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Só deve melhorar: O que podemos aprender das incertezas impostas
pela COVID-191
Abril 2020|Artigo de Opinião2
Por Patrício Alexandre Gaspar Correia
A desafortunada pandemia da COVID-19 veio trazer-nos uma realidade bastante
inesperada onde o factor humano representa o bem mais precioso a preservar. Por outro lado,
sabemos que as sociedades, nos moldes em que estas se apresentam, são movidas, ou, se
quisermos, suportadas por modelos económicos ou empresariais que necessitam de uma
conjugação de factores que os mantenham ou os tornem suficientemente pujantes e, conforme
anteriormente notado, esta ocorrência apesar do infortúnio que trás às nossas vidas, pelas suas
características disruptoras, apresenta-nos oportunidades semelhantes àquelas trazidas pelas várias
revoluções industriais por que passou a humanidade. Desde a 1.0 (Era da Mecanização) à 4.0 (Era
da Digitalização); todas elas, indubitavelmente associadas a uma miríade de factores de
desconfiança que, ainda assim, não foram suficientemente capazes de impedir que as sociedades,
de um modo geral, se desenvolvessem.
Dentro desta perspectiva do desenvolvimento em que a incerteza se afigura,
incontornavelmente, como o denominador comum do normal dentro de toda esta anormalidade,
importa ressaltar que é na dificuldade que devemos nos apresentar mais fortes. Seja pelo facto de
percebermos que aquela que tem sido sobejamente reconhecida como a nossa maior herança, o
petróleo (mais uma crise)3
, provar-se cada vez mais como um factor de instabilidade a todos os
níveis (pelo facto de ser basicamente o único factor de exportação capaz de acudir às nossas
necessidades enquanto nação) ou pela exiguidade de infraestruturas capazes de dinamizar o nosso
1
Texto adequado à ortografia que vigora na República de Angola.
2
Não procuramos, de forma alguma, esgotar a discussão em torno da temática em tão parco
documento. A ideia central é a de, a partir deste, desenvolvermos capacidade no sentido de
encontrarmos soluções baseadas em políticas específicas.
3
Vide: Crise do petróleo nos anos 70.
2
mercado interno a todos os níveis e respeitando a observância concreta da: Mecanização,
Industrialização, Automação-Globalização e por último, a Digitalização.
Focar-nos-emos, obviamente, na perspectiva dos benefícios propostos pela Digitalização
dentro do contexto de incerteza e também de oportunidades que o momento impõe assinalando,
também, que a indústria que a suporta submerge-se numa miríade de meios tecnológicos que
variam desde sistemas inteligentes, reporting, VPN, teletrabalho, etc., etc.
Digitalização... Nada mais e nada menos que um marco que assinala a utilização em massa de
dispositivos ligados entre si, revestidos de tecnologia inteligente tais como a análise de dados ou
inteligência artificial com o fim de promover acções automatizadas.
Qual a sua utilidade? Caro leitor, embarquemos neste pequeno passeio telegráfico para, juntos,
compreendermos quais os benefícios que a crise pandémica nos trás sob a perspectiva
tecnológica...
“Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre
fazemos o mesmo. A crise é a maior bênção que pode
acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz
progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia
nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os
descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise
se supera a si mesmo sem ter sido superado” -- Albert Einstein
O trabalho remoto
Hoje percebemos melhor a importância que as tecnologias de informação e comunicação têm
no nosso dia a dia, noção assumida, inclusive, pelo legislador que por via do Decreto Presidencial
Nº 82/2020 de 27 de Março -- faz menção ao facto de este serviço (TIC) constituir uma
necessidade essencial à vida colectiva. Ora bem, a vida colectiva sobre a qual nos importa
debruçar é, obviamente, transcendental ao factor de negócio numa forma “binomial”; isto é, desde
o seu bem mais primordial -- seres humanos e a própria continuidade destes mesmos negócios.
A necessidade do trabalho remoto deve ser encarada como uma via para que a economia se
mantenha fluída, mas também como uma forma de os patronos assumirem o papel de primeiros
interessados no bem estar daqueles que constituem a sua força de trabalho. Por outras palavras,
impõe-se o foco duplo na resposta ao momento e a utilização de tecnologia de modo que soluções
como as VPN em grande escala marquem a vida das organizações que se querem activas e
integradas, ainda que indirectamente, no grupo daqueles cuja perspectiva de recuperação se
3
enquadra na demanda alta a longo prazo, i.e. ferramentas de trabalho remoto, telemedicina, ensino
à distância e entretenimento online.4
Enquanto que o fito principal é a continuidade do negócio, tal fim não deve ser alcançado
sem que vários pressupostos sejam tidos em consideração, por ex: segurança e capacidade técnica,
na medida em que estes devem reduzir a curva compensatória entre o negócio versus a capacidade
técnica consolidada. De forma simplificada, pretendemos dizer que a segurança da informação
deve estar assegurada para que o potencial impacto no afrouxamento económico não se traduza,
também, na perda de propriedade intelectual, incrementando, assim, o grau de incerteza já
existente com a inclusão deste vector indesejado.
