Este documento apresenta a biografia de José Saramago, desde seu nascimento na pequena aldeia portuguesa de Azinhaga até seu casamento com Pilar del Río. Apresenta detalhes sobre sua educação, carreira como escritor e o impacto de sua mudança para a ilha de Lanzarote.
1. “Escrever é traduzir.
Mesmo quando
estivermos a utilizar
a nossa própria língua.
Transportamos o que vemos
e o que sentimos
para um código
convencional de
signos, a escrita...”
2. “...e deixamos às
circunstâncias e aos acasos
da comunicação
a responsabilidade de
fazer chegar à inteligência
do leitor,
não tanto a integridade da experiência
que nos propusemos transmitir,...”
3. “...mas uma sombra,
ao menos,
do que no fundo do
nosso espírito
sabemos bem
ser intraduzível,
por exemplo...”
4. “...a emoção pura
de um encontro,
o deslumbramento
de uma descoberta,
esse instante fugaz
de silêncio anterior à
palavra que vai ficar na memória como o rasto de
um sonho que o tempo não apagará por completo.”
José Saramago
8. Jerónimo e Josefa
estão particularmente
felizes hoje, 16 de
novembro de 1922,
pois é o dia que viu nascer
o seu mais novo neto,
a quem o destino
conferiu o nome de
José Saramago.
9. Livros e letras
não fazem parte
da rotina deste casal
de camponeses,
bem como de tantos
outros vizinhos.
As poucas palavras
faladas lhes servem
aos propósitos, e o seu
mundo é o quintal
que em breves minutos
percorremos.
10. Na primavera de 1924,
os pais de Saramago,
Maria da Piedade
e José de Sousa,
abandonam o seio
do campo e se mudam
para Lisboa,
onde ele conseguiu
um novo trabalho como
policial do trânsito.
11. Em Lisboa,
Maria da Piedade
passa a cuidar dos
afazeres domésticos,
e se dedica aos filhos,
Francisco, de quatro anos,
e José Saramago, que
conta com dois anos
de idade.
12. No mês de dezembro
do mesmo ano em que se
mudam para Lisboa,
o filho mais velho
do casal, Francisco,
com apenas quatro
anos de idade,
morre de
broncopneumonia.
15. Sua mãe o envia nas férias
para Azinhaga, para
o contato com o campo
e com os avós maternos.
16. E nas temporadas que passa na aldeia dos avós,
o pequeno José sente-se feliz como um pássaro livre.
17. O contato com a Natureza – a inocência,
cheia de beleza e serenidade, das coisas puras.
18. Os peixes que, nadando velozes, mantêm-se,
por vezes, imóveis contra a força da corrente...
19. Anos mais tarde, recordará Saramago
algumas lembranças do avô Jerónimo:...
20. “Recordo daquelas
noites mornas de Verão,
quando dormíamos
debaixo da figueira
grande,
ouço-o falar
da vida que teve,
das histórias e lendas
da sua infância
distante.”
22. As lembranças da
pequena aldeia
e o tempo passado na
companhia dos avós
– as grandes referências
morais e sentimentais
na sua vida –
acompanharão
o pequeno José pelos
anos e décadas
vindouros.
23. O tempo passa e
transforma crianças
em jovens adultos.
24. Por falta de recursos,
Saramago não
chega a concluir
o secundário,
trocando os estudos
acadêmicos pelo
curso de serralharia
mecânica numa escola
técnica de Lisboa.
25. Aos dezenove anos
passa a trabalhar num
hospital, fazendo a
manutenção do
maquinário.
Com o trabalho a
consumir as horas do dia,
cultiva a rotina de dedicar
a noite à leitura.
26. Todas as noites,
depois de jantar,
vai a pé, apesar da longa
distância, até a biblioteca
pública de Lisboa,
onde permanece até
a hora de fechar,
lendo tudo o que pode.
São estas leituras as suas
aulas, o seu professor,
o seu mestre...
27. “Como gostava de,
um dia, começar a escrever,
afinal, ser um escritor!
E ser escritor era para
o jovem José
uma reflexão sobre a vida
e os seus absurdos...”
Sobre esta fase,
recordará anos
mais tarde:...
28. “Guiado talvez pela
beleza da persistência,
ainda que trêmula,
de uma daquelas estrelas
que vira no céu
na casa do avô Jerónimo
e da avó Josefa,
decidiu ser todo uma só
vontade, todo um
atrevimento e lançou-se
no voo alto de escrever...”
29. Em 1944, aos 22 anos
de idade, casa-se com a
pintora Ilda Reis,
sendo que três anos mais
tarde, em 1947, nasce
a filha, que recebe
o nome Violante.
