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Hanseníase: Episódios Reacionais 
Autoria: Sociedade Brasileira de Hansenologia e 
Sociedade Brasileira de Dermatologia 
1 
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
Elaboração Final: 4 de julho de 2003 
Participantes: Foss NT, Souza CS, Goulart IMB, Gonçalves HS, 
Virmond M 
O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associa‹o MŽdica Brasileira e Conselho Federal 
de Medicina, tem por objetivo conciliar informa›es da ‡rea mŽdica a fim de padronizar 
condutas que auxiliem o racioc’nio e a tomada de decis‹o do mŽdico. As informa›es contidas 
neste projeto devem ser submetidas ˆ avalia‹o e ˆ cr’tica do mŽdico, respons‡vel pela conduta 
a ser seguida, frente ˆ realidade e ao estado cl’nico de cada paciente.
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIAS: 
Esta publicação buscou incorporar as melhores bases de dados disponíveis 
à época de sua execução. No entanto, estes dados devem ser interpretados 
cuidadosamente, os resultados de estudos futuros podem levar a alterações 
nas conclusões ou recomendações sugeridas por este documento. Foram 
utilizadas principalmente as bases de dados MEDLINE (U.S. National Library 
of Medicine) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciên-cias 
da Saúde), manuais e documentos do Ministério da Saúde do Brasil e 
da Organização Mundial de Saúde, teses e livros de textos relacionados ao 
assunto. 
GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA: 
A: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência. 
B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência. 
C: Relatos de casos (estudos não controlados). 
D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, 
estudos fisiológicos ou modelos animais. 
OBJETIVOS: 
1. Estas diretrizes destinam-se à abordagem prática e atualizada dos 
estados reacionais da hanseníase. 
2. Estabelecer terapêutica adequada ao paciente para minimizar os danos 
decorrentes das reações hansênicas e os efeitos colaterais dos fármacos 
empregados para o controle da reação. 
CONFLITO DE INTERESSE: 
Nenhum conflito de interesse declarado. 
2 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
INTRODUÇÃO 
Episódios reacionais, descritos como fenômenos agudos so-brepostos 
à evolução crônica e insidiosa da hanseníase, são poten-cialmente 
responsáveis por perda funcional de nervos periféricos e 
agravantes das incapacidades. Decorrem do processo inflamatório 
e resposta imunológica, mediada por antígenos do Mycobacterium 
leprae, e estabelecem relação com a carga bacilar e a resposta imu-ne 
do hospedeiro. O diagnóstico precoce, o manejo terapêutico 
adequado dos eventos reacionais graves, recorrentes ou crônicos 
são desafios atuais. 
Frente à suspeita de reação hansênica, recomenda-se: 1) Con-firmação 
do diagnóstico e classificação da forma clínica da 
hanseníase; 2) Diferenciar o tipo de reação hansênica; 3) Estabe-lecer 
a extensão do comprometimento de órgãos e sistemas; 
4) Planejar e instituir, precocemente, terapêutica que impeça a 
instalação da incapacidade; 5) Conhecer os efeitos adversos dos 
medicamentos empregados no tratamento da hanseníase e em seus 
estados reacionais; 6) Internação hospitalar e colaboração de 
outras especialidades diante de casos graves, particularmente, aque-les 
com acentuado comprometimento de múltiplos órgãos, ou com 
dificuldades no diagnóstico e/ou na terapêutica. O cumprimento 
destas premissas permitirá o manuseio clínico-terapêutico ade-quado 
e o sucesso no controle dos episódios reacionais com recu-peração 
ou o mínimo de danos neurais. 
RELAÇÃO ENTRE EPISÓDIOS REACIONAIS E 
ESPECTRO DA DOENÇA 
Hanseníase é doença infecciosa crônica causada pelo 
Mycobacterium leprae que afeta, preferencialmente, o tegumento e 
o sistema nervoso periférico, entretanto, tanto a disseminação do 
bacilo quanto os fenômenos reacionais podem envolver outros 
órgãos e sistemas. Distintas características clínicas, bacteriológi-cas, 
imunológicas e histopatológicas compõem o espectro da doença 
e expressam a relação da resposta específica do hospedeiro ao bacilo. 
As classificações mais adotadas, MADRI (1953), baseada no as-pecto 
morfológico das lesões1(D), e RIDLEY JOPLING (1966), 
fundamentada no aspecto clínico e histopatológico das lesões2(D), 
utilizaram-se da abordagem espectral definindo as formas polares 
Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 3
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
e interpolares da doença. Essas classificações, 
embora completas, apresentaram dificuldades 
para aplicação em nível operacional, e, para fa-cilitar 
a divisão dos pacientes, a Organização 
Mundial da Saúde – OMS (1988)3(D) propôs 
a classificação em multibacilares e pauci-bacilares, 
que adota como critério o resultado 
da pesquisa de bacilos nos esfregaços cutâneos. 
Mais recentemente, com a intenção de opera-cionalizar 
o diagnóstico e controle da doença, 
especialmente em áreas endêmicas, tem sido 
adotada a classificação segundo o número de 
lesões, sendo considerados paucibacilares os 
pacientes que apresentarem até cinco lesões e 
multibacilares, aqueles com mais de cinco 
lesões4(D). 
O desenvolvimento da doença pode se ma-nifestar 
primeiramente como hanseníase 
indeterminada (HI), estágio inicial, em geral 
transitório, que pode evoluir para cura. Em caso 
de progressão, a resposta imune específica do 
hospedeiro frente ao bacilo irá definir os padrões 
da doença5(D). No pólo de resistência ao bacilo, 
encontra-se a doença localizada e não conta-giosa, 
a hanseníase tuberculóide (HT), que 
expressa resposta imune competente para 
morte bacilar. 
No pólo de alta suscetibilidade, associado à 
deficiência da imunidade celular, específica ao 
M. leprae, encontra-se a forma disseminada e 
contagiosa, a hanseníase virchowiana (HV) que 
decorre da incapacidade da resposta imune para 
impedir a multiplicação e eliminação do bacilo. 
As formas interpolares, dimorfo tuberculóide 
(HDT), dimorfo-dimorfo (HDD) e dimorfo 
virchowiano (HDV) refletem graduais variações 
da resistência ao bacilo que tendem a se aproxi-mar 
das características de cada uma das formas 
polares HT ou HV6(D). A evolução crônica e 
insidiosa da doença pode ser sobreposta por 
fenômenos inflamatórios agudos, as reações 
hansênicas. Os episódios reacionais podem 
incidir em qualquer uma das formas clínicas, 
sendo rara sua detecção na hanseníase 
indeterminada. 
Os episódios reacionais da hanseníase po-dem 
ocorrer antes, durante ou após a institui-ção 
do tratamento específico4,6,7(D)8,9(B). Não 
é infreqüente que os sinais e sintomas que acom-panham 
as reações motivem a busca de auxílio 
médico e, ainda, que o surto reacional esteja 
presente no momento do diagnóstico da 
hanseníase7(D)10(B). 
Os dois tipos de reações hansênicas: Tipo 1 
ou reação reversa (RR) e Tipo 2 ou eritema 
nodoso hansênico (ENH) refletem processo 
inflamatório imune-mediado, envolvendo dis-tintos 
mecanismos de hipersensibilidade11,12(D). 
O entendimento do conceito espectral da 
hanseníase e dos padrões da resposta imune 
aliados ao reconhecimento das manifestações 
clínicas e laboratoriais dos surtos reacionais será 
útil para diferenciar as reações tipo RR e ENH, 
suas características de evolução clínica e conse-qüentemente 
de propostas terapêuticas. 
Há interesse voltado para determinar 
marcadores clínicos ou laboratoriais que iden-tifiquem 
pacientes com aumento do risco para 
o desenvolvimento das reações. Vários fato-res 
desencadeantes tais como: estresse, trau-ma 
físico ou psicológico6(D), contracep-tivos 
orais e outras drogas6,7(D), infecções 
intercorrentes, particularmente, co-infecções 
como tuberculose6(D) e HIV7(D) foram 
correlacionados às reações, por meio, em sua 
maioria, de observações clínicas mais do que 
por comprovações de estudos clínicos con- 
4 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
trolados. Estudos realizados em áreas em que 
a hanseníase e a Aids ocorrem simultaneamen-te 
têm observado uma pequena associação 
entre infecção HIV1 e hanseníase. Entretan-to, 
mesmo considerando que tais pesquisas não 
identificaram associação significante entre 
HIV1/ Aids e hanseníase, há perspectivas de 
que estudos futuros possam contribuir com 
informações acerca das possíveis modificações 
dos padrões clínicos de ambas as morbidades, 
assim como da freqüência dos eventos reacio-nais 
e das recidivas da hanseníase nestes 
pacientes13(D). 
REAÇÃO TIPO 1 OU REAÇÃO 
REVERSA (RR): 
O episódio da RR envolve principalmente 
mecanismos da imunidade mediada por célu-las 
ou de hipersensibilidade tardia (tipo IV de 
Coombs & Gell)11,12(D). Estas reações ocor-rem 
com maior freqüência nas formas dimorfas 
(HD, HDT e HDV)10(B)6,14(D). A incidência 
da RR na forma HV é significantemente me-nor 
do que na forma HDV8(B), e sua ocorrên-cia 
pode ser observada na forma HT10(B). 
O processo inflamatório da RR envolve, 
principalmente, a pele e nervos invadidos pelo 
bacilo. O comprometimento múltiplo ou 
isolado de troncos nervosos mantém relação 
com as formas clínicas, extensão da invasão 
bacilar e resposta imune. A intensidade da 
agressão e deterioração neural decorre da 
interação entre o bacilo e o hospedeiro, envol-vidos 
no processo inflamatório imune-media-do 
em resposta à invasão tecidual. A exube-rância 
e predomínio da resposta inflamatória 
granulomatosa, ou reação imunológica tipo IV, 
podem resultar na formação de abscesso neural 
e úlceras cutâneas6(D). 
EPIDEMIOLOGIA 
A despeito da importância dos episódios 
reacionais na indução de danos neurais, as difi-culdades 
para obtenção das estimativas da 
prevalência e da incidência da RR decorrem em 
parte das diferenças na definição de casos, perio-dicidade, 
regularidade e qualidade do seguimento 
durante e após alta terapêutica, que são, em 
geral, mais controladas nos estudos clínicos e 
epidemiológicos. A ocorrência de RR em qual-quer 
período mantém relação com a forma 
clínica da hanseníase. O tipo de tratamento 
poderia influir na incidência de surtos reacionais 
durante e após a sua interrupção7(D)15,16(B). 
Cerca de 8% a 33% dos indivíduos com 
hanseníase podem ser acometidos por RR 7(D). 