Com a inclusão de políticas e ferramentas que garantam a segurança da informação, os
negócios ou as instituições poderão então fazer uso dos serviços/funcionalidades que propiciem,
por ex. a teleconferência, a videoconferência, o teletrabalho, o home office, etc.
A tecnologia enquanto factor de disrupção
Se em face do actual contexto surgiu a necessidade de se criarem ou aperfeiçoarem os
ambientes de trabalho adequados à continuidade dos negócios, de igual modo e
compreensivelmente surge de forma impositiva, a necessidade de estarmos em casa
(#FiqueEmCasa).
Já vimos, aliás, de que forma isso pode ser alcançado, porém, esta “nova” realidade
obriga-nos/obrigar-nos-á de uma forma ou de outra a (re)conhecer os benefícios trazidos por uma
discussão do século XX que se baseava, essencialmente, no seguinte: “Computador, o fim da força
de trabalho humana?”... Nim5
; e “por que nim”? Nos indagaremos.
Sem qualquer ordem de precedência argumentamos -- tripartidamente -- que primeiramente a
nossa realidade impõe-nos que devemos, antes, continuar a percorrer a longa estrada para a
consumação de um desiderato que trás agregado a si benefícios vários mas também, situações
indesejadas -- sobre as quais não iremos discorrer neste texto (aspectos associados liminarmente à
utilização das TICs, diga-se).
Adicionalmente, trazemos a pertinência da ideia basilar que fundou o pensamento orientado
na conjugação da utilização do computador como ferramenta acessória na busca do aumento da
4
Fonte: Bain & Company.
5
Terminologia muitas vezes usada para equilibrar a pendência sobre uma resposta indefinida (nem sim
e nem não).
4
produtividade nos mais variados quadrantes dos negócios (B2B, B2C, C2B e mais recentemente,
C2C); isto tudo, caro leitor, enquanto pensamento idealista...
O que nos dirá, então, a realidade (a terceira parte do nim)? “Business is business, my friend...
Don’t mix business with pleasure... Never get high on your own supply”, palavras vãs e
desajustadas ao texto? Talvez, porém, igual e suficientemente demonstrativas do sentimento de
posse que o negócio tem para o seu “dono”. Ou seja, a necessidade imposta traz-nos outra
necessidade; a de reconhecermos a existência de fenómenos exógenos que obrigarão a uma, tarde
ou cedo, reestruturação no paradigma imposto pela relação empregador x empregado.
Estaremos, por isso, a divagar...erradamente pensando que estes donos concluam, p.ex., que
“esta realidade demonstrou-nos que afinal de contas podemos manter a produtividade no negócio
reduzindo a presença de trabalhadores em metade, que artifícios deverei então usar para
salvaguardar os meus objectivos?”? Na sua reflexão lembre-se que a força motriz para a execução
de uma tarefa carecerá, ainda, da acção humana -- a ciência quântica tende em revolucionar esta
tendência...
Caminhamos irremediavelmente para os despedimentos em massa? N...ão necessariamente!!!
As economias criaram espaço, lá está, com os benefícios trazidos pelas tecnologias, para os HBE
(Home Based Employees) que têm a tarefa de produzir entregáveis mesmo não estando
fisicamente presentes nos seus locais de trabalho.
É bem verdade, também, que a nossa realidade apresenta ainda um quadro bastante
embrionário no que tange a adopção generalizada na utilização das TIC, seja a nível técnico como
regulatório. Porém, as inúmeras vantagens que podem surgir de um cenário como este só nos
poderão agradar, seja pelas razões mais óbvias como a automatização de tarefas, às menos
“palpáveis” como a redução da produção de CO2 (poder-se-á, sobre isto, argumentar em sentido
contrário. “Reduz-se esta emissão mas aumenta-se o consumo energético, consome-se mais água,
etc., etc.”). Ou seja, uma verdadeira acepção das Leis da Termodinâmica...que se transfere para a
esfera da “economia tecnológica”, em que o Estado vê o seu papel igualmente engrandecido.
“Não é o mais forte que sobrevive,
tampouco o mais inteligente; mas sim o que
melhor se adapte às mudanças” -- Charles
Darwin
5
O Estado enquanto guardião do interesse que é de todos nós
Temos todos bem assente em nós a noção que o Estado não compete ou disputa posição de
vantagem com os seus entes, independentemente da personalidade jurídica. Pelo contrário, assume,
de entre várias tarefas, um papel fiscalizador das acções dos seus parceiros ou órgãos tutelares no
provimento de serviços tecnológicos, regula o papel das organizações na utilização destes serviços
e promove, de igual modo, iniciativas de operacionalização das ferramentas de trabalho num
contexto de interoperabilidade; em suma, o Estado surge como promotor de uma fusão de métodos
correntes de operacionalização de tarefas impulsionadas pela tendência imposta pela digitalização.
Esta digitalização (Revolução 4.0 t.c.p Era/Revolução Digital) marca o momento de um
caminho sem volta em que os desenvolvimentos desta realidade são-nos trazidos a um ritmo
frenético sob a garantia de uma sustentação tecnológica de sistemas inteligentes e interligados que,
congregados num factor único, promovem tanto a competitividade mas também oportunidades
para aqueles que assim se prepararem para a mudança.
