Fusca: carro popular concebido na década de 30 ainda encanta os mineiros aficionados
1. E STA D O D E M I N A S ● S Á B A D O , 2 4 D E J U N H O D E 2 0 0 6
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BESOURO
Carro popular concebido na década de 30 ainda encanta os mineiros aficionados, que
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saem em carreata amanhã para celebrar o Dia Mundial do Fusca, o carro mais querido m
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FOTOS AUREMAR DE CASTRO k
Francisco já Caixa de ferramentas
teve sete no estepe é
modelos: o atual protegida pela
é um Fusca S 1.6, calota: original vale
de 1975 R$ 3 mil
Jurcélio mostra rádios antigos para o colecionador Milton Sálvio
Procissão de fé
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
DANIEL CAMARGOS A paixão do dentista e professor uni-
versitário Édson Mariano, de 59, também
Para um bom fiel, domingo é dia de tem raízes na nostalgia. “Vim de família
celebrar o objeto de adoração, calçar um humilde e, quando era rapaz, nunca tive
sapato lustrado, vestir uma camisa bem Fusca. Depois que comecei a trabalhar,
passada e ir ao templo. Para quem reza o passei a colecionar carros importados.
rosário do Volkswagen Sedan, o conheci- Há cinco anos vi um Fusca na rua e um
do Fusca, amanhã é dia de calibrar os filme passou na minha cabeça e decidi
pneus, encerar a lataria e se dirigir até a comprar um modelo”, lembra Mariano.
Rua Guajajaras, no Barro Preto, entre o Depois da primeira compra, um mode-
Fórum Lafayete e a sede do Cruzeiro, às lo de 1971, vieram mais sete e hoje o den-
8h. De lá, os motoristas saem em carrea- tista ostenta uma coleção de oito modelos.
ta até a o nº 4000 da Avenida Cristiano No encontro, exibia orgulhoso uma das
Machado, no bairro União. jóias da sua garagem, um modelo de 1956.
Anteontem fez 72 anos que Ferdi- Impecável, o carro tem a caixa de ferra-
nand Porsche assinou o contrato para mentas original, que fica protegida pela ca-
desenvolver o Fusca. Só no Brasil, foram lotado estepe. O acelerador tem a forma de
3 milhões de unidades fabricadas, o que uma roldana e a seta, que sai da coluna B, é
explica o número de fiéis que, na noite conhecida como bananinha. Só a caixa de
fria de terça-feira, se reuniram no esta- ferramenta original é avaliada em R$ 3 mil.
cionamento do shopping para celebrar a Robson segura o farol de seu modelo 1953, que ficou conhecido como ‘caça-mulata’
existência do carro, como fazem todas as SINCRONIA O tom nostálgico do encon-
semanas. O presidente do Clube do Fus- tro foi embalado pelas canções da dupla
ca de Belo Horizonte, Amauri de Oliveira, lo S, de 1975, com motor 1.6, "um dos to anos depois, a pedido do então presi- Marquinhos Carvalho e Chiquinho. “O
espera repetir o sucesso do ano passado, mais nervosos" da família Volkswagen Se- dente Itamar Franco, o carro voltou à li- pessoal aqui gosta mesmo é de música
quando mais de 100 carros participaram. dan. “Trouxe esse carro de São Paulo. Na nha de montagem e sobreviveu até 1996. antiga: bossa nova, Frank Sinatra e bole-
Se depender do ânimo do analista de volta, enfrentei um congestionamento e, Itamar havia sugerido um carro tão bara- ro”, destaca o tecladista Marquinhos. En-
sistemas Francisco do Prado, de 26 anos, a de repente, estava do lado de fora do car- to quanto o Fusca, mas não o besouro. quanto Chiquinho, a voz da dupla, entoa-
procissão não contará só com os antigos ro, desparafusando o farol, só para confe- Dois anos antes de a sugestão de Ita- va Tarde em Itapoã, o vendedor Jurcélio
beatos, que transformam o Fusca em rir se era original mesmo. Fusca é isso, te mar ser acatada, Robson saiu em busca César usava até um chapéu para dimi-
símbolo de uma época que não volta. deixa encantado”, explica Francisco. de um carro que relembrasse os tempos nuir o frio. Jurcélio é vendedor de peças
Quando Francisco decidiu comprar um da juventude. “Queria um Karmann- para carros antigos e não tem dúvida de
carro, em 2000, já tinha quatro anos que o TRAJETÓRIA O mistério da fé é mais sim- Ghia, mas quando fui procurar achei di- que sua maior freguesia são os proprietá-
modelo não era mais fabricado no país. ples para o bancário Robson Fernandes, versos fuscas da década de 60”, lembra. rios de Fusca. “Esse aí pára até esses carri-
"Queria um Chevrolet Chevette, mas não presidente do Fusca Clube de Belo Hori- Robson comprou um Karmann-Guia e nheiros na rua para ver o que tem de fer-
achava um em bom estado. Acabei en- zonte. Nascido em 1947, Fernandes era aproveitou para levar um Fusca 1.2 de ro-velho. Junta os pedaços e faz uma ou-
contrando um Fusca" , lembra Francisco. criança quando o Fusca começou a ser 1963. Ficou com o VW quatro anos e ven- tra peça”, diz o oficial de justiça Milton
Francisco tornou-se fã do VW e já teve importado da Alemanha, em 1950. Foi deu para comprar outro, que tem até ho- Sálvio, fazendo publicidade do vendedor.
outros sete. Hoje, ele roda em um mode- testemunha da história do modelo, que, je: um 1953 alemão, com o vidro traseiro Sálvio transformou seu Fusca 75, que
em 1953, passou a dividido e um farol auxiliar na coluna A, comprou zero, em um carro mais confor-
ser montado aqui. ao lado do motorista, que ficou conheci- tável. Colocou banco de couro, vidro elétri-
A nacionalização do como “caça-mulata”. “O carro é uma co, rádio com MP3, um volante de VW Gol,
só veio em 1959 e sensação no trânsito, uma volta ao passa- painel de SP2, rodas de Porsche 356, freio a
durou até 1986. Oi- do”, explica Robson. disco nas quatro rodas e espera a chegada
de um equipamento de ar-condicionado
dos Estados Unidos.
Até 2003, o Fusca
era relíquia de gara-
gem, mas o oficial
de justiça decidiu
colocá-lo para rodar
e já investiu R$ 33
mil. Fez um esforço c
para deixar a nos- m
talgia e colocar um y
ar de modernidade.
Algo como trocar a k
MPB de Marqui-
nhos e Chiquinho
pelas canções de Ri-
chard Clayderman,
que tocavam no
MP3 do Fusca
modernizado.
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO