos. Apresenta-se como dispnéia pronunciada, com com- placência pulmonar diminuída, hipoxemia refratária e pressão capilar pulmonar < 18mmHg. Em termos fisiopatológicos e radiologicamente, distinguem-se três fases: Estágio I (0 –24h) Figura 3 – Edema pulmonar cardiogênico. Aumento da área cardíaca, associado a velamento de padrão radio- lógico alveolar, com distribuição periilar, mais acentua- do à direita.
  • 5. 521 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva Trata-se da fase exsudativa inicial, com discre- to extravasamento de líquido para o interstício, tradu- zindo-se por uma radiografia de tórax normal ou com aparecimento de linhas septais. Estágio II (24-36h) Nesta fase, aumenta o extravasamento de lí- quido para o interstício e para o alvéolo, manifestan- do-se por opacificação alveolar, de limites mal defini- dos, localizados, inicialmente, nas porções mais peri- féricas dos pulmões, progredindo para o envolvimen- to difuso dos campos pulmonares. A presença de bron- cograma aéreo, ausência de cardiomegalia e alarga- mento do pedículo vascular ajudam a diferenciá-la do edema pulmonar cardiogênico. Geralmente, após trinta e seis (36) horas, os achados radiológicos mantêm-se inalterados, sendo que qualquer mudança pode indi- car processo infeccioso associado. Estágio III (± 72h) Caracteriza-se pelo processo de reparação pul- monar, com resolução do quadro alveolar, evidencian- do-se velamento de padrão reticular. Dentre as complicações mais freqüentemente associadas estão a pneumonia e o barotrauma, este último podendo se manifestar sob a forma de enfisema intersticial, enfisema subcutâneo, cistos subpleurais, pneumotórax, pneumomediastino, pneumoperitôneo e pneumorretroperitôneo(14) . A tomografia computadorizada de tórax é im- portante na identificação de complicações não diag- nosticadas na radiografia convencional, especialmen- teabscessos,enfisemas,doençasmediastinaisena quan- tificação do acometimento pulmonar(9,10) . (Tabela IV) 2.6 Derrame Pleural Na posição em decúbito dorsal, em função da gravidade, o líquido ficará localizado, preferencialmen- te, nas porções posteriores do ápice e base do hemi- tórax, traduzindo-se, radiologicamente, como um au- mento homogêneo da densidade do hemitórax envol- vido, mantendo-se a visualização dos vasos pulmona- res, ausência de broncogramas aéreos, sem desvio do hilo e mediastino, a não ser quando volumoso, perda do contorno normal do hemidiafragma, obliteração do seio costofrênico (sinal do menisco) e do ápice pul- monar, e alargamento da cissura menor(3,4,5,15) . Ruskin et al.(16) descrevem uma sensibilidade de 67% e especificidade de 70% para a radiografia de tórax na posição supina, para detecção de derra- me pleural. Sendo assim, uma radiografia de tórax, na posição supina, não exclui a presença de derrame pleural. O diagnóstico dos derrames pleurais peque- nos e simétricos é difícil, sendo importante a contri- buição do ultra-som e da tomografia computadorizada. Woodring e Collins et al.(17,18) relatam que, provavel- mente, um derrame pleural não seja diagnosticado nas grafias em posição supina, quando tiver um volume menor do que 175 ml. A radiografia de tórax não tem a capacidade de distinguir entre exsudato, transudato, empiema e hemorragia, o que pode ser melhor avalia- do através da tomografia computadorizada. O derra- me pleural poderá estar loculado, geralmente corres- pondendo a um exsudato (neoplasia, sangue ou empiema), não se alterando nas grafias, em diferen- tes projeções. O diagnóstico diferencial deverá ser feito entre atelectasia e outros processos pulmonares que promovam consolidação. *Avaliação prejudicada em decúbito dorsal. Tabela IV - Características radiológicas das principais causas de edema pulmonar Cardiogênico Renal Síndrome Angústia Respiratória Adulto Área cardíaca Derrame pleural Broncograma áerea Distribuição do edema Distribuição do fluxo sanguíneo* Pedículo vascular* Aumentada Comum Incomum Central/periférico Invertido Normal ou aumentado Aumentada Comum Incomum Central/periférico Balanceado Aumentado Normal Incomum Comum Periférico Normal ou balanceado Normal ou reduzido