Neste contexto, não basta uma eventual manifestação de intencionalidade para a mudança, é
necessário que haja maior acção na busca desse desiderato cuja métrica principal, supomos nós,
está associada à produtividade (que trás outros ganhos adjacentes). Com efeito e na base do
contexto que se impõe, devemos analisar a transformação que a nossa economia deve conhecer na
base de dois factores indutores: a adaptabilidade e a oportunidade.
6
Apesar de compreensível a resistência à mudança derivada da necessidade de planeamento e
capacidade de previsão para o devido alinhamento dos negócios tendo em consideração que as
tecnologias promovem um factor de enorme disrupção; e conforme se demonstra no diagrama
supra, para se alcançar a produtividade é necessário que objectivemos esse processo de mudança
definindo arquitecturas centradas nas pessoas, reiterando que <<a tecnologia não veio para se
substituir ao Homem e sim o de servir a humanidade, em prol do bem-estar individual e do
desenvolvimento social global>>6
.
Sob esta premissa (garantir o bem-estar), não poderá haver melhor guardião de tais interesses
que o próprio Estado que, aliás, se reveste de tal responsabilidade por via da conjugação dos art.º
14º e 21º (alínea c), ambos da CRA. De que forma poderá, então, o Estado assumir o papel
paternal/maternal7
? Em nossa opinião, distinguindo, inicialmente, as acções com base em duas
perspectivas8
: Tecnologias Facilitadoras Essenciais e Tecnologias Emergentes;
“plataformizando-as”, posteriormente, sob uma estrutura definida por políticas orientadas em
função de cada sector -- inclusive o científico que, mais do que nunca, chama a si a necessidade de
se modernizar.
O desafio apresenta-se hercúleo mas não impossível de ser alcançado, pois, questões como a
escalabilidade, interoperabilidade, segurança, custos de transição, privacidade de dados e
governança impõem uma convergência harmoniosa entre os sectores público e privado
respectivamente, para que se possam dirimir todas as questões que se reputem, então, essenciais.
Ao Estado competirá, também, garantir a salubridade do meio-ambiente porque queremos, a todo
o custo, viver a era 4.0 com todos os benefícios inerentes à causa, mas sem alienarmos a
necessidade de assumirmos o compromisso colectivo de preparar o presente com os olhos postos
no futuro; ou seja, nas próximas gerações, sabendo reciclar, criando sustentabilidade,
desmaterializando as acções...
A oportunidade para a desmaterialização9
Na base daquilo sobre o qual já discorremos, abre-se uma janela de oportunidade que visa
promover a execução de tarefas quotidianas a partir da adopção de “novos” métodos de trabalho
para que se dê continuidade à dinâmica de negócio, seja a nível do sector público, bem como do
privado. Com efeito, esta adopção abarca a utilização de tecnologia paralelamente à ideia da
6
Hans Jonas, “Toward a Philosophy of Technology”, 1979.
7
Não nos debruçaremos sobre os aspectos fenomenológicos associados a esta temática.
8
Maria do Céu Patrão Neves, Maria da Graça Carvalho, “Ética Aplicada: Novas Tecnologias”, Edições
70, 2018.
9
Passar do papel para o formato digital (Nota: Este processo carece da adequação de vários
procedimentos para que seja materializado na base dos pressupostos associados à Segurança da
Informação).
7
desmaterialização de procedimentos com o fito de garantir a gestão dos activos informacionais
que incluem múltiplos benefícios:
Por uma questão de maioria de razão, é natural e até imperioso que se definam processos de
transição adequadamente maturados de forma que a aposta na inovação não crie efeitos
contraproducentes ao negócio no seu todo. Em alusão a uma necessidade reiterada anteriormente,
devemos reconhecer que quem determina o sucesso das iniciativas é o Homem e estes, por sua vez,
devem procurar enquadrar-se ao contexto de cultura organizacional definido que permitirá, mais
facilmente, garantir-se a continuidade do negócio.
Todo este processo reveste-se de múltiplos factores de complexidade que variam desde os
aspectos ético-legais aos de segurança. Enquanto que a natureza associada à interconectividade
num ambiente desmaterializado trás-nos em plano imediato questões de foro ético que são
agudizadas pela popularização da Internet e dos dispositivos móveis, devemos ter em alta
consideração que a garantia da confidencialidade da informação é um fim a ser observado que, de
forma resumida, objectiva a confiança nas acções ora levadas a cabo ou perspectivadas dentro do
contexto da resiliência digital.
Considerações finais e Recomendações
A realidade apresenta-nos um tempo sem precedentes na nossa história, em que o eclodir da
pandemia da COVID-19 continua a causar um impacto indesejado na nossa saúde enquanto seres
humanos, na saúde dos negócios com afectação mais directa nas nossas vidas e numa escala ainda
mais global, na economia.
À medida que vamos tomando contacto com uma maior capacidade de discernimento em torno
desta crise, mais proactivos vamos nos tornando também na busca de soluções que se definam
como positivas às respostas requeridas. Deste modo, as ideias aqui trazidas procuram despoletar
um processo de reflexão conjunto em torno do novo normal imposto pela pandemia da COVID-19
que apesar do cenário de incerteza, proporciona, igualmente, uma forte corrente de oportunidades
que conjugadas em vários pressupostos podem contribuir para a continuidade do negócio.
