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RESENHA
ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: dinheiro, poder e
as origens de nosso tempo. UNESP, Rio de Janeiro, 1995.
Adelino Lorenzoni1
O texto vai além das leis dos níveis das economias de
mercado mundiais e das civilizações materiais do mundo
propiciando assim identificar onde estão escondidos os segredos
da Lombue Duree do capitalismo histórico.
A noção de desenvolvimento do capitalismo moderno
desenvolvida por Arrighi é parte de uma abordagem teórica e de
uma interpretação da economia capitalista alicerçada em ciclos
de acumulação, o autor começa por uma análise das três
hegemonias do capitalismo histórico (hegemonia, capitalismo e
territorialismo). A hegemonia estaria ligada a competência de um
estado de exercer funções de liderança e governo, em um
segundo momento o autor analisa o capitalismo como uma
tendência de grupos capitalistas mobilizarem seus respectivos
estados para propiciar um maior universo de atuação para suas
empresas capitalistas favorecendo assim suas posições
competitivas. Em relação ao territorialismo, Arrighi aborda que
os governantes capitalistas identificam o poder como a extensão
de seu controle sobre os recursos escassos, e que os mesmos
consideram as aquisições territorialistas um meio e um
subproduto da acumulação de capital.
Ainda no primeiro capítulo são discutidas as origens do
moderno sistema interestatal através de uma analise das cidades-
estados mostrando que até pequenos territórios poderiam
transformar-se em imensos continentes pois a busca de riquezas
propiciava a acumulação de capital, para as cidades-estados do
norte da Itália.
1
Licenciado em Ciências Econômicas Empresariais e Pesquisador do Escritório
de Desenvolvimento Regional (UCPEL).
Resenha
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002186
Dando seqüência ao texto, Arrighi descreve que os
retardatários tiveram que reestruturar radicalmente a geografia
política do comercio mundial através de uma nova síntese de
capitalismo e territorialismo criada pelos mercantilistas franceses
e britânicos no século XVIII, alicerçada em três componentes
principais: a colonização direta, a escravatura capitalista e o
nacionalismo econômico. Logo a seguir o autor enfatiza que o
imperialismo de livre comércio estabeleceu o princípio de que as
leis que vigoram dentro e entre as nações estavam sujeitas a um
mercado mundial, regido por suas próprias “leis” que combinada
com a expansão territorial ultramarina e com o desenvolvimento
de uma indústria de bens de capital tornaram-se poderosos
instrumentos para os governantes britânicos criarem redes
mundiais de riqueza e poder, propiciando domínio sobre o
equilíbrio global através de um estreito relacionamento com a
haute finance o que por sua vez gerou capacidade hegemônica
sem precedentes ao Reino Unido.
Em suma, o autor relata que a criação no século XIX de
uma estrutura imperial parcialmente capitalista e parcialmente
territorialista, propiciou a formação e a expansão da economia
capitalista mundial, refletindo assim uma continuação, através de
meios diferentes e mais eficazes das buscas imperiais dos tempos
pré-modernos.
Quanto aos EUA, Arrighi descreve que o processo de
desenvolvimento deveu-se a sua economia domestica
caracterizada por um forte mercado interno, assim como sua
política de manter as portas do mercado interno fechadas aos
produtos estrangeiros, mas abertas ao capital, a mão-de-obra e a
iniciativa do exterior, contribuindo para tornar o país o maior
beneficiário do imperialismo britânico do livre comércio, com
isso, o Reino Unido perdeu o controle sobre o equilíbrio global.
Em relação ao primeiro capitulo e a hegemonia norte-
americana não podemos deixar de mencionar as observações do
autor a respeito dos instrumentos de poder que foram sendo
dispostos para proteção e reorganização do “mundo livre”; as
organizações de Bretton Woods e a ONU transformaram-se em
instrumentos suplementares, administrados pelo governo do
Adelino Lorenzoni
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002 187
EUA no exercício de suas funções hegemônicas mundiais
beneficiando assim os produtos e as empresas norte-americanas
principalmente quando da formação do acordo geral sobre tarifas
e comércio (GATT) deixando nas mãos do governo dos EUA o
controle sobre o ritmo e a direção da liberalização comercial,
para o autor, os EUA instituiu não um regime de livre comercio e
sim um arranjo improvisado de comercio mundial.
