Em virtude dos seus supostos atrativos econômicos e sociais, nos últimos anos foram
implantadas nas zonas rurais do Nordeste do Brasil uma grande quantidade de minifábricas de processamento de castanha de caju. Entretanto estima-se que atualmente apenas 50% das minifábricas implantadas estão em funcionamento. As baixas rentabilidades obtidas atualmente pelas minifábricas em relação a outras oportunidades de investimento, constitui provavelmente a principal causa desta paralisação. Neste sentido, a hipótese testada nesse estudo de caso é que apesar de ser considerada um empreendimento bem sucedido, são amplas as possibilidades de ganho de rentabilidade em uma minifábrica processadora de castanha de caju, mediante uma melhor alocação do seu investimento permanente em máquinas e equipamentos. Os resultados obtidos com o redimensionamento do seu processo produtivo, amparam a hipótese formulada.
Semelhante a Ganho de rentabilidade em minifábrica processadora de castanha de caju mediante o redimensionamento do seu processo produtivo: um estudo de caso
Semelhante a Ganho de rentabilidade em minifábrica processadora de castanha de caju mediante o redimensionamento do seu processo produtivo: um estudo de caso (16)
Ganho de rentabilidade em minifábrica processadora de castanha de caju mediante o redimensionamento do seu processo produtivo: um estudo de caso
1. XXIV ENEGEP - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de novembro de 2004
Ganho de rentabilidade em minifábrica processadora de castanha de
caju mediante o redimensionamento do seu processo produtivo: um
estudo de caso
Pedro F. Adeodato de Paula Pessoa (EMBRAPA) pedro@cnpat.Embrapa.br
Otavio Augusto Lima Pires (UFC-Mestrando) otaviolima@bol.com.br
Resumo
Em virtude dos seus supostos atrativos econômicos e sociais, nos últimos anos foram
implantadas nas zonas rurais do Nordeste do Brasil uma grande quantidade de minifábricas
de processamento de castanha de caju. Entretanto estima-se que atualmente apenas 50% das
minifábricas implantadas estão em funcionamento. As baixas rentabilidades obtidas
atualmente pelas minifábricas em relação a outras oportunidades de investimento, constitui
provavelmente a principal causa desta paralisação. Neste sentido, a hipótese testada nesse
estudo de caso é que apesar de ser considerada um empreendimento bem sucedido, são
amplas as possibilidades de ganho de rentabilidade em uma minifábrica processadora de
castanha de caju, mediante uma melhor alocação do seu investimento permanente em
máquinas e equipamentos. Os resultados obtidos com o redimensionamento do seu processo
produtivo, amparam a hipótese formulada.
Palavras chave: Processo produtivo, Minifábrica, Castanha de caju.
1. Introdução
No cenário atual para ser competitivo é necessário que se busque otimizar de forma
permanente o binômio qualidade dos produtos e a produtividade dos processos produtivos.
Neste sentido, a Embrapa Agroindústria Tropical, juntamente com a Companhia de Produtos
Alimentícios do Nordeste - COPAN e com Francisco Alves Chagas, desenvolveram um
sistema alternativo de processamento da castanha de caju, denominado de minifábrica. Este
sistema alternativo permite a obtenção de 85% de amêndoas inteiras; enquanto na indústria
tradicional este índice fica em torno de 50%, que deprecia o preço de venda do produto, pois
uma amêndoa inteira de castanha de caju pode chegar a ter o dobro do valor de uma amêndoa
quebrada. Assim, esse sistema pode possibilitar uma agregação de valor de 155% à matéria-prima
e promover uma desconcentração industrial, mediante a sua implantação nas zonas
rurais produtoras de castanha de caju (PAULA PESSOA et. al.; 2002).
Segundo Paula Pessoa et. al.; (2002), já existem implantadas no Nordeste brasileiro 150
minifábricas, com capacidade instalada de aproximadamente 24.000 toneladas de castanha de
caju, capazes de gerar 3.000 empregos diretos. Embora as minifábricas processadoras de
castanha de caju representem um importante avanço tecnológico no agronegócio caju no
Nordeste do Brasil, esses autores estimam que apenas 50% das minifábricas implantadas estão
em funcionamento.
Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical e empresários envolvidos com o negócio
minifábrica consideram como vitais para o sucesso destes empreendimentos os seguintes
fatores críticos: o primeiro consiste na alocação do investimento permanente em máquinas e
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equipamentos estabelecido quando da elaboração dos projetos; o segundo está relacionado
com a gestão do investimento circulante (estoques, contas a receber e contas a pagar) e o
terceiro fator crítico consiste na articulação entre os elos da cadeia produtiva da amêndoa de
castanha de caju (ACC).