  • 6. 522 FR Lucchesi et al. 2.7 Pneumotórax Trata-se de uma das entidades mais freqüente- mente encontradas em UTIs, seja em virtude da larga utilização da ventilação mecânica, ou devido a proce- dimentos diagnósticos ou terapêuticos ou resultantes das patologias presentes em pacientes gravemente enfermos. Estima-se que a incidência de pneumotórax, em pacientes sob ventilação mecânica, varie entre 4% a 15%, sendo que cerca de 60% a 96% podem, rapida- mente, tornar-se hipertensivos. Radiologicamente, o pneumotórax é identificado como separação das pleu- ras parietal e visceral, associada a ausência de vascu- latura entre os folhetos pleurais, sendo melhor visuali- zado na grafia em expiração. Em função da posição supina e da gravidade, o ar, preferencialmente, coleta- se nas regiões anteromedial e subpulmonar e, quando mais volumoso, também na região látero-apical. Iden- tifica-se a localização anteromedial pelo adequado de- lineamento das estruturas mediastinais, tais como as veias cava superior e ázigo, veias pulmonares superi- ores, artéria subclávia esquerda, veia cava inferior e contornos cardíacos. Observa-se, na localização sub- pulmonar, aumento da radiotransparência dos quadran- tes superiores do abdome, seio costofrênico mais pro- fundo e hipertransparente, adequada visualização do diafragma ipsilateral e margem inferior do pulmão. Em presença de perda de volume do lobo inferior, o ar poderá coletar-se na região posteromedial, delineando as estruturas do mediastino posterior, como a aorta descendente, seios costovertebrais e linha paraespi- nhal(19/,24). Tanto a perda de volume pulmonar quanto o desvio do mediastino podem ocorrer no pneumotórax simples e no hipertensivo, sendo que, neste último, no- tam-se as repercussões clínicas dos distúrbios respi- ratórios e hemodinâmicos. Radiologicamente, identi- fica-se deslocamento inferior ou inversão do diafrag- ma e alteração do contorno do coração e dos vasos. Pneumotórax de pequeno volume pode passar despercebido à radiologia convencional, sendo diag- nosticado na tomografia computadorizada. 2.8 Tromboembolismo Pulmonar O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma condição bastante freqüente num ambiente de UTI, uma vez que estes pacientes possuem vários fatores de risco com relação à clássica tríade de Virchow (injúria vascular, estase sangüínea e estados de hi- percoagulabilidade). Infelizmente, tanto os dados clí- nicos quanto os radiológicos são bastante inespecíficos e de baixa sensibilidade. A radiografia de tórax tem importância no sentido de identificar eventuais diag- nósticos diferenciais, a saber, pneumonia, pneumotó- rax, edema pulmonar. Dentre os achados radiográficos estão o derrame pleural (50,9%), diminuição focal da trama vascular pulmonar (Sinal deWestermark – 15%), elevação do diafragma, atelectasia, dilatação da arté- ria pulmonar e consolidação. Cerca de 10% a 15% dos TEP promovem infarto pulmonar, sendo mais co- muns em lobos inferiores, apresentando-se como opa- cificação adjacente a pleura, ocasionalmente no for- mato piramidal, com ponta para o hilo (Sinal de Hampton), aparecendo entre doze (12) a vinte e qua- tro (24) horas do início dos sintomas. (Figura 4). Num período de três (03) semanas, pode resolver-se com- pletamente ou deixar espessamento pleural e traves fibróticas(4,5,25) . Figura 4 – Tromboembolismo pulmonar, confirmado pelo estudo de ventilação e perfusão. Velamento alveo- lar com base voltada para margem lateral do gradeado costal direito.
