Este documento relata sobre:
1) Um levantamento que mostrou que metade dos comerciantes do bairro Pilarzinho foram vítimas de crimes nos últimos 15 meses, totalizando prejuízo de R$216 mil.
2) O Pilarzinho receberá uma nova creche no ano que vem, anunciada pelo prefeito durante assinatura da ordem de serviço para a obra.
3) Um grupo de idosos do Pilarzinho faz passeios mensais organizados para proporcionar lazer e interação social. No mês, o
1. 100%
fUtebol
Conheça a história de Levi
Mulford, um jornalista que
não perde um lance do futebol
Marco André Lima/ Do Quintal
paranaense há 57 anos. Pág. 15
Do Quintal
R$ 1,50 25 de agosto a 25 de setembro de 2010 - Ano I - Número 2
Um jornal a serviço dos moradores da região do Pilarzinho, Mercês, Vista Alegre, Abranches e São Lourenço
Um túnel,
muitas
histórias
Uma misteriosa construção subterrânea nas
Mercês atiçou a curiosidade e a imaginação
de gerações e gerações. Nesta edição, o
Do Quintal traz as únicas fotos já feitas em
seu interior e a versão de um arquiteto e
historiador que desvendou o segredo do
local. Págs. 6 e 7
Key Imaguire Júnior
Arquivo Jaime Gava
O caminho
» Bicicleta: adote essa idéia
No mês da bicicleta, a estreia
da seção voltada ao transporte
humano e alternativo. Pág. 4
das pedras
EDUCAÇÃO
» O Enem e as escolas
Notas do Enem 2009 retratam as
dificuldades que enfrentam as escolas
estaduais para manter uma boa
qualidade de ensino. Págs. 10 e 11
Antigamente, Pilarzinho, Abranches e Vista Alegre era a
» Candidatos respondem
região das pedreiras. Hoje é a dos parques. A família Gava
Perguntamos aos candidatos a
foi uma das que trabalharam na extração de pedras, que governador Osmar Dias e Beto Richa
ajudariam a construir a Curitiba de hoje. Págs. 8 e 9 o que eles propõem para resolver os
problemas das escolas estaduais.
E eles responderam. Pág. 12
2. Curitiba, 25 de agosto a 25 de setembro de 2010
»2 Do Quintal
CARTA AO LEITOR
É fácil fazer Insegurança no Pilarzinho
um jornal
Fazer um jornal é fácil. Fazer um bom jornal é
é alarmante, diz pesquisa
L
muito difícil. O Do Quintal escolheu a segunda
opção. E nesta segunda edição, damos mais evantamento sobre a criminalidade no Pilarzinho os 93 pequenos e micro empresários pesquisa-
um passo para consolidar nosso projeto de mostrou dados alarmantes. Dos 93 empresários dos representam 18,5% dos 503 estabelecimentos
levar informação de boa qualidade ao nosso pesquisados, 50 afirmaram terem sido vítimas de de comércio varejista em atividade no bairro, con-
leitor. Temos como princípio que o jornalismo assaltos, roubos ou arrombamentos entre janeiro de forme números da Prefeitura Municipal referen-
deve ter uma função social que esteja acima do 2009 e maio deste ano. No total foram 134 ocorrências, tes a 2007. ou seja, de acordo com a pesquisa, quase
mero interesse econômico, comercial. É claro pois muitos foram “visitados” pelos criminosos mais de 10 por cento dos comerciantes do bairro foram ví-
que nem uma empresa ou negócio sobrevive uma vez. o prejuízo declarado foi de R$ 216, 390,00. A timas de criminosos em um período de 15 meses.
só com bons princípios. Mas acreditamos pesquisa foi feita por um
ser possível ter um retorno econômico não grupo de moradores que » 14 vezes
participam da Rede de os empresários, que res-
De 93 comerciantes
tendo que abrir mão dá ética e do respeito à
inteligência do leitor. Desenvolvimento local, ponderam o questionário
Por isso, lançamos a primeira edição com
organizada pelo sistema
fiep-Sesi. os resultados
pesquisados, 50 disseram sem se identificar, informa-
ram que das 134 ocorrên-
recursos próprios. Para mostrar que um
chamado “jornal de bairro” pode sim ser um
serão levados às autori- ter sido vítimas de cias, 74 foram assalto à mão
dades do setor. armada e 60 arrombamen-
veículo sério, comprometido com quem o lê,
A proposta de se fa- criminosos, num prejuízo tos. Só um dos entrevistados
ajudando a resgatar a sua história, enaltecendo
o que há de bom e criticando o que precisa
zer um questionário
para ser respondido por
de mais de R$ 216 mil afirmou que seu estabeleci-
mento foi atacado 14 vezes
ser mudado. Nosso compromisso é com isso
e com questões que consideramos basilares
comerciantes locais sur- em apenas 15 meses no período, quase uma vez
giu da constatação de por mês. o horário dos
para a boa qualidade de vida: a educação e o
que boa parte das víti- crimes variou bastante. A
meio ambiente, como mostram as reportagens
mas de crimes não re- maior parte foi de madru-
desta edição.
gistra queixa na polícia. Situação que foi comprovada gada (17 ocorrências), em seguida das 18h às 20h (15), das
É para continuarmos trilhando esse caminho, que na pesquisa, onde 23 das 50 vítimas disseram não ter 13h às 17h (11), das 7h às 13h (4) e das 21h às 24h (3).
pedimos a você, leitor, que nos apóie nessa registrado a ocorrência. Por isso, os dados oficiais não Por fim, o levantamento mostrou pouca confiança
empreitada. Primeiro nos dando a honra da refletem o que realmente acontece. Com o levantamen- dos comerciantes nas providências policiais. Do total de
leitura. E depois, se gostou do que leu e acha to pretende-se contribuir para que os responsáveis pela vítimas, apenas 27 registraram a ocorrência na polícia.
importante uma publicação como essa, que segurança pública tenham dados reais nos quais se base- Destas, apenas seis disseram ter tido notícias dos crimi-
divulgue o Do Quintal aos amigos, vizinhos, ar nas futuras ações. nosos.(DSF)
colegas. Inicialmente para divulgar o produto
estamos distribuindo o jornal em condomínios, Marco André Lima
aos alunos do ensino médio das cinco escolas
estaduais da região, no comércio e em áreas
residenciais dos cinco bairros. Mas ele também
é colocado à venda em bancas e outros pontos
comerciais. Se você o recebeu gratuitamente
em um condomínio, por exemplo, junte os
vizinhos que apóiem a idéia e entre em contato
conosco para garantir que o jornal continue
sendo entregue mensalmente no local. Com
R$ 1,50 não dá nem para dar uma volta de
ônibus em Curitiba, mas dá para ficar bem
informado todo mês sobre o que aconteceu
e o que acontece em seu bairro.
» FALECIMENTOS
Ivo Correia Félix
É com pesar que registramos o falecimento de Ivo Cor-
reia félix, aos 55 anos. Comerciante e morador do Pilarzi-
Antenado
nho, ele foi um dos grandes incentivadores do lançamento
do Do Quintal, mas não chegou a vê-lo pronto.
Roberto Bittencourt (*) alguém interessante morava por ali sar de não ter me ligado como pro-
ou alguma coisa curiosa, alguma coi- meteu; sei que o Douglas também
Casa nova, bairro novo e também
Benjamim Basso sa boa acontecia na região da Cruz... mora, ali, mais para baixo e que exis-
o ânimo se renova. Ainda que do
lamentamos o falecimento de benjamim basso, cuja his- e isso persistiu até há poucos anos, te o bar do osni na minha rua, onde
Vista Alegre até o Pilarzinho seja um
tória foi contada na edição passada. ele tinha 83 anos e estava quando, já morando no Vista Alegre, a única coisa de que eu não gosto é
pulo, como se diz, os ares de ambos
hospitalizado, em estado vegetativo, há um ano e meio. resolvo esticar uma caminhada até do som extremamente alto que rola,
os bairros são distintos e isso se per-
a feira-livre que, em frente à Cruz, de vez em quando, por ali. Mas uma
cebe dos buracos nas ruas aos beirais
funciona aos sábados pela manhã. das coisas que mais me impressio-
com lambrequins. tanto num quan-
Não, se fosse um bairro distante do na é o fato de eu vir morar aqui no
to noutro, peculiaridades.
EXPEDIENTE Do Quintal Mas o que importa, o que que-
ro contar por puro desejo de com-
centro de Curitiba, um Sítio Cerca-
do, um Atuba tudo bem, mas aqui, a
tão ouvido, no tão sonhado, no tão
querido e desejado Pilarzinho, jus-
dez minutos do centro... bem, como tamente bem próximo à Cruz, que,
partilhar contigo é sobre a sensação
Propriedade da Editora ETC e Tãao – CNPJ: 12.339.920/0001-18
nada acontece por acaso, aqui estou hoje, já não causa aquele tipo de
de vir morar num bairro que, muito
Jornalista Responsável: Ângela Ribeiro DRt 1574 a arrumar pertences, a contribuir impressão de outrora. Mas que per-
antes de frequentar as páginas po-
Diretor de Redação: Douglas de Souza fernandes com um dos sistemas de habitação manece marco num espaço onde,
liciais, o que hoje não é privilégio
além do poeta Paulo leminski es-
Projeto gráfico e diagramação: eduardo Picanço Aguida deste ou daquele, atiçava a minha e a aguardar a estúpida lentidão de
truturar sua inquietação, seus ca-
e Paulo Augusto Krüger de Almeida. imaginação nas noites solitárias dos uma das operadoras de telefonia fixa
prichos e seus relaxos e de o Helio
Fotografia: Marco André lima (marcolimaphotos@yahoo.com). anos 70, quando cheguei em Curi- para, depois de um mês, enfim, visi-
leites abotoar-se todo, também
tiba: na Cruz do Pilarzinho, próxi- tar minha caixa de mensagens, atu-
Endereço: Rua Professor Ignácio Alves de Souza filho, 343, o edílson Del Grossi e o Roberto
Pilarzinho, CeP 82110-450. mo à Cruz do Pilarzinho... talvez alizar meu blog e fazer uma ligação
Prado elevam suas antenas no enre-
pela ainda recente proximidade para Campos Novos.
Telefones: 3527-0501 e 8875-3197. dar das torres que aqui se alinham.
E-mails: jornalismo@doquintal.com.br, contato@doquintal.com.br, dos rituais católicos que, de algum Imaginas que tudo acontece as-
comercial@doquintal.com.br. Site: www.doquintal.com.br modo, povoavam o meu imaginário sim mesmo: a Cruz fica logo ali; sei (*) Roberto Bittencourt é poeta,
Impressão: editora o estado do Paraná desde menino. o fato é que sempre que a Verinha mora na região, ape- jornalista e morador do Pilarzinho
3. Curitiba, 25 de agosto a 25 de setembro de 2010
Do Quintal »3
Um passeio que
rejuvenesce
Simony Daian Huck
Creche para
Um grupo de idosos do Pilarzinho teve
mais um dia especial no último dia 21
de agosto, um sábado. Desde março,
eles fazem um passeio mensal
o Pilarzinho
organizado pela funcionária de
saúde Jane Carla Joly e a professora
Sônia Brüsch, moradoras do bairro.
Desta vez foi no Pesque e Pague e
Lanchonete Mina D’água, localizado
no Cascatinha, em Santa Felicidade.
amentos da Cohab, e também áreas de ocupação que estão sendo
urbanizadas”, disse luciano Ducci. Atualmente, a Prefeitura tem
A idéia do passeio surgiu durante as 41.058 crianças matriculadas na educação infantil.
aulas de alfafabetização para idosos o prefeito assinou também editais para a pavimentação de 90
que Sônia ministra gratuitamente ruas, pelo programa Asfalto Cidadão. São ruas de saibro em 22
desde o início do ano. Segundo ela, bairros que ganharão asfalto definitivo. os recursos são de emen-
O prefeito Luciano Ducci durante a assinatura
é uma forma de propiciar momentos da ordem de serviço para a obra. das parlamentares dos vereadores.
de lazer e interação social para os No Pilarzinho, será asfaltada a Vansolino Granato. No Vista
senhores e senhoras que na maior o Pilarzinho ganhará uma nova creche no ano que vem. o Alegre, a Chafic Cury.
