SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
Análise Geográfica da letra da Música Asa Branca


     Quando olhei a terra ardendo
     como fogueira de São João.
     Eu perguntei, a Deus do céu,
     por quê tamanha judiação!


     Que braseiro, que fornalha,
     nem um pé de plantação.
     Por falta d´água, perdi meu gado
     morreu de sede meu alazão.


     Até mesmo Asa branca
     bateu asas de sertão.
     Então eu disse, adeus Rosinha
     guarda contigo meu coração.


     Hoje longe muitas léguas
     numa triste solidão.
     Espero a chuva cair de novo
     pra mim vortá pro meu sertão.


     Quando o verde dos teus olhos
     Se espalhar na prantação.
     Eu te asseguro, num chore não, viu?
     Que eu voltarei, viu, meu coração.




               Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira-1947
“ Quando olhei a terra ardendo,
                      como fogueira de São João.
                      Eu perguntei, a Deus do céu,
                      por quê tamanha judiação!”



      No primeiro verso, descreve o tipo de solo da região das secas, uma
terra vermelha, quente como o fogo da fogueira, porém transmite a alegria, a
cultura desse sertanejo quando fala da festa junina. No segundo verso trata da
questão da crença, onde são predominantemente católicos tendo a devoção do
Padre Cícero, abordando a questão da religiosidade fazendo um pedido para
que a “água”, a chuva, amenizasse o tempo climático, pois segundo AB’SABER
(2003, p.85), no período seco há a predominância de nuvens esparsas, mas
não chove, entretanto na estiagem os sertões funcionam, muitas vezes, como
semidesertos nublados.


                            “Que braseiro, que fornalha,
                             nem um pé de plantação.
                             Por falta d´água, perdi meu gado
                            morreu de sede meu alazão.”


      Na primeira frase, relata a comparação do ‘braseiro, fornalha’ ao calor
intenso que é o Sertão, tendo o clima semi-árido na região do polígono da seca.
Conforme AB’SABER (2005, p. 85), quando as árvores perdem as suas folhas,
os solos se ressecam e os rios perdem a correnteza, enquanto o vento seco
vem com os bafos de quentura. E na frase seguinte mostra o baixo índice de
pluviosidade e também nos remete a uma questão polêmica:será que a
transposição de parte do rio São Francisco seria a solução?

      Nisso SAUER apud SANTOS (1997, p. 64), considera dois tipos de
paisagem, a natural e a artificial, pois a transposição será feita através da
canalização de parte do rio São Francisco; e argumenta que a medida que o
homem se defronta com a natureza,há entre os dois uma relação cultural, que é
também política ou técnica. Com isso, a territorialidade é entendida como
tentativa de um indivíduo ou grupo de atingir, influenciar ou controlar pessoas,
fenômenos e relacionamentos através da delimitação e controle sobre uma área
geográfica. (SACK apud HAESBAERT. 2002, p.19)


      Conforme HAESBAERT (1988, p.19), o espaço está reduzido pelos
marxistas, onde o conceito de região tenderia a desaparecer, pois reconhece
nele um espaço vivido e que a própria delimitação política e o polígono da seca
acaba forçando uma identidade. Nessa abordagem materialista dialética, a
região passa a ser concebida como produto da desigualdade sóco-espacial
intrínseca ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo.


                           “ Até mesmo Asa branca
                           bateu asas de sertão.
                           Então eu disse, adeus Rosinha
                           guarda contigo meu coração. ”



      De acordo com SANTOS (2006, 328), o conceito de desterritorialização,
onde o movimento se sobrepõe ao repouso, e com isso a desculturalização
surge no primeiro trecho da música que aponta a migração, no qual o
nordestino ao ir para uma cidade grande deixará uma cultura herdada para se
encontrar com outra e nisso defronta-se com um espaço que não ajudou a criar.
Já no segundo verso traduz a relação do lugar associando ao espaço vivido,
onde existe uma afetividade, um envolvimento, nesse caso a Rosinha. E o
sentimento de pertencimento é o que determina e classifica o espaço, e ao
mesmo tempo a afetividade que o povo projeta a um lugar, insuficiente para
compreender a fenomelogia ou o espaço vivido (TORRES, 2006,p.5).