  • 7. 523 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva Outras modalidades diagnósticas são ventilação e perfusão com material radioativo, angiografia pul- monar, tomografia computadorizada espiral e, mais re- centemente, a ressonância nuclear magnética. Os re- sultados do estudo com ventilação/perfusão devem ser correlacionados com os dados clínicos dos pacientes, uma vez que um resultado anormal não necessaria- mente confirma a suspeita clínica de tromboembolis- mo pulmonar. 2.9 Dispositivos 2.9.1 Sonda Endotraqueal Relata-se que, em cerca de 12% a 15% dos pacientes, há um mau posicionamento da sonda endo- traqueal, sendo este detectado, ao exame físico, em apenas 3% dos casos. A posição ideal da extremida- de distal da sonda com a cabeça em posição neutra é de 5 a 7cm acima da carina, já que a sonda poderá migrar cerca de 2cm para cima ou para baixo, com o movimento de flexão e de extensão da cabeça. Quando houver dificuldade em localizar a carina na radiogra- fia de leito, é prudente deixar a extremidade distal do tubo ao nível do corpo vertebral T2 – T4, uma vez que, em 90% dos casos, a carina está entre T5 e T7, na radiografia de leito. Em função da angulação do brônquio fonte direito, este freqüentemente é entubado seletivamente, promovendo hiperinsuflação do pulmão direito e atelectasia do esquerdo. Além da entubação seletiva, eventualmente, poderá ocorrer entubação do esôfago. Naqueles pacientes onde se prolonga o período de ventilação mecânica, indica-se a traque- ostomia, sendo que a cânula deverá ser colocada ao nível de T3, a cerca de 2/3 da distância entre o estoma traqueal e a carina. Apresentam-se, como possíveis complicações, o pneumotórax, pneumomediastino, enfisema subcutâneo, hemorragia, mau posicionamen- to, estenose traqueal, fístula traqueoesofágica e in- fecção da ferida. 2.9.2 Cateter venoso central A extremidade distal do cateter deverá estar localizada entre o átrio direito e as valvas venosas mais proximais, que estão localizadas nas veias subclávias e na jugular interna, cerca de 2,5cm do ponto onde estes vasos se juntam para formar a veia braquioce- fálica. A última valva na veia subclávia está situada ao nível do primeiro arco costal anterior.Assim, a ponta do cateter deverá estar localizada medialmente à por- ção anterior do primeiro arco costal. Não se deve dei- xar a ponta do cateter no átrio ou ventrículo direito, em função da possibilidade de arritmias, perfuração e tamponamento cardíaco. Outras complicações são o pneumotórax (1% a 12%), hemotórax, hemorragia mediastinal, embolia gasosa e fratura do cateter. 2.9.3 Sonda nasogástrica A ponta deve estar localizada cerca de 10cm além da junção gastroesofágica, para que o último ori- fício lateral fique localizado dentro do estômago, pre- venindo a infusão da dieta no esôfago e posterior aspi- ração pulmonar. A correta verificação do posiciona- mento da sonda é importante para excluir a eventual colocação em vias aéreas e conseqüente infusão da dieta na árvore traqueobrônquica. 2.9.4 Cateter de Swan Ganz A ponta do cateter não deve estar além da por- ção proximal das artérias pulmonares interlobares, pois, quando localizada mais distalmente, aumenta a chance de infarto pulmonar. As possíveis complicações que devem ser investigadas radiologicamente incluem o infarto pulmonar, perfuração, pneumotórax, enovela- mento do cateter, mal posicionamento, ruptura da ar- téria pulmonar. (Figura 5) 2.9.5 Balão intra aórtico O correto posicionamento da ponta do balão deve ser distal à origem da artéria subclávia esquerda, ao nível do botão aórtico, evitando oclusão das artéri- as carótidas, subclávias e renais. As complicações in- cluem embolia cerebral, dissecção aórtica, oclusão de vasos emergentes da aorta e ruptura do balão. 2.9.6 Marcapasso A ponta do fio de marcapasso deve localizar- se na ponta do ventrículo direito, pelo menos 3mm aprofundada na gordura epicárdica, na grafia em per- fil. A importância da radiologia é na detecção de com- plicações, como mau posicionamento, fratura do fio, perfuração miocárdica e tamponamento cardíaco. 2.9.7 Dreno torácico O estudo radiológico é importante para deter- minação do posicionamento, sendo também ne- cessário à obtenção de grafia em perfil, para deter- minar se os tubos de drenagem estão bem localizados em relação à coleção. Quando houver loculação, a drenagem também poderá ser guiada pelo ultra-som ou tomografia computadorizada. As complicações mais importantes são o inadequado posicionamento, perfu- ração pulmonar e fístula broncopleural (4,5,26) .