parte vem de famílias sem condições anúncio foi feito pelo prefeito luaciano Ducci, que assinou no dia No Abranches ganharão asfalto denifitivo as ruas: Walfrido leal,
para tal. 3 de setembro a ordem de serviço para a obra. Além do Pilarzinho, Maria falate,José Manoel S. Souza, João falate, José Izar, Roberto
outros oito bairros receberão o equipamento. No total serão aber- luiz bohnenstengel, todas na Vila Nossa Senhora de fátima; no Jar-
Sem apoio oficial, foram as duas que
tas 1.600 vagas para crianças, sendo 150 no Pilarzinho. dim Área Verde: Genésio Ramalho, Waldemar Reikda, Miguel Dias
por conta própria conseguiram um
Serão investidos R$ 11,1 milhões na construção desses Cen- Gonçalves e Dr. Carlos eloy Reichmann; no Jardim Camila, Stefa-
ônibus gratuitamente da empresa
tros Municipais de educação Infantil. “As novas creches atendem, no triska. leya Marques Vieira, Rodovil liodor brenner e Massa-
Nossa Senhora do Carmo, que
principalmente, áreas de expansão da cidade, que receberam lote- mori Inouhe; e, finalmente a rua Dovico Dal Prá.
todo mês coloca um motorista à
disposição. São elas também que
arcam com as despesas dos lanches
servidos em todo passeio. Apesar
disso, as duas dizem que o trabalho » Terceira idade de Melo, a oferta desses cursos atende a uma demanda cada vez
é compensador. ““Ver a felicidades A Paróquia São Marcos reúne uma série de atividades voltadas maior do mercado que se ressente da falta de profissionais qua-
dos idosos é motivador. Eles ficam para a terceira Idade, através do Grupo Primavera e do Grupo São lificados.
Marcos. o primeiro se reúne todas as segundas-feiras e o segundo,
contentes com coisas simples”, diz
nas quartas-feiras no salão da Paróquia, sempre das 13h30 às 17 » Cursos gratuitos -Construção Civil
Sônia. horas. Ali, os idosos participam de cursos de trabalhos manuais, estão abertas as inscrições para cursos de carpinteiro, eletricis-
Os participantes concordam. “O passeio tais como bordados, tricô, crochê etc. A paróquia tem ainda um ta, encanador, gesseiro, mecânico de manutenção e pintor ofere-
programa de atendimento às mães carentes através do Clube da cidos pelo programa Próximo Passo, coordenado pela Secretaria
é muito bom, pois a gente distrai e sai
Ação Social São Marcos, onde têm aulas de costura, trabalhos ma- Municipal do trabalho e emprego, com recursos do Ministério
da rotina”, afirma Sebastião Barbosa. nuais e outras orientações. Informações podem ser conseguidas do trabalho e emprego. Ao todo são 1.176 vagas para os sete cur-
“Esses passeios são bons para reunir na própria paróquia. sos de qualificação na área de Construção Civil. Podem participar
os colegas e jogar baralho e cantar pessoas beneficiárias e dependentes do bolsa família.
modas de viola”, completa o Antônio » Bocado do Pobre ***
Tuler, violeiro do grupo. Todos dizem Um outro programa social desenvolvido na Paróquia São Mar- As inscrições podem ser feitas nas Agências do trabalhador
que se sentem mais jovens após os cos é o bocado do Pobre, que entrega cestas básicas para famílias nas ruas da cidadania e nos Centros de Referência da Assistência
passeios.
carentes. essas famílias são cadastradas por voluntários da comu- Social , da fundação de Ação Social de Curitiba. As inscrições fi-
nidade, que as visitam para conhecer suas condições de vida. os carão abertas até fecharem todas as turmas, em outubro.
Com a implantação do Projeto de alimentos das cestas são doados pelos paroquianos que levam os
Desenvolvimento Local no bairro, produtos na missa do segundo domingo do mês. As cestas básicas » Transporte e alimentação
iniciativa da Fiep/Sesi, tanto
são entregues no terceiro sábado do mês, às 9h da manhã, na Pa- As aulas são dadas no Senai, na rua João Viana Seiler, 116, no
róquia São Marcos.
o passeio quanto as aulas de bairro Parolin. Pela manhã as atividades são das 8h às 13h e pela
alfabetização foram incluídas nele. tarde das 13h30 às 18h30. os cursos têm duração de 200 horas/
» CuritibAtivação aula, sendo que 80 horas são teóricas e 120 práticas. Além de ser
Mesmo assim, as duas voluntárias A Regional da boa Vista realiza o projeto CuritibAtivação, que gratuito, o aluno recebe vale transporte e lanche para participar
continuam sem apoio para manter incentiva os moradores para a prática correta do esporte. Profis-
dos cursos.
as ações. Quem quiser contribuir sionais medem o peso e a altura das pessoas interessadas em des-
cobrir uma atividade física ideal para seu tipo físico. trata-se de
com esse trabalho entre em contato
ume evento itinerante que acontece periodicamente para desen- » Liceu de Ofícios
pelo telefone (41) 3271-7404 ou
volver a educação para o esporte. Se você quer saber onde o Curi- o liceu de ofícios do Pilarzinho oferece o curso Como Secre-
e-mail rede@fiepr.org.br .(DSF com tibAtivação de setembro vai acontecer, basta ligar para o telefone tariar com Sucesso, no período de 20 a 24 de setembro, das 18 às
colaboração de Simony Daian Huck). 3313-5644. 22 horas. e de 4 a 8 de outubro, interessados em aprender a fazer
bombons e trufas poderão participar do curso que acontecerá no
Simony Daian Huck
» Cursos no Bento Munhoz período da manhã. todos os cursos são gratuitos e voltados para
o Colégio bento Munhoz, do Pilarzinho, criou projetos para pessoas acima de 16 anos, que tenham feito a 1ª série do ensino
se aproximar da comunidade. São grupos de Horta e Jardinagem, Médio. o liceu de ofícios do Pilarzinho fica na rua Miguel de
família na escola, Cidadão com educação, Pichação e Valoriza- lazzari, s/n, ao lado do Posto de Saúde Vista Alegre. telefone :
ção, História e Memória e o curso estratégias de estudo: um dife- 3240-1301.