No Brasil, dos pacientes multibacilares, segui-dos 
por seis anos pós-tratamento, 74% apre-sentaram 
episódios reacionais, sendo 29% de 
RR, 25% de ENH e 20% de neurite 
isolada17(B). Outro estudo controlado e com-parativo 
de dois esquemas terapêuticos mostrou 
que 50% dos pacientes tratados com o regime 
de poliquimioterapia (PQT/OMS) apresenta-ram 
reações hansênicas, entre estas 17,1% de 
RR, 30% de ENH e 2,8% de neurite isolada. 
A ocorrência das manifestações reacionais foi 
significantemente menor com regime PQT/ 
OMS comparada àquela observada com regi-me 
preconizado anteriormente pela Divisão 
Nacional de Dermatologia Sanitária do 
Ministério da Saúde (DNDS)16(B). 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
Clínicos 
• Manifestações cutâneas: na reação reversa, 
o processo inflamatório atinge a pele e nervos 
periféricos. As lesões cutâneas preexistentes 
Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 5
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
tornam-se mais eritematosas, intumes-cidas, 
edematosas e infiltradas. As máculas 
tornam-se placas elevadas e os limites das 
lesões tornam-se mais evidentes e definidos. 
Evoluem com descamação e, por vezes, so-brevém 
a ulceração. Novas lesões asseme-lhando- 
se às demais surgem em áreas adja-centes. 
Concomitante a estas alterações, 
pode ocorrer hiperestesia ou acentuação da 
parestesia sobre as lesões cutâneas4,6,18(D). 
• Neuropatias: o dano neural pode ocorrer ao 
longo de todo espectro da doença e, seja 
como fenômeno agudo ou crônico, pode 
resultar em incapacidade e seqüelas irrever-síveis. 
A perda da função sensitivo-motora 
decorrente das neuropatias é uma das mais 
freqüentes e graves conseqüências da reação 
reversa. O espessamento neural acompanha-do 
de dor, hiperestesia ou acentuação da 
hipoestesia no território neural acometido 
por menos de seis meses de duração caracte-rizam 
a neurite aguda. Entretanto, a perda 
da função neural pode instalar-se na ausên-cia 
dos sintomas de dor e/ou intumescên-cia, 
definindo-se a neuropatia silenciosa. 
Neuropatia recorrente é caracterizada por 
episódio de acometimento agudo de nervo 
periférico no período maior de três meses 
após a interrupção da terapêutica, durante 
o qual nenhum sinal ou sintoma de neurite 
foi evidente. Na neuropatia crônica, os si-nais 
e sintomas de inflamação, edema e 
dor, geralmente reaparecem dentro do 
período de três meses após o término da 
terapêutica19,20(B). 
Com maior freqüência, há o envolvimento 
dos nervos ulnar e tibial posterior8,19-21(B). A 
instalação súbita da mão em garra, pé caído e 
lagoftalmo deve receber intervenção rápida e 
precoce, para evitar que se tornem alterações 
permanentes. Frente a estes aspectos, as 
neurites podem ser consideradas emergências 
clínicas, pois a precocidade do seu reconhe-cimento 
e da intervenção terapêutica pode 
prevenir o desenvolvimento do dano neural, 
o estabelecimento de incapacidades e deformi-dades. 
Em geral, nos episódios de reação reversa 
não há comprometimento sistêmico e as ma-nifestações 
são predominantemente localiza-das. 
Quadros graves e extensos podem ser 
acompanhados de febre baixa, indisposição e 
anorexia. O envolvimento cutâneo e neural 
varia entre discreto e grave. Nos quadros mais 
graves, há tendência a ulceração das lesões 
cutâneas, edema acentuado da face, mãos e pés, 
acometimento de maior número de nervos pe-riféricos 
concomitante ao comprometimento 
da sensibilidade e da força muscular. A pre-sença 
de placas cutâneas sobre áreas de tronco 
nervoso ou nas regiões perioculares confere 
maior gravidade à reação devido ao risco eleva-do 
de comprometimento neural22(B). A 
detecção desses sinais sugere eminência de 
surto reacional e requer acompanhamento 
mais rigoroso seguido de tratamento precoce. 
Testes para avaliação das funções sensitiva e 
motora são considerados valiosos instrumen-tos 
de monitoração dos danos neurais associa-dos 
aos episódios reacionais20,21,23(B). A sus-peita 
de neurite reacional deve ser feita quan-do 
da: 1) Perda recente da função neural; 2) 
Dor ou intumescência de um ou mais nervos 
periféricos; 3) Intumescência do nervo sem 
perda da função. 
Laboratoriais 
Em geral, na RR não são observadas altera-ções 
hematológicas e da bioquímica sangüínea. 
6 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
A histopatologia de lesões cutâneas exibe edema 
e expansão do granuloma, aumento marcante 
do número de linfócitos, de células epitelióides 
e de células gigantes, e a redução do número de 
bacilos24,25(D). Podem ser observadas hiperplasia 
epitelial e alterações mais graves como necroses 
focais ou confluentes que resultam em 
ulcerações25(D). Em conjunto com os demais 
métodos de investigação, as técnicas de imuno-histoquímica 
e da reação em cadeia da 
polimerase (PCR) adicionaram evidências 
indicativas da exacerbação da resposta 
imunocelular e da redução da carga bacilar na 
RR12(D)26(C). 
Fatores de risco 
Episódios de reação reversa têm sido 
associados a fatores de risco como: doença ex-tensa, 
indicada pelo número de áreas corpóreas 
envolvidas9(B), grupo dimorfo9,10(B), lesões 
faciais26(C)27(B), vacinação BCG28,29(C). A 
concomitância de anticorpos glicolipídeo 
fenólico fração-1-anti-PGL-1 e positividade 
do teste lepromínico foi sugerida como fator 
de risco e marcador da RR30(B). Tem sido ava-liado 
se as drogas utilizadas para o tratamen-to 
específico poderiam influenciar no risco 
para reação reversa, porém, existem poucos 
estudos clínicos randomizados com avalia-ções 
conclusivas17(B)7(D). Logo, essa hipó-tese 
deve ser considerada com cautela. 
Outro potencial fator de risco é a gestação 
que pode cursar, em todas as suas fases, 
com neurite silenciosa, embora esta predo-mine 
na lactação31(C). Adicionalmente, 
existem relatos de que o risco para neuropatia 
aumenta de forma significativa em idosos, nos 
casos de diagnóstico tardio e segundo o 
número de nervos espessados no momento 
do diagnóstico ou, ainda, durante a evolução 
da RR20(B). 
A freqüência de reações e/ou perda da 
função neural, necessitando de tratamento, 
é maior em multibacilares comparada aos 
paucibacilares21(B). Foi observada correlação 
positiva entre pacientes multibacilares com 
índice baciloscópico (IB) maior ou igual a 
2,0 no diagnóstico e maior número de epi-sódios 
reacionais durante o tratamento e após 
a alta medicamentosa32(C). O risco de RR é 
mais elevado durante o primeiro ano de tra-tamento 
com esquema de poliquimioterapia 
- PQT/OMS nos pacientes multibacilares, 
tanto para aqueles da forma HDV como para 
os da forma HV8,9(B). Nos paucibacilares, 
além do período de tratamento com esque-ma 
PQT/OMS, os primeiros seis meses sub-seqüentes 
ao seu término constituem, ainda, 
um período de risco para o desenvolvimento 
de episódios de RR8(B). Nos dimorfos, ou 
HD, a RR, em geral, ocorre no período de 
poucas semanas a meses e, nos HDV ocorre 
dentro de 1 a 12 meses após início do es-quema 
PQT6,33(D). A partir do primeiro ano, 
há gradual declínio da ocorrência dos episó-dios 
reacionais nos pacientes paucibacilares 
e multibacilares8(B). Em cerca de 90% dos 
pacientes que têm reações após a alta, o pri-meiro 
episódio ocorre no primeiro ano após 
o término do tratamento32(C). Com menor 
freqüência, os eventos de RR podem ser 
observados nos paucibacilares até o terceiro 
e quarto anos após interrupção do esquema 
PQT/OMS8(B) e ainda no quinto ano de 
multibacilares tratados com esquema PQT 
até negativação da baciloscopia8(B). A 
recorrência tardia de sinais e sintomas 
cutâneos e/ou neurológicos deve ser con-duzida, 
em geral, em centros de referência, 
com procedimentos de investigação que 
diferenciem a reação reversa tardia da reci-diva 
de hanseníase. 
Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 7
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
Distinção entre reação reversa e 
recidiva 
O diagnóstico de recidiva de doentes 
paucibacilares é um desafio desde que a apa-rência 
das lesões cutâneas e as alterações histo-lógicas 
são muitas vezes indistinguíveis da 
reação reversa tardia34(B). A maioria dos epi-sódios 
de RR em paucibacilares após a inter-rupção 
da PQT é observada dentro do período 
dos primeiros dois anos, porém, estudos com 
períodos de maior seguimento demonstraram 
a ocorrência tardia de episódios tardios de 
RR8(B). Para diferenciação entre RR e recidi-va, 
tem sido proposto, operacionalmente, o uso 
de corticoesteróides, pois a RR, geralmente, 
responde a este tratamento em poucos dias ou 
semanas4,7(D). Algumas das recomendações 
gerais adotadas para nortear a diferenciação en-tre 
RR e recidiva4,35(D) foram sumariadas no 
Quadro 1. 
TRATAMENTO DA REAÇÃO REVERSA 
Os princípios do manejo da RR são: 
1) manutenção das drogas antimicobacterianas; 
2) terapêutica antiinflamatória efetiva e prolon-gada 
e 3) analgesia adequada e suporte físico 
durante a fase de neurite aguda. A manutenção 
da PQT nos episódios reacionais é imperativa, 
pois proporciona a redução da carga de bacilos 
na pele e nervos, removendo o alvo de células T 
indutoras da resposta inflamatória e, conseqüen-temente, 
a tendência à recorrência dos episó-dios 
de RR14(D). 
Quadro 1 
Principais aspectos da distinção entre reação reversa e recidiva 
Características Reação Reversa Recidiva 
Período de ocorrência Freqüente durante a PQT e Em geral, período superior a 
nos primeiros seis meses. dois anos após término 
Menos freqüente no período da PQT 
de dois a três anos após 
término do tratamento. 
Surgimento Súbito e inesperado Lento e insidioso 
Lesões antigas Eritematosas, brilhantes, Algumas podem apresentar 
intumescidas e infiltradas bordas eritematosas 
Lesões recentes Em geral, surgimento de Poucas 
várias lesões 
Ulceração Acentuação das alterações Raramente há ulceração 
e ulceração 
Regressão Presença de descamação Ausência de descamação 
Comprometimento neural Maior número de troncos Poucos troncos nervosos, 
nervosos envolvidos, perturbações sensitivo-rapidamente 
sobrevêm a dor motoras ocorrem, em geral, 
e perturbações mais lentamente. 
sensitivo-motoras 
Resposta a Excelente Não pronunciada 
corticoesteróides 
8 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
Corticoesteróides 
O corticoesteróide é a droga de escolha para 
o tratamento da RR, modificando o curso desta 
reação, com redução do edema das lesões 
cutâneas e intraneural, o que resulta em rápida 
melhora4,14,33,36(D). A avaliação e monitoramen-to 
clínico da bioquímica sangüínea, presença de 
co-morbidades, riscos e a exclusão de co-infec-ções/ 
infestações, como estrongiloidíase e tuber-culose, 
são premissas para o emprego seguro e o 
sucesso terapêutico da corticoterapia com o 
mínimo de efeitos colaterais. 
