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História do Rádio Clube Português (1)
Posted on 11/01/2012 by Rogério Santos
A revista Antena (1965-1969), propriedade do Rádio Clube Português (RCP), a estação
de rádio privada portuguesa mais importante na década de 1960, publicou em quase
vinte números a história da emissora, em especial as primeiras décadas. Maior ênfase
seria colocada na participação da estação quanto ao apoio aos sublevados de Francisco
Franco na guerra civil de Espanha (1936-1939), tomando nítido partido por um dos
lados do conflito. Essa história do RCP começaria no número 4, de 15 de abril de 1965,
de que aqui deixo reproduzidas as quatro páginas (pp. 41-44).

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História do Rádio Clube Português (2)
Posted on 15/01/2012 by Rogério Santos
No número 5 de 1 de maio de 1965, a revista Antena publicava o segundo artigo sobre a
história do Rádio Clube Português. Os anos de 1934 e 1935 da vida da estação eram
analisados. A questão da publicidade (em 1934, as autoridades tinham proibido a
publicidade no RCP, assim como nas outras emissoras privadas, o que gerou um
movimento favorável às estações, com a criação de uma liga de associados do RCP,
voltando a emissora a ter publicidade nos seus programas no ano de 1936), a
inauguração do emissor em onda curta, a nova programação (que incluia reportagens
de eventos como o casamento real inglês) e espetáculos no estúdio da estação são os
principais elementos recordados no texto, que ocupa três páginas.

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História do Rádio Clube Português (3)
Posted on 21/01/2012 by Rogério Santos
O número de 15 de maio de 1965 da revista Antena inseria o terceiro capítulo da
história do Rádio Clube Português. Dois assuntos tratados: a visita de Salazar à estação
e o incêndio que deflagrou nas instalações em 14 de setembro de 1935. A visita do
primeiro-ministro teve um tratamento específico, prova da relação próxima dos
responsáveis da estação com Salazar. Lê-se no texto: “Cerca das 10,30 desse dia [17 de
março de 1935], um automóvel estacionara junto ao portão do Clube. Alguém, metido
num fato preto, saira da viatura e, de mãos enfiadas nos bolsos, ficara alguns
momentos parado, olhando o edifício e a cerca. Os que se encontravam dentro do
edifício verificaram, com surpresa, tratar-se do sr. Prof. Dr. Oliveira Salazar. Houve
como que uma corrida aos telefones, a fim de chamar os directores da emissora que
mais perto residiam, pois nada fazia antever tal visita. A presença do ilustre Chefe do
Governo Português, nas instalações do Rádio Clube, foi breve mas minuciosa.
Inúmeros foram os esclarecimentos e prontamente dados. Nada ficou por ver. [...] a
visita terminou com esta dedicatória escrita pelo próprio Prof. Dr. Oliveira Salazar no
livro de honra do Clube: «O Estado deve aproveitar os ensinamentos da concorrência
particular»”.
A visita de Salazar precisa de ser contextualizada. Por um lado, a Emissora Nacional, a
estação do Estado, estava a emitir ainda experimentalmente. O presidente da comissão
instaladora da estação, António Joyce, seria substituído pelo capitão Henrique Galvão,
em junho de 1935. Salazar sabia já da necessidade de colocar um homem de grande
confiança no poder da Emissora Nacional (Galvão viria a rebelar-se contra ele em 1961
com o desvio do paquete Santa Maria; mas já antes havia dissidência, que passou pela
prisão de Galvão). Por outro lado, o Rádio Clube Português, liderado pelo capitão
Botelho Moniz, fazia a apologia do governo e do poder de Salazar, com um discurso
nacionalista e patriótico, através de conferências de propaganda nacional organizadas
pela própria estação durante 1935. Em 1936, Botelho Moniz participou em comícios
anticomunistas no Campo Pequeno (Lisboa) e Coliseu (Porto), apoiou a constituição da
Legião Portuguesa e envolveu-se na Guerra Civil de Espanha, dando notícias favoráveis
a Franco (ver Rogério Santos, 2005, As vozes da rádio, 1924-1939). Os capítulos 6, 7, 8,
9 (onde se relataria a destruição das instalações da Rádio causada pelo rebentamento
de uma bomba, relacionada com a sua ligação a um dos lados da guerra espanhola), 11,
13 e 14 da história da estação contariam alguns episódios desta relação com a Falange
espanhola.

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História do Rádio Clube Português (4)
Posted on 24/01/2012 by Rogério Santos
O incêndio nas instalações do Rádio Clube Português em 14 de setembro de 1935 levou
a uma onda de apoio, formando-se uma comissão pró-rádio. O texto do número 7, de 1
de junho de 1965, de Antena destacava quatro elementos na reanimação da estação.
Uma das atividades seria um espetáculo a 4 de novembro do mesmo ano, com um
concerto da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional e da Orquestra Aldrabófona de
Lisboa (que atuaria depois em emissões em direto do RCP). Depois, o número de sócios
do RCP atingia 7200, com apoios financeiros desses associados a somar a outros
donativos. Em terceiro lugar, CT1GL, designação do RCP, voltava a transmitir, a 26 de
novembro, dois anos depois da primeira emissão experimental. O texto não identifica a
“melodia fresca [que] saiu daqueles escombros, levando já uma nova alma”.
Finalmente, na assembleia geral de 9 de fevereiro de 1936 anunciavam-se duas boas
novas: um emissor de 30 kW e a permissão para voltar a ter publicidade na
programação. A visita de Salazar ao RCP em 17 de março de 1935 acelerara a resolução
de um problema surgido algum tempo antes. Como escrito acima, a Orquestra
Aldrabófona tocaria com frequência na rádio: formada por 26 músicos, “magros e
gordos, altos e baixos, morenos e rosados, carecas e com cabeleiras para todos os
gostos”, dirigida pelo maestro Aldrabowsky e com instrumentos como “um piano, dois
harmónios, umas quatro violas, outras tantas guitarras, um pífaro, vários berimbaus e o
resto constava, quase na totalidade, de harmónicas de boca”.

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História do Rádio Clube Português (5)
Posted on 31/01/2012 by Rogério Santos
O quinto episódio da história do Rádio Clube Português apareceu no nº 8, de 15 de
Junho de 1965, da revista Antena. O texto repartiu-se em quatro elementos, cobrindo o
ano de 1936: orquestra radiofónica da estação, resolução do problema da publicidade,
novos colaboradores como Mary Tarrant (conhecida durante décadas apenas como
Mary), e campanha para o associado número dez mil. Numa altura em que a indústria
fonográfica ainda era pouco importante no nosso país, as estações de rádio criaram as
suas orquestras amadoras que apoiavam as emissões em direto tocando música
variada, ligeira e de dança, como se lê no texto.
A orquestra seria dirigida por Samuel Miguens, professor em Lourenço Marques (atual
Maputo, capital de Moçambique), após ensaios de dois meses. A orquestra tinha os
seguintes músicos: Elvira Borsatti, Irene Dinis, António Fernandes da Silva, António
Freire Garcia, Artur Esteves, Artur Santos, David Pio, Duarte Ferreira Pestana,
Joaquim da Costa Mendonça, José Semedo Velez, Luís Pereira e Mário Santos. Podia
crescer até mais sete músicos, professores como escreveu o autor do texto, caso as
necessidades das composições a tocar.

