SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Figurações da modernidade: traços da solidariedade
africana
Ezilda Maciel da Silva1
Resenha de:
TAVARES, Ana Paula, SILVA, Fabio Mario da, PINHEIRO, Luís (Orgs.). António
Jacinto e sua época: a modernidade nas literaturas africanas de
língua portuguesa. ed. Lisboa: CLEPUL - Centro de Literaturas e Culturas
Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras de Lisboa. 2015.
O livro António Jacinto e sua época: a modernidade nas literaturas de língua
portuguesa é resultado de um olhar lançado sobre a produção literária de António
Jacinto, com foco na modernidade desenhada nas literaturas africanas de língua
portuguesa. Organizado em cinco partes o livro é lugar desde onde pensadores e
críticos das literaturas africanas de língua Portuguesa expõem com esmero pesquisas e
estudos recentes sobre a produção literária de António Jacinto.
Desse locus discursivo brota uma rede de percepção inter, trans e multidisciplinar,
de modo que os textos projetam, discursivamente, a força das trocas culturais como
chave de leitura sine qua non para mergulhar no labirinto das narrativas africanas.
Concebendo-as como lugares de trânsitos multimodais, a escrita envolvente deste
trabalho desloca o leitor para dentro e fora das redes de heterogeneidade cultural, abrindo
horizontes teórico-crítico que aportam na dinâmica da percepção da diferença através da
cartografia do imaginário híbrido africano.
Posicionada na encruzilhada do imaginário intercultural, os ensaios do livro
deslizam entre as malhas discursivas das Áfricas de língua portuguesa. Esse
deslizamento pelas comarcas culturais, como diria Angel Rama, serve para traduzir as
opacidades, as marcas e marcos da diligência do encontro entre o próprio e o alheio
africano. Entre (re)costurar as brechas de sentidos, (re)configurando-os como integrantes
de uma geografia do deslocamento, do atrito cultural cuja senha faculta a ida e volta em
meio às rodovias interculturais, os caminhos trilhados pelo livro apontam para exploração
1
Doutoranda em Teoria Literária pela UNB. Professora da Universidade Federal do Sul
e Sudeste do Pará.
de encruzilhadas metodológicas que testemunham a força motriz do diálogo entre
contextos plurais.
Tendo como epicentro esse fio argumentativo, o percurso de leitura construído
denuncia como a voz etnocêntrica tentou apagar os vestígios do imaginário dos contextos
heterogêneos, fazendo-os viver sob os limites da tentativa de uma vida de pureza cultural,
que se viu abalada com o reconhecimento das conexões e mobilidades espraiadas entre
as tramas do Novo Mundo. Com o abalo das redes eurocêntricas, vistas como limitadoras,
tornou possível revisitar as cenas do encontro entre sociedades, línguas e culturas das
Áfricas. Assim, o deslocamento em direção à geografia do encontro serve de veículo para
decifrar o itinerário de outros sujeitos guiados pelo sentimento da errância intercultural.
Mais ainda, o retorno ao cenário dos enredos da história cindida permite projetar outras
fricções que, longe de fecharem-se na redoma do medo de interagir, oportunizam a
travessia crítica pelos imaginários da solidariedade africana.
Agindo dessa forma, a escritura movente projeta a presença do alheio na zona do