O uso precoce de corticoesteróides está 
recomendado, frente a evidências de: 
1) acentuação da inflamação de lesões 
preexistentes ou surgimento de novas lesões; 
2) dor ou intumescimento dos nervos ou perda 
da função neural com duração menor de seis 
meses. 
Danos neurais permanentes poderão ser pre-venidos 
com a terapia efetiva e precoce. Há re-comendações 
do emprego de corticoesteróides 
na dose de 1 a 2 mg/ kg ao dia4(D). Entretanto, 
há indicações que a dose inicial de 40 mg (0,5 - 
0,6 mg/ kg) de prednisona ou prednisolona ao 
dia controla a maioria das RR33,36(D), com res-salvas 
para casos graves que não respondem no 
período de uma semana, que podem requerer 
doses mais elevadas 60 mg (ou 1-2mg/kg) ao 
dia de corticoesteróides33,36(D). Diante das evi-dências 
de melhora ou regressão clínica, a dose 
de corticoesteróides deve ser reduzida em inter-valos 
e quantidades fixas, em geral, 5-10mg a 
cada uma a duas semanas. Em circunstâncias 
ideais, a dose, o período de manutenção e a ve-locidade 
de redução da terapêutica devem ser 
adotados baseando-se em avaliações padroniza-das 
com testes para função motora e sensitiva. 
Tratamentos prolongados da RR com 
corticoesteróides de 4 a 18 meses demonstra-ram- 
se superiores aos períodos reduzidos de dois 
meses37(B). A extensão de 12 para 20 semanas 
de tratamento com corticoesteróides reduziu a 
recorrência da RR em pacientes HD/HDV8(B). 
Como a gravidade e extensão dos quadros 
reacionais guardam relação com as formas clí-nicas, 
há indicações que pacientes HDT reque-rem 
períodos menores de corticoesteróides, de 
quatro a nove meses, comparados com HD e 
HDV, seis a nove meses e 6 a 18 meses, ou até 
24 meses, respectivamente33(D). 
Outras terapias para a reação reversa 
Ciclosporina, dose inicial entre 5 e 10mg/ 
kg ao dia, é imunossupressor com seletividade 
para linfócitos auxiliares CD4+ e, potencialmen-te, 
útil para o controle da reação reversa. En-tretanto, 
o custo da droga é maior e não há evi-dências 
suficientes de que a ciclosporina atue 
tão rapidamente no edema intraneural como o 
corticoesteróide36(D). 
Azatioprina, dose de 1mg/kg ao dia, tem 
sido indicada como agente imunossupressor e 
poupador de corticoesteróides. A associação 
corticoesteróides e azatioprina resultou em pro-porção 
discretamente superior de melhora do 
distúrbio motor comparada com os resultados 
de pacientes tratados com o uso isolado de uma 
das drogas em pequena série de casos. Como a 
azatioprina age mais lentamente e não tem efeito 
no edema intraneural, está indicada apenas 
como adjuvante após a introdução do tratamento 
com corticoesteróides14(D). 
Cirurgia descompressiva deve ser considera-da 
nos casos de dor neural persistente, manuten-ção 
ou piora da neuropatia, após a realização do 
tratamento com corticoesteróide38(B). Em par-ticular, 
casos de abscessos neurais, associados à 
Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 9
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
dor intensa e contínua, podem se beneficiar com 
a cirurgia descompressiva14,36(D)37(C). 
REAÇÃO TIPO 2 OU ERITEMA NODOSO 
HANSÊNICO (ENH): 
A reação tipo 2 é uma reação inflamatória 
aguda, sistêmica, que envolve a formação de 
imunocomplexos que circulam pelo sangue pe-riférico 
(predominantemente a reação tipo III 
de Gel & Coombs), e tem como manifestação 
clínica mais freqüente o Eritema Nodoso 
Hansênico. 
Acomete pacientes multibacilares, agravan-do 
o quadro relacionado à hanseníase, sendo 
responsável por morbidade considerável, par-ticularmente, 
o eritema nodoso recorrente. A 
patologia do ENH envolve depósito de 
imunocomplexos e alteração da resposta 
imunológica mediada por células. O episódio 
de ENH é desencadeado pelo depósito de com-plexos 
imunes nos tecidos39(D), ativação de 
complemento, desenvolvimento de inflamação 
local, migração de polimorfos nucleares para o 
sítio de resposta inflamatória e liberação local 
de enzimas responsáveis por lesões teci-duais40( 
D)41(C). Macrófagos e células T são 
ativados12(D) e os níveis de TNFa circulante 
se elevam durante os episódios de ENH42, 43(D). 
Concentrações elevadas de anticorpos contra 
frações antigênicas do M. leprae, como o 
anticorpo anti-PGL-1, são observadas nas for-mas 
com alta carga bacilar11(D)44(C) e partici-pariam 
da síndrome do imunocomplexo 
circulante que se instala durante o episódio 
reacional e cursa com sinais clínicos caracte-rísticos. 
O depósito do complexo antígeno-anticorpo 
circulante, ao atingir espaços 
teciduais, vasos sangüíneos e linfáticos, desen-cadeiam 
a resposta inflamatória. 
Episódios reacionais de ENH podem envol-ver 
muitos órgãos e sistemas, dependendo da 
gravidade e extensão da reação imunológica. A 
avaliação clínica e laboratorial do surto reacional 
deve compreender uma investigação voltada para 
alterações de pele, nervos, olhos, articulações, 
rins, testículos, vias áreas superiores, entre ou-tras. 
A intensidade varia entre casos discretos 
de ENH com lesões cutâneas pouco dolorosas, 
sem comprometimento do estado geral, a casos 
mais graves com formações de lesões vésico-bolhosas 
e pustulosas, lesões ulceradas e 
necróticas, concomitante a febre, mal-estar, 
cefaléia, náu-seas e vômitos. 
O manejo do ENH é guiado pela necessi-dade 
do controle da reação inflamatória aguda, 
alívio da dor e do desconforto, bloqueio do de-senvolvimento 
e extensão das alterações 
cutâneas, neurais, oculares e viscerais e a pre-venção 
de novos episódios. 
EPIDEMIOLOGIA 
Previamente à introdução da PQT/OMS, 
cerca de 50% dos pacientes virchowianos (HV) 
e 25% a 30% dos pacientes HDV eram afeta-dos 
por este padrão de reação6(D). Há evidênci-as 
da redução da incidência do ENH com a 
adoção do esquema PQT/OMS, particular-mente 
em decorrência da inclusão da 
clofazimina16(B)45(D), entretanto, há registros 
de variabilidade das taxas de incidência, em di-ferentes 
estudos, sendo descritos cerca de 5% 
do total de pacientes reacionais na Etiópia8(B) 
e estimativas de taxas mais elevadas no 
Brasil e Ásia. Estudos controlados no Brasil 
mostraram o ENH como tipo freqüente de 
reação entre os multibacilares com esquema 
PQT/OMS, entre 25%17(B) a 30%16(B), 
atingindo 62,8% dos pacientes com esque- 
10 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
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Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
ma DNDS16(B). O ENH também foi o tipo 
de reação mais freqüente e recorrente na vigên-cia 
do tratamento e no seguimento após a alta, 
tanto do esquema terapêutico PQT/OMS, 
quanto no esquema DNDS16(B). 
Com maior freqüência os episódios de 
ENH incidem no primeiro e segundo ano de 
PQT8,16(B) e podem persistir por anos17(B), mas 
deve ser lembrado que a reação ENH pode ocor-rer 
previamente ao tratamento específico e ser 
uma manifestação presente no momento do 
diagnóstico de hanseníase6(D)8(B). 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
Clínicos 
• Manifestações cutâneas 
As lesões cutâneas do ENH representam 
parte das manifestações do comprometimento 
de múltiplos sistemas, que pode envolver qual-quer 
órgão ou sistema atingido por antígenos 
bacilares e/ou imunocomplexos. A alta carga 
bacilar, presente nas formas HDV e HV, 
induziria a produção de imunoglobulinas e 
imunocomplexos, e participaria da disfunção 
envolvendo mecanismos humorais e celulares 
do processo inflamatório agudo, característico 
do ENH. 
Nesta reação, a pele, aparentemente normal, 
é acometida pelo aparecimento súbito de 
pápulas, nódulos e placas nodosas. As lesões são 
dolorosas e tensas ao toque, de coloração rósea 
a eritemato-violácea, evoluem com descamação 
central e podem se tornar hemorrágicas, 
vesicobolhosas, pustulares e ulcerativas, carac-terizando 
o quadro de eritema nodoso 
necrotizante. Diferente da RR, as lesões 
preexistentes permanecem inalteradas. O 
surgimento de lesões obedece a uma distribui-ção 
simétrica, bilateral e difusa que atinge a face, 
tronco e membros, preferencialmente a super-fície 
extensora das extremidades. As lesões per-duram 
por sete a dez dias e, durante os surtos, 
as lesões antigas coexistem com as mais recen-tes. 
A eclosão das lesões pode evoluir de modo 
intermitente ou contínuo, caracterizando qua-dros 
crônicos e recorrentes que persistem por 
meses a anos6(D). As principais manifestações 
e distinções clínicas entre RR e ENH foram 
sumariadas no Quadro 24,6(D). 
Os quadros crônicos persistentes devem ser 
diferenciados da recidiva das formas bacilares 
da hanseníase. Em geral, os quadros de recidiva 
evoluem com o surgimento lento de pápulas e 
nódulos, que não exibem as características in-flamatórias 
agudas, sendo marcante a presença 
de bacilos íntegros34(B). 
• Outras manifestações 
Podem estar presentes manifestações 
extracutânea e sistêmica, incluindo febre, mal-estar, 
hiporexia, perda de peso, neuropatia, 
orquiepididimite, glomerulonefrite (por 
imunocomplexo), miosite, artralgia, artrite de 
grandes articulações, sinovite, dactilite, dores 
ósseas, iridociclite e uveíte, comprometimento 
da faringe, laringe e traquéia. Alterações clíni-cas 
como hepatoesplenomegalia, infartamento 
ganglionar generalizado, edema acrofacial ou 
generalizado, rinite, epistaxe, insônia e de-pressão 
podem ser observadas4,6,18,45(D). 
