Carta Pastoral da Câmara dos Bispos da IEAB sobre eleições
Mensagem de Quaresma da Diocese Sul-Ocidental
1. IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL
DIOCESE SUL-OCIDENTAL
Gabinete do Bispo
Mensagem de Quaresma
Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica,
moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e
sem hipocrisia.(Tg 3:17)
Irmãos e Irmãs
Graça e Paz!
Nossa diocese foi atingida nestes últimos dias por uma tragédia inimaginável.
238 jovens perderam a vida e outros 130 sofreram graves ferimentos. Este
evento traumático nos afetará por muitos anos ainda. Como Igreja, nos
dedicamos a oferecer solidariedade às familias e aos amigos das vítimas
ajudando-as espiritualmente e emocionalmente.
Ficam lições importantes de tudo isso. A primeira lição foi a solidariedade.
Em todos os momentos após a tragédia foi um consolo ver a dedicação de
pessoas em oferecer seus conhecimentos e, mais que isso, seu trabalho
incansável para que toda a assistência pudesse ser oferecida às vitimas e
suas familias.
A segunda lição foi a criação de uma rede intercessória que reuniu Igrejas e
religiões em favor das famílias. Parece que Santa Maria renovou a fé e,
diante de tamanha tragédia, as pessoas se voltaram para Deus, cada uma
em sua dor, na busca de explicações, conforto e esperança.
A terceira lição foi o despertar da consciência diante de uma tragédia que
podia ser evitada se não tivesse prevalecido o principio do lucro em
detrimento de políticas públicas de segurança. Há agora uma clara
mobilização da sociedade para que se cumpram regras de segurança
mínima que garantam a integridade física das pessoas. E, na esteria desta
2. consciência desperta, há uma mudança de atitude em relação à
responsabilidade dos gestores públicos.
Esta Quaresma que vamos iniciar deve se revestir de um caráter especial.
Liturgicamente ela é um período de introspecção. Um período que devemos
nos voltar com mais afinco para a leitura da Bíblia e para a oração. Estes
dois caminhos nos levam a compreender melhor a natureza de nosso Deus
e compreender a nossa própria natureza. E, se vamos honestamente nestas
direções, concluímos que estamos muito longe de sermos o que Deus
espera que sejamos.
Nossa tendência natural é assumirmos uma postura de autosuficiência. Tudo
podemos e tudo queremos numa espiral que cresce vertiginosamente e que
afeta nossas relações com nosso próximo e com o mundo. Parece que as
pessoas e as coisas só tem importancia na medida em que nos satisfazem.
E ai vem um falso conceito de felicidade. Somos felizes na medida em que
tudo acontece a favor de nossos desejos e necessidades (as vezes falsas
necessidades).
Devemos estar conscientes, no entanto, de que não somos semi-deuses.
Somos frágeis e as leis da natureza bem como as leis espirituais não podem
ser desconsideradas. Precisamos viver de forma a não esquecermos que a
vontade de Deus para nós é que vivamos em harmonia conosco mesmos,
com nossos semelhantes e com o próprio Deus. Esta harmonia não é
conseguida sem esforço, disciplina e abertura para o que Deus pede de nós.
Nesta Quaresma, irmãos e irmãs, somos desafiados a buscar a sabedoria
divina para dirigir nossas vidas. Esta sabedoria precisa ser adquirida para
que nossos atos e palavras tenham um tempero adequado que vai construir
relações pessoais e sociais mais saudáveis.
Nossa diocese precisa ser reavivada, não no sentido de um avivamento
emocional apenas, mas um reavivamento espiritual que faça com que
vivamos a nossa fé de forma integral. Inclusive com uma atitude diferente em
relação ao sofrimento. Não nos esqueçamos que a Quaresma desemboca na
Semana Santa, onde o próprio Filho de Deus assume as nossas dores. É
importante lembrar que não existe Páscoa sem Paixão.
Nosso clero precisa refletir sobre seus votos de ordenação e avaliar o
quanto está sendo fiel às promessas que foram feitas diante de Deus. Até
onde estamos cumprindo com a nossa vocação? Quais tem sido as nossas
prioridades como pastores e pastoras do rebanho de Cristo? Temos sido
ministros e ministras do povo de Deus ou de nós mesmos? Temos avaliado
nossa agenda e adequado às prioridades e necessidades do nosso
rebanho?
3. Os leigos precisam refletir sobre a aliança batismal que os faz "embaixadores
de Cristo" conforme o apóstolo Paulo nos ensina. Qual tem sido a nossa
atitude como batizados? Estamos de braços abertos para acolher as
pessoas em suas necessidades? Temos cumprido nosso papel como servos
fiéis, ou somos relaxados com os dons que Deus nos dá para frutificar?
Estas questões estão colocadas à nossa frente para aprofundarmos a nossa
peregrinação quaresmal. Que possamos enfrentar estas questões tanto em
nossa devoção privada como em nossa devoção comunitária.
Que tenhamos uma abençoada Quaresma!
Que o Espírito Santo nos ilumine!
Francisco de Assis da Silva, Bispo Diocesano
Jubal Pereira Neves, Bispo Emérito