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História do Rádio Clube Português (6 a 8)
Posted on 16/02/2012 by Rogério Santos
A revista Antena de 1 e 15 de julho e 1 de agosto de 1965 continuou a publicar a história
do Rádio Clube Português (capítulos 6 a 8). São três textos que ilustram a participação
da estação ao lado das tropas de Francisco Franco na Guerra Civil de Espanha (19361939), em especial o seu fundador e presidente, capitão Jorge Botelho Moniz. O texto
explica a orientação política, embora a negando: “a Direção de Rádio Clube Português
resolveu, unanimente, aproveitar as circunstâncias para realizar a primeira experiência
internacional de uma grande reportagem radiofónica de interesse público. Nunca, até
então, a rádio tivera oportunidade de efetuar coisa semelhante”. Quem escreveu isto foi
o próprio Botelho Moniz, numa palestra lida aos microfones em 18 de julho de 1957, e
que o autor dos textos da história da emissora transcreveu e que se prolongou nos dois
episódios seguintes (que ficam aqui em conjunto). Botelho Moniz colocara-se, “quase
desde a primeira hora, ao lado das tropas nacionalistas”, com a estação a acompanhar
“a par e passo as suas progressões, os seus combates, os seus sacrifícios e os seus
triunfos”. A História fazia-se de um dos lados do combate.

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História do Rádio Clube Português (9)
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Posted on 26/02/2012 by Rogério Santos
O Rádio Clube Português sofreria um atentado à bomba na noite de 20 de janeiro de
1937. O envolvimento da estação na Guerra Civil de Espanha acarretava inimigos. O
emissor ficaria restabelecido no dia seguinte.
Nesse ano, continua o texto publicado na revista Antena, de 15 de Agosto de 1965,
realizou-se uma festa por iniciativa da Casa de Entre Douro e Minho dedicada à
Telefonia Sem Fios (TSF). Numa alocução proferida na altura, disse-se que a rádio era
“um poderosíssimo instrumento de expansão inteletual, cujo desenvolvimento constitui
índice no progresso de um país”. Participaram a totalidade ou quase totalidade das
estações de então: Emissora Nacional, Rádio Hertz, Rádio Renascença, Rádio Luso,
Rádio Peninsular, Rádio S. Mamede, Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Condes,
Rádio Sonora, Rádio Hertziana, Rádio Graça, Rádio Colonial e Rádio Clube Português.

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História do Rádio Clube Português (10)
Posted on 26/03/2012 by Rogério Santos
Noticiário sobre automobilismo, espetáculos em direto de fados e guitarradas e de uma
cantora espanhola, recital de violino e piano – assim se diversificava a programação do
Rádio Clube Português em 1937 (Antena, 1 de setembro de 1965). Por outro lado, a
estação promovia subscrições, como durante as inundações no Ribatejo em abril desse
ano, e apelos para a campanha de dádiva de sangue. Além disso, as suas emissões
chegavam à Terra Nova onde labutavam navios bacalhoeiros portugueses.

História do Rádio Clube Português (11)

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Posted on 11/04/2012 by Rogério Santos
A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, inseria o episódio 11 no seu
número de 15 de setembro de 1965. A história cristalizaria na década de 1930, período
de apoio a uma das fações da guerra em Espanha por parte dos dirigentes da estação.
Daí, o tom nacionalista dos textos e a exaltação de feitos na recordação de 1937, como
se pode retirar da leitura do texto abaixo reproduzido: manobras de outono por parte
do exército português, primeiro dia desportivo da mulher (com a participação de
equipas espanholas), apelo ao apoio às populações do país vizinho. Mas lembrar-se-iam
as emissões de quarta-feiras a cargo da orquestra da rádio sob o cuidado de Samuel
Miguens. Música ligeira e jazz eram dois tipos de música escutada na estação.

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História do Rádio Clube Português (12)
Posted on 12/04/2012 by Rogério Santos
A 1 de outubro de 1965, a revista Antena publicava o artigo 12º da história do Rádio
Clube Português, ainda dedicado a 1937. Desta vez, coube a honra à Orquestra Rádio,
dirigida por René Bohet, simultaneamente violinista e diretor da Orquestra do S. LuísCine. Bohet introduziu uma nota de jazz numa das músicas tocadas pela orquestra da
estação. Mas o artigo deu igual destaque a uma nova rubrica (fados e guitarradas), no
sentido de atrair ouvintes de estratos mais populares, e ao número de filiados na
estação, num total de 13500.

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História do Rádio Clube Português (13)
Posted on 25/05/2012 by Rogério Santos
A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, editava no seu número 16,
correspondente a 15 de outubro de 1965, o capítulo 13 da história daquela estação. Os
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anos revisitados eram 1937 e 1938, aliás tema de capítulos anteriores. O envolvimento
direto na cobertura da guerra civil de Espanha por um dos lados dos contendores era
um tópico central do texto. O último parágrafo destacaria essa aposta, com a entrevista
feita e radiodifundida à fundadora de uma associação ligada aos falangistas (de Franco)
e o pano de fundo de apoio, a “consagração internacional do RCP”. Aumento dos sócios
da estação, entrada em funcionamento de um novo emissor de 30 kW e alargamento do
quadro de pessoal como resposta a uma nova estrutura de programas – eis os outros
elementos principais do artigo.

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História do Rádio Clube Português (14)
Posted on 22/06/2012 by Rogério Santos
1938 continuou no horizonte da história do Rádio Clube Português, no décimo quarto
capítulo publicado na revista Antena, de 1 de novembro de 1965. No final do primeiro
mês do ano, a Falange visitou o Rádio Clube, retribuindo o apoio político dado ao grupo
de Franco. O articulado é objetivo, sem margem para dúvidas: “Rádio Clube Português
ao tomar lugar no conflito espanhol fê-lo não ao serviço da Espanha, mas sim ao
serviço de Portugal”. O diretor da estação, o capitão na reserva Jorge Botelho Moniz,
disse, ao receber os espanhóis revoltosos: “Ganha a batalha da rádio, cabe agora a vez
aos soldados”. Na sua juventude, Moniz fora chefe de gabinete de Sidónio Pais, o
presidente da República rapidamente assassinado.
A programação da estação, então ainda a funcionar na Parede, muito antes de se mudar
para a rua de Sampaio e Pina, aqui em Lisboa, mereceu também destaque: a
transmissão de uma ópera, a Carmen de Bizet, a que se seguiram Os Palhaços, de
Ruggero Leoncavallo, e Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Havia leitura prévia dos libretos.
Troupe Gounot e Orquestra Rádio também operavam nessa estética antiga, experiência
que mudaria depressa, com a introdução da música ligeira a partir do Centro de
Preparação de Artistas da Emissora Nacional, no final da década de 1940.

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História do Rádio Clube Português (15)
Posted on 18/11/2012 by Rogério Santos
Como se fazia a atualização discográfica nas estações de rádio em finais da década de
1930? Por dois processos habituais: a compra de cópias por viajantes de avião a outros
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países, incluindo os comissários de bordo dessas aeronaves; a aquisição em lojas da
especialidade em Lisboa e no Porto. O texto número 15 da história do Rádio Clube
Português (Antena, nº 18, 15 de novembro de 1965) pormenoriza orquestras (casos de
Paul Whiteman, Duke Ellington e outras) e radialistas, como Luís Aranda, como os
fornecedores de nova música.

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Em 1938, continua o mesmo artigo, começaram as palestras (programas de duração de
cinco minutos em média) de temas agrícolas, em especial a campanha do trigo, que o
governo de então promoveu, no sentido de aumentar a produção cerealífera até
abastecer na totalidade o consumo interno, o que nunca conseguiu. O artigo narra
ainda dois acontecimentos: a festa da jovem Mimi Extremadouro, artista dos
programas infantis, e o começo de um programa dominical sobre temas variados (arte,
literatura e desporto).

História do Rádio Clube Português (16)
Posted on 08/01/2013 by Rogério Santos

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O texto 16 da história do Rádio Clube Português, de 1 de Dezembro de 1965 (revista
Antena, propriedade daquela estação de rádio), manteve o foco no ano de 1938. Aí
foram destacados os programas religiosos, a transmissão de concerto de música de
câmara do Teatro da Trindade, feita por linha telefónica de Lisboa para a Parede, onde
estavam os estúdios da rádio, o teatro radiofónico com o entusiasmo de Manuel Lereno.
Uma referência grande no texto foi dada ao novo emissor de 30 kW (no texto,
quilovátios) da CT1GL, o indicativo de então de Rádio Clube Português. Lê-se no texto:
“a mais perfeita sob o ponto de vista técnico, a mais potente das emissoras peninsulares
e uma das mais potentes da Europa”. Custo: mil e duzentos contos, valor elevado se
atentarmos a que as rendas de casas em Lisboa andariam entre cem e cento e vinte
escudos, continua o texto. Os rendimentos da estação provinham das quotas dos seus
sócios (e também da publicidade, que a estação já tinha sido autorizada a fazer
publicidade).