Em seguida o capitulo do livro faz uma descrição do
primeiro ciclo de acumulação genovês enfatizando que o mesmo
desenvolveu-se a medida que intensificaram-se as pressões
competitivas e que o capital excedente gerado foi utilizado para
financiar a crescente dívida pública das cidades-estados,
propiciando assim alienação futura do patrimônio e da receita por
parte das classes capitalistas, movendo-se em direção à formação
do mercado e a estratégias e estruturas de acumulação cada vez
mais flexíveis o capitalismo milanês veneziano florentino por sua
vez, desenvolveu o sentido da gestão do estado e de estratégias
compostas por estruturas mais rígidas de acumulação de capital.
Logo a seguir em um segundo momento Arrighi analisa
“O Segundo Ciclo Sistêmico de Acumulação Holandês”, no qual
descreve que os Holandeses, no século XVI, tornaram-se
beneficiários de um fluxo volumoso e regular de excedentes
monetários o que por sua vez resultou na expansão de seu
sistema comercial do âmbito regional para o global.
Seguindo o texto o autor acrescenta que a economia
capitalista mundial passou a caracterizar-se por um sistema em
que as redes de acumulação estavam inteiramente inseridas nas
redes de poder, e subordinadas a elas, e que essa transformação
passou por uma série de ciclos sistêmicos de acumulação, cada
um consistindo de uma fase de expansão material e esta seguida
por uma fase de expansão financeira resultante das atividades de
um complexo particular de agentes governamentais e
empresariais dotados de capacidade de levar a expansão um
passo além do que podiam ou queriam fazer os promotores e
organizadores da expansão precedente.
Arrighi cita o enclave capitalista do norte da Itália, como
principal ponto da expansão financeira reflexo da expansão
comercial precedente, no entanto, o autor enfatiza que as relações
Resenha
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002188
entre os centros de acumulação desse enclave e suas cidades-
estados caracterizavam-se fundamentalmente por relações
cooperativas.
O autor cita que o capitalismo nasceu como um sistema
social histórico devido à intensificação da concorrência
intercapitalista e a luta pelo poder dentro das cidades-estados e
entre elas; o controle desses estados pelos interesses capitalistas
gerou uma alienação das cidades-estados ao interesse monetário,
tornando-se aspecto fundamental da expansão financeira do norte
da Itália, pois, grupos capitalistas que já não podiam investir com
lucro no comércio passaram a investir na tomada dos mercados
dos concorrentes como um meio de se apropriarem dos bens e da
receita futura do estado dentro do qual operavam. Arrighi
acrescenta que a primazia na arte e na cultura tornaram-se o meio
para conquistar a legitimidade das cidades-estados.
No terceiro capítulo Arrighi analisa o chamado Terceiro
Ciclo Sistêmico de Acumulação Britânico no qual descreve que a
absorção por parte das organizações governamentais e
empresariais do mundo inteiro dos bens de capital britânico
assim como a crescente expansão de suas redes bancárias
propiciaram prosperidade sem precedentes para a burguesia
inglesa e que a Grã-Bretanha pode exercer as funções de
entreposto comercial e financeiro do mundo, por ser industrial e
imperialista. No mesmo capítulo o texto deixa claro que as
oscilações seculares mediante as quais materializaram-se as
alternâncias entre fases de “liberdade econômica” e fazes de
“regulação econômica”, ou seja, entre as tendências competitivas
e cooperativas correspondera em geral à sucessão de ciclos
sistêmicos de acumulação.