Em casos discretos, as lesões cutâneas 
são, em geral, em pequeno número, pouco 
sintomáticas e não estão associadas ao com-prometimento 
sistêmico importante. Nos 
casos moderados a graves, a extensão das 
Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 11
Projeto Diretrizes 
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 
Quadro 2 
Principais distinções clínicas entre Eritema Nodoso Hansênico e Reação Reversa 
Sinais e Sintomas Reação Reversa (Tipo 1) ENH (Tipo 2) 
Manifestações cutâneas Associadas às lesões prévias: Distribuição simétrica 
Eritema, edema/intumescimento dissociada de lesões prévias: 
e infiltração. pápulas, nódulos e placas, 
Surgimento de lesões satélites dolorosos. 
em áreas adjacentes. Descamação central. 
Descamação, às vezes Lesões hemorrágicas, 
ulceração. vesicobolhosas, pustulares 
Edema acral e facial. e ulcerativas. 
Manifestações neurológicas Espessamento neural; 
Dor no território de distribuição do nervo; 
Distúrbios da função neural motora e/ou sensitiva, com ou sem 
sintomas de dor; 
Redução da força muscular e paralisia progressiva. 
Condições gerais do paciente Boa, sem febre Mal estar geral, febre alta 
Formas clínicas Formas dimorfas: DT, DD, DV Formas multibacilares: DV e VV 
Olhos Fraqueza de pálpebras, Irite e iridociclite. 
dificuldade para fechar. 
manifestações cutâneas e sistêmicas é mais 
acentuada. A presença de lesões úlcero-necróticas 
e o comprometimento de olhos, 
nervos, testículos, rins e fígado são condições 
agravantes que implicam em monitoramento 
e intervenção terapêutica antiinflamatória 
precoce e efetiva, em geral com cortico-esteróides4,6,18,45( 
D). 
Laboratoriais 
Em estreita relação com a gravidade do sur-to 
reacional, podem ser observadas alterações 
hematológicas e da bioquímica sangüínea com 
leucocitose, neutrofilia e plaquetose46(D)47(B)48(C), 
aumento das proteínas da reação inflamatória 
aguda, especialmente proteína-C-reativa e 
a1-ácido glicoproteína43,46(D), aumento das 
imunoglobulinas IgG e IgM11,15,43(D) e 
proteinúria18,46(D). O histopatológico de lesão 
cutânea exibe denso infiltrado inflamatório 
neutrofílico na derme superficial e/ou profun-da 
e/ou subcutâneo. Freqüentemente, o inten-so 
influxo de neutrófilos forma microabscessos 
e a vasculite pode predominar em alguns casos. 
Há redução local da carga bacilar com a 
visualização de numerosos bacilos fragmenta-dos 
e granulosos25(D). 
Fatores de risco 
Pacientes com doença virchowiana, infiltra-ção 
cutânea e índice baciloscópico > 4 apre-sentaram 
risco significantemente aumentado de 
12 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
Projeto Diretrizes 
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desenvolver reação tipo 249(C). A taxa de 
recorrência do ENH é significantemente ma-ior 
do que da RR50(B). Gravidez, puberdade, 
doenças intercorrentes, vacinação e estresse 
foram implicados com o desenvolvimento de 
ENH6(D). 
TRATAMENTO DO ERITEMA NODOSO 
HANSÊNICO 
Antiinflamatórios não-esteroidais 
(AINE) 
Todos os casos de ENH devem receber re-pouso 
e terapêutica antiinflamatória. Em casos 
graves ou frente a evidências de comprometi-mento 
ocular, neural, testicular, deve ser inicia-do 
o tratamento com corticoesteróides4,45(D). 
Casos discretos de ENH podem ser tratados com 
antiinflamatórios não-esteroidais (AINE) e 
repouso36,45(D). Os efeitos da indometacina no 
controle do ENH foram semelhantes aos da 
cloroquina e superiores aos do ácido 
acetilsalicílico51(B). Nos casos moderados de 
ENH, a colchicina foi mais efetiva em induzir 
alívio da dor neural e articular comparada ao 
ácido acetilsalicílico52(B). Estudos posteriores 
falharam em demonstrar o sucesso destes resul-tados, 
implicando na continuidade do uso de 
corticoesteróides em pacientes com ENH crô-nico 
e nas limitações impostas pelos efeitos 
colaterais da colchicina53(B)54(C). O uso da 
pentoxifilina, 1200 mg ao dia, dividido em três 
doses, pode beneficiar os quadros com predo-mínio 
de vasculite. 
Corticoesteróides 
Prednisona na dose de 0,5 a 2 mg por kg ao 
dia está indicada como antiinflamatório de 
escolha nos casos moderados a graves. A res-posta 
é usualmente rápida e a redução gradual 
pode possibilitar o período de remissão dos 
surtos4,36,45(D). Embora o tratamento com 
corticoesteróides seja efetivo, pacientes com 
ENH possuem o grande risco de tornarem-se 
dependentes dessa droga, especialmente aque-les 
com ENH crônico45(D). 
Os corticoesteróides são drogas de escolha 
no controle dos surtos reacionais de ENH com 
manifestações sistêmicas moderadas a graves e 
nas condições em que estejam presentes fenô-menos 
de vasculite, nos quadros de mãos e pés 
reacionais, envolvimento de nervos, olhos, 
testículos ou vísceras4,36(D). 
Talidomida 
Trata-se de consenso que a talidomida é a 
droga de primeira escolha no manejo do ENH 
agudo e recorrente. A melhora clínica em 
resposta à talidomida é rápida, usualmente en-tre 
8 e 72 horas, e em alguns casos cinco 
dias55,56(B)57(C). O uso concomitante da 
talidomida produziu significante redução da dose 
e do tempo de necessidade de corticóides57(C). 
A talidomida foi comprovadamente superior à 
aspirina na rapidez da resolução da febre e re-gressão 
das lesões cutâneas56(B). Há também 
sugestões acerca do valor da talidomida 
na diminuição da freqüência dos episódios 
reacionais58(C). 
Apesar das evidências clínicas que demons-tram 
a utilidade da talidomida no manejo do 
ENH, o alto risco de teratogenicidade implica 
em controle e limitações do seu emprego4,45(D). 
A sua prescrição deve ser rigorosamente acom-panhada 
de métodos contraceptivos, necessá-rios 
às mulheres em idade fértil, e orientações 
aos seus usuários sobre os efeitos teratogê-nicos 
da droga. Destaca-se a necessidade de 
responsabilidade pelo uso exclusivo e indivi-dual 
da medicação, de forma a evitar o uso, 
Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 13
Projeto Diretrizes 
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acidental ou voluntário, por outros 
indivíduos4,45(D). 
É controverso o potencial de neuro-toxicidade 
associada ao uso da medicação na 
hanseníase45(D)59(C). A neuropatia periférica, 
decorrente do uso da talidomida em outras 
afecções, está bem documentada na litera-tura60( 
B)61(D). Outros efeitos colaterais, como 
constipação, sonolência e edema de extremida-des 
podem ser observados61(D). 
Clofazimina 
Foi sugerido efeito antiinflamatório desta 
droga quando do seu uso nos esquemas 
terapêuticos antibacterianos16,62(B). O trata-mento 
com clofazimina resultou na redução 
da necessidade do corticoesteróide nos pacien-tes 
com ENH grave62,63(C), e de antiinflama-tórios 
nos pacientes com ENH moderado64(B). 
Clofazimina é menos efetiva e não atua tão 
rapidamente quanto os corticoesteróides e a 
talidomida. Seu principal efeito seria o de 
prevenir novos surtos e reduzir a dependência 
dos corticoesteróides62(C). A despeito das 
evidências, não há estudos controlados para 
averiguar os efeitos antiinflamatórios da dro-ga 
em outras enfermidades e dissociados da 
ação antimicobacteriana na hanseníase. 
Os esquemas terapêuticos indicam o uso da 
clofazimina por três meses, sendo no primeiro 
mês dose de 100 mg três vezes ao dia, reduzin-do- 
se 100 mg a cada mês4(D). Outro esquema 
propõe tratamento prolongado de até 15 meses, 
sendo a dose inicial de 300 mg ao dia por três 
meses, e a redução da dose para 200 mg ao dia e, 
posteriormente, 100 mg ao dia, no intervalo de 
um a seis meses36(D). Tais esquemas podem ser 
úteis para o ENH crônico ou recorrente, espe-cialmente 
para pacientes dependentes de 
corticoesteróides. Os efeitos colaterais se acen-tuam 
com o emprego de altas doses ou de esque-mas 
terapêuticos prolongados, em geral, restri-tos 
a pigmentação cutânea, ictiose, desconforto 
gastrointestinal, diarréia e dor abdominal36(D). 
14 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
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Bechelli LM, et al. WHO co-ordinated 
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58. Levy L, Fasal P, Levan NE, Freedman RI. 
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59. Sheskin J, Yaar I. Motor-conduction 
velocity of cubital nerves in patients with 
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60. Bastuji-Garin S, Ochonisky S, Bouche P, 
Gherardi RK, Duguet C, Djerradine Z, et 
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thalidomide neuropathy: a prospective study 
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Hanseníase

  • 1. Hanseníase: Episódios Reacionais Autoria: Sociedade Brasileira de Hansenologia e Sociedade Brasileira de Dermatologia 1 Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Elaboração Final: 4 de julho de 2003 Participantes: Foss NT, Souza CS, Goulart IMB, Gonçalves HS, Virmond M O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associa‹o MŽdica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informa›es da ‡rea mŽdica a fim de padronizar condutas que auxiliem o racioc’nio e a tomada de decis‹o do mŽdico. As informa›es contidas neste projeto devem ser submetidas ˆ avalia‹o e ˆ cr’tica do mŽdico, respons‡vel pela conduta a ser seguida, frente ˆ realidade e ao estado cl’nico de cada paciente.