Com relação ao investimento permanente, Machado (1999) afirma que o seu planejamento é
de extrema importância, pois pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma empresa.
Neste sentido, será realizado em uma minifábrica considerada um empreendimento bem
sucedido, um estudo de caso sobre o primeiro fator crítico. Esse tipo de estudo é importante,
pois testa a hipótese que apesar de ser considerada um empreendimento bem sucedido, são
amplas as suas possibilidades de ganhos de rentabilidade, mediante uma melhor alocação do
seu investimento permanente em máquinas e equipamentos.
2. Metodologia
Com base em indicação de pesquisadores da Área de Negócios Tecnológicos da Embrapa
Agroindústria Tropical, foi selecionada uma empresa que adota o sistema alternativo de
processamento de castanha de caju, denominado minifábrica. Esta empresa é considerada
dentro do setor, como um empreendimento bem sucedido.
Atendendo a solicitação do seu proprietário, o nome da empresa será omitido.
O ganho de rentabilidade dessa minifábrica com o redimensionamento do seu processo
produtivo foi avaliado, mediante o incremento obtido no seu retorno sobre o investimento
(RSI).
O retorno sobre o investimento (RSI) é um indicador de rentabilidade que expressa a
eficiência global da gestão na obtenção de lucro com os investimentos disponíveis (GITMAN,
1987 e PAULA PESSOA, 2003).
É obtido pela divisão entre o lucro líquido (LL) e o investimento total (IT). Matematicamente,
é expresso pela seguinte fórmula:
RSI = LL / IT (1)
O lucro líquido (LL) foi calculado da seguinte forma:
LL = (Pv x Qv) – (Cvu x Qv) – Cf (2)
onde:
Pv = preço de venda unitário;
Qv = quantidades vendidas;
Cvu = custo variável unitário;
Cf = custo fixo.
O custo fixo é aquele que não varia diretamente com as quantidades vendidas. O custo
variável, por sua vez, é aquele que varia diretamente com as quantidades vendidas.
O investimento total (IT) da minifábrica foi obtido da seguinte forma:
IT = IP + IC (3 )
onde:
IP = é o investimento permanente;
IC = é o investimento circulante líquido ou capital de giro líquido.
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Segundo Assef (1997) o investimento total (IT) de qualquer empreendimento é composto pelo
investimento permanente (IP) e pelo investimento circulante líquido (IC).
O investimento permanente (IP), também denominado de investimento fixo, foi representado
nesse estudo pelo valor das máquinas, equipamentos, construções, móveis, etc.
O investimento circulante líquido ou capital de giro líquido, conforme Paula Pessoa (2003),
depende de três componentes básicos: valor do investimento total em estoque de matéria-prima
(valor da matéria-prima mantida em estoque, valor da matéria-prima em processo e
valor da matéria-prima contida nos produtos acabados), mais o valor das contas a receber,
menos o valor das contas a pagar.
O cálculo do investimento circulante líquido (IC) foi obtido pela fórmula a seguir:
IC = (ITE + CR) – CP ( 4 )
onde:
IC = valor do investimento circulante líquido;
ITE = valor do investimento total em estoque de matéria-prima;
CR = valor de contas a receber;
CP = valor de contas a pagar.
Para o melhor entendimento da metodologia empregada nesse trabalho sobre o
redimensionamento de investimento permanente em máquinas e equipamentos, será
apresentado parcialmente um exemplo desenvolvido por Paula Pessoa (2003).
Suponha que uma empresa venda seu produto por R$ 15,00 a unidade e tenha um custo
variável por unidade de R$ 5,00. O custo fixo por mês é de R$ 100,00. Para simplificar,
considerou-se nulo o investimento circulante líquido.
O produto é fabricado, seqüencialmente, nas etapas A, B e C, conforme a Figura 1.
O investimento permanente em máquinas e equipamentos (IPmq) em cada etapa, e as suas
respectivas capacidades produtivas, estão dimensionados da seguinte forma:
Dimensionamento Atual.
IPmq = R$ 300,00 IPmq = R$ 100,00 IPmq = R$ 200,00
A B C
Capacidade
Produtiva = 70
unid./mês
Capacidade
Produtiva = 20
unid./mês
Capacidade
Produtiva =70
unid./mês
Figura 1 - Etapas A, B e C do processo produtivo com as respectivas capacidades de produção.