rencial para o Vestibular. Para isso, a escola tem buscado parcerias,
incentivando os pais e moradores da região a formar uma progra- » Centro de Criatividade
mação que envolva não só os alunos como a própria comunidade. o Centro de Criatividade do Parque São lourenço oferece
cursos nas áreas de música, pintura e desenho. As inscrições são
» Profissionalizando permanentes. Informações pelo telefone 3313-7192 ou 3313
o Colégio Guido Straube, no Vista Alegre, tem trabalhado no -7193. os cursos oferecidos são: oficina de Artes Infanto – Ju-
sentido de oferecer um diferencial na região. Com um total de 612 venil, oficina de Modelagem Infantil, Clube de Modelagem,
alunos, o colégio busca atender a uma camada de jovens interes- oficina de História em Quadrinhos, Ateliê de Desenho Artís-
sada no ensino técnico-profissionalizante. este ano, o colégio ofe- tico , Cerâmica, encadernação,entalhe, Marchetaria, Mosaico,
rece os cursos: técnico em Secretariado, Cuidados com Pessoas Pintura em cerâmica, Pintura em tela, Restauro em madeira e
O dia começou com um café da manhã Idosas e Agente Comunitário. Para o ano que vem, o colégio pre- móveis, tecelagem iniciante, Violão Popular na Música brasilei-
ao ar livre, em Santa Felicidade. tende oferecer o curso de enfermagem. Para a diretora, Rosália ra, Violino e Yoga.
4. Curitiba, 25 de agosto a 25 de setembro de 2010
»4 Do Quintal
Maior idade
Envelhecimento da população exige
que o país e a sociedade se repensem Diferentes,
mas com
A hora e a vez direitos iguais
Não há um perfil único de quem passa dos 60, 65
da terceira
anos de idade. Boa parte continua trabalhando
mesmo depois da aposentadoria. Uns gozam
de boa saúde e seguem serelepes as décadas
seguintes; outros, por problemas vários,
ficam dependentes de terceiros até para se
idade
locomover. Uns aproveitam para ter uma
vida mais tranqüila, viajar, fazer o que não
básicos a essa faixa etária. A própria sociedade ainda
conseguiam quando mais jovens; muitos outros
precisa aprender a conviver com essa nova realidade.
são obrigados a trabalhar em subempregos
o preconceito com quem chegou às maiores idades é
para garantir a própria sobrevivência ou ajudar
comum, uma das consequências desta sociedade cada
filhos e netos.
vez mais competitiva e com produtos cada vez mais
O
fato de que o brasil está ficando com uma po- descartáveis, onde o próprio ser humano passa ser vis- Pesquisa feita este ano pela empresa GFK
pulação cada vez mais envelhecida não é novi- to como descartável. levantou que a “terceira idade” no Brasil tem
dade. o antigo país dos jovens segue uma ten- A luta para que os mais velhos tenham voz e vez na um potencial de consumo de R$ 7,5 bilhões,
dência mundial, a do aumento da expectativa de vida sociedade deveria ser de todos, já que desde que nasce- mais que o dobro da média nacional. Ao
e da diminuição do índice de natalidade. Hoje, já são mos começamos a envelhecer. então, quando o jovem mesmo tempo, neste país de contrastes,
quase 20 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, luta hoje por espaço digno para os “maduros” não está milhões de idosos ainda não dispõem do básico
ou 10% de toda a população. o IbGe apurou que, em fazendo mais que lutar pelos seus próprios direitos no para a sobrevivência com dignidade, como a
2008, as crianças de 0 a 14 anos eram 26,47% da popu- futuro. ou seja, está lutando por ele mesmo. assistência à saúde, alimentação adequada, o
“
lação brasileira, e as pessoas com mais de 65 anos re- convívio familiar, acesso ao lazer e atividades
presentavam 6,53%. Para 2050, a estimativa é a de que sociais.
esses mais jovens representem apenas 13,15% , metade A velhice é a última
E foi justamente para garantir esses direitos que há
do atual, e os mais velhos correspondam a 22,71 % dos chance que a vida sete anos foi criado o Estatuto do Idoso, através
brasileiros, ou seja, mais que o triplo de 2008. nos oferece para acabar da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Nele
esses números trazem uma boa e uma má notícias.
o lado bom é que a extensão da expectativa de vida é
de crescer, madurar constam tudo que os membros da terceira
resultado de avanços tecnológicos e melhorias na qua- e, finalmente, terminar idade podem exigir legalmente e as punições a
quem desrespeitá-los.
lidade de vida em geral.o lado ruim, e preocupante, é de nascer” (*)
que o brasil ainda não está preparado para atender ade- A íntegra do Estatuto do Idoso pode ser vista na
quadamente a todo esse contingente de novos idosos. * A frase está no artigo que o teólogo Leornardo Boff es- internet. Um dos sites que a fornece é o Guia
e não é só por parte do governo, que além de uma creveu ao completar 70 e que o nosso site (www.doquintal. Serasa de Orientação ao Cidadão (WWW.
previdência digna deveria garantir os outros direitos com.br) transcreve na íntegra. serasaexperian.com.br/guiaidoso)
» DENUNCIE
Curitibanos com mais de 60 anos hoje e em 2020 Se você for vítima ou presenciar quaisquer casos
de maus-tratos ou de desrespeito ao Estatuto
2010 2020 do Idoso, ligue para o 0800-410001. Este é o
número do Disque Idoso, que atende a todos
Idade Homens Mulheres Total % Homens muheres Total %
os municípios do Paraná. Alem de receber
60-64 28.694 37.222 65.919 3,63 39.297 54.231 95.528 5,04 denúncias, inclusive anônimas, o serviço
presta informações, orientações e encaminha
65-69 19.230 26.536 45.766 2,52 30.598 44.826 75.424 4,07 reclamações em relação ao idoso. Em Curitiba,
70-74 13.245 19.450 32.695 1,80 20.848 32.051 52.899 2,85 o serviço atua em parceria com a Fundação de
Ação Social e o Ministério Publico.
75-79 8.615 14.780 23.395 1,29 12.229 20.885 33.114 1,79
O serviço funciona nos dias úteis das 8h30 às 12h
80 e + 8.964 17.718 26.682 1,47 12.709 26.294 30.003 2,10 e das 13h30 às 17h30. Ele pode ser acessado
pelo e-mail disqueidoso@setp.pr.gov.br.
