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Entre o Acesso Aberto e a Proteção Autoral:
os limites autorais nas decisões judiciais
Rosilene Paiva Marinho de Sousa
Marckson Roberto Ferreira de Sousa
Guilherme Ataíde Dias
Grupo de pesquisa: WRCO – Web, Representação do Conhecimento e Ontologias
Introdução
• As tecnologias da informação e comunicação têm revolucionado as formas tradicionais de
produção de bens intelectuais tendo em vista a diversidade de criações do intelecto humano.
• Os institutos de proteção autoral nem sempre permitem a resolução de determinadas
peculiaridades dos bens protegidos, ficando o controle a cargo de decisões judiciais.
• O Objetivo do trabalho consiste em discutir os limites autorais nas decisões judiciais, entre
o acesso aberto e a proteção autoral.
Para isso, busca apresentar as principais características da regulação autoral no Brasil na
atualidade.
Examina as novas perspectivas do acesso aberto, em face do uso das tecnologias, delineando as
condições estabelecidas para registro, acesso e compartilhamento.
Por fim, realiza uma abordagem sobre a diversidade de entendimentos em decisões judiciais,
em processos que envolvem atribuição de autoria e condições para publicação de bens
intelectuais.
Porque proteger a obra e quais os limites de proteção?
• A diversidade da criação humana trouxe consigo a necessidade de proteção de
peculiaridades de bens intelectuais até então não previstas na legislação autoral (como a
tutela dos direitos morais do autor depositada na rede), cabendo sua proteção às decisões
judiciais.
• Surge a necessidade de discutir a proteção autoral e as novas perspectivas do acesso
aberto, atentando para os limites estabelecidos entre ambas nas decisões judiciais.
• Esse questionamento conduz a algumas observações, quais sejam:
Atribuição de autoria;
Proteção ao direito moral do autor;
O que se considera obras protegidas ou não; e,
As condições em que a transferência de titularidade de direitos patrimoniais são concedidas.
Atribuição de Autoria e Proteção aos Direitos Morais
• A conceito de autor definido no artigo 11 da Lei de Direitos Autorais (LDA), que se constitui
de pessoa física criadora de obra literária, artística e científica.
• A característica mais importante do direito autoral brasileiro está na sua natureza jurídica
dualista, especificada no artigo 22 da LDA:
“pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou” (BRASIL, 1998,
online).
• Os direitos de natureza moral compreendem os direitos sobre a criação do autor, tratam-se
da manifestação de sua vontade individual, denominados direito da personalidade, e
compreendem o direito de modificar, reivindicar, retirar de circulação, etc., enquanto os de
natureza patrimonial são os direitos de natureza econômica sobre suas criações, que
compreendem o direito ao gozo exclusivo da obra para fins patrimoniais (FRAGOSO, 2009).
Obras Protegidas e Não Protegidas
• Por obras intelectuais o artigo 7º da LDA, determina que:
“[...] são obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro”
(BRASIL, 1998, online).
• Os incisos I a XIII que compõe o artigo 7º, constituem hipóteses de obras passíveis de
proteção autoral (BRASIL, 1998, online), como rol exemplificativo: obras literárias, artísticas
ou científicas; conferências, sermões; obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as
cinematográficas; obras fotográficas; as adaptações apresentadas como criação intelectual
nova; os programas de computador; e outras obras, que, constituam uma criação intelectual.
• Obras não protegidas, são previstas no artigo 8º da LDA, destacando por exclusão as ideias,
procedimentos normativos, conceitos matemáticos, esquemas, planos, regras para realizar
atos mentais, formulários em branco, tratados, convenções, decretos, decisões judiciais, atos
oficiais, informações de uso comum, entre outros.
Transferência de Titularidade de Direitos Patrimoniais
• A transferência de titularidade de direitos patrimoniais envolvem a cessão de direitos,
licença e a concessão. Entretanto a LDA não apresenta de forma clara as distinções de
condições entre ambas.
• A Cessão caracteriza-se pelo aspecto de definitividade e de exclusividade patrimonial do
autor que ocorre com todos os atributos ínsitos à propriedade.
• A Licença se distingue da cessão por se constituir uma autorização de uso por tempo
determinado, não se transferindo a titularidade.
• Na Concessão, a LDA não apresentou maiores detalhes sobre a sua aplicação, restando
prejudicado seu uso.
O Movimento de Acesso Aberto (Características)
• O acesso aberto pode ser visto como instrumento de desenvolvimento socioeconômico e
tecnológico, e segundo exposto por Costa e Leite (2017, p. 81), compreende-se como
conjunto de esforços de diferentes atores da comunidade científica que:
“[...] visa promover a disponibilidade e o acesso à informação científica que alimenta e que
resulta das atividades de pesquisa. Tais conteúdos devem ser acompanhados de licenças que
permitam aos usuários a sua utilização ampla”.
• O acesso aberto tem por características a disponibilização gratuita, online e sem restrições
a produção aos bens intelectuais e propõe o respeito, às condições de registro, acesso e
compartilhamento dos referidos bens, amparados por políticas autorais específicas, que em
sua maioria ocorre, neste caso, pela utilização da licença Creative Commons.
O Movimento de Acesso Aberto (Creative Commons)
• O Creative Commons, apresenta modalidades de licenças das mais restritivas para as mais
abertas. Nesse sentido, para uma análise mais aprofundada sobre os termos dessas licenças,
torna-se necessário uma reflexão considerando se essas modalidades são equivalentes ou
não às características específicas das licenças e/ou cessões de direitos adotadas pela LDA, a
fim de que o movimento do acesso aberto possa utilizá-las adequadamente.
• Esses aspectos geram consequências práticas pela falta de critérios, teorias ou doutrinas
no tocante ao fortalecimento de um alinhamento nas decisões judiciais que tratam de
atribuição de autoria e interpretação das condições de transferência de titularidade de
direitos patrimoniais, uma vez que no caso de obras particulares disponibilizadas na
internet, muitas vezes não se encontrem devidamente amparadas pela proteção autoral.
O Movimento de Acesso Aberto (Decisão Judicial)
• Exemplo: a alegação de violação de direito autoral em razão da publicação na integra do
poema “o lagarto medroso” da escritora Cecília Meireles no livro didático destinado ao
ensino fundamental - Recurso Especial nº 1.450.302 – RJ (BRASIL, 2020). Na ementa do
referido recurso, o relator ministro Marco Buzzi, relata que as instâncias ordinárias
compreenderam que o poema em epígrafe, não seria em si considerado como uma obra,
visto que era parte integrante do livro “Ou isto ou aquilo”, motivo pelo qual a citação da
integralidade do texto não poderia ensejar violação de direito autoral, mesmo o poema
gozando proteção autoral nos termos da legislação vigente, a luz da Lei nº 9.610/1998
(BRASIL, 1998). Nas alegações, é possível perceber o contexto em que o livro didático está
revestido de padrões ligados a difusão educacional e a citação parcial prejudicaria a
compreensão da criação intelectual da poetisa, atentando ao direito moral do autor.
O Movimento de Acesso Aberto (mecanismos/estratégias)
• Percebe-se a importância que envolve o papel do movimento do acesso aberto:
 Em considerar aspectos relacionados a atribuição de autoria e a observância das modalidades
de transferência de titularidade dos direitos patrimoniais do autor no âmbito da LDA;
 A relação da proteção dos direitos autorais previstos na lei e a utilização da licença Creative
Commons, não reconhecida no âmbito da Legislação autoral.
• Nesse construto, torna-se possível perceber claramente a ausência de critérios objetivos
que possibilitem que os nuances relativos aos direitos autorais não sejam interpretados
basicamente de forma restritiva, mas possa considerar as limitações existentes de modo que
uma interpretação extensiva possa ser aplicada de forma mais uniforme.
Resultados
• Duas questões importantes podem ser levadas em consideração, quais sejam:
 A necessidade de atualização da LDA no sentido de sanar lacunas na lei evitando-se assim,
interpretações distintas gerando o mínimo de distorções em sua aplicação.
 Em relação ao acesso aberto, deve-se observar como repositórios e bibliotecas digitais lidam
com os contratos de transferência dos direitos do autor para fornecer acesso aberto.
• Sugestões:
 Na ausência do reconhecimento legal do Creative Commons, aplicar-se-ia a proteção
concedida ao autor no âmbito da LDA, e por exclusão, poderia ser aplicado a Creative
Commons, mas não como regra, em face da sua incompatibilidade com a LDA.
 Observar quais seriam os limites estabelecidos entre a Creative Commons e as modalidades
de transferência de titularidade previstas na LDA, em face da aplicação de ambas, que
envolve aspectos de temporalidade e forma de licenciamento.
Referências
BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos
autorais e dá outras providências. 1998. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm. Acesso em: 28 abr. 2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.450.302 – RJ (2013/0380372-8). 11 fev.
2020. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201303803728&dt_publicacao=14
/02/2020. Acesso em: 28 abr. 2020.
COSTA, Michelli Pereira da; LEITE, Fernando César Lima. Repositórios institucionais da América Latina
e o acesso aberto à informação científica. Brasília: IBICT, 2017.
FRAGOSO, João Henrique da Rocha. Direito Autoral: Da Antiguidade à Internet. São Paulo: Quartier
Latin, 2009.