História do Rádio Clube Português (17)
Posted on 15/01/2013 by Rogério Santos

No nº 20, de 22 de Dezembro de 1965, a revista Antena publicava o episódio 17 da
história do Rádio Clube Português. Se, no texto anterior, houve uma referência ligeira
ao teatro radiofónico, neste episódio a alusão ao teatro na rádio foi mais profunda.
Nele, enumeram-se os nomes de Ana Spranger, Meniche Lopes, Margarida Franco,

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Artur Moura, Rui Furtado, Jaime Santos, António Cruz e Azevedo Moreira, dirigidos
por Manuel Lereno. O teatro radiofónico alcançava um número elevado de ouvintes,
mesmo que fosse transmitido a horas tardias.
Outro tópico do texto era o das empresas editoras de discos e o das lojas que os
comercializavam. Lê-se no texto: “oferecer aos ouvintes portugueses música de
Portugal não era coisa fácil”. Mas, de norte ao sul, o povo cantava e dançava um
repertório de música folclórica quase desconhecido dos outros, comenta o mesmo
texto. Ainda em 1938, um ano de fortes memórias para o autor destes episódios da
história da emissora, o carro de som fez gravações de música regional que animou,
durante algum tempo, os programas da estação.
O texto exalta a renovação desse tipo de música, com a formação de novos ranchos
folclóricos, como acção directa dos programas do Rádio Clube Português. Esta era,
contudo, uma emanação do poder político, com as campanhas do Secretariado
Nacional de Informação sob a direcção de António Ferro. No centenário, comemorado
em 1940, o esforço alargava-se à Emissora Nacional, de que se notabilizou Armando
Leça, já aqui lembrado.

História do Rádio Clube Português (18)
Posted on 21/03/2013 by Rogério Santos
No número 21 da revista Antena (1 de janeiro de 1966), era impresso o 18º capítulo da
história do Rádio Clube Português. Seria o último, pois durante o resto da existência da
publicação (até 15 de Outubro de 1968) nunca mais saiu aquela rubrica.

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O Rádio Clube Português vivia o ano de 1938. Então, na vizinha Espanha, a guerra civil
estava a chegar ao fim, mas uma igualmente trágica guerra ia começar, agora
abrangendo a Europa toda. Mas, o autor do texto evitou referir-se ao acontecimento no
país ao lado, como o fez abundamente em anteriores episódios, e debruçou-se sobre as
questões económicas da estação.

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Um défice de 48 contos seria inscrito no relatório de 1937, um valor muito elevado na
época (receitas: 398 contos; despesas: 446 contos).
Um novo emissor de 30 kW começava a trabalhar em Outubro de 1938 (1296 contos).
As emissões ainda não eram diárias, mas, pelo menos aos sábados, a voz da estação da
Parede atingia toda (ou quase toda) a Europa.
Um aspecto interessante: o arranque das retransmissões de música de dança de uma
sala do Casino do Estoril. Ali, diz o texto, actuava um pianista excepcional de jazz,
Jimmy Campbell. Na história da rádio em Portugal, pelo menos até ao começo da
década de 1960, era normal as estações transmitirem directamente música de dança de
salas-concerto.

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Rádio Clube Português – quase cem programas de rádio em 1968
Posted on 10/02/2012 by Rogério Santos
Em três números sucessivos, no início de 1968, a revista Plateia mostrou as principais
caras da programação do Rádio Clube Português (para ler melhor, com ampliação,
clicar em cima das imagens). Na longa lista de programas, a maior parte deles deviamse a produtores independentes, que procuravam criar estilos característicos e ter
locutores próprios.
Alguns dos programas marcaram a história da rádio em Portugal: Onda do Otimismo,
Talismã, Diário do Ar, Jornal dos Espetáculos, Programa à Gô-Gô, Companheiros da
Alegria, Clube do Disco, Clube das Donas de Casa, Parodiantes de Lisboa, PBX,
Encontro no Ar. O que mais me marcou foi Em Órbita. Sonarte, Produções Gilberto
Cotta e Parodiantes de Lisboa eram alguns dos produtores dos programas do Rádio
Clube Português. Um dispositivo habitual da época, em especial nos programas de
ondas médias, era a existência de um par de locutores por emissão, habitualmente um
homem e uma mulher. Vários dos apresentadores, já desaparecidos, chegaram a
vedetas na televisão (RTP): Fialho Gouveia, Gomes Ferreira, Jorge Alves, Maria Helena
d’Eça Leal, Fernando Curado Ribeiro.

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Teatro radiofónico em 1949
Posted on 29/04/2012 by Rogério Santos
Na véspera de Natal de 1949, a Rádio Peninsular (Lisboa) emitia um programa de
teatro radiofónico, de autoria de António Guedes de Amorim (1901-1979). Nascido na
Régua, passaria pelo Porto, como empregado do comércio, e estabelecer-se-ia em
Lisboa, como jornalista de O Século e O Século Ilustrado, romancista, nomeadamente
de Aldeia das Águias (1939, prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de
Lisboa) e Os Barcos descem o Rio (1945), e biógrafo, caso do livro Francisco de Assis,
Renovador da Humanidade (1960). As curtas biografias que encontrei referem-se à
obra literária de António Guedes de Amorim como tendo dois períodos, um com acento
neo-realista ou marxista, sobre a pobreza, a marginalidade e o real social e quotidiano
do submundo (Press.net do Douro), o outro com um pendor religioso, a partir de 1960.
Noite sem Pecado, emitido pela Rádio Peninsular, apresentou quatro personagens:
Maria Augusta, o filho Luís, a empregada Ricardina e a vizinha Piedade. Maria Augusta
estava doente (tuberculosa) e esperava notícias do marido ausente em África para onde
fora ganhar a vida mas já há muito que não enviava cartas. O autor mostra um quadro
de miséria, que nem o emprego do filho num banco consegue debelar. Não havia

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dinheiro, Maria Augusta tinha dívidas na mercearia, no talho, etc., à empregada
(criada), que gastara todos os seus parcos bens na ajuda na casa, já se deviam alguns
meses de vencimento. Nessa véspera de Natal, Luís trazia cinco contos (cinco mil
escudos) que resultara de um engano em depósito feito por um antigo sócio do seu pai.
A mãe condenou o filho e obrigou-o a devolver o dinheiro. Quase em simultâneo, o
carteiro trazia uma carta do marido de Maria Augusta, com um cheque de dez contos e
a dizer que a sua vida profissional estava melhor.
Uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, a Rádio Peninsular, antecipavase à própria Emissora Nacional a emitir teatro radiofónico, que ensaiava nessa altura
As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. No seu livro O Teatro Invisível (2006),
Eduardo Street refere-se a esta produção da Emissora Nacional como uma
superprodução. Se sabemos que a transmissão da Emissora foi um êxito, não nos
chegou uma informação tão precisa da transmissão da Rádio Peninsular. Mas
certamente que foi também um êxito, dado que a peça de António Guedes de Amorim
foi publicada na revista Rádio Nacional, propriedade da Emissora Nacional, nas
edições de 28 de janeiro e 4 e 18 de fevereiro de 1950. Não sei quem a interpretou, mas
imagino os sons: um violino a tocar Avé Maria, de Schubert, uma campainha da porta,
a tosse de Maria Augusta, o caminhar das personagens dentro do quarto onde
permanecia a doente.
A Rádio Peninsular tornar-se-ia uma emissora reputada a emitir em Lisboa. Em 1969, a
Casa da Imprensa atribuiria ao programa 1-8-0, de Aurélio Carlos Moreira e Paulo
Medeiros, da Rádio Peninsular, o prémio de melhor programa do ano. A estação, com
todas as estações dos Emissores Associados de Lisboa e também as estações dos
Emissores Norte Reunidos (Porto) e o Rádio Clube Português, desapareceria com a
nacionalização das rádios decidida politicamente em março de 1975.