                           “ Hoje longe muitas léguas
                           numa triste solidão.
                           Espero a chuva cair de novo
                           pra mim vortá pro meu sertão.”
Citando HAESBAERT (2004, p.127), no outro verso o local onde esses
migrantes se deslocaram já possui a sua territorialidade, ocasionando a re-
territorialização, pois ao retornar ao seu Sertão, o sertanejo volta com mais
experiências vividas dos lugares que se estabeleceram.


                            “ Quando o verde dos teus olhos
                            se espalhar na prantação.
                            Eu te asseguro,num chore não,viu?
                            que eu voltarei,viu, meu coração. ”



      A expressão verde dos teus olhos reflete o tipo de vegetação do Sertão,
que é a caatinga, pois na língua Tupi Guarani significa mata branca, nisso os
galhos sem folhas, outros com folhas secas e uma coloração cinza-
esbranquisada. AB’SABER (2006, p.85) nos ilucida em afirmar que quando
chegam as primeiras chuvas, as árvores e arbustos de folhas miúdas e
múltiplos espinhos protetores entremeados por cactáceas empoiradas, tudo
reverdece. Sendo que a existência de água na superfície dos solos, em
combinação com forte luminosidade dos sertões, restaura a funcionalidade da
fotossíntese e nisso o verde designa, o rebrotar.


      De acordo com TORRES (2006, p.13), no último verso, representa que
cada indivíduo quer ocupar “seu espaço” se manifestar através de sua região,
através de suas ações sobre os objetos da paisagem através de suas
manifestações simbólicas ou concretas, não importando o lugar onde ele tenha
escolhido para seu “assentamento espacial”.


      Feita a análise da letra de Asa Branca, buscamos nos conceitos de
HAESBAERT apud CORREA (2000, p.170), no que se refere ao processo de
globalização colocando uma tríade conceitual para se compreender a
desterritorialização: território, onde prevalece a política; a rede, prevalecendo a
economia, e os aglomerados de exclusão, em que os indivíduos perdem seus
laços com o território e passam a viver numa mobilidade e insegurança atrozes,
como por exemplo em grupos de sem-teto; nesse caso os próprios nordestinos.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Divisão por 2 algarismos
Divisão por 2 algarismosDivisão por 2 algarismos
Divisão por 2 algarismosHugo Ferreira
 
Avaliação 6º ano
Avaliação 6º anoAvaliação 6º ano
Avaliação 6º anoEberty Cruz
 
Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)
Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)
Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)Raquel Becker
 
Emoções, sentimentos e valores
Emoções, sentimentos e valoresEmoções, sentimentos e valores
Emoções, sentimentos e valoresLedson Aldrovandi
 
Atividades para silabicos
Atividades para silabicosAtividades para silabicos
Atividades para silabicosJosi Cotrim
 
Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)
Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)
Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)Doane Castro
 
Projeto identidade
Projeto identidadeProjeto identidade
Projeto identidadeGraça Sousa
 
Apostila de educação musical 8º ano ensino fundamental
Apostila de educação musical   8º ano ensino fundamentalApostila de educação musical   8º ano ensino fundamental
Apostila de educação musical 8º ano ensino fundamentalPartitura de Banda
 

Mais procurados (20)

As cores II
As cores IIAs cores II
As cores II
 
Avaliação Diagnóstica de Matematica 1º ano
Avaliação Diagnóstica de Matematica 1º anoAvaliação Diagnóstica de Matematica 1º ano
Avaliação Diagnóstica de Matematica 1º ano
 
Divisão por 2 algarismos
Divisão por 2 algarismosDivisão por 2 algarismos
Divisão por 2 algarismos
 
Avaliação 6º ano
Avaliação 6º anoAvaliação 6º ano
Avaliação 6º ano
 
Gabarito: Avaliação de matemática: Frações e formas geométricas – 4º ano – Co...
Gabarito: Avaliação de matemática: Frações e formas geométricas – 4º ano – Co...Gabarito: Avaliação de matemática: Frações e formas geométricas – 4º ano – Co...
Gabarito: Avaliação de matemática: Frações e formas geométricas – 4º ano – Co...
 
Word: Atividade de Artes: Monocromia, isocromia e policromia – 3º ano do ensi...
Word: Atividade de Artes: Monocromia, isocromia e policromia – 3º ano do ensi...Word: Atividade de Artes: Monocromia, isocromia e policromia – 3º ano do ensi...
Word: Atividade de Artes: Monocromia, isocromia e policromia – 3º ano do ensi...
 
