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ISSN 1676-3939
                   V.12   -   N.2   - 2012




REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM MÚSICA
ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ISSN: 1676-3939




 Esta publicação foi realizada com os apoios:




Volu m e 1 2   -       Número 2      -   2012
MÚSICA HODIE
                                                              V.12 - n.2 - 2012
                                                              ISSN: 1676-3939



Universidade Federal de Goiás                                            Revisão
Prof. Dr. Edward Madureira Brasil                                        Sonia Regina Albano de Lima e Sonia Ray
(Reitor)
                                                                         Capa
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação                                 Detalhe do quadro sem título de Fabricio (Pirenópolis, GO)
Profa. Dr. Divina das Dôres de Paula Cardoso                             Foto: Sonia Ray, 2012
(Pró-Reitora)
                                                                         Editoração:
Escola de Música e Artes Cênicas
Profa. Dra. Ana Guiomar Rêgo Souza
(Diretora)                                                               Impressão e Acabamento:

Programa de Pós-Graduação em Música
Profa. Dra. Claudia Regina de Oliveira Zanini                            Site: www.musicahodie.mus.br
(Coordenadora)                                                           Judson Costa (Webmaster)

REVISTA MÚSICA HODIE
Conselho Editorial                                                       A Revista Música Hodie foi criada no PPG Música da Escola
Profa. Dra. Sonia Ray - Presidente (UFG, Goiânia, GO)                    de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás e é
Prof. Dr. Anselmo Guerra de Almeida (UFG, Goiânia, GO)                   publicada ininterruptamente desde dezembro de 2001 em 2
Profa. Dra. Cristina Gerling (UFRGS, Porto Alegre, RS)                   números por ano. Seu Conselho Editorial é presidido pela Profa. Dra.
Profa. Dra. Eliane Leão (UFG, Goiânia, GO)                               Sonia Ray desde sua criação e conta com representação regional,
Prof. Dr. Fausto Borém (UFMG, Belo Horizonte, MG)                        nacional e internacional. Desta mesma forma está composto o
Prof. Dr. Florian Pertzborn (Escola Politécnica do Porto, Porto,         Conselho Consultivo. Os indexadores da MH são RILM – International
PORTUGAL)                                                                Repertory of Music Literature, Arts & Humanity Index, The Music
Profa. Dra. Lúcia Barrenechea (UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ)               Index (EBSCO), e CAPES-Periódicos Qualis “A1”. A publicação
Prof. Dr. Mikhail Malt (IRCAM, Paris, FRANÇA)
Profa. Dra. Tânia Lisboa (Royal College of Musica, Londres,              particularmente temas relacionados a Performance Musical e suas
INGLATERRA)                                                              Interfaces, Composição e Novas Tecnologias, Educação Musical,
                                                                         Música e Interdisciplinaridade, Musicoterapia, Linguagem Sonora e
Conselho Consultivo                                                      Intersemiose, Musicologia, concentrando-se na produção musical
Prof. Dr. Ângelo Dias (UFG, Goiânia, GO)                                 mais recente.
Profa. Dra. Beatriz Ilari (University of South California, EUA)
Profa. Dra. Catarina Domenici (UFRGS, Porto Alegre, RS)
Prof. Dr. Cesar Traldi (UFG, Goiânia, GO)
Prof. Dr. Daniel Afonso (California State University-Stanislaus,
Turlock, EUA)
Prof. Dr. Daniel Barreiro (UFU, Uberlândia, GO)
                                                                           Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Profa. Dra.Isabel Nogueira (UFPel, Pelotas, RS)
                                                                                               (GPT/BC/UFG)
Profa. Dra. Lilia Gonçalves (UFU, Uberlândia, GO)
Profa. Dra. Marília Álvares (UFG, Goiânia, GO)                           ________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Vinicio Nogueira (UFRJ, Rio de Janeiro, RJ)
Prof. Dr. Mario Ferraro (UFRJ, Rio de Janeiro, RJ)                           Música Hodie; Revista do Programa de Pós-gradua-
Profa. Dra. Mônica Lucas (USP, São Paulo, SP)                                  ção Stricto-Senso da Escola de Música e Artes
Profa. Dra. Nancy Lee Harper (Universidade de Aveiro, Aveiro,                  Cênicas da Universidade Federal de Goiás. Vol.
PORTUGAL)                                                                      12 (n. 2, 2012) Goiânia: UFG, 2012.
Prof. Dr. Rafael dos Santos (Unicamp, São Paulo, SP)
Prof. Dr. Ricardo Freire (UnB, Brasilia, DF)                                      v.: Il.
Profa. Dra. Rosane Cardoso de Araújo (UFPR, Curitiba, PR)                         Semestral
Profa. Dra. Sonia Regina Albano de Lima (Unesp, São Paulo, SP)
                                                                                  Descrição baseada em: Vol. 12, n. 1 (2012)
Profa. Dra. Valerie Albright (Unesp, São Paulo, SP)

                                                                                  ISNN 1676-3939
Editora Convidada para o Volume 12 n.2 de 2012
Profa. Dra. Sonia Regina Albano de Lima (Unesp, São Paulo, SP)
                                                                               1. Música Periódicos I. Universidade Federal de
Consultores do Volume 12 n.2                                                Goiás. Escola de Música e Artes Cênicas.
Banco de Pareceristas da ANPPOM                                                                                   CDU: 78(05)
                                                                         ________________________________________________
www.anppom.com.br
Editorial

          O volume 12, n.2 da Revista Música Hodie, assim como o anterior, contemplou dis-
cussões envolvendo aspectos gerais do universo musical, desde a ópera até a educação mu-
sical, além da inclusão de partitura na sessão correspondente e texto livre na sessão Outras
Palavras. Integra ainda o periódico, artigo da pesquisadora convidada Prof. Dr. Iris M. Yob,
que prontamente atendeu ao nosso pedido, perfilhando temática um tanto polêmica no en-
sino musical.
          Presentes nesta publicação, autores atuantes no cenário musical, orientandos e
orientadores dos programas de pós-graduação em música e pesquisadores estrangeiros, o
que dignifica ainda mais a excelente pontuação atribuída à Revista.
          Ao concluir a minha atuação como editora convidada nesses dois volumes, levo a
certeza de ter concluído uma tarefa na qual me empenhei com dedicação, a experiência ad-
quirida no exercício desta tarefa e os amigos virtuais conquistados na figura dos pareceris-
tas e dos autores.
          Outra não seria a minha atitude no final deste trabalho, senão agradecer a acolhi-
da incondicional dos pareceristas convidados que tão bem desempenharam suas funções
e estender meus agradecimentos aos autores que incansavelmente atenderam não só as su-
gestões e indicações dos pareceristas como aquelas que me couberam solicitar enquanto
editora.
          Espero que os próximos editores convidados tenham igual sorte em nome da pre-
servação de qualidade deste periódico.
          Despeço-me ainda da pesquisadora, contrabaixista e editora-chefe desta revista,
Prof. Dra. Sonia Ray, agradecendo a confiança depositada e a sua presteza em solucionar as
dúvidas surgidas durante a execução do meu trabalho.


                               Sonia Regina Albano de Lima
                                    Editora convidada
Sumário

Artigos Científicos
A MELANCOLIA ERÓTICA NO LAMENTO DE PRÓCRIS DA ÓPERA GLI AMORE DI APOLLO
E DAFNE (1640) DE GIOVANNI FRANCESCO BUSENELLO E FRANCESCO CAVALLI
The erotic melancholy in Procris’ Lament of the opera Gli Amore di Apollo e Dafne (1640) by Giovanni Francesco Busenello
and Francesco Cavalli
    Viviane Alves Kubo (UFPR, Curitiba, PR, Brasil) .....................................................................................................   8
REPRESENTAÇÃO DA MORTE FEMININA EM L`ORFEO E IL COMBATTIMENTO DI
TANCREDI ET CLORINDA DE CLAUDIO MONTEVERDI
The Representation of Feminine Death in L’Orfeo and Il Combattimento di Tancredi et Clorinda by Claudio Monteverdi
    Abel Rocha (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) ........................................................................................................   24
ÓPERA NO BRASIL: UM PANORAMA HISTÓRICO
Opera in Brazil: a historical overview
    José Maurício Brandão (UFBA, Salvador, BA, Brasil) ............................................................................................      31
PENSAR A REVOLUÇÃO NOS COMPORTAMENTOS E PRÁTICAS CULTURAIS
ASSOCIADAS AO TEATRO DE SÃO CARLOS ENTRE O FIM DO ESTADO NOVO E
OS PRIMEIROS ANOS DA DEMOCRACIA EM PORTUGAL
Discussing the Revolution in the Behaviors and Cultural Practices Associated with the Teatro de São Carlos, between the
End of the New State and the First Years of Democracy in Portugal
    Paula Gomes Ribeiro (CESEM – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal) ...........................................................              48
ASPECTOS DE PERFORMANCE NOS TRATADOS PORTUGUESES SOBRE BAIXO
CONTÍNUO
Performance aspects on Portuguese thorough-bass treatises
    Gustavo Ângelo Dias (UNICAMP, Campinas, SP, Brasil) ..........................................................................................       57
FIGURAS RETÓRICAS NO OFERTÓRIO DA MISSA DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS DE
ANDRÉ DA SILVA GOMES
Rhetorical Figures in the Offertory of the Ash Wednesday Mass of André da Silva Gomes
    Eliel Almeida Soares (USP, São Paulo, SP, Brasil)
    Ronaldo Novaes (USP, São Paulo, SP, Brasil)
    Diósnio Machado Neto (USP, São Paulo, SP, Brasil) .............................................................................................      71
AGRUPAMENTOS SONOROS PLENOS NA MÚSICA DE SIMULTANEIDADES ACÚSTICAS
E ESTRUTURAIS
Full Sound Groupings in Acoustic and Structural Simultaneity Music
    Marcos Fernandes Pupo Nogueira (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) .............................................................................          87
A OBRA UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO: ASPECTOS COMPOSICIONAIS E
INTERPRETATIVOS DA TRÍADE MÚSICA–LITERATURA–TEATRO
The Work I compositional and interpretive aspects of the music–literature–theater triad
    Fausto Borém (UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil) ............................................................................................         98
DEFINIÇÃO DE SINTAXE COMPOSICIONAL A PARTIR DO ESTABELECIMENTO
DE HIERARQUIAS ENTRE SONORIDADES TRICORDAIS RELACIONADAS POR
SIMILARIDADE
by Similarity
    Weskley Dantas (UFCG, Campina Grande, PB, Brasil)
    Liduino Pitombeira (UFCG, Campina Grande, PB, Brasil) ...................................................................................         109
STUDYING THE COMPUTING IMPLEMENTATION OF INTERACTIVE MUSICAL NOTATION
Um Estudo sobre a Implementação Computacional de Processos de Notação Musical Interativa
    José Fornari (UNICAMP, Campinas, SP, Brasil).................................................................................................     120
AS JUNTURA DE PALAVRAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CANTADO: ESTUDOS
PARA UMA APLICAÇÃO
The Linking of Words in Brazilian Portuguese Lyric Diction: studies for an application
    Juliana Starling (UNESP, São Paulo, SP, Brasil)
    Martha Herr (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) ....................................................................................................   133
“A QUEM INTERESSAR POSSA...” DE VANESSA RODRIGUES PARA VIOLONCELO SOLO
A Quem Interessar Possa...” by Vanessa Rodrigues for Solo Cello
    Fabio Presgrave (UFRN, Natal, RN, Brasil) ....................................................................................................     146
OS SETE ESTUDOS PARA VIOLÃO SOLO DE CARLOS ALBERTO PINTO FONSECA:
UMA ABORDAGEM ANALÍTICA SOBRE DEMANDAS TÉCNICAS
The Seven Studies for Guitar Solo of Carlos Alberto Pinto Fonseca: an analytical approach about technical demands
    Cristiano Braga de Oliveira (UFMA, São Luís, MA, Brasil)
    Daniel Wolff (UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil)...............................................................................................      156
O INTÉRPRETE (RE)SITUADO: UMA REFLEXÃO SOBRE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO E
TÉCNICA NA CRIAÇÃO DE “INTERVENÇÕES PARA PIANO EXPANDIDO, INTERFACES
E IMAGENS – CENTENÁRIO JOHN CAGE”
The Performer (Re)Situated: some thoughts on construction of meaning and technique in the creation of “Interventions for

