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Engenharia de Segurança do Trabalho
QUALIDADE DO AR INTERNO
JOSÉ EDSON BASTO
Eng. de Segurança do Trabalho
Eng. Mecânico
ITAJAÍ - 2007
QUALIDADE DO AR INTERNO
SUMÁRIO
TABELAS........................................................................................................................................................... 6
1. A IMPORTÂNCIA DO AR............................................................................................................................. 8
2. QUALIDADE DO AR INTERNO ................................................................................................................. 10
2.2 Requisitos para a Garantia da Qualidade do Ar Interno....................................................................... 14
3. CONFORTO TÉRMICO ............................................................................................................................. 14
3.1 Avaliação do Conforto Térmico............................................................................................................. 16
4. SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO................................................................................................................. 19
4.1 Componentes do Sistema de Climatização .......................................................................................... 20
5. FILTROS DE AR.......................................................................................................................................... 25
6. PADRÕES DE PARTÍCULAS ..................................................................................................................... 27
7. CONTAMINANTES...................................................................................................................................... 31
7.1 Contaminantes Químicos Interiores...................................................................................................... 31
7.1.a Compostos Orgânicos Voláteis .................................................................................................... 31
7.1.b Materiais particulados.................................................................................................................. 32
7.1.c Contaminantes Biológicos.............................................................................................................. 33
7.1.d Componentes Químicos ................................................................................................................ 33
7.1.e Contaminantes gerados por Ocupantes........................................................................................ 34
7.2 Contaminantes Químicos Exteriores..................................................................................................... 34
7.3 Agentes Desconhecidos................................................................................................................. 35
8. DOENÇAS ASSOCIADOS À QUALIDADE DO AR INTERNO.................................................................. 35
8.1 Doenças Ocupacionais Das Vias Aéreas Inferiores ............................................................................. 36
8.1.1 Doença do Legionário ou Legionelose ......................................................................................... 36
8.1.2 Asma Ocupacional........................................................................................................................ 36
8.1.3 Pneumonia..................................................................................................................................... 37
8.1.4 Pneumonite de Hipersensibilidade ............................................................................................... 38
8.1.5 Fibrose Pulmonar Idiopática ......................................................................................................... 38
8.2 Doenças Ocupacionais das Vias Aéreas Superiores ........................................................................... 39
8.2.1 Rinites Alérgicas e Irritativas ......................................................................................................... 39
9. LEGISLAÇÃO SOBRE QUALIDADE DO AR INTERNO............................................................................. 41
10. PADRÕES DE QUALIDADE DO AR........................................................................................................ 44
Parâmetros Físicos............................................................................................................................. 44
Parâmetros Químicos ......................................................................................................................... 44
Parâmetros Biológicos........................................................................................................................ 44
11. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR ................................................................... 46
11.1 Determinação de Parâmetros físicos.................................................................................................. 47
11.2 Controle microbiológico....................................................................................................................... 48
11.3 Determinação de aerodispersóides .................................................................................................. 49
11.4 Determinação de CO (Dióxido de Carbono).................................................................................... 502
11.5 Contador de Partículas ..................................................................................................................... 51
12. MEDIDAS PARA CORREÇÃO DOS PROBLEMAS DE QUALIDADE DO AR........................... 52
12.1 Sistemas de Supervisão e Controle Predial ..................................................................................... 53
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 2
QUALIDADE DO AR INTERNO
12.2 Ionização Negativa............................................................................................................................. 54
12.3 Lâmpadas Ultravioletas...................................................................................................................... 55
13. LIMPEZA E HIGIENIZAÇÃO..................................................................................................................... 55
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................................ 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................ 59
ANEXOS.......................................................................................................................................................... 62
A.1 PORTARIA Nº 3.523, DE 28 DE AGOSTO DE 1998 .................................................................. 62
A.2 RESOLUÇÃO - RE Nº 9, DE 16 DE JANEIRO DE 2003............................................................. 70
A.3 Fluxograma de um Plano de Gerenciamento de Qualidade do Ar .............................................. 79
A.4 GUIA DE CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS EM CONTROLE
DE QUALIDADE DE AR DE INTERIORES. Volume I - Guia nº 01 2003 ....................................................... 80
A.5 RECOMENDAÇÃO NORMATIVA ABRAVA PARA EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA E
HIGIENIZAÇÃO DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE AR......................................................................... 86
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 3
QUALIDADE DO AR INTERNO
Quando você não
respira, nada mais
importa!!!
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 4
QUALIDADE DO AR INTERNO
RESUMO
O presente trabalho pretende apresentar os requisitos para manter a qualidade do ar em ambientes
climatizados, mostrando os principais aspectos que interferem na obtenção de um ambiente salubre e
adequado para a realização das diversas atividades laborais. A insalubridade apresentada em ambientes
climatizados pode ser associada à baixa qualidade do ar insuflado nestes locais, assim como a formação,
movimentação e dispersão de contaminantes. Devido à complexidade de variáveis impostas, assim como a
integração quase constante entre trabalhadores e enfermidades, o Ambiente Hospitalar foi escolhido para
servir como estudo de caso, possibilitando-se avaliar os parâmetros e os requisitos determinantes para o
enfoque do presente trabalho.
Os ambientes chamados “doentes” apresentam uma série de características de insalubridade
provocando diversos sintomas nos ocupantes e por conseqüência, diminuição da produtividade e aumento
do absenteísmo nestas situações. Um dos aspectos principais para minimizar o problema é a necessidade
de se ampliar a discussão acerca das medidas de prevenção e inibição dos fatores nocivos à saúde, assim
como a purificação do ar, a salubridade e o conforto.
Neste sentido é fundamental manter sob análise freqüente os textos da Legislação vigente e as
implicações na garantia da Qualidade do Ar Interno (QAI), visto que as referidas normalizações foram
introduzidas recentemente no âmbito da saúde e segurança do trabalho, estando estas ainda em fase
praticamente experimental.
Um dos objetivos é apresentar um levantamento bibliográfico que permita descrever a importância
da qualidade do ar e os processos envolvidos em um sistema de climatização, além da importância destes
para as atividades desenvolvidas nos ambientes climatizados. Procura-se ainda apresentar os problemas
inerentes, assim como os constituintes nocivos do ar, os quais contribuem para uma série de sintomas
apresentados pelos ocupantes. Apresentados tais fatores é possível determinar e avaliar os requisitos
básicos para a qualidade do ar no interior dos ambientes sujeitos a processos de climatização.
Palavras Chave: Segurança do Trabalho, Qualidade do Ar Interno, Síndrome dos Edifícios Doentes,
Doenças Relacionadas aos Edifícios, Climatização, Ventilação, Ambientes Hospitalares.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 6
TABELAS
TABELA DE CONVERSÃO DE VÁRIAS UNIDADES
Comprimento 1m=3,281pés=39,37pol
Área 1m²=10,76pés²=1.550pol²
Volume 1m³=35,3pés³=1.000litros
Volume 1galão(USA)=3,8litros 1galão(GB)=4,5 litros
Massa 1kg=2,2 lb 1lb=0,45kg 1 onça=28,35g
Pressão 1atm=1,033kgf/cm²=14,7lbf/pol²(PSI)
Pressão 1bar=100kPa=1,02atm=29,5polHg
Energia 1kWh=860kcal 1kcal=3,97Btu
Energia 1kgm=9,8J 1Btu=0,252kcal
Potência 1kW=102kgm/s=1,36HP=1,34BHP=3.413Btu/h
Potência 1TR=3.024kcal/h=200Btu/min=12.000Btu/h
Temperatura ºF=32+1,8.ºC K=273+ºC R=460+ºF
COMPRIMENTO
cm m km in ft mi
1 centímetro (cm) 1 0,01 0,00001 0,3937 0,0328 0,000006214
1 metro (m) 100 1 0,001 39,3 3,281 0,0006214
1 quilômetro (km) 100000 1000 1 39370 3281 0,6214
1 polegada (in) 2,54 0,0254 0,0000254 1 0,08333 0,00001578
1 pé (ft) 30,48 0,3048 3,048 12 1 0,0001894
1 milha terrestre
(mi)
160900 1609 1,609 63360 5280 1
PRESSÃO
atm PSI(lbf/in²) Kgf/cm² Bar mmHg(Torricelli) mH2O in. Hg Pascal(Pa)
atm 1 14,6959 1,033 1,01325 760 10,33 29,92 101325
PSI(lbf/in²) 0,0680 1 0,07031 0,06895 51,71 0,70307 2,04 6894,8
Kgf/cm² 0,96778 14,2234 1 0,98 735,514 10 28,9572 98066,5
Bar 0,9869 14,5 1,02 1 750,061 10,195 29,53 10000
mmHg 0.001315789 0.01933677 0.00135951 0.001333224 1 0,01360 0,03937 133,3224
mH2O 0,09678 1,42234 0,10 0,0980872 73,5514 1 2,89572 9803,1176
in. Hg 0,03342 0,49119 0,03453 33900 25,4 0,34534 1 3386,5
Pascal(Pa) 0,000009869 0,0001450377 0,00001019716 0,00001 0,007500617 0,000102 0,0002952 1
QUALIDADE DO AR INTERNO
Prefixos das unidades SI
Nome Símbolo Fator de multiplicação da unidade
yotta Y 1024
= 1 000 000 000 000 000 000 000 000
zetta Z 1021
= 1 000 000 000 000 000 000 000
exa E 1018
= 1 000 000 000 000 000 000
peta P 1015
= 1 000 000 000 000 000
tera T 1012
= 1 000 000 000 000
giga G 109
= 1 000 000 000
mega M 106
= 1 000 000
quilo k 10³ = 1 000
hecto h 10² = 100
deca da 10
deci d 10-1
= 0,1
centi c 10-2
= 0,01
mili m 10-3
= 0,001
micro µ 10-6
= 0,000 001
nano n 10-9
= 0,000 000 001
pico p 10-12
= 0,000 000 000 001
femto f 10-15
= 0,000 000 000 000 001
atto a 10-18
= 0,000 000 000 000 000 001
zepto z 10-21
= 0,000 000 000 000 000 000 001
yocto y 10-24
= 0,000 000 000 000 000 000 000 001
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 7
QUALIDADE DO AR INTERNO
1. A IMPORTÂNCIA DO AR
É sabido que o ar é uma mistura gasosa determinante para a vida humana devido principalmente ao
processo que se dá no interior das células de seu corpo onde os alimentos são transformados em energia,
pela reação com o oxigênio presente no ar inspirado. Este processo é conhecido como respiração e permite
a produção da energia que será utilizada na manutenção da vida e no desenvolvimento dos movimentos
diversos de uma pessoa.
Durante o processo de respiração o ar ao ser inalado passa através das vias respiratórias onde
sofre algumas modificações quanto às proporções de seus elementos básicos, devido a um processo de
umidificação pela mistura deste ar com uma parcela de dióxido de carbono. O oxigênio presente no ar é
absorvido na corrente sanguínea e o dióxido de carbono é exalado para a atmosfera. A figura 1 mostra o
intercâmbio destes gases quando o ar chega aos alvéolos os quais compõem a parte mais funcional do
pulmão.
A qualidade do ar é muito importante principalmente para os órgãos vitais do homem como, por
exemplo, o cérebro, uma vez que este necessita de oxigenação constante para que possa cumprir todas as
suas funções. Quando o cérebro percebe a necessidade de uma quantidade maior de oxigênio, envia
estímulos aos músculos do peito e diafragma, fazendo-os funcionar com maior aceleração e vigor.
É sabido que homem pode sobreviver vários dias sem a ingestão de alimentos e alguns dias sem
ingestão de água. Em média, o consumo de alimentos e de água diários de um homem é da ordem de 1
quilo e 2 litros respectivamente. Quanto ao ar a autonomia restringe-se à sobrevivência por alguns minutos
sem inalação deste. Segundo VERANI (2003) e PEREIRA FILHO (2003), normalmente o homem inspira em
média cerca de 10 a 15 mil litros de ar por dia. A variação deste valor se dá em função das diversas
atividades físicas desenvolvidas.
Figura 1 – Transferência de O2 e CO no sangue Fonte SILVA Jr. et al (2003)2
Na tabela 1, tem-se a composição química aproximada do ar seco, tomando-se como base, cerca
de 10.000 moléculas de ar. É necessário esclarecer que o ar como encontrado na atmosfera, é composto de
uma parcela seca (mistura de vários gases) em contato com outra parcela formada por vapor de água.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 8
QUALIDADE DO AR INTERNO
Tabela 1 - Composição do Ar Seco
Concentração por volume
Componente
% ppm
Nitrogênio 78.084
Oxigênio 20.946
Dióxido de Carbono (CO2) 0.0033
Neônio 11.18
Hélio 5.24
Criptônio 1.14
Xenônio 0.087
Hidrogênio 0.5
Metano 2
Óxido Nitroso 0.5
Fonte ASHRAE (1999)
Para uma utilização favorável do ar é necessário que este contenha no mínimo 19.5 % em volume
de oxigênio (O2), mantendo isenção de produtos químicos prejudiciais à saúde. É desejável também que o
ar se apresente em temperaturas e pressões tais que não ocorram queimaduras ou congelamentos dos
órgãos do aparelho respiratório como, por exemplo, os cílios nasais, que são responsáveis pela retenção de
partículas e impurezas provenientes deste ar. Juntamente com os gases e vapor d, podem ser encontrados
em suspensão na atmosfera outros elementos tais como poeiras, polens, cinzas, compostos orgânicos e
microorganismos.
A tabela 2 mostra os efeitos no homem devido à variação da concentração de oxigênio no ar em
pressão atmosférica.
Tabela 2 – Efeitos da concentração de O2
% vol. O Efeitos Fisiológicos2
20.9 Concentração Normal.
19.5 Concentração mínima legal.
19 - 16 Início de sonolência.
Perda de visão periférica, respiração intermitente, dificuldade de
coordenação, aumento do volume da respiração, aumento da freqüência
cardíaca, redução da capacidade de pensar e agir.
16 - 12
Falta de raciocínio, pobre coordenação muscular sendo que o esforço
muscular leva à fadiga, que pode causar danos permanentes ao coração.12 - 10
Náusea, vômito, incapacidade para movimentos vigorosos inconsciência
seguida por morte.10 - 6
Respiração espasmática, movimentos convulsivos e morte em minutos.
< 6
Fonte VERANI (2003)
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 9
QUALIDADE DO AR INTERNO
Deve-se salientar que a Norma Regulamentadora 15 em seu anexo 11 diz ainda que a
concentração mínima de Oxigênio em ambientes que com presença de substâncias do tipo asfixiantes
simples, deve ser de 18 (dezoito) por cento em volume.
2. QUALIDADE DO AR INTERNO
Durante muito tempo, a maioria dos profissionais, ao projetar uma edificação, preocupava-se quase
que exclusivamente com a estética e funcionalidade desta, sem, no entanto dar muita importância aos
aspectos ambientais e energéticos envolvidos em tal empreendimento. Como grande parte das atividades
ainda são realizadas em ambientes fechados surgiu então a necessidade de realizar-se o condicionamento
do ar possibilitando a plena ambientação de homens e máquinas nestes ambientes. Os trabalhadores
passam de 80 a 90% de seu tempo em ambientes fechados. A figura 2 ilustra esta condição de vida da
maioria das pessoas.
Figura 2 – Operações Cotidianas desenvolvidas por trabalhadores - Fonte ENCICLOPEDIA DE SALUD Y
SEGURIDAD EN EL TRABAJO
O processo de projetar um edifício pautava-se em considerar que um sistema de climatização ou de
condicionamento de ar interno teria condições de garantir os requisitos necessários para a salubridade do
ambiente, independente do consumo de energia para tal atividade. Este quadro manteve-se até a primeira
grande crise energética mundial, ocorrida no início da década de 70, onde a produção de petróleo entrou
em crise e a população dos paises em geral, passou a considerar com maior preocupação, os fatores
energéticos nos projetos de uma forma generalizada.
Neste instante, o consumo de energia de sistemas de climatização passa a receber uma atenção
muito especial, uma vez que o custo para realizar operações de tratamento de ar como refrigeração,
umidificação, desumidificação, filtragem etc, é extremamente elevado. Os sistemas passam a ter reduzido
os seus períodos de operação.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 10
QUALIDADE DO AR INTERNO
Outro ponto importante é o fato de que os edifícios passaram a serem construídos observando-se
uma preocupação com a impermeabilização e a climatização de seus ambientes internos. Inicia-se o
desenvolvimento de técnicas de utilização de energias alternativas no projeto de edificações, destacando-se
o emprego de conhecimentos de solarimetria e aplicações bioclimáticas. Estas ações embora eficientes,
não representam uma redução significativa no consumo de energia nas edificações em geral. Uma nova
ação se fez necessária e o principal foco desta passa a ser a redução das taxas de renovação de ar nos
ambiente climatizados.
É sabido que os equipamentos de ventilação e condicionamento de ar consomem uma quantidade
demasiada de energia, em relação aos outros equipamentos que permitem a realização das diversas
atividades de uma organização. Em função dos processos de impermeabilização e climatização de seus
ambientes internos tem-se uma redução das taxas de infiltração de ar externo assim como as taxas de
renovação e a vazão de insuflamento calculada em função do número de ocupantes, de modo que estes
passassem a diminuir o consumo de energia elétrica.
A taxa de ar indicada para ser insuflada em um ambiente de modo a manter a salubridade deste,
era estimada em 27 m3
/h para cada ocupante. A contenção de gastos indicou uma severa redução nesta
taxa, passando a serem adotados, meros 8 m3
/h. A função principal das taxas de insuflamento é baixar a
concentração de CO2 presente no ambiente, assim como os odores, através da diluição destes.
A diluição e remoção dos contaminantes tornam-se deficiente. Com a diminuição dos períodos de
operação os sistemas passam a trabalhar com capacidade inferior àquela para qual foram projetados,
produzindo assim distribuição não homogênea de ar no ambiente.
O resultado disto é danoso. Percebe-se o aparecimento de bolsões de ar estagnado, que são locais
extremamente favoráveis para o desencadeamento de sintomas diversos, prejudiciais aos ocupantes. Dutos
e canalizações de ambientes climatizados, além dos aparelhos condicionadores de ar, passam a
apresentar-se como um excelente habitat para diversas colônias de fungos e bactérias. Em meio a esta
situação passou-se a perceber o surgimento de sintomas indesejados nos ocupantes dos edifícios em
questão, tornando-os susceptíveis ao desenvolvimento de diversas doenças, as quais em alguns casos
tornam-se crônicas, ocorrendo por fim, uma queda acentuada nos níveis de produção.
Segundo NTT (2003) é corriqueiro mensurar em até 100% o nível de contaminação do ar de um
ambiente climatizado em relação ao nível de contaminação do ar externo. Isto se deve ao acúmulo de
umidade e poeira que ocorre em ambientes climatizados e, portanto a proliferação de micróbios e bactérias
é muito maior do que em ambientes abertos. Outro aspecto responsável pela contaminação de um ambiente
é a concentração de pessoas, sendo que estas são responsáveis pela liberação CO2, odores e aumento da
carga térmica devido ao seu metabolismo.
Segundo NIOSH (1987), dentre os principais sintomas de pessoas ocupantes dos ditos ambientes
destacam-se as infecções, as reações alérgicas e irritantes, dores de cabeça e articulares, irritação nos
olhos, nariz e garganta, tosse seca, dermatites, fadiga, sonolência, dificuldade de concentração,
sensibilidade a odores, congestão, sinusite, falta de ar, rinite alérgica, asma brônquica, doença do
Legionário, perda de produtividade e por fim, a ausência freqüente ao trabalho conhecida como
absenteísmo.
Um termo bastante difundido em função dos sintomas relacionados anteriormente e apresentado
por MCQUISTON e PARKER (1994) é "Síndrome dos Edifícios Doentes" (SED), que denomina a situação
dos edifícios que possuem um número superior a 20% de ocupantes portando os sintomas descritos por
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 11
QUALIDADE DO AR INTERNO
NIOSH (1987) por pelo menos duas semanas e que esses sintomas desaparecem ao deixar de freqüentar o
edifício.
Uma divisão nesta denominação se faz necessária para caracterizar os edifícios novos ou que
sofreram alguma reforma arquitetônica ou manutenção do sistema de climatização, e, por conseguinte os
sintomas apresentados anteriormente pelos ocupantes, diminuíram ou desapareceram ao longo do tempo.
Os edifícios enquadrados nesta situação passam a serem chamados de “Edifícios Temporariamente
Doentes” e aqueles onde os sintomas permanecem mesmo após as medidas corretivas, são chamados de
“Edifícios Permanentemente Doentes”.
Alguns autores preferem o termo ”Doenças Relacionadas Aos Edifícios” (DRE) uma vez que
entendem que o primeiro termo não tem embasamento científico para ser aplicado. Segundo dados de
NIOSH (1987) apresentados na tabela 3, nota-se que 52% dos problemas relacionados à Qualidade do Ar
Interior, têm sua causa associada aos Sistemas de Climatização.
Tabela 3 – Distribuição dos agentes relacionados à Qualidade do Ar Interior
Agente % de ocorrência
Sistemas de Climatização 52
Contaminantes químicos interiores 20
Contaminantes químicos exteriores 10
Contaminantes Biológicos 5
Agentes desconhecidos 13
Fonte NIOSH (1987)
Como visto, o sistema de climatização tem uma parcela muito maior de influência na qualidade do
ar do que os outros componentes. Os fatores que determinam uma situação de Climatização Inadequada
são bastante conhecidos e podem ser separados em sete grandes grupos, os quais são apresentados a
seguir.
a) Valores baixos de taxa de ar externo
As normas técnicas indicam uma taxa de ar externo da ordem de 27 m3
/h por pessoa no interior do
ambiente. O insuflamento de ar em taxas inferiores influencia na má diluição de contaminantes e
odores.
b) Perfil defeituoso de distribuição do ar no ambiente interno
Ocorre em função da colocação de divisórias ou tapumes e outros apetrechos em ambientes onde
estas situações não foram previstas. Outra possibilidade é a ocorrência de curtos circuitos no
processo de insuflamento e a captação do ar de retorno.
c) Falhas no projeto do sistema de climatização
Projeto inadequado para a situação proposta como, por exemplo, carga térmica mal especificada,
número de trocas de ar insuficiente, equipamentos especificados com capacidade inferior à
necessária, baixa qualidade dos equipamentos, assim como tomadas de ar externo, alocadas em
locais de muita concentração de contaminantes.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 12
QUALIDADE DO AR INTERNO
d) Controle deficiente das condições ambientais
Ocorre devido à colocação dos equipamentos de controle em locais inadequados, ou mesmo
quando os referidos equipamentos apresentam qualidade duvidosa ou deficiência de
funcionamento.
e) Procedimentos inadequados ou defeituosos de manutenção dos sistemas de climatização.