Neste ano também
publica o seu primeiro
livro, ‘Terra do Pecado’.
31. Pais e filhos – a convivência gera laços;
no entanto, o amor, a admiração
e o carinho necessitam ser construídos.
32. Leva tempo, atenção e cuidado
arar a terra que fecunda
afeição e ternura, respeito e carinho.
33. Leva tempo, atenção e cuidado
arar a terra que fecunda
afeição e ternura, respeito e carinho.
José Saramago
e Violante
às margens
do rio Almonda
Azinhaga, 1951
34. “A expressão
vocabular humana
não sabe ainda
e provavelmente
não o saberá nunca,
conhecer, reconhecer
e comunicar
tudo quanto é
humanamente
experimentável
e sensível.”
José Saramago
35. “A expressão
vocabular humana
não sabe ainda
e provavelmente
não o saberá nunca,
conhecer, reconhecer
e comunicar
tudo quanto é
humanamente
experimentável
e sensível.”
José Saramago
José Saramago
e Violante
Azinhaga, 1953
36. Embora tenha seu
primeiro livro,
‘Terra do Pecado’,
ignorado pela crítica,
Saramago continua
a escrever, tendo
diversos contos e
crônicas publicados em
jornais e revistas.
37. A sua paixão pela
literatura leva-o
a conseguir posições
de certo destaque
no meio editorial,
atuando como
colunista, revisor,
tradutor e
crítico literário.
39. Saramago passa a ocupar
diversas funções,
como coordenador do
suplemento de cultura do
jornal ‘Diário de Lisboa’,
e diretor-adjunto do
‘Diário de Notícias’.
40. Em 1970,
Saramago
e Ilda Reis se
divorciam.
E em 1975,
ao deixar a
função de
editorialista do
jornal onde
trabalha,
resolve dedicar-se
exclusivamente
à literatura.
41. Em 1980, aos 58
anos de idade,
Saramago publica
o seu segundo
romance, chamado
“Levantado
do Chão”.
42. Desta vez,
a acolhida é
bem diferente;
a obra é recebida
com êxito, tanto
pela crítica,
quanto pelo público,
em Portugal.
43. Aos sessenta e poucos
anos de idade
Saramago dá início
a uma tardia e
improvável carreira
literária.
Os livros que se seguem
nos anos seguintes são
igualmente aclamados
pelo país afora.
44. Estamos em 1986,
Saramago encontra-se
com 63 anos de idade.
Separado, com a
filha já adulta.
Realizou o sonho de
escrever e ser lido.
Com um sucesso
considerável em Portugal ,
parece um homem satisfeito
com a vida que lhe
fora destinada.
45. “Aos 63 anos de idade,
o que um homem pode
ainda esperar da vida?...”
afirmaria numa
entrevista,
“Não muito...”.
46. Mas o futuro
ainda lhe reserva
algumas surpresas...
( fim da primeira parte
desta apresentação )
47. 1986 - Sevilha, Espanha.
Uma jornalista espanhola, nos seus trinta
e poucos anos, passeia por uma livraria
à procura de títulos interessantes.
48. Ao passar por uma estante que contém alguns
livros separados para serem devolvidos à
editora, se depara com um título
que chama sua atenção.
49. Mesmo sem ter ouvido falar do autor,
ela resolve comprar o livro, sem poder imaginar
as consequências que tal decisão,
aparentemente trivial, poderá ter.
50. Coincidências da vida, dirão alguns,
enquanto outros atribuirão o ocorrido
ao destino, ao acaso, ao inevitável...
51. O livro se chama
‘Memorial do Convento’.
E a jovem jornalista
que o acaba de
adquirir, Pilar
del Río.
53. Pilar gosta tanto do livro que
compra vários exemplares para
presentear às melhores amigas,
comentando sua grande vontade
de conhecer esse
homem capaz de
tocar tanto a
alma feminina
através de
Blimunda.
54. Ela procura outros livros de
Saramago, e diante da revelação
e fascinação sentida
após cada leitura, resolve entrar em
contato com o autor.
55. Pilar recordará mais tarde:
“Senti que tinha a obrigação moral de
dizer a José Saramago o que tinha
experimentado. Um autor só acaba a
sua obra quando o livro é lido e
entendido.
E eu queria
dizer-lhe:
completou-se o ciclo,
li-o e entendi.”
56. Uma bela tarde,
toca o telefone na
casa de Saramago.
Pilar se identifica,
dizendo ser uma
leitora e admiradora.
Conversam sobre
os livros de Saramago,
sobre a literatura,
sobre a vida...