    Catarina Leite Domenici (UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil) ................................................................................         171
O USO IDIOMÁTICO DOS INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO BRASILEIROS: PRINCIPAIS
SISTEMAS NOTACIONAIS PARA O PANDEIRO BRASILEIRO
The Idiomatic Use of Brazilian Percussion Instruments: notational systems for the Brazilian pandeiro
    Eduardo F. Gianesella (UNESP, São Paulo, São Paulo, Brasil) ...............................................................................        188
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE TALENTO MUSICAL
A Brief Discussion on Musical Talent
    Ricieri Carlini Zorzal (UFMA, São Luis, MA, Brasil) ..........................................................................................     201
CONCEPÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Conceptions and Implications for Music Teaching in Children Education
    Andréia Pereira de Araújo Martinez (UnB, Brasília, DF, Brasil)
    Patrícia Pederiva (UnB, Brasília, DF, Brasil)...................................................................................................   210
A GESTÃO ADMINISTRATIVA EM EDUCAÇÃO MUSICAL E A FORMAÇÃO DE
EDUCADORES MUSICAIS
The Administrative Management in Music Education and the Education of Music Educators
    Susana Ester Kruger (ArtHaus, São Paulo, SP, Brasil)
    Fernando Stanzione Galizia (UFSCAR, São Carlos, SP, Brasil) .............................................................................       220
UNA APROXIMACIÓN A LA MÚSICA BRASILEÑA: GÉNEROS E HISTORIA
An Approach to Brazilian Music: genres and history
    Santiago Pérez Aldeguer (Universitat Jaume I Castellón, Castellón de la Plana, Espanha) ..........................................              233
Outras Palavras
A LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE CIFRAS ALFABÉTICAS NO TECLADO
Chord symbol reading and interpretation on the keyboard
    Silvio Merhy (UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) ...........................................................................................   244
NOTATIONAL PRACTICE OF COMPLEX MUSIC
    Michael Edward Edgerton (The University of Malaya) ......................................................................................       259
CONSIDERATIONS FOR ONLINE LEARNING
Considerações para Aprendizado na Rede
    Iris M. Yob (Walden University, Minneapolis, Washington, EUA) ..........................................................................           275
Primeira Impressão
TEMPERAMENTOS, OP. 3 (2011), PARA QUARTETO DE CORDAS
Temperamentos, Op. 3 (2011), for string quartet
    Weskley Dantas (UFCG, Campina Grande, PB, Brasil) ......................................................................................        282

Chamada para artigos, gravações e partituras..................................................................................295
Call for articles, recordings and scores...........................................................................................299
Normas para formatação das referências .........................................................................................300
Artigos Científicos


Revista Música Hodie, Goiânia - V.12, 000p., n.2, 2012
SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
                                                                                   Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86.


                  Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira
                            de Cinzas de André da Silva Gomes


                                                                         Eliel Almeida Soares (USP, São Paulo, SP, Brasil)
                                                                                                                     eliel.soares@usp.br
                                                                                Ronaldo Novaes (USP, São Paulo, SP, Brasil)
                                                                                                                ronaldo.novaes@usp.br
                                                                       Diósnio Machado Neto (USP, São Paulo, SP, Brasil)
                                                                                                                         dmneto@usp.br


Resumo: Este artigo propõe-se a expor o emprego de elementos retóricos no Ofertório da Missa de Quarta-feira de
Cinzas de André da Silva Gomes. Partindo de investigações acerca da Retórica como área do conhecimento humano,
em seguida procuraremos esclarecer o interesse da musicologia atual em compreender como é disposto o discurso
musical, da mesma forma relatar a fase inicial na qual estão as investigações sobre a retórica na música colonial bra-
sileira. Como conclusão, apresentaremos por meio de análises fundamentadas no estudo dos tratados retórico-musi-
cais que, nesse Ofertório, existem diversos recursos retóricos contextualizados de maneira a estabelecer relação di-
reta entre afeto e figura, as quais são trabalhadas conscientemente pelo compositor.
Palavras-chave: Análise retórica; Ofertórios; André da Silva Gomes; Música colonial brasileira.

Rhetorical Figures in the Offertory of the Ash Wednesday Mass of André da Silva Gomes
Abstract: This article aims to show the use of rhetorical elements in the Offertory of the Ash Wednesday Mass of
André da Silva Gomes. Starting from investigations of the Rhetoric as an area of human knowledge, and then we are
going to try to clarify the current musicology interest to understand how musical discourse is used. Similarly, we
want to report the initial stage in which the investigations on the Brazilian Colonial Music are. As a conclusion we
are going to present through analysis based on the study of musical-rhetorical treaties that, in this Offertory, there
are several rhetorical resources contextualized in order to establish a direct relationship between affect and figure,
which are worked by the composer consciously.
Keywords: Rhetorical analysis; Offertories; André da Silva Gomes; Brazilian colonial music.



1. Introdução

         Retórica é a área do conhecimento humano que tem por objetivo o estudo, a pro-
dução e análise do discurso, pelo viés da eloquência e persuasão, através do qual o orador
busca convencer uma audiência sobre a verdade de algo. Como tekhné, tem sua origem na
Grécia Antiga, fundamentada não apenas na lógica e no conhecimento, mas na habilidade
de aplicar a linguagem de forma a impressionar favoravelmente os ouvintes, ou seja, mover
seus afetos. Desde sua origem, diversos foram os pensadores que contribuíram para sua sis-
tematização, passando por Aristóteles (394-322 a. C.), Cícero (106-43 a.C.), Quintiliano (ca.
35- ca. 96), assim como pela Idade Média, com Santo Agostinho (354-430), Santo Isidoro
de Sevilha (570-636), pela Renascença, com Desidério Erasmo de Rotterdam (1469-1536),
Philipp Melanchthon (1497-1560), culminando no Barroco, com Cipriano Soares (1524-
1593), Emanuele Tesauro (1592-1675) e Padre Antônio Vieira (1608-1697), influenciando,
também, o pensamento de diversos tratadistas retórico-musicais, além do gramático e com-
positor André da Silva Gomes, objeto deste trabalho.
         Nesse sentido, a música concebida não apenas na Alemanha, a partir da segunda
metade do século XVI, mas em toda a Europa, se baseava em uma relação, cujos processos
de estruturação empregados contextualizavam-se na formação de um cabedal idealizado
em constructos literários, permeados sob a égide da linguagem e seus recursos; sejam as fi-
guras e elementos retóricos, fundamentando a disposição do discurso musical. Por essa ra-
zão, desde o último quartel do século XX, a musicologia tem dado sinais evidentes de seu


Revista Música Hodie, Goiânia - V.12, 000p., n.2, 2012                                Recebido em: 15/04/2012 - Aprovado em: 04/05/2012


                                                                    71
SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
                                                                                Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86.


interesse às questões relativas ao significado das constituições retóricas. Como fruto de tais
pesquisas, são publicadas, anualmente, inúmeras teses, dissertações, trabalhos e artigos so-
bre o assunto, fato esse inexorável por ser a retórica o instrumento ideal e basilar para o co-
nhecimento analítico do período investigado. Todavia, a maioria dessas produções acadê-
micas, tem por objetivo de estudo as obras de compositores europeus. Nessa conjuntura, o
presente trabalho se diferencia pela observação da aplicação retórica no processo composi-
cional de André da Silva Gomes (1752-1844). Tal fato é plenamente possível uma vez que o
referido autor teve sua formação no Seminário Patriarcal de Lisboa1, obtendo toda a sapiên-
cia necessária a respeito da Retórica, como se pode observar em suas composições e em seu
tratado A Arte Explicada de Contraponto.
           Pretende-se aqui, apresentar a possiblidade da utilização desses elementos em uma
das obras de Silva Gomes, o Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas, mostrando que o
compositor luso-brasileiro, mesmo longínquo dos principais centros musicais europeus, era
um artista com considerável erudição, acompanhando atentamente os progressos da ciên-
cia e da música. Era um compositor, mestre de capela e gramático que tinha consciência do
anacronismo da linguagem adotada para modelar suas composições (GIRON, 2004, p. 50). É
notório que as investigações sobre a retórica na música brasileira são incipientes, o que, por
si só, já justifica a inserção deste trabalho dentro das pesquisas existentes.


2. O modelo discursivo de Mattheson

         Johann Mattheson (1681-1764) esboçou em seu Der Vollkommene Capellmeister
(1739), um modelo composicional fundamentado no sistema retórico, de forma a imbuir o
discurso musical com a mesma força persuasiva da arte da oratória. Balizado nos cânones
clássicos, utiliza-se das Cinco Fases da Retórica, fortalecendo a relação entre a música e o
discurso, mostrado a seguir.
            Inventio – trata-se de uma fase inicial do discurso – sua gestação na mente do
            orador, a invenção ou busca de ideias, abrangendo o ato de criação e de recolha
            fundamentos de expostos, ideias musicais, etc.
            Dispositio – distribuição ou arranjo das ideias e argumentos encontrados na In-
            ventio, de forma apropriada e eficaz.
            Decoratio – diz respeito ao estilo. Trata da elaboração ou decoração de cada ideia,
            para o desenvolvimento de cada item e da sua ornamentação, também chamado
            Elaboratio ou Elocutio por outros autores.
            Memória – são os mecanismos e processos utilizados para memorizar o discurso
            e, por extensão, o modo operativo de cada uma das fases retóricas.
            Pronuntatio – pronunciação do discurso. É a última fase do sistema retórico,
            também conhecida como Actio ou ação (atuação). Diz respeito à performance, ou
            seja, à interpretação frente ao público.

       Em relação à Dispositio, alguns autores como Gallus Dressler (1533-1589), elabora-
ram uma versão simplificada em três partes (Exordium, Medium e Finis). No entanto, em
consonância com os cânones clássicos, Mattheson dispõe desta maneira:
         Exordium – inicio do discurso;
         Narratio – declaração dos fatos ou dados;
         Divisio ou Propositio– exemplificação e defesa sob a perspectiva do orador;
         Confutatio – refutação contra as provas contrárias;
         Confirmatio – provas para confirmar o que querem defender;
         Perotatio – conclusão (BUELOW, 2001, p. 261-262).


                                                                 72
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3. Análise Retórica do Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas

3.1 Inventio

       O texto deste ofertório foi extraído do Salmo (Ps.29,1-3/ 30,1-3)2, cujo tema é: Ação
de Graças pela Libertação da Morte.

                       Exaltabo te Domine, quoniam suscepiste me, et nec [non] dilectasti
                       Inimicos meos super me/ Domine clamavi ad te sanasti me.

                       Exalto-te, Senhor, por que me livrou/ e não permitiu que se alegrassem a
                       Minha custa meus inimigos/ Senhor, meu Deus, a ti clamei e me sarou.
                       (SOARES, 2000, p. 25).

         Esse excerto descrito acima, expressa uma fé autêntica não só do autor do salmo,
mas igualmente dos fiéis no Senhor. Davi, nesta passagem, louva a Deus por tê-lo livrado de
três coisas terríveis:
         1. de seus inimigos;
         2. de uma doença;
         3. da morte.