Como o gargalo está localizado na etapa B do processo produtivo, a capacidade produtiva da
empresa é de 20 unidades por mês. Caso a empresa planeje produzir uma quantidade acima de
20 unidades por mês, obterá somente 20 unidades por mês, devido ser esta a capacidade
produtiva do gargalo. Assim, a etapa gargalo é que estabelece a capacidade produtiva de um
processo de produção.
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A seguir, será apresentado o impacto sobre a rentabilidade da empresa, decorrente de uma
melhor utilização do seu investimento permanente máquinas e equipamentos:
Situação Atual (20 unidades por mês):
Investimento permanente em máquinas e equipamentos (IPmq) = R$ 600,00
Eficiência do IPmq = 600,00 / 20 = R$ 30,00
LL = (15,00 x 20) – (5,00 x 20) – 100,00 = R$ 100,00
RSI = 100,00 / 600,00 = 0,16 .: 0,16 x 100 = 16% ao mês.
Com base nessas informações, avalie a seguinte decisão:
- aumentar em 100% a capacidade produtiva da etapa gargalo, tendo a seguinte conseqüência:
elevação de 100% no investimento permanente em máquinas e equipamentos da etapa
gargalo (Figura 2) e de 60% no custo fixo.
Redimensionamento:
IPmq = R$ 300,00 IPmq = R$ 200,00 IPmq = R$ 200,00
A B C
Capacidade
Produtiva =70
unid./mês
Capacidade
Produtiva = 40
unid./mês
Capacidade
Produtiva = 70
unid./mês
Figura 2 - Etapas A, B e C do processo produtivo com suas respectivas capacidades produtivas redimensionadas.
Situação com Redimensionamento:
Investimento permanente em máquinas e equipamentos (IPmq) = R$ 700,00
Eficiência do IPmq = 700,00 / 40 = R$ 17,50
LL = (15,00 x 40) – (5,00 x 40) – 160,00 = R$ 240,00
RSI = 240,00 / 700,00 = 0,34 ... 0,34 x 100 = 34% ao mês.
Observa-se que com o redimensionamento do investimento permanente em máquinas e
equipamentos da etapa gargalo, houve um incremento de 112% no RSI da empresa.
Nesse trabalho, será adotado esse procedimento metodológico para avaliar o ganho de
rentabilidade obtido com o redimensionamento do processo produtivo de uma minifábrica
processadora de castanha de caju.
3. Resultados
O fluxo do processo produtivo da minifábrica, conforme a Tabela 1, é composto de dez etapas
de produção. Estas etapas estão dimensionadas com as seguintes capacidades produtivas:
recepção, limpeza e calibragem das castanhas (6.000 quilos de ACC por mês), decorticação
(7.920 quilos de ACC por mês), desidratação das amêndoas (4.400 quilos de ACC por mês),
umidificação (4.400 quilos de ACC por mês), despeliculagem mecânica (4.400 quilos de
ACC por mês), despeliculagem manual (1.320 quilos de ACC por mês), classificação
(11.975 quilos de ACC por mês), fritura (8.800 quilos de ACC por mês) e embalagem (8.800
quilos de ACC por mês). Observa-se portanto, que a despeliculagem manual, com capacidade
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de processar 1.320 quilos de ACC por mês, é a etapa gargalo do processo produtivo. Desta
forma, a capacidade produtiva da minifábrica é de 1.320 quilos de ACC por mês.
Com esta produção, a minifábrica obtém por ano um lucro líquido de R$ 29.681,00, resultado
da receita bruta de R$ 205.920,00 com a venda de 1.320 quilos de ACC, menos o custo
variável de R$ 83.160,00 e menos o custo fixo de R$ 93.079,00.
Para essa capacidade produtiva, o investimento permanente e o investimento circulante são
de R$ 85.620,00 e R$ 66.166,00, respectivamente. Portanto, a rentabilidade desta minifábrica,
expressa pelo retorno sobre o seu investimento (RSI), é de 19% ao ano, ou seja, cada
unidade de real investida neste empreendimento gera um lucro de R$ 0,19.
Com base no fluxo do processo produtivo discriminado na Tabela 1, fica evidente que para
aumentar a capacidade produtiva da minifábrica para 3.520 quilos de ACC por mês, é
necessário elevar apenas a capacidade produtiva da etapa de despeliculagem manual para
3.520 quilos de ACC por mês, mediante a aquisição de 2 (duas) mesas de despeliculagem
manual no valor de R$ 450,00 a unidade. Assim, com um aumento de apenas 3% no
investimento em máquinas e equipamentos (passou de R$ 28.620,00 para 29.520,00), espera-se
um incremento de 167% na capacidade produtiva.