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Observação (colocada em 1 de maio de 2012, pelas 15:28): ainda antes de 1949, a
Emissora Nacional e as estações privadas passaram diálogos radiofónicos e folhetins
radiofónicos, que queriam dizer conversas a dois e episódios sucessivos de uma
história, respetivamente. A linguagem habitual na época não fazia uma distinção fina
de diálogo, de folhetim e, mesmo, de teatro radiofónico. A separação defendida no texto
acima dá conta de um novo estilo, de uma nova roupagem, de um novo significado do
conceito de teatro radiofónico, na sequência de Eduardo Street.
Maria Carlota Álvares da Guerra
Posted on 13/05/2012 by Rogério Santos

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“O jornal era a maior parte da vida de meu pai” (Artur
Portela, filho de Artur Portela). “Houve quem se apaixonasse pela voz, outros pelo
olhar. Em todos os horários recebeu cartas de amor, ele que nos perdoe a
inconfidência” (Miriam Alves e Oriana Alves, filhas de Fernando Alves).
Jornalistas. Pais e Filhos, da editora Fronteira do Caos (2011), é um livro em que os
filhos jornalistas escrevem sobre os pais jornalistas, proposta simples para escrever um
livro. Contei 18 jornalistas retratados, que incluem João Alves da Costa, Manuel
Flórido, Silva Costa, Appio Sottomayor, Fialho de Oliveira, Amadeu José de Freitas, Rui
Cunha Viana, Nuno Brás e outros.
Fico com o relato de João Paulo Guerra, que eu me habituei a ler e ouvir, sobre a sua
mãe: Maria Carlota Álvares da Guerra (1921-2002), em texto intitulado “O Romance da
Tua Vida Ainda por Escrever” (pp. 33-39). Maria Carlota Álvares da Guerra – como
gostava que a chamassem, assim mesmo, pelo nome completo – era professora
primária (regente), divorciada, com dois filhos a criar (João Paulo e Maria do Céu, atriz
fundadora do teatro Barraca, aqui em Lisboa). O dinheiro era escasso, pelo que ela se
decidiu concorrer a um lugar de chefe de redação da Crónica Feminina (1956). Esta
revista não era sufragista nem feminista, escreve o autor-jornalista, mas pôs as
mulheres das classes populares a ler histórias, casos e segredos, ocupações e
consultórios por um preço baixo, um escudo e cinquenta centavos, o que a levou até aos
150 mil exemplares por edição semanal. Quando a Agência Portuguesa de Revistas
faliu, a jornalista viu-se desempregada sem qualquer indemnização.
Maria Carlota Álvares da Guerra passou também pela rádio, caso da Rádio Renascença,
com o programa Nova Vaga, e do Rádio Clube Português. O filho não escreve muito
sobre esta longa ligação, pelo que vale a pena tentarmos estabelecer uma curta

52
biografia dela, a partir de uma entrevista dada a Luís Garlito em 21 de março de 1995
(programa A Minha Amiga Rádio, Arquivo da RTP, AHC 2658):

“Resolvi fazer um programa na Rádio Renascença que se chamava A Hora da Mulher.
Era um programa semanal. Convidei o meu amigo Joaquim Pedro para fazer o
programa comigo. Tratava de tudo que se relacionava com a mulher. [...] Depois, a
minha saudosa amiga Bertha Rosa Limpo, que tinha uns produtos de beleza, no tempo

53
de O Livro do Pantagruel, convidou-me para fazer um apontamento na 23ª Hora. Aí é
que foi o grande boom. Eu fiz uma coisa muito bonita e ainda hoje penso que era muito
bonita. Escrevia um apontamento, dirigia em cada noite uma crónica a uma mulher que
eu tinha na cabeça, a uma senhora que estava em casa porque tinha torcido um pé e
estava muito aborrecida porque não sabia o que havia de fazer à vida e eu falava com
ela, uma senhora que tinha um filho em África onde andava aos tiros e que andava
muito triste, como também estive em dada altura, uma senhora que não tinha emprego.
Enfim, fiz um trabalho que ainda hoje acho que valeu a pena fazer. [...] Havia um
poema nesse livro [Toi et Moi, de Paul Géraldy] que me tocou particularmente. [...]
Saiu-me [o título] Quando os Corações se Encontram. As pessoas julgavam que eram
os corações dos namorados, mas eram os corações das pessoas umas com as outras. [...]
Foi título de livro e da crónica na 23ª Hora. O Joaquim Pedro arranjou um indicativo
musical que era um sonho, uma coisa do Mantovani, e ele fazia questão de anunciar o
título do apontamento, da crónica. Aquilo que foi para o ar teve um grande êxito.
Quando chegou ao fim do contrato, a Bertha Rosa Limpo quis recomeçar. Tive de fazer
mais crónicas e tive muito gosto e felicidade. Tornou-se um bocado difícil porque o
João Martins quis um apontamento para o programa dele, de manhã, que se chamou
Passo a Passo, Dia a Dia [...]. Tornava-se difícil fazer trinta crónicas mensais para a
23ª Hora mais trinta para o Passo a Passo, Dia a Dia. E depois veio o senhor Gilberto
Cotta, do Talismã, que também quis crónicas. Eu disse: não posso fazer mais do que
dia sim dia não, porque fico sem graça nenhuma”.
Maria Carlota Álvares da Guerra publicou as suas crónicas Quando os Corações se
Encontram (1965) e Lisboa Cada Dia (1967) e traduziu muitas obras, incluindo
Francesco Alberoni.
(recorte pertencente à revista Rádio e Televisão, 4 de maio de 1963)

A Força do Destino na Rádio Graça
Posted on 24/11/2012 by Rogério Santos
“Lembro-me de ir à loja de fazendas da minha avó materna e, por cima da sua máquina
de costura, onde fazia os arranjos necessários às peças de vestuário das clientes, haver
um calendário feito por ela, a lápis, com os nomes dos folhetins, as horas e os postos
que os emitiam. Este fenómeno começara em 1955, com a emissão de um folhetim na
Rádio Graça e Rádio Clube Português, que tinha por título A Força do Destino, mas que
ficou popularmente conhecido pelo folhetim da «coxinha» ou do Tide. O folhetim era
de origem sul-americana posteriormente adaptado à realidade portuguesa, por haver

54
falta de escritores nacionais que se dedicassem a este estilo. A linha da narrativa
passava pela história simples de Margarida, uma jovem «coxinha» que andava de
muletas, amorosa e triste, apaixonada pelo médico Humberto Figueirola, casado com
uma mulher má, de nome Raquel e prima de Margarida. No final, após inúmeras
peripécias, Raquel morre e Margarida casa com o médico, de quem tem uma filha,
contribuindo assim para a reabilitação de todas as «coxinhas» do país” (do blogue Cem
Palavras, texto que segue de muito perto o que escreveu Matos Maia no livro
Telefonia).
“LG (Luís Garlito): Como é que vocês começaram a fazer teatro na rádio?
“LSF (Lily Santos Frias): Era na Rádio Graça. Tínhamos a parte de teatro radiofónico.
Eu fiz vários teatros: eu fiz o Frei Luís de Sousa, também.
“RI (Ricardo Isidro): Nasceu um dia a ideia de se fazer teatro porque havia lá pessoas
capazes de fazer com um bocadinho de habilidade.
“LG: Aí a Lily Santos e o Ricardo Isidro eram uns jovens…
“RI: Protagonizámos quase sempre. Fizemos…
“LSF: Eu comecei a trabalhar na rádio tinha nove anos. Comecei a trabalhar… primeiro
recitava, depois comecei a cantar” (Entrevista com Lily Santos, Ricardo Isidro e Octávio
Frias, por Luís Garlito, em 28 de setembro de 1993, Arquivo da RTP AHD 14919).