        Tal sentimento manifesta uma aclamação à figura do Criador pelo fato Deste ter
concedido as graças rogadas e alcançadas sob Sua influência. A mesma devoção e gratidão
são partilhadas no ofertório, onde o cristão faz uma reflexão sobre a fragilidade da vida hu-
mana, a qual é sujeita à morte. De sorte que esse profundo pensar é destacado pela conver-
são e mudança de vida, necessária para quem professa a Cristo como salvador e responsável
pela remissão dos pecados.
        Essa obra, portanto, é composta por trinta e três (33) compassos na tonalidade Sol
Maior, em andamento Moderato, proporcionando ao ouvinte audição clara e perspicaz. Em
suma, a intenção nos tópicos seguintes, é revelar a existência de aspectos relevantes da lin-
guagem adotada pelo autor, observando a aplicação de figuras e elementos retóricos, além
dos materiais e das funções harmônicas.


3.2 Locus3 observados na Inventio do Ofertório

Tabela 1: Locus Topici encontrados no Ofertório da Missa De Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
             Inventio                      Descrição                           Utilização na obra                Compasso/ Voz
Locus Notationis                Aspecto externo e desenho das   Vários motivos rítmicos e diferentes durações de  1-5 S-A-T-B
(MATTHESON, [1739] 1954, notas (Duração das notas, alte-        notas (mínimas, mínimas pontuadas, semíni-        6-8 S-A-T-B
Parte II, Cap.4, § 23, p. 123). ração, repetição e procedimen-  mas, semínima pontuadas, colcheias, colcheias 17-26 S-A-T-B
                                tos canônicos).                 pontuadas, semicolcheias, repetições, ligadu- 27-33 S-A-T-B
                                                                ras, pausas, fermata entre outros).
Locus Oppositorum               Contraste de compassos, mo- Movimento contrário entre contralto e baixo.            21 A-B
(MATTHESON, [1739] 1954, vimentos contrários, agudos e Também entre soprano e baixo e tenor.                        28 S-B
Parte II, Cap.4, § 80, p. 131). graves, lento e rápido, calmo e                                                     29-S-T
                                agitado.
Locus Descriptionis             Disposições da alma             Louvor, Júbilo, Alegria, Celebração (Exalto-te, 1-21 S-A-T-B
(MATTHESON, [1739] 1954,                                        Senhor, por que me livrou).
Parte II, Cap.4, § 43, p. 127).                                 Expectativa, Resposta (A ti clamei e me sarou). 24-31 S-A-T-B




                                                                  73
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3.2.1     Dispositio

3.2.1.1      Exordium

         O Exordium é apresentado nos três primeiros compassos da peça, tendo como fi-
gura central a Anabasis, a qual é trabalhada por Silva Gomes tanto na ordenação quanto na
preparação dos argumentos iniciais, dos quais se fundamentará o discurso. Por meio dessa
figura, observa-se a caracterização de louvor e agradecimento por parte do salmista a um
ser superior, que está num lugar elevado: Exaltabo te Domine (Exalto-te, Senhor), eviden-
ciado pelas notas que se movimentam de forma ascendente. No terceiro compasso o autor
emprega a figura da Synaeresis, destacando esse efusivo momento, igualmente, o mesmo
aplicativo se dá para destacar o repouso da frase na Tônica, como das notas cantadas na
mesma silaba.




          Exemplo 1: Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes - comp. 1-3 Catalogação e
          Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 175).




3.2.1.2      Narratio

        Na segunda fase da Dispositio continua a serem empregadas pelo compositor as fi-
guras da Anabasis e da Synaeresis, mantendo a mesma relação de exaltação e louvor esta-
belecida anteriormente no Exordium, entretanto, no compasso 5, na voz do tenor, pode-se
observar o uso da Anticipatio, antecipando a entrada das outras vozes na reiteração do en-
cômio dado. A junção desses elementos procura despertar a atenção do ouvinte para o esta-


                                                                  74
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belecimento entre elevação e reflexão. A Narratio termina no terceiro tempo do compasso 8,
ou seja, bem na passagem da primeira para a segunda seção da obra, delimitada pelo efeito
suspensivo da Cadência na Dominante (Semicadência)4.




          Exemplo 2: Synaeresis, Anabasis e Anticipatio comp. 4-6 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT,
          1999, p. 175).




3.2.1.3     Propositio

         No momento em que se encerra, tanto a primeira seção como a Narratio, inicia-se a
Propositio, no final do compasso 8, na voz da soprano. Da mesma forma, Silva Gomes utili-
za a figura da Pausa com o intuito de obter repouso após uma suspensão no final da seção
anterior na Dominante de Mi Menor.




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        Exemplo 3: Pausa nas vozes do contralto, tenor e baixo comp. 8-9 - Catalogação e Organização Régis Duprat
        (DUPRAT, 1999, p. 175).


         Como peculiar dessa parte do discurso, o autor novamente faz menção às palavras:
Exaltabo te Domine (Exalto-te, Senhor), destacando-as de maneira enfática. Auxiliando es-
sas aplicações no texto, estão as figuras retóricas inseridas por Silva Gomes como a Noema,
trazendo equilíbrio nas vozes e também valorizando a Cadência Autêntica Imperfeita, con-
cretizada no compasso 11, em condução homofônica e a Anaphora, repetindo tanto as frases
e motivos dessa passagem, como a palavra Suscepiste (amparo, ajuda, livramento).




                                                                76
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          Exemplo 4: Noema e Anaphora em todas as vozes comp. 10-12 - Catalogação e Organização Régis Duprat
          (DUPRAT, 1999, p. 175).




3.2.1.4     Confutatio

        A Confutatio é empregada na transição da modulação de Mi Menor para Sol
Maior. Já a terceira fase da disposição é concluída no compasso 14, ainda na terceira se-
ção da obra, em sua tonalidade principal. Semelhantemente, o compositor continua a em-
pregar a Anaphora, ressaltando a importância do livramento concedido por Deus para
seu servo.




                                                                77
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        Exemplo 5: Anaphora comp. 13-15 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 176).


         Apesar de conservar o uso da figura supracitada (Anaphora), nessa parte da
Dispositio, o autor preocupa-se em cumprir o objetivo e plano estabelecidos para a execu-
ção da mesma, inserindo novos elementos de ordem textual e motívica. Por exemplo, a par-
tir do compasso 19, na terceira seção, é empregada uma fermata pela primeira vez na peça,
valorizando tanto a repetição da exposição melódica como a valoração das vozes da sopra-
no e contralto, entoando duas notas em uma sílaba, realizadas pela Anaphora e Synaeresis,
igualmente antecedendo a figura da Aposiopesis, descrita por uma pausa geral em todas as
vozes, aplicada posteriormente no compasso 20. Também é observável o contraste alcança-
do com êxito através da intersecção desses mecanismos, sem se esquecer das dinâmicas for-
te e piano entre a Aposiopesis. De forma idêntica, segue o texto que retrata a questão da não
permissão da alegria dos inimigos à custa do sofrimento anterior, por parte de Deus (Et nec
[non] dilectasti inimicos meos super me).




                                                                78
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  Exemplo 6: Anaphora, Aposiopesis e Synaeresis comp. 15-20 - Catalogação e Organização Régis Duprat
  (DUPRAT, 1999, p. 176).



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        Em síntese, todo esse sentido converge para a organização das contestações às quais
são expostas a partir desse trecho do ofertório, ou seja, a oposição das ideias musicais; po-
rém, é mantida a coesão do discurso.




         A reafirmação do discurso inicial ocorre pela repetição imediata e enfática das no-
tas, como da palavra Domine (Senhor), efetuada pela figura da Epizeuxis. Igualmente pode-
-se destacar o emprego da pausa como elemento de transição da terceira para a quarta seção
e a modulação obtida no compasso 22 de Sol Maior para Mi Menor, respaldada anteriormen-
te pela Cadência Autêntica Imperfeita.




        Exemplo 7: Pausa e Epizeuxis comp. 21-23 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999,
        p. 177).


       No exemplo a baixo podem ser observadas as mesmas figuras empregadas anterior-
mente pelo autor, no entanto, ele insere uma nova: Palilogia que, por sua vez, repete as mes-
mas notas e palavras temáticas do texto.




                                                                80
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  Exemplo 8: Palilogia, Epizeuxis e Pausa comp. 24-26 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT,
  1999, p. 177).


  A Confirmatio termina coincidentemente com a quarta seção no compasso 27.




  Exemplo 9: Pausa nas três vozes e no instrumento comp. 27 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT,
  1999, p. 178).



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3.2.1.6     Perotatio

        Tanto a Perotatio quanto a quinta e última seção iniciam-se a partir no final do
compasso 27. Como característica dessa parte do discurso, é trabalhado pelo autor tanto o
texto quanto as figuras de maneira enfática; ou seja, repetindo e destacando a palavra Et sa-
nasti (Me sarou), através da Epizeuxis e Anaphora.




          Exemplo 10: Anaphora e Epizeuxis comp. 27-29 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999,
          p. 178).


        Silva Gomes conclui o discurso desse ofertório na tonalidade de Sol Maior, utili-
zando a Aposiopesis e Anaphora, empregadas desde a Propositio na segunda seção, ou seja,
ele reúne partes integrantes da fundamentação da tese. Entretanto, entre os compassos 32
e 33, pode-se notar a aplicação, além da Synaeresis, de outra figura: a Syncope na voz da
soprano. Em um primeiro momento ela é consonante ao acorde da Subdominante e, poste-
riormente, resulta em uma dissonância da Subdominante Paralela. Isto é, a nota Sol que,
no compasso anterior era a quinta, passa a ser a sétima, criando uma tensão para a função
que virá com a Dominante. Enfim, é finalizada a peça com uma dinâmica contrastante se-
melhante à que fora apresentada na Confutatio, no entanto, com uma diferença de forte para
pianíssimo e com uma frase bem definida, reflexiva e suave para, em seguida, acabar na
Cadência Autêntica Imperfeita.




                                                                82
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         Exemplo 11: Anaphora, Aposiopesis, Syncope e Synaeresis comp. 30-33 - Catalogação e Organização Régis
         Duprat (DUPRAT, 1999, p. 178).



3.3 Figuras observadas no Ofertório (Elocutio/Decoratio)

          O quadro, a seguir, traz a descrição das figuras utilizadas pelo compositor luso-bra-
sileiro, assim como sua definição pelos tratadistas, dentre os quais são destacados abaixo.
          – Joachim Burmeister (1564-1629), compositor e teórico, preocupou-se em rela-
cionar teoria, poética e prática, estabelecendo analogia com as figuras de retórica em seus
tratados Hypomnematum Musicae Poeticae (1599), Musica Autoschediastike (1601) e Musica
Poetica (1606) (CANO, 2000, 251). Igualmente, sistematizou as figuras, dispondo-as de ma-
neira ordenada, com a intenção de tornar mais acessíveis a identificação dos dispositivos
musicais e retóricos (BARTEL, 1997, p. 94).
          – Athanasisus Kircher (1601-1680), matemático, historiador, teólogo e teórico mu-
sical. Contribuiu com seu tratado Mursugia Universalis (1650), onde aborda diversos as-
suntos relacionados à ciência, filosofia e música, como as funções das figuras retóricas
(BARTEL, 1997, p. 106-107). Semelhantemente, estabelece síntese sobre as músicas alemãs
e italianas do século XVII, introduzindo o termo Musica Phatetica, ao descobrir a natureza
afetiva da música com os princípios da disciplina retórica (CANO, 2000, p. 261).
          – Mauritius Johann Vogt (1669-1730), compositor e teórico, publicou em 1719,
seu tratado Conclave Thesauri Magnae Artis Musicae, dividido em três partes, a primeira
lida com questões especulativas da música, a segunda retrata a preocupação com o Canto
Gregoriano e a última aborda a composição e música polifônica, relacionando-as às figuras
retóricas (BARTEL, 1997, p. 127).
          – Meinrad Spiess (1683-1761), compositor e teórico, em 1745 publicou o tratado
Tratactus Musicus, onde faz uma reflexão sobre os fundamentos da composição musical e a


                                                                 83
SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
                                                                                 Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86.


importância do emprego da retórica no discurso musical, com base nos autores anteriores e
contemporâneos, reunindo-os e comparando-os (BARTEL, 1997, p. 144).
         – Johann Gottfried Walther (1684-1748), organista, compositor, teorizador e lexi-
cógrafo, estudou os tratados de Athanasius Kircher e Johann Theile (1646-1724), buscando
maior aprimoramento na teoria musical, além da compreensão dos afetos representados pe-
las figuras retóricas. Suas pesquisas resultaram na publicação de dois tratados Praecepta
der Musicalischen Composition (1708) e Musicalisches Lexicon order Musicaische Bibliotec,
Leipzg (1732), sendo que o termo figura-retórico-musical é encontrado pela primeira vez em
seu Lexico (BARTEL, 1997, p. 131-135).