Seguindo o penúltimo capitulo o autor analisa o Quarto
Ciclo Sistêmico de Acumulação Norte-Americano na qual cita
que a luta interestatal pelo poder elevou os custos de proteção
para os estados europeus, inclusive para a Grã-Bretanha
obrigando a burguesia a externalizar esse ônus, através da
obtenção de divisas estrangeiras mediante a exportação de
produtos primários, o mesmo ainda descreve que tão logo
terminada a guerra norte-americana surgiram os primeiros
Adelino Lorenzoni
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002 189
indicadores de uma recessão e que a tradição protecionista norte-
americana foi retomada a pleno vapor favorecendo suas
corporações. Apartir deste momento os EUA destruío as
estruturas de acumulação do capitalismo de mercado Britânico e
centralizou a liquidez, o poder aquisitivo e a capacidade
produtiva da economia mundial, pois, propiciava de um imenso
mercado domestico.
No texto referente ao ultimo capítulo o autor comenta
sobre a dinâmica da crise global, descrevendo que as expansões
financeiras são características do capital e da intensificação das
pressões competitivas assim como das grandes expansões do
comércio e produção mundiais.
Logo a seguir Arrighi expõe que a substituição das taxas
de câmbio fixas por taxas flexíveis resultou não apenas a um
refreamento, mas a uma aceleração da tendência dos governos
das nações desenvolvidas sobre a produção e regulação do
dinheiro mundial. O autor ainda relata que em última instância,
essa competição entre os capitais privados e públicos não
beneficiou nem o governo dos E.U.A nem as empresas norte-
americanas; em suma, o texto demonstra que as tentativas do
governo dos E.U.A de preservar o controle sobre o capital
transnacionalizado, lançando mão de meios legais e de políticas
monetárias frouxas foram ineficazes.
Uma última observação do autor refere-se a posições de
autores sobre a sobrevivência do capitalismo, para Shumpeter a
substituição da competição perfeita pelas práticas monopolistas
enfraqueceria a capacidade fundamental que o capitalismo
demonstrara antes, de superar suas crises recorrentes, e gerar ao
longo do tempo grandes aumentos de renda per capita. Polany
por sua vez segue a idéia oitocentista de um mercado auto
regulador, no entanto essa idéia, afirmou ele, implicava uma
perfeita utopia e segundo Arrighi a questão mais pertinente
parecia ser a morte do capitalismo.
A respeito do livro cabe enfatizar que se trata de uma
contribuição extremamente valiosa para os estudiosos sobre o
processo de evolução e formação das economias no Século XX.
Resenha
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002190
Recebido: novembro/2002

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O longo século xx arrighi - resenha

  • 1. RESENHA ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. UNESP, Rio de Janeiro, 1995. Adelino Lorenzoni1 O texto vai além das leis dos níveis das economias de mercado mundiais e das civilizações materiais do mundo propiciando assim identificar onde estão escondidos os segredos da Lombue Duree do capitalismo histórico. A noção de desenvolvimento do capitalismo moderno desenvolvida por Arrighi é parte de uma abordagem teórica e de uma interpretação da economia capitalista alicerçada em ciclos de acumulação, o autor começa por uma análise das três hegemonias do capitalismo histórico (hegemonia, capitalismo e territorialismo). A hegemonia estaria ligada a competência de um estado de exercer funções de liderança e governo, em um segundo momento o autor analisa o capitalismo como uma tendência de grupos capitalistas mobilizarem seus respectivos estados para propiciar um maior universo de atuação para suas empresas capitalistas favorecendo assim suas posições competitivas. Em relação ao territorialismo, Arrighi aborda que os governantes capitalistas identificam o poder como a extensão de seu controle sobre os recursos escassos, e que os mesmos consideram as aquisições territorialistas um meio e um subproduto da acumulação de capital. Ainda no primeiro capítulo são discutidas as origens do moderno sistema interestatal através de uma analise das cidades- estados mostrando que até pequenos territórios poderiam transformar-se em imensos continentes pois a busca de riquezas propiciava a acumulação de capital, para as cidades-estados do norte da Itália. 1 Licenciado em Ciências Econômicas Empresariais e Pesquisador do Escritório de Desenvolvimento Regional (UCPEL).
