1) O documento descreve resplendores (adornos) de prata e ouro de igrejas portuguesas dos séculos XVI a XIX, alguns enriquecidos com pedras preciosas como esmeraldas e rubis.
2) Um resplendor do século XVI pertencente à igreja de Santa Joana em Lisboa se destaca, coberto de esmaltes policromos e contendo pérolas, esmeraldas e rubis.
3) Um resplendor do século XVIII da igreja de Nossa Senhora da Piedade em Santarém também é
Marcofilia no Algarve - Carimbos Comemorativos no Concelho de Albufeira (de 1...
Pedras Preciosas na Arte Sacra
1. um resplendor em prata do século xix. De aro semicircular, com sete estrelas e centro decorado com
uma estrela e rosáceas, todas as pedrarias aqui presentes são vidros incolores e coloridos. Uma visita
atenta às muitas igrejas nacionais poderá facilmente ilustrar este tipo de solução iconográfica de cus-
to reduzido, apesar do belo traço e boa execução de algumas destas peças.d Alguns resplendores,
porém, fogem a esta normalidade, encontrando-se enriquecidos com pedrarias, como é o caso da
imagem rica do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se irá abordar mais adiante. Refira-se, então,
o extraordinário resplendor em prata dourada da primeira metade do século xvi que pertenceu à ima-
gem de S. João Baptista, que se venerava no extinto Convento de Santa Joana de Lisboa. De uma rique-
za decorativa impressionante e colorida, decorrente da utilização dos esmaltes policromos, as gemas
encontram-se aqui em número significativo, designadamente as esmeraldas e rubis, engastadas em
ouro. De notar o elevado número de pérolas finas furadas, porventura aproveitamento de um colar ou
de outra jóia preexistente. As pérolas eram, nesta altura, muito populares, registando-se as pródigas
remessas vindas do Oriente para Portugal, tanto de Ormuz como de Ceilão, juntando-se às que vi-
nham, em menor número, das Américas. d De aspecto muito semelhante, mas com uma gramática
bem mais tardia, de finais do século xvii a princípios do século xviii, existe um interessante resplendor
das colecções da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, em Santarém. Ricamente trabalhado em prata
dourada com motivos vegetalistas, tem florões de corola dupla esmaltada de branco e rosa, num tipo
de decoração típica da segunda metade do século xvii41. O enriquecimento gemológico é próprio da
produção aparatosa do período considerado, incluindo diamantes em talhe rosa, rubis e esmeraldas
em talhe rectangular simples, por vezes irregular, todos engastados em ouro.
d
O período em que houve mais arrojo e enriquecimento gemológico nas auras de santidade e em toda a joa- Resplendor em prata dourada com esmaltes policromos
e esmeraldas, rubis e pérolas finas da primeira metade do
lharia sacra, em particular, e civil, em geral, foi na segunda metade do século xviii e inícios do século xix. Neste séc. xvi, que pertenceu à imagem de S. João Baptista do
convento de St.ª Joana de Lisboa.
período, a já referida riqueza em pedrarias vindas do Brasil e o fausto com que se louvava ao divino promo-
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
veram a feitura de peças de grande beleza, valor artístico e, também, interesse gemológico. Ilustram-se aqui Foto: IMC / DDF / José Pessoa
três peças paradigmáticas desta circunstância, nas quais se encontram algumas das mais tradicionais d
pedras preciosas brasileiras deste período brilhante e colorido da história da joalharia portuguesa. Resplendor de 1792, coberto por uma variedade incolor
de berilo, observando-se o recurso às populares folhetas
A primeira, totalmente monocromática, conserva-se no acervo da Venerável Ordem Terceira de Nossa reflectoras incolores.
Senhora do Carmo, no Porto. Feita em prata, e executada em 1792 por Francisco de Pinho Costa Imagem cedida pela Venerável Ordem Terceira de N.ª Sr.ª do Carmo,
Porto.
Alves, está totalmente revestida por gemas incolores com folheta reflectora, ao estilo do que era co-
d
mum na época para o engaste deste tipo de material gemológico42. O interessante e invulgar desta Resplendor com vidros incolores e coloridos na linha do
que é comum em adornos de imagem desta natureza,
aura é a natureza das gemas, que, contrariamente ao que seria de esperar, não são nem quartzos nem onde apenas raramente se encontram pedras preciosas
genuínas.
topázios, mas sim goshenitas, ou seja, berilos incolores, alguns deles com ligeira tonalidade azulada,
SCML - Museu de S. Roque
revelando, assim, a sua afinidade mineralógica com a água-marinha (berilo azul). d Foto: Júlio Marques
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