Tabela 2: Figuras Retóricas encontradas no Ofertório da Missa da Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
     Figuras         Tipo                   Descrição                                          Tratadista
ANABASIS       Representação Uma passagem musical ascendente, Walther: Anabasis, de anabaino, ascendo é uma passagem
(BARTEL, 1997, e Descrição   que expressa exaltação ou imagens musical por meio do qual algo subindo às alturas é expres-
p. 179-180).                 positivas dos afetos.                    sa. Por exemplo, nas palavras: Ele é ressuscitado, Deus su-
                                                                      biu, e textos similares.
                                                                      Kircher: A Anabasis ou Ascentio é uma passagem musical
                                                                      através do qual expressamos sentimentos de exaltação, as-
                                                                      censo ou pensamentos elevados e eminentes, exemplificado
                                                                      na ascensão de Cristo.
ANAPHORA       Repetição     (1) É uma linha do baixo repetida em Vogt: Ocorre quando nós frequentemente repetimos um se-
(BARTEL, 1997, Melódica      forma de solo. (2) A repetição de uma guimento ou determinada figura por causa da intensidade.
p. 184-190).                 exposição melódica sobre notas e par- A Anaphora é a repetição que acontece não apenas em par-
                             tes diferentes. Também pode ocorrer te de uma passagem, mas também nas figurae símplices.
                             no inicio das repetições de frases e mo-
                             tivos em uma série de passagens su-
                             cessivas; (3) Uma repetição em geral.
ANTICIPATIO    Ornamentação Uma nota vizinha superior ou inferior, Spiess: A Anticipatio é a antecipação ou reprodução prema-
(BARTEL, 1997, Melódica e    adicionada após a nota principal, in- tura de uma nota. Ela é uma figura muito comum e ocorre
p. 192-195).   Harmônica     troduzida prematuramente de uma quando uma voz entra mais cedo, com as notas superiores
                             nota pertencente à harmonia ou de ou inferiores e é ouvida antes da criação real ou sem orna-
                             acordes posteriores.                     mentos indicariam.
APOSIOPESIS    Interrupção e Descanso em uma ou todas as vozes Walther: A Aposiopesis se refere a uma Pausa generalis
(BARTEL, 1997, Silêncio      de uma composição: pausa geral.          ou um completo silêncio em todas as vozes e nas partes da
p. 202-206).                                                          composição simultaneamente.
EPIZEUXIS      Repetição Me- Repetição imediata e enfática de uma Walther: A Epizeuxis é uma figura de retórica pela qual
(BARTEL, 1997, lódica        palavra, nota, motivo ou frase.          uma ou mais palavras são imediatamente e enfaticamen-
p. 263-265).                                                          te repetidas.
NOEMA          Representação Passagem homofônica em uma Burmeister: A Noema representa o afeto harmônico, onde as vo-
(BARTEL, 1997, e Descrição   textura contrapontística e polifô- zes combinadas têm valores e números de notas semelhantes.
p. 339-342).                 nica.                                    Quando introduzida adequadamente, isto é, no momento
                                                                      certo, ela afeta docemente os ouvidos do ouvinte, produzin-
                                                                      do uma sensação de calma e serenidade.

(BUELOW,                                                                    Seção homofônica, dentro da polifonia utilizada para
2001, p. 268).                                                              enfatizar o texto.
PALILOGIA      Repetição           Repetição de um tema no mesmo ní-        Burmeister: A Palilogia é a repetição de uma inteiração ou
(BARTEL, 1997, Melódica            vel de altura, também pode ocorrer       apenas o começo da estrutura dos meios e temas sobre a
p. 342-344).                       em alturas diferentes na mesma ou        mesma altura com a mesma voz, ocorrendo com ou sem in-
                                   em várias vozes.                         termédio de pausas em todos os eventos em uma voz.
                                                                            Walther: A Palilogia refere-se a uma repetição por demais
                                                                            frequente das mesmas palavras.
PAUSA             Interrupção e    Uma pausa ou descanso na composi-        Walther: Uma figura ou figuras de silêncio. Estas se referem
(BARTEL, 1997,    Silêncio         ção musical.                             à Pausa. Pausa refere-se a um período de repouso ou o si-
p. 362-365).                                                                lêncio na música, que é indicado por um determinado sinal.
SYNCOPE.          Dissonância e A suspensão, com ou sem dissonân-           Walther: Consonâncias que são alteradas para dissonân-
(BARTEL, 1997,    Deslocamento cia resultante.                              cias.
p. 396-405).
SYNAERESIS        Dissonância e (1) Uma suspensão ou síncope, (2) a Vogt: A Synaeresis ocorre quando duas notas são colocadas
(BARTEL, 1997,    Deslocamento colocação de duas sílabas por nota ou em uma sílaba ou duas sílabas são colocadas em uma nota.
p. 394-396).                    duas notas por sílaba.



                                                                  84
SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
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         Como parte integrante da liturgia cristã, o ofertório, inserido na missa, mostra-se
um momento em que o cristão reflete sua condição de servo, procurando estabelecer com
Deus um relacionamento mais íntimo, por meio de sua fé e devoção. Essa ocasião também
propicia ao fiel uma espécie de partilha, analogamente representada no sacrifício de Cristo
que se entrega, oferecendo sua vida pela humanidade, ou seja, esse sentimento de repartir se
dá em forma de louvor e gratidão. Tal intenção e consagração são plenamente expressas atra-
vés dos afetos elaborados pelo compositor nas cinco seções dessa peça. Semelhantemente,
os recursos retóricos utilizados na Inventio, Dispositio e Elocutio (Decoratio) foram consti-
tuídos de forma ordenada e coerente, isto é, contextualizados conforme a peculiaridade cir-
cunstancial do discurso, de modo a confirmar o cabedal de Silva Gomes.
         Ao analisar, portanto, o Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas, observa-
-se o uso de figuras e elementos retóricos pelo quarto mestre de capela da Sé de São Paulo,
dentre os quais se destacam a Anabasis, que busca expressar o afeto de louvor e devoção,
Anaphora, que enfatiza por meio da repetição as passagens bíblicas proferidas pelo salmista
acerca de seu livramento e auxílio, Aposiopesis – pausa geral encerrando a Confutatio, aju-
dando a realçar a Cadência na Dominante (Semicadência); Epizeuxis, enfatizando a expres-
são Domine (Senhor), repetindo-a três vezes – tal como é utilizada na própria liturgia, con-
firmando a tese inicial manifestada no Exordium pela Anabasis, já que o salmista foi livre
da doença, dos inimigos e da morte.
         Destarte, a compreensão acerca do emprego de elementos e figuras retóricas no pro-
cesso composicional de André da Silva Gomes é imprescindível tanto para o bom enten-
dimento da obra, como para cada item persuasivo, tornando evidente sua consciência na
aplicação ordenada da retórica na música, como ele mesmo ressalta categoricamente em seu
tratado: “mas também pode observar como Retórico a analogia da Faculdade Harmônica
com Faculdade Retórica; aqui se observa o Contraponto relativo à parte da Invenção e
a Composição relativa à Disposição e à Elocução” (SILVA GOMES, lição nº. 1 f 2, apud
DUPRAT et al., 1998, p. 17-18).


Notas

1
    Régis Duprat destaca que Silva Gomes foi aluno de José Joaquim dos Santos (1748-1801). É observável que o
    mestre de capela da Sé de São Paulo estava inserido em uma época onde o ambiente musical português tinha
    como principal influência a figura do napolitano Davi Perez (1711-1778) que, além de compor obras líricas e
    religiosas, tinha interesse nas edições didáticas no ensino da teoria musical. Não obstante, influenciou vários
    compositores portugueses dentre os quais João Cordeiro da Silva, João de Souza Carvalho, José Joaquim dos
    Santos, Luciano Xavier dos Santos dentre outros (DUPRAT, 1995, p. 62).
2
    Salmos 29:1-3 seria o número e versículo na bíblia católica, já na bíblia protestante o texto está escrito no número
    30 do versículo 1 ao 3.
3
    É o emprego de artifícios adequados em cada afeto de um texto, em outras palavras, onde se procura clarificar
    qual afeto deverá ser representado. Lausberg complementa afirmando que no Locus estão as diferentes divisões
    e pensamentos distribuídos às quais podem descrever conceitos de comparação similar e de contrariedade.
    (LAUSBERG, 2004, p. 91).
4
    O termo Semicadência, outro nome dado à Cadência que termina na Dominante, pode ser localizada em vários
    autores tais como Arnold Schoenberg (Fundamentos da Composição Musical, 2008, p. 68-73), Diether da la Motte
    (Armonía, 2006, p. 28), Walter Piston (Armonía, 1998, p. 168-170), William Earl Caplin (Classical Form, 2001, p.
    128-130), entre outros.




                                                                   85
SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes.
                                                                                 Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86.




ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia de Estudo Pentecostal. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembléias de Deus, 1996.

        . Bíblia de Estudo Vida. 2ª Edição. São Paulo: Editora Vida, 1999.

BARTEL, Dietrch. Musica Poetica: musical-rhetorical figures in Germany Baroque music.
Lincoln: University of Nebraska Press, 1997.

BUELOW, George. Rhetoric and Music. In: The New Grove Dictionary of Music and Musicians.
Stanley Sadie (Ed.). New York: Oxford University Press, 2001. vol. 21, p. 260 - 275.

CANO, Rubén López. Música y Retórica en el Barroco. México, D.F: Gráfica da Universidade
Nacional Autônoma do México, 2000, vol.1. Disponível em: <http://www.geocties.com/lopezca-
no/Articulos/MRB/02.PrimeiraParte.pdf>. Acessado em: 22 mar 2012.

DUPRAT, Régis. Música na Sé de São Paulo Colonial. São Paulo: Paulus, 1995.

        . Música Sacra Paulista. Marília (SP): Empresa Unimar, 1999.

DUPRAT, Régis et al. A Arte Explicada de Contraponto de André da Silva Gomes. São Paulo: Arte
& Ciência, 1998.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª Edição.
Curitiba: Editora Positivo, 2004.

GIRON, Luís Antônio. Minoridade Crítica: a ópera e o teatro nos folhetins da corte (1826-1861).
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

LAUSBERG Heinrich. Elementos de Retórica Literária. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbernkian, 2004.

MATTHESON, Johann. Der Vollkommene Capellmeister. (Hamburgo, 1739) Kassel: Bärenreiter/
Verlag, 1954.