Total 78.748 115.706 194.454 10,70 115.681 178.287 293.968 15,86
» Direito à vaga
Curitiba 869.25 948.109 1.817.434 100 880.976 973.074 1.854.050 100
Por lei federal, quem já completou 60 anos tem
Fonte: Ipardes e IPPUC direito a vagas especiais no trânsito. Em
Curitiba, existem 8.260 vagas regulamentadas,
das quais 5% são reservadas ao idoso,
conforme determina o Conselho Nacional
de Trânsito (Contran). Mas, para utilizá-las,
é necessário tirar credencial na Urbs. Para
divulgar isso e os direitos dessa faixa etária
no transporte publico, a Fundação de Ação
Social (FAS), em parceria com o Conselho
Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, lançou
a campanha “Respeito ao Idoso no Trânsito” .
» Valor é igual
A credencial garante a vaga, mas não exime do
pagamento. Assim, nestas vagas, o usário
tem que deixar no painel, além da credencial,
o cartão do EstaR que custa R$ 1,00 a hora.
Para fazer o credenciamento é necessário
preencher cadastro na Urbs (www.urbs.curitiba.
pr.gov.br). O uso da credencial é obrigatório
também em áreas privadas - como hospitais,
supermercados etc. Preenchido o cadastro, a
Urbs agenda por e-mail ou pelo no próprio site
a data em que a pessoa deve comparecer para
autenticação da documentação e retirada da
credencial.
5. Curitiba, 25 de agosto a 25 de setembro de 2010
»5
Do Quintal
BiCiCLeTa
Luis Claudio Patrício
Um dia
para pensar
lcpatricio@gmail.com
Dia sem carro
No dia 22 de setembro é comemorado no mundo inteiro o dia sem
carro. O que acontece nesse dia? Em muitas cidades adota-se
a medida mais óbvia: a restrição ou até mesmo a proibição da
no carro
circulação de veículos motorizados individuais. Mais do que um
simples ato simbólico que promove, pelo menos um dia por ano,
uma redução drástica nos níveis de poluição e ruído; o dia sem
carro pode servir de laboratório para transformações permanentes O dia 22 de setembro é uma
no cenário urbano, através da avaliação e projeção do impacto das
ações temporárias. Tornando as cidades mais humanas e agradáveis data para pensar no que
através da valorização do espaço público e das pessoas.
queremos para o futuro
Mês da Bicicleta
C
Há três anos que a data é celebrada em Curitiba de forma independente uritiba realiza no dia 22 de Nesse dia, ficará fechada para acesso aos trechos interditados.
a partir de diversas iniciativas populares. Tudo começou em 22 setembro mais um Dia sem o trânsito de automóveis o tre- Para este ano, a prefeitura orga-
de setembro de 2007, quando um pequeno grupo se reuniu no Carro. Mais do que buscar cho mais central da avenida Ma- nizou uma programação cultural
Parque São Lourenço para lembrar o Dia Sem Carro. Surgiram a diminuição momentânea do rechal Deodoro - da rua João para incentivar a adesão da po-
tantas idéias, que ficou impossível realizar tudo num só dia. Com tráfego de veículos na cidade, a Negrão à Marechal floriano pulação. os espaços destas ruas
o tempo, chegaram mais pessoas e mais idéias, até que surgiu o data é um momento para refle- Peixoto, assim como os acessos que, normalmente, são usados
Mês da Bicicleta, ou a Arte Bicicleta Mobilidade, um festival que xão sobre os problemas cada vez à praça tiradentes, rua barão do por carros, vão abrigar terráreo,
ocorre durante todo o mês de setembro, com atrações culturais, mais graves causados pelo uso in- Rio branco entre o Paço Muni- Condomínio da biodiversida-
esportivas e educativas. Todas as atividades surgiram de propostas tenso de automóveis nas cidades. cipal e a André de barros. Ape- de, feira de produtos orgânicos,
populares, onde muitas vezes o papel do organizador e espectador e um convite ao uso de meios de nas ônibus, bicicletas, pessoas atrações artísticas, jogos e brin-
se confundem. São pessoas ou grupo que apóiam a mobilidade transporte sustentáveis, como a a pé e veículos de serviços es- quedos, educação de trânsito,
sustentável e que através de pequenas ações independentes bicicleta. senciais e de emergência terão artesanato e exames de saúde.
ajudam a transformar o seu próprio bairro. O objetivo é promover
a discussão a respeito dos problemas gerados pelo excesso de
trânsito motorizado, demonstrar a viabilidade da bicicleta como
meio de transporte e ajudar quem estiver interessado em usar
menos o carro. Além dos vários voluntários, alguns dos grupos
envolvidos são: Ciclovida – UFPR, Grupo Transporte Humano,
Coletivo Interlux e Sociedad Peatonal. Alguns deles são aqui mesmo
da região: Fernando Rosenbaum (Abranches), Goura Nataraj
(SãoLourenço) e André Caon Lima (Mercês).
O que acontece de 18 a 29 de setembro
18 - Tweed Ride Bolha no Passeio Público
É um passeio elegante de bicicle- com Locomotiva
ta, como nos bons tempos. Você 18h30 - Passeio Público
pode vir com a bike que quiser,
25 – II Curitiba Acclechic
mas use o seu traje mais fino.
Concentração: 15h / saída 16h | Das 15h às 18h | Praça 29 de Índice carro-habitante é o segundo maior do país
Paço da liberdade - Praça Gene- Março
roso Marques 26 – Bike Voadora – Curitiba tem a segunda população mais moto- literalmente pararia.
21 e 28 - Oficina de basta subir e pedalar para gerar rizada do país, só perdendo para São Caetano do » Ter carro não é o problema
construção de veículos energia e rodar cata-ventos Sul (SP). Há 488 carros para cada grupo de mil ha- Últimos levantamentos do Denatran calculam
fantásticos 14h - MoN - Museu oscar Nie- bitantes na cidade. Já a capital paulista, pródiga em uma frota de 35, 6 milhões de automóveis no brasil,
9h ás12h e das 14h ás 17h - Cen- congestionamentos, está em nono lugar, numa pro- um crescimento acima de 60% em 10 anos. e a facili-
meyer – Rua Marechal Hermes,
tro de Criatividade de Curitiba porção de 412 carros por mil habitantes. esses são dade de crédito, isenção de impostos e outros incen-
(Rua Mateus leme, 4700) – 999 alguns dos dados levantados pelo Departamento tivos apontam que a comercialização de veículos só
33137191 26 – Campeonato Nacional de trânsito (Denatran) e divulgados pela deve aumentar a curto e médio prazos.