Auto ditado
Auto ditadoAuto ditado
Auto ditado
 
Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)
Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)
Coletânea de ciências 4º ano do aluno anual 2015 (1)
 
Emoções, sentimentos e valores
Emoções, sentimentos e valoresEmoções, sentimentos e valores
Emoções, sentimentos e valores
 
Atividades para silabicos
Atividades para silabicosAtividades para silabicos
Atividades para silabicos
 
Dia do indio
Dia do indioDia do indio
Dia do indio
 
Sequência Didática ÁGUA
Sequência Didática   ÁGUASequência Didática   ÁGUA
Sequência Didática ÁGUA
 
Os músicos de bremen maternal
Os músicos de bremen maternalOs músicos de bremen maternal
Os músicos de bremen maternal
 
Word: Atividade de Artes: Cores quentes e frias – 3º ano – Modelo editável
Word: Atividade de Artes: Cores quentes e frias – 3º ano – Modelo editávelWord: Atividade de Artes: Cores quentes e frias – 3º ano – Modelo editável
Word: Atividade de Artes: Cores quentes e frias – 3º ano – Modelo editável
 
Pena religião 5 ano
Pena religião 5 anoPena religião 5 ano
Pena religião 5 ano
 
Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)
Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)
Apostila arte 9 ano.pdf (1) (1)
 
Prova de Língua Portuguesa
Prova de Língua PortuguesaProva de Língua Portuguesa
Prova de Língua Portuguesa
 
AVALIAÇÃO DE ARTES: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I - 2º CICLO
AVALIAÇÃO DE ARTES: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I - 2º CICLOAVALIAÇÃO DE ARTES: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I - 2º CICLO
AVALIAÇÃO DE ARTES: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I - 2º CICLO
 
Projeto identidade
Projeto identidadeProjeto identidade
Projeto identidade
 
Apostila de educação musical 8º ano ensino fundamental
Apostila de educação musical   8º ano ensino fundamentalApostila de educação musical   8º ano ensino fundamental
Apostila de educação musical 8º ano ensino fundamental
 

Destaque

Caderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da Infância
Caderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da InfânciaCaderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da Infância
Caderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da InfânciaJairo Felipe
 
Interpretação de música
Interpretação de músicaInterpretação de música
Interpretação de músicaMarlene Cunhada
 
Asa branca assum preto - juazeiro
Asa branca   assum preto - juazeiroAsa branca   assum preto - juazeiro
Asa branca assum preto - juazeiroCarlos Aguiar
 
Avaliacao saepe 2014_lingua_portuguesa
Avaliacao saepe 2014_lingua_portuguesaAvaliacao saepe 2014_lingua_portuguesa
Avaliacao saepe 2014_lingua_portuguesaDilzaAraujo
 
Atividades da Oficina com Professores
Atividades da Oficina com ProfessoresAtividades da Oficina com Professores
Atividades da Oficina com ProfessoresGraça Sousa
 
Asa branca Luiz Gonzaga
Asa branca   Luiz GonzagaAsa branca   Luiz Gonzaga
Asa branca Luiz GonzagaDayandrade
 
Apostila cantando e_aprendendo
Apostila cantando e_aprendendoApostila cantando e_aprendendo
Apostila cantando e_aprendendodialogoeducacao
 
Ceará em Mapas Interativo
Ceará em Mapas InterativoCeará em Mapas Interativo
Ceará em Mapas InterativoMário Aragão
 
5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!
5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!
5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!Janaina Spolidorio
 
Variantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na MúsicaVariantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na MúsicaPricila Yessayan
 
Aula prática de análise musical como gênero textual
Aula prática de análise musical  como gênero textualAula prática de análise musical  como gênero textual
Aula prática de análise musical como gênero textualSeduc MT
 

Destaque (20)

Atividade com a música asa branca
Atividade com a música asa brancaAtividade com a música asa branca
Atividade com a música asa branca
 
D6 (9º ano l.p.)
D6 (9º ano   l.p.)D6 (9º ano   l.p.)
D6 (9º ano l.p.)
 
Caderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da Infância
Caderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da InfânciaCaderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da Infância
Caderno de atividade - 5º ano - Programa Primeiros Saberes da Infância
 
Interpretação de música
Interpretação de músicaInterpretação de música
Interpretação de música
 
Colóquio Território Autônomo
Colóquio Território Autônomo   Colóquio Território Autônomo
Colóquio Território Autônomo
 
Evento em Malaga
Evento em MalagaEvento em Malaga
Evento em Malaga
 
Microsoft word cartaz niem mesa cn ig politica imigratoria 21-05
Microsoft word   cartaz niem mesa cn ig politica imigratoria 21-05Microsoft word   cartaz niem mesa cn ig politica imigratoria 21-05
Microsoft word cartaz niem mesa cn ig politica imigratoria 21-05
 
Asa branca assum preto - juazeiro
Asa branca   assum preto - juazeiroAsa branca   assum preto - juazeiro
Asa branca assum preto - juazeiro
 
Projeto alimentos
Projeto alimentosProjeto alimentos
Projeto alimentos
 
A triste partida
A triste partidaA triste partida
A triste partida
 
Avaliacao saepe 2014_lingua_portuguesa
Avaliacao saepe 2014_lingua_portuguesaAvaliacao saepe 2014_lingua_portuguesa
Avaliacao saepe 2014_lingua_portuguesa
 
Atividades da Oficina com Professores
Atividades da Oficina com ProfessoresAtividades da Oficina com Professores
Atividades da Oficina com Professores
 
Análise geográfica da letra da música asa branca
Análise geográfica da letra da música asa brancaAnálise geográfica da letra da música asa branca
Análise geográfica da letra da música asa branca
 
O lobo e o leão
O lobo e o leãoO lobo e o leão
O lobo e o leão
 
Asa branca Luiz Gonzaga
Asa branca   Luiz GonzagaAsa branca   Luiz Gonzaga
Asa branca Luiz Gonzaga
 
Apostila cantando e_aprendendo
Apostila cantando e_aprendendoApostila cantando e_aprendendo
Apostila cantando e_aprendendo
 
Ceará em Mapas Interativo
Ceará em Mapas InterativoCeará em Mapas Interativo
Ceará em Mapas Interativo
 
5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!
5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!
5 razões para deixar a TECNOLOGIA entrar em sua sala de aula!
 
Variantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na MúsicaVariantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na Música
 
Aula prática de análise musical como gênero textual
Aula prática de análise musical  como gênero textualAula prática de análise musical  como gênero textual
Aula prática de análise musical como gênero textual
 

Semelhante a Análise geográfica da letra da música asa branca

Sugestão de livros projecto eco-escolas
Sugestão de livros projecto eco-escolasSugestão de livros projecto eco-escolas
Sugestão de livros projecto eco-escolasEcoleca
 
Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre)
Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre) Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre)
Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre) JH COSTA
 
Marcia feitosa
Marcia feitosaMarcia feitosa
Marcia feitosaliterafro
 
Slide - Em tempos de Crise a Nostalgia é a Saída
Slide - Em tempos de Crise a Nostalgia é  a SaídaSlide - Em tempos de Crise a Nostalgia é  a Saída
Slide - Em tempos de Crise a Nostalgia é a SaídaPIBID HISTÓRIA
 

Semelhante a Análise geográfica da letra da música asa branca (7)

Magter
MagterMagter
Magter
 
Magtertexto
MagtertextoMagtertexto
Magtertexto
 
Magnetismo terrestre
Magnetismo terrestreMagnetismo terrestre
Magnetismo terrestre
 
Sugestão de livros projecto eco-escolas
Sugestão de livros projecto eco-escolasSugestão de livros projecto eco-escolas
Sugestão de livros projecto eco-escolas
 
Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre)
Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre) Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre)
Plano de aula prosa e poesia (4° bimestre)
 
Marcia feitosa
Marcia feitosaMarcia feitosa
Marcia feitosa
 
Slide - Em tempos de Crise a Nostalgia é a Saída
Slide - Em tempos de Crise a Nostalgia é  a SaídaSlide - Em tempos de Crise a Nostalgia é  a Saída
Slide - Em tempos de Crise a Nostalgia é a Saída
 

Mais de Práticas Pedagógicas no Ensino de Geografia

Mais de Práticas Pedagógicas no Ensino de Geografia (20)

DICIONÁRIO GEOGRÁFICO: UMA METODOLOGIA LÚDICA DE ESTUDO DESENVOLVIDA COM OS A...
DICIONÁRIO GEOGRÁFICO: UMA METODOLOGIA LÚDICA DE ESTUDO DESENVOLVIDA COM OS A...DICIONÁRIO GEOGRÁFICO: UMA METODOLOGIA LÚDICA DE ESTUDO DESENVOLVIDA COM OS A...
DICIONÁRIO GEOGRÁFICO: UMA METODOLOGIA LÚDICA DE ESTUDO DESENVOLVIDA COM OS A...
 