8
Nesse contexto, as reflexões incidem-se sobre os benefícios associados à Revolução Digital que
representa um marco de utilização em massa de dispositivos interligados entre si e que promove
acções inovadoras no mercado de trabalho (sector público ou privado) que variam, de entre outras,
o trabalho remoto que se destaca em função da necessidade do confinamento social imposto pelo
cenário vigente, obrigando a uma adaptação a métodos de processamento de tarefas diferentes dos
habitualmente adoptados.
A necessidade de adaptação à mudança trás aliado a si um factor de resistência que tende a
promover que vários actores se mantenham arraigados a procedimentos que contrariem fenómenos
evolutivos, seja pela necessidade de se planear arduamente ou pela dificuldade natural de se
efectuarem previsões concretas sobre o futuro imediato. Os custos dessa resistência à mudança,
todavia, configuram-se altos porque o fenómeno disruptor está já instalado na nossa realidade e a
nota dominante já não deve ser a da intenção apenas e sim a da acção concreta. Ou seja, abraçar a
iniciativa do risco é ousado mas transversalmente compensatório
Se por um lado urge a necessidade de se agir proactivamente, é também verdade que devem existir
garantias de estarmos a operar sob uma superfície que garanta vários pressupostos que variam
desde o elemento fiscalizador ao da garantia harmónica de condições técnico-legais entre os vários
participantes no processo. Ao Estado cabe tal necessidade instrumental de apoio às partes para que
estas alcancem os seus objectivos que se fundem na produtividade, definindo de forma criteriosa
qual o enquadramento da iniciativa tecnológica em termos da sua perspectiva. Isto é, se
apresentado enquanto uma tecnologia emergente ou tecnologia facilitadora essencial, de modo que
se conheça ab initio a plataforma de políticas do sector correspondente para assim reduzir-se o
impacto, que já é acentuado por natureza, decorrente de uma iniciativa disruptora.
Decorrente das garantias das salvaguardas instrumentais, objectiva-se o processo propriamente
dito da transição entre o papel e o processo digitalizado. Desse processo de desmaterialização
propõem-se benefícios concretos no âmbito da criação de vectores potenciadores da melhoria no
planeamento de acções (olhos postos no futuro) e o consequente aumento da produtividade.
Aspectos, aliás, antes cadenciados por uma constatação efectiva em torno do processo de
resistência à adopção de práticas associadas ao fenómeno 4.0.
Dentro da adopção de um conjunto de pressupostos, um processo para estar verdadeiramente
composto deve estar revestido de elementos que incontornavelmente abordam a questão da
segurança da informação nos seus mais variados estágios, garantindo assim a confidencialidade
dos seus activos informacionais sob a forma da resiliência digital.
9
Como nota final, caro leitor, não nos esqueçamos que as tecnologias assumem um papel assessório
ou de complementaridade às nossas necessidades; cabe ao Homem encontrar o melhor
enquadramento para os aspectos axiológicos desse elemento que já é bem presente no nosso
dia-a-dia. -
#FiqueEmCasa
#JuntosPelaErradicaçãoDaCovid
#CidadaniaResponsável
"OMULUME KAWILA ONKUNHA YAIQUE" --
filosofia de vida de origem angolana e ancestral que
define que, na superveniência de qualquer
adversidade na vida, devemos nos manter firmemente
convictos na nossa capacidade de vencer.
10
Recomendações10
:
Representando um cenário meramente hipotético, avaliemos um processo transicional já assumido pela alta
hierarquia da empresa Ontwe Vanongo. Uma empresa cuja linha de negócio é o retalho de produtos agrícolas mas
que, em função das restrições de mercado provocadas pela COVID-19, vê-se limitada nas suas tarefas e encontra
uma oportunidade na resolução dos seus maiores problemas -- dificuldades no controlo dos seus activos em stock,
sobrecarga de tarefas a cada colaborador, dificuldades na melhoria da experiência no processo de compra de produtos por parte
dos seus clientes e, internamente, na adequação de procedimentos (SLA) -- com o desenvolvimento de um sistema de retalho
inteligente. Como nota adicional, com a acção inovadora e segundo estudos de mercado realizados, a empresa
prevê criar uma vantagem competitiva sustentável a longo prazo, ao substituir os actuais processamentos de
pagamento por uma plataforma completamente automatizada, minimizando o tempo que os clientes esperam para
sair da loja após compras efectuadas ao não utilizar o factor humano neste processo específico.
Para o efeito, contrataram os serviços de consultoria tecnológica (Ndumbo Muhala) que recomendou que:
i. Se definam todas as iniciativas em torno da resiliência digital para garantir a protecção da informação da
organização;
a) Tomar decisões baseadas em riscos;
b) Não objectivar apenas a protecção da infraestrutura como estratégia de segurança;
c) Definir adequada e organizadamente as políticas de segurança de modo a não asfixiar os processos já
existentes;
d) Orientar a alocação de recursos de forma racional (que se adequem completamente à realidade da
organização em causa); cada caso é um caso...
e) Alcançar todos os departamentos no plano de implementação;
f) Promover o engajamento de todas as partes (o sucesso não tem uma dependência isolada).
ii. Após a conclusão do processo de programação (recolha de informação envolvendo todas as partes),
planificar objectivando a identificação, classificação e mapeamento de processos críticos:
10
Não apresentaremos uma solução completa mas apenas tópicos que devem servir de guia para
acções/interpretações subsequentes.