  • 8. 524 FR Lucchesi et al. 3.1 Pneumoperitônio O acúmulo de gás, na cavidade peritoneal, é freqüen- temente encontrado no pós- operatório de cirurgia abdomi- nal recente, diálise peritoneal, laparoscopia ou outros proce- dimentosinvasivosabdominais, além de perfuração de vísce- ras ocas intraperitoneais, infec- ção, pneumatose intestinal, e, raramente, secundário a pneu- momediastino. A duração do pneumo- peritônio pós-operatório, de- monstrável radiologicamente, está relacionada à quantidade de gás presente imediatamen- te após o procedimento res- ponsável por este, sendo rea- bsorvido, em média, em qua- tro (4) a cinco (5) dias. Após este período, deve-se suspeitar da possibilidade de deiscência anastomótica de vísceras ocas ou outras causas predisponentes. Em 90% dos pacientes com pneumoperitônio espontâneo, há condição abdominal aguda que requer intervenção cirúrgica(29). Para a detecção de pneumoperitônio, em paci- entes de UTI, freqüentemente é impossível a realiza- ção de grafias em posição ortostática, sendo neces- sária a avaliação em decúbito dorsal, o que permite demonstrar o pneumoperitônio em 50% das vezes(30) . Havendo dúvida na incidência em decúbito dorsal, é possível verificar na radiografia feita em decúbito la- teral esquerdo, com raios horizontais, após dez (10) minutos nesta posição, gás acumulado entre a parede abdominal e a borda lateral direita do fígado. O sinal radiológico mais conhecido de pneumo- peritônio, em grafias em decúbito, é a demonstração de gás em ambos os lados da parede intestinal (sinal de Rigler), ocasionalmente formando coleções de gás extraluminais, triangulares, entre as alças adjacentes (Figura 6). Outros sinais radiológicos são a visualiza- ção do ligamento falciforme, como uma faixa radiopaca no quadrante superior direito, quando o gás se acu- mula ao redor deste e a visualização das pregas umbi- licais mediais, na pelve, em forma de “V” invertido. Existindo uma grande quantidade de gás, poder-se-á Figura 5 – Rx de tórax, revelando adequado posicionamento do cateter de Swan Ganz, que se encontra na porção proximal da artéria interlobar esquerda. 3. ABDOME EM UTI O estudo radiológico do abdome, em ambiente de UTI, baseia-se na utilização do ultra-som, da to- mografia computadorizada e da radiografia simples, sendo a seqüência de investigação empregada depen- dente da patologia apresentada e das limitações diag- nósticas de cada método de imagem. Em virtude da gravidade clínica dos pacientes e das dificuldades de locomoção, os benefícios da tomografia com- putadorizada devem ser avaliados em relação aos ris- cos do transporte de pacientes graves até a sala de exames. Para otimização das informações fornecidas pela tomografia computadorizada dedica-se cuidado- sa atenção à técnica empregada no exame, devendo o intestino delgado estar uniformemente opacificado e distendido pela administração rotineira prévia de contraste iodado oral a 2 ou 3%, para adequada ava- liação da espessura da parede intestinal, evitando-se falsas interpretações de abscessos, massa ou linfade- nopatia(27,28) . Para pacientes gravemente debilitados, com his- tória prévia de reação moderada ou intensa ao meio de contraste, doença cardíaca significante, asma, dia- betes ou alergia a outros medicamentos, indica-se o uso de meios de contraste não iônicos, pela sua me- nor incidência de reações alérgicas.
  • 9. 525 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva A tomografia computadorizada é capaz de de- monstrar quantidades menores de gás intraperitoneal, que se acumula sob a parede anterior do abdome, quando o paciente está em posição supina. 3.2. Líquido livre intraperitoneal Na radiografia simples de abdome, podemos avaliar um grande número de sinais de líquido livre intraperitoneal, a maioria deles com uso limitado, em pacientes de UTI. Os cólons ascendente e descen- dente devem estar imediatamente adjacentes à faixa radiolucente da parede abdominal lateral, que consti- tui a gordura préperitoneal. Caso essas porções do cólon, preenchidas por gás, fezes ou contraste, este- jam deslocadas medialmente, pode-se concluir, com razoável grau de confiança, que se trata de líquido livre. Outros sinais úteis são a perda da definição do ângulo hepático do cólon e área de densificação adja- cente ao espaço de Douglas. O exame ultra-sonográfico é a melhor alterna- tiva, quando a grafia simples mostra-se inconclusi- va e o paciente não pode deslocar-se até a sala de tomografia computadorizada, pois evidencia, com alta sensibilidade e especificidade, o líquido livre peri- toneal, mesmo quando de pequeno volume, propici- ando, muitas vezes, o diagnóstico da causa do derra- me peritoneal, como, por exemplo, pancreatite, ruptu- ra vesicular, processos inflamatórios abdominais e ou- tros. (Tabela V) Figura 6 – Rx simples de abdome, demonstrando o ligamento falciforme como uma faixa radiodensa paravertebral à direita e a superfície interna e externa das alças intestinais (Sinal de Rigler) formar uma área radiolucente, ova- lada, preenchendo todo o abdome, referida como “football sign”, mais comumente vista em crianças e ido- sos. O gás pode também se acu- mular anteriormente, na porção cen- tral do abdome superior, freqüente- mente em posição semi-ereta do pa- ciente, dando a aparência de um “terceiro diafragma