O documento resume o discurso de posse de Eduardo de Araújo Carneiro como novo imortal da Academia Acreana de Letras. Ele agradece aos que o elegeram, destaca sua trajetória de estudos e publicações e critica a falta de apoio à cultura do livro no Acre. Ao assumir a Cadeira no 38, questiona a importância literária de seus antecessores em relação à política. Encerra declamando um poema para sua filha.
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Digníssima Presidente da Academia Acreana de Letras
SENHORAS E SENHORES,
AUTORIDADES,
CONFRADES, AMIGOS
E A TODOS OS PRESENTES
Meu Muito Boa Noite,
Foi com muita alegria e satisfação que recebi a notícia de ter sido eleito como imortal
dessa honrosa academia. Por isso, quero, desde já, agradecer publicamente àqueles
que me dignificaram com os seus respectivos votos, em especial a Professora Dra. Maria
José Bezerra, minha patrocinadora, a quem coube a missão de me indicar ao sodalício.
Quero também estender os meus agradecimentos a todos os confrades que, mesmo não
tendo votando em mim, estão aqui presentes para me acolher nessa cerimônia de posse.
Na minha vida, tudo parece acontecer de maneira bem natural. Há 15 anos atrás eu
nunca me imaginaria um professor universitário, nem um escritor, nem um editor de
livros, nem um doutor, muito menos um “imortal”. Há 15 anos eu era mais um policial
militar à serviço da manutenção da ordem pública. Mas a minha grande virtude foi nunca
ter parado de estudar. O que me faltou na escola pública, onde sempre estudei, eu ia
buscar nos livros por esforço próprio. E foi dessa forma que adotei a Cultura do Livro
como estilo de vida. Abdiquei das “festinhas e baladas” de convites fáceis como é para
qualquer jovem e, desde cedo, dediquei-me aos livros, mesmo vindo de uma família
cujos pais eram semianalfabetos.
A dedicação às leituras acabou me afastando do convívio social e muito dos meus
amigos passaram a dizer que havia me tornado “um ser um tanto antissocial”. Mas a
leitura é uma atividade de caráter individual: eu tive que pagar o preço. Com o tempo,
valeu em mim o provérbio: “quem muito lê um dia se depara com a vontade de escrever”.
Com 21 anos escrevi meu primeiro livro “O Perigo da Apostasia” ainda por ser publicado,
que espelhava bem o jovem religioso egresso do curso de Teologia. Passei a escrever
artigos para jornais até ser colunista durante meses em um jornal local. Hoje, aos 38
anos, tenho 5 livros publicados e mais três em fase final de redação. Apesar das minhas
limitações, de uma fase difícil pelo qual venho passando em minha vida particular, ainda
consegui colaborar com alguns autores locais, alguns dos quais presentes nessa
solenidade, editorando seus respectivos livros. Ao todo já foram mais de 30 livros
editorados em menos de 1 ano, de modo que eu acho que serei lembrado no futuro mais
como editor do que como escritor propriamente dito. Se assim o for, ficarei feliz com isso.
Todos nós da AAL estamos imersos na cultura do livro, mesmo sem saber. Essa cultura
não se restringe apenas à fomentação do hábito da leitura. É preciso promover e
valorizar todo o processo que envolve a produção e o consumo do livro. Nesse processo
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que o ESCRITOR assume um papel fundamental. A biblioteca, templo do livro, também.
E eu como editor estou na base, como um parteiro que ajuda a nascer um filho alheio.
O poder público deveria ser o maior promotor da cultura do livro, no entanto, em nosso
Estado, as Fundações de Cultura estão sucateadas e inoperantes. Mas nem mesmo a
Secretaria de Estado de Educação tem se atentado para isso. Na minha opinião, os
estabelecimentos de ensino deveriam estar comprometidos com a “articização do
escritor” e a “manumentalização das bibliotecas”. Ora, o que é isso afinal?
Valorizar a cultura do livro é, acima de tudo, adotar uma política de ensino que trate o
escritor como celebridade, como um artista. (Torná-lo notório. Engrandecê-lo, enobrecê-
lo, evidenciando-o nas mídias)
Valorizar a cultura do livro é tratar as bibliotecas como um monumento. Um local de
apreço, em as pessoas se sintam atraídas a apreciar a beleza estética das curvas do
conhecimento.
Afinal, se escrever fosse fácil, a comunidade letrada seria composta por escritores.
Porém, o máximo que se consegue, mesmo após terminar uma faculdade ou até mesmo
um doutorado, é se tornar AUTOR de uma monografia ou tese. E vocês sabem que há
uma diferença muito grande em ser autor e escritor. Então vamos homenagear os com
as devidas honras.