57. E ao fim da
conversa, combinam
de se encontrar numa
cafeteria em Lisboa,
para uma entrevista
que Pilar propõe
realizar para o jornal
em que trabalha.
58. Por ocasião do encontro,
aproveitam para passear
pela cidade de Lisboa, e
falam de quase tudo.
Depois, ela retorna
para Sevilha.
“Com uma
estranha paz.”
59. No dia seguinte, Saramago retribui a visita de
Pilar a Lisboa, enviando-lhe uma carta,
acompanhada de rosas.
60. Caminhos que se entrecruzam,
vidas prestes a se mudar para sempre...
61. Coincidências da vida, dirão alguns.
O destino, o acaso, o inevitável,
afirmarão outros...
62. Há quem afirme que as histórias de amor,
todas elas, desde o início dos tempos,
se parecem, se repetem.
63. O que muda são os nomes,
os detalhes,
os corações...
64. As idas e vindas entre Sevilha e Lisboa,
onde Pilar e Saramago residem, respectivamente,
passam a se tornar cada vez mais frequentes.
65. Os 28 anos de vida que separam Pilar,
com 34 anos, e Saramago, 63, se tornam um
mero detalhe diante do amor que sentem.
72. “A Pilar,
os dias todos”
“A Pilar,
até ao último
“A Pilar,
minha casa”
73. Com a mudança para Lisboa,
Pilar abandona a carreira jornalística
que exercia na televisão espanhola.
74. É a primeira leitora dos textos
de Saramago, e a tradutora das obras
do marido para o espanhol.
75. Em 1991, Saramago
publica o livro
“O Evangelho segundo
Jesus Cristo”,
onde conta a história
de Jesus de forma
moderna, sob um
olhar narrativo que
humaniza Cristo.
76. Em 1992, a Secretaria
de Cultura de Portugal
veta a inscrição do livro
na disputa do Prêmio
Literário Europeu,
por considerá-lo
“ofensivo para o catolicismo
do povo português.”
77. Em reação a tal veto,
que considera censório,
Saramago se muda
de Portugal,
passando a fixar
residência na
ilha de Lanzarote,
Ilhas Canárias.
78. E é em seu escritório em Lanzarote
que Saramago escreve um de seus romances mais
conhecidos – “Ensaio sobre a Cegueira”.
79. Escrito em 1995, próximo à virada do milênio, o
romance aborda uma epidemia de cegueira
repentina que acomete a inteira população de uma
cidade.
80. A cegueira como uma alegoria para o estado
de crise por que passa a atual sociedade,
onde, frequentemente, os limites entre
civilização e barbárie são rompidos.
81. A cegueira como uma alegoria para o estado
de crise por que passa a atual sociedade,
...
A cegueira descrita
no livro é uma
“cegueira branca”,
pastosa, como se
alguém tivesse
mergulhado de
olhos abertos num
“mar de leite”.
83. Uma cegueira por
vezes associada ao
avanço irrefreado
do consumismo e
do materialismo,
que faz com que
os homens percam a
consciência de si, se
deformem,
se massifiquem e
se barbarizem.
84. Uma cegueira
que promove a
ruptura com a
nossa própria
essência –
a compaixão,
o cuidado,
a solidariedade...
87. “Somos a memória
que temos
e a responsabilidade
que assumimos.
Sem memória
não existimos,
sem responsabilidade
talvez não mereçamos
existir.”
José Saramago
88. 1995 – Saramago
recebe o Prêmio
Camões, o mais
importante da
literatura da língua
portuguesa.
89. 1998 – Recebe o
Prêmio Nobel de
Literatura,
tornando-se o
primeiro autor da
língua portuguesa a
receber a homenagem.
90. 1998 – Recebe o
Prêmio Nobel de
Literatura,
tornando-se o
primeiro autor da
língua portuguesa a
receber a homenagem.
91. Saramago, aos 76 anos de
idade, recebe o Prêmio Nobel
das mãos do rei da Suécia.
Estocolmo, 1998
92. Ao receber o prêmio, Saramago inicia seu discurso
com uma homenagem ao avô, o camponês Jerónimo
Melrinho, o que também pode ser visto como
uma crítica à pompa das instituições literárias:...
93. “O homem mais sábio que conheci
em toda minha vida não sabia
ler nem escrever...”
94. E passa a discorrer sobre memórias de sua infância,
suas fontes de inspiração e formação, e sobre alguns
de seus principais livros e personagens.
95. Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se
uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.
96. Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se
uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.
O público leitor de Saramago multiplica-se.