SOARES, Paulo Augusto. Os Ofertórios de André da Silva Gomes. Dissertação de mestrado.
Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2000. São Paulo:
UNESP, 2000.183p.



Eliel Almeida Soares - Graduado com Licenciatura em Música pelo Departamento de Música da Escola de Comu-
nicações e Artes da Universidade de São Paulo- USP (2008). Faz parte do grupo de pesquisa sobre estruturas dis-
cursivas na música colonial brasileira, também possui trabalhos publicados sobre retórica musical. Atualmente é
Mestrando em Musicologia pela mesma instituição, sob a orientação do Prof. Dr. Diósnio Machado Neto.

Ronaldo Novaes - Graduado com Licenciatura em Música pelo Departamento de Música da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo-USP (2011). Participa do grupo de pesquisa sobre
retórica musical na obra de André da Silva Gomes, sob orientação do Prof. Dr. Diósnio Machado Neto.

Diósnio Machado Neto - Bacharel em Instrumento no Instituto de Música da Universidad Católica de Chile. Mestre
(2001), Doutor (2008) em Musicologia e Livre-Docente (2011), pela Universidade de São Paulo. É coordenador do
grupo de pesquisa sobre os processos e padrões retóricos da música colonial brasileira. Atualmente é Professor As-
sociado (Livre-Docente) no Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
e na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-USP.