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  • 1. História do Rádio Clube Português (1) Posted on 11/01/2012 by Rogério Santos A revista Antena (1965-1969), propriedade do Rádio Clube Português (RCP), a estação de rádio privada portuguesa mais importante na década de 1960, publicou em quase vinte números a história da emissora, em especial as primeiras décadas. Maior ênfase seria colocada na participação da estação quanto ao apoio aos sublevados de Francisco Franco na guerra civil de Espanha (1936-1939), tomando nítido partido por um dos lados do conflito. Essa história do RCP começaria no número 4, de 15 de abril de 1965, de que aqui deixo reproduzidas as quatro páginas (pp. 41-44). 1
  • 2. 2
  • 3. 3
  • 4. História do Rádio Clube Português (2) Posted on 15/01/2012 by Rogério Santos No número 5 de 1 de maio de 1965, a revista Antena publicava o segundo artigo sobre a história do Rádio Clube Português. Os anos de 1934 e 1935 da vida da estação eram analisados. A questão da publicidade (em 1934, as autoridades tinham proibido a publicidade no RCP, assim como nas outras emissoras privadas, o que gerou um movimento favorável às estações, com a criação de uma liga de associados do RCP, voltando a emissora a ter publicidade nos seus programas no ano de 1936), a inauguração do emissor em onda curta, a nova programação (que incluia reportagens de eventos como o casamento real inglês) e espetáculos no estúdio da estação são os principais elementos recordados no texto, que ocupa três páginas. 4
  • 5. 5
  • 6. 6
  • 7. 7
  • 8. História do Rádio Clube Português (3) Posted on 21/01/2012 by Rogério Santos O número de 15 de maio de 1965 da revista Antena inseria o terceiro capítulo da história do Rádio Clube Português. Dois assuntos tratados: a visita de Salazar à estação e o incêndio que deflagrou nas instalações em 14 de setembro de 1935. A visita do primeiro-ministro teve um tratamento específico, prova da relação próxima dos responsáveis da estação com Salazar. Lê-se no texto: “Cerca das 10,30 desse dia [17 de março de 1935], um automóvel estacionara junto ao portão do Clube. Alguém, metido num fato preto, saira da viatura e, de mãos enfiadas nos bolsos, ficara alguns momentos parado, olhando o edifício e a cerca. Os que se encontravam dentro do edifício verificaram, com surpresa, tratar-se do sr. Prof. Dr. Oliveira Salazar. Houve como que uma corrida aos telefones, a fim de chamar os directores da emissora que mais perto residiam, pois nada fazia antever tal visita. A presença do ilustre Chefe do Governo Português, nas instalações do Rádio Clube, foi breve mas minuciosa. Inúmeros foram os esclarecimentos e prontamente dados. Nada ficou por ver. [...] a visita terminou com esta dedicatória escrita pelo próprio Prof. Dr. Oliveira Salazar no livro de honra do Clube: «O Estado deve aproveitar os ensinamentos da concorrência particular»”. A visita de Salazar precisa de ser contextualizada. Por um lado, a Emissora Nacional, a estação do Estado, estava a emitir ainda experimentalmente. O presidente da comissão instaladora da estação, António Joyce, seria substituído pelo capitão Henrique Galvão, em junho de 1935. Salazar sabia já da necessidade de colocar um homem de grande confiança no poder da Emissora Nacional (Galvão viria a rebelar-se contra ele em 1961 com o desvio do paquete Santa Maria; mas já antes havia dissidência, que passou pela prisão de Galvão). Por outro lado, o Rádio Clube Português, liderado pelo capitão Botelho Moniz, fazia a apologia do governo e do poder de Salazar, com um discurso nacionalista e patriótico, através de conferências de propaganda nacional organizadas pela própria estação durante 1935. Em 1936, Botelho Moniz participou em comícios anticomunistas no Campo Pequeno (Lisboa) e Coliseu (Porto), apoiou a constituição da Legião Portuguesa e envolveu-se na Guerra Civil de Espanha, dando notícias favoráveis a Franco (ver Rogério Santos, 2005, As vozes da rádio, 1924-1939). Os capítulos 6, 7, 8, 9 (onde se relataria a destruição das instalações da Rádio causada pelo rebentamento de uma bomba, relacionada com a sua ligação a um dos lados da guerra espanhola), 11, 13 e 14 da história da estação contariam alguns episódios desta relação com a Falange espanhola. 8
  • 9. 9
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  • 11. História do Rádio Clube Português (4) Posted on 24/01/2012 by Rogério Santos O incêndio nas instalações do Rádio Clube Português em 14 de setembro de 1935 levou a uma onda de apoio, formando-se uma comissão pró-rádio. O texto do número 7, de 1 de junho de 1965, de Antena destacava quatro elementos na reanimação da estação. Uma das atividades seria um espetáculo a 4 de novembro do mesmo ano, com um concerto da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional e da Orquestra Aldrabófona de Lisboa (que atuaria depois em emissões em direto do RCP). Depois, o número de sócios do RCP atingia 7200, com apoios financeiros desses associados a somar a outros donativos. Em terceiro lugar, CT1GL, designação do RCP, voltava a transmitir, a 26 de novembro, dois anos depois da primeira emissão experimental. O texto não identifica a “melodia fresca [que] saiu daqueles escombros, levando já uma nova alma”. Finalmente, na assembleia geral de 9 de fevereiro de 1936 anunciavam-se duas boas novas: um emissor de 30 kW e a permissão para voltar a ter publicidade na programação. A visita de Salazar ao RCP em 17 de março de 1935 acelerara a resolução de um problema surgido algum tempo antes. Como escrito acima, a Orquestra Aldrabófona tocaria com frequência na rádio: formada por 26 músicos, “magros e gordos, altos e baixos, morenos e rosados, carecas e com cabeleiras para todos os gostos”, dirigida pelo maestro Aldrabowsky e com instrumentos como “um piano, dois harmónios, umas quatro violas, outras tantas guitarras, um pífaro, vários berimbaus e o resto constava, quase na totalidade, de harmónicas de boca”. 11
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  • 15. História do Rádio Clube Português (5) Posted on 31/01/2012 by Rogério Santos O quinto episódio da história do Rádio Clube Português apareceu no nº 8, de 15 de Junho de 1965, da revista Antena. O texto repartiu-se em quatro elementos, cobrindo o ano de 1936: orquestra radiofónica da estação, resolução do problema da publicidade, novos colaboradores como Mary Tarrant (conhecida durante décadas apenas como Mary), e campanha para o associado número dez mil. Numa altura em que a indústria fonográfica ainda era pouco importante no nosso país, as estações de rádio criaram as suas orquestras amadoras que apoiavam as emissões em direto tocando música variada, ligeira e de dança, como se lê no texto. A orquestra seria dirigida por Samuel Miguens, professor em Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), após ensaios de dois meses. A orquestra tinha os seguintes músicos: Elvira Borsatti, Irene Dinis, António Fernandes da Silva, António Freire Garcia, Artur Esteves, Artur Santos, David Pio, Duarte Ferreira Pestana, Joaquim da Costa Mendonça, José Semedo Velez, Luís Pereira e Mário Santos. Podia crescer até mais sete músicos, professores como escreveu o autor do texto, caso as necessidades das composições a tocar. 15