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Acesso Aberto e Decisões Judiciais sobre Direitos Autorais

  • 1. Entre o Acesso Aberto e a Proteção Autoral: os limites autorais nas decisões judiciais Rosilene Paiva Marinho de Sousa Marckson Roberto Ferreira de Sousa Guilherme Ataíde Dias Grupo de pesquisa: WRCO – Web, Representação do Conhecimento e Ontologias
  • 2. Introdução • As tecnologias da informação e comunicação têm revolucionado as formas tradicionais de produção de bens intelectuais tendo em vista a diversidade de criações do intelecto humano. • Os institutos de proteção autoral nem sempre permitem a resolução de determinadas peculiaridades dos bens protegidos, ficando o controle a cargo de decisões judiciais. • O Objetivo do trabalho consiste em discutir os limites autorais nas decisões judiciais, entre o acesso aberto e a proteção autoral. Para isso, busca apresentar as principais características da regulação autoral no Brasil na atualidade. Examina as novas perspectivas do acesso aberto, em face do uso das tecnologias, delineando as condições estabelecidas para registro, acesso e compartilhamento. Por fim, realiza uma abordagem sobre a diversidade de entendimentos em decisões judiciais, em processos que envolvem atribuição de autoria e condições para publicação de bens intelectuais.
  • 3. Porque proteger a obra e quais os limites de proteção? • A diversidade da criação humana trouxe consigo a necessidade de proteção de peculiaridades de bens intelectuais até então não previstas na legislação autoral (como a tutela dos direitos morais do autor depositada na rede), cabendo sua proteção às decisões judiciais. • Surge a necessidade de discutir a proteção autoral e as novas perspectivas do acesso aberto, atentando para os limites estabelecidos entre ambas nas decisões judiciais. • Esse questionamento conduz a algumas observações, quais sejam: Atribuição de autoria; Proteção ao direito moral do autor; O que se considera obras protegidas ou não; e, As condições em que a transferência de titularidade de direitos patrimoniais são concedidas.
  • 4. Atribuição de Autoria e Proteção aos Direitos Morais • A conceito de autor definido no artigo 11 da Lei de Direitos Autorais (LDA), que se constitui de pessoa física criadora de obra literária, artística e científica. • A característica mais importante do direito autoral brasileiro está na sua natureza jurídica dualista, especificada no artigo 22 da LDA: “pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou” (BRASIL, 1998, online). • Os direitos de natureza moral compreendem os direitos sobre a criação do autor, tratam-se da manifestação de sua vontade individual, denominados direito da personalidade, e compreendem o direito de modificar, reivindicar, retirar de circulação, etc., enquanto os de natureza patrimonial são os direitos de natureza econômica sobre suas criações, que compreendem o direito ao gozo exclusivo da obra para fins patrimoniais (FRAGOSO, 2009).
  • 5. Obras Protegidas e Não Protegidas • Por obras intelectuais o artigo 7º da LDA, determina que: “[...] são obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro” (BRASIL, 1998, online). • Os incisos I a XIII que compõe o artigo 7º, constituem hipóteses de obras passíveis de proteção autoral (BRASIL, 1998, online), como rol exemplificativo: obras literárias, artísticas ou científicas; conferências, sermões; obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; obras fotográficas; as adaptações apresentadas como criação intelectual nova; os programas de computador; e outras obras, que, constituam uma criação intelectual. • Obras não protegidas, são previstas no artigo 8º da LDA, destacando por exclusão as ideias, procedimentos normativos, conceitos matemáticos, esquemas, planos, regras para realizar atos mentais, formulários em branco, tratados, convenções, decretos, decisões judiciais, atos oficiais, informações de uso comum, entre outros.
  • 6. Transferência de Titularidade de Direitos Patrimoniais • A transferência de titularidade de direitos patrimoniais envolvem a cessão de direitos, licença e a concessão. Entretanto a LDA não apresenta de forma clara as distinções de condições entre ambas. • A Cessão caracteriza-se pelo aspecto de definitividade e de exclusividade patrimonial do autor que ocorre com todos os atributos ínsitos à propriedade. • A Licença se distingue da cessão por se constituir uma autorização de uso por tempo determinado, não se transferindo a titularidade. • Na Concessão, a LDA não apresentou maiores detalhes sobre a sua aplicação, restando prejudicado seu uso.
