1) O petróleo tem sido a principal fonte de energia desde a Revolução Industrial, mas suas reservas estão diminuindo e o pico de produção mundial ocorreu por volta de 2010.
2) A Petrobras está em crise devido à ingerência política, corrupção e endividamento, tendo perdido 60% de seu valor de mercado.
3) A exploração do pré-sal no Brasil está em risco devido à queda nos preços do petróleo e à situação da Petrobras.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O ocaso do petróleo e a crise da Petrobras
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O OCASO DO PETRÓLEO E A RUINADAPETROBRAS
FernandoAlcoforado*
O principal recurso da matriz energética mundial desde a Segunda Revolução Industrial é o
petróleo seguido do carvão e do gás natural. No final do século XIX, com a invenção do
automóvel com motor de combustão interna, o petróleo passou a ser uma das principais
fontes de energia do mundo. Na segunda metade do século XX, com a expansão do meio
urbano-industrial e, consequentemente, o crescimento populacional, houve o aumento
exponencial da demanda energética. Por se tratar de um produto com alto risco de
contaminação, o petróleo provoca graves danos ao meio ambiente pelo fato de emitir
gases do efeito estufa e afetar o meio ambiente quando entra em contato com as águas
de oceanos e mares ou com a superfície do solo. Vários acidentes ambientais
envolvendo vazamento de petróleo (seja de plataformas ou navios cargueiros) já
ocorreram nas últimas décadas. Quando ocorre no oceano, as consequências ambientais
são drásticas, pois afeta os ecossistemas litorâneos, provocando grande quantidade de
mortes entre peixes e outros animais marítimos.
A industrialização em vários países no decurso do século XX está marcada pela
ascensão do petróleo como a mais importante fonte de energia primária, e dos seus
derivados como os mais essenciais combustíveis para os transportes e a produção
termoelétrica (gasolina, óleo diesel, óleo combustível e querosene) e essenciais
matérias-primas para as petroquímicas (as "naftas", os BTX e vários elementos
químicos). O petróleo convencional é aquele de que o mundo afluente vem utilizando
desde o princípio do século XX e que na década de 1960 ultrapassou o carvão como
principal fonte de energia. Porém, acumula-se a evidência de que a capacidade de
produção de petróleo "convencional" está a atingir os seus limites. Situação mais
problemática ainda é a dos xistos betuminosos (shale gas). Os recursos de petróleo não
convencional são comparáveis com os de petróleo convencional, mas a fração
convertível em reservas exploráveis ascende, nas hipóteses otimistas, a não mais que
20% desses recursos e a custos técnicos, econômicos e ambientais substancialmente
mais elevados do que os custos do petróleo convencional.
O ritmo de descoberta de novas jazidas de petróleo convencional tem diminuído e as
grandes jazidas vão escasseando. À escala global, o ritmo de consumo já ultrapassou e
vem excedendo, desde 1981 as descobertas de novas províncias petrolíferas. O pico das
descobertas à escala mundial ocorreu em 1964. Como o ritmo das descobertas deixou de
compensar o ritmo de consumo, o balanço é negativo, e as reservas restantes têm
diminuído persistentemente. O "crescimento de reservas", ou seja, a reavaliação em alta
das reservas das províncias petrolíferas já conhecidas tem decrescido também, e será no
futuro mais reduzido do que no passado. A região do Golfo Pérsico detém a maior
fração das reservas de petróleo existentes. A OPEP (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) assegura atualmente uma fração próxima de 40% do
comércio mundial. A Rússia e a bacia do Cáspio detêm 15% das reservas mundiais de
petróleo convencional. A Rússia mais a bacia do Cáspio forneceram em 2001 11% da
produção mundial de petróleo convencional. Essa produção poderá aumentar ainda
50%, durante os próximos anos, podendo contribuir então com 15% da produção
mundial. Quanto à Europa Ocidental, a província petrolífera do Mar do Norte já
ultrapassou a sua produção máxima e entrou em declínio. Descoberta essa província em
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1969, a taxa de descoberta atingiu o seu máximo em 1974 e a taxa de produção o seu
apogeu em 2000.
A Europa terá agora de importar uma crescente quota de petróleo num mercado mundial
incerto. Quanto ao gás natural do Mar do Norte, ele assegura agora 50% do gás natural
consumido na União Europeia. Descoberto em 1965, atingiu o máximo de descoberta
em 1979 a sua produção atingiu o apogeu em 2005, para entrar depois em declínio
também. A Europa depende já, e crescentemente no futuro, do aprovisionamento de gás
natural proveniente do Norte de África e da Rússia. A Noruega dispõe ainda de recursos
adicionais de hidrocarbonetos no Ártico, particularmente gás natural que permitirá
manter e mesmo acrescentar a sua capacidade produtiva, o que atenuará, mas não
substituirá a pressão para as importações de fora da Europa Ocidental. Prevê-se que a
produção mundial de petróleo convencional iniciará então um declínio irreversível que
terá enorme repercussão em todo o mundo. À luz do conhecimento atual, na base dos
atuais dados relativos a reservas e a recursos, descobertos e ainda previsivelmente por
descobrir, a produção mundial deve ter atingido o seu ponto máximo por volta de 2010.