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  • 18. História do Rádio Clube Português (6 a 8) Posted on 16/02/2012 by Rogério Santos A revista Antena de 1 e 15 de julho e 1 de agosto de 1965 continuou a publicar a história do Rádio Clube Português (capítulos 6 a 8). São três textos que ilustram a participação da estação ao lado das tropas de Francisco Franco na Guerra Civil de Espanha (19361939), em especial o seu fundador e presidente, capitão Jorge Botelho Moniz. O texto explica a orientação política, embora a negando: “a Direção de Rádio Clube Português resolveu, unanimente, aproveitar as circunstâncias para realizar a primeira experiência internacional de uma grande reportagem radiofónica de interesse público. Nunca, até então, a rádio tivera oportunidade de efetuar coisa semelhante”. Quem escreveu isto foi o próprio Botelho Moniz, numa palestra lida aos microfones em 18 de julho de 1957, e que o autor dos textos da história da emissora transcreveu e que se prolongou nos dois episódios seguintes (que ficam aqui em conjunto). Botelho Moniz colocara-se, “quase desde a primeira hora, ao lado das tropas nacionalistas”, com a estação a acompanhar “a par e passo as suas progressões, os seus combates, os seus sacrifícios e os seus triunfos”. A História fazia-se de um dos lados do combate. 18
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  • 22. História do Rádio Clube Português (9) 22
  • 23. Posted on 26/02/2012 by Rogério Santos O Rádio Clube Português sofreria um atentado à bomba na noite de 20 de janeiro de 1937. O envolvimento da estação na Guerra Civil de Espanha acarretava inimigos. O emissor ficaria restabelecido no dia seguinte. Nesse ano, continua o texto publicado na revista Antena, de 15 de Agosto de 1965, realizou-se uma festa por iniciativa da Casa de Entre Douro e Minho dedicada à Telefonia Sem Fios (TSF). Numa alocução proferida na altura, disse-se que a rádio era “um poderosíssimo instrumento de expansão inteletual, cujo desenvolvimento constitui índice no progresso de um país”. Participaram a totalidade ou quase totalidade das estações de então: Emissora Nacional, Rádio Hertz, Rádio Renascença, Rádio Luso, Rádio Peninsular, Rádio S. Mamede, Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Condes, Rádio Sonora, Rádio Hertziana, Rádio Graça, Rádio Colonial e Rádio Clube Português. 23
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  • 26. História do Rádio Clube Português (10) Posted on 26/03/2012 by Rogério Santos Noticiário sobre automobilismo, espetáculos em direto de fados e guitarradas e de uma cantora espanhola, recital de violino e piano – assim se diversificava a programação do Rádio Clube Português em 1937 (Antena, 1 de setembro de 1965). Por outro lado, a estação promovia subscrições, como durante as inundações no Ribatejo em abril desse ano, e apelos para a campanha de dádiva de sangue. Além disso, as suas emissões chegavam à Terra Nova onde labutavam navios bacalhoeiros portugueses. História do Rádio Clube Português (11) 26
  • 27. Posted on 11/04/2012 by Rogério Santos A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, inseria o episódio 11 no seu número de 15 de setembro de 1965. A história cristalizaria na década de 1930, período de apoio a uma das fações da guerra em Espanha por parte dos dirigentes da estação. Daí, o tom nacionalista dos textos e a exaltação de feitos na recordação de 1937, como se pode retirar da leitura do texto abaixo reproduzido: manobras de outono por parte do exército português, primeiro dia desportivo da mulher (com a participação de equipas espanholas), apelo ao apoio às populações do país vizinho. Mas lembrar-se-iam as emissões de quarta-feiras a cargo da orquestra da rádio sob o cuidado de Samuel Miguens. Música ligeira e jazz eram dois tipos de música escutada na estação. 27
  • 28. História do Rádio Clube Português (12) Posted on 12/04/2012 by Rogério Santos A 1 de outubro de 1965, a revista Antena publicava o artigo 12º da história do Rádio Clube Português, ainda dedicado a 1937. Desta vez, coube a honra à Orquestra Rádio, dirigida por René Bohet, simultaneamente violinista e diretor da Orquestra do S. LuísCine. Bohet introduziu uma nota de jazz numa das músicas tocadas pela orquestra da estação. Mas o artigo deu igual destaque a uma nova rubrica (fados e guitarradas), no sentido de atrair ouvintes de estratos mais populares, e ao número de filiados na estação, num total de 13500. 28
  • 29. História do Rádio Clube Português (13) Posted on 25/05/2012 by Rogério Santos A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, editava no seu número 16, correspondente a 15 de outubro de 1965, o capítulo 13 da história daquela estação. Os 29
  • 30. anos revisitados eram 1937 e 1938, aliás tema de capítulos anteriores. O envolvimento direto na cobertura da guerra civil de Espanha por um dos lados dos contendores era um tópico central do texto. O último parágrafo destacaria essa aposta, com a entrevista feita e radiodifundida à fundadora de uma associação ligada aos falangistas (de Franco) e o pano de fundo de apoio, a “consagração internacional do RCP”. Aumento dos sócios da estação, entrada em funcionamento de um novo emissor de 30 kW e alargamento do quadro de pessoal como resposta a uma nova estrutura de programas – eis os outros elementos principais do artigo. 30
  • 31. 31
  • 32. História do Rádio Clube Português (14) Posted on 22/06/2012 by Rogério Santos 1938 continuou no horizonte da história do Rádio Clube Português, no décimo quarto capítulo publicado na revista Antena, de 1 de novembro de 1965. No final do primeiro mês do ano, a Falange visitou o Rádio Clube, retribuindo o apoio político dado ao grupo de Franco. O articulado é objetivo, sem margem para dúvidas: “Rádio Clube Português ao tomar lugar no conflito espanhol fê-lo não ao serviço da Espanha, mas sim ao serviço de Portugal”. O diretor da estação, o capitão na reserva Jorge Botelho Moniz, disse, ao receber os espanhóis revoltosos: “Ganha a batalha da rádio, cabe agora a vez aos soldados”. Na sua juventude, Moniz fora chefe de gabinete de Sidónio Pais, o presidente da República rapidamente assassinado. A programação da estação, então ainda a funcionar na Parede, muito antes de se mudar para a rua de Sampaio e Pina, aqui em Lisboa, mereceu também destaque: a transmissão de uma ópera, a Carmen de Bizet, a que se seguiram Os Palhaços, de Ruggero Leoncavallo, e Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Havia leitura prévia dos libretos. Troupe Gounot e Orquestra Rádio também operavam nessa estética antiga, experiência que mudaria depressa, com a introdução da música ligeira a partir do Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional, no final da década de 1940. 32
  • 33. História do Rádio Clube Português (15) Posted on 18/11/2012 by Rogério Santos Como se fazia a atualização discográfica nas estações de rádio em finais da década de 1930? Por dois processos habituais: a compra de cópias por viajantes de avião a outros 33
  • 34. países, incluindo os comissários de bordo dessas aeronaves; a aquisição em lojas da especialidade em Lisboa e no Porto. O texto número 15 da história do Rádio Clube Português (Antena, nº 18, 15 de novembro de 1965) pormenoriza orquestras (casos de Paul Whiteman, Duke Ellington e outras) e radialistas, como Luís Aranda, como os fornecedores de nova música. 34
  • 35. 35
  • 36. Em 1938, continua o mesmo artigo, começaram as palestras (programas de duração de cinco minutos em média) de temas agrícolas, em especial a campanha do trigo, que o governo de então promoveu, no sentido de aumentar a produção cerealífera até abastecer na totalidade o consumo interno, o que nunca conseguiu. O artigo narra ainda dois acontecimentos: a festa da jovem Mimi Extremadouro, artista dos programas infantis, e o começo de um programa dominical sobre temas variados (arte, literatura e desporto). História do Rádio Clube Português (16) Posted on 08/01/2013 by Rogério Santos 36
  • 37. 37