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Incertezas impostas pela Covid-19 sob uma perspectiva tecnológica

  • 1. 1 Só deve melhorar: O que podemos aprender das incertezas impostas pela COVID-191 Abril 2020|Artigo de Opinião2 Por Patrício Alexandre Gaspar Correia A desafortunada pandemia da COVID-19 veio trazer-nos uma realidade bastante inesperada onde o factor humano representa o bem mais precioso a preservar. Por outro lado, sabemos que as sociedades, nos moldes em que estas se apresentam, são movidas, ou, se quisermos, suportadas por modelos económicos ou empresariais que necessitam de uma conjugação de factores que os mantenham ou os tornem suficientemente pujantes e, conforme anteriormente notado, esta ocorrência apesar do infortúnio que trás às nossas vidas, pelas suas características disruptoras, apresenta-nos oportunidades semelhantes àquelas trazidas pelas várias revoluções industriais por que passou a humanidade. Desde a 1.0 (Era da Mecanização) à 4.0 (Era da Digitalização); todas elas, indubitavelmente associadas a uma miríade de factores de desconfiança que, ainda assim, não foram suficientemente capazes de impedir que as sociedades, de um modo geral, se desenvolvessem. Dentro desta perspectiva do desenvolvimento em que a incerteza se afigura, incontornavelmente, como o denominador comum do normal dentro de toda esta anormalidade, importa ressaltar que é na dificuldade que devemos nos apresentar mais fortes. Seja pelo facto de percebermos que aquela que tem sido sobejamente reconhecida como a nossa maior herança, o petróleo (mais uma crise)3 , provar-se cada vez mais como um factor de instabilidade a todos os níveis (pelo facto de ser basicamente o único factor de exportação capaz de acudir às nossas necessidades enquanto nação) ou pela exiguidade de infraestruturas capazes de dinamizar o nosso 1 Texto adequado à ortografia que vigora na República de Angola. 2 Não procuramos, de forma alguma, esgotar a discussão em torno da temática em tão parco documento. A ideia central é a de, a partir deste, desenvolvermos capacidade no sentido de encontrarmos soluções baseadas em políticas específicas. 3 Vide: Crise do petróleo nos anos 70.
  • 2. 2 mercado interno a todos os níveis e respeitando a observância concreta da: Mecanização, Industrialização, Automação-Globalização e por último, a Digitalização. Focar-nos-emos, obviamente, na perspectiva dos benefícios propostos pela Digitalização dentro do contexto de incerteza e também de oportunidades que o momento impõe assinalando, também, que a indústria que a suporta submerge-se numa miríade de meios tecnológicos que variam desde sistemas inteligentes, reporting, VPN, teletrabalho, etc., etc. Digitalização... Nada mais e nada menos que um marco que assinala a utilização em massa de dispositivos ligados entre si, revestidos de tecnologia inteligente tais como a análise de dados ou inteligência artificial com o fim de promover acções automatizadas. Qual a sua utilidade? Caro leitor, embarquemos neste pequeno passeio telegráfico para, juntos, compreendermos quais os benefícios que a crise pandémica nos trás sob a perspectiva tecnológica... “Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise se supera a si mesmo sem ter sido superado” -- Albert Einstein O trabalho remoto Hoje percebemos melhor a importância que as tecnologias de informação e comunicação têm no nosso dia a dia, noção assumida, inclusive, pelo legislador que por via do Decreto Presidencial Nº 82/2020 de 27 de Março -- faz menção ao facto de este serviço (TIC) constituir uma necessidade essencial à vida colectiva. Ora bem, a vida colectiva sobre a qual nos importa debruçar é, obviamente, transcendental ao factor de negócio numa forma “binomial”; isto é, desde o seu bem mais primordial -- seres humanos e a própria continuidade destes mesmos negócios. A necessidade do trabalho remoto deve ser encarada como uma via para que a economia se mantenha fluída, mas também como uma forma de os patronos assumirem o papel de primeiros interessados no bem estar daqueles que constituem a sua força de trabalho. Por outras palavras, impõe-se o foco duplo na resposta ao momento e a utilização de tecnologia de modo que soluções como as VPN em grande escala marquem a vida das organizações que se querem activas e integradas, ainda que indirectamente, no grupo daqueles cuja perspectiva de recuperação se
  • 3. 3 enquadra na demanda alta a longo prazo, i.e. ferramentas de trabalho remoto, telemedicina, ensino à distância e entretenimento online.4 Enquanto que o fito principal é a continuidade do negócio, tal fim não deve ser alcançado sem que vários pressupostos sejam tidos em consideração, por ex: segurança e capacidade técnica, na medida em que estes devem reduzir a curva compensatória entre o negócio versus a capacidade técnica consolidada. De forma simplificada, pretendemos dizer que a segurança da informação deve estar assegurada para que o potencial impacto no afrouxamento económico não se traduza, também, na perda de propriedade intelectual, incrementando, assim, o grau de incerteza já existente com a inclusão deste vector indesejado. Com a inclusão de políticas e ferramentas que garantam a segurança da informação, os negócios ou as instituições poderão então fazer uso dos serviços/funcionalidades que propiciem, por ex. a teleconferência, a videoconferência, o teletrabalho, o home office, etc. A tecnologia enquanto factor de disrupção Se em face do actual contexto surgiu a necessidade de se criarem ou aperfeiçoarem os ambientes de trabalho adequados à continuidade dos negócios, de igual modo e compreensivelmente surge de forma impositiva, a necessidade de estarmos em casa (#FiqueEmCasa). Já vimos, aliás, de que forma isso pode ser alcançado, porém, esta “nova” realidade obriga-nos/obrigar-nos-á de uma forma ou de outra a (re)conhecer os benefícios trazidos por uma discussão do século XX que se baseava, essencialmente, no seguinte: “Computador, o fim da força de trabalho humana?”