21 – Sessão Ciclecine Metropolitano Agência estado no início do mês. especialistas explicam, porém, que o problema
na Cinemateca de Mountain Bike o estudo aponta para o fato curioso de Curitiba não está na quantidade de carros comercializados,
Sessões às 19h e 21h | R. Pres. Centro Politécnico- 9h às 13h ter um serviço de ônibus considerado modelo, mas mas em como eles são usados. A média de automó-
Carlos Cavalcanti, 1174 que mantém uma altíssima proporção carro/habi- veis por habitante é geralmente maior em cidades de
Participe também! Para saber
22 – Marcha das 1001 Bikes/ tante. Segundo o levantamento, a capital paranaense países desenvolvidos. Mas na europa, onde existem
mais acesse: http://artebicicleta-
Maracatu Estrela do Sul só não tem tantos congestionamentos quanto a capi- bons sistemas de transporte público, por exemplo, os
à partir das 17h30 – Saída na Pra- mobilidade.wordpress.com/ tal paulista porque apenas 22% da população curiti- donos de carros usam-no geralmente para viagens e
ça Santos Andrade http://bicicletadacuritiba.org/ bana usam diariamente o seu automóvel . Se todos passeios de final de semana, não para trabalhar ou
24 – Música para sair da http://transportehumano.com.br fossem colocados na rua ao mesmo tempo, a cidade fazer pequenos percursos como é comum no brasil
6. Curitiba, 25 de agosto a 25 de setembro de 2010
»6 Do Quintal
TÚNeL
Construção subterrânea no Vista Alegre alimentou a
imaginação de crianças e adultos durante gerações
O mistério do
túnel desvendado
Douglas de Souza Fernandes Além de dentista, seu pai era fotógrafo e foi brasil pelo Marquês de Pombal, em 1760, os tijolos. ele explica que esse tipo de construção
com a sua Yashica 700 que o menino fez o re- jesuítas, no Paraná, só haviam se estabelecido é muito rara no brasil, mas comum em países
Q uem foi criança no Vista Alegre das Mer-
cês até o final dos na os 70 tinha um local
perfeito para exercitar a curiosidade e o es-
gistro em 1962.
Segundo ele, nessa época havia ali a base de
uma pequena casa em cujo porão havia um al-
em Paranaguá, onde fundaram um colégio em
1755. em Curitiba, eles viriam a inaugurar o
Colégio Medianeira, no Prado Velho, mas só
como o Uruguai e a Argentina. Como desde o
início do Século XIX o Paraná já tinha relações
comerciais com esses países, principalmen-
pírito de aventura. era só ir até a chácara da çapão. Por uma passagem estreita escavada na em 1957. e pergunta-se: que motivo teriam te com a exportação de erva-mate, é possível
família Gutierrez, um amplo espaço todo cer- terra rastejava-se por 6 a 8 metros até uma am- os religiosos para deixarem seus afazeres edu- que alguém originário de um deles tenha sido
cado por área nativa e que em parte daria lu- pla sala abobadada com cerca de dois metros cacionais e virem para uma área da cidade ain- diagnosticado com a doença quando estava
gar décadas depois ao bosque Gutierrez. Ali de altura toda feita em tijolos. Ali havia uma da coberta por matas para cavarem um túnel? em Curitiba, foi internado no lazareto, e seja o
onde hoje é o cruzamento das ruas Amapá outra passagem, mas fechada por uma parede Para o professor, a possibilidade de ter responsável por fazer ou comandar essa obra.
e Andre Zanetti, havia a entrada de um mis- nova de tijolos. em uma das extremidades da sido feito por alguém do lazareto é a mais Ao chegar a essa conclusão, porém, o pro-
terioso túnel. os mais corajosos chegavam sala, havia um respiro em forma de chaminé. factível. Na época, os leprosos eram execra- fessor tem uma ponta de decepção. Afinal,
a entrar na sombria construção subterrânea » Leprosos dos pela população em geral muito mais do como comentou em artigo escrito na Revis-
e percorriam o que conseguiam. A maioria, Quase 50 anos após essa aventura de que são hoje. Doentes que saiam de seu re- ta Coisa Paralela, da UfPR, “definitivamen-
porém, só ouvia as histórias que se contavam criança, Key chegou à conclusão de que a duto chegavam a ser apedrejados. Daí não ser te, eu preferiria o velho pirata, com seu olho
sobre quem teria feito o túnel. essas narrações construção foi feita por alguém ligado ao la- impossível ter sido construído para que pu- de vidro e sua perna de pau; no canto da sala
que incluíam padres jesuítas, leprosos e até um zareto – local onde eram tratados portado- dessem se refugiar em caso de algum ataque. subterrânea escondendo um baú com a ban-
pirata passaram de geração a geração. Até hoje res da hanseníase, ou lepra – que funciona- Por ser de desenvolvimento lento, a doença deira da caveira, um par de garruchas carre-
várias dessas versões estão vivas entre mora- va próximo dali e que foi desativado com a não impediria que os doentes pudessem tra- gadas e um velhíssimo pergaminho com ma-
dores mais antigos. e até hoje não se sabe com inauguração do leprosário São Roque, em balhar normalmente. pas de ilhas de tesouro”. Infelizmente, não é.
certeza quem o fez e qual seria sua função. Piraquara, em 1926. » Quem construiu
A versão mais plausível é a do historiador A hipótese de ter sido feito pelo lendário o que mais chama hoje a
e professor aposentado do curso de Arqui- Pirata Zulmiro para esconder seu tesouro é atenção do arquiteto Key é o
tetura e Urbanismo da Universidade federal descartada simplesmente por não haver qual- sistema construtivo utilizado no
do Paraná Key Imaguire Júnior. ele também quer registro histórico de tal personagem. e a teto. Para suportar o peso, ele foi
é o autor das únicas fotos conhecidas feitas de que teria sido construído por padres jesu- construído em arcos, com o uso
no interior do túnel. Hoje morador das Mer- ítas para fugirem de perseguidores também de bovedillas, ou seja, vigotes de
cês, Key passou sua infância no Vista Alegre. não procede. Na época que foram expulsos do trilhos transversais ligados por
Fotos: Key Imaguire Junior
Já adulto, Key fez um croqui a partir das
lembranças que tinha do esconderijo em
que entrou quando criança.
