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Poema da Água Raul Machado A água também nasce pequenina nasce gota de orvalho ou de neblina...
A água também tem a sua infância  quando apenas riacho cantarola brinca de roda nos redemoinhos salta os seixos que encontra  e faz apostas de corrida - travessa - por entre as grotas e escarpados,  arranca as flores que a marginam para engrinaldar  a cabeleira solta sobre o leito revolto das areias...
A água também tem adolescência  sonha lagos românticos à lua fitando os astros namorados dela embevecida em seus olhos de ouro... e assim sempre amorosa e sonhadora vai tecendo e bordando - dia e noite o seu vestido de noiva nas montanhas  e o seu véu de noivado nas cascatas...
A água também tem maturidade  fica serena e grave em rios fundos e num destino generoso e amigo espalha a vida que em si mesma encerra semeia bênçãos para o grão de trigo  abre caminhos líquidos da terra e enlaça os povos através dos mares...
A água também tem sua velhice  e de ver-lhe os cabelos muitos brancos onda lenta de espuma  destrinçada em neve, nos ares flutuando... A água também sofre... e quando sofre se faz divina e vem brilhar em lágrimas ou se reflete a dor  da  natureza geme no vento transformada em chuva.
A água também morre... e quando seca e a sua morte entristece  tudo: choram-lhe, enfim na desolação, todos os seres vivos que a rodeiam porque ela é o seio maternal da vida  e de tal maneira ama seus filhos rudes que muitas vezes para os salvar se deixa ficar sem o murmúrio de uma queixa prisioneira de poços e açudes...
Bendita seja, pois, água divina que fecunda, consola, dessedenta, purifica, e que, desde pequenina, feita gota de orvalho, mata a sede das plantas entre abertas e prepara o festivo esplendor da primavera... e que, nascida em píncaros da serra vem de tão alto, procurando sempre ter um fim de planície e de humildade até perder, na última renúncia, o nome de batismo de seus rios para ficar anônima nos mares. Música: Early Autumn w_ Ronnie Aldrich Montagem: [email_address] www.pranos.com.br

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  • 1. Poema da Água Raul Machado A água também nasce pequenina nasce gota de orvalho ou de neblina...
  • 2. A água também tem a sua infância quando apenas riacho cantarola brinca de roda nos redemoinhos salta os seixos que encontra e faz apostas de corrida - travessa - por entre as grotas e escarpados, arranca as flores que a marginam para engrinaldar a cabeleira solta sobre o leito revolto das areias...
  • 3. A água também tem adolescência sonha lagos românticos à lua fitando os astros namorados dela embevecida em seus olhos de ouro... e assim sempre amorosa e sonhadora vai tecendo e bordando - dia e noite o seu vestido de noiva nas montanhas e o seu véu de noivado nas cascatas...
  • 4. A água também tem maturidade fica serena e grave em rios fundos e num destino generoso e amigo espalha a vida que em si mesma encerra semeia bênçãos para o grão de trigo abre caminhos líquidos da terra e enlaça os povos através dos mares...
  • 5. A água também tem sua velhice e de ver-lhe os cabelos muitos brancos onda lenta de espuma destrinçada em neve, nos ares flutuando... A água também sofre... e quando sofre se faz divina e vem brilhar em lágrimas ou se reflete a dor da natureza geme no vento transformada em chuva.
  • 6. A água também morre... e quando seca e a sua morte entristece tudo: choram-lhe, enfim na desolação, todos os seres vivos que a rodeiam porque ela é o seio maternal da vida e de tal maneira ama seus filhos rudes que muitas vezes para os salvar se deixa ficar sem o murmúrio de uma queixa prisioneira de poços e açudes...
  • 7. Bendita seja, pois, água divina que fecunda, consola, dessedenta, purifica, e que, desde pequenina, feita gota de orvalho, mata a sede das plantas entre abertas e prepara o festivo esplendor da primavera... e que, nascida em píncaros da serra vem de tão alto, procurando sempre ter um fim de planície e de humildade até perder, na última renúncia, o nome de batismo de seus rios para ficar anônima nos mares. Música: Early Autumn w_ Ronnie Aldrich Montagem: [email_address] www.pranos.com.br