central”(31) . Mais freqüente que qualquer um desses sinais, é a demonstração de coleções gasosas anteriores ao fígado e no espaço subepático. A demonstração de pneumoperitônio é especi- almente difícil através do exame ultra-sonográfico, de- pendendo de sinais indiretos e de alto grau de experi- ência do examinador, não sendo exame indicado para tal suspeita. No entanto, pode ser importante na de- tecção de lesões associadas. Tabela V – Densidades tomográficas dos líquidos abdominais Tipo de Líquido Densidade tomográfica(UH) Transudato (ICC, Cirrose ) Exsudato Hemorrágico 0 a 15 15 a 30 Dependente do tempo de evolução→ 15 a 75 Agudamente,diminuindo com a lise do coágulo Se a coleção for localizada e hiperdensa, na to- mografia computadorizada, pode-se interpretar como um coágulo e, assim, predizer o local de hemorragia (“sentinel clot sign”). 3.3. Isquemia intestinal A isquemia intestinal é um problema relativa- mente comum em pacientes idosos em UTI. Sinais específicos de isquemia, na grafia simples, são vistos em menos de 20% das vezes. (Tabela VI)
  • 10. 526 FR Lucchesi et al. 3.5 Monitorização radiológica de tubos gastrintestinais A maioria dos tubos nasogástricos e intesti- nais, de alimentação ou descompressão, são posi- cionados “às cegas” e o posicionamento correto é assumido se o conteúdo gástrico puder ser aspira- do ou se ar injetado puder ser ouvido na região epigástrica. Esta técnica é falível, uma vez que o barulho do gás injetado em sondas erroneamente localizadas no espaço pleural, mediastino ou pul- mões pode ser ouvido no epigástrio. Assim, a checagem radiológica dos tubos e sondas deve ser rotineira, devendo – se, atentar para as possíveis complicações: hemorragias fatais por tubos pres- sionando grandes vasos anômalos, nós, acotovela- mentos, perfuração da parede intestinal, principal- mente em crianças, e aspiração e pneumonia se- cundárias ao mal posicionamento. 3.6. Processos inflamatórios 3.6.1. Colecistite aguda O ultra-som continua sendo a modalidade de escolha para a detecção da colecistite aguda, embora a tomografia computadorizada possa ser útil em ca- sos onde a visualização ultra-sonográfica da vesícula biliar é insatisfatória. Os critérios sonográficos para o diagnóstico de colecistite aguda incluem: cálculo fixo infundibular ou obstruindo o ducto cístico, dilatação da vesícula biliar (diâmetro transverso > 40mm), espessamento da pa- rede vesicular (> 3mm), líquidos pericolecísticos e dor à compressão do transdutor em projeção da vesícula (sinal de Murphy ecográfico), que, em pacientes in- conscientes, pode ser de difícil avaliação. A colecisti- te enfisematosa e a perfuração são complicações da colecistite aguda, detectáveis ao US. A colecistite en- fisematosa ocorre mais freqüentemente em pacientes diabéticos, e o diagnóstico deve ser suspeitado quan- do se observam ecos reverberativos na parede e lúmen da vesícula ao US e áreas radiolucentes, na projeção vesicular ao RX. Ocorrendo perfuração vesicular, o US pode demonstrar abcesso pericolecístico. A colecistite alitiásica é definida como inflama- ção da vesícula biliar na ausência de cálculos, é mais comum em pacientes em estado crítico ou em pós- operatório recente, queimados, sepse, hipotensão pro- longada, diabéticos e hiperalimentação. Os critérios diagnósticos incluem espessamen- to parietal, com espessura maior que 3mm, líquido Além desses sinais, Ha et al.(33) demonstraram que o contorno serrilhado e o afilamento pontiagudo da luz intestinal, presentes em obstrução, sugerem a presença de estrangulamento, que tem como causas mais freqüentes aderências e hérnias. Os distúrbios vasculares são as condições que mais freqüentemente levam à isquemia intestinal. Com o advento de uma nova técnica de TC, denomi- nada espiral ou helicoidal, que possibilita a obtenção de cortes contíguos, em velocidade muito alta, após injeção em “bolus” de contraste, permitindo demons- trar impregnação da parede das alças, numa fase arteriolar, pode-se diagnosticar a isquemia mesen- térica. 3.4. Obstrução intestinal Um importante conceito, na análise da obstru- ção intestinal, é a compreensão de que a maior parte dos gases contidos no intestino é oriunda da deglutição, e a progressão destes depende de um trânsito intesti- nal livre. Desta forma, se algum segmento gastrintes- tinal se encontra distendido, e o adjacente não contém gás, é um bom sinal indicativo de obstrução. Ocasionalmente, pode ocorrer o mesmo em pre- sença de íleo adinâmico e isquemia intestinal, sendo difícil a diferenciação entre tais entidades. É útil lem- brar que o íleo adinâmico, em UTI, é muito mais co- mum que a obstrução intestinal. Tabela VI - Sinais radiológicos de isquemia intestinal Radiografia simples − Espessamento segmentar da parede intestinal e impressões digitiformes, localizadas (thumb printing). − Gás intramural e/ou no sistema venoso portal (pneumatose). − Gás livre intraperitoneal. − Dilatação difusa dos intestinos delgado e grosso em 50% dos casos (padrão pseudo-obstrutivo) (32) . Tomografia computadorizada − Mesmos achados citados para a grafia simples. − Espessura parietal > 3 mm, com ou sem reforço anelar. − Hiperdensidade parietal na fase não contrastada (usualmente > 20 UH) e hipodensidade e/ou heteregeneidade pós-contraste. − Liquído livre intraperitoneal.