Os procedimentos de manutenção devem ser elaborados de forma que a manutenção seja sempre
realizada de maneira preventiva e poucas vezes corretiva. Devem também ser especificados
visando sempre uma maior eficiência. A manutenção periódica dos sistemas de climatização é um
dos pontos fundamentais para a qualidade do ar interior, uma vez que diversos contaminantes,
assim como fungos e bactérias tendem a desenvolver-se em elementos dos referidos sistemas. O
sistema de filtragem é responsável por reter partículas externas, eliminar partículas internas
geradas no próprio ambiente e por parte da diluição de odores liberados pelo homem, ou por
máquinas e materiais usados nas atividades.
f) Alterações no perfil da Construção Civil do Edifício
Um projeto de climatização é definido para uma determinada geometria do ambiente. Muitas vezes,
estas geometrias sofrem alterações em função da necessidade de adequação do ambiente a outras
atividades diferentes daquelas inicialmente previstas, porém o sistema de climatização não sofre
alterações na mesma proporção.
g) Usuários não habilitados ou mal informados
Os usuários e operadores dos sistemas de climatização devem ter compreensão acerca do
funcionamento dos equipamentos e assim espera-se evitar que os mesmos apliquem comandos
incorretos, diminuindo a performance dos referidos equipamentos.
Outros fatores que influem na QAI estão associados aos contaminantes internos infiltrados ou
gerados no sistema de climatização e dutos como vapores, gases, poeiras, fungos, bactérias. Tem-se ainda
os contaminantes gerados no próprio ambiente como CO2 exalado da respiração de pessoas, fibras de lã de
vidro desprendidas de isolamento térmico ou acústico, escamas de pele, fios de cabelo, perfumes, odores,
fuligem, poeira e contaminantes presentes na roupa dos trabalhadores, compostos orgânicos voláteis (COV)
e Ozônio (O3).
Em função do exposto, surge a necessidade da intervenção dos profissionais capacitados,
principalmente os de Engenharia de Segurança do Trabalho, no intuito de se garantir a salubridade e a
qualidade do ar interno nos ambientes climatizados. Uma análise da eficácia da legislação passa a ser
ponto primordial nestas questões.
Fica claro, portanto que os edifícios necessitam ter sua concepção baseada no conforto ambiental e
no consumo econômico de energia, função que pode ser determinada pela automação de processos e
projeto arquitetônico fundamentado nas cargas térmicas e trocas de ar. Os fatos mostram a necessidade de
se estimar a eficiência nos processos de climatização e de se tomar extremo cuidado com os produtos
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 13
QUALIDADE DO AR INTERNO
envolvidos desde a construção até a utilização das edificações, possibilitando a garantia da qualidade do ar
nestes ambientes.
2.2 Requisitos para a Garantia da Qualidade do Ar Interno
Para uma plena qualidade do ar foram identificados quatro requisitos fundamentais, os quais são
descritos a seguir.
A) - Excelência de Qualidade de Filtros e Sistemas de Filtragem
Em ambientes naturais ou hospitalares a qualidade do sistema de filtragem é cercada de exigências
conforme as áreas de riscos e as atividades desenvolvidas. A pureza do ar em ambientes de tratamento de
saúde auxilia o tratamento de enfermos e impede que trabalhadores e visitantes adquiram problemas de
saúde.
B) - Captação de Ar externo de boa qualidade para renovação
Os pontos de captação de ar externo têm influência direta na qualidade do ar interno, uma vez que
cerca de 10 % do ar insuflado no ambiente é tomado deste local. Em centros cirúrgicos o ar insuflado é
obtido totalmente do ar externo, uma vez que não se pode recircular contaminado pelos procedimentos
cirúrgicos. Assim sendo é de extrema importância que o externo seja captado longe de fontes de
contaminantes e que também possua boa qualidade.
C) - Processos Eficientes de Limpeza e Higienização dos sistemas de climatização e dos Ambientes
A contaminação gerada no interior deve ser removida através de limpeza e higienização. Este
procedimento permite que o ar de recirculação apresente menores índices de contaminação, diminuindo
assim a proliferação de fungos, bactérias e outros contaminantes. Todos os procedimentos de limpeza
devem ser planejados e executados dentro de normas e padrões de qualidade.
No caso de hospitais e estabelecimentos de saúde, estes procedimentos têm um componente
fundamental que é o fato da necessidade de utilização de produtos químicos específicos para cada área de
risco. Após o serviço de higienização, deve-se manter um plano para manutenção e monitoramento da
qualidade do ar, mantendo um padrão de qualidade rígido ao longo do tempo reduzindo-se assim, a
necessidade de novas intervenções.
D) - Controle preciso de Temperatura e Umidade privilegiando o Conforto Térmico
Este ponto influencia diretamente a produtividade dos trabalhadores. Trabalhadores de
Estabelecimentos de Saúde, por exemplo, estão sempre em estado de tensão e o conforto térmico permite
que estes possam executar de forma satisfatória, suas atividades.
3. CONFORTO TÉRMICO
A Qualidade do Ar Interno de um ambiente esta intimamente ligada à sensação de conforto térmico
experimentado pelos ocupantes e é função específica dos sistemas de climatização uma vez que os
parâmetros monitorados por estes são a temperatura, a umidade e a velocidade do ar. O conforto térmico é
um fator subjetivo que indica o estado de espírito de uma pessoa em função de sua satisfação com as
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QUALIDADE DO AR INTERNO
características térmicas que um ambiente oferece. Em termos energéticos significa que um homem sentirá
conforto térmico se o balanço de todas as trocas de calor entre este e o ambiente forem nulos.
O conforto térmico de um indivíduo esta associado além das condições ambientais e de sua
vestimenta, ao seu processo de metabolismo, sendo que da energia contida nos processos térmicos
realizados pelo organismo, 20 % é utilizada e 80 % é eliminada na forma de calor, afim de que o seu
equilíbrio térmico seja mantido.
Em condições adversas, o organismo necessita que o seu sistema termo-regulador seja acionado
de forma extrema, o que provoca fadiga térmica, câimbras, esgotamento e por conseqüência, a queda de
rendimento no desenvolvimento de atividades. O metabolismo de pessoas é afetado por diversos fatores
sendo possível citar a idade, a digestão, o ambiente, o nível de atividade, o estado patológico. A medição do
metabolismo se dá observando-se um indivíduo saudável, em jejum de 12 horas em posição deitada.
Um sistema de climatização operando ineficientemente pode permitir uma combinação de
temperatura elevada com umidade também elevada. Essa combinação segundo VERGARA (2001),
aplicada ao ambiente climatizado, reduz a capacidade do corpo humano de manter a sua temperatura
interna correta.
O excesso de calor diminui sobremaneira a produtividade. Segundo HOUSSAY (1984) quando a
temperatura do ambiente ultrapassa 30 o
C a produtividade cai aproximadamente 20% sendo que o número
de ocorrência de erros ou falhas aumenta 70%. Um ambiente que fornece conforto térmico aos ocupantes
apresenta como vantagens, um maior rendimento e produtividade dos trabalhadores, além de menor índice
de acidentes e menor incidência de doenças.
Tabela 4 – Taxas de Metabolismo por Tipo de Atividade
Tipo de Atividade Kcal/h
100Sentado em Repouso
Trabalho Leve
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco 125
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas 150
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, principalmente com os braços 150
Trabalho Moderado
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas 180
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma movimentação 175
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma movimentação 220
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar 300
Trabalho Pesado
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos 440
Trabalho fatigante 550
Fonte: Manuais de Legislação Atlas (2003).
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QUALIDADE DO AR INTERNO
3.1 Avaliação do Conforto Térmico
O método de avaliação de conforto térmico mais conhecido e aceito internacionalmente é o
Predicted Mean Vote (PMV) ou Voto Médio Predito (Estimado), o qual foi desenvolvido pelo professor
dinamarquês Ole Fanger. Este método foi desenvolvido através de experiências de laboratório com
aproximadamente 1300 pessoas.
O PMV consiste em atribuir valores para a sensibilidade humana às variações de temperatura,
sendo que o mesmo é assumido como zero para o conforto térmico, negativo para a sensação de frio e
positivo para a sensação de calor. A figura 3 apresenta os valores atribuídos para as sensações térmicas.
As experiências realizadas por Fanger tinham como objetivo final, obter dados para formular uma
equação que permitisse estimar a sensação térmica média de um grupo de pessoas conhecendo-se as
condições ambientais e o metabolismo destas. O resultado das análises apontou como equacionamento
geral a seguinte função:
PMV = f ( ICT, M )
onde:
f = função de….
ICT = Índice de carga térmica
M = Energia do metabolismo
O índice de carga térmica indica um valor de temperatura aparente a qual é determinada pela
relação entre umidade relativa e temperatura do ar.
A equação geral obtida é a seguinte:
ICTePMV DUA
M
•+•=
⎟
⎟
⎠
⎞
⎜
⎜
⎝
⎛
•−
)032.0352.0(
042.0
onde:
ADu
= Área superficial do corpo (DuBois), (m
2
)
DuBois é uma equação que determina a área da superfície de uma pessoa (m2
) através da relação entre o
seu peso (P) dado em kg e sua altura (h) dada em cm. Esta equação é apresentada na seguinte forma:
ADu=( P0,425
x h0,725
) x 0.007184
Figura 3 – Atribuição de valores para a sensação térmica - Fonte Autor
O PMV é bastante influenciado por variáveis como tipo de roupa, velocidade do ar, atividade física e
temperatura do ar. Fanger em seu trabalho desenvolveu uma tabela que indica o PMV em função da
combinação das referidas variáveis, sendo que parte dela esta mostrada no quadro 1.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Devido à impossibilidade de ter-se ambientes onde todos os ocupantes estejam plenamente
satisfeitos com as condições térmicas, é necessário obter o PPD que representa a porcentagem de
pessoas insatisfeitas com o conforto térmico do ambiente e juntamente com o PMV, realizar uma
comparação com os valores recomendados pela Norma ISO 7730 de 1994. Esta comparação pode ser
verificada através da figura 4.
Figura 4 - Porcentagem de insatisfeitos em função do PMV - Fonte RUAS (2001)
Uma análise na figura possibilita observar-se que se 5% dos ocupantes estiveram insatisfeitos com
as condições ambientais ter-se-á uma condição de neutralidade térmica como mostrado na figura 3.
Tomando-se como exemplo o ponto PMV=(1.0) tem-se que a porcentagem de insatisfeitos com a situação
de Levemente Quente é de aproximadamente 26%. Para um PMV=(-2.0) aproximadamente 75% dos
ocupantes estarão insatisfeitos com a condição FRIO.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Quadro 1 – Relação entre PMV, tipo de roupa, velocidade do ar, temperatura e atividade física
Fonte RUAS (2001)
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QUALIDADE DO AR INTERNO
4. SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO
O conceito de climatização surge da necessidade de utilizar-se recursos eletro-mecânicos com a
finalidade de promover condições de conforto para os ocupantes de recintos ou ambientes ditos confinados.
Segundo a Portaria 3523 do Ministério da Saúde, o conceito Climatização é definido como:
“Conjunto de processos empregados para se obter por meio de
equipamentos em recintos fechados, condições específicas de conforto e
boa qualidade do ar adequadas ao bem estar dos ocupantes.”
Esta definição leva em conta apenas o aspecto humanista, porém deve-se lembrar ainda que neste
contexto de necessidade de climatização, devem ser incluídos equipamentos, computadores e diversas
outras máquinas, uma vez que tais elementos podem ter sua atuação comprometida ao serem submetidos a
condições ambientais diferentes daquela para qual foram projetados. No entanto este trabalho, por estar
focado em aspectos de segurança do trabalho, ater-se-á a questão de climatização de ambientes do ponto
de vista apenas da saúde dos indivíduos.
É possível verificar uma enorme gama de situações onde a necessidade de climatizar o ambiente se
torna premente. Exemplos destas aplicações são encontrados em aviões, hospitais, trens, automóveis,
submarinos, escritórios, cozinhas comerciais, salas de aula, ambientes de manipulação de remédios e
alimentos, salas de informática, câmaras frigoríficas, auditórios, salas de exposição, museus, cinemas,
saunas, shopping center, bancos, edifícios públicos, restaurantes etc.
As condições específicas de conforto e boa qualidade do ar mencionadas na definição referem-se
principalmente às variáveis de temperatura, umidade, pressão, velocidade, pureza e distribuição entre
outras, e a necessidade de estas apresentarem-se em condições adequadas ao bem estar dos ocupantes
do recinto. Além das variáveis mencionadas deve-se ter ainda em mente a necessidade de eliminação dos
gases, odores e outros contaminantes, deixando o ar “limpo”. Para tal é necessário associar a Ventilação ao
processo de climatização de um ambiente.
Tecnicamente falando, define-se ventilação como sendo a movimentação do ar no interior das
edificações com o intuito de renovar o ar “viciado” e promover a entrada de ar de melhor qualidade.
Segundo PEREIRA FILHO (2003) a Ventilação é o processo de retirar ou fornecer ar por meios naturais ou
mecânicos de um ambiente. A definição apresenta ainda a indicação de que tal processo de ventilação seja
dividido em dois grupos para atividades laborais, sendo que o primeiro contempla a Ventilação para
Ambientes Comerciais como forma de eliminar fumos, odores e calor. O segundo grupo apresenta a
Ventilação para Ambientes Industriais como forma de controlar principalmente a concentração de vários
contaminantes e a redução do calor.
Uma outra divisão é feita quando da Ventilação em função da quantidade de contaminantes no
interior do ambiente climatizado. Pode-se ter a Ventilação Local Exaustora (VLE) a qual é utilizada quando a
fonte de contaminantes é bem conhecida e localizada. Porém, a mais comumente utilizada, embora de
custo mais elevado, é a Ventilação Geral Diluidora (VGD) a qual é utilizada quando existem diversas fontes
de contaminantes no ambiente, e a concentração destes é bastante variada. O processo consiste de
tratamento e insuflamento de ar em vazões suficientes para promover a diluição dos contaminantes no
interior do ambiente.
Os processos de climatização têm como característica, efetuar a mistura de uma parcela de ar do
exterior com outra exaurida do ambiente a ser climatizado. Quando uma das partes ou mesmo as duas
estiverem em condições inadequadas, fatalmente a qualidade do ar estará comprometida. Como exemplo,
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QUALIDADE DO AR INTERNO
tome-se uma quantidade elevada de CO2 concentrada em uma área de um ambiente onde o insuflamento
de ar seja insuficiente para efetuar a diluição do mesmo. Certamente os ocupantes da referida área do
ambiente passarão a sentir sintomas indesejáveis, uma vez que a diluição do CO2 naquela situação
apresenta-se de forma insuficiente.
Algumas aplicações podem requerer um grau maior de sofisticação, porém o principio de
funcionamento de um sistema de climatização é aquele conforme mostrado na figura 5.
Figura 5 - Esquema de um Processo de Climatização Típico - Fonte BRASIL (2002)
4.1 Componentes do Sistema de Climatização
Um Sistema de Climatização é constituído de diversos equipamentos que executam diversos
processos que permitem adequar o ambiente às condições requeridas de conforto. O ar é aspirado da
atmosfera através de um ventilador, a seguir passa por um sistema de condicionamento composto de filtros,
serpentinas de resfriamento e desumidificação, umidificadores, resistências de aquecimento, sendo
finalmente levados ao ambiente através de dutos e a vazão de insuflamento é controlada por difusores e
grelhas.
O ar interno é então levado para o exterior através de um exaustor ou ventilador, sendo que parte
deste é misturado ao ar externo para ser, após sofrer novo tratamento, insuflada novamente no ambiente.
Este processo de mistura de parte do ar de retorno com o ar externo é uma maneira de diminuição dos
custos de purificação do ar. Somente em atividades bastante específicas, onde a pureza do ar é
fundamental, todo o ar de insuflamento será proveniente do ar exterior.
Na prática, os procedimentos de escolha dos equipamentos de climatização são baseados em
função da capacidade de refrigeração destes, necessária para remover a carga térmica e prover vazão de
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QUALIDADE DO AR INTERNO
insuflamento para a situação que se apresenta. Os sistemas de climatização e condicionamento de ar
possuem algumas características em função de sua utilização e do público a que atendem.
Os sistemas de climatização podem ser do tipo Expansão Direta ou Expansão Indireta sendo que a
condensação pode ser realizada por Ar ou Água. Nos Sistemas de Expansão Direta o refrigerante ao
evaporar resfria diretamente o ar a ser insuflado no ambiente. Já nos Sistemas de Expansão Indireta o
refrigerante resfria um líquido intermediário chamado de refrigerante secundário, que normalmente é água
gelada. Os sistemas de climatização por Expansão Direta normalmente encontrados no mercado são
apresentados a seguir.
a) Condicionadores de ar de janela
São aparelhos compactos, dito autônomos, de baixo custo e de baixa capacidade de
refrigeração (até 2.5 TR). São utilizados principalmente em residências e locais onde existe
pequena concentração de pessoas. São instalados em paredes ou janelas e são de fácil
manutenção e limpeza. Possuem o sistema de aquecimento por reversão de ciclo (bomba de calor),
porém podem não possuir a função de renovação do ar, ou mesmo os usuários podem não se
atentar a essa função no painel de controle do equipamento.
Apresentam como desvantagem o fato de ter pequena capacidade de refrigeração, custo
energético elevado (KW/TR) nível de ruído elevado, distribuição do ar realizada a partir de um único
ponto e alterações nas fachadas dos edifícios.
Figura 6 – Aparelhos de Condicionamento de Ar do Tipo Janela - Fonte Catálogo Hitachi (1995)
b) Sistemas Tipo Split
São aparelhos bastante versáteis e semelhantes aos condicionadores de janela, porém
estes são divididos em duas partes interligadas por conexões onde a primeira (evaporadora)
condiciona o ar e é instalada no interior do ambiente e a segunda (condensadora) é colocada no
exterior do edifício. Estes apresentam maior capacidade de refrigeração (até 5 TR), controle maior
sobre processos de filtração e renovação de ar. Não deve entretanto ser utilizado em locais
impermeáveis, devido ao fato de que a renovação do ar é influenciada pela infiltração deste por
frestas.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Apresentam a vantagem de não interferirem na arquitetura do edificio, porém apresentam
dificultades quando da necessidade de se aplicar recarga de refrigerante devido a grande perda de
carga a ser evacuada.
Figura 7 – Unidades de Condicionadores de Ar Tipo Split - Fonte Catálogo Carrier
c) Sistemas tipo self-contained
São condicionadores que apresentam como principal característica o fato de abrigarem em
seu gabinete todos os equipamentos inerentes ao processo de climatização como filtragem,
umidificação, desumidificação, aquecimento, refrigeração, ventilação e insuflamento e insuflam o ar
através de rede de dutos. Operam com condensação à água ou a ar. Podem ser utilizados em
ambientes que acomodem grande quantidade de ocupantes ou em locais onde necessita-se de alta
qualidade do ar insuflado. Quando atuam como equipamentos de condensação de água,
necessitam de torre de arrefecimento sendo que não operam como bombas de calor. Operam
normalmente na faixa de 5 a 30 TR. Permite atualizar variações nas demandas de ar insuflado
apresentando ainda baixa custo de manutenção e reposição de peças.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 8 – Equipamento Self Container e diagrama de Instalação de uma unidade de condenção por água -
Fonte CREDER (1996)
Os sistemas de Expansão Indireta são bastante conhecidos por possuirem uma unidade de
resfriamento de água chamada CHILLER. A água ao ser resfriada é conduzida para as Unidades
Condicionadoras para água gelada (Fan Coils) que compreendem um conjunto de serpentinas acopladas a
um ventilador e um sistema de filtragem por onde passa o ar a ser condicionado. A capacidade destes
equipamentos varia entre 20 a 220 TR para compressores alternativos e de 250 a 1000 TR para
compressores centrífugos. Em alguns casos podem ser projetados para que a condensação seja realizada
também por ar.
As vantagens deste sistema residem no fato de que apresentam maior economia no custo de
operação, controle bastante preciso das condições ambientais, alta eficiência em cargas parciais, facilidade
de manutenção e menor área ocupada devido à centralização do equipamento em um único local. No
entanto, estes equipamentos apresentam uma maior complexidade construtiva, além de necessitarem de
resistências ou caldeiras para promoverem aquecimento no ambiente.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 9 – Instalação Tipo Fan-Coil/Chiller - Fonte CREDER (1996)
Como visto, as instalações que utilizam equipamentos tipo CHILLERS ou SELF-CONTAINEDS
necessitam de torres de resfriamento para promover a condensação. As torres são equipamentos que
utilizam vaporização flash para reduzir a temperatura do ar. Este processo consiste de evaporar-se micro-
gotas de spray de água produzido pela passagem desta por bicos atomizadores.
Ao evaporar nestas condições a água retira calor do ar, promovendo assim a dimuição da
temperatura de uma grande área ao redor do conjunto ventilador aspersor. É necessario monitorar os
parâmetros físicos para que não haja saturação nas condições de umidade relativa do ar. A figura abaixo
mostra o esquema de uma Torre de Refrigeração onde o ar é admitido pela parte inferior e é forçado a
passar através de um fluxo de água, saindo porteriormente pela parte superior.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 10 – Esquema de Torre de Refrigeração - Fonte CREDER (1996)
5. FILTROS DE AR
Quando da climatização artificial de ambientes é necessário prover sistemas que protejam os
ocupantes e as máquinas de impurezas contidas no ar, provenientes do ar exterior ou produzidas no próprio
local. Para tal função são utilizados filtros tanto na tomada de ar na parte externa dos edifícios quanto no
interior de dutos de circulação. Estes são responsáveis também pela pureza do ar a ser insuflado no
ambiente climatizado. Sistemas projetados com bom programa de manutenção, boa estanqueidade, boas
taxas de renovação de ar e ainda associados a sistemas de filtragens com eficiência elevada apresentam
na maioria dos casos, elevada qualidade do ar.
A eficiência de filtragem deve ser determinada em função da alta capacidade de retenção de
partículas e da vazão de ar externo de modo a assegurar-se duas condições de contorno bem definidas. A
primeira implica em conseguir-se uma boa diluição dos contaminantes de modo que estes atinjam um nível
aceitável de contaminação interna em função do número de ocupantes e da atividade desenvolvida. A
segunda condição implica em determinar-se a quantidade de ar externo que pode ser reduzida do fluxo
inicial, ao se utilizar filtros na recirculação sem prejudicar a qualidade do ar interno. Para estas duas
condições é necessário assumir-se que o ar externo esteja em conformidade com as regulamentações
ambientais. Outro fator que influencia diretamente na capacidade de filtragem é a estanqueidade do sistema
e a limpeza periódica de dutos e filtros.
Para as diversas atividades desenvolvidas em ambientes climatizados existem regulamentações
quanto ao tipo e qualidade de filtragem. Em caso de partículas em suspensão são disponibilizados filtros
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QUALIDADE DO AR INTERNO
grossos, finos e absolutos, sendo que cada tipo tem uma eficiência média para um determinado tamanho
das referidas. A ABNT regulamenta os diversos tipos de filtros e suas eficiências para utilização em diversos
tipos de ambientes. A tabela 5 apresenta a classificação dos filtros utilizados no Brasil.
O Ministério da Saúde exige que sejam utilizados em edificações e escritórios, no mínimo filtros do
tipo G1. Em estabelecimentos de saúde como clínicas e hospitais que possuem áreas que necessitam de
ventilação, a exigência segundo BROWN (1993) é de que sejam utilizados filtros absolutos capazes de reter
microorganismos. O custo do sistema de filtragem esta intimamente ligado a sua capacidade de manter o
ar limpo. Sistemas que necessitem de ar ultralimpo tem um custo elevado de energia e de implantação.