  • 2. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIAS: Esta publicação buscou incorporar as melhores bases de dados disponíveis à época de sua execução. No entanto, estes dados devem ser interpretados cuidadosamente, os resultados de estudos futuros podem levar a alterações nas conclusões ou recomendações sugeridas por este documento. Foram utilizadas principalmente as bases de dados MEDLINE (U.S. National Library of Medicine) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciên-cias da Saúde), manuais e documentos do Ministério da Saúde do Brasil e da Organização Mundial de Saúde, teses e livros de textos relacionados ao assunto. GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA: A: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados). D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. OBJETIVOS: 1. Estas diretrizes destinam-se à abordagem prática e atualizada dos estados reacionais da hanseníase. 2. Estabelecer terapêutica adequada ao paciente para minimizar os danos decorrentes das reações hansênicas e os efeitos colaterais dos fármacos empregados para o controle da reação. CONFLITO DE INTERESSE: Nenhum conflito de interesse declarado. 2 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 3. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina INTRODUÇÃO Episódios reacionais, descritos como fenômenos agudos so-brepostos à evolução crônica e insidiosa da hanseníase, são poten-cialmente responsáveis por perda funcional de nervos periféricos e agravantes das incapacidades. Decorrem do processo inflamatório e resposta imunológica, mediada por antígenos do Mycobacterium leprae, e estabelecem relação com a carga bacilar e a resposta imu-ne do hospedeiro. O diagnóstico precoce, o manejo terapêutico adequado dos eventos reacionais graves, recorrentes ou crônicos são desafios atuais. Frente à suspeita de reação hansênica, recomenda-se: 1) Con-firmação do diagnóstico e classificação da forma clínica da hanseníase; 2) Diferenciar o tipo de reação hansênica; 3) Estabe-lecer a extensão do comprometimento de órgãos e sistemas; 4) Planejar e instituir, precocemente, terapêutica que impeça a instalação da incapacidade; 5) Conhecer os efeitos adversos dos medicamentos empregados no tratamento da hanseníase e em seus estados reacionais; 6) Internação hospitalar e colaboração de outras especialidades diante de casos graves, particularmente, aque-les com acentuado comprometimento de múltiplos órgãos, ou com dificuldades no diagnóstico e/ou na terapêutica. O cumprimento destas premissas permitirá o manuseio clínico-terapêutico ade-quado e o sucesso no controle dos episódios reacionais com recu-peração ou o mínimo de danos neurais. RELAÇÃO ENTRE EPISÓDIOS REACIONAIS E ESPECTRO DA DOENÇA Hanseníase é doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae que afeta, preferencialmente, o tegumento e o sistema nervoso periférico, entretanto, tanto a disseminação do bacilo quanto os fenômenos reacionais podem envolver outros órgãos e sistemas. Distintas características clínicas, bacteriológi-cas, imunológicas e histopatológicas compõem o espectro da doença e expressam a relação da resposta específica do hospedeiro ao bacilo. As classificações mais adotadas, MADRI (1953), baseada no as-pecto morfológico das lesões1(D), e RIDLEY JOPLING (1966), fundamentada no aspecto clínico e histopatológico das lesões2(D), utilizaram-se da abordagem espectral definindo as formas polares Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 3
  • 4. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina e interpolares da doença. Essas classificações, embora completas, apresentaram dificuldades para aplicação em nível operacional, e, para fa-cilitar a divisão dos pacientes, a Organização Mundial da Saúde – OMS (1988)3(D) propôs a classificação em multibacilares e pauci-bacilares, que adota como critério o resultado da pesquisa de bacilos nos esfregaços cutâneos. Mais recentemente, com a intenção de opera-cionalizar o diagnóstico e controle da doença, especialmente em áreas endêmicas, tem sido adotada a classificação segundo o número de lesões, sendo considerados paucibacilares os pacientes que apresentarem até cinco lesões e multibacilares, aqueles com mais de cinco lesões4(D). O desenvolvimento da doença pode se ma-nifestar primeiramente como hanseníase indeterminada (HI), estágio inicial, em geral transitório, que pode evoluir para cura. Em caso de progressão, a resposta imune específica do hospedeiro frente ao bacilo irá definir os padrões da doença5(D). No pólo de resistência ao bacilo, encontra-se a doença localizada e não conta-giosa, a hanseníase tuberculóide (HT), que expressa resposta imune competente para morte bacilar. No pólo de alta suscetibilidade, associado à deficiência da imunidade celular, específica ao M. leprae, encontra-se a forma disseminada e contagiosa, a hanseníase virchowiana (HV) que decorre da incapacidade da resposta imune para impedir a multiplicação e eliminação do bacilo. As formas interpolares, dimorfo tuberculóide (HDT), dimorfo-dimorfo (HDD) e dimorfo virchowiano (HDV) refletem graduais variações da resistência ao bacilo que tendem a se aproxi-mar das características de cada uma das formas polares HT ou HV6(D). A evolução crônica e insidiosa da doença pode ser sobreposta por fenômenos inflamatórios agudos, as reações hansênicas. Os episódios reacionais podem incidir em qualquer uma das formas clínicas, sendo rara sua detecção na hanseníase indeterminada. Os episódios reacionais da hanseníase po-dem ocorrer antes, durante ou após a institui-ção do tratamento específico4,6,7(D)8,9(B). Não é infreqüente que os sinais e sintomas que acom-panham as reações motivem a busca de auxílio médico e, ainda, que o surto reacional esteja presente no momento do diagnóstico da hanseníase7(D)10(B). Os dois tipos de reações hansênicas: Tipo 1 ou reação reversa (RR) e Tipo 2 ou eritema nodoso hansênico (ENH) refletem processo inflamatório imune-mediado, envolvendo dis-tintos mecanismos de hipersensibilidade11,12(D). O entendimento do conceito espectral da hanseníase e dos padrões da resposta imune aliados ao reconhecimento das manifestações clínicas e laboratoriais dos surtos reacionais será útil para diferenciar as reações tipo RR e ENH, suas características de evolução clínica e conse-qüentemente de propostas terapêuticas. Há interesse voltado para determinar marcadores clínicos ou laboratoriais que iden-tifiquem pacientes com aumento do risco para o desenvolvimento das reações. Vários fato-res desencadeantes tais como: estresse, trau-ma físico ou psicológico6(D), contracep-tivos orais e outras drogas6,7(D), infecções intercorrentes, particularmente, co-infecções como tuberculose6(D) e HIV7(D) foram correlacionados às reações, por meio, em sua maioria, de observações clínicas mais do que por comprovações de estudos clínicos con- 4 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 5. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina trolados. Estudos realizados em áreas em que a hanseníase e a Aids ocorrem simultaneamen-te têm observado uma pequena associação entre infecção HIV1 e hanseníase. Entretan-to, mesmo considerando que tais pesquisas não identificaram associação significante entre HIV1/ Aids e hanseníase, há perspectivas de que estudos futuros possam contribuir com informações acerca das possíveis modificações dos padrões clínicos de ambas as morbidades, assim como da freqüência dos eventos reacio-nais e das recidivas da hanseníase nestes pacientes13(D). REAÇÃO TIPO 1 OU REAÇÃO REVERSA (RR): O episódio da RR envolve principalmente mecanismos da imunidade mediada por célu-las ou de hipersensibilidade tardia (tipo IV de Coombs & Gell)11,12(D). Estas reações ocor-rem com maior freqüência nas formas dimorfas (HD, HDT e HDV)10(B)6,14(D). A incidência da RR na forma HV é significantemente me-nor do que na forma HDV8(B), e sua ocorrên-cia pode ser observada na forma HT10(B). O processo inflamatório da RR envolve, principalmente, a pele e nervos invadidos pelo bacilo. O comprometimento múltiplo ou isolado de troncos nervosos mantém relação com as formas clínicas, extensão da invasão bacilar e resposta imune. A intensidade da agressão e deterioração neural decorre da interação entre o bacilo e o hospedeiro, envol-vidos no processo inflamatório imune-media-do em resposta à invasão tecidual. A exube-rância e predomínio da resposta inflamatória granulomatosa, ou reação imunológica tipo IV, podem resultar na formação de abscesso neural e úlceras cutâneas6(D). EPIDEMIOLOGIA A despeito da importância dos episódios reacionais na indução de danos neurais, as difi-culdades para obtenção das estimativas da prevalência e da incidência da RR decorrem em parte das diferenças na definição de casos, perio-dicidade, regularidade e qualidade do seguimento durante e após alta terapêutica, que são, em geral, mais controladas nos estudos clínicos e epidemiológicos. A ocorrência de RR em qual-quer período mantém relação com a forma clínica da hanseníase. O tipo de tratamento poderia influir na incidência de surtos reacionais durante e após a sua interrupção7(D)15,16(B). Cerca de 8% a 33% dos indivíduos com hanseníase podem ser acometidos por RR 7(D). No Brasil, dos pacientes multibacilares, segui-dos por seis anos pós-tratamento, 74% apre-sentaram episódios reacionais, sendo 29% de RR, 25% de ENH e 20% de neurite isolada17(B). Outro estudo controlado e com-parativo de dois esquemas terapêuticos mostrou que 50% dos pacientes tratados com o regime de poliquimioterapia (PQT/OMS) apresenta-ram reações hansênicas, entre estas 17,1% de RR, 30% de ENH e 2,8% de neurite isolada. A ocorrência das manifestações reacionais foi significantemente menor com regime PQT/ OMS comparada àquela observada com regi-me preconizado anteriormente pela Divisão Nacional de Dermatologia Sanitária do Ministério da Saúde (DNDS)16(B). CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Clínicos • Manifestações cutâneas: na reação reversa, o processo inflamatório atinge a pele e nervos periféricos. As lesões cutâneas preexistentes Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 5