  • 11. 527 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva pericolecístico, edema subseroso na ausência de as- cite, gás intramural, distensão vesicular e bile hiper- densa pela tomografia computadorizada. 3.6.2. Abcessos abdominais Podem estar localizados na parede abdominal, na cavi- dade peritoneal, dentro de vís- ceras sólidas ou no retroperitô- neo. A maioria dos casos são precedidos por cirurgia abdo- minal, trauma, perfuração ou in- fecção de estruturas abdomi- nais. A grafia simples poderá demonstrar coleções gasosas extraluminais deslocando alças intestinais, elevação da cúpula diafragmática (abcessos subdi- afragmáticos), com redução de sua excursão respiratória, mi- metizando coleções líquidas subpleurais. À ultra-sonografia, um abcesso pode assumir várias configurações, sendo mais co- mum uma coleção fluida sono- lucente, com reforço acústico posterior, paredes espessas e irregulares, níveis líquido líqui- do, septos ou debris no interior e, eventualmente, reverbera- ção, sugerindo gás. Abcessos com ecos internos difusos po- dem simular massas neoplási- cas sólidas(34) . Na tomografia computa- dorizada, os abcessos podem se apresentar como coleções com densidade de partes mo- les (0 a 40 UH) que causam efeito de massa ou se comuni- cam através de fístulas com es- truturas adjacentes, tendo pa- redes espessadas e irregulares que reforçam após a adminis- tração de contraste EV. Gases e debris podem também ser identificados. A acuracidade do método alcança 90% em algu- mas séries(35) , embora a distinção definitiva entre co- leções estéreis e sépticas necessite de punção aspira- tiva, guiada, através ou do ultra-som.(Figuras 7 e 8). Figura 8 – Tomografia de abdome, demonstrando ascite volumosa, associada a sinais de cirrose hepática. Figura 7 – Tomografia contrastada evidenciando um abcesso hipodenso, com reforço periférico no lobo hepático direito.
  • 12. 528 FR Lucchesi et al. 3.6.3 Pancreatite aguda Compreende uma entidade cuja apresentação clínica e radiológica pode assumir um espectro de variação de acordo com a severidade da doença. Ultra-sonograficamente, os achados podem ser negativos nas formas brandas, embora se possa mos- trar, nestes casos, o fator causal como coledocolitíase. A forma focal pode apresentar áreas de aumento das dimensões da glândula, hipo ou isoecóicas, sem mani- festações extrapancreáticas. Na pancreatite extensa, o pâncreas aparece difusamente aumentado e hipoecogênico em relação ao fígado, podendo estar associado à dilatação do ducto pancreático e, eventualmente, com cálculos hipere- cogênicos e com sombra acústica posterior. A tomografia computadorizada é o método radiológico de escolha para avaliação de pacientes com pancreatite em qualquer situação pois confirma o diagnóstico e quantifica o grau de acometimento da glândula. O aumento pancreático é a primeira alteração detectável na tomografia, geralmente difuso, podendo ser segmentar em 18% dos casos, comumente na re- gião cefálica(36). Nos casos mais graves, pode-se demonstrar in- flamação do tecido peripancreático, espessamento da fascia pancreática e reforço heterogêneo do parên- quima, após administração de contraste EV. As áreas necróticas assumem reforço menor que 50 UH(36) , cuja acuracidade de detecção varia de 80 a 90%(36) . A ruptura do ductos pancreáticos leva à for- mação de coleções intra e extrapancreáticas, conten- do sangue, enzimas pancreáticas e debris, podendo estar adjacentes ao pâncreas, dispersas através do peritônio, no interior de órgãos sólidos ou sítios dis- tantes, como tórax, mediastino, pleura, pericárdio. Coleções fluidas podem ser identificadas em 40 a 50% dos pacientes com pancreatite aguda, re- solvendo espontaneamente em 50% dos casos(36,37) . Quando persistem, as coleções podem progredir para formação de pseudocistos pancreáticos, que, even- tualmente, podem se infectar, progredindo para um abcesso ou apresentar sangramento. A distinção en- tre coleções estéreis e infectadas pode ser feita com base na demonstração de gás, no interior da coleção, sendo um achado inespecífico que ocorre em 30 a 40% dos casos, embora o diagnóstico definitivo seja feito apenas com base na aspiração do conteúdo da coleção. (Figura 9) (Tabela VII). Figura 9 – Tomografia pós-contraste, demonstrando um aumento difuso do pâncreas, com áreas hipodensas por toda a glândula.