Quando da necessidade de sistemas de filtragem com alto índice de eficiência pode-se adotar os
filtros HEPA (high efficiency particulate air), que apresentam 99,97% de eficiência com relação a partículas
de 0.3 µm e podem reter 99% ou mais dos agentes micro biológicos. Uma das desvantagens desse
sistema é a elevada perda de carga que este impõe aos sistemas de climatização, interferindo
enormemente no fluxo de ar.
Tabela 5 - Classificação de Filtros
Classe de Filtro Eficiência %
G0 30-59Grossos
G1 60-74
G2 75-84
G3 85 e acima
F1 40-69Finos
F2 70-89
F3 Acima de 90
A1 85-94,9Absolutos
A2 95 – 99,96
A3 99,97 e acima
Métodos de ensaios
Classe G: teste gravimétrico, conforme ASHRAE 52-76.
Classe F: teste colorimétrico, conforme ASHRAE 52-76
Classe A: teste DOP, conforme U.S Militar Standard 282.
Fonte ABNT NBR 6401 (1980)
Para o caso de odores, microorganismos, COV etc, devem ser utilizados os filtros de carvão ativado
que efetuam a limpeza através de adsorção, associados ou não com filtros biocidas que contém agentes
bactericidas, fungicidas e algicidas, associados ou não entre si.
No processo de seleção de filtros deve-se prever um estágio de filtro grosso para tomada de ar
externo, pelo menos de classe G1. Este limitará a entrada de agentes e sujeira no prédio protegendo
primeiramente os equipamentos do sistema de climatização. Se a qualidade do ar externo não atende aos
requisitos mínimos em termos de gases e odores, deve ser instalado um filtro de carvão ativado juntamente
com o primeiro.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
A figura 11 apresenta exemplos de filtros antibactericidas e antimicrobianos utilizados
principalmente no combate a mofos, fungos e bactérias existentes no ar. de carvão ativido. Na figura 11.a
tem-se um exemplo típico de um filtro HEPA utililizado em ambientes super-críticos.
Figura 11 – Filtros Antibactericidas e antimicrobianos – Fonte www.troxbrasil.com.br
Figura 11.a – Filtros HEPA – Fonte www.troxbrasil.com.br
6. PADRÕES DE PARTÍCULAS
O material particulado suspenso no ar é constituído de aerodispersóides ou aerosóis, isto é,
dispersão de partículas sólidas ou líquidas, de tamanho bastante reduzido. Os aerosóis são classificado de
acordo com sua formação como mostrado a seguir.
- POEIRAS – são partículas sólidas resultantes da desintegração mecânica de substâncias orgânicas ou
inorgânicas (rochas, minérios, metais, carvão, madeira, grãos, pólens, etc), seja pelo manuseio, operações
de esmagamento, de moagem, trituração, detonação e outros.
- FUMOS – são pequeníssimas partículas sólidas resultantes da condensação, ressublimação ou reação
química de vapores, geralmente, provenientes da volatização de metais em fusão ( fumos de óxidos de
zinco, de chumbo, etc.).
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QUALIDADE DO AR INTERNO
- FUMAÇA – são partículas resultantes da combustão incompleta de materiais orgânicos (fumaças
industriais).
- NÉVOAS – são aerosóis constituído por partículas líquidas (gotículas) resultantes da condensação de
vapores, ou dispersão mecânica de líquidos ( névoa de ácido crômico, de ácido sulfúrico, tinta pulverizada e
agrotóxicos).
Além das partículas não biológicas, provenientes principalmente da combustão do cigarro e de
combustíveis, que estão associadas a agravos na saúde, destacam-se os bioaerossóis, que correspondem
ao material biológico transmitido pelo ar. Os contaminantes biológicos incluem microrganismos (bactérias,
fungos, vírus), ácaros, pólen, traças, pêlo e fezes de animais.
As bactérias e fungos são os mais freqüentemente associados com biocontaminantes e com
queixas quanto à qualidade de ar de interiores. A figura 12 apresenta as características principais de
partículas e aerodispersóides como tamanhos, métodos de avaliação de tamanhos, equipamentos de
coleta, velocidade terminal de queda etc.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 12 – Características de partículas e aerodispersóides - Fonte MESQUITA et al (1977)
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Partícula Tamanho da Partícula
(microns)
Lã de vidro 1000
Areia da praia 100 - 10000
Névoa 70 - 350
Fertilizante 10 - 1000
Fibras Têxteis 10 - 1000
Isolação de fibra de vidro 1 - 1000
Grão de poeira 5 - 1000
Ácaros da poeira 100 - 300
Pó de serra 30 - 600
Pó de chá 8 - 300
Café 5 - 400
Pó de osso 3 - 300
Cabelo 5 - 200
Pó de cimento 3 - 100
Poeira Têxtil 6 - 20
Esporos 3 - 40
Pó de carvão 1 - 100
Pó de ferro 4 - 20
Pó de face (maquiagem) 0.1 - 30
Poeira de Talco 0.5 - 50
Asbesto 0.7 - 90
Pigmentos de Pintura 0.1 - 5
Poeira metalúrgica 0.1 - 1000
Argila 0.1 - 50
Tonalizador da copiadora 0.5 - 15
Gotas líquidas 0.5 - 5
Anthrax 1 - 5
Poeira atmosférica 0.001 - 40
Sal do mar 0.035 - 0.5
Bactérias 0.3 - 60
Bromo 0.1 - 0.7
Fumo do óleo 0.03 - 1
Fumo do tabaco 0.01 - 4
Vírus 0.005 - 0.3
Poeira atmosférica típica 0.001 to 30
Açúcares 0.0008 - 0.005
Pesticidas e Herbicidas 0.001
Dióxido de carbono 0.00065
Oxigênio 0.0005
1 micron é a milionésima parte do metro
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QUALIDADE DO AR INTERNO
7. CONTAMINANTES
É evidente a necessidade de que ambientes climatizados devem ser “controlados” por
equipamentos sofisticados que monitoram diversas variáveis de conforto térmico e salubridade e minimizem
o consumo de energia elétrica. Mesmo com tal sofisticação, o ar de um ambiente climatizado pode
apresentar uma distribuição de contaminantes que são provenientes de diversos locais e equipamentos.
Grande parte das fontes de contaminantes ocorre principalmente nos sistemas de climatização. A estrutura
da edificação, o mobiliário, o carpete, odor e carga térmica dos ocupantes e contaminantes do ar externo
também contribuem para a distribuição destes no ar interno.
Como visto no item 2.2, dentre os agentes causadores de doenças pulmonares, 52% são
associados aos Sistemas de Climatização e o restante tem sua origem ligada a diversos tipos de
Contaminantes e Agentes desconhecidos. Torna-se necessário proceder-se à identificação dos mesmos,
mostrando-se suas origens, formas de proliferação, seus efeitos, as maneiras de identificá-los e os
procedimentos de controle dos mesmos.
7.1 Contaminantes Químicos Interiores
Muito dos poluentes encontrados no ar de ambientes internos provém do próprio meio, ou seja,
estão contidos em tintas de paredes ou móveis, tapetes, produtos de limpeza, computadores, copiadoras e
o próprio ocupante, o qual produz dióxido de carbono através da respiração. São encontrados também
aerossóis biológicos provenientes de suor e perfumes. Nos locais onde é permitido fumar, a condição de
contaminação de um ambiente piora extremamente, devido aos cerca de 4000 compostos químicos
presente no cigarro. Alguns equipamentos como aquecedores, fogões e quaisquer outros aparelhos em que
haja combustão são fontes internas de dióxido de carbono. Os principais grupos de contaminantes químicos
interiores serão apresentados a seguir.
7.1.a Compostos Orgânicos Voláteis
Dentre os tipos de contaminantes químicos internos descritos, pode-se identificar os Compostos
Orgânicos Voláteis, que são aqueles que possuem em sua constituição, carbono e hidrogênio e, volatilizam-
se à temperatura ambiente. Materiais de construção da edificação, acabamento, decoração e de mobiliário
permanecem eliminando COV em ambientes fechados por tempos indeterminados. Outras fontes são os
processos de combustão, emissões metabólicas de microorganismos e fotocopiadoras. No quadro a seguir
são apresentados os principais compostos e suas fontes.
Quadro 2 - Principais compostos orgânicos encontrados no ambiente interno
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Composto Fontes de Emissão
Acetona Cosméticos
Álcoois Álcool de Limpeza, agentes de limpeza
Aromáticos Tintas, Adesivos, gasolina, combustão
Tintas, Adesivos, gasolina, combustãoAlifáticos
Benzeno Fumaça de Cigarros, Escapamento de Veículos
Tetracloreto de Carbono Fungicidas, Inseticidas
Clorofórmio Produtos utilizados em lava-louças e lava roupas, produtos de limpeza
Diclorobenzeno Desodorantes de ambientes, naftalina
Formaldeído Madeira Prensada
Cloreto de Metileno Solventes de Tintas e Tintas
Estireno Fumaça de Cigarro
Tetracloretileno Roupas lavadas a seco
Tricloroetano Roupas lavadas a seco e aerossóis
Tricloroetileno Cosméticos, partes eletrônicas, bebidas, desodorizantes
Terpenos Perfumados, tecidos, fumaça de cigarros, alimentos, betume
Fonte REEVE (1994)
Produtos à base de aerossóis e umidificadores melhoram o transporte dos compostos orgânicos
para a fase vapor o que facilita a absorção destes pelo sistema respiratório. Devido à quantidade elevada
de fontes de COV é muito difícil determinar-se a detecção da uma fonte específica e a concentração isolada
do contaminantes, Portanto, é possível ter-se situações onde uma fonte relativamente pequena pode
solicitar baixas taxas de ar para diluição, embora sua toxidade seja elevada. O custo e o tempo para
identificação e medida são elevados e o total medido é desprezado, uma vez que os valores de
concentração são bastante pequenos. Segunto MACINTYRE (1990) normalmente escritórios apresentam
níveis de contaminação da ordem de poucos µg/m3
(microgramas por metro cúbico) até alguns mg/m3
(miligramas por metro cúbico).
Os principais sintomas relacionados à exposição a esses compostos são cansaço, dores de cabeça,
tonturas, fraqueza, sonolência, irritação dos olhos e pele. Um composto pode interagir com outro e por
conseqüência os sintomas podem se agravar, ou seja, os elementos juntos apresentam potencialização
maior em relação a efeitos do que a soma dos efeitos de vários compostos. Um agravante deste quadro é a
combinação com condições desfavoráveis de temperatura e umidade do ar. Uma indicação dos órgãos de
saúde é que se minimize o tempo de permanência em ambientes com elevada quantidade de fontes de
COV.
7.1.b Materiais particulados
São contaminantes produzidos através da mistura física e química de diversas substâncias
presentes em suspensão no ar como sólidos ou sob a forma líquida (gotículas, aerossol). Os mecanismos
de formação podem ser através de atrito entre partes moveis ou pela ação de umidificadores. Algumas
atividades como varrer, tirar pó ou aspirar facilitam o movimento das partículas, colocando-as em
suspensão e em contato com o ar.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 32
QUALIDADE DO AR INTERNO
Estes contaminantes representam a forma mais visível de poluição e não exigem instrumentação
sofisticada para sua detecção, podem ser notados a olho nu. O tamanho das partículas pode variar de
0,005 a 100 µm, sendo que o problemático para a saúde são as partículas pequenas o bastante para passar
pelas vias aéreas superiores e alcançar os pulmões, embora em avaliações de qualidade do ar a faixa de
estudo esteja entre 0,1 a 10 µm. No caso de partícula maiores que 15 µm, estas são grandes demais para
serem inaladas.
A composição química dos materiais particulados é bastante variável, podendo constituir-se de
amianto, fibras minerais, fibras sintéticas, esporos fúngicos, restos de insetos e resíduos alimentares, pólen,
aerossóis de produtos de consumo e alérgenos.
7.1.c Contaminantes Biológicos
De acordo como HOUSSAY (1994) os contaminantes biológicos são constituídos por bactérias,
fungos, leveduras, grão de pólem, ácaros, esporos etc. Contaminantes biológicos são bastante conhecidos
por causarem doenças infecciosas, tuberculose além de hipersensibilidade. Podem apresentar alto grau de
toxidade causando diversos efeitos desagradáveis.
A hipersensibilidade à pneumonia desenvolvida por diversas pessoas, esta associada à inalação de
esporos de fungos, sendo que em edifícios chamados doentes as queixas são freqüentes. O nível de
hipersensibilidade é determinado pela susceptividade das pessoas a tal exposição.
Os fatores que determinam a proliferação de contaminantes biológicos são umidade elevada do
ambiente, ventilação reduzida, poucas aberturas nos edifícios, sistemas de aquecimento com temperaturas
elevadas. Pessoas e animais domésticos liberam fungos e bactérias. A umidade elevada é responsável pelo
aumento das populações de ácaros e o crescimento de fungos sobre superfícies úmidas.
Um dos principais contaminantes biológicos relacionado a sistemas de climatização é a
LEGIONELLA PNEUMOPHILA, a qual é responsável por um tipo de pneumonia conhecida como “Doença
dos Legionários”. Esta se desenvolve em meios aquáticos como águas estagnadas, umidificadores,
bandejas de condensação e torres de refrigeração e são insufladas no ar através dos dutos, sendo
posteriormente inaladas na forma de aerossóis.
7.1.d Componentes Químicos
De acordo com MACINTYRE (1990), em edifícios climatizados é bastante comum encontrar a
proliferação de componentes químicos. Dentre os componentes gerados pode-se destacar os seguintes:
- Monóxido de carbono (CO) produzido a partir da combustão de matérias que contém Carbono em sua
constituição em locais com nível insuficiente de Oxigênio. Ocorrem geralmente em aquecedores de água,
fogões e aparelhos que se destinem a aquecimento. Ocorre também da fumaça de cigarros e emissões de
veículos quando a captação do ar para sistemas de climatização esta localizada próxima à rua. O CO
possui alta afinidade com a hemoglobina reduzindo a capacidade dos glóbulos vermelhos de transportar
oxigênio para os tecidos, provocando a morte de células por inanição.
– Dióxido de carbono (CO2) produzido através de combustão de combustíveis fósseis e processos
metabólicos. Este é responsável pelo controle da frequência de respiração de uma pessoa. O aumento do
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 33
QUALIDADE DO AR INTERNO
nível de CO2 provoca a sensação de falta de ar e por conseqüência a frequência respiratória é aumentada
para compensação deste efeito. Sua concentração em ambientes climatizados depende principalmente do
número de ocupantes, uma vez que estes emitem-no através do processo de respiração.
- Óxido de nitrogênio (NO) é resultado de combustões a alta temperatura, como queima de combustíveis de
veículos. Entra em ambientes através dos sistemas de captação quando estes estão colocados no nível da
rua. Pode interferir no transporte de oxigênio para os tecidos produzindo efeitos parecidos como os do CO e
ainda edema pulmonar quando em grandes concentrações.
- Dióxido de nitrogênio (NO2) produzido em ambientes internos a partir da queima de combustíveis
orgânicos em aparelhos como fogões a gás e aquecedores de ambiente, além de fumaça de cigarro. O NO2
age como um agente irritante, afetando os olhos, pele e a mucosa do nariz, sendo que em altas
concentrações pode afetar também a garganta e o trato respiratório. Devido ao fato de ser pouco solúvel em
água provoca mínima irritação no trato respiratório superior, agindo ativamente no trato inferior. A exposição
a pequenas concentrações pode aumentar a possibilidade de infecções respiratórias.
- Dióxido de enxofre é subproduto de combustão de combustíveis fósseis e compostos a base de enxofre,
apresentando cheiro característico em altas concentrações. Apresenta alta solubilidade em água sendo
absorvido pelas membranas do sistema respiratório, formando ácido sulfúrico e sulfuroso. Causa danos não
só aos ocupante como também aos equipamentos e móveis, uma vez que em contato com umidade produz
produtos corrosivos.
- Amônia (NH3) utilizado principalmente como refrigerante em sistemas de refrigeração de grande porte e
também em produtos de limpeza. Apresenta alta solubilidade em água e é bastante tóxico apresentando
cheiro característico. Afeta diretamente o trato respiratória superior uma vez que estes são bastante úmidos.
7.1.e Contaminantes gerados por Ocupantes
As atividades desenvolvidas pelos ocupantes e por conseqüência o metabolismo associado a estas,
alteram a qualidade do ar por diminuição da concentração de oxigênio e aumento da concentração de
dióxido de carbono. Respiração, transpiração e a preparação de alimentos adicionam vapor d’água, bem
como outras substâncias que geram odores à atmosfera interna.
7.2 Contaminantes Químicos Exteriores
Os contaminantes químicos exteriores mais conhecidos são aqueles provenientes de descargas de
automóveis e de gases de chaminés de fabricas. Dentre os gases pode-se destacar os monóxidos e
dióxidos de carbono, o dióxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre, o ozônio, vapores de chumbo e metais
pesados. A contaminação dos ambientes pelos elementos citados se dá principalmente em função de
entradas de ar, localizadas no nível do terreno ou próximas ao tráfego. Na figura 13 é possível visualizar a
contaminação do sistema de climatização, devido à proximidade da captação do ar externo com fontes
emissoras de contaminante.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 13 – Contaminação na captação de ar externo - Fonte NTT (2003)
Outra variável que permite a contaminação é o fato de os equipamentos não se encontrarem em
boas condições de manutenção permitindo assim, a dispersão dos contaminantes pelo sistema de
ventilação e climatização.
7.3 Agentes Desconhecidos
A chamada deste item apenas ressalta a necessidade de investigações acerca da ocorrência de
diversas sintomalotogias indicadas por ocupantes, sem que os agente causadores pudessem ser
identificados. Como visto anteriormente, estes são responsáveis por um elevado nível de problemas
pulmonares.
8. DOENÇAS ASSOCIADOS À QUALIDADE DO AR INTERNO
Em função dos problemas na qualidade do ar em ambientes climatizados, várias doenças que
afetam o sistema respiratório podem ser difundidas nestes locais. Estas doenças podem ser diagnosticadas
e definidas clinicamente em função dos sintomas apresentados pelos ocupantes os quais podem ser
atribuídos aos contaminantes existente no ar.
As doenças respiratórias adquiridas em ambientes de trabalho são conhecidas como Doenças
Pulmonares Ocupacionais. Estas são causadas pela inalação de partículas, névoas, vapores ou gases
nocivos no ambiente de trabalho. Estas substâncias podem se depositar nas vias aéreas ou nos pulmões,
dependendo de tamanho e do tipo de partículas que as compõem. Partículas maiores tendem a ficar retidas
nas narinas ou nas vias aéreas, sendo que as menores tendem a atingir os alvéolos pulmonares.
Existem alguns fatores que permitem identificar doenças relativas à qualidade do ar de edifícios.
Freqüentemente deve-se monitorar fatores como tosse, rouquidão, catarro, dores no peito, náuseas,
tonturas, febres, arrepios e dores musculares. Segundo NIOSH (1987), algumas das principais doenças
relacionadas aos problemas citados, assim como os sintomas, são relacionadas a seguir.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
8.1 Doenças Ocupacionais Das Vias Aéreas Inferiores
8.1.1 Doença do Legionário ou Legionelose
A doença do legionário é causada pela bactéria Legionella pneumophila e por outras espécies de
Legionella. A doença do legionário tende a ocorrer em épocas como o final do verão e início do outono. A
bactéria Legionella vive em meios aquáticos e tendem a se propagar pelos de sistemas de climatização de
edifícios. A doença do legionário pode produzir sintomas diversos desde simples tonturas, podendo
entretanto, ser letal.
Os principais sintomas são fadiga, febre, cefaléia e dores musculares, tosse seca, dificuldade
respiratória, diarréia, confusão mental e outros distúrbios mentais.
8.1.2 Asma Ocupacional
É definida como sendo um espasmo reversível das vias respiratórias, tornando a respiração difícil.
Estes espasmos estão associados à inalação de partículas ou de vapores, e são bastante freqüentes em
ocupante sensíveis a produtos irritantes. A figura 14 apresenta o sistema respiratório acometido de asma.
Pode-se perceber a inflamação indicada pelos tons avermelhados nos pulmões.
Os sintomas são dificuldade respiratória, sensação de opressão no peito, sibilos (chio de peito),
tosse, espirros, coriza e lacrimejamento. Estes ocorrem predominantemente horas depois que o trabalhador
termina sua jornada de trabalho. Em alguns casos podem desaparecer por um período de tempo, surgindo
a seguir. Esta característica por vezes dificulta o estabelecimento da relação entre os sintomas e a
qualidade do ar.
Figura 14 – Quadro típico de Asma - Fonte www.medlineplus.gov
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QUALIDADE DO AR INTERNO
8.1.3 Pneumonia
A pneumonia é uma infecção dos pulmões que, envolve os alvéolos e os tecidos circunjacentes.
Freqüentemente, a pneumonia é a doença terminal de indivíduos portadores de outras doenças crônicas
graves. A pneumonia é um conjunto de diversas doenças diferentes. Na figura 15 tem-se em destaque o
efeito de entupimento causado pela pneumonia.
São associadas a diversas bactérias como Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae,
Staphylococcus aureus, Legionella, Haemophilus influenzae e também vírus como a gripe e a varicela.
Alguns fungos também causam pneumonia.
Os sintomas comuns da pneumonia são a tosse, dor toráxica, calafrios, febre e dificuldade
respiratória.
Figura 15 – Quadro típico de Pneumonia - Fonte www.medlineplus.gov
8.1.3.a Pneumonia Pneumocócica
O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é a causa bacteriana mais comum de pneumonia. O
indivíduo infectado com um dos oitenta tipos conhecidos de pneumococos adquire uma imunidade parcial
contra a reinfecção desse tipo, mas não se torna imune aos demais tipos. Geralmente, a pneumonia
pneumocócica inicia após uma infecção viral do trato respiratório superior (resfriado, faringite ou gripe) ter
lesado suficientemente os pulmões, a ponto de permitir que pneumococos infectem a área.
O paciente apresenta tremores e calafrios, acompanhados por febre, tosse, dificuldade respiratória
e dor torácica (no lado do pulmão afetado). Também são comuns a náusea, vômito, fadiga e dores
musculares. Freqüentemente, o escarro apresenta uma cor de ferrugem devido à presença de sangue.
Existe uma vacina que protege até 70% dos indivíduos contra infecções pneumocócicas graves.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
8.1.3.b - Pneumonia Viral
É um tipo de pneumonia causada por alguns tipos de vírus como por exemplo o vírus sincicial
respiratório, o adenovírus, o vírus da parainfluenza, vírus da influenza, vírus do sarampo e o vírus da
varicela.
8.1.3.c - Pneumonia por Fungos
É um tipo de pneumonia causada por fungos, destacando-se três tipos em especial: o Histoplasma
capsulatum, que causa a histoplasmose, o Coccidioides immitis, que causa a coccidioidomicose, e o
Blastomyces dermatitidis, que causa a blastomicose. Após serem inalados os fungos podem causar uma
pneumonia aguda ou crônica.
Os principais sintomas são tosse, febre, dores musculares e dor torácica sendo que estes podem
persistir por meses.
8.1.4 Pneumonite de Hipersensibilidade
A pneumonite por hipersensibilidade é uma manifestação clínica de um grupo de doenças
pulmonares, resultantes da sensibilização por exposições recorrentes a inalações de partículas antigênicas e
material orgânico. É uma inflamação que atinge os alvéolos pulmonares sendo causada por reação alérgica
a poeiras orgânicas inaladas e substâncias químicas. As poeiras orgânicas são aquelas que contêm
microrganismos ou proteínas. A exposição às poeiras produz sensibilização dos linfócitos e formação de
anticorpos, acarretando a inflamação dos pulmões e um acúmulo de leucócitos nas paredes dos alvéolos.
Pode ser chamada de alveolite alérgica extrínsica . É uma resposta imune à partículas que são
menores que 5 μ e que chegam nos bronquíolos terminais, respiratórios e alvéolos. A resposta dependerá da
partícula inalada. Clinicamente é uma dispnéia, sibilância, febre, tosse seca, mal estar geral e fadiga, após
exposições periódicas.
Os principais sintomas são febre, tosse, calafrios e dificuldade respiratória, perda de apetite, náusea
e vômito sendo que a freqüência dos sintomas é de quatro a oito horas após a exposição aos
contaminantes. A evolução é progressiva, com perda de peso. Não há sintomas agudos da exposição. Pode
evoluir cronicamente para cor pulmonale. Com a evolução da doença aparecem opacidades regulares e
irregulares, difusas, aumento da trama traqueobrônquica, redução volumétrica dos pulmões e faveolamento.
8.1.5 Fibrose Pulmonar Idiopática
A fibrose pulmonar é causada por muitas doenças, especialmente por aquelas que envolvem
alterações do sistema imune e são provenientes de vírus, micoplasmas, tuberculose disseminada, poeiras
minerais (sílica, carbono, limalha metálica, asbesto), poeiras orgânicas, gases, fumaças e vapores. O termo
idiopático significa “de origem desconhecida”. A figura 16 mostra um sistema respiratório acometido de
fibrose pulmonar com o pulmão direito apresentando faixas de cicatrização e formação de cavidades.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 16 – Quadro típico de Fibrose Pulmonar Idiopática - Fonte www.medlineplus.gov
Os sintomas mais comuns são dificuldade respiratória, tosse, perda de apetite, perda de peso,
cansaço, fraqueza e dores vagas no tórax. O esforço excessivo do coração pode levar a uma insuficiência
cardíaca.
8.2 Doenças Ocupacionais das Vias Aéreas Superiores
8.2.1 Rinites Alérgicas e Irritativas
Rinites Alérgica são provenientes de Animais de laboratório, grãos de café verde, farinha de trigo,
poeira de cereais, cedro vermelho,anidrido trimetílico e ftálico,isocianatos, papel cópia não carbonado.
Existem mais de 200 substâncias listadas como causa de Rinites Irritativas, entre eles os halogênios (flúor,
cloro, bromo, iodo), e seus compostos, dos ácidos fortes, e de solventes orgânicos com baixo ponto de
evaporação.
As figuras abaixo mostram quadros típicos de Rinite e Dermatite respectivamente.
Figuras 17e18 – Quadro Típico de Rinite e Dermatite - Fonte www.medlineplus.gov
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QUALIDADE DO AR INTERNO
O quadro a seguir apresenta as principais doenças associadas aos Edifícios.
Quadro 3 – Doenças associadas aos Edifícios
Patologia Agente Causador Fisiopatologia Apresentação Clínica
Bactéria Legionella
Pneumofilia
Infecção Respiratória
por bactérias viáveis
dispersas no ar
Tosse seca febre,
mialgia, calafrios.
Pode evoluir para
morte
Legionelose
Reação Inflamatória
com granulomas e
fibrose causadas por
reações de
hipersensibilidade
Febre, mialgia, tosse e
pneumonias
recorrentes
Pneumonite de
Hipersensibilidade
Antígenos associados
com fungos, bactérias
protozoários, insetos e
endotoxinas
Os mesmos da
Pneumonite de
Hipersensibilidade
Resposta Inflamatória
transitória e sem
formação de
granulomas
Febre, mialgia e
astenia, sem sintomas
ou seqüelas
pulmonares
Febre do umidificador
Ácaros, fungos
alérgenos de animais,
toxinas bacterianas
Irritação inespecífica
ou exacerbação de
inflamação alérgica
preexistente
Plurido e obstrução
nasais, coriza,
espirros, tosse, sibilos
e dispnéia
Rinite e Asma
Exposição a produtos
irritativos como lã de
vidro, produtos de
limpeza
Dermatite de contato
irritativo ou alérgica
Plurido, descamação,
eritema, pápulas ou
vesículas
Eczema ou Dermatite
de Contato
Fonte www.alergohouse.com.br
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QUALIDADE DO AR INTERNO
O quadro a seguir apresenta um resumo dos principais contaminantes e seus sintomas
característicos
Quadro 4 – Contaminantes e seus efeitos
NO O Chumbo e Material CO COSO2 2 3 2
Dióxido Dióxido Ozônio Metais Particulado Monóxido Dióxido
de de Pesados de de
Enxofre Nitrogênio Carbono Carbono
Queimação nos olhos X X X
Ardência nas narinas X X X X X
Falta de ar X X X X X X X
Rinite X X X X X
Sinusite X X X X X
Tosse X X X X X
Pressão alta X X X X X X
Stress X X X X X X
Enxaqueca X X X X X
Escamação da pele X X
Dor nos ossos X X
Dor de cabeça X X X X X
Tontura X X X X
Ansiedade X X X X
Perda dos sentidos X X X X X
Entupimento do nariz X X X X
Dor de ouvido X X X X
Pressão sobe o coração X X X X X
Fonte NIOSH (1987)
9. LEGISLAÇÃO SOBRE QUALIDADE DO AR INTERNO
Os ambientes que apresentam condições severas de contaminação ou de conforto são tidos como
insalubres e dependendo da gravidade podem ser caracterizados como portadores de periculosidade.
Segundo BRASIL – CLT (2003) a insalubridade tem os seguintes termos:
“Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que,
por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de
exposição aos seus efeitos.”
A legislação brasileira sobre Qualidade do Ar Interno resumia-se a procedimentos de manutenção
dos sistemas de climatização e conforto térmico. Os parâmetros sobre o projeto e manutenção de sistemas
de condicionamento de ar sempre foram pautados pelas normas da ABNT e similares estrangeiras. Um
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QUALIDADE DO AR INTERNO
certo destaque para o assunto foi obtido após a morte do ex-ministro de comunicações Sérgio Motta. Este
senhor foi vitimado por uma infecção hospitalar proveniente de alto grau de sujidade nos Dutos de
Condução de Ar no hospital onde estava internado. Verificou-se então, que as condições de salubridade
não mais poderiam ser pautadas pelos parâmetros determinados pelas normas previstas na legislação
anterior.
Surge então a Portaria 3523 de 28 de agosto de 1998, cujo texto tem por objetivo, a minimização
dos riscos potenciais à saúde dos ocupantes em função de sua permanência em ambientes climatizados,
procurando criar um Plano de Manutenção dos Sistemas de Climatização de Edifícios Públicos,
Residenciais, etc, mais completo do que os utilizados até então.
Nesta portaria está contemplada também a exigência da limpeza e desinfecção de dutos e sistemas
de ar condicionado com capacidade superior a 5 TR em edifícios públicos, hotéis, hospitais etc, e de
verificações semestrais nos Sistemas de Climatização, além da limpeza e higienização dos mesmos.
Regulamenta ainda a definição de parâmetros físicos e composição física, química e biológica, além das
tolerâncias e métodos de controle, bem como os pré-requisitos de projetos de instalação e de execução de
sistemas de climatização.
Esta portaria define ainda que, o seu descumprimento configura infração sanitária, acarretando
pesadas multas para os infratores, remetendo-os as penalidade previstas na Lei n° 6.437, de 20 agosto de
1977. Com o passar do tempo, verificou-se que a portaria precisava identificar instrumentos que
mensurassem sua eficácia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em função desta
preocupação, redigiu então, a Resolução 176 de 24 de outubro de 2000, a qual cria os Padrões
Referenciais de Qualidade do Ar Interno e determina ainda a necessidade de um responsável técnico,
quando de instalações de grande porte.
Os resultados obtidos com a resolução 176, mostraram que esta ainda teria que ser aperfeiçoada,
uma vez que os trabalhadores dos edifícios públicos, continuavam apresentando sintomas de doenças
relacionadas aos sistemas de climatização. Em 16 de janeiro de 2003, a ANVISA editou a Resolução 9, com
a finalidade de sanar as falhas identificadas na resolução 176.
A Resolução 9 trouxe novidades como a determinação de recolhimento regular de amostras do ar
de qualquer área de trabalho, sendo que anteriormente apenas áreas com superfície superior a 3000
metros quadrados estavam obrigadas a tal atividade. Outra alteração diz respeito à determinação dos
limites máximo de contaminação através de contaminantes biológicos e químicos.
Atualmente as normas e legislações acerca de qualidade do ar utilizadas no Brasil são aquelas
indicadas a seguir.
- Portaria no
3523 de 28/08/1998 do Ministério da Saúde
- Resolução ANVISA nº 9, 16 de janeiro de 2003
- RDC 50 ANVISA - Regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de
projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.
- RENABRAVA I - Recomendação Normativa ABRAVA para Execução de Serviços de Limpeza e
Higienização de Sistemas de Distribuição de Ar.
- RENABRAVA II – Qualidade do Ar Interior em Sistemas de Condicionamento de Ar e Ventilação para
Conforto
- NBR 6401 - Instalações centrais de ar condicionado para conforto – Parâmetros básicos de projeto.
- NBR 5413 – Iluminância de Interiores.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
- NBR 7256 - Tratamento de ar em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) – Requisitos para projeto
e execução das instalações.
- NBR 3422 - Agentes químicos no ar – Coleta de aerodispersóides por filtração.
- NBR 9547 - Material particulado em suspensão no ar ambiente – Determinação da concentração total pelo
método do amostrador de grande volume.
- NBR 14679 - Sistemas de condicionamento de ar e ventilação – Execução de serviços de higienização.
- Resolução CONAMA No
3 de 28/06/90
- NBR 13.971 - Sistemas de Refrigeração, Condicionamento de Ar e Ventilação - Manutenção programada
- Norma ANSI / ASHRAE 52.1 (Gravimetric and Dust-Spot Procedures for Testing Air-Cleaning Devices
Used in General Ventilation for Removing Particulate Matter).
- Norma ANSI/ASHRAE 62-2004 - Ventilation for Acceptable Indoor Air Quality. (em manutenção
permanente) e projetos de adenda publicados em 2004.
- Norma ANSI/ASHRAE 129-1997- Measuring Air-Change Effectiveness.
- Norma ASHARAE 55-1992 – Thermal Environmental Conditions for human occupancy
- Norma Regulamentadora 07 do Ministério do Trabalho e Emprego – Programa de Controle Médico e
Saúde Ocupacional - PCMSO
- Norma Regulamentadora 09 do Ministério do Trabalho e Emprego – Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais - PPRA
- Norma Regulamentadora 15 do Ministério do Trabalho e Emprego – Atividade e Operações Insalubres.
- Norma Regulamentadora 31 do Ministério do Trabalho e Emprego – Segurança e Saúde no Trabalho em
Serviços de Saúde
- Lei n. 8078 de 11 de setembro de 1990 – Lei do Consumidor
- Lei 10257 de 10 de julho de 2001 – Estatuto da Cidade
- Lei 6437 de 20 de agosto de 1977 – Infrações à Lei Sanitária Federal
- Lei 9695 de 20 de agosto de 1998 – Altera os arts. 2, 5 e 10 da lei 6437
- Medida Provisória n. 2190-34 de 23 de agosto de 2001 – altera dispositivos das leis 9782 e 6437
- NHO 02 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Análise Qualitativa da Fração Volátil (Vapores
Orgânicos) em colas, tintas e vernizes por Cromatografia Gasosa / Detector de Ionização de Chama.
- NHO 03 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Análise Gravimétrica de Aerodispersóides
Sólidos coletados sobre Filtros de Membrana.
- NHO 04 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Método de Coleta e Análise de Fibras em
Locais de Trabalho – análise por microscopia ótica de constraste de fase.
- NHO 07 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Calibração de Bombas de Amostragem
Individual pelo Método da Bolha de Sabão.
- Guia de Contratação de Empresas Prestadoras de Serviços em Controle de Qualidade do Ar de Interiores
Brasindoor
- Limites Exposição (TLVs) para Substâncias Químicas e Agentes Físicos e Índices Biológicos de Exposição
(BELs) - ACGIH 2005.
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QUALIDADE DO AR INTERNO
10. PADRÕES DE QUALIDADE DO AR
A seguir são apresentados em forma de tabela os padrões de qualidade do ar indicados pela IAQA
(Associação Internacional de Qualidade do Ar em Interiores). O Brasil adota vários destes parâmetros como
referência para suas normas, efetuando alguns ajustes para a necessidade sócio econômico do país.
Tabela 6 - Padrões Recomendados para Ambientes Confinados
IAQA 01 Parâmetro Limite/Escala Referência
Parâmetros Físicos
o
ASHRAE 551.1 Temperatura Verão 20 – 24 C
Inverno 22 – 26 o
C
1.2 Umidade Relativa 30 % - 65 % Florida Dept.Man.Ser
1.3 Movimento do Ar 0.25 m/s WHO/OMS
3.0 Filtragem 25% - 30% Efeitos da Poeira ASHRAE 52.1
4.0 Pressurização 1 - 5 Pascals Florida solar Energy Center;
Lstiburek
3
5.1 Partículas Respiráveis 50 µg/m State of Califórnia, Air
Resources Board
3
5.2 Particulados em Sistemas
HVAC Limpos
1.0 µg/m NADCA 1992-01
Parâmetros Químicos
6.1 Monóxido de Carbono 9 ppm EPA- National Ambient Air
Quality Standard
6.3 Ozônio 0.05 ppm OMS / WHO
3
7.1 Total da Volatilidade Orgânica de
Compostos
3 µg/m (0.64 ppm) Molhave, 1990
7.2 Formaldeído 0.06 µg/m3
(0.05 ppm) Health & Welfare Canada
Parâmetros Biológicos
8.1 Fungos e Bioaerossóis 300 UFC/m3
total Robertson, 1997
50 UFC/m3
individual
(excetuando Cladosporium)
8.2 Bactéria, Bioaerosóis (culturable) 500 CFU/m3
total OMS / WHO
Fonte www.waysoflife.com
o
O Brasil através da Resolução CONAMA n 3 estabelece a qualidade mínima aceitável do ar
exterior usado para renovação. Os limites da tabela 7 são também válidos para o ar interior. A tabela 8
indica os limites recomendados para alguns contaminantes importantes do ar interior.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 44
QUALIDADE DO AR INTERNO
Tabela 7 – Limites de concentração do ar exterior
Poluente Tempo de amostragem Padrão primário
(µg/m3
)
Dióxido de Enxofre (SO2) 24 horas (1)
MAA (3)
365
80
Partículas Totais em
Suspensão (PTS)
24 horas (1)
MGA (2)
240
80
Partículas inaláveis 24 horas (1)
MAA (3)
150
50
Fumaça 24 horas (1)
MAA (3)
150
60
Monóxido de Carbono (CO) 1 hora (1)
8 horas
40000 (35 ppm)
10000 ( 9 ppm)
Ozônio 1 hora (1) 160
Dióxido de Nitrogênio (NO2) 1 hora (1)
MAA (3)
320
100
Fonte CONAMA (1990)
Notas
Padrão Primário: São concentrações de poluentes, que ultrapassados, poderão afetar a saúde da
população
(1) Não deve ser excedido mais que uma vez por ano
(2) Média Geométrica Anual
(3) Média Aritmética Anual
Tabela 8 - Padrões Adicionais de Qualidade do Ar Interior
Poluente Padrão primário Fonte
desejável até 1000 ppm
máx. 2000 ppm
Dióxido de Carbono (CO2) ASHRAE / SMACNA
Componentes Orgânicos
Voláteis
3
ASHRAEmax 300 a 1000 µg/m
3
max. 0.12 µg/m
Formaldeído WHO / ASHRAE
(0,1 ppm)
até 750 UFC/ m3
(a)
(bactérias e fungos viáveis)
HBI
Healthy Buildings Internacional
Padrão microbiológico
Fonte CONAMA (1990)
(a) aceitável desde que não inclua espécies infecciosas ou alergênicas. Verificando-se a ocorrência de tais
espécies, mesmo com contagens totais menores, devem ser tomadas medidas corretivas.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 45
QUALIDADE DO AR INTERNO
11. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR
Para determinar-se a Qualidade do Ar de um ambiente climatizado, é necessário lançar mão de
metodologias destinadas a tal finalidade. Existem diversas metodologias disponíveis, sendo que a aceitação
ou não dos resultados obtidos, cabe aos órgãos regulamentadores.
No Brasil a metodologia adotada para estes casos é aquela sugerida pelas Resoluções e
Regulamentos Técnicos da ANVISA em concordância com as normas técnicas da ABNT. Estas
normalizações determinam os parâmetros a serem avaliados, de forma a obter-se o nível de qualidade do ar
em um determinado local climatizado. A ANVISA indica em sua resolução 9 que os edifícios com
características diferenciadas como serviço médico e de saúde, restaurantes e creches devem ter suas
amostragens realizadas de forma isolada e com critérios diferenciados.
Os parâmetros fundamentais sugeridos e definidos pelas regulamentações para serem avaliados
são os seguintes:
- Material particulado
- Umidade relativa, Temperatura e Velocidade do ar
- Fungos, bolores e bactérias
- Dióxido de Carbono (CO2)
São definidos também outros parâmetros para uma análise mais completa da qualidade do ar,
embora estes não sejam adotados corriqueiramente. A ANVISA coloca como prioridade a medição dos
parâmetros fundamentais citados anteriormente. Os parâmetros complementares são os seguintes:
- Monóxido de Carbono (CO)
- Formaldeídos
- Dióxido de Nitrogênio (NO2)
- Compostos Orgânicos Voláteis (COV)
- Compostos Orgânicos Semi-Voláteis (COS-V)
- Ozônio (O3)
- Avaliação do nível de satisfação dos usuários
O monitoramento da concentração de CO2 é bastante importante uma vez que no ambiente interior
ele é produzido mais fortemente pelo metabolismo dos ocupantes, indicando assim se o sistema de
climatização esta bem dimensionado para atender esta demanda. No entanto, na Consulta Pública 109 da
ANVISA este monitoramento não esta mais previsto, sendo substituído pela contagem de partículas
inaláveis.
A resolução 9 da ANVISA ainda em vigor determina a metodologia apresentada nos próximos itens,
a fim de permitir a avaliação da qualidade do ar interno. A tabela 9 apresenta o número mínimo de amostras
em função da área construída.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 46
QUALIDADE DO AR INTERNO
Tabela 9 - Número mínimo de amostras em função da área construída
Área Construída (m2
) Número mínimo de
amostras
Até 1000 1
1000 a 2000 3
2000 a 3000 5
3000 a 5000 8
5000 a 10000 12
10000 a 15000 15
15000 a 20000 18
20000 a 30000 21
Acima de 30000 25
Fonte ANVISA (2003)
11.1 Determinação de Parâmetros físicos
Os parâmetros físicos a serem avaliados são a temperatura, umidade relativa e velocidade do ar. O
objetivo é quantificar temperatura e umidade como marcadores epidemiológicos de saúde e a velocidade do
ar como marcador epidemiológico de conforto ambiental.
Os limites admitidos para estes parâmetros são:
Temperatura: 23°C a 26°C no verão
20°C a 22°C no inverno
Umidade: 40% a 65% no verão
35% a 65% no inverno
Velocidade: 0,025 m/s a 0,25 m/s
As medições de temperatura e umidade devem ser realizadas com um termohigrômetro dotado de
sensor de temperatura do tipo termo-resistência e sensor de umidade do tipo capacitivo ou por
condutividade elétrica. A faixa de operação deve ser 0 a 70 o
C com exatidão de ± 0.8 o
C para temperatura
e 5 a 95 % com ± 5% do valor medido para umidade. No caso da velocidade do ar deve ser utilizado
anemômetro do tipo fio aquecido ou fio térmico com faixa de medição de 0 a 10 m/s e exatidão de ± 4% do
valor medido. Os equipamentos devem ser calibrados anualmente.
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 47
QUALIDADE DO AR INTERNO
Figura 19 – Termo-Higrômetro e Anemômetro de Fio Aquecido - Fonte Catálogo Energética Equipamentos
de Qualidade do Ar
O número de amostragens é definido conforme a área construída do edifício. Os pontos de
amostragens devem ser distribuídos uniformemente e os instrumentos devem estar localizados a uma
distância de 1.5 m do chão. A tabela 10 apresenta o número mínimo de amostras em função da área
construída.
11.2 Controle microbiológico
Este contempla a pesquisa da microbióta fúngica, aplicando-se a coleta, encubação, contagem total
e identificação dos fungos e bactérias presentes no ar de ambientes internos climatizados. O objetivo é
quantificar e identificar os fungos de maneira que estes sejam utilizados como marcadores epidemiológicos
da Qualidade do Ar.
É possível através desta analise obter-se uma avaliação do ambiente em relação à
hipersensibilidade dos indivíduos. A resolução traz em seu texto um fator que relaciona o número de fungos
do ar interno com o ar externo. Através desta relação pode-se determinar que um ambiente é dito tolerável
se a contagem de fungos for no máximo 50% maior do que o ambiente externo. O número de fungos é
dado em relação a unidades formadoras de colônias (UFC) e o limite para o ambiente interno é de 750
ufc/m3
. É preciso salientar que os fungos não podem ser dos tipos patogênicos e toxicogênicos.
A coleta de amostras é realizada utilizando-se um impactador linear do tipo Andersen, podendo este
apresentar 1, 2 ou 6 estágios. A figura 20 mostra um Impactador Andersen de 1 estágio. O processo
consiste de aspirar o ar com uma vazão de 28.3 l/min durante um período de 5 a 15 minutos, fazendo-o
passar por um elemento filtrante e forçando-o a depositar-se em uma placa de petri contendo o meio de
cultura. Para coleta de fungos, os meios de cultura indicados são o Agar Extrato de Malte, Agar Sabouraud
ou o Agar Batata. Para a coleta de bactérias deve-se utilizar o Agar Sangue de Carneiro.
Figura 20 – Impactador Andersen de 1 estágio - Fonte Catálogo Energética Equipamentos de Qualidade do
Ar
Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 48
QUALIDADE DO AR INTERNO
O processo procura simular a maneira como fungos ou bactérias são inalados pelo sistema
respiratório e os estágios em que ocorrem. A figura a seguir ilustra este processo de inalação.
Figura 21 – Relação entre o número de estágios do amostrador e os estágios de inalação do sistema
respiratório - Fonte Catálogo Energética Equipamentos de Qualidade do Ar
As amostras são então lacradas com fita de teflon e enviadas ao laboratório de análises para
encubação, contagem e identificação de fungos, conforme rotina de embalagem com nível de
biossegurança 2. O tempo de incubação mínimo é de 7 dias em uma temperatura de 25 o
C permitindo-se
assim o crescimento total dos fungos.
O número de amostragens é definido conforme a área construída do edifício. Os pontos de
amostragens devem ser distribuídos uniformemente e os instrumentos devem estar localizados a uma
distância de 1.5 m do chão. A tabela 10 apresenta o número mínimo de amostras em função da área
construída.