próprio das Áfricas, bem como cartografa as interfaces das conexões europeias, asiáticas
e africanas. Disso resulta a expansão dos fios da relação rizomática entre as culturas
móveis, abrindo reflexões balizadas pela constelação do intercâmbio cuja lógica não se
faz pela edificação do polo superior ou inferior. Por conseguinte, a tônica do encontro
entre culturas e continentes vem alimentada pela percepção de histórias sobrepostas
testemunhadas pelo alcance da voz de atores culturais híbridos. Ao adotar a envergadura
múltipla das relações, os nortes da leitura do trabalho revelam-se cadênciadores da
coesão e coerência das redes de conexão de alteridades radicadas na zona da interação
africana.
Vistos enquanto ferramentas da elasticidade do fazer crítico, os pontos de
irradiação do debate proposto pelos capítulos do livro rasuram o poder das tintas
logocêntricas, deslocando-as da prateleira da biblioteca, com a finalidade de pontuar a
força com que atuaram na formação do imaginário das culturas em contato. Com isso,
percebe-se que os territórios de averiguação das marcas e marcos das mobilidades
estéticas tornam-se um espaço para detalhar os cruzamentos oriundos da
intercambialidade entre histórias, discursos e linguagens, os mais variados possíveis.
Concebidas na visada de uma estratégia interdisciplinar, como apregoa Carvalhal
(2003), ou um espaço nômade do saber, seguindo a dianteira de Souza (2002), as
práticas de leitura lançadas sobre a escrita de António Jacinto revelam a face múltipla
deste autor africano. Mais ainda, abrem caminhos de análise cuja focalização recaia na
tradução de cenários culturais nascidos da experiência narrativa do desmembramento
estético de passagens, travessias, trânsitos, mediações, errâncias, diásporas,
transculturações, fronteiras, bordas, frestas, dentre outros termos que sustentam os
pilares dos ensaios, artigos e livros acadêmicos publicados em torno desse temário.
A figuração da modernidade, nas literaturas africanas de língua portuguesa,
obedece, portanto, à premissa que de o outro é parte indissociável do processo de
reconhecimento da diferença interna que sustenta a formação do imaginário de
alteridades cruzadas para além do simples fortalecimento do ciclo do mesmo. Ligar esses
lugares de vacância permite perceber que a alteridade africana integra a própria
constituição do sujeito que se desprega das amarras da ilusão de dono de si mesmo,
reconhecendo-se participante de um jogo identitário composto de várias faces. Nessa
relação intercultural identifica-se, como cada momento do convívio com o outro de si
produz realinhamentos capazes de ler as incompletudes que atravessam a cadeia das
formações culturais que o indagam constantemente na trama do cotidiano.
Por essa via interpretativa, a atmosfera da figuração da modernidade respalda-se
na projeção do encontro entre as literaturas africanas de língua portuguesa. Ao serem
colocadas em interação, essas literaturas são tecidas a partir de traços plurais da
solidariedade, convidam o leitor a transitar pelas zonas do imaginário das trocas culturais.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O que é literatura ?
O que é literatura ? O que é literatura ?
O que é literatura ? anaalvees
 
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...Taís Ferreira
 
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...Taís Ferreira
 
Teatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTeatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTaís Ferreira
 
O lugar da teoria no ensino de literatura
O lugar da teoria no ensino de literaturaO lugar da teoria no ensino de literatura
O lugar da teoria no ensino de literaturaMariana Marcelino
 
Concepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtin
Concepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtinConcepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtin
Concepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtinDouradoalcantara
 
Intertextualidade nas obras boca cassia
Intertextualidade nas obras boca cassiaIntertextualidade nas obras boca cassia
Intertextualidade nas obras boca cassiaEdilson A. Souza
 
Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)
Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)
Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)Taís Ferreira
 
A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira P...
A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira  P...A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira  P...
A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira P...tatiana ribeiro do nascimento
 
Teoria Da Literatura
Teoria Da LiteraturaTeoria Da Literatura
Teoria Da LiteraturaCrys Bastos
 
DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA...
 DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA... DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA...
DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA...LOCIMAR MASSALAI
 

Mais procurados (18)

Vidas em letras1
Vidas em letras1Vidas em letras1
Vidas em letras1
 
O que é literatura ?
O que é literatura ? O que é literatura ?
O que é literatura ?
 
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
 
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
 
Teatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTeatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia cultural
 
Literatura Brasileira Academ X Moder
Literatura Brasileira Academ X ModerLiteratura Brasileira Academ X Moder
Literatura Brasileira Academ X Moder
 
O lugar da teoria no ensino de literatura
O lugar da teoria no ensino de literaturaO lugar da teoria no ensino de literatura
O lugar da teoria no ensino de literatura
 
Concepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtin
Concepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtinConcepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtin
Concepções de linguagem fundamentos dialógicos do circulo de bakhtin
 
Intertextualidade nas obras boca cassia
Intertextualidade nas obras boca cassiaIntertextualidade nas obras boca cassia
Intertextualidade nas obras boca cassia
 
J. ferreira vieira incorporando exú
J. ferreira vieira   incorporando exúJ. ferreira vieira   incorporando exú
J. ferreira vieira incorporando exú
 
4180 13908-1-pb
4180 13908-1-pb4180 13908-1-pb
4180 13908-1-pb
 
Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)
Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)
Estudos Culturais, recepção e teatro: uma articulação possível? (2006)
 
Literatura
LiteraturaLiteratura
Literatura
 
A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira P...
A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira  P...A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira  P...
A variação Linguística na Obra Dona Guidinha do Poço,de Manuel de Oliveira P...
 
Teoria Da Literatura
Teoria Da LiteraturaTeoria Da Literatura
Teoria Da Literatura
 
DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA...
 DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA... DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA...
DOS ROLOS E CÓDICES AOS TEXTOS DIGITAIS: MUDANÇAS E DESAFIOS NAS PRÁTICAS DA...
 
Princípios gerais
Princípios geraisPrincípios gerais
Princípios gerais
 
Mimese III
Mimese IIIMimese III
Mimese III
 

Semelhante a Todas as musas renha

A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...
A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...
A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...REVISTANJINGAESEPE
 
Diálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuño
Diálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuñoDiálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuño
Diálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuñoWirley Lima
 
Semana de Letras 2008 - Letras e Telas de Angola
Semana de Letras 2008 - Letras e Telas de AngolaSemana de Letras 2008 - Letras e Telas de Angola
Semana de Letras 2008 - Letras e Telas de AngolaRicardo Riso
 
IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...
IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...
IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...Estudos Lusofonos
 
Ficção angolana
Ficção angolanaFicção angolana
Ficção angolanaliterafro
 
C:\fakepath\barbara santos
C:\fakepath\barbara santosC:\fakepath\barbara santos
C:\fakepath\barbara santosliterafro
 
A presença africana na amazonia
A presença africana na amazoniaA presença africana na amazonia
A presença africana na amazoniaNanci Luana Souza
 
Recontarhistoriasereinventarmemorias
 Recontarhistoriasereinventarmemorias Recontarhistoriasereinventarmemorias
RecontarhistoriasereinventarmemoriasNegrafrancis Francis
 
(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)
(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)
(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)CAEI
 
Folhetim do Estudante Núm. XVI
Folhetim do Estudante Núm. XVIFolhetim do Estudante Núm. XVI
Folhetim do Estudante Núm. XVIValter Gomes
 
Ler e escrever na cultura digital
Ler e escrever na cultura digitalLer e escrever na cultura digital
Ler e escrever na cultura digitallidcabral
 
36824 145666-1-sm
36824 145666-1-sm36824 145666-1-sm
36824 145666-1-smPedro Lima
 

Semelhante a Todas as musas renha (20)

Griots livro
Griots livroGriots livro
Griots livro
 
Griots culturas africanas
Griots   culturas africanasGriots   culturas africanas
Griots culturas africanas
 
A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...
A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...
A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para liter...
 
Diálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuño
Diálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuñoDiálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuño
Diálogos entre instalações e arte literária em florencia garramuño
 
Semana de Letras 2008 - Letras e Telas de Angola
Semana de Letras 2008 - Letras e Telas de AngolaSemana de Letras 2008 - Letras e Telas de Angola
Semana de Letras 2008 - Letras e Telas de Angola
 
IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...
IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...
IV Simpósio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea: autoria,...
 
Ficção angolana
Ficção angolanaFicção angolana
Ficção angolana
 
C:\fakepath\barbara santos
C:\fakepath\barbara santosC:\fakepath\barbara santos
C:\fakepath\barbara santos
 
Ler a áfrica para compreender o mundo
Ler a áfrica para compreender o mundoLer a áfrica para compreender o mundo
Ler a áfrica para compreender o mundo
 
A presença africana na amazonia
A presença africana na amazoniaA presença africana na amazonia
A presença africana na amazonia
 
Gragoata24web
Gragoata24webGragoata24web
Gragoata24web
 
Recontarhistoriasereinventarmemorias
 Recontarhistoriasereinventarmemorias Recontarhistoriasereinventarmemorias
Recontarhistoriasereinventarmemorias
 
Convite haquira
Convite haquiraConvite haquira
Convite haquira
 
(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)
(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)
(24) 14.00 Maria Bernadette Velloso (Louvre IV, 25.04)
 
Folhetim do Estudante Núm. XVI
Folhetim do Estudante Núm. XVIFolhetim do Estudante Núm. XVI
Folhetim do Estudante Núm. XVI
 
Literatura comparada
Literatura comparadaLiteratura comparada
Literatura comparada
 
Ler e escrever na cultura digital
Ler e escrever na cultura digitalLer e escrever na cultura digital
Ler e escrever na cultura digital
 
36824 145666-1-sm
36824 145666-1-sm36824 145666-1-sm
36824 145666-1-sm
 
Introdução entre o mito e a fronteira
Introdução entre o mito e a fronteiraIntrodução entre o mito e a fronteira
Introdução entre o mito e a fronteira
 
Mornas e oralidade
Mornas e oralidadeMornas e oralidade
Mornas e oralidade
 

Último

Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 

Todas as musas renha

  • 1. Figurações da modernidade: traços da solidariedade africana Ezilda Maciel da Silva1 Resenha de: TAVARES, Ana Paula, SILVA, Fabio Mario da, PINHEIRO, Luís (Orgs.). António Jacinto e sua época: a modernidade nas literaturas africanas de língua portuguesa. ed. Lisboa: CLEPUL - Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras de Lisboa. 2015. O livro António Jacinto e sua época: a modernidade nas literaturas de língua portuguesa é resultado de um olhar lançado sobre a produção literária de António Jacinto, com foco na modernidade desenhada nas literaturas africanas de língua portuguesa. Organizado em cinco partes o livro é lugar desde onde pensadores e críticos das literaturas africanas de língua Portuguesa expõem com esmero pesquisas e estudos recentes sobre a produção literária de António Jacinto. Desse locus discursivo brota uma rede de percepção inter, trans e multidisciplinar, de modo que os textos projetam, discursivamente, a força das trocas culturais como chave de leitura sine qua non para mergulhar no labirinto das narrativas africanas. Concebendo-as como lugares de trânsitos multimodais, a escrita envolvente deste trabalho desloca o leitor para dentro e fora das redes de heterogeneidade cultural, abrindo horizontes teórico-crítico que aportam na dinâmica da percepção da diferença através da cartografia do imaginário híbrido africano. Posicionada na encruzilhada do imaginário intercultural, os ensaios do livro deslizam entre as malhas discursivas das Áfricas de língua portuguesa. Esse deslizamento pelas comarcas culturais, como diria Angel Rama, serve para traduzir as opacidades, as marcas e marcos da diligência do encontro entre o próprio e o alheio africano. Entre (re)costurar as brechas de sentidos, (re)configurando-os como integrantes de uma geografia do deslocamento, do atrito cultural cuja senha faculta a ida e volta em meio às rodovias interculturais, os caminhos trilhados pelo livro apontam para exploração 1 Doutoranda em Teoria Literária pela UNB. Professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
  • 2. de encruzilhadas metodológicas que testemunham a força motriz do diálogo entre contextos plurais. Tendo como epicentro esse fio argumentativo, o percurso de leitura construído denuncia como a voz etnocêntrica tentou apagar os vestígios do imaginário dos contextos heterogêneos, fazendo-os viver sob os limites da tentativa de uma vida de pureza cultural, que se viu abalada com o reconhecimento das conexões e mobilidades espraiadas entre as tramas do Novo Mundo. Com o abalo das redes eurocêntricas, vistas como limitadoras, tornou possível revisitar as cenas do encontro entre sociedades, línguas e culturas das Áfricas. Assim, o deslocamento em direção à geografia do encontro serve de veículo para decifrar o itinerário de outros sujeitos guiados pelo sentimento da errância intercultural. Mais ainda, o retorno ao cenário dos enredos da história cindida permite projetar outras fricções que, longe de fecharem-se na redoma do medo de interagir, oportunizam a travessia crítica pelos imaginários da solidariedade africana. Agindo dessa forma, a escritura movente projeta a presença do alheio na zona do próprio das Áfricas, bem como cartografa as interfaces das conexões europeias, asiáticas e africanas. Disso resulta a expansão dos fios da relação rizomática entre as culturas móveis, abrindo reflexões balizadas pela constelação do intercâmbio cuja lógica não se faz pela edificação do polo superior ou inferior. Por conseguinte, a tônica do encontro entre culturas e continentes vem alimentada pela percepção de histórias sobrepostas testemunhadas pelo alcance da voz de atores culturais híbridos. Ao adotar a envergadura múltipla das relações, os nortes da leitura do trabalho revelam-se cadênciadores da coesão e coerência das redes de conexão de alteridades radicadas na zona da interação africana. Vistos enquanto ferramentas da elasticidade do fazer crítico, os pontos de irradiação do debate proposto pelos capítulos do livro rasuram o poder das tintas logocêntricas, deslocando-as da prateleira da biblioteca, com a finalidade de pontuar a força com que atuaram na formação do imaginário das culturas em contato. Com isso, percebe-se que os territórios de averiguação das marcas e marcos das mobilidades estéticas tornam-se um espaço para detalhar os cruzamentos oriundos da intercambialidade entre histórias, discursos e linguagens, os mais variados possíveis. Concebidas na visada de uma estratégia interdisciplinar, como apregoa Carvalhal (2003), ou um espaço nômade do saber, seguindo a dianteira de Souza (2002), as
  • 3. práticas de leitura lançadas sobre a escrita de António Jacinto revelam a face múltipla deste autor africano. Mais ainda, abrem caminhos de análise cuja focalização recaia na tradução de cenários culturais nascidos da experiência narrativa do desmembramento estético de passagens, travessias, trânsitos, mediações, errâncias, diásporas, transculturações, fronteiras, bordas, frestas, dentre outros termos que sustentam os pilares dos ensaios, artigos e livros acadêmicos publicados em torno desse temário. A figuração da modernidade, nas literaturas africanas de língua portuguesa, obedece, portanto, à premissa que de o outro é parte indissociável do processo de reconhecimento da diferença interna que sustenta a formação do imaginário de alteridades cruzadas para além do simples fortalecimento do ciclo do mesmo. Ligar esses lugares de vacância permite perceber que a alteridade africana integra a própria constituição do sujeito que se desprega das amarras da ilusão de dono de si mesmo, reconhecendo-se participante de um jogo identitário composto de várias faces. Nessa relação intercultural identifica-se, como cada momento do convívio com o outro de si produz realinhamentos capazes de ler as incompletudes que atravessam a cadeia das formações culturais que o indagam constantemente na trama do cotidiano. Por essa via interpretativa, a atmosfera da figuração da modernidade respalda-se na projeção do encontro entre as literaturas africanas de língua portuguesa. Ao serem colocadas em interação, essas literaturas são tecidas a partir de traços plurais da solidariedade, convidam o leitor a transitar pelas zonas do imaginário das trocas culturais.