  • 13. 529 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva Tabela VII – Achados radiológicos e limitações dos métodos de imagem em processos inflamatórios abdominais Ordem de Importância Achados freqüentes Limitações – Colecistite Aguda 1) Ultra-sonografia 2) Tomografia – Cálculo nas vias biliares, dila- tação da vesícula biliar, espes- samento parietal, coleções pe- ricolecísticas, sinal de Murphy Ecográfico – Dilatacção vesicular, espessa- mento parietal, coleções peri- colecísticas e, eventualmente, cálculos Obesidade, distenção gasosa intesti- nal Não demonstra cálculos isodensos à bile e o sinal de Murphy Abcessos Abdominais 1) Tomografia 2) Ultra-sonografia 3) Rx simples – Coleções com densidade variá- vel, contendo ou não gás, pa- redes espessadas que refor- çam após contraste EV – Coleções sonoluscentes, de paredes espessadas e irregula- res, reforço acústico posterior, níveis líquidos, debris, reverbe- rações gasosas – Coleções gasosas extra-intesti- nais deslocando alças, eleva- ção da cúpula diafragmática, com redução da excursão res- piratória Necessita de contraste EV e VO Obesidade, distensão gasosa intesti- nal Baixa sensibilidade e especificidade Pancreatite Aguda 1) Tomografia 2) Ultra-sonografia 3) Rx simples – Aumento das dimensões do pâncreas, inflamação peripan- creática, reforço heterogêneo do parênquima pós-contraste EV, coleções fluidas – Aumento focal ou difuso com hipoecogenicidade do pân- creas, coleções peripancreáti- cas, coledocolitíase, dilatação do ducto pancreático – Dilatação de alça duodenal (alça sentinela) – Borrando da sombra do psoas à esquerda – Dilatação do cólon transverso, com espasmo na região da flexu- ra esplênica em 8% dos casos. Necessita de contraste EV e VO Obesidade, distensão gasosa intesti- nal Baixa sensibilidade e especificidade
  • 14. 530 FR Lucchesi et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - MACMAHON H & GIGER M. Portable chest radiography techniques and teleradiology. Radiol Clin North Am 34: 1-20, 1996. 2 - MILLER WT. The radiologist in the Intensive Care Unit. Semin Roentgenol 32: 86-88, 1997. 3 - MILLER WT. The chest radiography in the Intensive Care Unit. Semin Roentgenol 32: 89-101, 1997. 4 - BROWN K & KALLMAN C. Imaging procedures. In: BOGARD FS & SUE DY, eds. Current critical care diagnosis & treatment, Appleton & Lange, Connecticut, p.245-293, 1994 5 - CASCADE PN & KAZEROONI EA. Aspectos da radiografia de tórax na Unidade de Terapia Intensiva. Clín Ter Intensi- va 10: 251-269, 1994. 6 - WINER-MURAM HT et al. Pneumonia and ARDS in patients receiving mechanical ventilation: Diagnostic accuracy of chest radiography. Radiology 188: 479-485, 1993. 7 - HENSCHKE CI et al. Accuracy and efficacy of chest radi- ography in the Intensive Care Unit. Radiol Clin North Am 34: 21-31, 1996. 8 - LIPCHIK RJ & KUZO RS. Nosocomial pneumonia. Radiol Clin North Am 34: 47-58, 1996. 9 - MILLER Jr WT. Thoracic computed tomography in the In- tensive Care Unit. Semin Roentgenol 32:117-121, 1997. 10 - PERUZZI W & et al. Portable chest roentgenography and computed tomography in critically Ill patients. Chest 93: 722-726, 1988. 11 - SHIFRIN RY & CHOPLIN RH. Aspiration in patients in critical care units. Radiol Clin North Am 34: 83-96, 1996. 12 - LANDAY MJ & CHRISTENSEN EE & BYNUM LJ. Pulmonary manifestation of acute aspiration of gastric contents. Am J Roentgenol 131: 587-592, 1978. 13 - LORBER B & SWENSON RM. Bacteriology of aspiration pneumonia. Ann Intern Med 81:329-331, 1974. 14 - DESAI SR & HANSELL DM. Lung imaging in the adult respi- ratory distress syndrome: current practice and new insights. Intensive Care Med 23: 7-15, 1997. LUCCHESI FR et al. The role of radiology in Intensive Care Units. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 517-531, oct./dec. 1998. ABSTRACT: In this critical review, we analyze the role of radiology in Intensive Care Units, discussing conventional radiology and other new imaging methods, such ultrasound and computed tomography. We included in this work the most common diseases in Intensive Care Units, focusing cardiopulmonary system and digest tract. UNITERMS: Radiology. Thoracic Radiography. Radiography, Abdominal. Intensive Care Units. 15 - RAASCH BN & al. Pleural effusion: explanation of some typical appearances. Am J Roentgenol 139: 99-904, 1982. 16 - RUSKIN JA & et al. Detection of pleural effusions on supine chest radiographs. Am J Roentgenol 148: 681-683, 1987. 17 - WOODRING JH. Recognition of pleural effusion on supine radiographs: How much fluid Is required? Am J Roentgenol 142: 59-64, 1984. 18 - COLLINS JD et al. Minimal detectable pleural effusions. Radiology 105: 51-53, 1972. 19 - TOCINO I & WESTCOTT JL. Barotrauma. Radiol Clin North Am 34: 59-81, 1996. 20 - TOCINO IM; MILLER MH & FAIRFAX WR. Distribution of pneumothorax in the supine and semirecumbent critically Ill adult. Am J Roentgenol 144: 901-905, 1985. 21 - GREENE R & McLOUD TC & STARK P. Pneumothorax. Semin Roentgenol 12: 313-325, 1977 22 - WESTCOTT JL & ZITER FMH. Supine subpulmonary Pneumothorax. Am J Roentgenol 137: 69-701, 1981. 23 - MOSKOWITZ PS & GRISCOM NT. The medial pneumothorax. Radiology 120:143-147, 1976. 24 - GORDON R. The deep sulcus sign. Radiology 136: 25-27, 1980. 25 - TAPSON VF. Pulmonary embolism: The diagnostic reper- toire. Chest 112: 578-580, 1997. 26 - ARONCHICK JM & MILLER WT. Tubes and lines in the in- tensive care setting. Semin Roentgenol 32:102-116, 1997. 27 - MARKS WM et al. Intestinal pseudotumors. A problem in computed tomography solved by direct techniques. Gastrointest Radiol 5: 155-160,1980 28 - MEGIBOW AJ & ZERHOUNI EA. Techniques of gastrintestinal computed tomography. In: MEGIBOW AJ & BALTHAZAR EJ, eds Computed tomography of the gastrintestinal tract. CV Mosby, St.Louis, p 1-32,1986. 29 - MILLER RE. The radiological evaluation of intraperitoneal gas (pneumoperitonium). CRC Crit Rev Clin Radiol Nucl Med 4: 61-85,1973.
  • 15. 531 O papel da radiologia na unidade de terapia intensiva 30 - MENUCK L & SIMERS PP. Pneumoperitoneum: Importance of right upper quadrant features. Am J Roentgenol 127: 753-756, 1976. 31 - MILLER WT. The abdomen in the Intensive Care Unit. Seminars Roentgenol 32:122-127, 1997. 32 - TOMCHISK FS, WITTEMBERG J & OTTIGER LW. Roentnographic spectrum of wel infarction. Radiology 96: 249-260, 1970. 33 - HÁ HK. CT in the early detection of strangulation in intestinal obstruction. Semin Ultrasound CT MR 16:141-150, 1995. 34 - WINTER III & LAING FC. Hepatic ultrasound. In: MARGULIS AR & BURHENNE HJ, eds. Alimentary tract radiology. 5th. Mosby, St. Louis, p. 1475-1476, 1994. 35 - SCHNEEKLOTH G; TERRIER F & FUCHS WA. Computed tomography of intraperitoneal abcesses. Gastrointest Radiol 7: 35-41,1982. 36 - BALTAZAR EI et al. Acute pancreatitis: Prognostic value of CT. Radiology 156: 767-772, 1985. 37 - FREENE PC & ROTORMAN CA. Inflamatory disease of the pancreas. In: FREENY PC & STEVENSON GW, eds. Alimentary tract radiology, Mosby, St. Louis, p.1052-1090, 1993. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 1 - FEDERLE MP & JEFFREY RB. Hemoperitoneum studied by computed tomography, Radioloy 148:187-192, 1983. 2 - INDECK M. et al. Risk and benefit of transporting ICU patient for special studies. J Trauma 28:1020-1025, 1988. 3 - NOVELLINE RA. Abdomen: Nontraumatic emergencies. In: HARRIS JH, eds. The Radiology of emergency medi- cine, 3thed, Williams & Wilkins, Baltimore, p.819-895, 1993. Recebido para publicação em 04/03/98 Aprovado para publicação em 07/10/98