O declínio que se antevê na produção de petróleo convencional resulta do esgotamento
de suas reservas, da produção de shale gas, concorrente do petróleo convencional
especialmente nos Estados Unidos e da queda na demanda mundial de petróleo
convencional, principalmente devido à desaceleração da economia chinesa. A
consequência disso tudo é a redução do preço do barril de petróleo convencional que
depois de atingir um pico de US$ 115/ barril em junho de 2014 alcançou recentemente
US$ 30/ barril. A decisão da OPEP, em novembro de 2014, de não reduzir sua
produção a fim de reduzir os preços do barril de petróleo e torná-lo mais competitivo
com o shale gas também está pesando sobre o mercado. Em seu relatório, a AIE
(Agência Internacional de Energia) informou que a ascensão da produção norte-
americana de shale gas é uma das principais responsáveis pelo excesso de oferta no
mercado de petróleo. A oferta norte-americana até o momento mostra muito poucas
indicações de desaceleração. A produção total dos Estados Unidos atingiu a média de
12,6 milhões de barris diários em fevereiro, ante a média de 11,8 milhões de barris ao
dia (b/d) em 2014 (Ver o artigo Preço do petróleo ainda deve sofrer solavancos afirma
agência do setor disponível no website
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1602333-preco-do-petroleo-ainda-
deve-sofrer-solavancos-afirma-agencia-do-setor.shtml>). A expectativa é a de que o
preço do barril de petróleo atinja US$ 20/ barril.
Enquanto a situação do mercado mundial de petróleo é de crise profunda, a Petrobras se
defronta com a necessidade de superar a crise gerada pela incompetência gerencial e
pelo assalto de que foi vítima durante 12 anos de governos petistas. A Petrobras chega à
pior situação de sua história como a petroleira mais endividada do planeta. A disparada
do dólar, que atingiu a maior cotação desde o Plano Real, agravou ainda mais a situação
financeira da Petrobras. Diante da alta na cotação do dólar, o endividamento da
Petrobras atingiu R$ 513 bilhões ao final de setembro. Com mais de 70% de sua dívida
em moeda estrangeira, a Petrobras ficou extremamente vulnerável à variação cambial. A
explosão da dívida da Petrobras decorre da ingerência política na estatal que, para
conter a inflação o governo Dilma Rousseff, impediu o reajuste no preço dos
combustíveis. Entre 2011 e o meados de 2014, enquanto o consumo de gasolina e diesel
crescia e o preço internacional do petróleo subia, a Petrobras era obrigada a importar
combustíveis para atender o mercado interno, mas tinha de revendê-los aqui a um preço
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mais baixo gerando prejuízos. Para manter investimentos, a Petrobras recorreu a crédito
externo.
Entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015, a Petrobras perdeu mais de 60% de seu valor
de mercado. Embora a perda também tenha sido influenciada pela queda global no
preço do barril de petróleo, ela foi mais acentuada do que a de outras empresas do
gênero por causa da corrupção revelada pela operação Lava Jato. O endividamento é a
principal questão da Petrobras há muito tempo e só tem uma solução, que é o aumento
de capital. Diante do descalabro administrativo da Petrobras e da queda de seu valor de
mercado, trata-se de uma tarefa difícil atrair interessados em investir na Petrobras, haja
vista que investidores privados teriam muito receio de colocar mais recursos na empresa
com esse histórico de ingerência política, corrupção e crescente endividamento. O
próprio governo federal não poderia aumentar sua participação acionária na Petrobras
porque está extremamente endividado e com uma situação fiscal difícil.
O ocaso do petróleo no mercado mundial e a crise que afeta a Petrobras colocam na
ordem do dia a necessidade de repensar os investimentos na exploração do petróleo na
camada pré-sal. Há dois grandes problemas da Petrobras em relação ao pré-sal: o
primeiro é sua viabilidade econômica num cenário de baixa dos preços do petróleo, já
que a extração das reservas do pré-sal é tecnologicamente complexa e cara. Com a
perspectiva de que o preço do barril de petróleo caia ainda mais para US$ 20/barril, a
viabilidade do Pré-sal seria colocada em xeque haja vista que, segundo a Petrobras, sua
exploração só seria viável com a cotação do barril de petróleo em US$ 45/ barril. O
segundo resulta do fato de que as denúncias de corrupção e a situação administrativa da
empresa dificultarão a captação de recursos para o financiamento dos projetos. Além de
protelar ou abandonar os investimentos na exploração do Pré-sal, a Petrobras deveria
promover desinvestimentos para fazer frente à gigantesca dívida por ela contraída e
salvar a empresa da bancarrota.
* Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).