                                                                  86

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  • 1. ISSN 1676-3939 V.12 - N.2 - 2012 REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM MÚSICA ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
  • 2. ISSN: 1676-3939 Esta publicação foi realizada com os apoios: Volu m e 1 2 - Número 2 - 2012
  • 3. MÚSICA HODIE V.12 - n.2 - 2012 ISSN: 1676-3939 Universidade Federal de Goiás Revisão Prof. Dr. Edward Madureira Brasil Sonia Regina Albano de Lima e Sonia Ray (Reitor) Capa Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Detalhe do quadro sem título de Fabricio (Pirenópolis, GO) Profa. Dr. Divina das Dôres de Paula Cardoso Foto: Sonia Ray, 2012 (Pró-Reitora) Editoração: Escola de Música e Artes Cênicas Profa. Dra. Ana Guiomar Rêgo Souza (Diretora) Impressão e Acabamento: Programa de Pós-Graduação em Música Profa. Dra. Claudia Regina de Oliveira Zanini Site: www.musicahodie.mus.br (Coordenadora) Judson Costa (Webmaster) REVISTA MÚSICA HODIE Conselho Editorial A Revista Música Hodie foi criada no PPG Música da Escola Profa. Dra. Sonia Ray - Presidente (UFG, Goiânia, GO) de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás e é Prof. Dr. Anselmo Guerra de Almeida (UFG, Goiânia, GO) publicada ininterruptamente desde dezembro de 2001 em 2 Profa. Dra. Cristina Gerling (UFRGS, Porto Alegre, RS) números por ano. Seu Conselho Editorial é presidido pela Profa. Dra. Profa. Dra. Eliane Leão (UFG, Goiânia, GO) Sonia Ray desde sua criação e conta com representação regional, Prof. Dr. Fausto Borém (UFMG, Belo Horizonte, MG) nacional e internacional. Desta mesma forma está composto o Prof. Dr. Florian Pertzborn (Escola Politécnica do Porto, Porto, Conselho Consultivo. Os indexadores da MH são RILM – International PORTUGAL) Repertory of Music Literature, Arts & Humanity Index, The Music Profa. Dra. Lúcia Barrenechea (UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ) Index (EBSCO), e CAPES-Periódicos Qualis “A1”. A publicação Prof. Dr. Mikhail Malt (IRCAM, Paris, FRANÇA) Profa. Dra. Tânia Lisboa (Royal College of Musica, Londres, particularmente temas relacionados a Performance Musical e suas INGLATERRA) Interfaces, Composição e Novas Tecnologias, Educação Musical, Música e Interdisciplinaridade, Musicoterapia, Linguagem Sonora e Conselho Consultivo Intersemiose, Musicologia, concentrando-se na produção musical Prof. Dr. Ângelo Dias (UFG, Goiânia, GO) mais recente. Profa. Dra. Beatriz Ilari (University of South California, EUA) Profa. Dra. Catarina Domenici (UFRGS, Porto Alegre, RS) Prof. Dr. Cesar Traldi (UFG, Goiânia, GO) Prof. Dr. Daniel Afonso (California State University-Stanislaus, Turlock, EUA) Prof. Dr. Daniel Barreiro (UFU, Uberlândia, GO) Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Profa. Dra.Isabel Nogueira (UFPel, Pelotas, RS) (GPT/BC/UFG) Profa. Dra. Lilia Gonçalves (UFU, Uberlândia, GO) Profa. Dra. Marília Álvares (UFG, Goiânia, GO) ________________________________________________ Prof. Dr. Marcos Vinicio Nogueira (UFRJ, Rio de Janeiro, RJ) Prof. Dr. Mario Ferraro (UFRJ, Rio de Janeiro, RJ) Música Hodie; Revista do Programa de Pós-gradua- Profa. Dra. Mônica Lucas (USP, São Paulo, SP) ção Stricto-Senso da Escola de Música e Artes Profa. Dra. Nancy Lee Harper (Universidade de Aveiro, Aveiro, Cênicas da Universidade Federal de Goiás. Vol. PORTUGAL) 12 (n. 2, 2012) Goiânia: UFG, 2012. Prof. Dr. Rafael dos Santos (Unicamp, São Paulo, SP) Prof. Dr. Ricardo Freire (UnB, Brasilia, DF) v.: Il. Profa. Dra. Rosane Cardoso de Araújo (UFPR, Curitiba, PR) Semestral Profa. Dra. Sonia Regina Albano de Lima (Unesp, São Paulo, SP) Descrição baseada em: Vol. 12, n. 1 (2012) Profa. Dra. Valerie Albright (Unesp, São Paulo, SP) ISNN 1676-3939 Editora Convidada para o Volume 12 n.2 de 2012 Profa. Dra. Sonia Regina Albano de Lima (Unesp, São Paulo, SP) 1. Música Periódicos I. Universidade Federal de Consultores do Volume 12 n.2 Goiás. Escola de Música e Artes Cênicas. Banco de Pareceristas da ANPPOM CDU: 78(05) ________________________________________________ www.anppom.com.br
  • 4. Editorial O volume 12, n.2 da Revista Música Hodie, assim como o anterior, contemplou dis- cussões envolvendo aspectos gerais do universo musical, desde a ópera até a educação mu- sical, além da inclusão de partitura na sessão correspondente e texto livre na sessão Outras Palavras. Integra ainda o periódico, artigo da pesquisadora convidada Prof. Dr. Iris M. Yob, que prontamente atendeu ao nosso pedido, perfilhando temática um tanto polêmica no en- sino musical. Presentes nesta publicação, autores atuantes no cenário musical, orientandos e orientadores dos programas de pós-graduação em música e pesquisadores estrangeiros, o que dignifica ainda mais a excelente pontuação atribuída à Revista. Ao concluir a minha atuação como editora convidada nesses dois volumes, levo a certeza de ter concluído uma tarefa na qual me empenhei com dedicação, a experiência ad- quirida no exercício desta tarefa e os amigos virtuais conquistados na figura dos pareceris- tas e dos autores. Outra não seria a minha atitude no final deste trabalho, senão agradecer a acolhi- da incondicional dos pareceristas convidados que tão bem desempenharam suas funções e estender meus agradecimentos aos autores que incansavelmente atenderam não só as su- gestões e indicações dos pareceristas como aquelas que me couberam solicitar enquanto editora. Espero que os próximos editores convidados tenham igual sorte em nome da pre- servação de qualidade deste periódico. Despeço-me ainda da pesquisadora, contrabaixista e editora-chefe desta revista, Prof. Dra. Sonia Ray, agradecendo a confiança depositada e a sua presteza em solucionar as dúvidas surgidas durante a execução do meu trabalho. Sonia Regina Albano de Lima Editora convidada
  • 5. Sumário Artigos Científicos A MELANCOLIA ERÓTICA NO LAMENTO DE PRÓCRIS DA ÓPERA GLI AMORE DI APOLLO E DAFNE (1640) DE GIOVANNI FRANCESCO BUSENELLO E FRANCESCO CAVALLI The erotic melancholy in Procris’ Lament of the opera Gli Amore di Apollo e Dafne (1640) by Giovanni Francesco Busenello and Francesco Cavalli Viviane Alves Kubo (UFPR, Curitiba, PR, Brasil) ..................................................................................................... 8 REPRESENTAÇÃO DA MORTE FEMININA EM L`ORFEO E IL COMBATTIMENTO DI TANCREDI ET CLORINDA DE CLAUDIO MONTEVERDI The Representation of Feminine Death in L’Orfeo and Il Combattimento di Tancredi et Clorinda by Claudio Monteverdi Abel Rocha (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) ........................................................................................................ 24 ÓPERA NO BRASIL: UM PANORAMA HISTÓRICO Opera in Brazil: a historical overview José Maurício Brandão (UFBA, Salvador, BA, Brasil) ............................................................................................ 31 PENSAR A REVOLUÇÃO NOS COMPORTAMENTOS E PRÁTICAS CULTURAIS ASSOCIADAS AO TEATRO DE SÃO CARLOS ENTRE O FIM DO ESTADO NOVO E OS PRIMEIROS ANOS DA DEMOCRACIA EM PORTUGAL Discussing the Revolution in the Behaviors and Cultural Practices Associated with the Teatro de São Carlos, between the End of the New State and the First Years of Democracy in Portugal Paula Gomes Ribeiro (CESEM – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal) ........................................................... 48 ASPECTOS DE PERFORMANCE NOS TRATADOS PORTUGUESES SOBRE BAIXO CONTÍNUO Performance aspects on Portuguese thorough-bass treatises Gustavo Ângelo Dias (UNICAMP, Campinas, SP, Brasil) .......................................................................................... 57 FIGURAS RETÓRICAS NO OFERTÓRIO DA MISSA DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS DE ANDRÉ DA SILVA GOMES Rhetorical Figures in the Offertory of the Ash Wednesday Mass of André da Silva Gomes Eliel Almeida Soares (USP, São Paulo, SP, Brasil) Ronaldo Novaes (USP, São Paulo, SP, Brasil) Diósnio Machado Neto (USP, São Paulo, SP, Brasil) ............................................................................................. 71 AGRUPAMENTOS SONOROS PLENOS NA MÚSICA DE SIMULTANEIDADES ACÚSTICAS E ESTRUTURAIS Full Sound Groupings in Acoustic and Structural Simultaneity Music Marcos Fernandes Pupo Nogueira (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) ............................................................................. 87 A OBRA UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO: ASPECTOS COMPOSICIONAIS E INTERPRETATIVOS DA TRÍADE MÚSICA–LITERATURA–TEATRO The Work I compositional and interpretive aspects of the music–literature–theater triad Fausto Borém (UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil) ............................................................................................ 98 DEFINIÇÃO DE SINTAXE COMPOSICIONAL A PARTIR DO ESTABELECIMENTO DE HIERARQUIAS ENTRE SONORIDADES TRICORDAIS RELACIONADAS POR SIMILARIDADE by Similarity Weskley Dantas (UFCG, Campina Grande, PB, Brasil) Liduino Pitombeira (UFCG, Campina Grande, PB, Brasil) ................................................................................... 109 STUDYING THE COMPUTING IMPLEMENTATION OF INTERACTIVE MUSICAL NOTATION Um Estudo sobre a Implementação Computacional de Processos de Notação Musical Interativa José Fornari (UNICAMP, Campinas, SP, Brasil)................................................................................................. 120 AS JUNTURA DE PALAVRAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CANTADO: ESTUDOS PARA UMA APLICAÇÃO The Linking of Words in Brazilian Portuguese Lyric Diction: studies for an application Juliana Starling (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) Martha Herr (UNESP, São Paulo, SP, Brasil) .................................................................................................... 133
  • 6. “A QUEM INTERESSAR POSSA...” DE VANESSA RODRIGUES PARA VIOLONCELO SOLO A Quem Interessar Possa...” by Vanessa Rodrigues for Solo Cello Fabio Presgrave (UFRN, Natal, RN, Brasil) .................................................................................................... 146 OS SETE ESTUDOS PARA VIOLÃO SOLO DE CARLOS ALBERTO PINTO FONSECA: UMA ABORDAGEM ANALÍTICA SOBRE DEMANDAS TÉCNICAS The Seven Studies for Guitar Solo of Carlos Alberto Pinto Fonseca: an analytical approach about technical demands Cristiano Braga de Oliveira (UFMA, São Luís, MA, Brasil) Daniel Wolff (UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil)............................................................................................... 156 O INTÉRPRETE (RE)SITUADO: UMA REFLEXÃO SOBRE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO E TÉCNICA NA CRIAÇÃO DE “INTERVENÇÕES PARA PIANO EXPANDIDO, INTERFACES E IMAGENS – CENTENÁRIO JOHN CAGE” The Performer (Re)Situated: some thoughts on construction of meaning and technique in the creation of “Interventions for Catarina Leite Domenici (UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil) ................................................................................ 171 O USO IDIOMÁTICO DOS INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO BRASILEIROS: PRINCIPAIS SISTEMAS NOTACIONAIS PARA O PANDEIRO BRASILEIRO The Idiomatic Use of Brazilian Percussion Instruments: notational systems for the Brazilian pandeiro Eduardo F. Gianesella (UNESP, São Paulo, São Paulo, Brasil) ............................................................................... 188 UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE TALENTO MUSICAL A Brief Discussion on Musical Talent Ricieri Carlini Zorzal (UFMA, São Luis, MA, Brasil) .......................................................................................... 201 CONCEPÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Conceptions and Implications for Music Teaching in Children Education Andréia Pereira de Araújo Martinez (UnB, Brasília, DF, Brasil) Patrícia Pederiva (UnB, Brasília, DF, Brasil)................................................................................................... 210 A GESTÃO ADMINISTRATIVA EM EDUCAÇÃO MUSICAL E A FORMAÇÃO DE EDUCADORES MUSICAIS The Administrative Management in Music Education and the Education of Music Educators Susana Ester Kruger (ArtHaus, São Paulo, SP, Brasil) Fernando Stanzione Galizia (UFSCAR, São Carlos, SP, Brasil) ............................................................................. 220 UNA APROXIMACIÓN A LA MÚSICA BRASILEÑA: GÉNEROS E HISTORIA An Approach to Brazilian Music: genres and history Santiago Pérez Aldeguer (Universitat Jaume I Castellón, Castellón de la Plana, Espanha) .......................................... 233 Outras Palavras A LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE CIFRAS ALFABÉTICAS NO TECLADO Chord symbol reading and interpretation on the keyboard Silvio Merhy (UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) ........................................................................................... 244 NOTATIONAL PRACTICE OF COMPLEX MUSIC Michael Edward Edgerton (The University of Malaya) ...................................................................................... 259 CONSIDERATIONS FOR ONLINE LEARNING Considerações para Aprendizado na Rede Iris M. Yob (Walden University, Minneapolis, Washington, EUA) .......................................................................... 275 Primeira Impressão TEMPERAMENTOS, OP. 3 (2011), PARA QUARTETO DE CORDAS Temperamentos, Op. 3 (2011), for string quartet Weskley Dantas (UFCG, Campina Grande, PB, Brasil) ...................................................................................... 282 Chamada para artigos, gravações e partituras..................................................................................295 Call for articles, recordings and scores...........................................................................................299 Normas para formatação das referências .........................................................................................300
  • 7. Artigos Científicos Revista Música Hodie, Goiânia - V.12, 000p., n.2, 2012
  • 8. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes Eliel Almeida Soares (USP, São Paulo, SP, Brasil) eliel.soares@usp.br Ronaldo Novaes (USP, São Paulo, SP, Brasil) ronaldo.novaes@usp.br Diósnio Machado Neto (USP, São Paulo, SP, Brasil) dmneto@usp.br Resumo: Este artigo propõe-se a expor o emprego de elementos retóricos no Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Partindo de investigações acerca da Retórica como área do conhecimento humano, em seguida procuraremos esclarecer o interesse da musicologia atual em compreender como é disposto o discurso musical, da mesma forma relatar a fase inicial na qual estão as investigações sobre a retórica na música colonial bra- sileira. Como conclusão, apresentaremos por meio de análises fundamentadas no estudo dos tratados retórico-musi- cais que, nesse Ofertório, existem diversos recursos retóricos contextualizados de maneira a estabelecer relação di- reta entre afeto e figura, as quais são trabalhadas conscientemente pelo compositor. Palavras-chave: Análise retórica; Ofertórios; André da Silva Gomes; Música colonial brasileira. Rhetorical Figures in the Offertory of the Ash Wednesday Mass of André da Silva Gomes Abstract: This article aims to show the use of rhetorical elements in the Offertory of the Ash Wednesday Mass of André da Silva Gomes. Starting from investigations of the Rhetoric as an area of human knowledge, and then we are going to try to clarify the current musicology interest to understand how musical discourse is used. Similarly, we want to report the initial stage in which the investigations on the Brazilian Colonial Music are. As a conclusion we are going to present through analysis based on the study of musical-rhetorical treaties that, in this Offertory, there are several rhetorical resources contextualized in order to establish a direct relationship between affect and figure, which are worked by the composer consciously. Keywords: Rhetorical analysis; Offertories; André da Silva Gomes; Brazilian colonial music. 1. Introdução Retórica é a área do conhecimento humano que tem por objetivo o estudo, a pro- dução e análise do discurso, pelo viés da eloquência e persuasão, através do qual o orador busca convencer uma audiência sobre a verdade de algo. Como tekhné, tem sua origem na Grécia Antiga, fundamentada não apenas na lógica e no conhecimento, mas na habilidade de aplicar a linguagem de forma a impressionar favoravelmente os ouvintes, ou seja, mover seus afetos. Desde sua origem, diversos foram os pensadores que contribuíram para sua sis- tematização, passando por Aristóteles (394-322 a. C.), Cícero (106-43 a.C.), Quintiliano (ca. 35- ca. 96), assim como pela Idade Média, com Santo Agostinho (354-430), Santo Isidoro de Sevilha (570-636), pela Renascença, com Desidério Erasmo de Rotterdam (1469-1536), Philipp Melanchthon (1497-1560), culminando no Barroco, com Cipriano Soares (1524- 1593), Emanuele Tesauro (1592-1675) e Padre Antônio Vieira (1608-1697), influenciando, também, o pensamento de diversos tratadistas retórico-musicais, além do gramático e com- positor André da Silva Gomes, objeto deste trabalho. Nesse sentido, a música concebida não apenas na Alemanha, a partir da segunda metade do século XVI, mas em toda a Europa, se baseava em uma relação, cujos processos de estruturação empregados contextualizavam-se na formação de um cabedal idealizado em constructos literários, permeados sob a égide da linguagem e seus recursos; sejam as fi- guras e elementos retóricos, fundamentando a disposição do discurso musical. Por essa ra- zão, desde o último quartel do século XX, a musicologia tem dado sinais evidentes de seu Revista Música Hodie, Goiânia - V.12, 000p., n.2, 2012 Recebido em: 15/04/2012 - Aprovado em: 04/05/2012 71
  • 9. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. interesse às questões relativas ao significado das constituições retóricas. Como fruto de tais pesquisas, são publicadas, anualmente, inúmeras teses, dissertações, trabalhos e artigos so- bre o assunto, fato esse inexorável por ser a retórica o instrumento ideal e basilar para o co- nhecimento analítico do período investigado. Todavia, a maioria dessas produções acadê- micas, tem por objetivo de estudo as obras de compositores europeus. Nessa conjuntura, o presente trabalho se diferencia pela observação da aplicação retórica no processo composi- cional de André da Silva Gomes (1752-1844). Tal fato é plenamente possível uma vez que o referido autor teve sua formação no Seminário Patriarcal de Lisboa1, obtendo toda a sapiên- cia necessária a respeito da Retórica, como se pode observar em suas composições e em seu tratado A Arte Explicada de Contraponto. Pretende-se aqui, apresentar a possiblidade da utilização desses elementos em uma das obras de Silva Gomes, o Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas, mostrando que o compositor luso-brasileiro, mesmo longínquo dos principais centros musicais europeus, era um artista com considerável erudição, acompanhando atentamente os progressos da ciên- cia e da música. Era um compositor, mestre de capela e gramático que tinha consciência do anacronismo da linguagem adotada para modelar suas composições (GIRON, 2004, p. 50). É notório que as investigações sobre a retórica na música brasileira são incipientes, o que, por si só, já justifica a inserção deste trabalho dentro das pesquisas existentes. 2. O modelo discursivo de Mattheson Johann Mattheson (1681-1764) esboçou em seu Der Vollkommene Capellmeister (1739), um modelo composicional fundamentado no sistema retórico, de forma a imbuir o discurso musical com a mesma força persuasiva da arte da oratória. Balizado nos cânones clássicos, utiliza-se das Cinco Fases da Retórica, fortalecendo a relação entre a música e o discurso, mostrado a seguir. Inventio – trata-se de uma fase inicial do discurso – sua gestação na mente do orador, a invenção ou busca de ideias, abrangendo o ato de criação e de recolha fundamentos de expostos, ideias musicais, etc. Dispositio – distribuição ou arranjo das ideias e argumentos encontrados na In- ventio, de forma apropriada e eficaz. Decoratio – diz respeito ao estilo. Trata da elaboração ou decoração de cada ideia, para o desenvolvimento de cada item e da sua ornamentação, também chamado Elaboratio ou Elocutio por outros autores. Memória – são os mecanismos e processos utilizados para memorizar o discurso e, por extensão, o modo operativo de cada uma das fases retóricas. Pronuntatio – pronunciação do discurso. É a última fase do sistema retórico, também conhecida como Actio ou ação (atuação). Diz respeito à performance, ou seja, à interpretação frente ao público. Em relação à Dispositio, alguns autores como Gallus Dressler (1533-1589), elabora- ram uma versão simplificada em três partes (Exordium, Medium e Finis). No entanto, em consonância com os cânones clássicos, Mattheson dispõe desta maneira: Exordium – inicio do discurso; Narratio – declaração dos fatos ou dados; Divisio ou Propositio– exemplificação e defesa sob a perspectiva do orador; Confutatio – refutação contra as provas contrárias; Confirmatio – provas para confirmar o que querem defender; Perotatio – conclusão (BUELOW, 2001, p. 261-262). 72
  • 10. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. 3. Análise Retórica do Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas 3.1 Inventio O texto deste ofertório foi extraído do Salmo (Ps.29,1-3/ 30,1-3)2, cujo tema é: Ação de Graças pela Libertação da Morte. Exaltabo te Domine, quoniam suscepiste me, et nec [non] dilectasti Inimicos meos super me/ Domine clamavi ad te sanasti me. Exalto-te, Senhor, por que me livrou/ e não permitiu que se alegrassem a Minha custa meus inimigos/ Senhor, meu Deus, a ti clamei e me sarou. (SOARES, 2000, p. 25). Esse excerto descrito acima, expressa uma fé autêntica não só do autor do salmo, mas igualmente dos fiéis no Senhor. Davi, nesta passagem, louva a Deus por tê-lo livrado de três coisas terríveis: 1. de seus inimigos; 2. de uma doença; 3. da morte. Tal sentimento manifesta uma aclamação à figura do Criador pelo fato Deste ter concedido as graças rogadas e alcançadas sob Sua influência. A mesma devoção e gratidão são partilhadas no ofertório, onde o cristão faz uma reflexão sobre a fragilidade da vida hu- mana, a qual é sujeita à morte. De sorte que esse profundo pensar é destacado pela conver- são e mudança de vida, necessária para quem professa a Cristo como salvador e responsável pela remissão dos pecados. Essa obra, portanto, é composta por trinta e três (33) compassos na tonalidade Sol Maior, em andamento Moderato, proporcionando ao ouvinte audição clara e perspicaz. Em suma, a intenção nos tópicos seguintes, é revelar a existência de aspectos relevantes da lin- guagem adotada pelo autor, observando a aplicação de figuras e elementos retóricos, além dos materiais e das funções harmônicas. 3.2 Locus3 observados na Inventio do Ofertório Tabela 1: Locus Topici encontrados no Ofertório da Missa De Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Inventio Descrição Utilização na obra Compasso/ Voz Locus Notationis Aspecto externo e desenho das Vários motivos rítmicos e diferentes durações de 1-5 S-A-T-B (MATTHESON, [1739] 1954, notas (Duração das notas, alte- notas (mínimas, mínimas pontuadas, semíni- 6-8 S-A-T-B Parte II, Cap.4, § 23, p. 123). ração, repetição e procedimen- mas, semínima pontuadas, colcheias, colcheias 17-26 S-A-T-B tos canônicos). pontuadas, semicolcheias, repetições, ligadu- 27-33 S-A-T-B ras, pausas, fermata entre outros). Locus Oppositorum Contraste de compassos, mo- Movimento contrário entre contralto e baixo. 21 A-B (MATTHESON, [1739] 1954, vimentos contrários, agudos e Também entre soprano e baixo e tenor. 28 S-B Parte II, Cap.4, § 80, p. 131). graves, lento e rápido, calmo e 29-S-T agitado. Locus Descriptionis Disposições da alma Louvor, Júbilo, Alegria, Celebração (Exalto-te, 1-21 S-A-T-B (MATTHESON, [1739] 1954, Senhor, por que me livrou). Parte II, Cap.4, § 43, p. 127). Expectativa, Resposta (A ti clamei e me sarou). 24-31 S-A-T-B 73
  • 11. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. 3.2.1 Dispositio 3.2.1.1 Exordium O Exordium é apresentado nos três primeiros compassos da peça, tendo como fi- gura central a Anabasis, a qual é trabalhada por Silva Gomes tanto na ordenação quanto na preparação dos argumentos iniciais, dos quais se fundamentará o discurso. Por meio dessa figura, observa-se a caracterização de louvor e agradecimento por parte do salmista a um ser superior, que está num lugar elevado: Exaltabo te Domine (Exalto-te, Senhor), eviden- ciado pelas notas que se movimentam de forma ascendente. No terceiro compasso o autor emprega a figura da Synaeresis, destacando esse efusivo momento, igualmente, o mesmo aplicativo se dá para destacar o repouso da frase na Tônica, como das notas cantadas na mesma silaba. Exemplo 1: Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes - comp. 1-3 Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 175). 3.2.1.2 Narratio Na segunda fase da Dispositio continua a serem empregadas pelo compositor as fi- guras da Anabasis e da Synaeresis, mantendo a mesma relação de exaltação e louvor esta- belecida anteriormente no Exordium, entretanto, no compasso 5, na voz do tenor, pode-se observar o uso da Anticipatio, antecipando a entrada das outras vozes na reiteração do en- cômio dado. A junção desses elementos procura despertar a atenção do ouvinte para o esta- 74
  • 12. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. belecimento entre elevação e reflexão. A Narratio termina no terceiro tempo do compasso 8, ou seja, bem na passagem da primeira para a segunda seção da obra, delimitada pelo efeito suspensivo da Cadência na Dominante (Semicadência)4. Exemplo 2: Synaeresis, Anabasis e Anticipatio comp. 4-6 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 175). 3.2.1.3 Propositio No momento em que se encerra, tanto a primeira seção como a Narratio, inicia-se a Propositio, no final do compasso 8, na voz da soprano. Da mesma forma, Silva Gomes utili- za a figura da Pausa com o intuito de obter repouso após uma suspensão no final da seção anterior na Dominante de Mi Menor. 75
  • 13. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Exemplo 3: Pausa nas vozes do contralto, tenor e baixo comp. 8-9 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 175). Como peculiar dessa parte do discurso, o autor novamente faz menção às palavras: Exaltabo te Domine (Exalto-te, Senhor), destacando-as de maneira enfática. Auxiliando es- sas aplicações no texto, estão as figuras retóricas inseridas por Silva Gomes como a Noema, trazendo equilíbrio nas vozes e também valorizando a Cadência Autêntica Imperfeita, con- cretizada no compasso 11, em condução homofônica e a Anaphora, repetindo tanto as frases e motivos dessa passagem, como a palavra Suscepiste (amparo, ajuda, livramento). 76
  • 14. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Exemplo 4: Noema e Anaphora em todas as vozes comp. 10-12 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 175). 3.2.1.4 Confutatio A Confutatio é empregada na transição da modulação de Mi Menor para Sol Maior. Já a terceira fase da disposição é concluída no compasso 14, ainda na terceira se- ção da obra, em sua tonalidade principal. Semelhantemente, o compositor continua a em- pregar a Anaphora, ressaltando a importância do livramento concedido por Deus para seu servo. 77
  • 15. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Exemplo 5: Anaphora comp. 13-15 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 176). Apesar de conservar o uso da figura supracitada (Anaphora), nessa parte da Dispositio, o autor preocupa-se em cumprir o objetivo e plano estabelecidos para a execu- ção da mesma, inserindo novos elementos de ordem textual e motívica. Por exemplo, a par- tir do compasso 19, na terceira seção, é empregada uma fermata pela primeira vez na peça, valorizando tanto a repetição da exposição melódica como a valoração das vozes da sopra- no e contralto, entoando duas notas em uma sílaba, realizadas pela Anaphora e Synaeresis, igualmente antecedendo a figura da Aposiopesis, descrita por uma pausa geral em todas as vozes, aplicada posteriormente no compasso 20. Também é observável o contraste alcança- do com êxito através da intersecção desses mecanismos, sem se esquecer das dinâmicas for- te e piano entre a Aposiopesis. De forma idêntica, segue o texto que retrata a questão da não permissão da alegria dos inimigos à custa do sofrimento anterior, por parte de Deus (Et nec [non] dilectasti inimicos meos super me). 78
  • 16. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Exemplo 6: Anaphora, Aposiopesis e Synaeresis comp. 15-20 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 176). 79
  • 17. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Em síntese, todo esse sentido converge para a organização das contestações às quais são expostas a partir desse trecho do ofertório, ou seja, a oposição das ideias musicais; po- rém, é mantida a coesão do discurso. A reafirmação do discurso inicial ocorre pela repetição imediata e enfática das no- tas, como da palavra Domine (Senhor), efetuada pela figura da Epizeuxis. Igualmente pode- -se destacar o emprego da pausa como elemento de transição da terceira para a quarta seção e a modulação obtida no compasso 22 de Sol Maior para Mi Menor, respaldada anteriormen- te pela Cadência Autêntica Imperfeita. Exemplo 7: Pausa e Epizeuxis comp. 21-23 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 177). No exemplo a baixo podem ser observadas as mesmas figuras empregadas anterior- mente pelo autor, no entanto, ele insere uma nova: Palilogia que, por sua vez, repete as mes- mas notas e palavras temáticas do texto. 80
  • 18. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Exemplo 8: Palilogia, Epizeuxis e Pausa comp. 24-26 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 177). A Confirmatio termina coincidentemente com a quarta seção no compasso 27. Exemplo 9: Pausa nas três vozes e no instrumento comp. 27 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 178). 81