11.3 Determinação de aerodispersóides
Este procedimento permite a contagem de particulados aerodispersos, através do método de
gravimetria. O objetivo é quantificar a matéria particulada no ar ambiental (poeira). A matéria particulada é
um marcador epidemiológico que indica a deficiência de filtragens ou acúmulo de sujidade em dutos ou
ainda em ambientes interiores. O limite para considerar-se o ambiente adequado é 80 mg/m3
de
aerodispersóides totais no ar.
O procedimento de amostragem consiste de aspirar o ar do ambiente interno por intermédio de uma
bomba de amostragem com vazão recomendada de 2 l/min, fazendo-o passar por um porta-filtro onde se
encontra uma unidade de filtro. Esta unidade é constituída de uma mistura de ésteres de celulose com
porosidade de 5 µm e diâmetro de 37 mm. O tempo de amostragem é fixado em função do volume a ser
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  • 1. Engenharia de Segurança do Trabalho QUALIDADE DO AR INTERNO JOSÉ EDSON BASTO Eng. de Segurança do Trabalho Eng. Mecânico ITAJAÍ - 2007
  • 2. QUALIDADE DO AR INTERNO SUMÁRIO TABELAS........................................................................................................................................................... 6 1. A IMPORTÂNCIA DO AR............................................................................................................................. 8 2. QUALIDADE DO AR INTERNO ................................................................................................................. 10 2.2 Requisitos para a Garantia da Qualidade do Ar Interno....................................................................... 14 3. CONFORTO TÉRMICO ............................................................................................................................. 14 3.1 Avaliação do Conforto Térmico............................................................................................................. 16 4. SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO................................................................................................................. 19 4.1 Componentes do Sistema de Climatização .......................................................................................... 20 5. FILTROS DE AR.......................................................................................................................................... 25 6. PADRÕES DE PARTÍCULAS ..................................................................................................................... 27 7. CONTAMINANTES...................................................................................................................................... 31 7.1 Contaminantes Químicos Interiores...................................................................................................... 31 7.1.a Compostos Orgânicos Voláteis .................................................................................................... 31 7.1.b Materiais particulados.................................................................................................................. 32 7.1.c Contaminantes Biológicos.............................................................................................................. 33 7.1.d Componentes Químicos ................................................................................................................ 33 7.1.e Contaminantes gerados por Ocupantes........................................................................................ 34 7.2 Contaminantes Químicos Exteriores..................................................................................................... 34 7.3 Agentes Desconhecidos................................................................................................................. 35 8. DOENÇAS ASSOCIADOS À QUALIDADE DO AR INTERNO.................................................................. 35 8.1 Doenças Ocupacionais Das Vias Aéreas Inferiores ............................................................................. 36 8.1.1 Doença do Legionário ou Legionelose ......................................................................................... 36 8.1.2 Asma Ocupacional........................................................................................................................ 36 8.1.3 Pneumonia..................................................................................................................................... 37 8.1.4 Pneumonite de Hipersensibilidade ............................................................................................... 38 8.1.5 Fibrose Pulmonar Idiopática ......................................................................................................... 38 8.2 Doenças Ocupacionais das Vias Aéreas Superiores ........................................................................... 39 8.2.1 Rinites Alérgicas e Irritativas ......................................................................................................... 39 9. LEGISLAÇÃO SOBRE QUALIDADE DO AR INTERNO............................................................................. 41 10. PADRÕES DE QUALIDADE DO AR........................................................................................................ 44 Parâmetros Físicos............................................................................................................................. 44 Parâmetros Químicos ......................................................................................................................... 44 Parâmetros Biológicos........................................................................................................................ 44 11. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR ................................................................... 46 11.1 Determinação de Parâmetros físicos.................................................................................................. 47 11.2 Controle microbiológico....................................................................................................................... 48 11.3 Determinação de aerodispersóides .................................................................................................. 49 11.4 Determinação de CO (Dióxido de Carbono).................................................................................... 502 11.5 Contador de Partículas ..................................................................................................................... 51 12. MEDIDAS PARA CORREÇÃO DOS PROBLEMAS DE QUALIDADE DO AR........................... 52 12.1 Sistemas de Supervisão e Controle Predial ..................................................................................... 53 Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 2
  • 3. QUALIDADE DO AR INTERNO 12.2 Ionização Negativa............................................................................................................................. 54 12.3 Lâmpadas Ultravioletas...................................................................................................................... 55 13. LIMPEZA E HIGIENIZAÇÃO..................................................................................................................... 55 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................................ 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................ 59 ANEXOS.......................................................................................................................................................... 62 A.1 PORTARIA Nº 3.523, DE 28 DE AGOSTO DE 1998 .................................................................. 62 A.2 RESOLUÇÃO - RE Nº 9, DE 16 DE JANEIRO DE 2003............................................................. 70 A.3 Fluxograma de um Plano de Gerenciamento de Qualidade do Ar .............................................. 79 A.4 GUIA DE CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS EM CONTROLE DE QUALIDADE DE AR DE INTERIORES. Volume I - Guia nº 01 2003 ....................................................... 80 A.5 RECOMENDAÇÃO NORMATIVA ABRAVA PARA EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA E HIGIENIZAÇÃO DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE AR......................................................................... 86 Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 3
  • 4. QUALIDADE DO AR INTERNO Quando você não respira, nada mais importa!!! Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 4
  • 5. QUALIDADE DO AR INTERNO RESUMO O presente trabalho pretende apresentar os requisitos para manter a qualidade do ar em ambientes climatizados, mostrando os principais aspectos que interferem na obtenção de um ambiente salubre e adequado para a realização das diversas atividades laborais. A insalubridade apresentada em ambientes climatizados pode ser associada à baixa qualidade do ar insuflado nestes locais, assim como a formação, movimentação e dispersão de contaminantes. Devido à complexidade de variáveis impostas, assim como a integração quase constante entre trabalhadores e enfermidades, o Ambiente Hospitalar foi escolhido para servir como estudo de caso, possibilitando-se avaliar os parâmetros e os requisitos determinantes para o enfoque do presente trabalho. Os ambientes chamados “doentes” apresentam uma série de características de insalubridade provocando diversos sintomas nos ocupantes e por conseqüência, diminuição da produtividade e aumento do absenteísmo nestas situações. Um dos aspectos principais para minimizar o problema é a necessidade de se ampliar a discussão acerca das medidas de prevenção e inibição dos fatores nocivos à saúde, assim como a purificação do ar, a salubridade e o conforto. Neste sentido é fundamental manter sob análise freqüente os textos da Legislação vigente e as implicações na garantia da Qualidade do Ar Interno (QAI), visto que as referidas normalizações foram introduzidas recentemente no âmbito da saúde e segurança do trabalho, estando estas ainda em fase praticamente experimental. Um dos objetivos é apresentar um levantamento bibliográfico que permita descrever a importância da qualidade do ar e os processos envolvidos em um sistema de climatização, além da importância destes para as atividades desenvolvidas nos ambientes climatizados. Procura-se ainda apresentar os problemas inerentes, assim como os constituintes nocivos do ar, os quais contribuem para uma série de sintomas apresentados pelos ocupantes. Apresentados tais fatores é possível determinar e avaliar os requisitos básicos para a qualidade do ar no interior dos ambientes sujeitos a processos de climatização. Palavras Chave: Segurança do Trabalho, Qualidade do Ar Interno, Síndrome dos Edifícios Doentes, Doenças Relacionadas aos Edifícios, Climatização, Ventilação, Ambientes Hospitalares. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 5
  • 6. QUALIDADE DO AR INTERNO Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 6 TABELAS TABELA DE CONVERSÃO DE VÁRIAS UNIDADES Comprimento 1m=3,281pés=39,37pol Área 1m²=10,76pés²=1.550pol² Volume 1m³=35,3pés³=1.000litros Volume 1galão(USA)=3,8litros 1galão(GB)=4,5 litros Massa 1kg=2,2 lb 1lb=0,45kg 1 onça=28,35g Pressão 1atm=1,033kgf/cm²=14,7lbf/pol²(PSI) Pressão 1bar=100kPa=1,02atm=29,5polHg Energia 1kWh=860kcal 1kcal=3,97Btu Energia 1kgm=9,8J 1Btu=0,252kcal Potência 1kW=102kgm/s=1,36HP=1,34BHP=3.413Btu/h Potência 1TR=3.024kcal/h=200Btu/min=12.000Btu/h Temperatura ºF=32+1,8.ºC K=273+ºC R=460+ºF COMPRIMENTO cm m km in ft mi 1 centímetro (cm) 1 0,01 0,00001 0,3937 0,0328 0,000006214 1 metro (m) 100 1 0,001 39,3 3,281 0,0006214 1 quilômetro (km) 100000 1000 1 39370 3281 0,6214 1 polegada (in) 2,54 0,0254 0,0000254 1 0,08333 0,00001578 1 pé (ft) 30,48 0,3048 3,048 12 1 0,0001894 1 milha terrestre (mi) 160900 1609 1,609 63360 5280 1 PRESSÃO atm PSI(lbf/in²) Kgf/cm² Bar mmHg(Torricelli) mH2O in. Hg Pascal(Pa) atm 1 14,6959 1,033 1,01325 760 10,33 29,92 101325 PSI(lbf/in²) 0,0680 1 0,07031 0,06895 51,71 0,70307 2,04 6894,8 Kgf/cm² 0,96778 14,2234 1 0,98 735,514 10 28,9572 98066,5 Bar 0,9869 14,5 1,02 1 750,061 10,195 29,53 10000 mmHg 0.001315789 0.01933677 0.00135951 0.001333224 1 0,01360 0,03937 133,3224 mH2O 0,09678 1,42234 0,10 0,0980872 73,5514 1 2,89572 9803,1176 in. Hg 0,03342 0,49119 0,03453 33900 25,4 0,34534 1 3386,5 Pascal(Pa) 0,000009869 0,0001450377 0,00001019716 0,00001 0,007500617 0,000102 0,0002952 1
  • 7. QUALIDADE DO AR INTERNO Prefixos das unidades SI Nome Símbolo Fator de multiplicação da unidade yotta Y 1024 = 1 000 000 000 000 000 000 000 000 zetta Z 1021 = 1 000 000 000 000 000 000 000 exa E 1018 = 1 000 000 000 000 000 000 peta P 1015 = 1 000 000 000 000 000 tera T 1012 = 1 000 000 000 000 giga G 109 = 1 000 000 000 mega M 106 = 1 000 000 quilo k 10³ = 1 000 hecto h 10² = 100 deca da 10 deci d 10-1 = 0,1 centi c 10-2 = 0,01 mili m 10-3 = 0,001 micro µ 10-6 = 0,000 001 nano n 10-9 = 0,000 000 001 pico p 10-12 = 0,000 000 000 001 femto f 10-15 = 0,000 000 000 000 001 atto a 10-18 = 0,000 000 000 000 000 001 zepto z 10-21 = 0,000 000 000 000 000 000 001 yocto y 10-24 = 0,000 000 000 000 000 000 000 001 Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 7
  • 8. QUALIDADE DO AR INTERNO 1. A IMPORTÂNCIA DO AR É sabido que o ar é uma mistura gasosa determinante para a vida humana devido principalmente ao processo que se dá no interior das células de seu corpo onde os alimentos são transformados em energia, pela reação com o oxigênio presente no ar inspirado. Este processo é conhecido como respiração e permite a produção da energia que será utilizada na manutenção da vida e no desenvolvimento dos movimentos diversos de uma pessoa. Durante o processo de respiração o ar ao ser inalado passa através das vias respiratórias onde sofre algumas modificações quanto às proporções de seus elementos básicos, devido a um processo de umidificação pela mistura deste ar com uma parcela de dióxido de carbono. O oxigênio presente no ar é absorvido na corrente sanguínea e o dióxido de carbono é exalado para a atmosfera. A figura 1 mostra o intercâmbio destes gases quando o ar chega aos alvéolos os quais compõem a parte mais funcional do pulmão. A qualidade do ar é muito importante principalmente para os órgãos vitais do homem como, por exemplo, o cérebro, uma vez que este necessita de oxigenação constante para que possa cumprir todas as suas funções. Quando o cérebro percebe a necessidade de uma quantidade maior de oxigênio, envia estímulos aos músculos do peito e diafragma, fazendo-os funcionar com maior aceleração e vigor. É sabido que homem pode sobreviver vários dias sem a ingestão de alimentos e alguns dias sem ingestão de água. Em média, o consumo de alimentos e de água diários de um homem é da ordem de 1 quilo e 2 litros respectivamente. Quanto ao ar a autonomia restringe-se à sobrevivência por alguns minutos sem inalação deste. Segundo VERANI (2003) e PEREIRA FILHO (2003), normalmente o homem inspira em média cerca de 10 a 15 mil litros de ar por dia. A variação deste valor se dá em função das diversas atividades físicas desenvolvidas. Figura 1 – Transferência de O2 e CO no sangue Fonte SILVA Jr. et al (2003)2 Na tabela 1, tem-se a composição química aproximada do ar seco, tomando-se como base, cerca de 10.000 moléculas de ar. É necessário esclarecer que o ar como encontrado na atmosfera, é composto de uma parcela seca (mistura de vários gases) em contato com outra parcela formada por vapor de água. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 8
  • 9. QUALIDADE DO AR INTERNO Tabela 1 - Composição do Ar Seco Concentração por volume Componente % ppm Nitrogênio 78.084 Oxigênio 20.946 Dióxido de Carbono (CO2) 0.0033 Neônio 11.18 Hélio 5.24 Criptônio 1.14 Xenônio 0.087 Hidrogênio 0.5 Metano 2 Óxido Nitroso 0.5 Fonte ASHRAE (1999) Para uma utilização favorável do ar é necessário que este contenha no mínimo 19.5 % em volume de oxigênio (O2), mantendo isenção de produtos químicos prejudiciais à saúde. É desejável também que o ar se apresente em temperaturas e pressões tais que não ocorram queimaduras ou congelamentos dos órgãos do aparelho respiratório como, por exemplo, os cílios nasais, que são responsáveis pela retenção de partículas e impurezas provenientes deste ar. Juntamente com os gases e vapor d, podem ser encontrados em suspensão na atmosfera outros elementos tais como poeiras, polens, cinzas, compostos orgânicos e microorganismos. A tabela 2 mostra os efeitos no homem devido à variação da concentração de oxigênio no ar em pressão atmosférica. Tabela 2 – Efeitos da concentração de O2 % vol. O Efeitos Fisiológicos2 20.9 Concentração Normal. 19.5 Concentração mínima legal. 19 - 16 Início de sonolência. Perda de visão periférica, respiração intermitente, dificuldade de coordenação, aumento do volume da respiração, aumento da freqüência cardíaca, redução da capacidade de pensar e agir. 16 - 12 Falta de raciocínio, pobre coordenação muscular sendo que o esforço muscular leva à fadiga, que pode causar danos permanentes ao coração.12 - 10 Náusea, vômito, incapacidade para movimentos vigorosos inconsciência seguida por morte.10 - 6 Respiração espasmática, movimentos convulsivos e morte em minutos. < 6 Fonte VERANI (2003) Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 9
  • 10. QUALIDADE DO AR INTERNO Deve-se salientar que a Norma Regulamentadora 15 em seu anexo 11 diz ainda que a concentração mínima de Oxigênio em ambientes que com presença de substâncias do tipo asfixiantes simples, deve ser de 18 (dezoito) por cento em volume. 2. QUALIDADE DO AR INTERNO Durante muito tempo, a maioria dos profissionais, ao projetar uma edificação, preocupava-se quase que exclusivamente com a estética e funcionalidade desta, sem, no entanto dar muita importância aos aspectos ambientais e energéticos envolvidos em tal empreendimento. Como grande parte das atividades ainda são realizadas em ambientes fechados surgiu então a necessidade de realizar-se o condicionamento do ar possibilitando a plena ambientação de homens e máquinas nestes ambientes. Os trabalhadores passam de 80 a 90% de seu tempo em ambientes fechados. A figura 2 ilustra esta condição de vida da maioria das pessoas. Figura 2 – Operações Cotidianas desenvolvidas por trabalhadores - Fonte ENCICLOPEDIA DE SALUD Y SEGURIDAD EN EL TRABAJO O processo de projetar um edifício pautava-se em considerar que um sistema de climatização ou de condicionamento de ar interno teria condições de garantir os requisitos necessários para a salubridade do ambiente, independente do consumo de energia para tal atividade. Este quadro manteve-se até a primeira grande crise energética mundial, ocorrida no início da década de 70, onde a produção de petróleo entrou em crise e a população dos paises em geral, passou a considerar com maior preocupação, os fatores energéticos nos projetos de uma forma generalizada. Neste instante, o consumo de energia de sistemas de climatização passa a receber uma atenção muito especial, uma vez que o custo para realizar operações de tratamento de ar como refrigeração, umidificação, desumidificação, filtragem etc, é extremamente elevado. Os sistemas passam a ter reduzido os seus períodos de operação. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 10
  • 11. QUALIDADE DO AR INTERNO Outro ponto importante é o fato de que os edifícios passaram a serem construídos observando-se uma preocupação com a impermeabilização e a climatização de seus ambientes internos. Inicia-se o desenvolvimento de técnicas de utilização de energias alternativas no projeto de edificações, destacando-se o emprego de conhecimentos de solarimetria e aplicações bioclimáticas. Estas ações embora eficientes, não representam uma redução significativa no consumo de energia nas edificações em geral. Uma nova ação se fez necessária e o principal foco desta passa a ser a redução das taxas de renovação de ar nos ambiente climatizados. É sabido que os equipamentos de ventilação e condicionamento de ar consomem uma quantidade demasiada de energia, em relação aos outros equipamentos que permitem a realização das diversas atividades de uma organização. Em função dos processos de impermeabilização e climatização de seus ambientes internos tem-se uma redução das taxas de infiltração de ar externo assim como as taxas de renovação e a vazão de insuflamento calculada em função do número de ocupantes, de modo que estes passassem a diminuir o consumo de energia elétrica. A taxa de ar indicada para ser insuflada em um ambiente de modo a manter a salubridade deste, era estimada em 27 m3 /h para cada ocupante. A contenção de gastos indicou uma severa redução nesta taxa, passando a serem adotados, meros 8 m3 /h. A função principal das taxas de insuflamento é baixar a concentração de CO2 presente no ambiente, assim como os odores, através da diluição destes. A diluição e remoção dos contaminantes tornam-se deficiente. Com a diminuição dos períodos de operação os sistemas passam a trabalhar com capacidade inferior àquela para qual foram projetados, produzindo assim distribuição não homogênea de ar no ambiente. O resultado disto é danoso. Percebe-se o aparecimento de bolsões de ar estagnado, que são locais extremamente favoráveis para o desencadeamento de sintomas diversos, prejudiciais aos ocupantes. Dutos e canalizações de ambientes climatizados, além dos aparelhos condicionadores de ar, passam a apresentar-se como um excelente habitat para diversas colônias de fungos e bactérias. Em meio a esta situação passou-se a perceber o surgimento de sintomas indesejados nos ocupantes dos edifícios em questão, tornando-os susceptíveis ao desenvolvimento de diversas doenças, as quais em alguns casos tornam-se crônicas, ocorrendo por fim, uma queda acentuada nos níveis de produção. Segundo NTT (2003) é corriqueiro mensurar em até 100% o nível de contaminação do ar de um ambiente climatizado em relação ao nível de contaminação do ar externo. Isto se deve ao acúmulo de umidade e poeira que ocorre em ambientes climatizados e, portanto a proliferação de micróbios e bactérias é muito maior do que em ambientes abertos. Outro aspecto responsável pela contaminação de um ambiente é a concentração de pessoas, sendo que estas são responsáveis pela liberação CO2, odores e aumento da carga térmica devido ao seu metabolismo. Segundo NIOSH (1987), dentre os principais sintomas de pessoas ocupantes dos ditos ambientes destacam-se as infecções, as reações alérgicas e irritantes, dores de cabeça e articulares, irritação nos olhos, nariz e garganta, tosse seca, dermatites, fadiga, sonolência, dificuldade de concentração, sensibilidade a odores, congestão, sinusite, falta de ar, rinite alérgica, asma brônquica, doença do Legionário, perda de produtividade e por fim, a ausência freqüente ao trabalho conhecida como absenteísmo. Um termo bastante difundido em função dos sintomas relacionados anteriormente e apresentado por MCQUISTON e PARKER (1994) é "Síndrome dos Edifícios Doentes" (SED), que denomina a situação dos edifícios que possuem um número superior a 20% de ocupantes portando os sintomas descritos por Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 11