... Nim5 ; e “por que nim”? Nos indagaremos. Sem qualquer ordem de precedência argumentamos -- tripartidamente -- que primeiramente a nossa realidade impõe-nos que devemos, antes, continuar a percorrer a longa estrada para a consumação de um desiderato que trás agregado a si benefícios vários mas também, situações indesejadas -- sobre as quais não iremos discorrer neste texto (aspectos associados liminarmente à utilização das TICs, diga-se). Adicionalmente, trazemos a pertinência da ideia basilar que fundou o pensamento orientado na conjugação da utilização do computador como ferramenta acessória na busca do aumento da 4 Fonte: Bain & Company. 5 Terminologia muitas vezes usada para equilibrar a pendência sobre uma resposta indefinida (nem sim e nem não).
  • 4. 4 produtividade nos mais variados quadrantes dos negócios (B2B, B2C, C2B e mais recentemente, C2C); isto tudo, caro leitor, enquanto pensamento idealista... O que nos dirá, então, a realidade (a terceira parte do nim)? “Business is business, my friend... Don’t mix business with pleasure... Never get high on your own supply”, palavras vãs e desajustadas ao texto? Talvez, porém, igual e suficientemente demonstrativas do sentimento de posse que o negócio tem para o seu “dono”. Ou seja, a necessidade imposta traz-nos outra necessidade; a de reconhecermos a existência de fenómenos exógenos que obrigarão a uma, tarde ou cedo, reestruturação no paradigma imposto pela relação empregador x empregado. Estaremos, por isso, a divagar...erradamente pensando que estes donos concluam, p.ex., que “esta realidade demonstrou-nos que afinal de contas podemos manter a produtividade no negócio reduzindo a presença de trabalhadores em metade, que artifícios deverei então usar para salvaguardar os meus objectivos?”? Na sua reflexão lembre-se que a força motriz para a execução de uma tarefa carecerá, ainda, da acção humana -- a ciência quântica tende em revolucionar esta tendência... Caminhamos irremediavelmente para os despedimentos em massa? N...ão necessariamente!!! As economias criaram espaço, lá está, com os benefícios trazidos pelas tecnologias, para os HBE (Home Based Employees) que têm a tarefa de produzir entregáveis mesmo não estando fisicamente presentes nos seus locais de trabalho. É bem verdade, também, que a nossa realidade apresenta ainda um quadro bastante embrionário no que tange a adopção generalizada na utilização das TIC, seja a nível técnico como regulatório. Porém, as inúmeras vantagens que podem surgir de um cenário como este só nos poderão agradar, seja pelas razões mais óbvias como a automatização de tarefas, às menos “palpáveis” como a redução da produção de CO2 (poder-se-á, sobre isto, argumentar em sentido contrário. “Reduz-se esta emissão mas aumenta-se o consumo energético, consome-se mais água, etc., etc.”). Ou seja, uma verdadeira acepção das Leis da Termodinâmica...que se transfere para a esfera da “economia tecnológica”, em que o Estado vê o seu papel igualmente engrandecido. “Não é o mais forte que sobrevive, tampouco o mais inteligente; mas sim o que melhor se adapte às mudanças” -- Charles Darwin
  • 5. 5 O Estado enquanto guardião do interesse que é de todos nós Temos todos bem assente em nós a noção que o Estado não compete ou disputa posição de vantagem com os seus entes, independentemente da personalidade jurídica. Pelo contrário, assume, de entre várias tarefas, um papel fiscalizador das acções dos seus parceiros ou órgãos tutelares no provimento de serviços tecnológicos, regula o papel das organizações na utilização destes serviços e promove, de igual modo, iniciativas de operacionalização das ferramentas de trabalho num contexto de interoperabilidade; em suma, o Estado surge como promotor de uma fusão de métodos correntes de operacionalização de tarefas impulsionadas pela tendência imposta pela digitalização. Esta digitalização (Revolução 4.0 t.c.p Era/Revolução Digital) marca o momento de um caminho sem volta em que os desenvolvimentos desta realidade são-nos trazidos a um ritmo frenético sob a garantia de uma sustentação tecnológica de sistemas inteligentes e interligados que, congregados num factor único, promovem tanto a competitividade mas também oportunidades para aqueles que assim se prepararem para a mudança. Neste contexto, não basta uma eventual manifestação de intencionalidade para a mudança, é necessário que haja maior acção na busca desse desiderato cuja métrica principal, supomos nós, está associada à produtividade (que trás outros ganhos adjacentes). Com efeito e na base do contexto que se impõe, devemos analisar a transformação que a nossa economia deve conhecer na base de dois factores indutores: a adaptabilidade e a oportunidade.