  • 6. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina tornam-se mais eritematosas, intumes-cidas, edematosas e infiltradas. As máculas tornam-se placas elevadas e os limites das lesões tornam-se mais evidentes e definidos. Evoluem com descamação e, por vezes, so-brevém a ulceração. Novas lesões asseme-lhando- se às demais surgem em áreas adja-centes. Concomitante a estas alterações, pode ocorrer hiperestesia ou acentuação da parestesia sobre as lesões cutâneas4,6,18(D). • Neuropatias: o dano neural pode ocorrer ao longo de todo espectro da doença e, seja como fenômeno agudo ou crônico, pode resultar em incapacidade e seqüelas irrever-síveis. A perda da função sensitivo-motora decorrente das neuropatias é uma das mais freqüentes e graves conseqüências da reação reversa. O espessamento neural acompanha-do de dor, hiperestesia ou acentuação da hipoestesia no território neural acometido por menos de seis meses de duração caracte-rizam a neurite aguda. Entretanto, a perda da função neural pode instalar-se na ausên-cia dos sintomas de dor e/ou intumescên-cia, definindo-se a neuropatia silenciosa. Neuropatia recorrente é caracterizada por episódio de acometimento agudo de nervo periférico no período maior de três meses após a interrupção da terapêutica, durante o qual nenhum sinal ou sintoma de neurite foi evidente. Na neuropatia crônica, os si-nais e sintomas de inflamação, edema e dor, geralmente reaparecem dentro do período de três meses após o término da terapêutica19,20(B). Com maior freqüência, há o envolvimento dos nervos ulnar e tibial posterior8,19-21(B). A instalação súbita da mão em garra, pé caído e lagoftalmo deve receber intervenção rápida e precoce, para evitar que se tornem alterações permanentes. Frente a estes aspectos, as neurites podem ser consideradas emergências clínicas, pois a precocidade do seu reconhe-cimento e da intervenção terapêutica pode prevenir o desenvolvimento do dano neural, o estabelecimento de incapacidades e deformi-dades. Em geral, nos episódios de reação reversa não há comprometimento sistêmico e as ma-nifestações são predominantemente localiza-das. Quadros graves e extensos podem ser acompanhados de febre baixa, indisposição e anorexia. O envolvimento cutâneo e neural varia entre discreto e grave. Nos quadros mais graves, há tendência a ulceração das lesões cutâneas, edema acentuado da face, mãos e pés, acometimento de maior número de nervos pe-riféricos concomitante ao comprometimento da sensibilidade e da força muscular. A pre-sença de placas cutâneas sobre áreas de tronco nervoso ou nas regiões perioculares confere maior gravidade à reação devido ao risco eleva-do de comprometimento neural22(B). A detecção desses sinais sugere eminência de surto reacional e requer acompanhamento mais rigoroso seguido de tratamento precoce. Testes para avaliação das funções sensitiva e motora são considerados valiosos instrumen-tos de monitoração dos danos neurais associa-dos aos episódios reacionais20,21,23(B). A sus-peita de neurite reacional deve ser feita quan-do da: 1) Perda recente da função neural; 2) Dor ou intumescência de um ou mais nervos periféricos; 3) Intumescência do nervo sem perda da função. Laboratoriais Em geral, na RR não são observadas altera-ções hematológicas e da bioquímica sangüínea. 6 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 7. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina A histopatologia de lesões cutâneas exibe edema e expansão do granuloma, aumento marcante do número de linfócitos, de células epitelióides e de células gigantes, e a redução do número de bacilos24,25(D). Podem ser observadas hiperplasia epitelial e alterações mais graves como necroses focais ou confluentes que resultam em ulcerações25(D). Em conjunto com os demais métodos de investigação, as técnicas de imuno-histoquímica e da reação em cadeia da polimerase (PCR) adicionaram evidências indicativas da exacerbação da resposta imunocelular e da redução da carga bacilar na RR12(D)26(C). Fatores de risco Episódios de reação reversa têm sido associados a fatores de risco como: doença ex-tensa, indicada pelo número de áreas corpóreas envolvidas9(B), grupo dimorfo9,10(B), lesões faciais26(C)27(B), vacinação BCG28,29(C). A concomitância de anticorpos glicolipídeo fenólico fração-1-anti-PGL-1 e positividade do teste lepromínico foi sugerida como fator de risco e marcador da RR30(B). Tem sido ava-liado se as drogas utilizadas para o tratamen-to específico poderiam influenciar no risco para reação reversa, porém, existem poucos estudos clínicos randomizados com avalia-ções conclusivas17(B)7(D). Logo, essa hipó-tese deve ser considerada com cautela. Outro potencial fator de risco é a gestação que pode cursar, em todas as suas fases, com neurite silenciosa, embora esta predo-mine na lactação31(C). Adicionalmente, existem relatos de que o risco para neuropatia aumenta de forma significativa em idosos, nos casos de diagnóstico tardio e segundo o número de nervos espessados no momento do diagnóstico ou, ainda, durante a evolução da RR20(B). A freqüência de reações e/ou perda da função neural, necessitando de tratamento, é maior em multibacilares comparada aos paucibacilares21(B). Foi observada correlação positiva entre pacientes multibacilares com índice baciloscópico (IB) maior ou igual a 2,0 no diagnóstico e maior número de epi-sódios reacionais durante o tratamento e após a alta medicamentosa32(C). O risco de RR é mais elevado durante o primeiro ano de tra-tamento com esquema de poliquimioterapia - PQT/OMS nos pacientes multibacilares, tanto para aqueles da forma HDV como para os da forma HV8,9(B). Nos paucibacilares, além do período de tratamento com esque-ma PQT/OMS, os primeiros seis meses sub-seqüentes ao seu término constituem, ainda, um período de risco para o desenvolvimento de episódios de RR8(B). Nos dimorfos, ou HD, a RR, em geral, ocorre no período de poucas semanas a meses e, nos HDV ocorre dentro de 1 a 12 meses após início do es-quema PQT6,33(D). A partir do primeiro ano, há gradual declínio da ocorrência dos episó-dios reacionais nos pacientes paucibacilares e multibacilares8(B). Em cerca de 90% dos pacientes que têm reações após a alta, o pri-meiro episódio ocorre no primeiro ano após o término do tratamento32(C). Com menor freqüência, os eventos de RR podem ser observados nos paucibacilares até o terceiro e quarto anos após interrupção do esquema PQT/OMS8(B) e ainda no quinto ano de multibacilares tratados com esquema PQT até negativação da baciloscopia8(B). A recorrência tardia de sinais e sintomas cutâneos e/ou neurológicos deve ser con-duzida, em geral, em centros de referência, com procedimentos de investigação que diferenciem a reação reversa tardia da reci-diva de hanseníase. Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 7
  • 8. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Distinção entre reação reversa e recidiva O diagnóstico de recidiva de doentes paucibacilares é um desafio desde que a apa-rência das lesões cutâneas e as alterações histo-lógicas são muitas vezes indistinguíveis da reação reversa tardia34(B). A maioria dos epi-sódios de RR em paucibacilares após a inter-rupção da PQT é observada dentro do período dos primeiros dois anos, porém, estudos com períodos de maior seguimento demonstraram a ocorrência tardia de episódios tardios de RR8(B). Para diferenciação entre RR e recidi-va, tem sido proposto, operacionalmente, o uso de corticoesteróides, pois a RR, geralmente, responde a este tratamento em poucos dias ou semanas4,7(D). Algumas das recomendações gerais adotadas para nortear a diferenciação en-tre RR e recidiva4,35(D) foram sumariadas no Quadro 1. TRATAMENTO DA REAÇÃO REVERSA Os princípios do manejo da RR são: 1) manutenção das drogas antimicobacterianas; 2) terapêutica antiinflamatória efetiva e prolon-gada e 3) analgesia adequada e suporte físico durante a fase de neurite aguda. A manutenção da PQT nos episódios reacionais é imperativa, pois proporciona a redução da carga de bacilos na pele e nervos, removendo o alvo de células T indutoras da resposta inflamatória e, conseqüen-temente, a tendência à recorrência dos episó-dios de RR14(D). Quadro 1 Principais aspectos da distinção entre reação reversa e recidiva Características Reação Reversa Recidiva Período de ocorrência Freqüente durante a PQT e Em geral, período superior a nos primeiros seis meses. dois anos após término Menos freqüente no período da PQT de dois a três anos após término do tratamento. Surgimento Súbito e inesperado Lento e insidioso Lesões antigas Eritematosas, brilhantes, Algumas podem apresentar intumescidas e infiltradas bordas eritematosas Lesões recentes Em geral, surgimento de Poucas várias lesões Ulceração Acentuação das alterações Raramente há ulceração e ulceração Regressão Presença de descamação Ausência de descamação Comprometimento neural Maior número de troncos Poucos troncos nervosos, nervosos envolvidos, perturbações sensitivo-rapidamente sobrevêm a dor motoras ocorrem, em geral, e perturbações mais lentamente. sensitivo-motoras Resposta a Excelente Não pronunciada corticoesteróides 8 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 9. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Corticoesteróides O corticoesteróide é a droga de escolha para o tratamento da RR, modificando o curso desta reação, com redução do edema das lesões cutâneas e intraneural, o que resulta em rápida melhora4,14,33,36(D). A avaliação e monitoramen-to clínico da bioquímica sangüínea, presença de co-morbidades, riscos e a exclusão de co-infec-ções/ infestações, como estrongiloidíase e tuber-culose, são premissas para o emprego seguro e o sucesso terapêutico da corticoterapia com o mínimo de efeitos colaterais. O uso precoce de corticoesteróides está recomendado, frente a evidências de: 1) acentuação da inflamação de lesões preexistentes ou surgimento de novas lesões; 2) dor ou intumescimento dos nervos ou perda da função neural com duração menor de seis meses. Danos neurais permanentes poderão ser pre-venidos com a terapia efetiva e precoce. Há re-comendações do emprego de corticoesteróides na dose de 1 a 2 mg/ kg ao dia4(D). Entretanto, há indicações que a dose inicial de 40 mg (0,5 - 0,6 mg/ kg) de prednisona ou prednisolona ao dia controla a maioria das RR33,36(D), com res-salvas para casos graves que não respondem no período de uma semana, que podem requerer doses mais elevadas 60 mg (ou 1-2mg/kg) ao dia de corticoesteróides33,36(D). Diante das evi-dências de melhora ou regressão clínica, a dose de corticoesteróides deve ser reduzida em inter-valos e quantidades fixas, em geral, 5-10mg a cada uma a duas semanas. Em circunstâncias ideais, a dose, o período de manutenção e a ve-locidade de redução da terapêutica devem ser adotados baseando-se em avaliações padroniza-das com testes para função motora e sensitiva. Tratamentos prolongados da RR com corticoesteróides de 4 a 18 meses demonstra-ram- se superiores aos períodos reduzidos de dois meses37(B). A extensão de 12 para 20 semanas de tratamento com corticoesteróides reduziu a recorrência da RR em pacientes HD/HDV8(B). Como a gravidade e extensão dos quadros reacionais guardam relação com as formas clí-nicas, há indicações que pacientes HDT reque-rem períodos menores de corticoesteróides, de quatro a nove meses, comparados com HD e HDV, seis a nove meses e 6 a 18 meses, ou até 24 meses, respectivamente33(D). Outras terapias para a reação reversa Ciclosporina, dose inicial entre 5 e 10mg/ kg ao dia, é imunossupressor com seletividade para linfócitos auxiliares CD4+ e, potencialmen-te, útil para o controle da reação reversa. En-tretanto, o custo da droga é maior e não há evi-dências suficientes de que a ciclosporina atue tão rapidamente no edema intraneural como o corticoesteróide36(D). Azatioprina, dose de 1mg/kg ao dia, tem sido indicada como agente imunossupressor e poupador de corticoesteróides. A associação corticoesteróides e azatioprina resultou em pro-porção discretamente superior de melhora do distúrbio motor comparada com os resultados de pacientes tratados com o uso isolado de uma das drogas em pequena série de casos. Como a azatioprina age mais lentamente e não tem efeito no edema intraneural, está indicada apenas como adjuvante após a introdução do tratamento com corticoesteróides14(D). Cirurgia descompressiva deve ser considera-da nos casos de dor neural persistente, manuten-ção ou piora da neuropatia, após a realização do tratamento com corticoesteróide38(B). Em par-ticular, casos de abscessos neurais, associados à Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 9
  • 10. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina dor intensa e contínua, podem se beneficiar com a cirurgia descompressiva14,36(D)37(C). REAÇÃO TIPO 2 OU ERITEMA NODOSO HANSÊNICO (ENH): A reação tipo 2 é uma reação inflamatória aguda, sistêmica, que envolve a formação de imunocomplexos que circulam pelo sangue pe-riférico (predominantemente a reação tipo III de Gel & Coombs), e tem como manifestação clínica mais freqüente o Eritema Nodoso Hansênico. Acomete pacientes multibacilares, agravan-do o quadro relacionado à hanseníase, sendo responsável por morbidade considerável, par-ticularmente, o eritema nodoso recorrente. A patologia do ENH envolve depósito de imunocomplexos e alteração da resposta imunológica mediada por células. O episódio de ENH é desencadeado pelo depósito de com-plexos imunes nos tecidos39(D), ativação de complemento, desenvolvimento de inflamação local, migração de polimorfos nucleares para o sítio de resposta inflamatória e liberação local de enzimas responsáveis por lesões teci-duais40( D)41(C). Macrófagos e células T são ativados12(D) e os níveis de TNFa circulante se elevam durante os episódios de ENH42, 43(D). Concentrações elevadas de anticorpos contra frações antigênicas do M. leprae, como o anticorpo anti-PGL-1, são observadas nas for-mas com alta carga bacilar11(D)44(C) e partici-pariam da síndrome do imunocomplexo circulante que se instala durante o episódio reacional e cursa com sinais clínicos caracte-rísticos. O depósito do complexo antígeno-anticorpo circulante, ao atingir espaços teciduais, vasos sangüíneos e linfáticos, desen-cadeiam a resposta inflamatória. Episódios reacionais de ENH podem envol-ver muitos órgãos e sistemas, dependendo da gravidade e extensão da reação imunológica. A avaliação clínica e laboratorial do surto reacional deve compreender uma investigação voltada para alterações de pele, nervos, olhos, articulações, rins, testículos, vias áreas superiores, entre ou-tras. A intensidade varia entre casos discretos de ENH com lesões cutâneas pouco dolorosas, sem comprometimento do estado geral, a casos mais graves com formações de lesões vésico-bolhosas e pustulosas, lesões ulceradas e necróticas, concomitante a febre, mal-estar, cefaléia, náu-seas e vômitos. O manejo do ENH é guiado pela necessi-dade do controle da reação inflamatória aguda, alívio da dor e do desconforto, bloqueio do de-senvolvimento e extensão das alterações cutâneas, neurais, oculares e viscerais e a pre-venção de novos episódios. EPIDEMIOLOGIA Previamente à introdução da PQT/OMS, cerca de 50% dos pacientes virchowianos (HV) e 25% a 30% dos pacientes HDV eram afeta-dos por este padrão de reação6(D). Há evidênci-as da redução da incidência do ENH com a adoção do esquema PQT/OMS, particular-mente em decorrência da inclusão da clofazimina16(B)45(D), entretanto, há registros de variabilidade das taxas de incidência, em di-ferentes estudos, sendo descritos cerca de 5% do total de pacientes reacionais na Etiópia8(B) e estimativas de taxas mais elevadas no Brasil e Ásia. Estudos controlados no Brasil mostraram o ENH como tipo freqüente de reação entre os multibacilares com esquema PQT/OMS, entre 25%17(B) a 30%16(B), atingindo 62,8% dos pacientes com esque- 10 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 11. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina ma DNDS16(B). O ENH também foi o tipo de reação mais freqüente e recorrente na vigên-cia do tratamento e no seguimento após a alta, tanto do esquema terapêutico PQT/OMS, quanto no esquema DNDS16(B). Com maior freqüência os episódios de ENH incidem no primeiro e segundo ano de PQT8,16(B) e podem persistir por anos17(B), mas deve ser lembrado que a reação ENH pode ocor-rer previamente ao tratamento específico e ser uma manifestação presente no momento do diagnóstico de hanseníase6(D)8(B). CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Clínicos • Manifestações cutâneas As lesões cutâneas do ENH representam parte das manifestações do comprometimento de múltiplos sistemas, que pode envolver qual-quer órgão ou sistema atingido por antígenos bacilares e/ou imunocomplexos. A alta carga bacilar, presente nas formas HDV e HV, induziria a produção de imunoglobulinas e imunocomplexos, e participaria da disfunção envolvendo mecanismos humorais e celulares do processo inflamatório agudo, característico do ENH. Nesta reação, a pele, aparentemente normal, é acometida pelo aparecimento súbito de pápulas, nódulos e placas nodosas. As lesões são dolorosas e tensas ao toque, de coloração rósea a eritemato-violácea, evoluem com descamação central e podem se tornar hemorrágicas, vesicobolhosas, pustulares e ulcerativas, carac-terizando o quadro de eritema nodoso necrotizante. Diferente da RR, as lesões preexistentes permanecem inalteradas. O surgimento de lesões obedece a uma distribui-ção simétrica, bilateral e difusa que atinge a face, tronco e membros, preferencialmente a super-fície extensora das extremidades. As lesões per-duram por sete a dez dias e, durante os surtos, as lesões antigas coexistem com as mais recen-tes. A eclosão das lesões pode evoluir de modo intermitente ou contínuo, caracterizando qua-dros crônicos e recorrentes que persistem por meses a anos6(D). As principais manifestações e distinções clínicas entre RR e ENH foram sumariadas no Quadro 24,6(D). Os quadros crônicos persistentes devem ser diferenciados da recidiva das formas bacilares da hanseníase. Em geral, os quadros de recidiva evoluem com o surgimento lento de pápulas e nódulos, que não exibem as características in-flamatórias agudas, sendo marcante a presença de bacilos íntegros34(B). • Outras manifestações Podem estar presentes manifestações extracutânea e sistêmica, incluindo febre, mal-estar, hiporexia, perda de peso, neuropatia, orquiepididimite, glomerulonefrite (por imunocomplexo), miosite, artralgia, artrite de grandes articulações, sinovite, dactilite, dores ósseas, iridociclite e uveíte, comprometimento da faringe, laringe e traquéia. Alterações clíni-cas como hepatoesplenomegalia, infartamento ganglionar generalizado, edema acrofacial ou generalizado, rinite, epistaxe, insônia e de-pressão podem ser observadas4,6,18,45(D). Em casos discretos, as lesões cutâneas são, em geral, em pequeno número, pouco sintomáticas e não estão associadas ao com-prometimento sistêmico importante. Nos casos moderados a graves, a extensão das Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 11
  • 12. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Quadro 2 Principais distinções clínicas entre Eritema Nodoso Hansênico e Reação Reversa Sinais e Sintomas Reação Reversa (Tipo 1) ENH (Tipo 2) Manifestações cutâneas Associadas às lesões prévias: Distribuição simétrica Eritema, edema/intumescimento dissociada de lesões prévias: e infiltração. pápulas, nódulos e placas, Surgimento de lesões satélites dolorosos. em áreas adjacentes. Descamação central. Descamação, às vezes Lesões hemorrágicas, ulceração. vesicobolhosas, pustulares Edema acral e facial. e ulcerativas. Manifestações neurológicas Espessamento neural; Dor no território de distribuição do nervo; Distúrbios da função neural motora e/ou sensitiva, com ou sem sintomas de dor; Redução da força muscular e paralisia progressiva. Condições gerais do paciente Boa, sem febre Mal estar geral, febre alta Formas clínicas Formas dimorfas: DT, DD, DV Formas multibacilares: DV e VV Olhos Fraqueza de pálpebras, Irite e iridociclite. dificuldade para fechar. manifestações cutâneas e sistêmicas é mais acentuada. A presença de lesões úlcero-necróticas e o comprometimento de olhos, nervos, testículos, rins e fígado são condições agravantes que implicam em monitoramento e intervenção terapêutica antiinflamatória precoce e efetiva, em geral com cortico-esteróides4,6,18,45( D). Laboratoriais Em estreita relação com a gravidade do sur-to reacional, podem ser observadas alterações hematológicas e da bioquímica sangüínea com leucocitose, neutrofilia e plaquetose46(D)47(B)48(C), aumento das proteínas da reação inflamatória aguda, especialmente proteína-C-reativa e a1-ácido glicoproteína43,46(D), aumento das imunoglobulinas IgG e IgM11,15,43(D) e proteinúria18,46(D). O histopatológico de lesão cutânea exibe denso infiltrado inflamatório neutrofílico na derme superficial e/ou profun-da e/ou subcutâneo. Freqüentemente, o inten-so influxo de neutrófilos forma microabscessos e a vasculite pode predominar em alguns casos. Há redução local da carga bacilar com a visualização de numerosos bacilos fragmenta-dos e granulosos25(D). Fatores de risco Pacientes com doença virchowiana, infiltra-ção cutânea e índice baciloscópico > 4 apre-sentaram risco significantemente aumentado de 12 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 13. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina desenvolver reação tipo 249(C). A taxa de recorrência do ENH é significantemente ma-ior do que da RR50(B). Gravidez, puberdade, doenças intercorrentes, vacinação e estresse foram implicados com o desenvolvimento de ENH6(D). TRATAMENTO DO ERITEMA NODOSO HANSÊNICO Antiinflamatórios não-esteroidais (AINE) Todos os casos de ENH devem receber re-pouso e terapêutica antiinflamatória. Em casos graves ou frente a evidências de comprometi-mento ocular, neural, testicular, deve ser inicia-do o tratamento com corticoesteróides4,45(D). Casos discretos de ENH podem ser tratados com antiinflamatórios não-esteroidais (AINE) e repouso36,45(D). Os efeitos da indometacina no controle do ENH foram semelhantes aos da cloroquina e superiores aos do ácido acetilsalicílico51(B). Nos casos moderados de ENH, a colchicina foi mais efetiva em induzir alívio da dor neural e articular comparada ao ácido acetilsalicílico52(B). Estudos posteriores falharam em demonstrar o sucesso destes resul-tados, implicando na continuidade do uso de corticoesteróides em pacientes com ENH crô-nico e nas limitações impostas pelos efeitos colaterais da colchicina53(B)54(C). O uso da pentoxifilina, 1200 mg ao dia, dividido em três doses, pode beneficiar os quadros com predo-mínio de vasculite. Corticoesteróides Prednisona na dose de 0,5 a 2 mg por kg ao dia está indicada como antiinflamatório de escolha nos casos moderados a graves. A res-posta é usualmente rápida e a redução gradual pode possibilitar o período de remissão dos surtos4,36,45(D). Embora o tratamento com corticoesteróides seja efetivo, pacientes com ENH possuem o grande risco de tornarem-se dependentes dessa droga, especialmente aque-les com ENH crônico45(D). Os corticoesteróides são drogas de escolha no controle dos surtos reacionais de ENH com manifestações sistêmicas moderadas a graves e nas condições em que estejam presentes fenô-menos de vasculite, nos quadros de mãos e pés reacionais, envolvimento de nervos, olhos, testículos ou vísceras4,36(D). Talidomida Trata-se de consenso que a talidomida é a droga de primeira escolha no manejo do ENH agudo e recorrente. A melhora clínica em resposta à talidomida é rápida, usualmente en-tre 8 e 72 horas, e em alguns casos cinco dias55,56(B)57(C). O uso concomitante da talidomida produziu significante redução da dose e do tempo de necessidade de corticóides57(C). A talidomida foi comprovadamente superior à aspirina na rapidez da resolução da febre e re-gressão das lesões cutâneas56(B). Há também sugestões acerca do valor da talidomida na diminuição da freqüência dos episódios reacionais58(C). Apesar das evidências clínicas que demons-tram a utilidade da talidomida no manejo do ENH, o alto risco de teratogenicidade implica em controle e limitações do seu emprego4,45(D). A sua prescrição deve ser rigorosamente acom-panhada de métodos contraceptivos, necessá-rios às mulheres em idade fértil, e orientações aos seus usuários sobre os efeitos teratogê-nicos da droga. Destaca-se a necessidade de responsabilidade pelo uso exclusivo e indivi-dual da medicação, de forma a evitar o uso, Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 13