  • 12. QUALIDADE DO AR INTERNO NIOSH (1987) por pelo menos duas semanas e que esses sintomas desaparecem ao deixar de freqüentar o edifício. Uma divisão nesta denominação se faz necessária para caracterizar os edifícios novos ou que sofreram alguma reforma arquitetônica ou manutenção do sistema de climatização, e, por conseguinte os sintomas apresentados anteriormente pelos ocupantes, diminuíram ou desapareceram ao longo do tempo. Os edifícios enquadrados nesta situação passam a serem chamados de “Edifícios Temporariamente Doentes” e aqueles onde os sintomas permanecem mesmo após as medidas corretivas, são chamados de “Edifícios Permanentemente Doentes”. Alguns autores preferem o termo ”Doenças Relacionadas Aos Edifícios” (DRE) uma vez que entendem que o primeiro termo não tem embasamento científico para ser aplicado. Segundo dados de NIOSH (1987) apresentados na tabela 3, nota-se que 52% dos problemas relacionados à Qualidade do Ar Interior, têm sua causa associada aos Sistemas de Climatização. Tabela 3 – Distribuição dos agentes relacionados à Qualidade do Ar Interior Agente % de ocorrência Sistemas de Climatização 52 Contaminantes químicos interiores 20 Contaminantes químicos exteriores 10 Contaminantes Biológicos 5 Agentes desconhecidos 13 Fonte NIOSH (1987) Como visto, o sistema de climatização tem uma parcela muito maior de influência na qualidade do ar do que os outros componentes. Os fatores que determinam uma situação de Climatização Inadequada são bastante conhecidos e podem ser separados em sete grandes grupos, os quais são apresentados a seguir. a) Valores baixos de taxa de ar externo As normas técnicas indicam uma taxa de ar externo da ordem de 27 m3 /h por pessoa no interior do ambiente. O insuflamento de ar em taxas inferiores influencia na má diluição de contaminantes e odores. b) Perfil defeituoso de distribuição do ar no ambiente interno Ocorre em função da colocação de divisórias ou tapumes e outros apetrechos em ambientes onde estas situações não foram previstas. Outra possibilidade é a ocorrência de curtos circuitos no processo de insuflamento e a captação do ar de retorno. c) Falhas no projeto do sistema de climatização Projeto inadequado para a situação proposta como, por exemplo, carga térmica mal especificada, número de trocas de ar insuficiente, equipamentos especificados com capacidade inferior à necessária, baixa qualidade dos equipamentos, assim como tomadas de ar externo, alocadas em locais de muita concentração de contaminantes. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 12
  • 13. QUALIDADE DO AR INTERNO d) Controle deficiente das condições ambientais Ocorre devido à colocação dos equipamentos de controle em locais inadequados, ou mesmo quando os referidos equipamentos apresentam qualidade duvidosa ou deficiência de funcionamento. e) Procedimentos inadequados ou defeituosos de manutenção dos sistemas de climatização. Os procedimentos de manutenção devem ser elaborados de forma que a manutenção seja sempre realizada de maneira preventiva e poucas vezes corretiva. Devem também ser especificados visando sempre uma maior eficiência. A manutenção periódica dos sistemas de climatização é um dos pontos fundamentais para a qualidade do ar interior, uma vez que diversos contaminantes, assim como fungos e bactérias tendem a desenvolver-se em elementos dos referidos sistemas. O sistema de filtragem é responsável por reter partículas externas, eliminar partículas internas geradas no próprio ambiente e por parte da diluição de odores liberados pelo homem, ou por máquinas e materiais usados nas atividades. f) Alterações no perfil da Construção Civil do Edifício Um projeto de climatização é definido para uma determinada geometria do ambiente. Muitas vezes, estas geometrias sofrem alterações em função da necessidade de adequação do ambiente a outras atividades diferentes daquelas inicialmente previstas, porém o sistema de climatização não sofre alterações na mesma proporção. g) Usuários não habilitados ou mal informados Os usuários e operadores dos sistemas de climatização devem ter compreensão acerca do funcionamento dos equipamentos e assim espera-se evitar que os mesmos apliquem comandos incorretos, diminuindo a performance dos referidos equipamentos. Outros fatores que influem na QAI estão associados aos contaminantes internos infiltrados ou gerados no sistema de climatização e dutos como vapores, gases, poeiras, fungos, bactérias. Tem-se ainda os contaminantes gerados no próprio ambiente como CO2 exalado da respiração de pessoas, fibras de lã de vidro desprendidas de isolamento térmico ou acústico, escamas de pele, fios de cabelo, perfumes, odores, fuligem, poeira e contaminantes presentes na roupa dos trabalhadores, compostos orgânicos voláteis (COV) e Ozônio (O3). Em função do exposto, surge a necessidade da intervenção dos profissionais capacitados, principalmente os de Engenharia de Segurança do Trabalho, no intuito de se garantir a salubridade e a qualidade do ar interno nos ambientes climatizados. Uma análise da eficácia da legislação passa a ser ponto primordial nestas questões. Fica claro, portanto que os edifícios necessitam ter sua concepção baseada no conforto ambiental e no consumo econômico de energia, função que pode ser determinada pela automação de processos e projeto arquitetônico fundamentado nas cargas térmicas e trocas de ar. Os fatos mostram a necessidade de se estimar a eficiência nos processos de climatização e de se tomar extremo cuidado com os produtos Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 13
  • 14. QUALIDADE DO AR INTERNO envolvidos desde a construção até a utilização das edificações, possibilitando a garantia da qualidade do ar nestes ambientes. 2.2 Requisitos para a Garantia da Qualidade do Ar Interno Para uma plena qualidade do ar foram identificados quatro requisitos fundamentais, os quais são descritos a seguir. A) - Excelência de Qualidade de Filtros e Sistemas de Filtragem Em ambientes naturais ou hospitalares a qualidade do sistema de filtragem é cercada de exigências conforme as áreas de riscos e as atividades desenvolvidas. A pureza do ar em ambientes de tratamento de saúde auxilia o tratamento de enfermos e impede que trabalhadores e visitantes adquiram problemas de saúde. B) - Captação de Ar externo de boa qualidade para renovação Os pontos de captação de ar externo têm influência direta na qualidade do ar interno, uma vez que cerca de 10 % do ar insuflado no ambiente é tomado deste local. Em centros cirúrgicos o ar insuflado é obtido totalmente do ar externo, uma vez que não se pode recircular contaminado pelos procedimentos cirúrgicos. Assim sendo é de extrema importância que o externo seja captado longe de fontes de contaminantes e que também possua boa qualidade. C) - Processos Eficientes de Limpeza e Higienização dos sistemas de climatização e dos Ambientes A contaminação gerada no interior deve ser removida através de limpeza e higienização. Este procedimento permite que o ar de recirculação apresente menores índices de contaminação, diminuindo assim a proliferação de fungos, bactérias e outros contaminantes. Todos os procedimentos de limpeza devem ser planejados e executados dentro de normas e padrões de qualidade. No caso de hospitais e estabelecimentos de saúde, estes procedimentos têm um componente fundamental que é o fato da necessidade de utilização de produtos químicos específicos para cada área de risco. Após o serviço de higienização, deve-se manter um plano para manutenção e monitoramento da qualidade do ar, mantendo um padrão de qualidade rígido ao longo do tempo reduzindo-se assim, a necessidade de novas intervenções. D) - Controle preciso de Temperatura e Umidade privilegiando o Conforto Térmico Este ponto influencia diretamente a produtividade dos trabalhadores. Trabalhadores de Estabelecimentos de Saúde, por exemplo, estão sempre em estado de tensão e o conforto térmico permite que estes possam executar de forma satisfatória, suas atividades. 3. CONFORTO TÉRMICO A Qualidade do Ar Interno de um ambiente esta intimamente ligada à sensação de conforto térmico experimentado pelos ocupantes e é função específica dos sistemas de climatização uma vez que os parâmetros monitorados por estes são a temperatura, a umidade e a velocidade do ar. O conforto térmico é um fator subjetivo que indica o estado de espírito de uma pessoa em função de sua satisfação com as Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 14
  • 15. QUALIDADE DO AR INTERNO características térmicas que um ambiente oferece. Em termos energéticos significa que um homem sentirá conforto térmico se o balanço de todas as trocas de calor entre este e o ambiente forem nulos. O conforto térmico de um indivíduo esta associado além das condições ambientais e de sua vestimenta, ao seu processo de metabolismo, sendo que da energia contida nos processos térmicos realizados pelo organismo, 20 % é utilizada e 80 % é eliminada na forma de calor, afim de que o seu equilíbrio térmico seja mantido. Em condições adversas, o organismo necessita que o seu sistema termo-regulador seja acionado de forma extrema, o que provoca fadiga térmica, câimbras, esgotamento e por conseqüência, a queda de rendimento no desenvolvimento de atividades. O metabolismo de pessoas é afetado por diversos fatores sendo possível citar a idade, a digestão, o ambiente, o nível de atividade, o estado patológico. A medição do metabolismo se dá observando-se um indivíduo saudável, em jejum de 12 horas em posição deitada. Um sistema de climatização operando ineficientemente pode permitir uma combinação de temperatura elevada com umidade também elevada. Essa combinação segundo VERGARA (2001), aplicada ao ambiente climatizado, reduz a capacidade do corpo humano de manter a sua temperatura interna correta. O excesso de calor diminui sobremaneira a produtividade. Segundo HOUSSAY (1984) quando a temperatura do ambiente ultrapassa 30 o C a produtividade cai aproximadamente 20% sendo que o número de ocorrência de erros ou falhas aumenta 70%. Um ambiente que fornece conforto térmico aos ocupantes apresenta como vantagens, um maior rendimento e produtividade dos trabalhadores, além de menor índice de acidentes e menor incidência de doenças. Tabela 4 – Taxas de Metabolismo por Tipo de Atividade Tipo de Atividade Kcal/h 100Sentado em Repouso Trabalho Leve Sentado, movimentos moderados com braços e tronco 125 Sentado, movimentos moderados com braços e pernas 150 De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, principalmente com os braços 150 Trabalho Moderado Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas 180 De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma movimentação 175 De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma movimentação 220 Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar 300 Trabalho Pesado Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos 440 Trabalho fatigante 550 Fonte: Manuais de Legislação Atlas (2003). Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 15
  • 16. QUALIDADE DO AR INTERNO 3.1 Avaliação do Conforto Térmico O método de avaliação de conforto térmico mais conhecido e aceito internacionalmente é o Predicted Mean Vote (PMV) ou Voto Médio Predito (Estimado), o qual foi desenvolvido pelo professor dinamarquês Ole Fanger. Este método foi desenvolvido através de experiências de laboratório com aproximadamente 1300 pessoas. O PMV consiste em atribuir valores para a sensibilidade humana às variações de temperatura, sendo que o mesmo é assumido como zero para o conforto térmico, negativo para a sensação de frio e positivo para a sensação de calor. A figura 3 apresenta os valores atribuídos para as sensações térmicas. As experiências realizadas por Fanger tinham como objetivo final, obter dados para formular uma equação que permitisse estimar a sensação térmica média de um grupo de pessoas conhecendo-se as condições ambientais e o metabolismo destas. O resultado das análises apontou como equacionamento geral a seguinte função: PMV = f ( ICT, M ) onde: f = função de…. ICT = Índice de carga térmica M = Energia do metabolismo O índice de carga térmica indica um valor de temperatura aparente a qual é determinada pela relação entre umidade relativa e temperatura do ar. A equação geral obtida é a seguinte: ICTePMV DUA M •+•= ⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎜ ⎝ ⎛ •− )032.0352.0( 042.0 onde: ADu = Área superficial do corpo (DuBois), (m 2 ) DuBois é uma equação que determina a área da superfície de uma pessoa (m2 ) através da relação entre o seu peso (P) dado em kg e sua altura (h) dada em cm. Esta equação é apresentada na seguinte forma: ADu=( P0,425 x h0,725 ) x 0.007184 Figura 3 – Atribuição de valores para a sensação térmica - Fonte Autor O PMV é bastante influenciado por variáveis como tipo de roupa, velocidade do ar, atividade física e temperatura do ar. Fanger em seu trabalho desenvolveu uma tabela que indica o PMV em função da combinação das referidas variáveis, sendo que parte dela esta mostrada no quadro 1. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 16
  • 17. QUALIDADE DO AR INTERNO Devido à impossibilidade de ter-se ambientes onde todos os ocupantes estejam plenamente satisfeitos com as condições térmicas, é necessário obter o PPD que representa a porcentagem de pessoas insatisfeitas com o conforto térmico do ambiente e juntamente com o PMV, realizar uma comparação com os valores recomendados pela Norma ISO 7730 de 1994. Esta comparação pode ser verificada através da figura 4. Figura 4 - Porcentagem de insatisfeitos em função do PMV - Fonte RUAS (2001) Uma análise na figura possibilita observar-se que se 5% dos ocupantes estiveram insatisfeitos com as condições ambientais ter-se-á uma condição de neutralidade térmica como mostrado na figura 3. Tomando-se como exemplo o ponto PMV=(1.0) tem-se que a porcentagem de insatisfeitos com a situação de Levemente Quente é de aproximadamente 26%. Para um PMV=(-2.0) aproximadamente 75% dos ocupantes estarão insatisfeitos com a condição FRIO. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 17
  • 18. QUALIDADE DO AR INTERNO Quadro 1 – Relação entre PMV, tipo de roupa, velocidade do ar, temperatura e atividade física Fonte RUAS (2001) Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 18
  • 19. QUALIDADE DO AR INTERNO 4. SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO O conceito de climatização surge da necessidade de utilizar-se recursos eletro-mecânicos com a finalidade de promover condições de conforto para os ocupantes de recintos ou ambientes ditos confinados. Segundo a Portaria 3523 do Ministério da Saúde, o conceito Climatização é definido como: “Conjunto de processos empregados para se obter por meio de equipamentos em recintos fechados, condições específicas de conforto e boa qualidade do ar adequadas ao bem estar dos ocupantes.” Esta definição leva em conta apenas o aspecto humanista, porém deve-se lembrar ainda que neste contexto de necessidade de climatização, devem ser incluídos equipamentos, computadores e diversas outras máquinas, uma vez que tais elementos podem ter sua atuação comprometida ao serem submetidos a condições ambientais diferentes daquela para qual foram projetados. No entanto este trabalho, por estar focado em aspectos de segurança do trabalho, ater-se-á a questão de climatização de ambientes do ponto de vista apenas da saúde dos indivíduos. É possível verificar uma enorme gama de situações onde a necessidade de climatizar o ambiente se torna premente. Exemplos destas aplicações são encontrados em aviões, hospitais, trens, automóveis, submarinos, escritórios, cozinhas comerciais, salas de aula, ambientes de manipulação de remédios e alimentos, salas de informática, câmaras frigoríficas, auditórios, salas de exposição, museus, cinemas, saunas, shopping center, bancos, edifícios públicos, restaurantes etc. As condições específicas de conforto e boa qualidade do ar mencionadas na definição referem-se principalmente às variáveis de temperatura, umidade, pressão, velocidade, pureza e distribuição entre outras, e a necessidade de estas apresentarem-se em condições adequadas ao bem estar dos ocupantes do recinto. Além das variáveis mencionadas deve-se ter ainda em mente a necessidade de eliminação dos gases, odores e outros contaminantes, deixando o ar “limpo”. Para tal é necessário associar a Ventilação ao processo de climatização de um ambiente. Tecnicamente falando, define-se ventilação como sendo a movimentação do ar no interior das edificações com o intuito de renovar o ar “viciado” e promover a entrada de ar de melhor qualidade. Segundo PEREIRA FILHO (2003) a Ventilação é o processo de retirar ou fornecer ar por meios naturais ou mecânicos de um ambiente. A definição apresenta ainda a indicação de que tal processo de ventilação seja dividido em dois grupos para atividades laborais, sendo que o primeiro contempla a Ventilação para Ambientes Comerciais como forma de eliminar fumos, odores e calor. O segundo grupo apresenta a Ventilação para Ambientes Industriais como forma de controlar principalmente a concentração de vários contaminantes e a redução do calor. Uma outra divisão é feita quando da Ventilação em função da quantidade de contaminantes no interior do ambiente climatizado. Pode-se ter a Ventilação Local Exaustora (VLE) a qual é utilizada quando a fonte de contaminantes é bem conhecida e localizada. Porém, a mais comumente utilizada, embora de custo mais elevado, é a Ventilação Geral Diluidora (VGD) a qual é utilizada quando existem diversas fontes de contaminantes no ambiente, e a concentração destes é bastante variada. O processo consiste de tratamento e insuflamento de ar em vazões suficientes para promover a diluição dos contaminantes no interior do ambiente. Os processos de climatização têm como característica, efetuar a mistura de uma parcela de ar do exterior com outra exaurida do ambiente a ser climatizado. Quando uma das partes ou mesmo as duas estiverem em condições inadequadas, fatalmente a qualidade do ar estará comprometida. Como exemplo, Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 19
  • 20. QUALIDADE DO AR INTERNO tome-se uma quantidade elevada de CO2 concentrada em uma área de um ambiente onde o insuflamento de ar seja insuficiente para efetuar a diluição do mesmo. Certamente os ocupantes da referida área do ambiente passarão a sentir sintomas indesejáveis, uma vez que a diluição do CO2 naquela situação apresenta-se de forma insuficiente. Algumas aplicações podem requerer um grau maior de sofisticação, porém o principio de funcionamento de um sistema de climatização é aquele conforme mostrado na figura 5. Figura 5 - Esquema de um Processo de Climatização Típico - Fonte BRASIL (2002) 4.1 Componentes do Sistema de Climatização Um Sistema de Climatização é constituído de diversos equipamentos que executam diversos processos que permitem adequar o ambiente às condições requeridas de conforto. O ar é aspirado da atmosfera através de um ventilador, a seguir passa por um sistema de condicionamento composto de filtros, serpentinas de resfriamento e desumidificação, umidificadores, resistências de aquecimento, sendo finalmente levados ao ambiente através de dutos e a vazão de insuflamento é controlada por difusores e grelhas. O ar interno é então levado para o exterior através de um exaustor ou ventilador, sendo que parte deste é misturado ao ar externo para ser, após sofrer novo tratamento, insuflada novamente no ambiente. Este processo de mistura de parte do ar de retorno com o ar externo é uma maneira de diminuição dos custos de purificação do ar. Somente em atividades bastante específicas, onde a pureza do ar é fundamental, todo o ar de insuflamento será proveniente do ar exterior. Na prática, os procedimentos de escolha dos equipamentos de climatização são baseados em função da capacidade de refrigeração destes, necessária para remover a carga térmica e prover vazão de Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 20
  • 21. QUALIDADE DO AR INTERNO insuflamento para a situação que se apresenta. Os sistemas de climatização e condicionamento de ar possuem algumas características em função de sua utilização e do público a que atendem. Os sistemas de climatização podem ser do tipo Expansão Direta ou Expansão Indireta sendo que a condensação pode ser realizada por Ar ou Água. Nos Sistemas de Expansão Direta o refrigerante ao evaporar resfria diretamente o ar a ser insuflado no ambiente. Já nos Sistemas de Expansão Indireta o refrigerante resfria um líquido intermediário chamado de refrigerante secundário, que normalmente é água gelada. Os sistemas de climatização por Expansão Direta normalmente encontrados no mercado são apresentados a seguir. a) Condicionadores de ar de janela São aparelhos compactos, dito autônomos, de baixo custo e de baixa capacidade de refrigeração (até 2.5 TR). São utilizados principalmente em residências e locais onde existe pequena concentração de pessoas. São instalados em paredes ou janelas e são de fácil manutenção e limpeza. Possuem o sistema de aquecimento por reversão de ciclo (bomba de calor), porém podem não possuir a função de renovação do ar, ou mesmo os usuários podem não se atentar a essa função no painel de controle do equipamento. Apresentam como desvantagem o fato de ter pequena capacidade de refrigeração, custo energético elevado (KW/TR) nível de ruído elevado, distribuição do ar realizada a partir de um único ponto e alterações nas fachadas dos edifícios. Figura 6 – Aparelhos de Condicionamento de Ar do Tipo Janela - Fonte Catálogo Hitachi (1995) b) Sistemas Tipo Split São aparelhos bastante versáteis e semelhantes aos condicionadores de janela, porém estes são divididos em duas partes interligadas por conexões onde a primeira (evaporadora) condiciona o ar e é instalada no interior do ambiente e a segunda (condensadora) é colocada no exterior do edifício. Estes apresentam maior capacidade de refrigeração (até 5 TR), controle maior sobre processos de filtração e renovação de ar. Não deve entretanto ser utilizado em locais impermeáveis, devido ao fato de que a renovação do ar é influenciada pela infiltração deste por frestas. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 21
  • 22. QUALIDADE DO AR INTERNO Apresentam a vantagem de não interferirem na arquitetura do edificio, porém apresentam dificultades quando da necessidade de se aplicar recarga de refrigerante devido a grande perda de carga a ser evacuada. Figura 7 – Unidades de Condicionadores de Ar Tipo Split - Fonte Catálogo Carrier c) Sistemas tipo self-contained São condicionadores que apresentam como principal característica o fato de abrigarem em seu gabinete todos os equipamentos inerentes ao processo de climatização como filtragem, umidificação, desumidificação, aquecimento, refrigeração, ventilação e insuflamento e insuflam o ar através de rede de dutos. Operam com condensação à água ou a ar. Podem ser utilizados em ambientes que acomodem grande quantidade de ocupantes ou em locais onde necessita-se de alta qualidade do ar insuflado. Quando atuam como equipamentos de condensação de água, necessitam de torre de arrefecimento sendo que não operam como bombas de calor. Operam normalmente na faixa de 5 a 30 TR. Permite atualizar variações nas demandas de ar insuflado apresentando ainda baixa custo de manutenção e reposição de peças. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 22
  • 23. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 8 – Equipamento Self Container e diagrama de Instalação de uma unidade de condenção por água - Fonte CREDER (1996) Os sistemas de Expansão Indireta são bastante conhecidos por possuirem uma unidade de resfriamento de água chamada CHILLER. A água ao ser resfriada é conduzida para as Unidades Condicionadoras para água gelada (Fan Coils) que compreendem um conjunto de serpentinas acopladas a um ventilador e um sistema de filtragem por onde passa o ar a ser condicionado. A capacidade destes equipamentos varia entre 20 a 220 TR para compressores alternativos e de 250 a 1000 TR para compressores centrífugos. Em alguns casos podem ser projetados para que a condensação seja realizada também por ar. As vantagens deste sistema residem no fato de que apresentam maior economia no custo de operação, controle bastante preciso das condições ambientais, alta eficiência em cargas parciais, facilidade de manutenção e menor área ocupada devido à centralização do equipamento em um único local. No entanto, estes equipamentos apresentam uma maior complexidade construtiva, além de necessitarem de resistências ou caldeiras para promoverem aquecimento no ambiente. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 23
  • 24. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 9 – Instalação Tipo Fan-Coil/Chiller - Fonte CREDER (1996) Como visto, as instalações que utilizam equipamentos tipo CHILLERS ou SELF-CONTAINEDS necessitam de torres de resfriamento para promover a condensação. As torres são equipamentos que utilizam vaporização flash para reduzir a temperatura do ar. Este processo consiste de evaporar-se micro- gotas de spray de água produzido pela passagem desta por bicos atomizadores. Ao evaporar nestas condições a água retira calor do ar, promovendo assim a dimuição da temperatura de uma grande área ao redor do conjunto ventilador aspersor. É necessario monitorar os parâmetros físicos para que não haja saturação nas condições de umidade relativa do ar. A figura abaixo mostra o esquema de uma Torre de Refrigeração onde o ar é admitido pela parte inferior e é forçado a passar através de um fluxo de água, saindo porteriormente pela parte superior. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 24