No entanto, falta CULTURA DO LIVRO mesmo em estabelecimentos que deveria sobejá-
la. Vou citar apenas o caso da Universidade Federal do Acre:
- Eventos como este da posse de dois imortais não estão sendo prestigiados por
representantes da IFES, mesmo tendo um dos seus funcionários agraciados com a
imortalidade literária;
- Biblioteca e Editora sucateados,
- Coisas escabrosas acontecem, por exemplo, na FICHA DE AVALIAÇÃO DE
DESEMPENHO DOCENTE temos que:
- LIVRO publicados por editoras de circulação regional = 0,6 pts
- Revisão de um documento institucional da UFAC = 0,3 pts
- Editoração de livro = 0,0 pts
- Cargo em comissão em pró-reitoria = 6 pts
- Veja que há uma pedagogia interna na UFAC de valorizar aquele que assume cargos técnicos em vez
de valorizar aquele que escreve livros ou ajuda outro a publicar, como é o caso do editor.
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BEM, assumo a cadeira Cadeira nº 38, que tem por PATRONO Plácido de Castro e como
meu antecessor Jarbas Passarinho.
Pelo ritual do sodalício, o MOMENTO AGORA É DE REVERÊNCIA.
Como novo imortal, teria que, neste momento, reverenciar e destacar as virtudes do meu
Patrono e do meu Antecessor.
No entanto, como pesquisador que sou, após consultar o patrimoniada literário deles,
me dei conta que se tornaram "IMORTAIS" mas por conta da atuação política que tiveram
do que propriamente de seus dotes na arte da escrita.
Mas eu tentei manter-me em uma visão ACREANOCÊNTRICA e, numa leitura vaidosa
dos meus antecessores, destacar, meio que usando uma “lupa” suas qualidades no
campo da literatura. No entanto, como historiador que sou, tenho lentes “anti-epopeicas”
e acabo desacreanizando tudo.
PLÁCIDO DE CASTRO (1873-1908)
Por ironia do destino assentar-me-ei na Cadeira de N° 38, cujo Patrono é nada menos
que José Plácido de Castro. Digo ironia, pois nos meus livros o militar recebe um devido
julgamento histórico desapaixonado de acreanismo.
Portanto, da minha boca não receberá elogios. Nem como escritor, nem como pessoa.
JARBAS PASSARINHO (1920-2016)
Xapuriense, nascido em janeiro de 1920, no entanto, pouco contado teve com o Acre, uma vez
que desde os três anos foi morar no Pará. Se tornou um oficial militar, essa era a sua profissão.
Nos tempos da Ditadura Militar de 1964, se tornou político. Foi um dos principais porta-vozes da
Ditadura Militar no Estado do Pará, indicado como governador do Pará (1964-66).
Em 1967-9, se tornou Ministro do Trabalho. Atuou na pior fase da Ditadura (Mais de 100
sindicalistas foram destituídos).
Quando COSTA E SILVA propôs o famigerado Ato Institucional 5 em 1968, como Ministro, ele
foi um dos que aprovou.
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De 1969 a 1974 foi Ministro da Educação. (MOBRAL e UFAC)
De 1981-83, Presidente do Senado Federal.
De 1983 a 85, foi Ministro da Previdência Social.
De 1990-1992, Ministro da Justiça (Collor)
1967-83 = Senador pelo Pará.
Tornou-se articulista do Estado de S. Paulo e ficou famoso por eleger o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra) como alvo de suas críticas.
Enfim, foi um homem cuja importância política excedeu à literária.
EPÍLOGO
Para finalizar, quero dedicar o meu ingresso nessa honrosa Academia à minha mãe,
Helena de Araújo Carneiro, uma niteroiense (RJ) que residiu no Acre por mais de 15
anos e que veio a falecer precocemente por conta de um diagnóstico errado dado em
um hospital público de Rio Branco. A essa mulher dedico o meu ingresso, uma analfabeta
que soube, do jeito dela, ensinar os seus filhos a se dedicarem aos estudos, de modo
que um virou professor universitário, outra enfermeira e outra médica. Que fique
registrado nos anais desta Academia o nome dela, para que seja honrada in memoria,
já que em vida, foi somente mais uma anônima residente na periferia de Rio Branco.
Encerro o meu discurso declamando um poema de minha autoria, que foi publicado no
meu livro POESIAS NOTURNAS, que seria lançado aqui neste evento caso não tivesse
ocorrido alguns contratempos. O poema que vou declamar é dedicado a pessoa mais
importante da minha vida, a minha filha Sarah Cristina.
Oh, minha pequenina,
Papai sempre vai te amar,
Ao teu lado,
Continuamente vou estar,
E entre os meus braços,
Eternamente iremos brincar.
E mesmo quando a velhice me assaltar,
E o meu vigor me abandonar,
Ao ponto de o meu corpo
Não conseguir sustentar,
O meu espirito há de me renovar.
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A tua cabeça, em meu seio irás reclinar,
Para dos meus lábios os teu ouvido escutar,
Pois em versos irei declamar:
“Minha primogênita,
Comigo podes contar,
Pois neste mundo nada vai nos separar,
E quando para os teus braços eu não mais voltar,
E a minha tremula voz em um suspiro falhar,
E ao pó da terra o meu corpo tombar,
As minhas lembranças te farão dizer com fervor:
- O meu pai sempre foi o meu primeiro amor”.
Eternamente seu pai,
Eduardo de Araújo Carneiro,