Os livros são traduzidos em 42 línguas,
publicados em 53 países, e vendem milhões de
exemplares mundo afora.
97. Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se uma
nova fase na vida de Saramago e Pilar.
O público leitor de Saramago multiplica-se.
Os livros são traduzidos em 42 línguas,
publicados em 53 países, e vendem milhões de
exemplares mundo afora.
99. “Acho que na sociedade actual
nos falta filosofia...”
100. “Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do
trabalho de pensar, e parece-me que,
sem idéias, não vamos a parte nenhuma.”
101. “Falamos muito ao longo destes últimos anos dos
direitos humanos; simplesmente deixamos de falar
de uma coisa muito simples,...”
102. “...que são os deveres humanos, que são sempre
deveres em relação aos outros, sobretudo.
E é essa indiferença em relação ao outro,
essa espécie de desprezo do outro,...”
103. “...que eu me pergunto se tem algum sentido
numa situação ou no quadro de existência
de uma espécie que se diz racional.”
104. “...que eu me pergunto se tem algum sentido
numa situação ou no quadro de existência
de uma espécie que se diz racional.”
“O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de
generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano,
tudo isto contribui
para essa perniciosa
forma de
cegueira mental...”
105. “...que consiste em estar no
mundo e não ver o mundo
ou só ver dele o que,
em cada momento, for
susceptível de servir os
nossos interesses.”
106. “Temos que acreditar nalguma coisa e, sobretudo,
temos de ter um sentimento de responsabilidade
colectiva, segundo o qual
cada um de nós será
responsável por
todos os outros.”
107. “A prioridade absoluta tem
de ser o ser humano.
Acima dessa não reconheço
nenhuma outra
prioridade.”
José Saramago
108. E fazendo uso do
espaço, da atenção e
notoriedade conferidos
pelo prêmio Nobel,
Saramago denuncia as
injustiças sociais, e
defende com coração e
alma as causas que
abraça:...
109. Os cuidados com a infância;
A educação de qualidade;
Os direitos dos povos nativos
da América Latina;
O combate à
violência doméstica;
A luta pelo fim dos
maus-tratos contra animais;
A questão dos refugiados;
O sofrimento do povo palestino;
dentre tantas outras.
110. Aos oitenta anos de idade,
guarda o vigor juvenil
de se revoltar contra
toda injustiça, e
não permite que se
morra nele o desejo de
mudar o mundo.
O engajamento sempre em
prol do humanismo.
111. “Estou convencido
de que é preciso continuar
a dizer não,
mesmo que se trate
de uma voz pregando
no deserto.”
José Saramago
112. “Estou convencido
de que é preciso continuar
a dizer não,
mesmo que se trate
de uma voz pregando
no deserto.”
José Saramago
Em 2007, aos 85 anos, Saramago é agraciado com
o prêmio “Amigo das Crianças”, concedido pela
fundação ‘Save the Children’.
113. Segundo a fundação, o prêmio é um reconhecimento
ao grande empenho na procura de “um mundo melhor
em que todas as crianças tenham esperança e
oportunidades”,...
114. ...salientando, ainda, o “compromisso ativo pela
paz” e o “apoio continuado às campanhas e projectos
relacionados com a infância e com
os mais desfavorecidos”.
115. Dentre os livros de Saramago encontra-se
um dedicado ao público infantil
– “A Maior Flor do Mundo”.
117. Pilar é uma companhia constante nos
intermináveis compromissos e viagens.
118. Igualmente defensora de inúmeras causas
humanitárias, atua como confidente, conselheira,
tradutora e é quem organiza a agenda do marido.
119. Estão sempre juntos – em Lisboa e Lanzarote
ou pelo mundo – e de mãos dadas.
120. Estão sempre juntos – em Lisboa e Lanzarote
ou pelo mundo – e de mãos dadas.
Um amor e uma admiração singulares –
a aura envolvente que raros casais emitem...
121. “Pilar, se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te
conhecer, morreria muito mais velho do que serei
quando chegar a minha hora.” José Saramago
122. “Pilar, se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te
conhecer, morreria muito mais velho do que serei
quando chegar a minha hora.” José Saramago
Em meio às constantes viagens, é na residência
em Lanzarote, com vista para o mar, que
Saramago recompõe as energias e se restabelece.
123. E mesmo com a agenda corrida, ele reserva tempo para
escrever ao menos duas páginas diárias – que totalizará
um livro ao fim de um ano, conforme observa.
140. “O homem é o
único animal
capaz de chorar.
É diante do mar
que o riso e a
lágrima assumem
uma importância
absoluta.”
E de sorrir.