  • 7. O Movimento de Acesso Aberto (Características) • O acesso aberto pode ser visto como instrumento de desenvolvimento socioeconômico e tecnológico, e segundo exposto por Costa e Leite (2017, p. 81), compreende-se como conjunto de esforços de diferentes atores da comunidade científica que: “[...] visa promover a disponibilidade e o acesso à informação científica que alimenta e que resulta das atividades de pesquisa. Tais conteúdos devem ser acompanhados de licenças que permitam aos usuários a sua utilização ampla”. • O acesso aberto tem por características a disponibilização gratuita, online e sem restrições a produção aos bens intelectuais e propõe o respeito, às condições de registro, acesso e compartilhamento dos referidos bens, amparados por políticas autorais específicas, que em sua maioria ocorre, neste caso, pela utilização da licença Creative Commons.
  • 8. O Movimento de Acesso Aberto (Creative Commons) • O Creative Commons, apresenta modalidades de licenças das mais restritivas para as mais abertas. Nesse sentido, para uma análise mais aprofundada sobre os termos dessas licenças, torna-se necessário uma reflexão considerando se essas modalidades são equivalentes ou não às características específicas das licenças e/ou cessões de direitos adotadas pela LDA, a fim de que o movimento do acesso aberto possa utilizá-las adequadamente. • Esses aspectos geram consequências práticas pela falta de critérios, teorias ou doutrinas no tocante ao fortalecimento de um alinhamento nas decisões judiciais que tratam de atribuição de autoria e interpretação das condições de transferência de titularidade de direitos patrimoniais, uma vez que no caso de obras particulares disponibilizadas na internet, muitas vezes não se encontrem devidamente amparadas pela proteção autoral.
  • 9. O Movimento de Acesso Aberto (Decisão Judicial) • Exemplo: a alegação de violação de direito autoral em razão da publicação na integra do poema “o lagarto medroso” da escritora Cecília Meireles no livro didático destinado ao ensino fundamental - Recurso Especial nº 1.450.302 – RJ (BRASIL, 2020). Na ementa do referido recurso, o relator ministro Marco Buzzi, relata que as instâncias ordinárias compreenderam que o poema em epígrafe, não seria em si considerado como uma obra, visto que era parte integrante do livro “Ou isto ou aquilo”, motivo pelo qual a citação da integralidade do texto não poderia ensejar violação de direito autoral, mesmo o poema gozando proteção autoral nos termos da legislação vigente, a luz da Lei nº 9.610/1998 (BRASIL, 1998). Nas alegações, é possível perceber o contexto em que o livro didático está revestido de padrões ligados a difusão educacional e a citação parcial prejudicaria a compreensão da criação intelectual da poetisa, atentando ao direito moral do autor.
  • 10. O Movimento de Acesso Aberto (mecanismos/estratégias) • Percebe-se a importância que envolve o papel do movimento do acesso aberto:  Em considerar aspectos relacionados a atribuição de autoria e a observância das modalidades de transferência de titularidade dos direitos patrimoniais do autor no âmbito da LDA;  A relação da proteção dos direitos autorais previstos na lei e a utilização da licença Creative Commons, não reconhecida no âmbito da Legislação autoral. • Nesse construto, torna-se possível perceber claramente a ausência de critérios objetivos que possibilitem que os nuances relativos aos direitos autorais não sejam interpretados basicamente de forma restritiva, mas possa considerar as limitações existentes de modo que uma interpretação extensiva possa ser aplicada de forma mais uniforme.
  • 11. Resultados • Duas questões importantes podem ser levadas em consideração, quais sejam:  A necessidade de atualização da LDA no sentido de sanar lacunas na lei evitando-se assim, interpretações distintas gerando o mínimo de distorções em sua aplicação.  Em relação ao acesso aberto, deve-se observar como repositórios e bibliotecas digitais lidam com os contratos de transferência dos direitos do autor para fornecer acesso aberto. • Sugestões:  Na ausência do reconhecimento legal do Creative Commons, aplicar-se-ia a proteção concedida ao autor no âmbito da LDA, e por exclusão, poderia ser aplicado a Creative Commons, mas não como regra, em face da sua incompatibilidade com a LDA.  Observar quais seriam os limites estabelecidos entre a Creative Commons e as modalidades de transferência de titularidade previstas na LDA, em face da aplicação de ambas, que envolve aspectos de temporalidade e forma de licenciamento.
  • 12. Referências BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm. Acesso em: 28 abr. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.450.302 – RJ (2013/0380372-8). 11 fev. 2020. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201303803728&dt_publicacao=14 /02/2020. Acesso em: 28 abr. 2020. COSTA, Michelli Pereira da; LEITE, Fernando César Lima. Repositórios institucionais da América Latina e o acesso aberto à informação científica. Brasília: IBICT, 2017. FRAGOSO, João Henrique da Rocha. Direito Autoral: Da Antiguidade à Internet. São Paulo: Quartier Latin, 2009.