  • 25. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 10 – Esquema de Torre de Refrigeração - Fonte CREDER (1996) 5. FILTROS DE AR Quando da climatização artificial de ambientes é necessário prover sistemas que protejam os ocupantes e as máquinas de impurezas contidas no ar, provenientes do ar exterior ou produzidas no próprio local. Para tal função são utilizados filtros tanto na tomada de ar na parte externa dos edifícios quanto no interior de dutos de circulação. Estes são responsáveis também pela pureza do ar a ser insuflado no ambiente climatizado. Sistemas projetados com bom programa de manutenção, boa estanqueidade, boas taxas de renovação de ar e ainda associados a sistemas de filtragens com eficiência elevada apresentam na maioria dos casos, elevada qualidade do ar. A eficiência de filtragem deve ser determinada em função da alta capacidade de retenção de partículas e da vazão de ar externo de modo a assegurar-se duas condições de contorno bem definidas. A primeira implica em conseguir-se uma boa diluição dos contaminantes de modo que estes atinjam um nível aceitável de contaminação interna em função do número de ocupantes e da atividade desenvolvida. A segunda condição implica em determinar-se a quantidade de ar externo que pode ser reduzida do fluxo inicial, ao se utilizar filtros na recirculação sem prejudicar a qualidade do ar interno. Para estas duas condições é necessário assumir-se que o ar externo esteja em conformidade com as regulamentações ambientais. Outro fator que influencia diretamente na capacidade de filtragem é a estanqueidade do sistema e a limpeza periódica de dutos e filtros. Para as diversas atividades desenvolvidas em ambientes climatizados existem regulamentações quanto ao tipo e qualidade de filtragem. Em caso de partículas em suspensão são disponibilizados filtros Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 25
  • 26. QUALIDADE DO AR INTERNO grossos, finos e absolutos, sendo que cada tipo tem uma eficiência média para um determinado tamanho das referidas. A ABNT regulamenta os diversos tipos de filtros e suas eficiências para utilização em diversos tipos de ambientes. A tabela 5 apresenta a classificação dos filtros utilizados no Brasil. O Ministério da Saúde exige que sejam utilizados em edificações e escritórios, no mínimo filtros do tipo G1. Em estabelecimentos de saúde como clínicas e hospitais que possuem áreas que necessitam de ventilação, a exigência segundo BROWN (1993) é de que sejam utilizados filtros absolutos capazes de reter microorganismos. O custo do sistema de filtragem esta intimamente ligado a sua capacidade de manter o ar limpo. Sistemas que necessitem de ar ultralimpo tem um custo elevado de energia e de implantação. Quando da necessidade de sistemas de filtragem com alto índice de eficiência pode-se adotar os filtros HEPA (high efficiency particulate air), que apresentam 99,97% de eficiência com relação a partículas de 0.3 µm e podem reter 99% ou mais dos agentes micro biológicos. Uma das desvantagens desse sistema é a elevada perda de carga que este impõe aos sistemas de climatização, interferindo enormemente no fluxo de ar. Tabela 5 - Classificação de Filtros Classe de Filtro Eficiência % G0 30-59Grossos G1 60-74 G2 75-84 G3 85 e acima F1 40-69Finos F2 70-89 F3 Acima de 90 A1 85-94,9Absolutos A2 95 – 99,96 A3 99,97 e acima Métodos de ensaios Classe G: teste gravimétrico, conforme ASHRAE 52-76. Classe F: teste colorimétrico, conforme ASHRAE 52-76 Classe A: teste DOP, conforme U.S Militar Standard 282. Fonte ABNT NBR 6401 (1980) Para o caso de odores, microorganismos, COV etc, devem ser utilizados os filtros de carvão ativado que efetuam a limpeza através de adsorção, associados ou não com filtros biocidas que contém agentes bactericidas, fungicidas e algicidas, associados ou não entre si. No processo de seleção de filtros deve-se prever um estágio de filtro grosso para tomada de ar externo, pelo menos de classe G1. Este limitará a entrada de agentes e sujeira no prédio protegendo primeiramente os equipamentos do sistema de climatização. Se a qualidade do ar externo não atende aos requisitos mínimos em termos de gases e odores, deve ser instalado um filtro de carvão ativado juntamente com o primeiro. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 26
  • 27. QUALIDADE DO AR INTERNO A figura 11 apresenta exemplos de filtros antibactericidas e antimicrobianos utilizados principalmente no combate a mofos, fungos e bactérias existentes no ar. de carvão ativido. Na figura 11.a tem-se um exemplo típico de um filtro HEPA utililizado em ambientes super-críticos. Figura 11 – Filtros Antibactericidas e antimicrobianos – Fonte www.troxbrasil.com.br Figura 11.a – Filtros HEPA – Fonte www.troxbrasil.com.br 6. PADRÕES DE PARTÍCULAS O material particulado suspenso no ar é constituído de aerodispersóides ou aerosóis, isto é, dispersão de partículas sólidas ou líquidas, de tamanho bastante reduzido. Os aerosóis são classificado de acordo com sua formação como mostrado a seguir. - POEIRAS – são partículas sólidas resultantes da desintegração mecânica de substâncias orgânicas ou inorgânicas (rochas, minérios, metais, carvão, madeira, grãos, pólens, etc), seja pelo manuseio, operações de esmagamento, de moagem, trituração, detonação e outros. - FUMOS – são pequeníssimas partículas sólidas resultantes da condensação, ressublimação ou reação química de vapores, geralmente, provenientes da volatização de metais em fusão ( fumos de óxidos de zinco, de chumbo, etc.). Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 27
  • 28. QUALIDADE DO AR INTERNO - FUMAÇA – são partículas resultantes da combustão incompleta de materiais orgânicos (fumaças industriais). - NÉVOAS – são aerosóis constituído por partículas líquidas (gotículas) resultantes da condensação de vapores, ou dispersão mecânica de líquidos ( névoa de ácido crômico, de ácido sulfúrico, tinta pulverizada e agrotóxicos). Além das partículas não biológicas, provenientes principalmente da combustão do cigarro e de combustíveis, que estão associadas a agravos na saúde, destacam-se os bioaerossóis, que correspondem ao material biológico transmitido pelo ar. Os contaminantes biológicos incluem microrganismos (bactérias, fungos, vírus), ácaros, pólen, traças, pêlo e fezes de animais. As bactérias e fungos são os mais freqüentemente associados com biocontaminantes e com queixas quanto à qualidade de ar de interiores. A figura 12 apresenta as características principais de partículas e aerodispersóides como tamanhos, métodos de avaliação de tamanhos, equipamentos de coleta, velocidade terminal de queda etc. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 28
  • 29. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 12 – Características de partículas e aerodispersóides - Fonte MESQUITA et al (1977) Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 29
  • 30. QUALIDADE DO AR INTERNO Partícula Tamanho da Partícula (microns) Lã de vidro 1000 Areia da praia 100 - 10000 Névoa 70 - 350 Fertilizante 10 - 1000 Fibras Têxteis 10 - 1000 Isolação de fibra de vidro 1 - 1000 Grão de poeira 5 - 1000 Ácaros da poeira 100 - 300 Pó de serra 30 - 600 Pó de chá 8 - 300 Café 5 - 400 Pó de osso 3 - 300 Cabelo 5 - 200 Pó de cimento 3 - 100 Poeira Têxtil 6 - 20 Esporos 3 - 40 Pó de carvão 1 - 100 Pó de ferro 4 - 20 Pó de face (maquiagem) 0.1 - 30 Poeira de Talco 0.5 - 50 Asbesto 0.7 - 90 Pigmentos de Pintura 0.1 - 5 Poeira metalúrgica 0.1 - 1000 Argila 0.1 - 50 Tonalizador da copiadora 0.5 - 15 Gotas líquidas 0.5 - 5 Anthrax 1 - 5 Poeira atmosférica 0.001 - 40 Sal do mar 0.035 - 0.5 Bactérias 0.3 - 60 Bromo 0.1 - 0.7 Fumo do óleo 0.03 - 1 Fumo do tabaco 0.01 - 4 Vírus 0.005 - 0.3 Poeira atmosférica típica 0.001 to 30 Açúcares 0.0008 - 0.005 Pesticidas e Herbicidas 0.001 Dióxido de carbono 0.00065 Oxigênio 0.0005 1 micron é a milionésima parte do metro Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 30
  • 31. QUALIDADE DO AR INTERNO 7. CONTAMINANTES É evidente a necessidade de que ambientes climatizados devem ser “controlados” por equipamentos sofisticados que monitoram diversas variáveis de conforto térmico e salubridade e minimizem o consumo de energia elétrica. Mesmo com tal sofisticação, o ar de um ambiente climatizado pode apresentar uma distribuição de contaminantes que são provenientes de diversos locais e equipamentos. Grande parte das fontes de contaminantes ocorre principalmente nos sistemas de climatização. A estrutura da edificação, o mobiliário, o carpete, odor e carga térmica dos ocupantes e contaminantes do ar externo também contribuem para a distribuição destes no ar interno. Como visto no item 2.2, dentre os agentes causadores de doenças pulmonares, 52% são associados aos Sistemas de Climatização e o restante tem sua origem ligada a diversos tipos de Contaminantes e Agentes desconhecidos. Torna-se necessário proceder-se à identificação dos mesmos, mostrando-se suas origens, formas de proliferação, seus efeitos, as maneiras de identificá-los e os procedimentos de controle dos mesmos. 7.1 Contaminantes Químicos Interiores Muito dos poluentes encontrados no ar de ambientes internos provém do próprio meio, ou seja, estão contidos em tintas de paredes ou móveis, tapetes, produtos de limpeza, computadores, copiadoras e o próprio ocupante, o qual produz dióxido de carbono através da respiração. São encontrados também aerossóis biológicos provenientes de suor e perfumes. Nos locais onde é permitido fumar, a condição de contaminação de um ambiente piora extremamente, devido aos cerca de 4000 compostos químicos presente no cigarro. Alguns equipamentos como aquecedores, fogões e quaisquer outros aparelhos em que haja combustão são fontes internas de dióxido de carbono. Os principais grupos de contaminantes químicos interiores serão apresentados a seguir. 7.1.a Compostos Orgânicos Voláteis Dentre os tipos de contaminantes químicos internos descritos, pode-se identificar os Compostos Orgânicos Voláteis, que são aqueles que possuem em sua constituição, carbono e hidrogênio e, volatilizam- se à temperatura ambiente. Materiais de construção da edificação, acabamento, decoração e de mobiliário permanecem eliminando COV em ambientes fechados por tempos indeterminados. Outras fontes são os processos de combustão, emissões metabólicas de microorganismos e fotocopiadoras. No quadro a seguir são apresentados os principais compostos e suas fontes. Quadro 2 - Principais compostos orgânicos encontrados no ambiente interno Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 31
  • 32. QUALIDADE DO AR INTERNO Composto Fontes de Emissão Acetona Cosméticos Álcoois Álcool de Limpeza, agentes de limpeza Aromáticos Tintas, Adesivos, gasolina, combustão Tintas, Adesivos, gasolina, combustãoAlifáticos Benzeno Fumaça de Cigarros, Escapamento de Veículos Tetracloreto de Carbono Fungicidas, Inseticidas Clorofórmio Produtos utilizados em lava-louças e lava roupas, produtos de limpeza Diclorobenzeno Desodorantes de ambientes, naftalina Formaldeído Madeira Prensada Cloreto de Metileno Solventes de Tintas e Tintas Estireno Fumaça de Cigarro Tetracloretileno Roupas lavadas a seco Tricloroetano Roupas lavadas a seco e aerossóis Tricloroetileno Cosméticos, partes eletrônicas, bebidas, desodorizantes Terpenos Perfumados, tecidos, fumaça de cigarros, alimentos, betume Fonte REEVE (1994) Produtos à base de aerossóis e umidificadores melhoram o transporte dos compostos orgânicos para a fase vapor o que facilita a absorção destes pelo sistema respiratório. Devido à quantidade elevada de fontes de COV é muito difícil determinar-se a detecção da uma fonte específica e a concentração isolada do contaminantes, Portanto, é possível ter-se situações onde uma fonte relativamente pequena pode solicitar baixas taxas de ar para diluição, embora sua toxidade seja elevada. O custo e o tempo para identificação e medida são elevados e o total medido é desprezado, uma vez que os valores de concentração são bastante pequenos. Segunto MACINTYRE (1990) normalmente escritórios apresentam níveis de contaminação da ordem de poucos µg/m3 (microgramas por metro cúbico) até alguns mg/m3 (miligramas por metro cúbico). Os principais sintomas relacionados à exposição a esses compostos são cansaço, dores de cabeça, tonturas, fraqueza, sonolência, irritação dos olhos e pele. Um composto pode interagir com outro e por conseqüência os sintomas podem se agravar, ou seja, os elementos juntos apresentam potencialização maior em relação a efeitos do que a soma dos efeitos de vários compostos. Um agravante deste quadro é a combinação com condições desfavoráveis de temperatura e umidade do ar. Uma indicação dos órgãos de saúde é que se minimize o tempo de permanência em ambientes com elevada quantidade de fontes de COV. 7.1.b Materiais particulados São contaminantes produzidos através da mistura física e química de diversas substâncias presentes em suspensão no ar como sólidos ou sob a forma líquida (gotículas, aerossol). Os mecanismos de formação podem ser através de atrito entre partes moveis ou pela ação de umidificadores. Algumas atividades como varrer, tirar pó ou aspirar facilitam o movimento das partículas, colocando-as em suspensão e em contato com o ar. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 32
  • 33. QUALIDADE DO AR INTERNO Estes contaminantes representam a forma mais visível de poluição e não exigem instrumentação sofisticada para sua detecção, podem ser notados a olho nu. O tamanho das partículas pode variar de 0,005 a 100 µm, sendo que o problemático para a saúde são as partículas pequenas o bastante para passar pelas vias aéreas superiores e alcançar os pulmões, embora em avaliações de qualidade do ar a faixa de estudo esteja entre 0,1 a 10 µm. No caso de partícula maiores que 15 µm, estas são grandes demais para serem inaladas. A composição química dos materiais particulados é bastante variável, podendo constituir-se de amianto, fibras minerais, fibras sintéticas, esporos fúngicos, restos de insetos e resíduos alimentares, pólen, aerossóis de produtos de consumo e alérgenos. 7.1.c Contaminantes Biológicos De acordo como HOUSSAY (1994) os contaminantes biológicos são constituídos por bactérias, fungos, leveduras, grão de pólem, ácaros, esporos etc. Contaminantes biológicos são bastante conhecidos por causarem doenças infecciosas, tuberculose além de hipersensibilidade. Podem apresentar alto grau de toxidade causando diversos efeitos desagradáveis. A hipersensibilidade à pneumonia desenvolvida por diversas pessoas, esta associada à inalação de esporos de fungos, sendo que em edifícios chamados doentes as queixas são freqüentes. O nível de hipersensibilidade é determinado pela susceptividade das pessoas a tal exposição. Os fatores que determinam a proliferação de contaminantes biológicos são umidade elevada do ambiente, ventilação reduzida, poucas aberturas nos edifícios, sistemas de aquecimento com temperaturas elevadas. Pessoas e animais domésticos liberam fungos e bactérias. A umidade elevada é responsável pelo aumento das populações de ácaros e o crescimento de fungos sobre superfícies úmidas. Um dos principais contaminantes biológicos relacionado a sistemas de climatização é a LEGIONELLA PNEUMOPHILA, a qual é responsável por um tipo de pneumonia conhecida como “Doença dos Legionários”. Esta se desenvolve em meios aquáticos como águas estagnadas, umidificadores, bandejas de condensação e torres de refrigeração e são insufladas no ar através dos dutos, sendo posteriormente inaladas na forma de aerossóis. 7.1.d Componentes Químicos De acordo com MACINTYRE (1990), em edifícios climatizados é bastante comum encontrar a proliferação de componentes químicos. Dentre os componentes gerados pode-se destacar os seguintes: - Monóxido de carbono (CO) produzido a partir da combustão de matérias que contém Carbono em sua constituição em locais com nível insuficiente de Oxigênio. Ocorrem geralmente em aquecedores de água, fogões e aparelhos que se destinem a aquecimento. Ocorre também da fumaça de cigarros e emissões de veículos quando a captação do ar para sistemas de climatização esta localizada próxima à rua. O CO possui alta afinidade com a hemoglobina reduzindo a capacidade dos glóbulos vermelhos de transportar oxigênio para os tecidos, provocando a morte de células por inanição. – Dióxido de carbono (CO2) produzido através de combustão de combustíveis fósseis e processos metabólicos. Este é responsável pelo controle da frequência de respiração de uma pessoa. O aumento do Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 33
  • 34. QUALIDADE DO AR INTERNO nível de CO2 provoca a sensação de falta de ar e por conseqüência a frequência respiratória é aumentada para compensação deste efeito. Sua concentração em ambientes climatizados depende principalmente do número de ocupantes, uma vez que estes emitem-no através do processo de respiração. - Óxido de nitrogênio (NO) é resultado de combustões a alta temperatura, como queima de combustíveis de veículos. Entra em ambientes através dos sistemas de captação quando estes estão colocados no nível da rua. Pode interferir no transporte de oxigênio para os tecidos produzindo efeitos parecidos como os do CO e ainda edema pulmonar quando em grandes concentrações. - Dióxido de nitrogênio (NO2) produzido em ambientes internos a partir da queima de combustíveis orgânicos em aparelhos como fogões a gás e aquecedores de ambiente, além de fumaça de cigarro. O NO2 age como um agente irritante, afetando os olhos, pele e a mucosa do nariz, sendo que em altas concentrações pode afetar também a garganta e o trato respiratório. Devido ao fato de ser pouco solúvel em água provoca mínima irritação no trato respiratório superior, agindo ativamente no trato inferior. A exposição a pequenas concentrações pode aumentar a possibilidade de infecções respiratórias. - Dióxido de enxofre é subproduto de combustão de combustíveis fósseis e compostos a base de enxofre, apresentando cheiro característico em altas concentrações. Apresenta alta solubilidade em água sendo absorvido pelas membranas do sistema respiratório, formando ácido sulfúrico e sulfuroso. Causa danos não só aos ocupante como também aos equipamentos e móveis, uma vez que em contato com umidade produz produtos corrosivos. - Amônia (NH3) utilizado principalmente como refrigerante em sistemas de refrigeração de grande porte e também em produtos de limpeza. Apresenta alta solubilidade em água e é bastante tóxico apresentando cheiro característico. Afeta diretamente o trato respiratória superior uma vez que estes são bastante úmidos. 7.1.e Contaminantes gerados por Ocupantes As atividades desenvolvidas pelos ocupantes e por conseqüência o metabolismo associado a estas, alteram a qualidade do ar por diminuição da concentração de oxigênio e aumento da concentração de dióxido de carbono. Respiração, transpiração e a preparação de alimentos adicionam vapor d’água, bem como outras substâncias que geram odores à atmosfera interna. 7.2 Contaminantes Químicos Exteriores Os contaminantes químicos exteriores mais conhecidos são aqueles provenientes de descargas de automóveis e de gases de chaminés de fabricas. Dentre os gases pode-se destacar os monóxidos e dióxidos de carbono, o dióxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre, o ozônio, vapores de chumbo e metais pesados. A contaminação dos ambientes pelos elementos citados se dá principalmente em função de entradas de ar, localizadas no nível do terreno ou próximas ao tráfego. Na figura 13 é possível visualizar a contaminação do sistema de climatização, devido à proximidade da captação do ar externo com fontes emissoras de contaminante. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 34
  • 35. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 13 – Contaminação na captação de ar externo - Fonte NTT (2003) Outra variável que permite a contaminação é o fato de os equipamentos não se encontrarem em boas condições de manutenção permitindo assim, a dispersão dos contaminantes pelo sistema de ventilação e climatização. 7.3 Agentes Desconhecidos A chamada deste item apenas ressalta a necessidade de investigações acerca da ocorrência de diversas sintomalotogias indicadas por ocupantes, sem que os agente causadores pudessem ser identificados. Como visto anteriormente, estes são responsáveis por um elevado nível de problemas pulmonares. 8. DOENÇAS ASSOCIADOS À QUALIDADE DO AR INTERNO Em função dos problemas na qualidade do ar em ambientes climatizados, várias doenças que afetam o sistema respiratório podem ser difundidas nestes locais. Estas doenças podem ser diagnosticadas e definidas clinicamente em função dos sintomas apresentados pelos ocupantes os quais podem ser atribuídos aos contaminantes existente no ar. As doenças respiratórias adquiridas em ambientes de trabalho são conhecidas como Doenças Pulmonares Ocupacionais. Estas são causadas pela inalação de partículas, névoas, vapores ou gases nocivos no ambiente de trabalho. Estas substâncias podem se depositar nas vias aéreas ou nos pulmões, dependendo de tamanho e do tipo de partículas que as compõem. Partículas maiores tendem a ficar retidas nas narinas ou nas vias aéreas, sendo que as menores tendem a atingir os alvéolos pulmonares. Existem alguns fatores que permitem identificar doenças relativas à qualidade do ar de edifícios. Freqüentemente deve-se monitorar fatores como tosse, rouquidão, catarro, dores no peito, náuseas, tonturas, febres, arrepios e dores musculares. Segundo NIOSH (1987), algumas das principais doenças relacionadas aos problemas citados, assim como os sintomas, são relacionadas a seguir. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 35
  • 36. QUALIDADE DO AR INTERNO 8.1 Doenças Ocupacionais Das Vias Aéreas Inferiores 8.1.1 Doença do Legionário ou Legionelose A doença do legionário é causada pela bactéria Legionella pneumophila e por outras espécies de Legionella. A doença do legionário tende a ocorrer em épocas como o final do verão e início do outono. A bactéria Legionella vive em meios aquáticos e tendem a se propagar pelos de sistemas de climatização de edifícios. A doença do legionário pode produzir sintomas diversos desde simples tonturas, podendo entretanto, ser letal. Os principais sintomas são fadiga, febre, cefaléia e dores musculares, tosse seca, dificuldade respiratória, diarréia, confusão mental e outros distúrbios mentais. 8.1.2 Asma Ocupacional É definida como sendo um espasmo reversível das vias respiratórias, tornando a respiração difícil. Estes espasmos estão associados à inalação de partículas ou de vapores, e são bastante freqüentes em ocupante sensíveis a produtos irritantes. A figura 14 apresenta o sistema respiratório acometido de asma. Pode-se perceber a inflamação indicada pelos tons avermelhados nos pulmões. Os sintomas são dificuldade respiratória, sensação de opressão no peito, sibilos (chio de peito), tosse, espirros, coriza e lacrimejamento. Estes ocorrem predominantemente horas depois que o trabalhador termina sua jornada de trabalho. Em alguns casos podem desaparecer por um período de tempo, surgindo a seguir. Esta característica por vezes dificulta o estabelecimento da relação entre os sintomas e a qualidade do ar. Figura 14 – Quadro típico de Asma - Fonte www.medlineplus.gov Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 36
  • 37. QUALIDADE DO AR INTERNO 8.1.3 Pneumonia A pneumonia é uma infecção dos pulmões que, envolve os alvéolos e os tecidos circunjacentes. Freqüentemente, a pneumonia é a doença terminal de indivíduos portadores de outras doenças crônicas graves. A pneumonia é um conjunto de diversas doenças diferentes. Na figura 15 tem-se em destaque o efeito de entupimento causado pela pneumonia. São associadas a diversas bactérias como Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, Staphylococcus aureus, Legionella, Haemophilus influenzae e também vírus como a gripe e a varicela. Alguns fungos também causam pneumonia. Os sintomas comuns da pneumonia são a tosse, dor toráxica, calafrios, febre e dificuldade respiratória. Figura 15 – Quadro típico de Pneumonia - Fonte www.medlineplus.gov 8.1.3.a Pneumonia Pneumocócica O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é a causa bacteriana mais comum de pneumonia. O indivíduo infectado com um dos oitenta tipos conhecidos de pneumococos adquire uma imunidade parcial contra a reinfecção desse tipo, mas não se torna imune aos demais tipos. Geralmente, a pneumonia pneumocócica inicia após uma infecção viral do trato respiratório superior (resfriado, faringite ou gripe) ter lesado suficientemente os pulmões, a ponto de permitir que pneumococos infectem a área. O paciente apresenta tremores e calafrios, acompanhados por febre, tosse, dificuldade respiratória e dor torácica (no lado do pulmão afetado). Também são comuns a náusea, vômito, fadiga e dores musculares. Freqüentemente, o escarro apresenta uma cor de ferrugem devido à presença de sangue. Existe uma vacina que protege até 70% dos indivíduos contra infecções pneumocócicas graves. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 37