Cartaz programacao
Cartaz programacaoCartaz programacao
Cartaz programacao
 
convite comissao da verdade
  convite comissao da verdade  convite comissao da verdade
convite comissao da verdade
 
Prt.seminario open-data-ambiental-america-latina-porto-alegre-2012
Prt.seminario open-data-ambiental-america-latina-porto-alegre-2012Prt.seminario open-data-ambiental-america-latina-porto-alegre-2012
Prt.seminario open-data-ambiental-america-latina-porto-alegre-2012
 
Quem pagara a sua aposentadoria[1]
Quem pagara a sua aposentadoria[1]Quem pagara a sua aposentadoria[1]
Quem pagara a sua aposentadoria[1]
 
Artigo a gea serve para construir a paz
Artigo   a gea serve para construir a pazArtigo   a gea serve para construir a paz
Artigo a gea serve para construir a paz
 
C o n v i t e palestra j-lima-2011
C o n v i t e palestra j-lima-2011C o n v i t e palestra j-lima-2011
C o n v i t e palestra j-lima-2011
 
Eeg 1a circular
Eeg 1a circularEeg 1a circular
Eeg 1a circular
 
Cartaz seminario1220104ced212c80880
Cartaz seminario1220104ced212c80880Cartaz seminario1220104ced212c80880
Cartaz seminario1220104ced212c80880
 
Jornada%20de%20 palestras
Jornada%20de%20 palestrasJornada%20de%20 palestras
Jornada%20de%20 palestras
 
Cartaz semin%80%a0%a6%e1rio
Cartaz semin%80%a0%a6%e1rioCartaz semin%80%a0%a6%e1rio
Cartaz semin%80%a0%a6%e1rio
 
Cartaz evento-ensino-geografia
Cartaz evento-ensino-geografiaCartaz evento-ensino-geografia
Cartaz evento-ensino-geografia
 
Evento
Evento Evento
Evento
 
Cartaz final a3
Cartaz final a3Cartaz final a3
Cartaz final a3
 
Programação encgeo2010
Programação encgeo2010Programação encgeo2010
Programação encgeo2010
 
Programação encgeo2010
Programação encgeo2010Programação encgeo2010
Programação encgeo2010
 
Convite familia Silva
Convite familia SilvaConvite familia Silva
Convite familia Silva
 
Convite familia Silva
Convite familia SilvaConvite familia Silva
Convite familia Silva
 
Seminario nacional metropole
Seminario nacional metropoleSeminario nacional metropole
Seminario nacional metropole
 
Abes
AbesAbes
Abes
 

Análise geográfica da letra da música asa branca

  • 1. Análise Geográfica da letra da Música Asa Branca Quando olhei a terra ardendo como fogueira de São João. Eu perguntei, a Deus do céu, por quê tamanha judiação! Que braseiro, que fornalha, nem um pé de plantação. Por falta d´água, perdi meu gado morreu de sede meu alazão. Até mesmo Asa branca bateu asas de sertão. Então eu disse, adeus Rosinha guarda contigo meu coração. Hoje longe muitas léguas numa triste solidão. Espero a chuva cair de novo pra mim vortá pro meu sertão. Quando o verde dos teus olhos Se espalhar na prantação. Eu te asseguro, num chore não, viu? Que eu voltarei, viu, meu coração. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira-1947
  • 2. “ Quando olhei a terra ardendo, como fogueira de São João. Eu perguntei, a Deus do céu, por quê tamanha judiação!” No primeiro verso, descreve o tipo de solo da região das secas, uma terra vermelha, quente como o fogo da fogueira, porém transmite a alegria, a cultura desse sertanejo quando fala da festa junina. No segundo verso trata da questão da crença, onde são predominantemente católicos tendo a devoção do Padre Cícero, abordando a questão da religiosidade fazendo um pedido para que a “água”, a chuva, amenizasse o tempo climático, pois segundo AB’SABER (2003, p.85), no período seco há a predominância de nuvens esparsas, mas não chove, entretanto na estiagem os sertões funcionam, muitas vezes, como semidesertos nublados. “Que braseiro, que fornalha, nem um pé de plantação. Por falta d´água, perdi meu gado morreu de sede meu alazão.” Na primeira frase, relata a comparação do ‘braseiro, fornalha’ ao calor intenso que é o Sertão, tendo o clima semi-árido na região do polígono da seca. Conforme AB’SABER (2005, p. 85), quando as árvores perdem as suas folhas, os solos se ressecam e os rios perdem a correnteza, enquanto o vento seco vem com os bafos de quentura. E na frase seguinte mostra o baixo índice de pluviosidade e também nos remete a uma questão polêmica:será que a transposição de parte do rio São Francisco seria a solução? Nisso SAUER apud SANTOS (1997, p. 64), considera dois tipos de paisagem, a natural e a artificial, pois a transposição será feita através da canalização de parte do rio São Francisco; e argumenta que a medida que o homem se defronta com a natureza,há entre os dois uma relação cultural, que é também política ou técnica. Com isso, a territorialidade é entendida como
  • 3. tentativa de um indivíduo ou grupo de atingir, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos através da delimitação e controle sobre uma área geográfica. (SACK apud HAESBAERT. 2002, p.19) Conforme HAESBAERT (1988, p.19), o espaço está reduzido pelos marxistas, onde o conceito de região tenderia a desaparecer, pois reconhece nele um espaço vivido e que a própria delimitação política e o polígono da seca acaba forçando uma identidade. Nessa abordagem materialista dialética, a região passa a ser concebida como produto da desigualdade sóco-espacial intrínseca ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. “ Até mesmo Asa branca bateu asas de sertão. Então eu disse, adeus Rosinha guarda contigo meu coração. ” De acordo com SANTOS (2006, 328), o conceito de desterritorialização, onde o movimento se sobrepõe ao repouso, e com isso a desculturalização surge no primeiro trecho da música que aponta a migração, no qual o nordestino ao ir para uma cidade grande deixará uma cultura herdada para se encontrar com outra e nisso defronta-se com um espaço que não ajudou a criar. Já no segundo verso traduz a relação do lugar associando ao espaço vivido, onde existe uma afetividade, um envolvimento, nesse caso a Rosinha. E o sentimento de pertencimento é o que determina e classifica o espaço, e ao mesmo tempo a afetividade que o povo projeta a um lugar, insuficiente para compreender a fenomelogia ou o espaço vivido (TORRES, 2006,p.5). “ Hoje longe muitas léguas numa triste solidão. Espero a chuva cair de novo pra mim vortá pro meu sertão.”
  • 4. Citando HAESBAERT (2004, p.127), no outro verso o local onde esses migrantes se deslocaram já possui a sua territorialidade, ocasionando a re- territorialização, pois ao retornar ao seu Sertão, o sertanejo volta com mais experiências vividas dos lugares que se estabeleceram. “ Quando o verde dos teus olhos se espalhar na prantação. Eu te asseguro,num chore não,viu? que eu voltarei,viu, meu coração. ” A expressão verde dos teus olhos reflete o tipo de vegetação do Sertão, que é a caatinga, pois na língua Tupi Guarani significa mata branca, nisso os galhos sem folhas, outros com folhas secas e uma coloração cinza- esbranquisada. AB’SABER (2006, p.85) nos ilucida em afirmar que quando chegam as primeiras chuvas, as árvores e arbustos de folhas miúdas e múltiplos espinhos protetores entremeados por cactáceas empoiradas, tudo reverdece. Sendo que a existência de água na superfície dos solos, em combinação com forte luminosidade dos sertões, restaura a funcionalidade da fotossíntese e nisso o verde designa, o rebrotar. De acordo com TORRES (2006, p.13), no último verso, representa que cada indivíduo quer ocupar “seu espaço” se manifestar através de sua região, através de suas ações sobre os objetos da paisagem através de suas manifestações simbólicas ou concretas, não importando o lugar onde ele tenha escolhido para seu “assentamento espacial”. Feita a análise da letra de Asa Branca, buscamos nos conceitos de HAESBAERT apud CORREA (2000, p.170), no que se refere ao processo de globalização colocando uma tríade conceitual para se compreender a desterritorialização: território, onde prevalece a política; a rede, prevalecendo a economia, e os aglomerados de exclusão, em que os indivíduos perdem seus
  • 5. laços com o território e passam a viver numa mobilidade e insegurança atrozes, como por exemplo em grupos de sem-teto; nesse caso os próprios nordestinos.