Com uma produção de 3.520 quilos de ACC por mês, a minifábrica obtém um lucro líquido
anual de R$ 139.675,00, resultado da receita bruta de R$ 549.120,00 obtida com a venda
de 3.520 quilos de ACC, menos o custo variável de R$ 221.760,00 e menos o custo fixo de
R$ 187.685,00.
Para esta capacidade produtiva, o investimento permanente e o investimento circulante são
de R$ 86.520,00 e R$ 176.442,00, respectivamente. Dessa forma, o retorno sobre o
investimento (RSI) da minifábrica com o redimensionamento é de 53% ao ano, ou seja, cada
unidade de real investida neste empreendimento gera um lucro de R$ 0,53. Portanto, com o
redimensionamento do processo produtivo houve um incremento 179% na rentabilidade da
minifábrica.
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Valor total Capacidade
Discriminação/Etapas Quantidade
Valor
Unitário
(R$) (R$) (%)
(quilos de
ACC/mês)
1.Recepção, limpeza e calibragem - - - - 6.000
Classificador 1 1.300,00 1.300,00 4,54 -
Balança plataforma 1 600,00 600,00 2,10 -
Suporte dos rotores 1 300,00 300,00 1,05 -
Sub-total - - 2.200,00 7,69 -
2.Autoclavagem - - - - 3.520
Vaso cozedor 1 4.000,00 4.000,00 13,98 -
Sub-total - - 4.000,00 13,98 -
3.Decorticação - - - - 7.920
Máquinas de corte 6 220,00 1.320,00 4,61 -
Bancadas duplas 3 450,00 1.350,00 4,72 -
Sub-total - - 2.670,00 9,33 -
4.Desidratação das amêndoas - - - - 4.400
Estufas 4 2.000,00 8.000,00 27,95 -
Sub-total - - 8.000,00 27,95 -
5.Umidificação - - - - 4.400
Umidificador 1 500,00 500,00 1,75 -
Sub-total - - 500,00 1,75 -
6.Despeliculagem mecânica - - - - 4.400
Despeliculador mecânico 1 250,00 250,00 0,87 -
Sub-total - - 250,00 0,87 -
7.Despeliculagem manual - - - - 1.320
Mesa classificadora 1 450,00 450,00 1,57 -
Sub-total - - 450,00 1,57 -
8.Classificação - - - - 11.975
Mesa classificadora 2 550,00 1.100,00 3,84 -
Sub-total - - 1.100,00 3,84 -
9.Fritura - - - - 8.800
Fritadeiras 2 900,00 1.800,00 6,29 -
Centrífugas 2 2.000,00 4.000,00 13,98 -
Sub-total - - 5.800,00 20,26 -
10.Embalagem - - - - 8.800
Balança eletrônica 1 1.200,00 1.200,00 4,19 -
Seladora comum 1 250,00 250,00 0,87 -
Seladora especial 1 2.200,00 2.200,00 7,69 -
Sub-total - - 3.650,00 12,44 -
Total - - 28.620,00 100,00
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 1 - Investimento em máquinas e equipamentos (produção de 1.320 quilos de ACC por mês).
4. Conclusões
Não obstante a minifábrica processadora de castanha, objeto desse estudo, ser considerada um
empreendimento bem sucedido, foi constatado que o redimensionamento do seu processo
produtivo poderá incrementar de forma significativa (179%) a sua rentabilidade. Com base
nessa constatação e na forma como as minifábricas foram implantadas no Nordeste do Brasil,
pode-se afirmar que há fortes indícios que ocorreu uma má alocação de investimento
permanente em máquinas e equipamentos na maioria destes empreendimentos. Desta forma,
são amplas as possibilidades de ganhos de rentabilidade destas minifábricas com o
redimensionamento dos seus processos produtivos.
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5. Referências
ASSEF, R. (1997) - Guia Prático de Formação de Preços. Ed. Campus. Rio de Janeiro.
GITMAN, L. J. (1987) - Princípios da Administração Financeira. Habra. São Paulo.
MACHADO, J. R. (1999) - O Gerenciamento do Capital de Giro como Fator de Maximização da Rentabilidade
em Empresas Industriais. Faculdades Integradas de Guarulhos – FIG. São Paulo.
PAULA PESSOA, P. F. A. de; ROSA, M. de F. & SÁ, F. T. de. (2002) - Avaliação dos Impactos Econômicos,
Sociais e Ambientais dos Módulos Múltiplos de Processamento de Castanha de Caju. Embrapa Agroindústria
Tropical. Fortaleza.
PAULA PESSOA, P. F. A. de. (2003) - Gestão Agroindustrial. Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza.