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A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   1

Anne Leonard
                                         1. Referência bibliográfica
                                      LEONARD. Annie. A História das Coisas: da natureza
                                      ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos.
                                      Rio de Janeiro: Zahar, 2011.



                                          2. Ementa

                                      Discute do ponto de vista ambiental a cadeia produtiva
                                      da extração ao descarte, lançando questões sobre
“Cientista ambiental, passou duas     consumo sustentável que perpassa por ações individuais
décadas rastreando o tráfico          e políticas internacionais, defendendo que uma
internacional de lixo, combatendo
                                      mudança no sistema só será possível passando antes por
o descarte pela incineração e
estudando a economia dos              uma mudança de pensamento.
materiais nos mais de trinta
países que visitou. Trabalhou com
diversas organizações, como o
Greenpeace e a Global Alliance for
                                          3. Lógica interna (desenvolvimento/argumentação)
Incineration Alternatives (Gaia).
                                      O livro está dividido em cinco partes explicando do
Dirige o Projeto História das
Coisas, que divulga, por meio de      ponto de vista ambiental o funcionamento do sistema
conferências e palestras em           econômico: extração, produção, distribuição, consumo e
escolas, a ameaça à                   descarte. Cada um deles com exemplos a partir das
sustentabilidade da terra. Em         experiências da autora em diversos países e atuações
2008, foi eleita Herói do Meio
                                      em organizações. Antes de começar a falar sobre o
Ambiente pela revista Time. Mora
em uma comunidade de Berkeley,        sistema, explica os principais conceitos abordados ao
na Califórnia, com sua filha.         longo do livro: coisas, consumidor/consumo,
                                      desenvolvimento, corporações, custos externalizados
                                      (preço x custo), orgânicos e sustentabilidade. Ao final
Site: www.storyofstuff.com            apresenta possibilidades de soluções em larga escala a
                                      partir de experiências pontuais e uma lista de pequenas
                                      práticas individuais para um consumo mais
                                      ecologicamente consciente e sustentável.

                                         4. Interlocução
                                      Além das áreas ambientais, o texto dialoga com
                                      Engenharia de materiais, Design, Economia, Marketing e
                                      Publicidade, Políticas públicas internacionais, Gestão,
                                      Logística e organizações de base comunitárias.



                                          5. Excertos (trechos mais significativos)

                                      Etapa 1 - Extração
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   2


Água virtual – “Água virtual é a quantidade do líquido embutida nos alimentos ou
em outros produtos, baseada em quanta água foi necessária para extraí-la ou
produzi-la. Países que cultivam e exportam produtos agrícolas que demandam uso
intensivo de água, como algodão e café, podem ser considerados exportadores de
água virtual.” (44)

Pegada hídrica – “Outro conceito útil é o de “pegada hídrica”, que calcula o volume
de água potável usado por uma empresa para produzir bens e serviços, ou por um
indivíduo, ou ainda por uma comunidade.” (44)

Categorias de valor – “Para depreender o valor real, adotou-se a estrutura de valor
econômico total, que inclui usos diretos (como beber água) e indiretos (o nível e o
fluxo de um rio), o chamado valor de legado (uso pelas gerações futuras) e o valor
de existência (o simples direito de estar presente na Terra). Nessas bases,
representantes de governos e de ONGs de todo o mundo estabeleceram os
Princípios de Dublin na Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente em
1992, a fim de reconhecer o valor da água e estipular padrões para sua
administração.” (45)

Transformando a extração. Estágio inicial: “Na hora do projeto é preciso
redesenhar nossos sistemas de produção para que utilizem menos recursos,
reduzindo, assim, a necessidade de extração.” (69)

Design – “Há muitos exemplos de que o design contribui para melhorar a eficiência
dos recursos – reduzir o tamanho das embalagens e reformular os produtos são
alguns. Com menos materiais na composição, eles se tornam mais leves. Outras
estratégias incluem tornar as Coisas mais:

      Duráveis: os produtos não precisam ser descartados e substituídos tão
       rapidamente.
      Reparáveis: aqui se inclui o benefício da geração de empregos.
      Recicláveis: os materiais dever ser escolhidos segundo sua capacidade de
       manter a integridade quando reciclados. Alguns materiais se degradam
       rapidamente, ao passo que outros podem ser reciclados várias vezes.
      Adaptáveis: em vez de descartar celulares e laptops assim que ficam
       obsoletos, os aparelhos podem ter componentes reaproveitados e
       atualizados, como as lentes de uma câmera.” (70)

Desenho Industrial: “Nossas mentes mais brilhantes podem e devem alçar voo em
busca de um desenho industrial de ponta cujo objetivo seja a melhoria na rapidez,
no estilo e, sobretudo, na “desmaterialização” – o uso de menos recursos. Por
exemplo, a música digital substituiu uma grande quantidade de vinil, fitas cassete e
embalagens de CD. Os elegantes monitores e TVs de tela plana estão substituindo
os antigos aparelhos. As embalagens são mais finas e leves. Em diversos setores, o
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   3


uso de matéria-prima na fabricação dos produtos está diminuindo. Infelizmente, o
progresso pode ir por água abaixo se os níveis de consumo não baixarem.” (70)

Transformando a extração. Estágio final: “Uma grande quantidade de metal, papel,
madeira e água gasta pode ser reciclada ou reutilizada. Como os materiais já foram
extraídos e processados, é melhor mantê-los em uso do que descartá-los e começar
a explodir mais montanhas ou derrubar mais árvores.” (70-71)

Transformando a extração. Antes de consumir: “Devemos sempre nos perguntar:
são mesmo necessários tantos materiais para satisfazer nossas necessidades?
Como mostrar afeto, dedicarmo-nos aos filhos e ter direito ao lazer sem usar cada
vez mais recursos? Nosso status poderia ser medido por bondade, experiência e
sabedoria, e não pelas roupas que vestimos, os carros que temos na garagem e o
tamanho das nossas casas. Sejamos criativos!” (71)

Etapa 2 – Produção

Livro – “Tenho prateleiras e mais prateleiras de livros. Eles ocupam um lugar
ímpar entre as minhas Coisas. Embora me sinta desconfortável ao comprar roupas
novas ou equipamentos eletrônicos, não penso duas vezes antes de adquirir um
livro. Perguntei a meus amigos e descobri que eles também, de verta forma,
isentam os livros das conotações negativas do excesso de Coisas. Será que o valor
do conhecimento embutido em um livro justifica sua pegada ecológica?” (79)

Processo mais ecológico – “Hoje, graças ao trabalho de organizações e ao esforço
de líderes da indústria sustentável, a manufatura do papel e a industria editorial
está se tornando mais ecológicas. Há um número cada vez maior de livros sendo
impressos em papel reciclado e com menos tintas à base de petróleo.” (82)

Computadores – “Parece ridículo que os eletrônicos não possam ser produzidos de
maneira diferente. Os projetistas são pessoas inteligentes – é inacreditável a
rapidez com que inventam melhorias em termos de velocidade, tamanho e
capacidade. Muitas vezes citada, a lei de Moore afirma que as capacidades dos
computadores podem ser dobradas aproximadamente a cada dois anos. Ou seja,
esse pessoal pode inventar formas de inserir milhares de músicas num aparelho do
tamanho de uma caixa de fósforos, mas não pode eliminar o plástico mais tóxico –
o PVC – de suas maravilhas de alta tecnologia, ou reduzir mais de 10% do descarte
de embalagens? Esses “crânios” também deveriam ser capazes de descobrir como
eliminar os produtos tóxicos gradativamente, reduzir dejetos a um mínimo e
aumentar a durabilidade dos produtos.” (89)

Lata de alumínio – “Alguns dias atrás, quando caminhava pelo Centro de São
Francisco, vi dois empolgados divulgadores distribuindo brindes de uma nova
bebida cafeinada. “Experimente! É comércio justo! Feito de ingredientes orgânicos!
Bom para você e para o planeta!” Declinei da oferta e decidi não interromper
aquele desfile de otimismo para tentar mostrar como é contraditório embalar uma
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   4


bebida orgânica de comércio justo num dos produtos mais consumidores de
energia, produtores de CO2 e geradores de resíduos no planeta: uma lata de
alumínio descartável.” (90)

Rios da Amazônia – “Glenn Switkes, da International Rivers, organização dedicada
a proteger rios ao redor do mundo, explica que as produtoras de alumínio são a
principal motivação do governo brasileiro para represar os maiores rios da
Amazônia: “As empresas de alumínio estão indo para os trópicos porque os
governos dos países em desenvolvimento lhes fornecem energia subsidiada das
hidrelétricas. Essas barragens têm impactos irreversíveis na biodiversidade e
desalojam milhares de habitantes ribeirinhos e povos indígenas”, diz Switkes.” (92)

Menos e melhor – “Hoje, os recursos estão se tornando mais escassos, enquanto a
população continua a crescer. Mas as tecnologias produtivas não acompanharam
essa realidade. Ainda usamos processos que consomem e desperdiçam enormes
quantidades de energia e materiais, como se estes e a capacidade do planeta de
assimilar resíduos e poluição fossem infinitos. É hora de transformar nossos
sistemas de produção mais uma vez, agora fazendo menos Coisas, e Coisas
melhores.” (120)

Mudanças no projeto – “Mudanças no projeto podem causar apenas melhorias,
como a eliminação do uso de uma toxina em uma linha de produtos, ou levar
realmente a uma reavaliação de nossos paradigmas. Por exemplo, os pressupostos
de que a “poluição é o preço do progresso” ou de que “temos que escolher entre
emprego e meio ambiente” há muito limitam o pensamento criativo em torno de
soluções inovadoras e benéficas para o meio ambiente e uma economia saudável.
Em outras palavras: não podemos transformar o sistema sem antes transformar a
forma como pensamos.” (121)

Biomimética – “Uma das tendências mais animadoras em termos de projetos
verdadeiramente revolucionários é a apontada pela biomimética, onde as soluções
em design são inspiradas nos princípios fundamentais da natureza. A natureza
funciona por energia solar e usa apenas a energia de que necessita; usa uma
química à base de água; adapta a forma à função; recicla tudo; investe na
diversidade; exige especialização local; detém os excessos internamente; utiliza o
poder dos limites. A biomimética busca descobrir como fazer com que as
tecnologias, infraestruturas e produtos sigam esses mesmos princípios da
natureza.” (122)



Etapa 3 – Distribuição

Eficiência – “E a mentalidade de eficiência-acima-de-tudo se dissemina para além
das fábricas. Ela foi aplicada à totalidade da cadeira de fornecimento. Como? Bem,
aqui está a revelação-chave: muitas empresas famosas já nãoproduzem nada por
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   5


conta própria. Elas apenas compram e etiquetam Coisas que outras fazem. A Nike
não produz sapatos. A Apple não produz computadores. A Gap não produz roupas.
Elas compram sapatos, computadores e roupas (e os componentes para fabricá-
los) de diversas fábricas ao redor do mundo. Na prática, o que acontece é que uma
mesma fábrica acaba fazendo produtos para diversas marcas concorrentes, que se
distinguem apenas quando a etiqueta é aplicada sobre eles.” (125)

A Marca – “O que empresas como Nike, Apple e Gap realmente produzem são
marcas, e essas marcas são o que os clientes compram. Phil Knight, fundados da
Nike, explicou: “Durante anos nos vimos como uma empresa orientada para a
produção, então colocávamos toda a nossa ênfase em desenhar e fabricar o
produto. Mas agora compreendemos que o mais importante é divulgá-lo.” As
companhias gastam bilhões para promover a própria marca não exatamente com a
finalidade de anunciar as características de um produto específico, e sim para
cultivar a imagem pela qual os consumidores devem identificá-la. Assim resume
O´Rourke: “Quando a Apple vende um iPod, não está vendendo um tocador de mp3.
Está vendendo uma declaração de moda.” “ (125-126)

Banco Mundial – “O Banco Mundial e o FMI trabalham em conjunto. Enquanto o
FMI impõe que os países devedores exportem mais recursos naturais, o Banco
Mundial se alegra em fornecer o conhecimento técnico e os empréstimos
necessários para extraí-los. (...) A missão oficial do banco é “ajudar os países em
desenvolvimento e seu povo a aliviar a pobreza”. Mas que valores e crenças
orientam sua estratégia para alcançar essas metas? Assim como outras agências
financeiras internacionais, o Banco Mundial acredita que mais crescimento
econômico, mas globalização, mais fluxo de capital e mais exploração de recursos
naturais reduzem a pobreza.” (147)



Etapa 4 – Consumo

Consumo/Consumismo/Superconsumismo – “Não questiono o consumo em
termos abstratos, mas o consumismo e o superconsumismo. Enquanto consumo
significa adquirir e utilizar bens e serviços para atender às necessidades,
consumismo refere-se à atitude de tentar satisfazer carências emocionais e sociais
através de compras e demonstrar o valor pessoal por meio do que se possui. Já o
superconsumismo é quando utilizamos recursos além dos necessários e dos que o
planeta pode suprir, conforme ocorre nos Estados Unidos. É quando perdemos de
vista aquilo que é importante na busca por Coisas.” (158-159)

Obsolescência planejada – “A obsolescência planejada é diferente da obsolescência
tecnológica, que ocorre quando alguns avanços da tecnologia tornam a versão
anterior de fato ultrapassada – caso do telefone, que substituiu o telégrafo.” (174)
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   6


Obsolescência instantânea – “Alguns produtos foram programados para ter uma
obsolescência mais do que rápida, instantânea: é o caso dos bens descartáveis.

Obsolescência percebida – “Essa última característica é o que conhecemos por
“obsolescência percebida”. Nesse caso, o ítem não apresenta defeito nem é
realmente obsoleto; apenas o percebemos assim. Alguns chamam a isso
“obsolescência de desejabilidade” ou “obsolescência psicológica”. É quando o gosto
e a moda entram em cena.” (176)

Publicidade – “Atualmente, publicitários atuam em conjunto com psicólogos,
neurocientistas e consumidores bem-informados. O objetivo principal: causar-nos
mal-estar com o qu temos ou com o que nos falta, e estimular o desejo de comprar
para nos sentirmos melhor.” (177)

“Expansão vertical do nosso grupo de referência” – “(...) Em programas de TV, as
pessoas são incrivelmente ricas, magras e estilosas. Assim, de uma hora para outra,
em vez de se comparar com a “família Jones”, da casa ao lado, a referência são
milionários e celebridades. É por isso que, quanto mais TVs assistem, mais as
pessoas supervalorizam a riqueza dos outros, e se sentem mais pobres. Quanta
pressão! Minhas roupas, minha casa e meu carro não apenas têm de ser iguais aos
dos meus colegas e outros pais da escola da minha filha; eles devem ostentar o
estilo de vida luxuoso de Jennifer Aniston e Beyoncé. Juliet Schor chama o
fenômeno de “expansão vertical do nosso grupo de referência”.” (180-181)

Exercendo direito – “Estaremos de fato exercendo nosso direito de escolha quando
estivermos determinando a pauta da prefeitura de nossa cidade, das assembléias,
dos gabinetes de políticos, dos editoriais de jornais – e não em corredores de
mercados ou balcões de cafeterias.” (183)

“Personalidade consumidora, personalidade cidadã” – “Cheguei à conclusão de que
cada um de nós tem duas personalidades: uma consumidora, outra cidadã ou
comunitária. Em nossa sociedade, a parte consumidora recebe atenção e é
alimentada desde que nascemos. Assim, nos tornamos especialistas em consumo:
sabemos onde, como e quando encontrar os melhores preços. Sabemos quanto
tempo esperar até que a cobiçada camiseta vá para a prateleira de liquidação.
Sabemos como navegar na internet para conseguir quase de imediato o que
desejamos. Nossa personalidade consumidora é tão desenvolvida que soterrou a
outra, a que deveria constituir nossa personalidade central, na condição de pais,
estudantes, vizinhos, profissionais, eleitores etc. Assim, falta-nos uma
compreensão básica de como empregar o músculo da cidadania.” (183)



Etapa 5 – Descarte
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   7


Lixo – “Há um exercício que faço sempre que dou palestras em escolas. Pego uma
lata vazia de refrigerante e a coloco sobre a mesa. “Alguém poderia me dizer o que
é isto?”, pergunto. “É uma lata!”, as crianças gritam. Depois, pego uma cesta de lixo,
ponho outra lata vazia dentro e pergunto de novo: “E isto aqui?” “É lixo”, elas
respondem. Então, tiro a lata da cesta e a coloco junto de outra, na mesa. “E agora?”
“É uma lata.” Não existe diferença entre as duas: elas são iguais! Portanto, a
segunda lata é considerada lixo não pelo que é em si, mas por conta do local em
que foi colocada. Ou seja, a ideia de lixo tem a ver com contexto, e não com
conteúdo propriamente.” (191-192)

Próxima revolução industrial – “Hoje Anderson [Roy Anderson, presidente da
fábrica de carpetes Interface] defende que matérias-primas virgens precisam ser
substituídas por materiais reciclados; o sistema linear de “extrair-produzir-
descartar” tem de fazer a transição para um processo cíclico de “cadeia fechada”
(em que os materiais são infinitamente reutilizados ou adaptados para que o
desperdício seja eliminado); a energia de combustíveis fósseis deve ser substituída
por energia renovável; processos dispendiosos precisam alcançar a meta do
desperdício zero; e a produtividade de mão de obra deve ser substituída por
produtividade de recursos. Em poucas palavras, essa é a direção da próxima
revolução industrial – ao menos a parte dela que envolve os materiais.” (196-197)

Embalagens – “A mais volumosa categoria de produtos que estamos descartando
nos Estados Unidos, e talvez a mais irritante, é a de embalagens e recipientes.
Talvez você esteja surpreso por eu chamá-los de “produtos”, mas faz sentido,
porque, na prática, funcionam como tal. Com certeza o que você deseja é o creme
de amendoim e não o pote; o aparelho de mp3, e não a caixa de plástico; a espuma
de barbear, e não o tubo de metal. Só que, muitas vezes, é tão somente embalagem
que diferencia as marcas concorrentes. Claro que, no caso de alguns alimentos e
itens delicados, o invólucro desempenha a importante função de conservá-los
intactos, porém, isso não altera o fato de que ele foi concebido como um produto
individualizado que estimula a compra.” (201)

Resíduos de demolição – “Felizmente, os custos operacionais do descarte e as
crescentes restrições a essa prática, além do desejo de evitar o desperdício e criar
empregos, estimularam o surgimento de empresas “de desconstrução”, conforme
se autodenominam, voltadas para a recuperação desses valiosos recursos. Ainda
que o reaproveitamento eventual de certos elementos de velhas edificações,
sobretudo portas, janelas e estruturas de metal, seja uma prática antiga em
demolições, na indústria “verde” a desconstrução pressupõe um planejado e
meticuloso desmonte, de forma a preservar o máximo possível seus diversos
materiais. De Berkeley ao Bronx, empresas desse tipo estão gerando empregos
locais que não podem ser terceirizados.” (204)
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   8


Resíduo eletrônico – “O lixo eletrônico, ou e-lixo, é o descarte mais tóxico. Abrage
celulares, computadores, TVs, aparelhos de DVD, brinquedos, eletrodomésticos,
controles remotos etc. É composto por substâncias químicas e metais prejudiciais à
saúde, e seu volume aumenta três vezes mais rapidamente que o dos outros tipos
de lixo municipal.” (206)

Lixo pelo mar – “Pois bem, para onde vão as imensas pilhas de Coisas que jogamos
fora? O lixo tem dois destinos principais: é enterrado ou queimado. E apenas uma
pequena parte é reciclada. Mas existe outro aspecto importante: carregamentos
marítimos de lixo americano são enviados a outras regiões do mundo, muitas vezes
sob o disfarce de reciclagem. Além de ser antiético e imoral despejar dejetos
contaminados em outras comunidades, no final, os danos à saúde e ao meio
ambiente retornam, via ar, água e por meio de alimentos.” (210)

Compostagem – “Se conservássemos todos os materiais orgânicos fora dos aterros
sanitários, poderíamos praticamente eliminar o metano liberado por eles, o que
reduziria o chorume significativamente e manteria o clima mais fresco. Em muitas
cidades, restos orgânicos – alimentos, podas de jardim, papel usado – compõem
um terço ou mais do lixo urbano. Separar esses restos do lixo sexo ainda dentro de
casa (ou da empresa) e tratá-los pela compostagem é a melhor solução. Dessa
forma, os recicláveis não estragam pelo contato com os materiais orgânicos, e estes
não são contaminados pelos elementos tóxicos presentes nos bens de consumo.
Além disso, o resultado é um substancioso fertilizante para o solo.” (213)

Programa Descarte Zero –

   1.   Reduzir o consumo e o descarte
   2.   Reutilizar os descartados
   3.   Responsabilidade estendida do produtor
   4.   Reciclagem abrangente
   5.   Compostagem abrangente ou biodigestão de materiais orgânicos
   6.   Participação do cidadão
   7.   Proibição da incineração de dejetos
   8.   Melhoria do projeto industrial
   9.   Apoio político, legal e financeiro ao programa
        (235)

Cultura de Reciprocidade – “Embora haja benefícios materiais em nosso
compartilhamento (poupar dinheiro e criar menos lixo), o mais importante é que
cultivamos uma cultura da reciprocidade. Em seu livro Bowling Alone, Robert
Putnam explica que “redes de engajamento comunitário alimentam sólidas normas
de reciprocidade”. Ele menciona dois tipos de reciprocidade: uma específica, em
que você realmente mede e negocia tarefas individuais (“eu pego as duas crianças
na escola na segunda-feira, você pega na terça-feira”), e outra mais valiosa, em que
a reciprocidade é mais generalizada (“eu farei isto por você sem esperar nada em
A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento *   9


troca, confiando que alguém fará algo por mim no futuro”). Uma sociedade baseada
em reciprocidade generalizada é mais eficiente do que a que negocia cada
interação. Às vezes, visualizo esse tecido social que me cerca como uma rede que
me seguraria se eu caísse.” (240)

Ação coletiva – “Muitos escreveram ao Projeto História das Coisas dizendo que
desejam realizar mudanças, mas não sabem o que fazer, pois são apenas
indivíduos. Esta é a questão: eu também sou apenas uma pessoa. Mas, quando nos
reunimos, podemos atingir objetivos além do alcance individual. Por isso, o
primeiro passo é se engajar em uma organização, uma campanha, ou um grupo de
amigos e vizinhos de mentalidade semelhante, trabalhando por uma meta comum.”
(241)



   6. Palavras-Chave

Coisas – Consumidor – Consumo – Desenvolvimento – Corporações – Custo –
Orgânicos – Sustentabilidade – Sistema complexo


   7. Condição de produção do texto (contexto)

O livro foi produzido a partir do programa História das Coisas, pesquisas
realizadas em vários lugares do mundo sobre a cadeia econômica. Deu origem ao
vídeo A História das Coisas com milhares de acessos no youtube. Depois do
sucesso do vídeo veio o livro.




Evany Nascimento

nasci.eva@gmail.com

12 de abril de 2012.

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História das Coisas

  • 1. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 1 Anne Leonard 1. Referência bibliográfica LEONARD. Annie. A História das Coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 2. Ementa Discute do ponto de vista ambiental a cadeia produtiva da extração ao descarte, lançando questões sobre “Cientista ambiental, passou duas consumo sustentável que perpassa por ações individuais décadas rastreando o tráfico e políticas internacionais, defendendo que uma internacional de lixo, combatendo mudança no sistema só será possível passando antes por o descarte pela incineração e estudando a economia dos uma mudança de pensamento. materiais nos mais de trinta países que visitou. Trabalhou com diversas organizações, como o Greenpeace e a Global Alliance for 3. Lógica interna (desenvolvimento/argumentação) Incineration Alternatives (Gaia). O livro está dividido em cinco partes explicando do Dirige o Projeto História das Coisas, que divulga, por meio de ponto de vista ambiental o funcionamento do sistema conferências e palestras em econômico: extração, produção, distribuição, consumo e escolas, a ameaça à descarte. Cada um deles com exemplos a partir das sustentabilidade da terra. Em experiências da autora em diversos países e atuações 2008, foi eleita Herói do Meio em organizações. Antes de começar a falar sobre o Ambiente pela revista Time. Mora em uma comunidade de Berkeley, sistema, explica os principais conceitos abordados ao na Califórnia, com sua filha. longo do livro: coisas, consumidor/consumo, desenvolvimento, corporações, custos externalizados (preço x custo), orgânicos e sustentabilidade. Ao final Site: www.storyofstuff.com apresenta possibilidades de soluções em larga escala a partir de experiências pontuais e uma lista de pequenas práticas individuais para um consumo mais ecologicamente consciente e sustentável. 4. Interlocução Além das áreas ambientais, o texto dialoga com Engenharia de materiais, Design, Economia, Marketing e Publicidade, Políticas públicas internacionais, Gestão, Logística e organizações de base comunitárias. 5. Excertos (trechos mais significativos) Etapa 1 - Extração
  • 2. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 2 Água virtual – “Água virtual é a quantidade do líquido embutida nos alimentos ou em outros produtos, baseada em quanta água foi necessária para extraí-la ou produzi-la. Países que cultivam e exportam produtos agrícolas que demandam uso intensivo de água, como algodão e café, podem ser considerados exportadores de água virtual.” (44) Pegada hídrica – “Outro conceito útil é o de “pegada hídrica”, que calcula o volume de água potável usado por uma empresa para produzir bens e serviços, ou por um indivíduo, ou ainda por uma comunidade.” (44) Categorias de valor – “Para depreender o valor real, adotou-se a estrutura de valor econômico total, que inclui usos diretos (como beber água) e indiretos (o nível e o fluxo de um rio), o chamado valor de legado (uso pelas gerações futuras) e o valor de existência (o simples direito de estar presente na Terra). Nessas bases, representantes de governos e de ONGs de todo o mundo estabeleceram os Princípios de Dublin na Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente em 1992, a fim de reconhecer o valor da água e estipular padrões para sua administração.” (45) Transformando a extração. Estágio inicial: “Na hora do projeto é preciso redesenhar nossos sistemas de produção para que utilizem menos recursos, reduzindo, assim, a necessidade de extração.” (69) Design – “Há muitos exemplos de que o design contribui para melhorar a eficiência dos recursos – reduzir o tamanho das embalagens e reformular os produtos são alguns. Com menos materiais na composição, eles se tornam mais leves. Outras estratégias incluem tornar as Coisas mais:  Duráveis: os produtos não precisam ser descartados e substituídos tão rapidamente.  Reparáveis: aqui se inclui o benefício da geração de empregos.  Recicláveis: os materiais dever ser escolhidos segundo sua capacidade de manter a integridade quando reciclados. Alguns materiais se degradam rapidamente, ao passo que outros podem ser reciclados várias vezes.  Adaptáveis: em vez de descartar celulares e laptops assim que ficam obsoletos, os aparelhos podem ter componentes reaproveitados e atualizados, como as lentes de uma câmera.” (70) Desenho Industrial: “Nossas mentes mais brilhantes podem e devem alçar voo em busca de um desenho industrial de ponta cujo objetivo seja a melhoria na rapidez, no estilo e, sobretudo, na “desmaterialização” – o uso de menos recursos. Por exemplo, a música digital substituiu uma grande quantidade de vinil, fitas cassete e embalagens de CD. Os elegantes monitores e TVs de tela plana estão substituindo os antigos aparelhos. As embalagens são mais finas e leves. Em diversos setores, o
  • 3. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 3 uso de matéria-prima na fabricação dos produtos está diminuindo. Infelizmente, o progresso pode ir por água abaixo se os níveis de consumo não baixarem.” (70) Transformando a extração. Estágio final: “Uma grande quantidade de metal, papel, madeira e água gasta pode ser reciclada ou reutilizada. Como os materiais já foram extraídos e processados, é melhor mantê-los em uso do que descartá-los e começar a explodir mais montanhas ou derrubar mais árvores.” (70-71) Transformando a extração. Antes de consumir: “Devemos sempre nos perguntar: são mesmo necessários tantos materiais para satisfazer nossas necessidades? Como mostrar afeto, dedicarmo-nos aos filhos e ter direito ao lazer sem usar cada vez mais recursos? Nosso status poderia ser medido por bondade, experiência e sabedoria, e não pelas roupas que vestimos, os carros que temos na garagem e o tamanho das nossas casas. Sejamos criativos!” (71) Etapa 2 – Produção Livro – “Tenho prateleiras e mais prateleiras de livros. Eles ocupam um lugar ímpar entre as minhas Coisas. Embora me sinta desconfortável ao comprar roupas novas ou equipamentos eletrônicos, não penso duas vezes antes de adquirir um livro. Perguntei a meus amigos e descobri que eles também, de verta forma, isentam os livros das conotações negativas do excesso de Coisas. Será que o valor do conhecimento embutido em um livro justifica sua pegada ecológica?” (79) Processo mais ecológico – “Hoje, graças ao trabalho de organizações e ao esforço de líderes da indústria sustentável, a manufatura do papel e a industria editorial está se tornando mais ecológicas. Há um número cada vez maior de livros sendo impressos em papel reciclado e com menos tintas à base de petróleo.” (82) Computadores – “Parece ridículo que os eletrônicos não possam ser produzidos de maneira diferente. Os projetistas são pessoas inteligentes – é inacreditável a rapidez com que inventam melhorias em termos de velocidade, tamanho e capacidade. Muitas vezes citada, a lei de Moore afirma que as capacidades dos computadores podem ser dobradas aproximadamente a cada dois anos. Ou seja, esse pessoal pode inventar formas de inserir milhares de músicas num aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos, mas não pode eliminar o plástico mais tóxico – o PVC – de suas maravilhas de alta tecnologia, ou reduzir mais de 10% do descarte de embalagens? Esses “crânios” também deveriam ser capazes de descobrir como eliminar os produtos tóxicos gradativamente, reduzir dejetos a um mínimo e aumentar a durabilidade dos produtos.” (89) Lata de alumínio – “Alguns dias atrás, quando caminhava pelo Centro de São Francisco, vi dois empolgados divulgadores distribuindo brindes de uma nova bebida cafeinada. “Experimente! É comércio justo! Feito de ingredientes orgânicos! Bom para você e para o planeta!” Declinei da oferta e decidi não interromper aquele desfile de otimismo para tentar mostrar como é contraditório embalar uma
  • 4. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 4 bebida orgânica de comércio justo num dos produtos mais consumidores de energia, produtores de CO2 e geradores de resíduos no planeta: uma lata de alumínio descartável.” (90) Rios da Amazônia – “Glenn Switkes, da International Rivers, organização dedicada a proteger rios ao redor do mundo, explica que as produtoras de alumínio são a principal motivação do governo brasileiro para represar os maiores rios da Amazônia: “As empresas de alumínio estão indo para os trópicos porque os governos dos países em desenvolvimento lhes fornecem energia subsidiada das hidrelétricas. Essas barragens têm impactos irreversíveis na biodiversidade e desalojam milhares de habitantes ribeirinhos e povos indígenas”, diz Switkes.” (92) Menos e melhor – “Hoje, os recursos estão se tornando mais escassos, enquanto a população continua a crescer. Mas as tecnologias produtivas não acompanharam essa realidade. Ainda usamos processos que consomem e desperdiçam enormes quantidades de energia e materiais, como se estes e a capacidade do planeta de assimilar resíduos e poluição fossem infinitos. É hora de transformar nossos sistemas de produção mais uma vez, agora fazendo menos Coisas, e Coisas melhores.” (120) Mudanças no projeto – “Mudanças no projeto podem causar apenas melhorias, como a eliminação do uso de uma toxina em uma linha de produtos, ou levar realmente a uma reavaliação de nossos paradigmas. Por exemplo, os pressupostos de que a “poluição é o preço do progresso” ou de que “temos que escolher entre emprego e meio ambiente” há muito limitam o pensamento criativo em torno de soluções inovadoras e benéficas para o meio ambiente e uma economia saudável. Em outras palavras: não podemos transformar o sistema sem antes transformar a forma como pensamos.” (121) Biomimética – “Uma das tendências mais animadoras em termos de projetos verdadeiramente revolucionários é a apontada pela biomimética, onde as soluções em design são inspiradas nos princípios fundamentais da natureza. A natureza funciona por energia solar e usa apenas a energia de que necessita; usa uma química à base de água; adapta a forma à função; recicla tudo; investe na diversidade; exige especialização local; detém os excessos internamente; utiliza o poder dos limites. A biomimética busca descobrir como fazer com que as tecnologias, infraestruturas e produtos sigam esses mesmos princípios da natureza.” (122) Etapa 3 – Distribuição Eficiência – “E a mentalidade de eficiência-acima-de-tudo se dissemina para além das fábricas. Ela foi aplicada à totalidade da cadeira de fornecimento. Como? Bem, aqui está a revelação-chave: muitas empresas famosas já nãoproduzem nada por
  • 5. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 5 conta própria. Elas apenas compram e etiquetam Coisas que outras fazem. A Nike não produz sapatos. A Apple não produz computadores. A Gap não produz roupas. Elas compram sapatos, computadores e roupas (e os componentes para fabricá- los) de diversas fábricas ao redor do mundo. Na prática, o que acontece é que uma mesma fábrica acaba fazendo produtos para diversas marcas concorrentes, que se distinguem apenas quando a etiqueta é aplicada sobre eles.” (125) A Marca – “O que empresas como Nike, Apple e Gap realmente produzem são marcas, e essas marcas são o que os clientes compram. Phil Knight, fundados da Nike, explicou: “Durante anos nos vimos como uma empresa orientada para a produção, então colocávamos toda a nossa ênfase em desenhar e fabricar o produto. Mas agora compreendemos que o mais importante é divulgá-lo.” As companhias gastam bilhões para promover a própria marca não exatamente com a finalidade de anunciar as características de um produto específico, e sim para cultivar a imagem pela qual os consumidores devem identificá-la. Assim resume O´Rourke: “Quando a Apple vende um iPod, não está vendendo um tocador de mp3. Está vendendo uma declaração de moda.” “ (125-126) Banco Mundial – “O Banco Mundial e o FMI trabalham em conjunto. Enquanto o FMI impõe que os países devedores exportem mais recursos naturais, o Banco Mundial se alegra em fornecer o conhecimento técnico e os empréstimos necessários para extraí-los. (...) A missão oficial do banco é “ajudar os países em desenvolvimento e seu povo a aliviar a pobreza”. Mas que valores e crenças orientam sua estratégia para alcançar essas metas? Assim como outras agências financeiras internacionais, o Banco Mundial acredita que mais crescimento econômico, mas globalização, mais fluxo de capital e mais exploração de recursos naturais reduzem a pobreza.” (147) Etapa 4 – Consumo Consumo/Consumismo/Superconsumismo – “Não questiono o consumo em termos abstratos, mas o consumismo e o superconsumismo. Enquanto consumo significa adquirir e utilizar bens e serviços para atender às necessidades, consumismo refere-se à atitude de tentar satisfazer carências emocionais e sociais através de compras e demonstrar o valor pessoal por meio do que se possui. Já o superconsumismo é quando utilizamos recursos além dos necessários e dos que o planeta pode suprir, conforme ocorre nos Estados Unidos. É quando perdemos de vista aquilo que é importante na busca por Coisas.” (158-159) Obsolescência planejada – “A obsolescência planejada é diferente da obsolescência tecnológica, que ocorre quando alguns avanços da tecnologia tornam a versão anterior de fato ultrapassada – caso do telefone, que substituiu o telégrafo.” (174)
  • 6. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 6 Obsolescência instantânea – “Alguns produtos foram programados para ter uma obsolescência mais do que rápida, instantânea: é o caso dos bens descartáveis. Obsolescência percebida – “Essa última característica é o que conhecemos por “obsolescência percebida”. Nesse caso, o ítem não apresenta defeito nem é realmente obsoleto; apenas o percebemos assim. Alguns chamam a isso “obsolescência de desejabilidade” ou “obsolescência psicológica”. É quando o gosto e a moda entram em cena.” (176) Publicidade – “Atualmente, publicitários atuam em conjunto com psicólogos, neurocientistas e consumidores bem-informados. O objetivo principal: causar-nos mal-estar com o qu temos ou com o que nos falta, e estimular o desejo de comprar para nos sentirmos melhor.” (177) “Expansão vertical do nosso grupo de referência” – “(...) Em programas de TV, as pessoas são incrivelmente ricas, magras e estilosas. Assim, de uma hora para outra, em vez de se comparar com a “família Jones”, da casa ao lado, a referência são milionários e celebridades. É por isso que, quanto mais TVs assistem, mais as pessoas supervalorizam a riqueza dos outros, e se sentem mais pobres. Quanta pressão! Minhas roupas, minha casa e meu carro não apenas têm de ser iguais aos dos meus colegas e outros pais da escola da minha filha; eles devem ostentar o estilo de vida luxuoso de Jennifer Aniston e Beyoncé. Juliet Schor chama o fenômeno de “expansão vertical do nosso grupo de referência”.” (180-181) Exercendo direito – “Estaremos de fato exercendo nosso direito de escolha quando estivermos determinando a pauta da prefeitura de nossa cidade, das assembléias, dos gabinetes de políticos, dos editoriais de jornais – e não em corredores de mercados ou balcões de cafeterias.” (183) “Personalidade consumidora, personalidade cidadã” – “Cheguei à conclusão de que cada um de nós tem duas personalidades: uma consumidora, outra cidadã ou comunitária. Em nossa sociedade, a parte consumidora recebe atenção e é alimentada desde que nascemos. Assim, nos tornamos especialistas em consumo: sabemos onde, como e quando encontrar os melhores preços. Sabemos quanto tempo esperar até que a cobiçada camiseta vá para a prateleira de liquidação. Sabemos como navegar na internet para conseguir quase de imediato o que desejamos. Nossa personalidade consumidora é tão desenvolvida que soterrou a outra, a que deveria constituir nossa personalidade central, na condição de pais, estudantes, vizinhos, profissionais, eleitores etc. Assim, falta-nos uma compreensão básica de como empregar o músculo da cidadania.” (183) Etapa 5 – Descarte
  • 7. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 7 Lixo – “Há um exercício que faço sempre que dou palestras em escolas. Pego uma lata vazia de refrigerante e a coloco sobre a mesa. “Alguém poderia me dizer o que é isto?”, pergunto. “É uma lata!”, as crianças gritam. Depois, pego uma cesta de lixo, ponho outra lata vazia dentro e pergunto de novo: “E isto aqui?” “É lixo”, elas respondem. Então, tiro a lata da cesta e a coloco junto de outra, na mesa. “E agora?” “É uma lata.” Não existe diferença entre as duas: elas são iguais! Portanto, a segunda lata é considerada lixo não pelo que é em si, mas por conta do local em que foi colocada. Ou seja, a ideia de lixo tem a ver com contexto, e não com conteúdo propriamente.” (191-192) Próxima revolução industrial – “Hoje Anderson [Roy Anderson, presidente da fábrica de carpetes Interface] defende que matérias-primas virgens precisam ser substituídas por materiais reciclados; o sistema linear de “extrair-produzir- descartar” tem de fazer a transição para um processo cíclico de “cadeia fechada” (em que os materiais são infinitamente reutilizados ou adaptados para que o desperdício seja eliminado); a energia de combustíveis fósseis deve ser substituída por energia renovável; processos dispendiosos precisam alcançar a meta do desperdício zero; e a produtividade de mão de obra deve ser substituída por produtividade de recursos. Em poucas palavras, essa é a direção da próxima revolução industrial – ao menos a parte dela que envolve os materiais.” (196-197) Embalagens – “A mais volumosa categoria de produtos que estamos descartando nos Estados Unidos, e talvez a mais irritante, é a de embalagens e recipientes. Talvez você esteja surpreso por eu chamá-los de “produtos”, mas faz sentido, porque, na prática, funcionam como tal. Com certeza o que você deseja é o creme de amendoim e não o pote; o aparelho de mp3, e não a caixa de plástico; a espuma de barbear, e não o tubo de metal. Só que, muitas vezes, é tão somente embalagem que diferencia as marcas concorrentes. Claro que, no caso de alguns alimentos e itens delicados, o invólucro desempenha a importante função de conservá-los intactos, porém, isso não altera o fato de que ele foi concebido como um produto individualizado que estimula a compra.” (201) Resíduos de demolição – “Felizmente, os custos operacionais do descarte e as crescentes restrições a essa prática, além do desejo de evitar o desperdício e criar empregos, estimularam o surgimento de empresas “de desconstrução”, conforme se autodenominam, voltadas para a recuperação desses valiosos recursos. Ainda que o reaproveitamento eventual de certos elementos de velhas edificações, sobretudo portas, janelas e estruturas de metal, seja uma prática antiga em demolições, na indústria “verde” a desconstrução pressupõe um planejado e meticuloso desmonte, de forma a preservar o máximo possível seus diversos materiais. De Berkeley ao Bronx, empresas desse tipo estão gerando empregos locais que não podem ser terceirizados.” (204)
  • 8. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 8 Resíduo eletrônico – “O lixo eletrônico, ou e-lixo, é o descarte mais tóxico. Abrage celulares, computadores, TVs, aparelhos de DVD, brinquedos, eletrodomésticos, controles remotos etc. É composto por substâncias químicas e metais prejudiciais à saúde, e seu volume aumenta três vezes mais rapidamente que o dos outros tipos de lixo municipal.” (206) Lixo pelo mar – “Pois bem, para onde vão as imensas pilhas de Coisas que jogamos fora? O lixo tem dois destinos principais: é enterrado ou queimado. E apenas uma pequena parte é reciclada. Mas existe outro aspecto importante: carregamentos marítimos de lixo americano são enviados a outras regiões do mundo, muitas vezes sob o disfarce de reciclagem. Além de ser antiético e imoral despejar dejetos contaminados em outras comunidades, no final, os danos à saúde e ao meio ambiente retornam, via ar, água e por meio de alimentos.” (210) Compostagem – “Se conservássemos todos os materiais orgânicos fora dos aterros sanitários, poderíamos praticamente eliminar o metano liberado por eles, o que reduziria o chorume significativamente e manteria o clima mais fresco. Em muitas cidades, restos orgânicos – alimentos, podas de jardim, papel usado – compõem um terço ou mais do lixo urbano. Separar esses restos do lixo sexo ainda dentro de casa (ou da empresa) e tratá-los pela compostagem é a melhor solução. Dessa forma, os recicláveis não estragam pelo contato com os materiais orgânicos, e estes não são contaminados pelos elementos tóxicos presentes nos bens de consumo. Além disso, o resultado é um substancioso fertilizante para o solo.” (213) Programa Descarte Zero – 1. Reduzir o consumo e o descarte 2. Reutilizar os descartados 3. Responsabilidade estendida do produtor 4. Reciclagem abrangente 5. Compostagem abrangente ou biodigestão de materiais orgânicos 6. Participação do cidadão 7. Proibição da incineração de dejetos 8. Melhoria do projeto industrial 9. Apoio político, legal e financeiro ao programa (235) Cultura de Reciprocidade – “Embora haja benefícios materiais em nosso compartilhamento (poupar dinheiro e criar menos lixo), o mais importante é que cultivamos uma cultura da reciprocidade. Em seu livro Bowling Alone, Robert Putnam explica que “redes de engajamento comunitário alimentam sólidas normas de reciprocidade”. Ele menciona dois tipos de reciprocidade: uma específica, em que você realmente mede e negocia tarefas individuais (“eu pego as duas crianças na escola na segunda-feira, você pega na terça-feira”), e outra mais valiosa, em que a reciprocidade é mais generalizada (“eu farei isto por você sem esperar nada em
  • 9. A História das Coisas – Annie Leonard * Por: Evany Nascimento * 9 troca, confiando que alguém fará algo por mim no futuro”). Uma sociedade baseada em reciprocidade generalizada é mais eficiente do que a que negocia cada interação. Às vezes, visualizo esse tecido social que me cerca como uma rede que me seguraria se eu caísse.” (240) Ação coletiva – “Muitos escreveram ao Projeto História das Coisas dizendo que desejam realizar mudanças, mas não sabem o que fazer, pois são apenas indivíduos. Esta é a questão: eu também sou apenas uma pessoa. Mas, quando nos reunimos, podemos atingir objetivos além do alcance individual. Por isso, o primeiro passo é se engajar em uma organização, uma campanha, ou um grupo de amigos e vizinhos de mentalidade semelhante, trabalhando por uma meta comum.” (241) 6. Palavras-Chave Coisas – Consumidor – Consumo – Desenvolvimento – Corporações – Custo – Orgânicos – Sustentabilidade – Sistema complexo 7. Condição de produção do texto (contexto) O livro foi produzido a partir do programa História das Coisas, pesquisas realizadas em vários lugares do mundo sobre a cadeia econômica. Deu origem ao vídeo A História das Coisas com milhares de acessos no youtube. Depois do sucesso do vídeo veio o livro. Evany Nascimento nasci.eva@gmail.com 12 de abril de 2012.