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1º Espaço: palácio de Manuel de Sousa
“Câmera antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa ele-
gância portuguesa dos princípios do século dezassete. Por-
celanas, xarões, sedas, flores, etc. No fundo, duas grandes
janelas rasgadas, dando para um eirado que olha sobre o Te-
jo e donde se vê toda a Lisboa; entre as janelas o retrato, em
 corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido de preto, com
 a cruz branca de noviço de S. João de Jerusalém. Defronte
e para a boca cena um bufete pequeno, coberto de rico pano
de veludo verde franjado de prata; sobre o bufete alguns li-
vros, obras de tapeçaria meias feitas e um vaso da China de
colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes
rasos, contadores. (...) É no fim da tarde.”




2º Espaço: o palácio de D. João de Portugal
“É no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada;
salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes re-
tratos de família, muitos de corpo inteiro, bispos, donas, cava-
leiros, monges; estão em lugar mais conspícuo, no fundo, o
del-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal.
Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o in-
terior, cobertas de reposteiros com as armas dos condes de Vi-
mioso. (...)
No fundo um reposteiro muito maior e com as mesmas armas
sobre as portadas da tribuna, que dita sobre a capela da Senho-
ra da Piedade, na Igreja de S. Paulo dos domínicos de Alma-
da.”




3º Espaço: capela.
“(...) é um casarão vasto sem ornato algum. Arrumadas às pa-
redes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes, ceriais e
outras alfaias e guisamentos de igreja de uso conhecido. A um
lado, um esquife dos que usam as confrarias; do outro, uma
grande cruz negra de tábua com o letreiro J.N.R.J e toalha pen-
dente, como se usa nas cerimónias da Semana-Santa. Mais para
a cena uma banca velha com dois ou três tamboretes; a um lado
uma tocheira baixa com tocha acesa e já bastante gasta; sobre
a mesa um castiçal de chumbo, de credência, baixo e com vela
acesa também, e um hábito completo de religioso domínico,
túnica, escapulário, rosário, cinto, etc. (...) É alta noite.

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  • 2. 1º Espaço: palácio de Manuel de Sousa “Câmera antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa ele- gância portuguesa dos princípios do século dezassete. Por- celanas, xarões, sedas, flores, etc. No fundo, duas grandes janelas rasgadas, dando para um eirado que olha sobre o Te- jo e donde se vê toda a Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido de preto, com a cruz branca de noviço de S. João de Jerusalém. Defronte e para a boca cena um bufete pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado de prata; sobre o bufete alguns li- vros, obras de tapeçaria meias feitas e um vaso da China de colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes rasos, contadores. (...) É no fim da tarde.” 2º Espaço: o palácio de D. João de Portugal “É no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada; salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes re- tratos de família, muitos de corpo inteiro, bispos, donas, cava- leiros, monges; estão em lugar mais conspícuo, no fundo, o del-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o in- terior, cobertas de reposteiros com as armas dos condes de Vi- mioso. (...) No fundo um reposteiro muito maior e com as mesmas armas sobre as portadas da tribuna, que dita sobre a capela da Senho- ra da Piedade, na Igreja de S. Paulo dos domínicos de Alma- da.” 3º Espaço: capela. “(...) é um casarão vasto sem ornato algum. Arrumadas às pa- redes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes, ceriais e outras alfaias e guisamentos de igreja de uso conhecido. A um lado, um esquife dos que usam as confrarias; do outro, uma grande cruz negra de tábua com o letreiro J.N.R.J e toalha pen- dente, como se usa nas cerimónias da Semana-Santa. Mais para a cena uma banca velha com dois ou três tamboretes; a um lado uma tocheira baixa com tocha acesa e já bastante gasta; sobre a mesa um castiçal de chumbo, de credência, baixo e com vela acesa também, e um hábito completo de religioso domínico, túnica, escapulário, rosário, cinto, etc. (...) É alta noite.