141. “Dir-se-á que mais
profundamente a
assumiriam diante
do universo,
mas esse, digo eu,
está demasiado
longe, fora do
alcance duma
compreensão
comum.”
142. “O mar é
o universo
perto de nós.”
José Saramago
143. Em 2007, Saramago é hospitalizado durante longos
meses, devido a uma grave doença respiratória.
144. Tão logo se recupera, conclui o livro
“A Viagem do Elefante”,...
145. ...e faz questão de viajar para o Brasil, aos 85 anos de
idade, para o lançamento mundial da obra.
146. ...e faz questão de viajar para o Brasil, aos 85 anos de
idade, para o lançamento mundial da obra.
A escolha do Brasil para o
lançamento mundial é um
presente ao carinho e amizade
dos brasileiros.
148. A notória lucidez e
a acuidade da sua
reflexão filosófica
permanecem
inabaláveis,
contrastando cada
dia mais com a
saúde física
debilitada.
149. “A vida é como
uma vela que vai
ardendo,
quando chega ao fim
lança uma chama
mais forte antes de
se extinguir.”
150. “Creio que estou
no período da
última chama...”,
afirma Saramago
diante das crescentes
limitações impostas
pela saúde frágil .
151. Janeiro de 2010 –
Haiti é sacudido por um
forte tremor, que deixa
milhares de mortos, feridos
e desabrigados.
152. Saramago, aos 87 anos de idade,
já não tem a força nem a saúde
para empreender viagem, de modo
a levar a sua solidariedade
àqueles que sofrem.
153. Apesar da distância, desde a
ilha de Lanzarote, encontra
um meio de contribuir, e de
lançar o seu incansável apelo
para a humanidade.
154. Ele convence sua editora a
publicar uma edição especial do livro
“Jangada de Pedra”, que terá a
renda revertida integralmente
em prol do povo haitiano.
155. Mais que um gesto de ajuda,
um sopro de alento, nestes
dias de fria indiferença,
nestes tempos tão desprovidos
de compaixão social e caridade.
156. – Uma ‘Jangada de Pedra’
a caminho do Haiti –
“Porque todos temos
uma obrigação.”
José Saramago
157. Abril de 2010, a saúde física de Saramago
a tal ponto está debilitada que o seu médico
lhe impõe repouso absoluto.
158. O repouso absoluto, observa o médico,
abrange também a escrita, ou seja,
Saramago deverá parar de escrever.
159. Diante da renúncia derradeira à escrita
que acaba de ser imposta ao esposo,
Pilar sente que a recuperação será um milagre.
160. “...enganadora é sim
a luz do dia,
faz da vida uma sobra
apenas recortada,
só a noite é lúcida,
porém o sono
a vence,...”
161. “...talvez para nosso
sossego e descanso,
paz à alma
dos vivos.”
(em ‘O Ano da Morte
de Ricardo Reis’)
José Saramago
167. Ele está aqui e não está, mas sorri.
“...o espírito não vai
a lado nenhum sem
as pernas do corpo,
José Saramago
(em ‘Todos
os Nomes’)
e o corpo não seria
capaz de mover-se se
lhe faltassem as asas
do espírito.”
168. No dia 18 de junho,
depois de uma noite
serena e tranquila,
Saramago falece na sua
residência em Lanzarote,
acompanhado de Pilar e
de sua família,
“despedindo-se de forma
serena e plácida.”
169. Em se havendo
outros mundos,
e havendo lá também
oprimidos e necessitados,
estes ganharam
uma voz a defendê-los e
quem se importe com eles...
170. estes ganharam
uma voz a defendê-los e
quem se importe com eles...
E em se havendo
outros mundos ainda,
talvez lá tenham
se reencontrado
o pequeno José
e os avós tão amados,
Josefa e Jerónimo.
171. “Dentro de nós
há uma coisa que
não tem nome,
essa coisa é
o que somos.”
José Saramago
172. Segundo o amigo e
teólogo Leonardo Boff,
Saramago cultivava
“a espiritualidade como
sentimento do mistério
do mundo,,
da profundidade
humana
e do amor
aos oprimidos.”
173. Leonardo Boff descreve a
tarde que ele e a esposa,
Márcia, passaram
na companhia
de Saramago e Pilar
como “um festim de
espiritualidade”.
174. “Ganhamos um amigo
e a fé me diz que
ele agora mergulhou
naquele Mistério de amor
que sempre buscou.”
Leonardo Boff
175.
176.
177. “Quando me for deste mundo,
partirão duas pessoas.
José Saramago
Sairei, de mão dada, com essa criança que fui”.