A entrada para o misterioso túnel. Poucos tinham coragem para entrar.
As passagens eram estreitas,mas as paredes altas
A sala cujo teto teria sido construído com uma técnica até hoje não utilizada no Brasil. e bem construídas.
7. Curitiba, 25 de agosto a 25 de setembro de 2010
Do Quintal »7
TÚNeL
Com tantas lendas, entrar no túnel outros túneis,
era uma prova de coragem outros
mistérios
Jesuítas, pirata
Entre os mais antigos, há a crença
generalizada que o túnel do
Gutierrez iria até o centro da cidade.
Mesmo diante da evidência de que
e o capeta
seria impossível atravessar um túnel
de tal extensão sem equipamentos
especiais, e muito menos construí-lo.
A hipótese voltou a garnhar força nos
últimos tempos, com a descoberta
de túneis ou esconderijos no centro
da cidade. Em 2007, dois rapazes,
o empresário Marcos Ofenbock e
o jornalista Alexandre Nascimento,
divulgaram ter encontrado
possíveis túneis em baixo do Clube
Concórdia e Sociedade Garibaldi,
no centro da cidade. Para eles, tais
construções poderiam ter ligações
DSF/Do Quintal
com igrejas da região ou outras
áreas da cidade. Mas não há nada
de concreto que prove isso.
No Clube Concórdia, há de fato um
Professor Key: “Sentados sobre pilhas de tijolos, Arnete Bressa: “Meu tio dizia que o capeta morava ali...”
montávamos engenhosas hipóteses sobre o esconderijo...” porão e, nele, um buraco que
parece ser uma passagem. O
problema é que há grades que
Durante décadas, houve muita gente que entrou no tú- que nasceu no bairro e que ainda mora no número 170 da rua
impedem o avanço por ali e até
nel do Gutierrez com intenção de achar o tesouro escondido Albino Pachendorff, lembra que os meninos eperavam o caseiro
agora não se sabe com certeza
pelo Pirata Zulmiro ou pelos jesuítas. o professor Key Ima- sair para se aventurarem pelo esconderijo. “A gente levava velas,
se realmente há ou havia um
guire conta que havia um certo risco em adentrar o esconde- pois era muito escuro”, relembra ele. Hoje, aos 62 anos, Valdir
túnel por ali. A hipótese mais
rijo, “pois a abóboda e paredes estavam esburacadas por esses não acredita que o túnel tenha sido feito por um pirata. ele acre-
provável é que seria apenas
neuróticos que procuram ouro escondido em qualquer lugar dita que seja obra dos jesuítas.
um esconderijo construído por
antigo”. Virgínia bressan , sobrinha neta do casal João e Virgínia, que
imigrantes durante a segunda
Para a criançada, porém, entrar no túnel era uma prova de eram os caseiros da chácara dos Gutierrez, lembra que o tio di-
guerra mundial. O Concórdia é
coragem e o objetivo principal era descobrir a onde levava a zia que dentro do túnel morava o capeta, e por isso ninguém
formado por descendentes de
estranha construção. “A grande aventura era chegar a tal sala – podia entrar lá. ela obedeceu, mas sua prima Arnete bressan,
alemães, e a Sociedade Garibaldi,
após entrar pelo alçapão e rastejar pela estreita passagem -, sen- hoje com 68 anos, resolveu conferir. “eu entrei, mas só na pri-
por italianos, as duas nações que
tar numa pilha de tijolos e ficar montando engenhosas hipóteses meira parte, não fui até o fundo como faziam os meninos. tinha
formavam com o Japão o chamado
sobre o esconderijo – inclusive da conveniência de conhecê-lo medo”. Se o diabo morava lá, no momento ele não estava em
Eixo que lutou contra os aliados
em caso de ira incontida de nossos pais”, relembra o professor casa, pois Arnete diz não ter visto ninguém por ali.
na Grande Guerra. A construções
de arquitetura e história. Até hoje, porém, ela acredita que o túnel tenha sido constru-
subterrâneas poderiam ser, então,
outros lembram que para chegar ao túnel tinham que passar ído pelos jesuítas e que iria até as Ruínas de São francisco, no
esconderijos para serem usados
pelo caseiro dos Gutierrez que morava em frente. Valdir Siba, centro da cidade. (DSF)
em caso de perseguições.
» Faltam arqueólogos
O professor de História da UFPR e
morador do Vista Alegre, Dennison
de Oliveira, explica que com a Guerra
todo mundo que tivesse livros,
discos ou cartas escritas em alemão,
italiano ou japonês eram suspeitos
de serem “quinta coluna” ou seja,
,
espiões a serviço do Eixo. Esses
túneis, portanto, teriam sido usados
para esconder esses materiais e
evitar que fossem destruídos.
Para Dennison, muitos destes mistérios
envolvendo os túneis da cidade
seriam elucidados se houvesse
Marco André Lima/Do Quintal
arqueólogos pesquisando esses
casos. O problema é que são poucas
universidades que oferecem o curso
no Brasil, apenas em oito estados,
e o Paraná não está entre eles.
Dennison lembra que a arqueologia
já teve bons tempos por aqui
como mostra o acervo do Museu
Paranaense, mas que nos últimos
Debaixo da antena anos houve uma regressão. “A
gente espera que o poder público,
O muro foi construído pouco antes da entrada do túnel. Hoje, o local da entrada do Túnel do Gutierrez está sob inclusive por conta da legislação já
o pátio dos fundos da TV Transamérica. Não há sequer vestígio da antiga construção. A empresa faz fundos existente sobre a preservação de
com o terreno onde funciona a Associação de Promoção do Adolescente, uma casa lar dirigida pela irmã Diva e nosso patrimônio arqueológico e
que atende a crianças órfãs. A religiosa confirma que quando chegou ao local, há pouco mais de três décadas, histórico, acabe entrando na jogada
havia no terreno a base de tijolos com uma entrada e que para evitar que as crianças fossem brincar lá dentro, para garantir que as pesquisas
foi colocado um tampão. Com a construção do prédio, o misterioso túnel foi soterrado. No local foi erguida a e estudos nesses locais sejam
antena da TV Ttransamérica (DSF) feitos com base científica. E que
não fiquem entregues a curiosos e
diletantes” conclui. (DSF)
,
8. Curitiba, 25 de agosto a
»8 Do Qu
Bairro oNTeM
Gava, uma história
esculpida na pedra
Marco André Lima/Do Quintal
Família veio para o Brasil No trabalho na pedreira nos anos 50, carroças
puxavam pedras para o caminhão. No detalhe,
para plantar, mas acabou o local hoje transformado na Ópera de Arame.
ajudando a construir Curitiba
Douglas de Souza Fernandes enças contagiosas. Somente no dia
O
nze horas da manhã. Um 19 de dezembro de 1879 chegaram
longo silvo de sirene atraves- em Morretes, de onde vieram para
sa a zona norte da cidade. Curitiba.