  • 14. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina acidental ou voluntário, por outros indivíduos4,45(D). É controverso o potencial de neuro-toxicidade associada ao uso da medicação na hanseníase45(D)59(C). A neuropatia periférica, decorrente do uso da talidomida em outras afecções, está bem documentada na litera-tura60( B)61(D). Outros efeitos colaterais, como constipação, sonolência e edema de extremida-des podem ser observados61(D). Clofazimina Foi sugerido efeito antiinflamatório desta droga quando do seu uso nos esquemas terapêuticos antibacterianos16,62(B). O trata-mento com clofazimina resultou na redução da necessidade do corticoesteróide nos pacien-tes com ENH grave62,63(C), e de antiinflama-tórios nos pacientes com ENH moderado64(B). Clofazimina é menos efetiva e não atua tão rapidamente quanto os corticoesteróides e a talidomida. Seu principal efeito seria o de prevenir novos surtos e reduzir a dependência dos corticoesteróides62(C). A despeito das evidências, não há estudos controlados para averiguar os efeitos antiinflamatórios da dro-ga em outras enfermidades e dissociados da ação antimicobacteriana na hanseníase. Os esquemas terapêuticos indicam o uso da clofazimina por três meses, sendo no primeiro mês dose de 100 mg três vezes ao dia, reduzin-do- se 100 mg a cada mês4(D). Outro esquema propõe tratamento prolongado de até 15 meses, sendo a dose inicial de 300 mg ao dia por três meses, e a redução da dose para 200 mg ao dia e, posteriormente, 100 mg ao dia, no intervalo de um a seis meses36(D). Tais esquemas podem ser úteis para o ENH crônico ou recorrente, espe-cialmente para pacientes dependentes de corticoesteróides. Os efeitos colaterais se acen-tuam com o emprego de altas doses ou de esque-mas terapêuticos prolongados, em geral, restri-tos a pigmentação cutânea, ictiose, desconforto gastrointestinal, diarréia e dor abdominal36(D). 14 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 15. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina REFERÊNCIAS 1. Dharmendra. Classifications of leprosy. In: Hasting RC (ed). Leprosy, 2nd ed. New York: Churchill Livingstone; 1994. p.179-90. 2. Ridley DS, Jopling WH. Classification of leprosy according to immunity: a five-group system. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1966; 34:255-73. 3. Organização Mundial da Saúde (OMS). Manual para o controle da lepra. 2nd ed. Washington: DC; 1989. 4. Ministério da Saúde. Guia de controle da hanseníase. CNDS/CENEPI/FNS/Mi-nistério da Saúde-Brasil. 2a ed, Brasília: Ministério da Saúde; 1994. p.156. 5. Jopling RH, Mc Dougall AC. A doença. In: Manual de hanseníase. 4th ed. São Pau-lo: Atheneu Editora; 1991.p.11-59. 6. Pfaltzgraff RE, Ramu G. Clinical leprosy. In: Hasting RC (ed). Leprosy, 2nd ed. New York: Churchill Livingstone; 1994. p. 237-87. 7. Lienhardt C, Fine PE. Type 1 reaction, neuritis and disability in leprosy. What is the current epidemiological situation ? Lepr Rev 1994; 65:9-33. 8. Becx-Bleumink M, Berhe D. Occurrence of reactions, their diagnosis and management in leprosy patients treated with multidrug therapy; experience in the leprosy control program of the All Africa Leprosy and Rehabilitation Training Center (ALERT) in Ethiopia. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1992; 60:173 –84. 9. Van Brakel WH, Khawas IB, Lucas SB. Reactions in leprosy: an epidemiological study of 386 patients in west Nepal. Lepr Rev 1994; 65:190-203. 10. Lockwood DN, Vinayakumar S, Stanley JN, McAdam KP, Colston MJ. Clinical features and outcome of reversal (type 1) reactions in Hyderabad, India. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1993; 61:8-15. 11. Harboe M. Overview of host-parasite relations. In: Hastings RC, editor. Leprosy. New York: Churchill Livingstone; 1994. p. 87-112. 12. Modlin RL, Rea TH. Immunopathology of leprosy . In: Hastings RC, editor. Leprosy. New York: Churchill Livingstone; 1994. p.225-34. 13. Andrade V, Santos EM. Hanseníase e Aids. In: Talhari S, Neves RG, editores. Dermatologia tropical: hanseníase. 30 ed. Manaus; 1997. p. 87-91 14. Britton WJ. The management of leprosy reversal reactions. Lepr Rev 1998;69: 225-34. 15. Groenen G, Janssens L, Kayembe T, Nollet E, Coussens L, Pattyn SR. Prospective study on the relationship between intensive bactericidal therapy and leprosy reactions. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1986; 54: 236-44. Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 15
  • 16. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 16. Gallo MEN, Alvim MFS, Nery JAC, Albuquerque ECA. Estudo comparativo com dois esquemas poliquimioterápicos (du-ração fixa) em hanseníase multibacilar – seguimento de 50,32 ± 19,62 e 39,70 ± 19,47 meses. Hansen Int 1997; 22: 5-14. 17. Cunha MGS. Episódios reacionais e rela-ção com recidiva em doentes com hanseníase tratados com diferentes esque-mas terapêuticos. [Tese de doutorado]. Ri-beirão Preto: Faculdade de Medicina de Ri-beirão Preto, Universidade de São Paulo; 2001. 18. Opromolla DVA. Manifestações clínicas e reações. In: Opromolla DVA, editor. No-ções de hansenologia. Bauru: Centro de Estudos Dr. Reynaldo Quagliato; 2000. p. 51-8. 19. Van Brakel WH, Khawas IB. Nerve damage in leprosy: an epidemiological and clinical study of 396 patients in west Nepal. Part 1. Definitions, methods and frequencies. Lepr Rev 1994; 65:204-21. 20. Saunderson P, Gebre S, Desta K, Byass P, Lockwood DN. The pattern of leprosy-related neuropathy in the AMFES patients in Ethiopia: definitions, incidence, risk factors and outcome. Lepr Rev 2000; 71:285-308. 21. Croft RP, Richardus JH, Nicholls PG, Smith WC. Nerve function impairment in leprosy: design, methodology, and intake status of a prospective cohort study of 2664 new leprosy cases in Bangladesh (The Bangladesh Acute Nerve Damage Study). Lepr Rev 1999; 70:140-59. 22. Hogeweg M, Kiran KU, Suneetha S. The significance of facial patches and type I reaction for the development of facial nerve damage in leprosy: a retrospective study among 1226 paucibacillary leprosy patients. Lepr Rev 1991; 62:143-9. 23. de Rijk AJ, Gabre S, Byass P, Berhanu T. Field evaluation of WHO-MDT of fixed duration, at ALERT, Ethiopia: the AMFES project-II. Reaction and neuritis during and after MDT in PB and MB leprosy patients. Lepr Rev 1994; 65: 320-32. 24. Job C. Pathology of leprosy. In: Hastings RC, editor. Leprosy. New York: Churchill Livingstone; 1994. p.193-224. 25. Fleury RN. Patologia e manifestações viscerais. In: Opromolla DVA, editor. Noções de hansenologia. Bauru: Centro de Estudos Dr. Reynaldo Quagliato; 2000. p. 63-71. 26. Yamamura M, Wang XH, Ohmen JD, Uyemura K, Rea TH, Bloom BR, et al. Cytokine patterns of immunologically mediated tissue damage. J Immunol 1992; 149:1470-5. 27. Roche PW, Le Master J, Butlin CR. Risk factors for type 1 reactions in leprosy. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1997; 65:450-5. 28. Montestruc E. Reactions in arrested ca-ses after BCG vaccination (letter). Int J Lepr Other Mycobact Dis 1960; 28:183-4. 16 Hansen’ase: Epis—dios Reacionais
  • 17. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 29. Convit J, Ulrich M, Aranzazu N, Castellanos PL, Pinardi ME, Reyes O. The development of a vaccination model using two microorganisms and its application in leprosy and leishmaniasis. Lepr Rev 1986; 57(Suppl 2):263-73. 30. Roche PW, Theuvenet WJ, Britton WJ. Risk factors for type-1 reactions in borderline leprosy patients. Lancet 1991; 338:654-7. 31. Duncan ME, Pearson JM. Neuritis in pregnancy and lactation. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1982; 50:31-8. 32. Rodrigues ALP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Occurrence of late lepra reaction in leprosy patients: subsidies for implementation of a specific care program. Hansen Int 2000; 25:17-25. 33. Rose P, Waters MF. Reversal reactions in leprosy and their management. Lepr Rev 1991; 62:113-21. 34. Becx-Bleumink M. Relapses among leprosy patients treated with multidrug therapy: experience in the leprosy control program of the All Africa Leprosy and Rehabilitation Training Center (ALERT) in Ethiopia; practical difficulties with diagnosing relapses; operational proce-dures and criteria for diagnosing relapses. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1992; 60:421-35. 35. Organização Mundial da Saúde. Manual para o controle da lepra. 20 ed. Washing-ton: D.C.; 1989. 36. Naafs B. Bangkok Workshop on Leprosy Research. Treatment of reactions and nerve damage. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1996; 64(4 Suppl):S21-8. 37. Carayon A, Van Droogenbroeck J, Languilon J. Surgical decompression of neuritis of Hansen’s disease. Acta Leprol 1985; 3:37-66. 38. Souza GM. Efeitos da descompressão ci-rúrgica neural sem neurolise em pacientes com neurites hansênicas. [Dissertação de Mestrado]. Uberlândia: Faculdade de Me-dicina, Universidade Federal de Ube-rlândia; 2003. 39. Wemambu SN, Turk JL, Waters MF, Rees RJ. Erythema nodosum leprosum: a clinical manifestation of the arthus phenomenon. Lancet 1969; 2:933-5. 40. Ridley MJ, Ridley DS. The immuno-pathology of erythema nodosum leprosum: the role of extravascular complexes. Lepr Rev 1983; 54:95-107. 41. Abalos RM, Tolentino JG, Bustillo CC. Histochemical study of erythema nodosum leprosum (ENL) lesions. Int J Lepr Other Mycobact Dis 1974; 42:385-91. 42. Sarno EN, Grau GE, Vieira LM, Nery JA. Serum levels of tumor necrosis factor-alpha and interleukin-1 beta during leprosy reactional states. Clin Exp Immunol 1991; 84:103-8. 43. Foss NT, de Oliveira EB, Silva CL. Correlation between TNF production, increase of plasma C-reactive protein level Hansen’ase: Epis—dios Reacionais 17
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