  • 38. QUALIDADE DO AR INTERNO 8.1.3.b - Pneumonia Viral É um tipo de pneumonia causada por alguns tipos de vírus como por exemplo o vírus sincicial respiratório, o adenovírus, o vírus da parainfluenza, vírus da influenza, vírus do sarampo e o vírus da varicela. 8.1.3.c - Pneumonia por Fungos É um tipo de pneumonia causada por fungos, destacando-se três tipos em especial: o Histoplasma capsulatum, que causa a histoplasmose, o Coccidioides immitis, que causa a coccidioidomicose, e o Blastomyces dermatitidis, que causa a blastomicose. Após serem inalados os fungos podem causar uma pneumonia aguda ou crônica. Os principais sintomas são tosse, febre, dores musculares e dor torácica sendo que estes podem persistir por meses. 8.1.4 Pneumonite de Hipersensibilidade A pneumonite por hipersensibilidade é uma manifestação clínica de um grupo de doenças pulmonares, resultantes da sensibilização por exposições recorrentes a inalações de partículas antigênicas e material orgânico. É uma inflamação que atinge os alvéolos pulmonares sendo causada por reação alérgica a poeiras orgânicas inaladas e substâncias químicas. As poeiras orgânicas são aquelas que contêm microrganismos ou proteínas. A exposição às poeiras produz sensibilização dos linfócitos e formação de anticorpos, acarretando a inflamação dos pulmões e um acúmulo de leucócitos nas paredes dos alvéolos. Pode ser chamada de alveolite alérgica extrínsica . É uma resposta imune à partículas que são menores que 5 μ e que chegam nos bronquíolos terminais, respiratórios e alvéolos. A resposta dependerá da partícula inalada. Clinicamente é uma dispnéia, sibilância, febre, tosse seca, mal estar geral e fadiga, após exposições periódicas. Os principais sintomas são febre, tosse, calafrios e dificuldade respiratória, perda de apetite, náusea e vômito sendo que a freqüência dos sintomas é de quatro a oito horas após a exposição aos contaminantes. A evolução é progressiva, com perda de peso. Não há sintomas agudos da exposição. Pode evoluir cronicamente para cor pulmonale. Com a evolução da doença aparecem opacidades regulares e irregulares, difusas, aumento da trama traqueobrônquica, redução volumétrica dos pulmões e faveolamento. 8.1.5 Fibrose Pulmonar Idiopática A fibrose pulmonar é causada por muitas doenças, especialmente por aquelas que envolvem alterações do sistema imune e são provenientes de vírus, micoplasmas, tuberculose disseminada, poeiras minerais (sílica, carbono, limalha metálica, asbesto), poeiras orgânicas, gases, fumaças e vapores. O termo idiopático significa “de origem desconhecida”. A figura 16 mostra um sistema respiratório acometido de fibrose pulmonar com o pulmão direito apresentando faixas de cicatrização e formação de cavidades. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 38
  • 39. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 16 – Quadro típico de Fibrose Pulmonar Idiopática - Fonte www.medlineplus.gov Os sintomas mais comuns são dificuldade respiratória, tosse, perda de apetite, perda de peso, cansaço, fraqueza e dores vagas no tórax. O esforço excessivo do coração pode levar a uma insuficiência cardíaca. 8.2 Doenças Ocupacionais das Vias Aéreas Superiores 8.2.1 Rinites Alérgicas e Irritativas Rinites Alérgica são provenientes de Animais de laboratório, grãos de café verde, farinha de trigo, poeira de cereais, cedro vermelho,anidrido trimetílico e ftálico,isocianatos, papel cópia não carbonado. Existem mais de 200 substâncias listadas como causa de Rinites Irritativas, entre eles os halogênios (flúor, cloro, bromo, iodo), e seus compostos, dos ácidos fortes, e de solventes orgânicos com baixo ponto de evaporação. As figuras abaixo mostram quadros típicos de Rinite e Dermatite respectivamente. Figuras 17e18 – Quadro Típico de Rinite e Dermatite - Fonte www.medlineplus.gov Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 39
  • 40. QUALIDADE DO AR INTERNO O quadro a seguir apresenta as principais doenças associadas aos Edifícios. Quadro 3 – Doenças associadas aos Edifícios Patologia Agente Causador Fisiopatologia Apresentação Clínica Bactéria Legionella Pneumofilia Infecção Respiratória por bactérias viáveis dispersas no ar Tosse seca febre, mialgia, calafrios. Pode evoluir para morte Legionelose Reação Inflamatória com granulomas e fibrose causadas por reações de hipersensibilidade Febre, mialgia, tosse e pneumonias recorrentes Pneumonite de Hipersensibilidade Antígenos associados com fungos, bactérias protozoários, insetos e endotoxinas Os mesmos da Pneumonite de Hipersensibilidade Resposta Inflamatória transitória e sem formação de granulomas Febre, mialgia e astenia, sem sintomas ou seqüelas pulmonares Febre do umidificador Ácaros, fungos alérgenos de animais, toxinas bacterianas Irritação inespecífica ou exacerbação de inflamação alérgica preexistente Plurido e obstrução nasais, coriza, espirros, tosse, sibilos e dispnéia Rinite e Asma Exposição a produtos irritativos como lã de vidro, produtos de limpeza Dermatite de contato irritativo ou alérgica Plurido, descamação, eritema, pápulas ou vesículas Eczema ou Dermatite de Contato Fonte www.alergohouse.com.br Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 40
  • 41. QUALIDADE DO AR INTERNO O quadro a seguir apresenta um resumo dos principais contaminantes e seus sintomas característicos Quadro 4 – Contaminantes e seus efeitos NO O Chumbo e Material CO COSO2 2 3 2 Dióxido Dióxido Ozônio Metais Particulado Monóxido Dióxido de de Pesados de de Enxofre Nitrogênio Carbono Carbono Queimação nos olhos X X X Ardência nas narinas X X X X X Falta de ar X X X X X X X Rinite X X X X X Sinusite X X X X X Tosse X X X X X Pressão alta X X X X X X Stress X X X X X X Enxaqueca X X X X X Escamação da pele X X Dor nos ossos X X Dor de cabeça X X X X X Tontura X X X X Ansiedade X X X X Perda dos sentidos X X X X X Entupimento do nariz X X X X Dor de ouvido X X X X Pressão sobe o coração X X X X X Fonte NIOSH (1987) 9. LEGISLAÇÃO SOBRE QUALIDADE DO AR INTERNO Os ambientes que apresentam condições severas de contaminação ou de conforto são tidos como insalubres e dependendo da gravidade podem ser caracterizados como portadores de periculosidade. Segundo BRASIL – CLT (2003) a insalubridade tem os seguintes termos: “Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos.” A legislação brasileira sobre Qualidade do Ar Interno resumia-se a procedimentos de manutenção dos sistemas de climatização e conforto térmico. Os parâmetros sobre o projeto e manutenção de sistemas de condicionamento de ar sempre foram pautados pelas normas da ABNT e similares estrangeiras. Um Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 41
  • 42. QUALIDADE DO AR INTERNO certo destaque para o assunto foi obtido após a morte do ex-ministro de comunicações Sérgio Motta. Este senhor foi vitimado por uma infecção hospitalar proveniente de alto grau de sujidade nos Dutos de Condução de Ar no hospital onde estava internado. Verificou-se então, que as condições de salubridade não mais poderiam ser pautadas pelos parâmetros determinados pelas normas previstas na legislação anterior. Surge então a Portaria 3523 de 28 de agosto de 1998, cujo texto tem por objetivo, a minimização dos riscos potenciais à saúde dos ocupantes em função de sua permanência em ambientes climatizados, procurando criar um Plano de Manutenção dos Sistemas de Climatização de Edifícios Públicos, Residenciais, etc, mais completo do que os utilizados até então. Nesta portaria está contemplada também a exigência da limpeza e desinfecção de dutos e sistemas de ar condicionado com capacidade superior a 5 TR em edifícios públicos, hotéis, hospitais etc, e de verificações semestrais nos Sistemas de Climatização, além da limpeza e higienização dos mesmos. Regulamenta ainda a definição de parâmetros físicos e composição física, química e biológica, além das tolerâncias e métodos de controle, bem como os pré-requisitos de projetos de instalação e de execução de sistemas de climatização. Esta portaria define ainda que, o seu descumprimento configura infração sanitária, acarretando pesadas multas para os infratores, remetendo-os as penalidade previstas na Lei n° 6.437, de 20 agosto de 1977. Com o passar do tempo, verificou-se que a portaria precisava identificar instrumentos que mensurassem sua eficácia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em função desta preocupação, redigiu então, a Resolução 176 de 24 de outubro de 2000, a qual cria os Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interno e determina ainda a necessidade de um responsável técnico, quando de instalações de grande porte. Os resultados obtidos com a resolução 176, mostraram que esta ainda teria que ser aperfeiçoada, uma vez que os trabalhadores dos edifícios públicos, continuavam apresentando sintomas de doenças relacionadas aos sistemas de climatização. Em 16 de janeiro de 2003, a ANVISA editou a Resolução 9, com a finalidade de sanar as falhas identificadas na resolução 176. A Resolução 9 trouxe novidades como a determinação de recolhimento regular de amostras do ar de qualquer área de trabalho, sendo que anteriormente apenas áreas com superfície superior a 3000 metros quadrados estavam obrigadas a tal atividade. Outra alteração diz respeito à determinação dos limites máximo de contaminação através de contaminantes biológicos e químicos. Atualmente as normas e legislações acerca de qualidade do ar utilizadas no Brasil são aquelas indicadas a seguir. - Portaria no 3523 de 28/08/1998 do Ministério da Saúde - Resolução ANVISA nº 9, 16 de janeiro de 2003 - RDC 50 ANVISA - Regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. - RENABRAVA I - Recomendação Normativa ABRAVA para Execução de Serviços de Limpeza e Higienização de Sistemas de Distribuição de Ar. - RENABRAVA II – Qualidade do Ar Interior em Sistemas de Condicionamento de Ar e Ventilação para Conforto - NBR 6401 - Instalações centrais de ar condicionado para conforto – Parâmetros básicos de projeto. - NBR 5413 – Iluminância de Interiores. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 42
  • 43. QUALIDADE DO AR INTERNO - NBR 7256 - Tratamento de ar em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) – Requisitos para projeto e execução das instalações. - NBR 3422 - Agentes químicos no ar – Coleta de aerodispersóides por filtração. - NBR 9547 - Material particulado em suspensão no ar ambiente – Determinação da concentração total pelo método do amostrador de grande volume. - NBR 14679 - Sistemas de condicionamento de ar e ventilação – Execução de serviços de higienização. - Resolução CONAMA No 3 de 28/06/90 - NBR 13.971 - Sistemas de Refrigeração, Condicionamento de Ar e Ventilação - Manutenção programada - Norma ANSI / ASHRAE 52.1 (Gravimetric and Dust-Spot Procedures for Testing Air-Cleaning Devices Used in General Ventilation for Removing Particulate Matter). - Norma ANSI/ASHRAE 62-2004 - Ventilation for Acceptable Indoor Air Quality. (em manutenção permanente) e projetos de adenda publicados em 2004. - Norma ANSI/ASHRAE 129-1997- Measuring Air-Change Effectiveness. - Norma ASHARAE 55-1992 – Thermal Environmental Conditions for human occupancy - Norma Regulamentadora 07 do Ministério do Trabalho e Emprego – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO - Norma Regulamentadora 09 do Ministério do Trabalho e Emprego – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA - Norma Regulamentadora 15 do Ministério do Trabalho e Emprego – Atividade e Operações Insalubres. - Norma Regulamentadora 31 do Ministério do Trabalho e Emprego – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde - Lei n. 8078 de 11 de setembro de 1990 – Lei do Consumidor - Lei 10257 de 10 de julho de 2001 – Estatuto da Cidade - Lei 6437 de 20 de agosto de 1977 – Infrações à Lei Sanitária Federal - Lei 9695 de 20 de agosto de 1998 – Altera os arts. 2, 5 e 10 da lei 6437 - Medida Provisória n. 2190-34 de 23 de agosto de 2001 – altera dispositivos das leis 9782 e 6437 - NHO 02 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Análise Qualitativa da Fração Volátil (Vapores Orgânicos) em colas, tintas e vernizes por Cromatografia Gasosa / Detector de Ionização de Chama. - NHO 03 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Análise Gravimétrica de Aerodispersóides Sólidos coletados sobre Filtros de Membrana. - NHO 04 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Método de Coleta e Análise de Fibras em Locais de Trabalho – análise por microscopia ótica de constraste de fase. - NHO 07 – Norma de Higiene Ocupacional da Fundacentro – Calibração de Bombas de Amostragem Individual pelo Método da Bolha de Sabão. - Guia de Contratação de Empresas Prestadoras de Serviços em Controle de Qualidade do Ar de Interiores Brasindoor - Limites Exposição (TLVs) para Substâncias Químicas e Agentes Físicos e Índices Biológicos de Exposição (BELs) - ACGIH 2005. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 43
  • 44. QUALIDADE DO AR INTERNO 10. PADRÕES DE QUALIDADE DO AR A seguir são apresentados em forma de tabela os padrões de qualidade do ar indicados pela IAQA (Associação Internacional de Qualidade do Ar em Interiores). O Brasil adota vários destes parâmetros como referência para suas normas, efetuando alguns ajustes para a necessidade sócio econômico do país. Tabela 6 - Padrões Recomendados para Ambientes Confinados IAQA 01 Parâmetro Limite/Escala Referência Parâmetros Físicos o ASHRAE 551.1 Temperatura Verão 20 – 24 C Inverno 22 – 26 o C 1.2 Umidade Relativa 30 % - 65 % Florida Dept.Man.Ser 1.3 Movimento do Ar 0.25 m/s WHO/OMS 3.0 Filtragem 25% - 30% Efeitos da Poeira ASHRAE 52.1 4.0 Pressurização 1 - 5 Pascals Florida solar Energy Center; Lstiburek 3 5.1 Partículas Respiráveis 50 µg/m State of Califórnia, Air Resources Board 3 5.2 Particulados em Sistemas HVAC Limpos 1.0 µg/m NADCA 1992-01 Parâmetros Químicos 6.1 Monóxido de Carbono 9 ppm EPA- National Ambient Air Quality Standard 6.3 Ozônio 0.05 ppm OMS / WHO 3 7.1 Total da Volatilidade Orgânica de Compostos 3 µg/m (0.64 ppm) Molhave, 1990 7.2 Formaldeído 0.06 µg/m3 (0.05 ppm) Health & Welfare Canada Parâmetros Biológicos 8.1 Fungos e Bioaerossóis 300 UFC/m3 total Robertson, 1997 50 UFC/m3 individual (excetuando Cladosporium) 8.2 Bactéria, Bioaerosóis (culturable) 500 CFU/m3 total OMS / WHO Fonte www.waysoflife.com o O Brasil através da Resolução CONAMA n 3 estabelece a qualidade mínima aceitável do ar exterior usado para renovação. Os limites da tabela 7 são também válidos para o ar interior. A tabela 8 indica os limites recomendados para alguns contaminantes importantes do ar interior. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 44
  • 45. QUALIDADE DO AR INTERNO Tabela 7 – Limites de concentração do ar exterior Poluente Tempo de amostragem Padrão primário (µg/m3 ) Dióxido de Enxofre (SO2) 24 horas (1) MAA (3) 365 80 Partículas Totais em Suspensão (PTS) 24 horas (1) MGA (2) 240 80 Partículas inaláveis 24 horas (1) MAA (3) 150 50 Fumaça 24 horas (1) MAA (3) 150 60 Monóxido de Carbono (CO) 1 hora (1) 8 horas 40000 (35 ppm) 10000 ( 9 ppm) Ozônio 1 hora (1) 160 Dióxido de Nitrogênio (NO2) 1 hora (1) MAA (3) 320 100 Fonte CONAMA (1990) Notas Padrão Primário: São concentrações de poluentes, que ultrapassados, poderão afetar a saúde da população (1) Não deve ser excedido mais que uma vez por ano (2) Média Geométrica Anual (3) Média Aritmética Anual Tabela 8 - Padrões Adicionais de Qualidade do Ar Interior Poluente Padrão primário Fonte desejável até 1000 ppm máx. 2000 ppm Dióxido de Carbono (CO2) ASHRAE / SMACNA Componentes Orgânicos Voláteis 3 ASHRAEmax 300 a 1000 µg/m 3 max. 0.12 µg/m Formaldeído WHO / ASHRAE (0,1 ppm) até 750 UFC/ m3 (a) (bactérias e fungos viáveis) HBI Healthy Buildings Internacional Padrão microbiológico Fonte CONAMA (1990) (a) aceitável desde que não inclua espécies infecciosas ou alergênicas. Verificando-se a ocorrência de tais espécies, mesmo com contagens totais menores, devem ser tomadas medidas corretivas. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 45
  • 46. QUALIDADE DO AR INTERNO 11. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR Para determinar-se a Qualidade do Ar de um ambiente climatizado, é necessário lançar mão de metodologias destinadas a tal finalidade. Existem diversas metodologias disponíveis, sendo que a aceitação ou não dos resultados obtidos, cabe aos órgãos regulamentadores. No Brasil a metodologia adotada para estes casos é aquela sugerida pelas Resoluções e Regulamentos Técnicos da ANVISA em concordância com as normas técnicas da ABNT. Estas normalizações determinam os parâmetros a serem avaliados, de forma a obter-se o nível de qualidade do ar em um determinado local climatizado. A ANVISA indica em sua resolução 9 que os edifícios com características diferenciadas como serviço médico e de saúde, restaurantes e creches devem ter suas amostragens realizadas de forma isolada e com critérios diferenciados. Os parâmetros fundamentais sugeridos e definidos pelas regulamentações para serem avaliados são os seguintes: - Material particulado - Umidade relativa, Temperatura e Velocidade do ar - Fungos, bolores e bactérias - Dióxido de Carbono (CO2) São definidos também outros parâmetros para uma análise mais completa da qualidade do ar, embora estes não sejam adotados corriqueiramente. A ANVISA coloca como prioridade a medição dos parâmetros fundamentais citados anteriormente. Os parâmetros complementares são os seguintes: - Monóxido de Carbono (CO) - Formaldeídos - Dióxido de Nitrogênio (NO2) - Compostos Orgânicos Voláteis (COV) - Compostos Orgânicos Semi-Voláteis (COS-V) - Ozônio (O3) - Avaliação do nível de satisfação dos usuários O monitoramento da concentração de CO2 é bastante importante uma vez que no ambiente interior ele é produzido mais fortemente pelo metabolismo dos ocupantes, indicando assim se o sistema de climatização esta bem dimensionado para atender esta demanda. No entanto, na Consulta Pública 109 da ANVISA este monitoramento não esta mais previsto, sendo substituído pela contagem de partículas inaláveis. A resolução 9 da ANVISA ainda em vigor determina a metodologia apresentada nos próximos itens, a fim de permitir a avaliação da qualidade do ar interno. A tabela 9 apresenta o número mínimo de amostras em função da área construída. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 46
  • 47. QUALIDADE DO AR INTERNO Tabela 9 - Número mínimo de amostras em função da área construída Área Construída (m2 ) Número mínimo de amostras Até 1000 1 1000 a 2000 3 2000 a 3000 5 3000 a 5000 8 5000 a 10000 12 10000 a 15000 15 15000 a 20000 18 20000 a 30000 21 Acima de 30000 25 Fonte ANVISA (2003) 11.1 Determinação de Parâmetros físicos Os parâmetros físicos a serem avaliados são a temperatura, umidade relativa e velocidade do ar. O objetivo é quantificar temperatura e umidade como marcadores epidemiológicos de saúde e a velocidade do ar como marcador epidemiológico de conforto ambiental. Os limites admitidos para estes parâmetros são: Temperatura: 23°C a 26°C no verão 20°C a 22°C no inverno Umidade: 40% a 65% no verão 35% a 65% no inverno Velocidade: 0,025 m/s a 0,25 m/s As medições de temperatura e umidade devem ser realizadas com um termohigrômetro dotado de sensor de temperatura do tipo termo-resistência e sensor de umidade do tipo capacitivo ou por condutividade elétrica. A faixa de operação deve ser 0 a 70 o C com exatidão de ± 0.8 o C para temperatura e 5 a 95 % com ± 5% do valor medido para umidade. No caso da velocidade do ar deve ser utilizado anemômetro do tipo fio aquecido ou fio térmico com faixa de medição de 0 a 10 m/s e exatidão de ± 4% do valor medido. Os equipamentos devem ser calibrados anualmente. Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 47
  • 48. QUALIDADE DO AR INTERNO Figura 19 – Termo-Higrômetro e Anemômetro de Fio Aquecido - Fonte Catálogo Energética Equipamentos de Qualidade do Ar O número de amostragens é definido conforme a área construída do edifício. Os pontos de amostragens devem ser distribuídos uniformemente e os instrumentos devem estar localizados a uma distância de 1.5 m do chão. A tabela 10 apresenta o número mínimo de amostras em função da área construída. 11.2 Controle microbiológico Este contempla a pesquisa da microbióta fúngica, aplicando-se a coleta, encubação, contagem total e identificação dos fungos e bactérias presentes no ar de ambientes internos climatizados. O objetivo é quantificar e identificar os fungos de maneira que estes sejam utilizados como marcadores epidemiológicos da Qualidade do Ar. É possível através desta analise obter-se uma avaliação do ambiente em relação à hipersensibilidade dos indivíduos. A resolução traz em seu texto um fator que relaciona o número de fungos do ar interno com o ar externo. Através desta relação pode-se determinar que um ambiente é dito tolerável se a contagem de fungos for no máximo 50% maior do que o ambiente externo. O número de fungos é dado em relação a unidades formadoras de colônias (UFC) e o limite para o ambiente interno é de 750 ufc/m3 . É preciso salientar que os fungos não podem ser dos tipos patogênicos e toxicogênicos. A coleta de amostras é realizada utilizando-se um impactador linear do tipo Andersen, podendo este apresentar 1, 2 ou 6 estágios. A figura 20 mostra um Impactador Andersen de 1 estágio. O processo consiste de aspirar o ar com uma vazão de 28.3 l/min durante um período de 5 a 15 minutos, fazendo-o passar por um elemento filtrante e forçando-o a depositar-se em uma placa de petri contendo o meio de cultura. Para coleta de fungos, os meios de cultura indicados são o Agar Extrato de Malte, Agar Sabouraud ou o Agar Batata. Para a coleta de bactérias deve-se utilizar o Agar Sangue de Carneiro. Figura 20 – Impactador Andersen de 1 estágio - Fonte Catálogo Energética Equipamentos de Qualidade do Ar Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 48
  • 49. QUALIDADE DO AR INTERNO O processo procura simular a maneira como fungos ou bactérias são inalados pelo sistema respiratório e os estágios em que ocorrem. A figura a seguir ilustra este processo de inalação. Figura 21 – Relação entre o número de estágios do amostrador e os estágios de inalação do sistema respiratório - Fonte Catálogo Energética Equipamentos de Qualidade do Ar As amostras são então lacradas com fita de teflon e enviadas ao laboratório de análises para encubação, contagem e identificação de fungos, conforme rotina de embalagem com nível de biossegurança 2. O tempo de incubação mínimo é de 7 dias em uma temperatura de 25 o C permitindo-se assim o crescimento total dos fungos. O número de amostragens é definido conforme a área construída do edifício. Os pontos de amostragens devem ser distribuídos uniformemente e os instrumentos devem estar localizados a uma distância de 1.5 m do chão. A tabela 10 apresenta o número mínimo de amostras em função da área construída. 11.3 Determinação de aerodispersóides Este procedimento permite a contagem de particulados aerodispersos, através do método de gravimetria. O objetivo é quantificar a matéria particulada no ar ambiental (poeira). A matéria particulada é um marcador epidemiológico que indica a deficiência de filtragens ou acúmulo de sujidade em dutos ou ainda em ambientes interiores. O limite para considerar-se o ambiente adequado é 80 mg/m3 de aerodispersóides totais no ar. O procedimento de amostragem consiste de aspirar o ar do ambiente interno por intermédio de uma bomba de amostragem com vazão recomendada de 2 l/min, fazendo-o passar por um porta-filtro onde se encontra uma unidade de filtro. Esta unidade é constituída de uma mistura de ésteres de celulose com porosidade de 5 µm e diâmetro de 37 mm. O tempo de amostragem é fixado em função do volume a ser Eng. José Edson Basto – CREA SC 01 058125-4 49