Depois de um breve silêncio,uma Na capital, o jovem casal italiano
estrondosa explosão seguida de recebeu da Câmara Municipal uma
uma poeira branca que se assenta área na região que abrangia onde
lentamente sobre ruas, casas, varais está hoje o Cemitério São Marcos.
de roupas, vegetação. Durante déca- Ali construiu sua casa e começou
das, essa foi a rotina que se repetia a plantar cereais e hortaliças para
duas vezes por dia (também ás 15h) vendê-los no centro da cidade. o
no Pilarzinho e Abranches. Com o primeiro filho, João, chegaria em
tempo, os moradores se acostuma- 1881, quando emilia tinha 20 anos.
ram com o barulho das dinamites Depois viriam Roberto (1883),
explodindo pedras no que é hoje o bortholo (1887), Mathilde (1894),
Parque tanguá, Ópera de Arame e Josephina (1897), Maria (1900),
Universidade do Meio Ambiente. luiz (1901) e a caçula Anna, em
Dos anos 20 ao início dos 80, as pe- 1904, quando emília já tinha 43
dreiras eram a principal referência anos de idade.
da região. Assim como são hoje os Nas primeiras décadas em solo
parques criados a partir delas. curitibano, a família dedicou-se
As pedras tiradas durante dé- exclusivamente à lavoura e a cria-
cadas dos enormes paredões estão ção de galinhas, porcos, animais de
hoje em milhares de casas, praças e tração e vacas. Conforme os filhos
de ruas curitibanas. Uma das famí- cresciam, o trabalho ganhava novos
lias que se destacaram no ofício de braços. o novo rumo de atividade
extrair pedras para uso nessas cons- só aconteceria no final da década
truções foi a Gava. de 20 do século passado após o
os primeiros Gava que che- casamento do filho mais velho. João
garam a Curitiba, porém, nem se casou com Maria fligikowski, e
Marco André Lima/Equipe Do Quintal
imaginavam que um dia a família adquiriu uma ampla área de terras,
teria o nome ligado à extração que abrangia onde é hoje a Ópe- O trabalho era “pedreira”
mineral. Afinal, quando o casal ra de Arame. A área ao lado, que Quando consideramos que algo é muito
Matheus Gava e emilia Colleti incluía a atual Pedreira Paulo le- cansativo ou difícil de se fazer, dizemos que
chegou ao brasil, em 1879, vi- minski, já pertencia ao município. esse trabalho é uma pedreira. E trabalhar
nha com o objetivo de cultivar a A vasta área anda era inexplorada antigamente nas pedreiras era literalmente
terra e produzir alimentos, assim economicamente. Neste período, “uma pedreira” Até os anos 50, o transporte
.
como os milhares de conterrâ- bortholo, já casado com Margarida era feito em carroças e para quebrar os
neos que então deixavam uma de Conto, adquiriu um terreno de blocos de pedras eram usadas marretas.
Itália mergulhada no desempre- Cielo de Pol no hoje Parque tan- João Gava Neto, hoje com 79 anos, trabalhou
go após a unificação do país. guá. A área adquirida fazia divisa ainda criança um bom tempo na pedreira
Matheus e emília moravam na com a pertencente à empresa Cavo. do avô. João deixou a escola aos 11 anos
cidade de Capella Magigiore, na então, a partir dos anos 20, a de idade para trabalhar no local onde
província de treviso, região de família começava a extração de pe- João Gava Neto trabalhou quando
seu pai, José Gava, trabalhava. No início, criança na pedreira do avô.
Vêneto, no nordeste italiano, quan- dras que seguiria ininterruptamente fazia pequenos serviços como levar os
do decidiram tentar a vida no novo por mais de meio século, ajudando ponteiros e brocas de aço usados na
continente. Depois de um mês e a construir uma nova Curitiba. pela dureza e riscos do trabalho. Daí , já
quebra de pedras ao ferreiro que trabalhava
meio de uma desconfortável via- casado e com duas filhas, Sônia e Guiomar,
na pedreira. Um serviço mais leve, mas
gem no navio Khonprinz friedrich João começou a trabalhar como carpinteiro.
muito mais perigoso, era levar bananas de
Wilhelm, Matheus, então com 23 Hoje, mora em Araucária, fabrica
dinamite para os locais das explosões.
anos, e emília, 18, ainda tiveram artesanalmente móveis e cadeirinhas para
que ficar de quarentena no Rio de Com o tempo, ele passou a fazer trabalhos crianças, e visita regularmente as filhas que
Janeiro, como era praxe para veri- mais pesados, como transportar as pedras continuam morando no Pilarzinho.
ficar se os imigrantes tinham do- e quebrá-las em pedaços menores para
Apesar das dificuldades da época, João Gava
levá-las ao britador. Como não havia
Neto guarda com orgulho as recordações
compressor, elas tinham que ser quebradas
do trabalho na pedreira. Principalmente
na marreta. Para isso, um funcionário
Arquivo/Família
em relação às obras feitas com as pedras
segurava o ponteiro enquanto um colega
tiradas dali. Uma delas foi o prédio do
dava as marretadas. Um erro de cálculo
Hospital da Cruz Vermelha, na Vicente
poderia significar uma mão ou braço
Machado. Ele foi um dos que ajudaram a
esmagado.
levar as pedras para o terreno no Batel, que
João Trabalharia na pedreira até o início dos serviriam de alicerce para a construção do
anos 60, quando saiu devido a questões hospital beneficente inaugurado em 1947.
salariais, pois achava que recebia pouco (DSF)
Matheus e Camilla, também
conhecida por Emília. João Gava.