  • 6. 6 Apesar de compreensível a resistência à mudança derivada da necessidade de planeamento e capacidade de previsão para o devido alinhamento dos negócios tendo em consideração que as tecnologias promovem um factor de enorme disrupção; e conforme se demonstra no diagrama supra, para se alcançar a produtividade é necessário que objectivemos esse processo de mudança definindo arquitecturas centradas nas pessoas, reiterando que <<a tecnologia não veio para se substituir ao Homem e sim o de servir a humanidade, em prol do bem-estar individual e do desenvolvimento social global>>6 . Sob esta premissa (garantir o bem-estar), não poderá haver melhor guardião de tais interesses que o próprio Estado que, aliás, se reveste de tal responsabilidade por via da conjugação dos art.º 14º e 21º (alínea c), ambos da CRA. De que forma poderá, então, o Estado assumir o papel paternal/maternal7 ? Em nossa opinião, distinguindo, inicialmente, as acções com base em duas perspectivas8 : Tecnologias Facilitadoras Essenciais e Tecnologias Emergentes; “plataformizando-as”, posteriormente, sob uma estrutura definida por políticas orientadas em função de cada sector -- inclusive o científico que, mais do que nunca, chama a si a necessidade de se modernizar. O desafio apresenta-se hercúleo mas não impossível de ser alcançado, pois, questões como a escalabilidade, interoperabilidade, segurança, custos de transição, privacidade de dados e governança impõem uma convergência harmoniosa entre os sectores público e privado respectivamente, para que se possam dirimir todas as questões que se reputem, então, essenciais. Ao Estado competirá, também, garantir a salubridade do meio-ambiente porque queremos, a todo o custo, viver a era 4.0 com todos os benefícios inerentes à causa, mas sem alienarmos a necessidade de assumirmos o compromisso colectivo de preparar o presente com os olhos postos no futuro; ou seja, nas próximas gerações, sabendo reciclar, criando sustentabilidade, desmaterializando as acções... A oportunidade para a desmaterialização9 Na base daquilo sobre o qual já discorremos, abre-se uma janela de oportunidade que visa promover a execução de tarefas quotidianas a partir da adopção de “novos” métodos de trabalho para que se dê continuidade à dinâmica de negócio, seja a nível do sector público, bem como do privado. Com efeito, esta adopção abarca a utilização de tecnologia paralelamente à ideia da 6 Hans Jonas, “Toward a Philosophy of Technology”, 1979. 7 Não nos debruçaremos sobre os aspectos fenomenológicos associados a esta temática. 8 Maria do Céu Patrão Neves, Maria da Graça Carvalho, “Ética Aplicada: Novas Tecnologias”, Edições 70, 2018. 9 Passar do papel para o formato digital (Nota: Este processo carece da adequação de vários procedimentos para que seja materializado na base dos pressupostos associados à Segurança da Informação).
  • 7. 7 desmaterialização de procedimentos com o fito de garantir a gestão dos activos informacionais que incluem múltiplos benefícios: Por uma questão de maioria de razão, é natural e até imperioso que se definam processos de transição adequadamente maturados de forma que a aposta na inovação não crie efeitos contraproducentes ao negócio no seu todo. Em alusão a uma necessidade reiterada anteriormente, devemos reconhecer que quem determina o sucesso das iniciativas é o Homem e estes, por sua vez, devem procurar enquadrar-se ao contexto de cultura organizacional definido que permitirá, mais facilmente, garantir-se a continuidade do negócio. Todo este processo reveste-se de múltiplos factores de complexidade que variam desde os aspectos ético-legais aos de segurança. Enquanto que a natureza associada à interconectividade num ambiente desmaterializado trás-nos em plano imediato questões de foro ético que são agudizadas pela popularização da Internet e dos dispositivos móveis, devemos ter em alta consideração que a garantia da confidencialidade da informação é um fim a ser observado que, de forma resumida, objectiva a confiança nas acções ora levadas a cabo ou perspectivadas dentro do contexto da resiliência digital. Considerações finais e Recomendações A realidade apresenta-nos um tempo sem precedentes na nossa história, em que o eclodir da pandemia da COVID-19 continua a causar um impacto indesejado na nossa saúde enquanto seres humanos, na saúde dos negócios com afectação mais directa nas nossas vidas e numa escala ainda mais global, na economia. À medida que vamos tomando contacto com uma maior capacidade de discernimento em torno desta crise, mais proactivos vamos nos tornando também na busca de soluções que se definam como positivas às respostas requeridas. Deste modo, as ideias aqui trazidas procuram despoletar um processo de reflexão conjunto em torno do novo normal imposto pela pandemia da COVID-19 que apesar do cenário de incerteza, proporciona, igualmente, uma forte corrente de oportunidades que conjugadas em vários pressupostos podem contribuir para a continuidade do negócio.
