1. Ato 10 - A Face Obscura da Liderança -
Esconda Seus Erros ou Ache um Bode Expiatório
Este ato é um dos mais ardilosos e cruéis da Face Obscura. Não dá para imaginar que seu “Líder” seria capaz de encobrir
os próprios erros com artifícios pirotécnicos ou jogando a culpa em alguém. Um Líder real nunca faria isso, mesmo que
custasse a sua cabeça.
Mas não sejamos novamente ingênuos. Isto é muito comum de acontecer nas organizações, e em todos os níveis, do
operacional até a presidência. Eu presenciei atitudes como estas e quase tive meu nome envolvido em uma delas.
Primeiro – Esconda seus erros
Em determinada empresa, a área de informática gerava um custo muito elevado. Atendendo a um pedido da presidência, o
gerente teve que cortar custos na área. Pediu então aos seus técnicos que avaliassem a possibilidade de se desfazer de um
dos computadores de grande porte que a empresa possuía. Já que a empresa possuía dois, ele devolveria um e no lugar
compraria outro de médio porte, com custo mais baixo, para contrabalancear a falta do equipamento maior.
A equipe técnica conseguiu, depois de uma longa semana de testes, quebra-cabeças e noites sem dormir, chegar a uma
situação em que apenas com um dos computadores de grande porte, seria possível manter os mesmos serviços e não seria
necessário gastar mais dinheiro, comprando o outro de médio porte.
Feliz pela solução, o coordenador da área foi informar o gerente, mas no dia foi informado que ele, o gerente, já havia
comprado o computador de médio porte. Na época não entendi o porquê da atitude. Gastar milhares de dólares em uma
máquina que não seria útil para nada.
Quando me desliguei da empresa anos depois, fiz uma única pergunta para o gerente. Por quê?
A resposta foi: – Como eu iria explicar para a presidência que fiquei gastando milhares de dólares por mês, durante anos,
com duas máquinas se apenas uma dava conta? Usei o argumento de comprar outro computador menor para mostrar à
presidência que se não tivesse nada em troca, os serviços iriam parar ou ficar muito ruim.
“Tolo não é quem comete uma tolice, mas quem não sabe disfarçá-la. Todos os homens erram, mas com uma diferença: os
sábios disfarçam seus erros, já os tolos anunciam até os que ainda estão para cometer. A reputação depende mais da cautela
do que do fato. Se não pode ser casto, seja cauteloso. Os deslizes dos grandes homens são mais evidentes, como os eclipses
do sol e da lua. “ (Baltasar Gracián, 1601-1658)
2. Segundo – Ache um bode expiatório
Em outra empresa, o diretor da área de informática havia prometido uma alta redução de custo na área para o presidente do
grupo. Esta redução seria na maior empresa do grupo e seria conseguido com o desligamento do computador de grande
porte (downsizing de novo .. bhlá… bom estava no topo da onda). Para isso foi investido em redes de micros, novos
computadores de médio porte para servidores e capacitação da equipe de desenvolvimento. Também com esta estratégia,
foi unificado o suporte para todo o grupo e a área de informática começou a “cobrar” das outras empresas do grupo, os
suportes efetuados.
Depois de um tempo e com a redução efetuada, o gerente de tecnologia comunica para seus coordenadores que precisaria
que eles, assumissem um erro de apontamento nas horas de suporte para as outras empresas.
- Como assim? Todos coordenadores questionaram.
- Apontamos corretamente todos os suportes dados às empresas do grupo. Não há nada de errado.
Vendo a situação o gerente abre o jogo e explica que o diretor e ele, manipulavam os dados para que a maior empresa do
grupo aparentasse que tivera uma redução nos custos, mas que na verdade não existia. O que existia de fato era a cobrança
excessiva do suporte para as outras empresas. Isso veio a tona, pois as outras empresas do grupo começaram a questionar o
aumento em suas “contas”.
A idéia do bode expiatório é tão velha como a própria civilização. Os Hebreus costumavam pegar um bode vivo sobre cuja
cabeça o sacerdote colocava ambas as mãos, enquanto confessava os pecados dos Filhos de Israel. Depois que estes
pecados eram transferidos, o bode era largado no deserto. Para os Astecas e Atenienses os bodes expiatórios eram
humanos, sacrificados para satisfazer os poderes divinos.
“De fato, quase sempre é preferível escolher a vítima mais inocente possível como bode expiatório. Pessoas assim não
terão poder suficiente para lutar contra você, e seus protestos ingênuos poderão parecer exagerados – poderão ser vistos,
em outras palavras, como sinal da sua culpa. Cuidado, entretanto, para não criar um mártir. É importante que você continue
sendo a vítima, o pobre “líder” traído pela incompetência dos que o cercam.” (Robert Greene / Joost Elffers)
Postado por: Eduardo Slepetys | Postado em: 20/01/2011 | Site: Tigrão in 1 Shoot
Endereço eletrônico: http://in1shoot.com/wp/?p=362