  • 38. O texto 16 da história do Rádio Clube Português, de 1 de Dezembro de 1965 (revista Antena, propriedade daquela estação de rádio), manteve o foco no ano de 1938. Aí foram destacados os programas religiosos, a transmissão de concerto de música de câmara do Teatro da Trindade, feita por linha telefónica de Lisboa para a Parede, onde estavam os estúdios da rádio, o teatro radiofónico com o entusiasmo de Manuel Lereno. Uma referência grande no texto foi dada ao novo emissor de 30 kW (no texto, quilovátios) da CT1GL, o indicativo de então de Rádio Clube Português. Lê-se no texto: “a mais perfeita sob o ponto de vista técnico, a mais potente das emissoras peninsulares e uma das mais potentes da Europa”. Custo: mil e duzentos contos, valor elevado se atentarmos a que as rendas de casas em Lisboa andariam entre cem e cento e vinte escudos, continua o texto. Os rendimentos da estação provinham das quotas dos seus sócios (e também da publicidade, que a estação já tinha sido autorizada a fazer publicidade). História do Rádio Clube Português (17) Posted on 15/01/2013 by Rogério Santos No nº 20, de 22 de Dezembro de 1965, a revista Antena publicava o episódio 17 da história do Rádio Clube Português. Se, no texto anterior, houve uma referência ligeira ao teatro radiofónico, neste episódio a alusão ao teatro na rádio foi mais profunda. Nele, enumeram-se os nomes de Ana Spranger, Meniche Lopes, Margarida Franco, 38
  • 39. Artur Moura, Rui Furtado, Jaime Santos, António Cruz e Azevedo Moreira, dirigidos por Manuel Lereno. O teatro radiofónico alcançava um número elevado de ouvintes, mesmo que fosse transmitido a horas tardias. Outro tópico do texto era o das empresas editoras de discos e o das lojas que os comercializavam. Lê-se no texto: “oferecer aos ouvintes portugueses música de Portugal não era coisa fácil”. Mas, de norte ao sul, o povo cantava e dançava um repertório de música folclórica quase desconhecido dos outros, comenta o mesmo texto. Ainda em 1938, um ano de fortes memórias para o autor destes episódios da história da emissora, o carro de som fez gravações de música regional que animou, durante algum tempo, os programas da estação. O texto exalta a renovação desse tipo de música, com a formação de novos ranchos folclóricos, como acção directa dos programas do Rádio Clube Português. Esta era, contudo, uma emanação do poder político, com as campanhas do Secretariado Nacional de Informação sob a direcção de António Ferro. No centenário, comemorado em 1940, o esforço alargava-se à Emissora Nacional, de que se notabilizou Armando Leça, já aqui lembrado. História do Rádio Clube Português (18) Posted on 21/03/2013 by Rogério Santos No número 21 da revista Antena (1 de janeiro de 1966), era impresso o 18º capítulo da história do Rádio Clube Português. Seria o último, pois durante o resto da existência da publicação (até 15 de Outubro de 1968) nunca mais saiu aquela rubrica. 39
  • 40. O Rádio Clube Português vivia o ano de 1938. Então, na vizinha Espanha, a guerra civil estava a chegar ao fim, mas uma igualmente trágica guerra ia começar, agora abrangendo a Europa toda. Mas, o autor do texto evitou referir-se ao acontecimento no país ao lado, como o fez abundamente em anteriores episódios, e debruçou-se sobre as questões económicas da estação. 40
  • 41. Um défice de 48 contos seria inscrito no relatório de 1937, um valor muito elevado na época (receitas: 398 contos; despesas: 446 contos). Um novo emissor de 30 kW começava a trabalhar em Outubro de 1938 (1296 contos). As emissões ainda não eram diárias, mas, pelo menos aos sábados, a voz da estação da Parede atingia toda (ou quase toda) a Europa. Um aspecto interessante: o arranque das retransmissões de música de dança de uma sala do Casino do Estoril. Ali, diz o texto, actuava um pianista excepcional de jazz, Jimmy Campbell. Na história da rádio em Portugal, pelo menos até ao começo da década de 1960, era normal as estações transmitirem directamente música de dança de salas-concerto. 41
  • 42. Rádio Clube Português – quase cem programas de rádio em 1968 Posted on 10/02/2012 by Rogério Santos Em três números sucessivos, no início de 1968, a revista Plateia mostrou as principais caras da programação do Rádio Clube Português (para ler melhor, com ampliação, clicar em cima das imagens). Na longa lista de programas, a maior parte deles deviamse a produtores independentes, que procuravam criar estilos característicos e ter locutores próprios. Alguns dos programas marcaram a história da rádio em Portugal: Onda do Otimismo, Talismã, Diário do Ar, Jornal dos Espetáculos, Programa à Gô-Gô, Companheiros da Alegria, Clube do Disco, Clube das Donas de Casa, Parodiantes de Lisboa, PBX, Encontro no Ar. O que mais me marcou foi Em Órbita. Sonarte, Produções Gilberto Cotta e Parodiantes de Lisboa eram alguns dos produtores dos programas do Rádio Clube Português. Um dispositivo habitual da época, em especial nos programas de ondas médias, era a existência de um par de locutores por emissão, habitualmente um homem e uma mulher. Vários dos apresentadores, já desaparecidos, chegaram a vedetas na televisão (RTP): Fialho Gouveia, Gomes Ferreira, Jorge Alves, Maria Helena d’Eça Leal, Fernando Curado Ribeiro. 42
  • 43. 43
  • 44. Teatro radiofónico em 1949 Posted on 29/04/2012 by Rogério Santos Na véspera de Natal de 1949, a Rádio Peninsular (Lisboa) emitia um programa de teatro radiofónico, de autoria de António Guedes de Amorim (1901-1979). Nascido na Régua, passaria pelo Porto, como empregado do comércio, e estabelecer-se-ia em Lisboa, como jornalista de O Século e O Século Ilustrado, romancista, nomeadamente de Aldeia das Águias (1939, prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa) e Os Barcos descem o Rio (1945), e biógrafo, caso do livro Francisco de Assis, Renovador da Humanidade (1960). As curtas biografias que encontrei referem-se à obra literária de António Guedes de Amorim como tendo dois períodos, um com acento neo-realista ou marxista, sobre a pobreza, a marginalidade e o real social e quotidiano do submundo (Press.net do Douro), o outro com um pendor religioso, a partir de 1960. Noite sem Pecado, emitido pela Rádio Peninsular, apresentou quatro personagens: Maria Augusta, o filho Luís, a empregada Ricardina e a vizinha Piedade. Maria Augusta estava doente (tuberculosa) e esperava notícias do marido ausente em África para onde fora ganhar a vida mas já há muito que não enviava cartas. O autor mostra um quadro de miséria, que nem o emprego do filho num banco consegue debelar. Não havia 44
  • 45. dinheiro, Maria Augusta tinha dívidas na mercearia, no talho, etc., à empregada (criada), que gastara todos os seus parcos bens na ajuda na casa, já se deviam alguns meses de vencimento. Nessa véspera de Natal, Luís trazia cinco contos (cinco mil escudos) que resultara de um engano em depósito feito por um antigo sócio do seu pai. A mãe condenou o filho e obrigou-o a devolver o dinheiro. Quase em simultâneo, o carteiro trazia uma carta do marido de Maria Augusta, com um cheque de dez contos e a dizer que a sua vida profissional estava melhor. Uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, a Rádio Peninsular, antecipavase à própria Emissora Nacional a emitir teatro radiofónico, que ensaiava nessa altura As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. No seu livro O Teatro Invisível (2006), Eduardo Street refere-se a esta produção da Emissora Nacional como uma superprodução. Se sabemos que a transmissão da Emissora foi um êxito, não nos chegou uma informação tão precisa da transmissão da Rádio Peninsular. Mas certamente que foi também um êxito, dado que a peça de António Guedes de Amorim foi publicada na revista Rádio Nacional, propriedade da Emissora Nacional, nas edições de 28 de janeiro e 4 e 18 de fevereiro de 1950. Não sei quem a interpretou, mas imagino os sons: um violino a tocar Avé Maria, de Schubert, uma campainha da porta, a tosse de Maria Augusta, o caminhar das personagens dentro do quarto onde permanecia a doente. A Rádio Peninsular tornar-se-ia uma emissora reputada a emitir em Lisboa. Em 1969, a Casa da Imprensa atribuiria ao programa 1-8-0, de Aurélio Carlos Moreira e Paulo Medeiros, da Rádio Peninsular, o prémio de melhor programa do ano. A estação, com todas as estações dos Emissores Associados de Lisboa e também as estações dos Emissores Norte Reunidos (Porto) e o Rádio Clube Português, desapareceria com a nacionalização das rádios decidida politicamente em março de 1975. 45