  • 8. 8 Nesse contexto, as reflexões incidem-se sobre os benefícios associados à Revolução Digital que representa um marco de utilização em massa de dispositivos interligados entre si e que promove acções inovadoras no mercado de trabalho (sector público ou privado) que variam, de entre outras, o trabalho remoto que se destaca em função da necessidade do confinamento social imposto pelo cenário vigente, obrigando a uma adaptação a métodos de processamento de tarefas diferentes dos habitualmente adoptados. A necessidade de adaptação à mudança trás aliado a si um factor de resistência que tende a promover que vários actores se mantenham arraigados a procedimentos que contrariem fenómenos evolutivos, seja pela necessidade de se planear arduamente ou pela dificuldade natural de se efectuarem previsões concretas sobre o futuro imediato. Os custos dessa resistência à mudança, todavia, configuram-se altos porque o fenómeno disruptor está já instalado na nossa realidade e a nota dominante já não deve ser a da intenção apenas e sim a da acção concreta. Ou seja, abraçar a iniciativa do risco é ousado mas transversalmente compensatório Se por um lado urge a necessidade de se agir proactivamente, é também verdade que devem existir garantias de estarmos a operar sob uma superfície que garanta vários pressupostos que variam desde o elemento fiscalizador ao da garantia harmónica de condições técnico-legais entre os vários participantes no processo. Ao Estado cabe tal necessidade instrumental de apoio às partes para que estas alcancem os seus objectivos que se fundem na produtividade, definindo de forma criteriosa qual o enquadramento da iniciativa tecnológica em termos da sua perspectiva. Isto é, se apresentado enquanto uma tecnologia emergente ou tecnologia facilitadora essencial, de modo que se conheça ab initio a plataforma de políticas do sector correspondente para assim reduzir-se o impacto, que já é acentuado por natureza, decorrente de uma iniciativa disruptora. Decorrente das garantias das salvaguardas instrumentais, objectiva-se o processo propriamente dito da transição entre o papel e o processo digitalizado. Desse processo de desmaterialização propõem-se benefícios concretos no âmbito da criação de vectores potenciadores da melhoria no planeamento de acções (olhos postos no futuro) e o consequente aumento da produtividade. Aspectos, aliás, antes cadenciados por uma constatação efectiva em torno do processo de resistência à adopção de práticas associadas ao fenómeno 4.0. Dentro da adopção de um conjunto de pressupostos, um processo para estar verdadeiramente composto deve estar revestido de elementos que incontornavelmente abordam a questão da segurança da informação nos seus mais variados estágios, garantindo assim a confidencialidade dos seus activos informacionais sob a forma da resiliência digital.
  • 9. 9 Como nota final, caro leitor, não nos esqueçamos que as tecnologias assumem um papel assessório ou de complementaridade às nossas necessidades; cabe ao Homem encontrar o melhor enquadramento para os aspectos axiológicos desse elemento que já é bem presente no nosso dia-a-dia. - #FiqueEmCasa #JuntosPelaErradicaçãoDaCovid #CidadaniaResponsável "OMULUME KAWILA ONKUNHA YAIQUE" -- filosofia de vida de origem angolana e ancestral que define que, na superveniência de qualquer adversidade na vida, devemos nos manter firmemente convictos na nossa capacidade de vencer.
  • 10. 10 Recomendações10 : Representando um cenário meramente hipotético, avaliemos um processo transicional já assumido pela alta hierarquia da empresa Ontwe Vanongo. Uma empresa cuja linha de negócio é o retalho de produtos agrícolas mas que, em função das restrições de mercado provocadas pela COVID-19, vê-se limitada nas suas tarefas e encontra uma oportunidade na resolução dos seus maiores problemas -- dificuldades no controlo dos seus activos em stock, sobrecarga de tarefas a cada colaborador, dificuldades na melhoria da experiência no processo de compra de produtos por parte dos seus clientes e, internamente, na adequação de procedimentos (SLA) -- com o desenvolvimento de um sistema de retalho inteligente. Como nota adicional, com a acção inovadora e segundo estudos de mercado realizados, a empresa prevê criar uma vantagem competitiva sustentável a longo prazo, ao substituir os actuais processamentos de pagamento por uma plataforma completamente automatizada, minimizando o tempo que os clientes esperam para sair da loja após compras efectuadas ao não utilizar o factor humano neste processo específico. Para o efeito, contrataram os serviços de consultoria tecnológica (Ndumbo Muhala) que recomendou que: i. Se definam todas as iniciativas em torno da resiliência digital para garantir a protecção da informação da organização; a) Tomar decisões baseadas em riscos; b) Não objectivar apenas a protecção da infraestrutura como estratégia de segurança; c) Definir adequada e organizadamente as políticas de segurança de modo a não asfixiar os processos já existentes; d) Orientar a alocação de recursos de forma racional (que se adequem completamente à realidade da organização em causa); cada caso é um caso... e) Alcançar todos os departamentos no plano de implementação; f) Promover o engajamento de todas as partes (o sucesso não tem uma dependência isolada). ii. Após a conclusão do processo de programação (recolha de informação envolvendo todas as partes), planificar objectivando a identificação, classificação e mapeamento de processos críticos: 10 Não apresentaremos uma solução completa mas apenas tópicos que devem servir de guia para acções/interpretações subsequentes.