  • 19. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. 3.2.1.6 Perotatio Tanto a Perotatio quanto a quinta e última seção iniciam-se a partir no final do compasso 27. Como característica dessa parte do discurso, é trabalhado pelo autor tanto o texto quanto as figuras de maneira enfática; ou seja, repetindo e destacando a palavra Et sa- nasti (Me sarou), através da Epizeuxis e Anaphora. Exemplo 10: Anaphora e Epizeuxis comp. 27-29 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 178). Silva Gomes conclui o discurso desse ofertório na tonalidade de Sol Maior, utili- zando a Aposiopesis e Anaphora, empregadas desde a Propositio na segunda seção, ou seja, ele reúne partes integrantes da fundamentação da tese. Entretanto, entre os compassos 32 e 33, pode-se notar a aplicação, além da Synaeresis, de outra figura: a Syncope na voz da soprano. Em um primeiro momento ela é consonante ao acorde da Subdominante e, poste- riormente, resulta em uma dissonância da Subdominante Paralela. Isto é, a nota Sol que, no compasso anterior era a quinta, passa a ser a sétima, criando uma tensão para a função que virá com a Dominante. Enfim, é finalizada a peça com uma dinâmica contrastante se- melhante à que fora apresentada na Confutatio, no entanto, com uma diferença de forte para pianíssimo e com uma frase bem definida, reflexiva e suave para, em seguida, acabar na Cadência Autêntica Imperfeita. 82
  • 20. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Exemplo 11: Anaphora, Aposiopesis, Syncope e Synaeresis comp. 30-33 - Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p. 178). 3.3 Figuras observadas no Ofertório (Elocutio/Decoratio) O quadro, a seguir, traz a descrição das figuras utilizadas pelo compositor luso-bra- sileiro, assim como sua definição pelos tratadistas, dentre os quais são destacados abaixo. – Joachim Burmeister (1564-1629), compositor e teórico, preocupou-se em rela- cionar teoria, poética e prática, estabelecendo analogia com as figuras de retórica em seus tratados Hypomnematum Musicae Poeticae (1599), Musica Autoschediastike (1601) e Musica Poetica (1606) (CANO, 2000, 251). Igualmente, sistematizou as figuras, dispondo-as de ma- neira ordenada, com a intenção de tornar mais acessíveis a identificação dos dispositivos musicais e retóricos (BARTEL, 1997, p. 94). – Athanasisus Kircher (1601-1680), matemático, historiador, teólogo e teórico mu- sical. Contribuiu com seu tratado Mursugia Universalis (1650), onde aborda diversos as- suntos relacionados à ciência, filosofia e música, como as funções das figuras retóricas (BARTEL, 1997, p. 106-107). Semelhantemente, estabelece síntese sobre as músicas alemãs e italianas do século XVII, introduzindo o termo Musica Phatetica, ao descobrir a natureza afetiva da música com os princípios da disciplina retórica (CANO, 2000, p. 261). – Mauritius Johann Vogt (1669-1730), compositor e teórico, publicou em 1719, seu tratado Conclave Thesauri Magnae Artis Musicae, dividido em três partes, a primeira lida com questões especulativas da música, a segunda retrata a preocupação com o Canto Gregoriano e a última aborda a composição e música polifônica, relacionando-as às figuras retóricas (BARTEL, 1997, p. 127). – Meinrad Spiess (1683-1761), compositor e teórico, em 1745 publicou o tratado Tratactus Musicus, onde faz uma reflexão sobre os fundamentos da composição musical e a 83
  • 21. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. importância do emprego da retórica no discurso musical, com base nos autores anteriores e contemporâneos, reunindo-os e comparando-os (BARTEL, 1997, p. 144). – Johann Gottfried Walther (1684-1748), organista, compositor, teorizador e lexi- cógrafo, estudou os tratados de Athanasius Kircher e Johann Theile (1646-1724), buscando maior aprimoramento na teoria musical, além da compreensão dos afetos representados pe- las figuras retóricas. Suas pesquisas resultaram na publicação de dois tratados Praecepta der Musicalischen Composition (1708) e Musicalisches Lexicon order Musicaische Bibliotec, Leipzg (1732), sendo que o termo figura-retórico-musical é encontrado pela primeira vez em seu Lexico (BARTEL, 1997, p. 131-135). Tabela 2: Figuras Retóricas encontradas no Ofertório da Missa da Quarta-feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Figuras Tipo Descrição Tratadista ANABASIS Representação Uma passagem musical ascendente, Walther: Anabasis, de anabaino, ascendo é uma passagem (BARTEL, 1997, e Descrição que expressa exaltação ou imagens musical por meio do qual algo subindo às alturas é expres- p. 179-180). positivas dos afetos. sa. Por exemplo, nas palavras: Ele é ressuscitado, Deus su- biu, e textos similares. Kircher: A Anabasis ou Ascentio é uma passagem musical através do qual expressamos sentimentos de exaltação, as- censo ou pensamentos elevados e eminentes, exemplificado na ascensão de Cristo. ANAPHORA Repetição (1) É uma linha do baixo repetida em Vogt: Ocorre quando nós frequentemente repetimos um se- (BARTEL, 1997, Melódica forma de solo. (2) A repetição de uma guimento ou determinada figura por causa da intensidade. p. 184-190). exposição melódica sobre notas e par- A Anaphora é a repetição que acontece não apenas em par- tes diferentes. Também pode ocorrer te de uma passagem, mas também nas figurae símplices. no inicio das repetições de frases e mo- tivos em uma série de passagens su- cessivas; (3) Uma repetição em geral. ANTICIPATIO Ornamentação Uma nota vizinha superior ou inferior, Spiess: A Anticipatio é a antecipação ou reprodução prema- (BARTEL, 1997, Melódica e adicionada após a nota principal, in- tura de uma nota. Ela é uma figura muito comum e ocorre p. 192-195). Harmônica troduzida prematuramente de uma quando uma voz entra mais cedo, com as notas superiores nota pertencente à harmonia ou de ou inferiores e é ouvida antes da criação real ou sem orna- acordes posteriores. mentos indicariam. APOSIOPESIS Interrupção e Descanso em uma ou todas as vozes Walther: A Aposiopesis se refere a uma Pausa generalis (BARTEL, 1997, Silêncio de uma composição: pausa geral. ou um completo silêncio em todas as vozes e nas partes da p. 202-206). composição simultaneamente. EPIZEUXIS Repetição Me- Repetição imediata e enfática de uma Walther: A Epizeuxis é uma figura de retórica pela qual (BARTEL, 1997, lódica palavra, nota, motivo ou frase. uma ou mais palavras são imediatamente e enfaticamen- p. 263-265). te repetidas. NOEMA Representação Passagem homofônica em uma Burmeister: A Noema representa o afeto harmônico, onde as vo- (BARTEL, 1997, e Descrição textura contrapontística e polifô- zes combinadas têm valores e números de notas semelhantes. p. 339-342). nica. Quando introduzida adequadamente, isto é, no momento certo, ela afeta docemente os ouvidos do ouvinte, produzin- do uma sensação de calma e serenidade. (BUELOW, Seção homofônica, dentro da polifonia utilizada para 2001, p. 268). enfatizar o texto. PALILOGIA Repetição Repetição de um tema no mesmo ní- Burmeister: A Palilogia é a repetição de uma inteiração ou (BARTEL, 1997, Melódica vel de altura, também pode ocorrer apenas o começo da estrutura dos meios e temas sobre a p. 342-344). em alturas diferentes na mesma ou mesma altura com a mesma voz, ocorrendo com ou sem in- em várias vozes. termédio de pausas em todos os eventos em uma voz. Walther: A Palilogia refere-se a uma repetição por demais frequente das mesmas palavras. PAUSA Interrupção e Uma pausa ou descanso na composi- Walther: Uma figura ou figuras de silêncio. Estas se referem (BARTEL, 1997, Silêncio ção musical. à Pausa. Pausa refere-se a um período de repouso ou o si- p. 362-365). lêncio na música, que é indicado por um determinado sinal. SYNCOPE. Dissonância e A suspensão, com ou sem dissonân- Walther: Consonâncias que são alteradas para dissonân- (BARTEL, 1997, Deslocamento cia resultante. cias. p. 396-405). SYNAERESIS Dissonância e (1) Uma suspensão ou síncope, (2) a Vogt: A Synaeresis ocorre quando duas notas são colocadas (BARTEL, 1997, Deslocamento colocação de duas sílabas por nota ou em uma sílaba ou duas sílabas são colocadas em uma nota. p. 394-396). duas notas por sílaba. 84
  • 22. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. Como parte integrante da liturgia cristã, o ofertório, inserido na missa, mostra-se um momento em que o cristão reflete sua condição de servo, procurando estabelecer com Deus um relacionamento mais íntimo, por meio de sua fé e devoção. Essa ocasião também propicia ao fiel uma espécie de partilha, analogamente representada no sacrifício de Cristo que se entrega, oferecendo sua vida pela humanidade, ou seja, esse sentimento de repartir se dá em forma de louvor e gratidão. Tal intenção e consagração são plenamente expressas atra- vés dos afetos elaborados pelo compositor nas cinco seções dessa peça. Semelhantemente, os recursos retóricos utilizados na Inventio, Dispositio e Elocutio (Decoratio) foram consti- tuídos de forma ordenada e coerente, isto é, contextualizados conforme a peculiaridade cir- cunstancial do discurso, de modo a confirmar o cabedal de Silva Gomes. Ao analisar, portanto, o Ofertório da Missa de Quarta-feira de Cinzas, observa- -se o uso de figuras e elementos retóricos pelo quarto mestre de capela da Sé de São Paulo, dentre os quais se destacam a Anabasis, que busca expressar o afeto de louvor e devoção, Anaphora, que enfatiza por meio da repetição as passagens bíblicas proferidas pelo salmista acerca de seu livramento e auxílio, Aposiopesis – pausa geral encerrando a Confutatio, aju- dando a realçar a Cadência na Dominante (Semicadência); Epizeuxis, enfatizando a expres- são Domine (Senhor), repetindo-a três vezes – tal como é utilizada na própria liturgia, con- firmando a tese inicial manifestada no Exordium pela Anabasis, já que o salmista foi livre da doença, dos inimigos e da morte. Destarte, a compreensão acerca do emprego de elementos e figuras retóricas no pro- cesso composicional de André da Silva Gomes é imprescindível tanto para o bom enten- dimento da obra, como para cada item persuasivo, tornando evidente sua consciência na aplicação ordenada da retórica na música, como ele mesmo ressalta categoricamente em seu tratado: “mas também pode observar como Retórico a analogia da Faculdade Harmônica com Faculdade Retórica; aqui se observa o Contraponto relativo à parte da Invenção e a Composição relativa à Disposição e à Elocução” (SILVA GOMES, lição nº. 1 f 2, apud DUPRAT et al., 1998, p. 17-18). Notas 1 Régis Duprat destaca que Silva Gomes foi aluno de José Joaquim dos Santos (1748-1801). É observável que o mestre de capela da Sé de São Paulo estava inserido em uma época onde o ambiente musical português tinha como principal influência a figura do napolitano Davi Perez (1711-1778) que, além de compor obras líricas e religiosas, tinha interesse nas edições didáticas no ensino da teoria musical. Não obstante, influenciou vários compositores portugueses dentre os quais João Cordeiro da Silva, João de Souza Carvalho, José Joaquim dos Santos, Luciano Xavier dos Santos dentre outros (DUPRAT, 1995, p. 62). 2 Salmos 29:1-3 seria o número e versículo na bíblia católica, já na bíblia protestante o texto está escrito no número 30 do versículo 1 ao 3. 3 É o emprego de artifícios adequados em cada afeto de um texto, em outras palavras, onde se procura clarificar qual afeto deverá ser representado. Lausberg complementa afirmando que no Locus estão as diferentes divisões e pensamentos distribuídos às quais podem descrever conceitos de comparação similar e de contrariedade. (LAUSBERG, 2004, p. 91). 4 O termo Semicadência, outro nome dado à Cadência que termina na Dominante, pode ser localizada em vários autores tais como Arnold Schoenberg (Fundamentos da Composição Musical, 2008, p. 68-73), Diether da la Motte (Armonía, 2006, p. 28), Walter Piston (Armonía, 1998, p. 168-170), William Earl Caplin (Classical Form, 2001, p. 128-130), entre outros. 85
  • 23. SOARES, E. A.; NOVAES, R.; NETO, D. M. Figuras Retóricas no Ofertório da Missa de Quarta-Feira de Cinzas de André da Silva Gomes. Revista Música Hodie, Goiânia, V.12 - n.2, 2012, p. 71-86. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia de Estudo Pentecostal. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996. . Bíblia de Estudo Vida. 2ª Edição. São Paulo: Editora Vida, 1999. BARTEL, Dietrch. Musica Poetica: musical-rhetorical figures in Germany Baroque music. Lincoln: University of Nebraska Press, 1997. BUELOW, George. Rhetoric and Music. In: The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Stanley Sadie (Ed.). New York: Oxford University Press, 2001. vol. 21, p. 260 - 275. CANO, Rubén López. Música y Retórica en el Barroco. México, D.F: Gráfica da Universidade Nacional Autônoma do México, 2000, vol.1. Disponível em: <http://www.geocties.com/lopezca- no/Articulos/MRB/02.PrimeiraParte.pdf>. Acessado em: 22 mar 2012. DUPRAT, Régis. Música na Sé de São Paulo Colonial. São Paulo: Paulus, 1995. . Música Sacra Paulista. Marília (SP): Empresa Unimar, 1999. DUPRAT, Régis et al. A Arte Explicada de Contraponto de André da Silva Gomes. São Paulo: Arte & Ciência, 1998. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª Edição. Curitiba: Editora Positivo, 2004. GIRON, Luís Antônio. Minoridade Crítica: a ópera e o teatro nos folhetins da corte (1826-1861). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. LAUSBERG Heinrich. Elementos de Retórica Literária. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbernkian, 2004. MATTHESON, Johann. Der Vollkommene Capellmeister. (Hamburgo, 1739) Kassel: Bärenreiter/ Verlag, 1954. SOARES, Paulo Augusto. Os Ofertórios de André da Silva Gomes. Dissertação de mestrado. Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2000. São Paulo: UNESP, 2000.183p. Eliel Almeida Soares - Graduado com Licenciatura em Música pelo Departamento de Música da Escola de Comu- nicações e Artes da Universidade de São Paulo- USP (2008). Faz parte do grupo de pesquisa sobre estruturas dis- cursivas na música colonial brasileira, também possui trabalhos publicados sobre retórica musical. Atualmente é Mestrando em Musicologia pela mesma instituição, sob a orientação do Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. Ronaldo Novaes - Graduado com Licenciatura em Música pelo Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo-USP (2011). Participa do grupo de pesquisa sobre retórica musical na obra de André da Silva Gomes, sob orientação do Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. Diósnio Machado Neto - Bacharel em Instrumento no Instituto de Música da Universidad Católica de Chile. Mestre (2001), Doutor (2008) em Musicologia e Livre-Docente (2011), pela Universidade de São Paulo. É coordenador do grupo de pesquisa sobre os processos e padrões retóricos da música colonial brasileira. Atualmente é Professor As- sociado (Livre-Docente) no Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto e na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-USP. 86