  • 46. 46
  • 47. 47
  • 48. 48
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  • 50. 50
  • 51. Observação (colocada em 1 de maio de 2012, pelas 15:28): ainda antes de 1949, a Emissora Nacional e as estações privadas passaram diálogos radiofónicos e folhetins radiofónicos, que queriam dizer conversas a dois e episódios sucessivos de uma história, respetivamente. A linguagem habitual na época não fazia uma distinção fina de diálogo, de folhetim e, mesmo, de teatro radiofónico. A separação defendida no texto acima dá conta de um novo estilo, de uma nova roupagem, de um novo significado do conceito de teatro radiofónico, na sequência de Eduardo Street. Maria Carlota Álvares da Guerra Posted on 13/05/2012 by Rogério Santos 51
  • 52. “O jornal era a maior parte da vida de meu pai” (Artur Portela, filho de Artur Portela). “Houve quem se apaixonasse pela voz, outros pelo olhar. Em todos os horários recebeu cartas de amor, ele que nos perdoe a inconfidência” (Miriam Alves e Oriana Alves, filhas de Fernando Alves). Jornalistas. Pais e Filhos, da editora Fronteira do Caos (2011), é um livro em que os filhos jornalistas escrevem sobre os pais jornalistas, proposta simples para escrever um livro. Contei 18 jornalistas retratados, que incluem João Alves da Costa, Manuel Flórido, Silva Costa, Appio Sottomayor, Fialho de Oliveira, Amadeu José de Freitas, Rui Cunha Viana, Nuno Brás e outros. Fico com o relato de João Paulo Guerra, que eu me habituei a ler e ouvir, sobre a sua mãe: Maria Carlota Álvares da Guerra (1921-2002), em texto intitulado “O Romance da Tua Vida Ainda por Escrever” (pp. 33-39). Maria Carlota Álvares da Guerra – como gostava que a chamassem, assim mesmo, pelo nome completo – era professora primária (regente), divorciada, com dois filhos a criar (João Paulo e Maria do Céu, atriz fundadora do teatro Barraca, aqui em Lisboa). O dinheiro era escasso, pelo que ela se decidiu concorrer a um lugar de chefe de redação da Crónica Feminina (1956). Esta revista não era sufragista nem feminista, escreve o autor-jornalista, mas pôs as mulheres das classes populares a ler histórias, casos e segredos, ocupações e consultórios por um preço baixo, um escudo e cinquenta centavos, o que a levou até aos 150 mil exemplares por edição semanal. Quando a Agência Portuguesa de Revistas faliu, a jornalista viu-se desempregada sem qualquer indemnização. Maria Carlota Álvares da Guerra passou também pela rádio, caso da Rádio Renascença, com o programa Nova Vaga, e do Rádio Clube Português. O filho não escreve muito sobre esta longa ligação, pelo que vale a pena tentarmos estabelecer uma curta 52
  • 53. biografia dela, a partir de uma entrevista dada a Luís Garlito em 21 de março de 1995 (programa A Minha Amiga Rádio, Arquivo da RTP, AHC 2658): “Resolvi fazer um programa na Rádio Renascença que se chamava A Hora da Mulher. Era um programa semanal. Convidei o meu amigo Joaquim Pedro para fazer o programa comigo. Tratava de tudo que se relacionava com a mulher. [...] Depois, a minha saudosa amiga Bertha Rosa Limpo, que tinha uns produtos de beleza, no tempo 53
  • 54. de O Livro do Pantagruel, convidou-me para fazer um apontamento na 23ª Hora. Aí é que foi o grande boom. Eu fiz uma coisa muito bonita e ainda hoje penso que era muito bonita. Escrevia um apontamento, dirigia em cada noite uma crónica a uma mulher que eu tinha na cabeça, a uma senhora que estava em casa porque tinha torcido um pé e estava muito aborrecida porque não sabia o que havia de fazer à vida e eu falava com ela, uma senhora que tinha um filho em África onde andava aos tiros e que andava muito triste, como também estive em dada altura, uma senhora que não tinha emprego. Enfim, fiz um trabalho que ainda hoje acho que valeu a pena fazer. [...] Havia um poema nesse livro [Toi et Moi, de Paul Géraldy] que me tocou particularmente. [...] Saiu-me [o título] Quando os Corações se Encontram. As pessoas julgavam que eram os corações dos namorados, mas eram os corações das pessoas umas com as outras. [...] Foi título de livro e da crónica na 23ª Hora. O Joaquim Pedro arranjou um indicativo musical que era um sonho, uma coisa do Mantovani, e ele fazia questão de anunciar o título do apontamento, da crónica. Aquilo que foi para o ar teve um grande êxito. Quando chegou ao fim do contrato, a Bertha Rosa Limpo quis recomeçar. Tive de fazer mais crónicas e tive muito gosto e felicidade. Tornou-se um bocado difícil porque o João Martins quis um apontamento para o programa dele, de manhã, que se chamou Passo a Passo, Dia a Dia [...]. Tornava-se difícil fazer trinta crónicas mensais para a 23ª Hora mais trinta para o Passo a Passo, Dia a Dia. E depois veio o senhor Gilberto Cotta, do Talismã, que também quis crónicas. Eu disse: não posso fazer mais do que dia sim dia não, porque fico sem graça nenhuma”. Maria Carlota Álvares da Guerra publicou as suas crónicas Quando os Corações se Encontram (1965) e Lisboa Cada Dia (1967) e traduziu muitas obras, incluindo Francesco Alberoni. (recorte pertencente à revista Rádio e Televisão, 4 de maio de 1963) A Força do Destino na Rádio Graça Posted on 24/11/2012 by Rogério Santos “Lembro-me de ir à loja de fazendas da minha avó materna e, por cima da sua máquina de costura, onde fazia os arranjos necessários às peças de vestuário das clientes, haver um calendário feito por ela, a lápis, com os nomes dos folhetins, as horas e os postos que os emitiam. Este fenómeno começara em 1955, com a emissão de um folhetim na Rádio Graça e Rádio Clube Português, que tinha por título A Força do Destino, mas que ficou popularmente conhecido pelo folhetim da «coxinha» ou do Tide. O folhetim era de origem sul-americana posteriormente adaptado à realidade portuguesa, por haver 54
  • 55. falta de escritores nacionais que se dedicassem a este estilo. A linha da narrativa passava pela história simples de Margarida, uma jovem «coxinha» que andava de muletas, amorosa e triste, apaixonada pelo médico Humberto Figueirola, casado com uma mulher má, de nome Raquel e prima de Margarida. No final, após inúmeras peripécias, Raquel morre e Margarida casa com o médico, de quem tem uma filha, contribuindo assim para a reabilitação de todas as «coxinhas» do país” (do blogue Cem Palavras, texto que segue de muito perto o que escreveu Matos Maia no livro Telefonia). “LG (Luís Garlito): Como é que vocês começaram a fazer teatro na rádio? “LSF (Lily Santos Frias): Era na Rádio Graça. Tínhamos a parte de teatro radiofónico. Eu fiz vários teatros: eu fiz o Frei Luís de Sousa, também. “RI (Ricardo Isidro): Nasceu um dia a ideia de se fazer teatro porque havia lá pessoas capazes de fazer com um bocadinho de habilidade. “LG: Aí a Lily Santos e o Ricardo Isidro eram uns jovens… “RI: Protagonizámos quase sempre. Fizemos… “LSF: Eu comecei a trabalhar na rádio tinha nove anos. Comecei a trabalhar… primeiro recitava, depois comecei a cantar” (Entrevista com Lily Santos, Ricardo Isidro e Octávio Frias, por Luís Garlito, em 28 de setembro de 1993, Arquivo da RTP AHD 14919). 55