  • 2. Resenha Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002186 Dando seqüência ao texto, Arrighi descreve que os retardatários tiveram que reestruturar radicalmente a geografia política do comercio mundial através de uma nova síntese de capitalismo e territorialismo criada pelos mercantilistas franceses e britânicos no século XVIII, alicerçada em três componentes principais: a colonização direta, a escravatura capitalista e o nacionalismo econômico. Logo a seguir o autor enfatiza que o imperialismo de livre comércio estabeleceu o princípio de que as leis que vigoram dentro e entre as nações estavam sujeitas a um mercado mundial, regido por suas próprias “leis” que combinada com a expansão territorial ultramarina e com o desenvolvimento de uma indústria de bens de capital tornaram-se poderosos instrumentos para os governantes britânicos criarem redes mundiais de riqueza e poder, propiciando domínio sobre o equilíbrio global através de um estreito relacionamento com a haute finance o que por sua vez gerou capacidade hegemônica sem precedentes ao Reino Unido. Em suma, o autor relata que a criação no século XIX de uma estrutura imperial parcialmente capitalista e parcialmente territorialista, propiciou a formação e a expansão da economia capitalista mundial, refletindo assim uma continuação, através de meios diferentes e mais eficazes das buscas imperiais dos tempos pré-modernos. Quanto aos EUA, Arrighi descreve que o processo de desenvolvimento deveu-se a sua economia domestica caracterizada por um forte mercado interno, assim como sua política de manter as portas do mercado interno fechadas aos produtos estrangeiros, mas abertas ao capital, a mão-de-obra e a iniciativa do exterior, contribuindo para tornar o país o maior beneficiário do imperialismo britânico do livre comércio, com isso, o Reino Unido perdeu o controle sobre o equilíbrio global. Em relação ao primeiro capitulo e a hegemonia norte- americana não podemos deixar de mencionar as observações do autor a respeito dos instrumentos de poder que foram sendo dispostos para proteção e reorganização do “mundo livre”; as organizações de Bretton Woods e a ONU transformaram-se em instrumentos suplementares, administrados pelo governo do
  • 3. Adelino Lorenzoni Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002 187 EUA no exercício de suas funções hegemônicas mundiais beneficiando assim os produtos e as empresas norte-americanas principalmente quando da formação do acordo geral sobre tarifas e comércio (GATT) deixando nas mãos do governo dos EUA o controle sobre o ritmo e a direção da liberalização comercial, para o autor, os EUA instituiu não um regime de livre comercio e sim um arranjo improvisado de comercio mundial. Em seguida o capitulo do livro faz uma descrição do primeiro ciclo de acumulação genovês enfatizando que o mesmo desenvolveu-se a medida que intensificaram-se as pressões competitivas e que o capital excedente gerado foi utilizado para financiar a crescente dívida pública das cidades-estados, propiciando assim alienação futura do patrimônio e da receita por parte das classes capitalistas, movendo-se em direção à formação do mercado e a estratégias e estruturas de acumulação cada vez mais flexíveis o capitalismo milanês veneziano florentino por sua vez, desenvolveu o sentido da gestão do estado e de estratégias compostas por estruturas mais rígidas de acumulação de capital. Logo a seguir em um segundo momento Arrighi analisa “O Segundo Ciclo Sistêmico de Acumulação Holandês”, no qual descreve que os Holandeses, no século XVI, tornaram-se beneficiários de um fluxo volumoso e regular de excedentes monetários o que por sua vez resultou na expansão de seu sistema comercial do âmbito regional para o global. Seguindo o texto o autor acrescenta que a economia capitalista mundial passou a caracterizar-se por um sistema em que as redes de acumulação estavam inteiramente inseridas nas redes de poder, e subordinadas a elas, e que essa transformação passou por uma série de ciclos sistêmicos de acumulação, cada um consistindo de uma fase de expansão material e esta seguida por uma fase de expansão financeira resultante das atividades de um complexo particular de agentes governamentais e empresariais dotados de capacidade de levar a expansão um passo além do que podiam ou queriam fazer os promotores e organizadores da expansão precedente. Arrighi cita o enclave capitalista do norte da Itália, como principal ponto da expansão financeira reflexo da expansão comercial precedente, no entanto, o autor enfatiza que as relações
