O documento descreve dois registros da marreca-de-coleira (Callonetta leucophrys) no Vale do Paraíba Paulista, São Paulo. O primeiro registro ocorreu em 1987 quando um macho adulto foi coletado. O segundo registro foi de um casal fotografado em 2010 em um córrego na fazenda Táira. Os poucos registros anteriores se devem à falta de observadores de aves e à degradação do habitat na planície do Rio Paraíba do Sul.
Primeiro registro do Mocho-diabo, Asio stygius, para o estado do Espírito Santo
1. Novo registro da marreca-de-coleira
Callonetta leucophrys para o Vale do Paraíba Paulista
Rodrigo Dela Rosa de Souza¹ observadores de aves na região em anos an-
teriores, número atualmente muito superior,
A marreca-de-coleira, Callonetta leuco- e pela extensa área da planície aluvial do Rio
phrys (Anseriformes: Anatidae), é uma espé- Paraíba do Sul, que hoje se encontra total-
cie meridional pequena. Ocorre do norte da mente descaracterizada por ação antrópica,
Argentina à Bolívia, Paraguai e Brasil, nos não oferecendo mais habitats adequados para
estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul, espécies migrantes, principalmente da famí-
São Paulo, Minas Gerais1 e Mato Grosso do lia Anatidae.
Sul2.
Possui área de reprodução principalmente Agradecimento
no sul da Bolívia e Noroeste da Argentina3. A Tomaz Melo pelas correções e apoio na
No estado de São Paulo os dados de ocorrên- elaboração desta nota e Priscila Fernandes
cia são considerados deficientes4. Migrante pela companhia nas saídas a campo para ob-
austral parece visitar esporadicamente a re- Figura 1. Casal de marreca-de-coleira servação de aves.
gião do Vale do Paraíba no inverno5. (Callonetta leucophrys) em um banco de areia do córrego
O primeiro registro documentado da es- Pararangaba (Foto: Rodrigo Dela Rosa de Souza). Referências bibliográficas
pécie para o estado de São Paulo ocorreu planície aluvial da Bacia do Rio Paraíba do (1) Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira; (2) Nunes,
no município de Pindamonhangaba locali- Sul, distrito de Eugênio de Melo, São José A.P. & W.M. Tomas (2008) Aves migratórias e
zado na região do Vale do Paraíba, quando dos Campos. nômades ocorrentes no Pantanal; (3) Groms
(2008) Global Register of Migratory Species.
na noite de 8 de Julho de 1987 o Dr. Her- No dia 4 de agosto de 2010 às 10:00 h
<http://www.groms.de>; (4) Silveira, L.F et al.
culano Alvarenga, ornitólogo do Museu de o casal foi novamente avistado no mesmo (2009) In: Fauna ameaçada de extinção no es-
História Natural de Taubaté, coletou uma de local se alimentando nas águas do córrego, tado de São Paulo: Vertebrados; (5) Alvarenga,
duas marrecas que sobrevoavam uma lagoa, junto a casais de Amazonetta brasiliensis. H.M.F. (1990) Ararajuba 1: 115-117.
tratando-se de um macho adulto. No dia 9 de agosto de 2010 às 15:00 h o ca-
O segundo registro para a região do Vale sal foi avistado ao lado do córrego a apro- ¹Programa de graduação em
do Paraíba Paulista ocorreu no dia 2 de agos- ximadamente 100 m da estrada, sendo esta Ciências Biológicas pela Universidade
to de 2010 quando foi fotografado um casal a última vez que foi avistado. do Vale do Paraíba, “UNIVAP”,
pousado em um banco de areia do córrego Os poucos registros da marreca-de-colei- Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova,
Pararangaba (Figura 1) na fazenda Táira, ra para a região Valeparaibana deve-se, em CEP: 12244-000, São José dos Campos-SP.
(23º08’13”S e 45º47’57”W), localizada na parte, ao reduzido número de ornitólogos e E-mail: rdrsouza@yahoo.com.br
Primeiro registro do mocho-diabo,
Asio stygius, para o estado do Espírito Santo
Gabriel Silva dos Santos¹, foi levado ao MBML no mesmo dia para
Sérgio Lucena Mendes¹ & tratamento. A inexistência de qualquer ou-
José Fernando Pacheco² tra ocorrência de recolhimento de coruja
nos meses de março e abril de 2011 pela
A distribuição do mocho-diabo (Asio mencionada corporação reforça a hipótese
stygius; Strigiformes: Strigidae) se estende de que se trate do mesmo espécime.
do norte do México ao norte da Argenti-
na 1,2. Ainda que constem ocorrências es- Referências bibliográficas
parsas em todas as regiões do Brasil 3,4 sua (1) Holt, D.W. et al. (1999) Handbook of the Birds
of the World, vol. 5; (2) Koenig, C. & F. Weick
ocorrência é aparentemente mais contínua (2008) Owls of the World; (3) Sick, H. (1997)
e regular em certas partes da região Sul e Ornitologia Brasileira; (4) Grantsau, R. (2010)
Sudeste, incluindo áreas verdes inseridas Guia Completo para Identificação das Aves do
em metrópoles 5,6,7. Brasil, vol. 1; (5) Melo-Junior, T.A. et al. (1996)
Ararajuba 4:34-38; (6) Inventário da Fauna do
Essa espécie não foi relacionada nas lis- Município de São Paulo (2006) Diário Oficial
tas de aves publicadas dessa Unidade da 51(104); (7) Straube, F.C. et al. (2009) Aves de
Federação 8,9. Curitiba; (8) Pacheco, J.F. & C. Bauer (2001) In:
Figura 1. Indivíduo de Asio stygius nas Ornitologia e Conservação: da Ciência às Es-
Um indivíduo recolhido pela Polícia Mi- dependências do Museu de Biologia Profº Mello tratégias. (9) Simon, J.E. (2009) In: XVII Con-
litar Ambiental do município de Santa Te- Leitão, resgatado ferido provavelmente em gresso Brasileiro de Ornitologia.
resa e levado ao Museu de Biologia Profº Itaguaçu, ES (Foto: Gabriel Silva dos Santos).
Mello Leitão (MBML) para tratamento de motivos para acreditar que a coruja foto- ¹Laboratório de Biologia da
um ferimento na asa, onde foi fotografado grafada no museu se trate do Registro de Conservação de Vertebrados,
(Figura 1) no dia 8 de Abril de 2011. Ocorrência Ambiental (ROA) Nº11220100, Departamento de Ciências Biológicas da
A importância científica deste espécime referente ao recolhimento de uma coruja Universidade Federal do Espírito Santo.
só foi reconhecida algum tempo depois, no (espécie não identificada) com ferimento Correspondência para:
entanto não foi possível rastrear o destino na asa esquerda no centro urbano do muni- ssantos.gabriel@gmail.com
do animal ou mesmo de sua pele. Consul- cípio de Itaguaçu (c. 19º 48’ S, 40º 51’ W) ²Comitê Brasileiro de
tamos a citada corporação policial e temos no dia 7 de Abril de 2011, quando o animal Registros Ornitológicos
Atualidades Ornitológicas Nº 169 - Setembro/Outubro 2012 - www.ao.com.br 21