  • 4. Resenha Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002188 entre os centros de acumulação desse enclave e suas cidades- estados caracterizavam-se fundamentalmente por relações cooperativas. O autor cita que o capitalismo nasceu como um sistema social histórico devido à intensificação da concorrência intercapitalista e a luta pelo poder dentro das cidades-estados e entre elas; o controle desses estados pelos interesses capitalistas gerou uma alienação das cidades-estados ao interesse monetário, tornando-se aspecto fundamental da expansão financeira do norte da Itália, pois, grupos capitalistas que já não podiam investir com lucro no comércio passaram a investir na tomada dos mercados dos concorrentes como um meio de se apropriarem dos bens e da receita futura do estado dentro do qual operavam. Arrighi acrescenta que a primazia na arte e na cultura tornaram-se o meio para conquistar a legitimidade das cidades-estados. No terceiro capítulo Arrighi analisa o chamado Terceiro Ciclo Sistêmico de Acumulação Britânico no qual descreve que a absorção por parte das organizações governamentais e empresariais do mundo inteiro dos bens de capital britânico assim como a crescente expansão de suas redes bancárias propiciaram prosperidade sem precedentes para a burguesia inglesa e que a Grã-Bretanha pode exercer as funções de entreposto comercial e financeiro do mundo, por ser industrial e imperialista. No mesmo capítulo o texto deixa claro que as oscilações seculares mediante as quais materializaram-se as alternâncias entre fases de “liberdade econômica” e fazes de “regulação econômica”, ou seja, entre as tendências competitivas e cooperativas correspondera em geral à sucessão de ciclos sistêmicos de acumulação. Seguindo o penúltimo capitulo o autor analisa o Quarto Ciclo Sistêmico de Acumulação Norte-Americano na qual cita que a luta interestatal pelo poder elevou os custos de proteção para os estados europeus, inclusive para a Grã-Bretanha obrigando a burguesia a externalizar esse ônus, através da obtenção de divisas estrangeiras mediante a exportação de produtos primários, o mesmo ainda descreve que tão logo terminada a guerra norte-americana surgiram os primeiros
  • 5. Adelino Lorenzoni Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002 189 indicadores de uma recessão e que a tradição protecionista norte- americana foi retomada a pleno vapor favorecendo suas corporações. Apartir deste momento os EUA destruío as estruturas de acumulação do capitalismo de mercado Britânico e centralizou a liquidez, o poder aquisitivo e a capacidade produtiva da economia mundial, pois, propiciava de um imenso mercado domestico. No texto referente ao ultimo capítulo o autor comenta sobre a dinâmica da crise global, descrevendo que as expansões financeiras são características do capital e da intensificação das pressões competitivas assim como das grandes expansões do comércio e produção mundiais. Logo a seguir Arrighi expõe que a substituição das taxas de câmbio fixas por taxas flexíveis resultou não apenas a um refreamento, mas a uma aceleração da tendência dos governos das nações desenvolvidas sobre a produção e regulação do dinheiro mundial. O autor ainda relata que em última instância, essa competição entre os capitais privados e públicos não beneficiou nem o governo dos E.U.A nem as empresas norte- americanas; em suma, o texto demonstra que as tentativas do governo dos E.U.A de preservar o controle sobre o capital transnacionalizado, lançando mão de meios legais e de políticas monetárias frouxas foram ineficazes. Uma última observação do autor refere-se a posições de autores sobre a sobrevivência do capitalismo, para Shumpeter a substituição da competição perfeita pelas práticas monopolistas enfraqueceria a capacidade fundamental que o capitalismo demonstrara antes, de superar suas crises recorrentes, e gerar ao longo do tempo grandes aumentos de renda per capita. Polany por sua vez segue a idéia oitocentista de um mercado auto regulador, no entanto essa idéia, afirmou ele, implicava uma perfeita utopia e segundo Arrighi a questão mais pertinente parecia ser a morte do capitalismo. A respeito do livro cabe enfatizar que se trata de uma contribuição extremamente valiosa para os estudiosos sobre o processo de evolução e formação das economias no Século XX.
  • 6. Resenha Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002190 Recebido: novembro/2002